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18 – REVISÃO

Incontinência urinária no idoso1

Rodolfo Borges dos Reis 2 , Adauto José Cologna 3 , Antonio Carlos Pereira Martins 4
Edson Luis Paschoalin5 , Silvio Tucci Jr3 , Haylton Jorge Suaid3

Reis RB, Cologna AJ, Martins ACP, Tucci Jr S, Suaid HJ. Incontinência urinária no idoso. Acta Cir Bras [serial online] 2003 vol 18
suppl 5. Disponível em www.scielo.br/acb
RESUMO – A prevalência da incontinência urinária no idoso varia de 8 a 34% segundo o critério ou método de avaliação. A principais
causas são: alterações teciduais da senilidade que comprometem o trato urinário inferior e o assoalho pélvico, do sistema nervoso
central e periférico, alterações hormonais como a menopausa, poliúria noturna, alterações psicológicas, hiperplasia prostática benigna,
doenças concomitantes e efeitos colaterais de medicamentos. A incontinência pode ser transitória ou permanente. Além da anamnese
cuidadosa para caracterização das perdas urinárias, a busca de causas associadas ou concomitantes e o diário miccional, recorre-se com
freqüência a exames especializados como a urodinâmica. O diagnóstico preciso é importante para o manejo adequado que pode requerer
apenas medidas conservadoras baseadas em orientações e mudanças de hábitos, como o uso de medicamentos, ou então métodos
invasivos que incluem procedimentos cirúrgicos específicos.
DESCRITORES: Incontinência urinária. Idoso. Noctúria. Urgência.

INTRODUÇÃO as projeções indicam que no ano de 2050, 21% O trato urinário inferior apresenta alterações
da população, aproximadamente 87,4 milhões relacionadas ao envelhecimento, que ocorrem
A incontinência urinária pode ser definida de de pessoas estarão com 65 anos ou mais4 . O mesmo na ausência de doenças. A força de
várias formas. Entretanto, para que possamos avanço da medicina, aliado à melhora das condi- contração da musculatura detrusora, a capacidade
comparar resultados de diversos trabalhos cien- ções de vida, são por esse aumento da expectativa vesical e a habilidade de adiar a micção aparente-
tíficos e realizar estudos populacionais confiá- de vida. Os gastos relacionados à incontinência mente diminuem, no homem e na mulher.
veis, é necessário uniformizar conceitos e defini- urinária, nos Estados Unidos, são estimados em Contrações involuntárias da musculatura vesical
ções. A Sociedade Internacional de Incontinência 10 bilhões de dólares ao ano 5. Com o envelheci- e o volume residual pós-miccional aumentam
define incontinência urinária como a condição mento da população, os gastos deverão aumentar. com a idade em ambos os sexos. Entretanto, a
na qual a perda involuntária de urina é um Precisamos estar atentos para a nova realidade e pressão máxima de fechamento uretral, o
problema social ou higiênico e é objetivamente preparados para melhor entender e tratar as comprimento uretral e as células da musculatura
demonstrada. A incontinência urinária é muitas enfermidades da terceira idade. estriada do esfíncter alteram-se predominante-
vezes erroneamente interpretada como parte mente nas mulheres6,7 .
natural do envelhecimento. Alterações que com-
prometem o convívio social como vergonha, O IMPACTO DA IDADE NA Além das alterações decorrentes da senilidade
depressão e isolamento, freqüentemente fazem INCONTINÊNCIA URINÁRIA dos tecidos, doenças próprias do indivíduo idoso
parte do quadro clínico, causando grande também contribuem para o desenvolvimento de
Devemos lembrar que a incontinência urinária é incontinência urinária. A hiperplasia prostática
transtorno aos pacientes e familiares1 .
um estado anormal e que se realizarmos uma benigna, que está presente em aproximadamente
Estudos revelam que a prevalência da incon- abordagem adequada, é na maioria dos casos 50% dos homens aos 50 anos de idade, em
tinência urinária no idoso varia de 8 a 34%2,3 . resolvida ou minorada. Em qualquer faixa etária, metade dos quais causa obstrução ao fluxo urinário
Essa variação da prevalência pode ser parcial- a continência urinária não depende somente da e acarreta alterações significativas do trato
mente explicada pelos diferentes tipos de questio- integridade do trato urinário inferior. Alterações urinário inferior8, como a instabilidade do músculo
nários aplicados, pelas amostras populacionais da motivação, da destreza manual, da mobilidade, detrusor. A presença de instabilidade detrusora
distintas, pela falta de uniformização nas da lucidez e a existência de doenças associadas em muitos indivíduos idosos continentes sugere
definições, pela ausência de seguimento a longo (diabetes mellitus e insuficiência cardíaca, entre que a relação entre urge-incontinência e instabi-
prazo das populações estudadas e pelo desco- outras) estão entre os fatores que podem ser lidade detrusora seja mais fraca em pessoas idosas
nhecimento da história natural da incontinência responsáveis pela incontinência urinária, sem que do que em jovens. Uma possível explicação para
urinária. haja comprometimento significativo do trato este fato é que, nos idosos, a característica das
Nos Estados Unidos, a população com 65 anos urinário inferior. Embora essas alterações sejam contrações involuntárias, de menor amplitude,
de idade ou mais cresceu 22% nos anos 80. Nos raras nos pacientes jovens, são freqüentemente necessitem de alterações estruturais e funcionais
anos 90, o censo realizado revelou a presença de encontradas no idoso e podem agravar ou causar do esfíncter uretral para que ocorra a urge-
31,1 milhões de pessoas com mais de 65 anos e incontinência urinária. incontinência. Fatores como o trofismo vaginal

