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REFORMA E REVOLUÇÃO

EM ROSA LUXEMBURGO(*)
Donny Gluckstein

O pequeno livro de Rosa Luxemburgo "Reforma ou Revolução?" é um marco na


história do marxismo. O seu título tornou-o a primeira obra a reconhecer a
existência do reformismo como um movimento político distinto contraposto à
política revolucionária. Essa descoberta foi de grande significado. Mas o livro
fez mais do que isso: demoliu de modo brilhante todos os principais princípios
do reformismo com um poder intelectual que não foi ainda superado.

Para apreciar plenamente "Reforma ou Revolução?" devemos vê-lo tanto como


um desenvolvimento da teoria marxista quanto uma participação direta na
luta do movimento operário. Rosa escreveu essa obra durante 1898 e 1899
como uma desconhecida marxista polonesa recém instalada na Alemanha. A
publicação das duas séries de artigos que formam o livro anunciou a chegada
de uma nova força no Partido Social-democrata da Alemanha (SPD). Esse
partido era dominante na II Internacional, à qual todos os grandes partidos
operários do mundo estavam filiados. Seu maior teórico era Karl Kautsky,
chamado de "papa do marxismo".

Contudo o SPD estava degenerando politicamente já desde 1890, quando as


leis anti-socialistas de Bismarck foram retiradas.

Em 1891 Wilhelm Liebcknecht, um dirigente social-democrata que se tornara


famoso por declarar que o socialismo era "simplesmente uma questão de
força que não pode ser resolvida no parlamento" disse:

"O parlamentarismo é simplesmente o sistema de representação do povo. Se


nós não temos conquistado resultados no Reichstag [o parlamento alemão]
isso não é culpa do parlamentarismo (...) deixe que alguém me mostre qualquer
outro caminho que nos leve ao objetivo!"
Tais comentários estavam se tornando bastante numerosos no SPD, onde
geralmente se fazia vista grossa.

Isso mudou quando Edward Bernstein começou a escrever uma série de


artigos no jornal Neue Zeit de Kautsky durante os anos 1897-98. Mais tarde
ele publicou um livro cujo título era "O socialismo evolucionário". Ao
apresentar em livro a defesa completa dos argumentos reformistas
Bernstein rompera uma regra sagrada que até então havia sido observada.
Como disse o secretário do SPD, Ignaz Auer, "ninguém diz tais coisas;
simplesmente as faz". Bernstein era um candidato improvável para tentar
uma revisão na obra de Marx e Engels. Ele havia sido secretário de Engels e
seu executor literário. Entre 1897 e 1898 Bernstein havia sido forçado a
escrever seus artigos da Grã-Bretanha, porque como um autêntico social-
democrata ainda havia na Alemanha uma ordem judicial para prendê-lo. Dada
a adesão oficial do SPD ao marxismo é notável que essa "revisão" da teoria
original tenha sido aceita inicialmente sem objeção. O diário Vorwärts do
SPD festejou os artigos de Bernstein, enquanto Kautsky achou-os
"extremamente atrativos". As idéias de Bernstein geraram um protesto de
Parvus e depois de Rosa Luxemburgo, a qual tornou o seu revisionismo um
tema de debate e virou a maré contra ele.

Os argumentos centrais de Bernstein podem ser colhidos do próprio livro de


Rosa. Contudo, o fato de Rosa Ter dirigido seu ataque com precisão cirúrgica
ao coração do argumento, ela teve inevitavelmente que passar por cima de
algumas questões superficiais. Mas algumas delas valem a pena serem
mencionadas brevemente, pois ilustram o quão longe Bernstein estava indo, e
quão urgente e necessária era a réplica de Rosa.