1 . Revisão feita no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - USP


2 . Médico Assistente da Divisão de Urologia da FMRP-USP; Responsável pelo Setor de Neurourologia e Incontinência Urinária do Urocenter –
Ribeirão Preto-SP; Responsável pelo Setor de Neurourologia e Incontinência Urinária do Hospital da Mulher e Maternidade Sinhá Junqueira –
Ribeirão Preto-SP
3 . Prof. Doutor da Divisão de Urologia, Departamento de Cirurgia da FMRP-USP
4 . Prof. Titular e Chefe da Disciplina de Urologia, Departamento de Cirurgia - FMRP-USP
5 . Pósgraduando do Departamento de Cirurgia – FMRP-USP

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e a presença de distopias também influenciam a Avaliação clínica outras doenças. Logo, é recomendado o uso do
presença da urge-incontinência. DDVAP em sua apresentação oral nos pacientes
A noctúria, por si, não sugere nenhum diagnóstico
Uma das alterações mais freqüentes do hábito idosos que estejam em boas condições de
específico. A história clínica e o diário miccional
urinário no idoso é a noctúria. Alterações saúde14,15,16.
do paciente são fundamentais para direcionar a
hormonais decorrentes do envelhecimento, investigação e o tratamento. As principais causas Os diuréticos são boa opção terapêutica, princi-
como o aumento na secreção de vasopressina e de noctúria são a diminuição da capacidade vesical palmente para aqueles pacientes que apresentam
do hormônio natriurético, podem resultar na e/ou o aumento na produção de urina no período edema periférico17 . Os diuréticos de alça podem
eliminação preponderante dos líquidos ingeridos noturno. A noctúria pode também estar associada ser usados a qualquer hora do dia, desde que sejam
(durante o dia) no período noturno, mesmo na a outros sintomas do trato urinário inferior, a monitorizados os efeitos colaterais de hipotensão
ausência de insuficiência venosa, insuficiência distúrbios do sono ou relacionar-se ao tempo em postural e distúrbios hidroeletrolíticos.
cardíaca, doenças renais ou obstrução prostática. que o paciente permanece na cama 13 . O uso de alfa-bloqueadores deve ser reservado
Essas mudanças, associadas à ocorrência de
As principais causas de aumento da freqüência para pacientes do sexo masculino, nos quais
distúrbios do sono fazem com que pessoas com
urinária noturna devido à diminuição da capa- acreditamos ser o componente prostático a causa
mais de 65 anos apresentem 1 a 2 episódios de
cidade vesical usual são: diminuição da compla- mais importante do quadro de noctúria. Devemos
noctúria mesmo na ausência de qualquer
cência vesical, hiperatividade detrusora e envelhe- advertir os pacientes dos efeitos hipotensores
enfermidade9,10. Como essas alterações também
cimento. As principais causas de poliúria são: dessa medicação, que ocorrem em 18% dos
são encontradas em indivíduos idosos
diabetes insipidus ou mellitus - produzem mais pacientes hipertensos.
continentes, não podemos apontar nenhuma
delas como causa da incontinência urinária, mas urina nos períodos diurno e noturno -, insuficiên- A terapêutica de reposição hormonal baseia-se
fatores predisponentes que, associados à maior cia cardíaca congestiva, hipoalbuminemia, insu- na existência de tecidos sensíveis ao estrógeno
probabilidade dos indivíduos idosos apresentarem ficiência venosa e doenças renais. A ingestão no assoalho pélvico, na bexiga e na uretra femi-
alterações psicológicas, efeitos colaterais a noturna de grande quantidade de líquido, cafeína nina. Sabemos que as mulheres menopausadas
medicações e doenças concomitantes, explicam e/ou álcool, assim como o uso de diuréticos, apresentam atrofia desses tecidos, com conse-
a maior susceptibilidade à incontinência urinária. dependendo do horário em que são administrados, qüentes alterações estruturais e anatômicas.
A identificação de fatores que predispõem à merecem destaque na história clínica. O aumento Apesar de definido o papel da reposição estro-
incontinência urinária não localizados no trato da produção de vasopressina, que é observado gênica associada à fisioterapia do assoalho pélvi-
urinário inferior é de fundamental importância em algumas pessoas com mais de 65 anos de co nas pacientes portadoras de incontinência
para que possamos abordar a incontinência idade, pode também aumentar a produção de urina urinária, os resultados até agora obtidos para o
urinária de maneira adequada. noturna. tratamento da noctúria são conflitantes, sendo
necessários mais estudos para a definição da
Tratamento eficácia desse tratamento18,19.
CLASSIFICAÇÃO DA INCONTINÊNCIA
URINÁRIA NO IDOSO A - Conservador
2. Incontinência Urinária Transitória
Para fins didáticos, adotaremos a seguinte O primeiro passo do tratamento conservador
subdivisão: consiste em listar as medicações que o paciente Muitas causas de incontinência urinária em idosos
faz uso, na tentativa de detectar alguma que têm origem em locais fora do trato urinário
1 . Noctúria
contribua para a noctúria. Nesse caso devemos inferior. O risco de incontinência urinária
2 . Incontinência urinária transitória tentar substituí-la ou alterar a posologia. Nos transitória aumenta se ocorrerem, somadas às
3 . Incontinência urinária persistente pacientes com edema periférico e insuficiência mudanças fisiológicas do trato urinário inferior,
cardíaca congestiva, os líquidos acumulam-se nos alterações patológicas como infeções, ingestão
membros inferiores e são reabsorvidos à noite. hídrica excessiva, constipação intestinal crônica,
1. Noctúria
Devemos promover a redistribuirão do volume depressão e dificuldade para locomoção.
Levantar-se mais de uma vez por noite para durante o dia através do uso de meias elásticas e
urinar é uma queixa comum que incomoda muitas da elevação dos membros inferiores no final da
Definição
pessoas de todas as faixas etárias, porém, é mais manhã e no final da tarde. Dessa forma, o líquido
freqüente dos 50 anos em diante. será reabsorvido de maneira uniforme durante o A incontinência urinária transitória é caracteri-
dia, diminuindo a produção de urina no período zada pela perda involuntária de urina, precipitada
noturno. A ingestão hídrica deverá ser monitori- por insulto psicológico, medicamentoso ou
Definição
zada, não permitindo ingestão hídrica 3 horas orgânico, que cessa ou melhora após o controle
Várias definições têm sido propostas: antes do paciente se deitar. do fator desencadeante.
1 . é a necessidade de levantar-se da cama mais
de uma vez, com o intuito de urinar, após ter B - Medicamentoso Prevalência
ido deitar com a expectativa de só se levantar
O emprego da desmopressina, de diuréticos, de Apesar da escassez de dados, acredita-se que a
pela manhã (definição mais aceita);
alfa-bloqueadores e a terapia de reposição hormo- incontinência urinária transitória seja responsá-
2 . produção de urina, no período noturno, nal nas mulheres são as opções farmacológicas vel por 35% dos casos de incontinência urinária
maior que 0,9 ml/min 10 ; mais utilizadas. em asilos de idosos, podendo corresponder a 50%
3 . produção de urina noturna superior a 33% A alteração do ritmo de liberação da desmo- dos casos de incontinência em pacientes idosos
da produção diurna (10). pressina verificada em pessoas idosas e a sensibili- hospitalizados nos Estados Unidos7,20.
dade dos túbulos renais a esse hormônio, levou-
Prevalência nos ao emprego de formas sintéticas do mesmo
Avaliação clínica
(DDAVP), visando reduzir a produção de urina e
A prevalência de noctúria na população adulta é a freqüência urinária noturnas. Os resultados A investigação da incontinência urinária transi-
de cerca de 10% quando considerados os indiví- obtidos até hoje nos permitem concluir que o tória baseia-se na avaliação crítica da anamnese
duos acima de 20 anos, aumentando para 16% a emprego do DDVAP não deve ser rotineiro nos e do diário miccional. Pacientes em retenção
partir da quarta década, 26 a 66% a partir da pacientes idosos portadores de noctúria. Embora urinária que apresentam perda de urina por trans-
quinta década e chegando a 55% nos homens existam indícios de melhora da sintomatologia, bordamento (incontinência paradoxal) podem
com mais de 70 anos de idade. Apesar da alta os efeitos colaterais de retenção hídrica e hipo- ter como fator desencadeante o emprego de medi-
prevalência em indivíduos idosos, 63% dos natremia, observados com o emprego da apresen- cações anticolinérgicas na presença de obstrução
homens e 59 % das mulheres não procuram auxílio tação em forma de “spray” nasal, podem ser infravesical ou hipocontractilidade do músculo
médico11,12. perigosos em pacientes idosos portadores de detrusor. Já o aparecimento ou o agravamento