Como muitos que tem seguido os seus passos, Bernstein não estava, como ele
próprio afirmou, simplesmente modernizando a doutrina socialista ou criando
um "marxismo para hoje". Ele estava importando a política de uma classe
estranha ao campo da classe trabalhadora. Umas poucas citações tornam isso
claro. Enquanto Marx era um internacionaliza intransigente e chamara pela
união dos proletários do mundo todo, Bernstein considerava que "não pode
ser uma questão indiferente à social-democracia alemã se a nação alemã, a
qual tem realizado está realizando sua parte honorável no trabalho de
civilizar o mundo, deve ser mantida no Conselho das Nações".
Ele foi ainda mais longe: "Eu considero uma tarefa legítima da política
imperial alemã assegurar o direito a Ter uma voz". E em 1907, no Congresso
da Internacional, ele chegou a afirmar que: "os socialistas também devem
reconhecer a necessidade de os povos civilizados agirem como guardiões dos
não civilizados (...) Nossas economias estão baseadas em grande medida na
extração nas colônias de produtos que os povos nativos não tem idéia de como
usar."

Isso torna ainda mais aguçado o argumento de que:

"(...) pessoas que se pronunciam em favor do método da reforma legislativa,


em substituição e em contradição à conquista do poder político e da
revolução social, não escolhem de fato um caminho mais tranquilo, mais calmo
e mais lento para o mesmo objetivo, mas escolhem um objetivo diferente".

O caminho reformista não é "mais tranquilo", nem é tão moral ou humanista


quanto Bernstein queria fazer crer. Seu socialismo "atualizado" implicava
que:

"(...) o direito ao trabalho no sentido de que o Estado garante a cada um


ocupação na sua profissão é bastante improvável em um tempo visível e
sequer desejável(...) Em organismos tão grandes e complicados como nossos
modernos Estados civilizados e seus centros industriais, um direito absoluto
ao trabalho resultaria simplesmente em desorganização."

Um aspecto mal tocado por Rosa, porque o termo tinha um significado pouco
imediato até 1917, era a "ditadura do proletariado". Existem agora
socialistas que afirmam que essa noção deve ser descartada por sua
associação com Stalin. Mas bem antes do stalinismo aparecia o achado de
Bernstein:

"A frase hoje é tão antiquada que ela somente pode ser reconciliada com a
realidade despindo a palavra ditadura de seu real significado e adicionando-
lhe algum tipo de interpretação mais suave. Toda a atividade prática está
dirigida à criação de circunstâncias e condições que renderão uma transição
mais segura (livre de explosões mais convulsivas) da moderna ordem social
para uma mais elevada (...) Mas a "ditadura das classes" pertence a uma
civilização mais baixa (...) ele somente serve para ser visto como um
retrocesso, como atavismo político."
Contudo o próprio Marx tinha absoluta clareza sobre a questão. Em sua
famosa carta a Weydemeyer em 1852, ele disse que não lhe era devido
nenhum crédito pela descoberta das classes ou da luta de classes, mas que
desejava ser lembrado por três pontos:

"1) que a existência de classes está ligada somente a determinadas fases de


desenvolvimento da produção;

2) que a luta de classes conduz, necessariamente, à ditadura do


proletariado;

3) que essa própria ditadura nada mais é que a transição à abolição de todas
as classes e a uma sociedade sem classes(...)"

Voltando ao livro em si, não há necessidade aqui de parafrasear os


argumentos precisos de Rosa contra Bernstein. Ela fala com eloquência
suficiente para exigir imitação. Contudo, vale a pena indicar o quanto o livro
vai além do seu objetivo imediato. Uma compreensão profunda de economia,
política, história, filosofia, agitação e propaganda se fundem nessas breves
páginas para produzir um ataque devastador. É a disposição soberba e
concentrada desses elementos que faz de "Reforma ou Revolução" mais do
que uma mera polêmica e uma velha e obscura disputa teórica.

O livro contém lições e previsões que ainda não estão em processo de


desenvolvimento quase um século depois. Nas páginas do livro muitas delas
estão presentes apenas embrionariamente. Do mesmo modo que Rosa previu o
ponto final da política de Bernstein - "no seu tempo, os novos grãos rompem a
velha casca" - assim também deve o leitor de hoje desenvolver o núcleo
interno dos argumentos de Rosa. Eles podem ser divididos em 4 categorias: 1}
o método reformista; 2) economia; 3) o Estado e 4) o movimento operário.

A crítica de Rosa ao "método oportunista" concentra-se na sua falta de uma


teoria global, o que leva a uma compreensão puramente impressionista. A sua
crítica da abordagem eclética de Bernstein é mordaz:

"Bernstein resolve a questão pesando minuciosamente os lados bons e maus


da reforma social. Ele o faz quase da mesma maneira como se pesa cinamomo
ou pimenta na loja de uma cooperativa. O pequeno monte dos "lados bons" de
todas as coisas possíveis, cuidadosamente reunidos, entra em colapso ao
primeiro impulso da história.

"Que descrição soberba do desdém dos políticos reformistas pela teoria (a


qual eles chamam de "dogma"). Os políticos trabalhistas na Grã-Bretanha, por
exemplo, se orgulham de ser mais práticos do que revolucionários. Eles
afirmam que trabalhando dentro do sistema e ajuntando um grão após outro,
o avanço para uma sociedade está assegurado. De fato isso tem sido
desacreditado pelo "impulso da história" - como mostram os fracassos
sucessivos dos governos reformistas em minar qualquer dos fundamentos
básicos do capitalismo.

Rosa Luxemburgo critica veementemente as rejeição de Bernstein da


dialética, um outro alvo favorito dos marxistas mais "modernos" que são
incapazes de compreender ou dirigir as forças transformadoras.

"Quando ele dirige suas flechas mais afiadas contra o nosso sistema
dialético, ele está atacando na realidade o modo de pensamento específico
empregado pelo proletariado consciente na luta pela libertação. É uma
tentativa de quebrar a espada que tem ajudado o proletariado a desvanecer a
escuridão de seu futuro(...)"

Negar a dialética significa negar a luta e a contradição. Um exemplo comum é


o debate sobre o desaparecimento da classe operária. Para o pensador não
dialético o conceito de classe é determinado pelo vestuário, pela marca do
cigarro e outros aspectos descritivos das condições de vida. Incapaz de
reconhecer que o capitalismo transforma continuamente os meios de
produção, tal pensador conclui que: em primeiro lugar, uma vez que a classe
operária tenha sido definida e esse grupo esteja se reduzindo em relação a
outros grupos, então a classe enquanto todo está declinando; e em segundo
lugar, desde que novos tipos de trabalhadores não podem se enquadrar na
categoria, então eles não podem pertencer a uma classe, mas sim a alguma
fantasia pós-Fordista. É por empunhar a espada da dialética que rosa é capaz
de abrir caminho através de velhos disparates e permitir-nos ver o quão
decrépita é a nova versão do mesmo disparate.

Tomemos o seu tratamento da teoria econômica de Bernstein. A descrição de


Bernstein da evolução do sistema econômico capitalista afirma que este se
"adaptou" e pôde então expandir-se, livre de problemas, por um período
indefinido. Rosa efetivamente ridiculariza seu otimismo, mostrando as
contradições subjacentes quer estavam corroendo a superfície brilhante do
capitalismo e prevendo com acuidade que as crises retornariam. Mas o gênio
dialético de Rosa Luxemburgo vai além. Ela explica que as crises são uma
parte necessária do processo de vida do capitalismo. É um meio importante
de depreciar grandes quantidades de capital. Isso atenua a tendência de
queda da taxa de lucro, a qual é o resultado do crescimento do capital em
relação ao trabalho. Destruindo os setores mais débeis, as crises "criam,
assim, as possibilidades de um avanço renovado da produção. As crises,
portanto, parecem ser instrumentos para reanimar o fogo do
desenvolvimento capitalista". A curiosa dança dos governos capitalistas de
hoje, tanto do Ocidente quanto do Oriente - em suas tentativas de
restruturar e reconstruir através da sujeição de suas economias ao vento
gélido da crise, para frequentemente voltarem atrás uma vez que ela se
torne iminente, por temor de suas consequências - é capturada em sua
essência aqui.