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da urge-incontinência podem decorrer do uso de As drogas bloqueadoras dos receptores alfa- E - Distúrbios Psicológicos
diuréticos de alça ou da ingestão excessiva de adrenérgicos podem bloquear os receptores
líquidos por pacientes já portadores de A depressão e a ansiedade podem levar à disfunção
presentes no colo vesical, ocasionando perdas
miccional e à incontinência urinária. Os estados
hiperatividade vesical. por estresse nas mulheres idosas21 , já que estas
de delírio, ao contrário da demência, levam o
apresentam como fatores predisponentes a
paciente à confusão mental por períodos que
diminuição do comprimento da uretra e da pressão
Causas variam de horas a dias. O delírio pode ser causado
de fechamento uretral.
por medicações ou injúrias agudas ao organismo.
As principais causas de incontinência urinária Os bloqueadores de canal de cálcio, comumente
transitória são: Muitas doenças podem se apresentar de maneira
utilizados no controle da hipertensão arterial, atípica nos idosos. Se o paciente entrar em estado
A - Constipação intestinal - fecaloma levam ao relaxamento da musculatura lisa, de confusão mental, muitas vezes a incontinência
B - Medicamentos ocasionando o aumento do volume residual pós- urinária é a primeira alteração a ser notada 22 .
C - Infecção miccional, podendo gerar incontinência de
D - Vaginite atrófica estresse ou de transbordamento devido à retenção F - Dificuldade de Locomoção
E - Distúrbios psicológicos urinária.
F - Dificuldade de locomoção Outra classe de droga utilizada no tratamento da A dificuldade de locomoção é um obstáculo que
G - Ingestão de líquidos em excesso hipertensão arterial, que pode levar à inconti- dificulta a chegada do paciente ao banheiro. Se o
nência urinária, é a dos inibidores da enzima indivíduo está acamado por longo período, pode
conversora da angiotensina. Tais drogas podem ocorrer hipotensão postural e pós prandial que
A - Constipação intestinal
impedem que o paciente chegue ao banheiro
causar tosse como efeito colateral, precipitando
A presença de fezes impactadas na ampola retal quando necessita urinar. Dependendo da doença
as perdas urinárias de estresse.
pode ser responsável por até 10% dos quadros de de base há associação com alterações da sensibili-
incontinência urinária atendidos em clínicas Drogas como tranqüilizantes, antidepressivos, dade, que podem levar à incontinência urinária.
geriátricas7. A presença de incontinência urinária antiparkinsonianos, antiespasmódicos e opiáceos Nos pacientes com hiperatividade vesical, a
e fecal, associadas com o achado de fezes impac- podem apresentar efeitos colaterais anticolinér- dificuldade de locomoção pode gerar urge-
tadas no reto, é comum nos pacientes portadores gicos, diminuindo a contractilidade do músculo incontinência.
de incontinência urinária desencadeada por detrusor e causando retenção urinária, que pode
constipação intestinal. A normalização do hábito precipitar o aparecimento de incontinência de G - Ingestão de líquidos em excesso
intestinal e o esvaziamento do fecaloma muitas estresse ou de transbordamento.
vezes melhora os sintomas de incontinência A ingestão excessiva de líquidos pode causar
urinária nos pacientes idosos. O Quadro 1 lista as principais drogas e seus efeitos
incontinência urinária pelo aumento da produção
colaterais que podem levar à incontinência
de urina, principalmente em pacientes acamados,
urinária.