A discussão de Luxemburgo sobre o que define o capitalismo também tem


relevância atual. É um lugar comum entre respeitáveis políticos, do Ocidente
e do Oriente, que nacionalização é igual a socialismo e capitalismo é igual a
propriedade privada dos meios de produção. Ou, nas palavras de Rosa
Luxemburgo: "Por 'capitalista' Bernstein não quer dizer uma categoria de
produção, mas o direito à propriedade (...) transportando o conceito de
capitalismo do terreno das relações produtivas para as relações de
propriedade". Para Rosa "isso é simplesmente um erro econômico". Ela
compreendia muito bem que as relações de produção, e não quaisquer formas
jurídicas, eram a chave para compreender o capitalismo.

Isso tem uma importância óbvia para compreender a natureza capitalista


estatal da economia nacionalizada da União Soviética de hoje. Isso se aplica
também a um exemplo oposto. Em 1899 Bernstein estava convencido, como
muitos reformistas de hoje, que a privatização - a expansão da propriedade
por ações levando a uma aparente ampliação das "relações de propriedade"-
significava que um novo "capitalismo popular" estava sendo criado. Assim as
velhas categorias de classe trabalhadora versus classe capitalista eram
apagadas. Embora nunca tivesse lido Marxism Today [revista teórica dirigida
por Eric Hobsbawm], Bernstein veio a contestar, nas palavras de Rosa, "até
mesmo a existência de classes na sociedade. A classe trabalhadora é para ele
uma massa de indivíduos, divididos política e intelectualmente, mas também
economicamente". Para ela isso era um claro absurdo.

O terceiro grupo de argumentos dizia respeito ao Estado. Bernstein via uma


tendência liberalizante na qual a democracia garantiria uma transição
pacífica para o socialismo através de uma maioria no parlamento. Em
contraste Rosa via o Estado atuando cada vez mais diretamente nos
interesses da classe dominante. Se um Estado capitalista empregava ou não
formas democráticas, isso era determinado pelas necessidades da classe
dominante em um dado momento.

Ela, naturalmente, se baseava em precedentes históricos para sustentar sua


posição, desde os antigos Estados escravistas até as múltiplas formas
políticas na França entre 1789 e o Segundo Império. Desde aquela época
temos tido exemplos ainda mais dramáticos. O capitalismo desenvolveu
amplamente a democracia burguesa formal. Isso pode de fato fortalecer o
domínio da classe dominante, pois como Rosa diz:

"(...) o que o parlamentarismo expressa aqui é a sociedade capitalista, quer


dizer, uma sociedade na qual predominam os interesses capitalistas. Nessa
sociedade as instituições representativas, democráticas na forma, são em
conteúdo os instrumentos dos interesses da classe dominante.

A forma pode mudar, o conteúdo não, e se necessário o capitalismo


dispensará tais formas. Os exemplos aterrorizantes da Alemanha nazista e
do Chile de Pinochet são a prova disso. Reforma ou Revolução fez referências
específicas a tais possibilidades.

Tais argumentos não levaram Rosa à conclusão ultra-esquerdista de que a luta


democrática é inútil. A democracia burguesa pode não ser uma tendência
fundamental da história. Ela não pode ser usada para levar ao socialismo.
Contudo os trabalhadores devem lutar por ela porque antes da revolução ela
cria "as formas políticas (administração autônoma, direitos eleitorais, etc.)
que servirão ao proletariado como fulcros em sua tarefa de transformar a
sociedade burguesa".

O tratamento dado por Rosa ao Estado tem uma notável qualidade atual:
"O desenvolvimento capitalista modifica essencialmente o Estado, ampliando
sua esfera de ação, impondo constantemente novas funções (especialmente
as que afetam a vida econômica) fazendo cada vez mais necessária a sua
intervenção e o seu controle na sociedade".

Um aspecto do Estado é o desenvolvimento de políticas de bem estar social:


"Ele assume funções que favorecem o desenvolvimento social
especificamente porque, e na medidas em que, esses interesses e o
desenvolvimento social (...) coincidem, de modo geral, com os interesses da
classe dominante". Escrito quando o Estado do bem-estar social mal era
concebido, mostra o quão errados estavam os reformistas em saudar seu
nascimento como a chegada do socialismo na sociedade. Enquanto os
reformistas só vêem as reformas de um modo unilateral (como pequenas ilhas
de socialismo), Rosa não caiu na armadilha oposta do ultra-esquerdismo. Seu
método era dialético. No processo mesmo de fortalecer suas posições, o
capitalismo e o seu Estado minam a si próprios. Por garantir reformas sociais,
"neste sentido, o desenvolvimento capitalista prepara pouco a pouco a futura
fusão do Estado com a sociedade". Através de sua função como organizador e
fornecedor de necessidades básicas, como socializador de muitos aspectos
da vida", ele prepara por assim dizer, o retorno da fusão do Estado com a
sociedade". Portanto, a defesa e a reivindicação de tais reformas é uma
parte importante da luta dos trabalhadores.

Como foi afirmado anteriormente o Estado também penetra na vida


econômica. Há uma contradição aqui que os reformistas ainda estão lutando
para resolver. É o conflito entre o Estado enquanto defensor do capitalismo
nacional e o caráter internacional do sistema econômico. Bem antes de a
experiência da Primeira Guerra Mundial ter sugerido a Bukharin ( em sua
obra O imperialismo e a Economia Mundial) e a Lenin ( em Imperialismo, Fase
Superior do Capitalismo) que havia uma interpenetração entre o capitalismo e
a política estatal, Rosa pôde escrever:

"(...) as combinações capitalistas agravam a contradição existente entre o


caráter internacional da economia mundial capitalista e o caráter nacional do
Estado ..."

A concentração de capital naqueles dias tomava a forma de cartéis e trustes.


Estes não conseguem "atenuar as contradições do capitalismo. Pelo contrário,
parecem ser um instrumento de uma anarquia maior." O mesmo é verdade
para o desenvolvimento do crédito que, longe de amortecer as crises, como
Bernstein acreditava, exacerbava os riscos de crise. Os grandes crashes
industriais e econômicos do século XX dão sustentação a esse prognóstico.

Um aspecto da interpenetração do Estado com o capital era o militarismo.


Rosa mostrou que isso era "indispensável" - como "um meio de luta pela
defesa dos interesses 'nacionais' em disputa", como um estímulo para o
"capital financeiro e industrial", e para a segurança interna. Contudo esse
"motor do desenvolvimento capitalista" é ao mesmo tempo uma "doença
capitalista". Como outras formas de competição adquire "para a sociedade
como um todo uma importância negativa", ou ainda pior, é "expressa no
caráter fatal da explosão iminente".

Escrito anos antes das tensões diplomáticas tornarem a Primeira Guerra


Mundial diretamente previsível, essa foi uma previsão brilhante de Rosa.
Também descreve de modo excelente o papel potencial dos gastos
armamentistas em estimular a economia por um período, mas
desestabilizando-a em última instância. Esta é a razão subjacente aos atuais
esforços pelo "controle de armas", os quais não tocam, de nenhum modo, na
real e "indispensável" competição militar do capitalismo. Em poucas linhas nós
esboçamos as relações exteriores do século XX: o militarismo ocasionando
guerras, esforços intervencionistas pelo controle de armas seguidos por mais
guerras, tensões da Guerra Fria, e assim por diante.

O último conjunto de argumentos de Rosa contra Bernstein está entre os


mais cruciais. São argumentos relacionados à teoria e a prática do movimento
operário. Para Bernstein o próprio capitalismo proporcionava os meios para a
mudança. Era simplesmente uma questão do movimento operário utilizar esse
mecanismo. Isso levou-o a proferir a célebre frase: "... para mim o objetivo
final do socialismo não significa nada, o movimento é tudo". A contínua
expansão do número de membros de sindicatos e dos votos do SPD eram tudo
que era necessário.

O contra-ataque de Rosa foi direto. Para furor dos dirigentes sindicais, ela
descreveu o sindicalismo como um "trabalho de Sísifo". [Sísifo era um
personagem da mitologia grega condenado eternamente a empurrar uma
pedra até o topo da montanha somente para vê-la rolar abaixo novamente.]
Embora os sindicatos sejam "indispensáveis", eles não podem tomar
gradualmente todos os lucros dos patrões, porque são continuamente
solapados pelos processos inerentes ao capitalismo - reestruturação,
recessão e assim por diante. Mas são vitais como "escolas de luta", para usar
o termo cunhado por Engels, e como um meio de "atenuar" a pressão dos
capitalistas sobre os salários e as condições de vida dos trabalhadores. Este
argumento acaba com as idéias dos burocratas de direita de que um dia possa
haver uma paz permanente negociada entre representantes "responsáveis"
de ambos os lados da indústria. Também destrói a idéia de que os sindicatos
possam construir um tal poder industrial que permita destruir o capitalismo.

Rosa não foi menos profética em seu tratamento do movimento político. Ela
não podia saber a direção precisa que tomaria o Partido Trabalhista
Britânico, nem do SPD (cujos líderes a assassinariam em 1919), mas este era
o futuro que ela previa para eles:

"Se seguirmos as concepções políticas do revisionismo chegaremos à mesma


conclusão que é alcançada quando seguimos as teorias econômicas do
revisionismo. O nosso programa se torna não a realização do socialismo, mas a
reforma do capitalismo...

Isso não a leva a conclusões sectárias. Não é uma questão de proclamar a


revolução, erguer a bandeira e esperar que um exército de trabalhadores a
siga. A mudança não virá de um "único ato feliz", mas de "uma longa e
obstinada luta". Rosa desenvolveu o conceito dessa luta em seu livro "A greve
de massas", mas o germe já estava presente aqui:

"(...) no curso das longas e obstinadas lutas, o proletariado adquirirá o grau


de maturidade política que lhe permita obter a tempo uma vitória definitiva
da revolução."

O livro chega "à conclusão de que a proposta revisionista de menosprezar o


objetivo final do movimento socialista é na verdade uma recomendação para
renunciar ao próprio movimento socialista". Isso nos leva de volta ao ponto
inicial - a originalidade de Reforma ou Revolução, um fato do qual Rosa era
consciente. Suas palavras inicias demonstram isso:

"À primeira vista o título deste livro pode parecer surpreendente. Reforma
social ou revolução? Pode, portanto, a social-democracia opor -se às reformas
sociais? Podemos contrapor a revolução social (...) às reformas sociais?
Certamente que não. A luta diária por reformas (...) oferece à social-
democracia o único meio de se engajar na guerra de classe proletária e
trabalhar na direção do objetivo final (...). Entre a reforma social e a
revolução a social-democracia vê um elo indispensável. A luta por reformas é
o meio, a revolução social, o fim.”

Isto é absolutamente correto, e Rosa demonstra que a política de Bernstein,


longe de proporcionar reformas sérias, acabava por desarmar as forças da
classe trabalhadora. Mas o título ilumina pela primeira vez o problema do
reformismo. Para apreciarmos isso devemos retornar a Marx. Ele era
consciente das muitas correntes do movimento socialista que rejeitavam a
idéia da luta de classes, voltadas a apelos à "boa natureza" dos capitalistas, e
assim por diante. De fato, o Manifesto Comunista de 1848 tem uma seção
substancial intitulada "Literatura socialista e comunista" sobre essa matéria.
Contudo Marx via essas idéias como um produto da imaturidade do movimento
operário. Conforme o movimento se desenvolvesse a confusão e o utopismo
seriam deixados de lado, deixando seus apoiadores na posição de "meras
seitas reacionárias”:

"A importância do socialismo e do comunismo crítico-utópicos está na razão


inversa do desenvolvimento histórico. À medida que a luta de classes se
acentua e toma formas mais definidas, o fantástico afã de abstrair-se dela,
essa fantástica oposição que se lhe faz, perde qualquer valor prático,
qualquer justificação teórica".

Vinte e sete anos mais tarde, em sua "Crítica ao Programa de Gotha", Marx
ainda estava discutindo o mesmo tema. Quando o SPD mostrava a contínua
influência de Lassale ele escreveu:

"O nosso partido está sendo forçado a reaceitar como dogmas idéias que
podem ter tido algum sentido em alguma época particular, mas que agora não
passam de um monte de lixo verbal obsoleto... Por que voltar atrás se o
verdadeiro estado de coisas já foi ‘colocado a nu’?”

Marx não previu, e não poderia prever, que as idéias reformistas


encontrariam uma nova e permanente base social quando os brotos tenros do
movimento dos trabalhadores assumissem uma forma desenvolvida e
estabelecida. Escrevendo um quarto de século depois, a capacidade de Rosa
Luxemburgo em enxergar o "núcleo interno" dos argumentos de Bernstein e
predizer suas consequências finais fez de Reforma ou Revolução um texto
clássico.

Mas se existe alguma debilidade é o fato de que ela não combina sua crítica
cáustica de Bernstein com uma análise desenvolvida das raízes sociais e
organizativas do reformismo. Ela não extrai todas as lições do fato de ter
sido forçada a enfrentar, como um grande problema, um fenômeno que, de
acordo com Marx, teria estado a caminho de desaparecer.

Rosa assinala que a teoria oportunista de Bernstein "não é outra coisa senão
uma tentativa inconsciente para assegurar predominância aos elementos
pequeno-burgueses que entraram em nosso partido". Porém, uma infecção a
partir de fora pode ser combatida facilmente. De fato ela previu, no final de
Reforma ou Revolução, que o revisionismo de Bernstein era um instrumento
útil "através do qual a classe operária expressa sua fraqueza momentânea,
mas que, após uma inspeção mais acurada, rejeita-a com um gesto de
desprezo escarnecedor".

Mas infelizmente as raízes erram muito mais profundas do que ela supunha.
Como já foi apontado, Bernstein não inventou o reformismo. Ele simplesmente
cometeu o erro de expressá-lo por escrito. De importância igual, se não
maior, para o futuro do reformismo foram os funcionários do SPD, como
Auer. Sua reação ao debate era esclarecedor: "(...) todo esse barulho vindo
de Rosa, Mehring, Parvus (...) que se consideram os únicos proprietários da
verdade última e final (...) Quem se importa com as rígidas táticas [que eles]
têm pregado? Nenhuma alma sequer.

Assim foi que a campanha de Rosa contra o revisionismo parecia ter sucesso,
mas foi derrotado a longo prazo. Em 1898, 1899 e sobretudo em 1901, as
teorias de Bernstein foram energicamente condenadas em congressos do
SPD, e a questão foi, para todos os intentos e propósitos, resolvida a favor
do marxismo revolucionário. Contudo o processo de degeneração continuou
sem abatimentos, para expandir às claras no dia 4 de agosto de 1914, quando
o SPD juntou-se ao kaiser para lutar na guerra imperialista. Esse problema
não passou desapercebido por Rosa. Em 1904 ela escrevia:

"Correr atrás de cada lebre oportunista e dar constantemente conselhos


críticos não me satisfaz. De fato, estou tão cansada desse tipo de atividade
que eu preferiria realmente manter-me calada diante desses casos (...) dessa
maneira totalmente negativa nós não avançaremos um passo sequer. E para
um movimento revolucionário não avançar significa retroceder."

Entretanto Rosa Luxemburgo não compreendeu plenamente a fonte do


argumento revisionista, e foi, portanto, incapaz de sugerir um método efetivo
de contra-atacá-lo à parte de desafiá-lo teoricamente. As raízes do
reformismo vêm de duas fontes básicas que serão agora consideradas.

Enquanto Bernstein podia ser caracterizado como um intelectual pequeno-


burguês e sua teoria retratada como um reflexo de uma posição de classe
situada entre a burguesia e o proletariado, os seus mais importantes
apoiadores não podiam ser descritos como "pequeno-burgueses". Eles eram os
4 mil (ou mais) funcionários do SPD e dos sindicatos - a burocracia operária.
Esse grupo, que existe em todas as organizações operárias de massa sob um
capitalismo estável, também se situa entre a classe dominante e os
trabalhadores. Mas esse grupo não é pequeno-burguês no sentido de possuir
pequenas propriedades, ou de ser auto-empregado (autônomo). O papel da
burocracia operária é o de mediar entre as duas classes principais, e sua
ideologia procura justificar e perpetuar essa função. O político reformista
expressa aspirações da classe trabalhadora, mas tenta conquistá-las nos
marcos das instituições capitalistas, como o parlamento ou câmaras locais. A
burocracia sindical tenta negociar acordos vantajosos para seus
representados, mas sem querer destruir o sistema de fazer lucros. Isso quer
dizer que a fonte chave da infecção reformista não está fora das
organizações reformistas, mas nos seus próprios centros organizativos.

Isso coloca uma segunda questão. Se o problema do reformismo fosse


limitado à pequena burguesia ou mesmo à burocracia, seria relativamente
simples derrotá-lo. O ataque de Rosa aos intrusos pequeno-burgueses só
teria que ser estendido a mais uns outros 4 mil indivíduos. Mas a burocracia
consegue sua posição de influência, e a mantêm, porque as idéias reformistas
são amplamente sustentadas pela própria classe trabalhadora. Existem bons
terrenos para isso. Como disse Marx, as idéias dominantes em qualquer
sociedade são as idéias da classe dominante. Enquanto uma minoria pode
romper com as idéias reformistas através da luta ou da experiência pessoal,
a maioria permanece influenciada. Isso não quer dizer que as pessoas
simplesmente repetem as fórmulas da classe dominante. Os trabalhadores
também resistem à alienação e à exploração do capitalismo, e isso também
modela as idéias. A combinação das idéias dominantes com a resistência é
contraditória, e é expressa pelo reformismo. O ódio ao patrão é combinado
com a crença de que o capitalismo é inevitável.

Porque Rosa não era plenamente consciente das raízes profundas do


reformismo, ela chegou à conclusão de que ele poderia ser derrotado por uma
combinação de ataque teórico e o efeito radicalizante da luta de massas. Não
havia necessidade, pensava ela, de construir um partido alternativo ao SPD.
Isso era errado em dois aspectos. Em primeiro lugar, os interesses
específicos da burocracia e suas posições profundamente entrincheiradas
significavam que eles assegurariam que o SPD não tomasse o caminho
revolucionário. Isso foi provado em 1914 e durante a revolução alemã que se
seguiu ao final da guerra, ocasiões nas quais a burocracia mostrou muito
claramente a verdade da afirmação de Rosa de que os reformistas
defenderiam o capitalismo ao invés de destruí-lo/

Em segundo lugar, por subestimar a influência do reformismo sobre a massa


de trabalhadores, ela imaginava que a experiência da luta seria suficiente
para derrubar qualquer obstáculo. Essa atitude ignorava o quão desigual a
consciência da classe trabalhadora pode ser. Somente uma minoria de
trabalhadores no capitalismo tem uma perspectiva revolucionária, e mesmo
durante as grandes lutas de massa uma alternativa à burocracia deve ser
apresentada, se se quer que a maioria se liberte do reformismo. Essa
alternativa deve ser organizada a partir da minoria revolucionária. Em outras
palavras, é necessário um partido revolucionário nos moldes leninistas.

Nada disso deve depreciar o valor de Reforma ou Revolução. É uma obra


perene que parece ter sido escrita ontem, depois de um século de rendições
e traições, ao invés de ter sido escrita antes. Merece um lugar permanente
na estante de todo marxista revolucionário. O reformismo existirá enquanto
existir o capitalismo, e assim os argumentos levantados por Rosa Luxemburgo
devem permanecer como uma parte indispensável do arsenal dos socialistas.

(*)Este texto é a introdução à edição inglesa (Bookmarks, London) de


Reforma ou Revolução de Rosa Luxemburgo. Donny Gluckstein é membro do
SWP britânico e autor de The Tragedy of Bukharin. Tradução: Rui Polly .

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