B - Medicamentos desmotivados ou com distúrbios comportamen-
tais. A associação dessas situações com a hiperati-
Os sedativos e hipnóticos de longa duração, como
C - Infecção vidade vesical aumenta a ocorrência de inconti-
o diazepam, podem alterar a percepção dos pacientes
nência urinária. O diário miccional pode nos for-
idosos, levando a episódios de incontinência. As infeções do trato urinário podem levar à necer importantes pistas quanto à quantidade de
Os diuréticos de alça, como a furosemida, podem incontinência urinária, assim como infeções líquido ingerido, a hora da ingestão e a relação
aumentar a produção de urina, funcionando como sistêmicas podem levar à confusão mental, com as perdas urinárias. Muitos pacientes apre-
fator predisponente para perdas urinárias. ocasionando perdas involuntárias de urina. sentam melhora drástica do quadro de inconti-
nência urinária apenas com a mudança dos
hábitos relativos à ingestão hídrica.
Quadro 1: Principais drogas e seus efeitos colaterais que podem levar à incontinência urinária.
3. Incontinência Urinária Persistente
DROGAS EFEITO
Definição
Antagonistas alfa-adrenérgicos Diminuição da resistência uretral
Opióides Constipação intestinal O termo incontinência urinária persistente deve
ser empregado quando a perda involuntária de
Anticonvulsivantes Confusão mental / Ataxia urina não é causada por nenhuma comorbidade
Antihipertensivos Hipotensão arterial – mobilidade diminuída existente, não é decorrente do efeito colateral
Antiparkinsonianos Confusão mental / Hipotensão postural de alguma droga e persiste por pelo menos 3
meses.
Antagonistas H2 Confusão mental
Diuréticos potentes de alça Aumento da freqüência / Urgência miccional Avaliação clínica
Sedativos / Hipnóticos Sedação excessiva
A abordagem clínica inicial deve ser realizada
Anestésicos, raquianestesia, peridural Paralisia detrusora através da história clínica minuciosa, visando
Antagonistas dos canais de cálcio Constipação intestinal / retenção urinária excluir causas medicamentosas e comporta-
Relaxantes musculares Constipação intestinal / retenção urinária mentais, além de detectar doenças sistêmicas que
possam ser responsáveis pela perda urinária. O
Inibidores da enzima conversora Tosse – Incontinência urinária de estresse diário miccional é fundamental para quantificar-
Álcool / Cafeína Poliúria – aumento da freqüência e urgência miccional mos as perdas e correlacioná-las com os hábitos
diários dos pacientes.

D - Vaginite atrófica vaginal fino, friabilidade da muscosa e erosões Classificação


vaginais. A incontinência urinária relacionada à Existem 3 tipos de incontinência urinária
A atrofia do epitélio vaginal, secundária à dimi- vaginite atrófica geralmente é acompanhada de persistente:
nuição dos níveis estrogênicos decorrente da urgência miccional e sensação de dor ao urinar.
A - Urge-incontinência
menopausa, é responsável por sintomas do trato A vaginite atrófica responde muito bem a baixas
urinário inferior nas mulheres. Aproximadamente doses de estrógeno tópico. Esse tratamento B - Incontinência urinária relacionada ao
80% das mulheres idosas atendidas em clínicas também leva à melhora da dispaurenia e à redução esvaziamento vesical inadequado
de incontinência urinária apresentam epitélio dos episódios de cistite senil 13 . C - Incontinência urinária de esforço

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A - Urge-incontinência miccional elevado, é obrigatório fazermos a Nos pacientes idosos do sexo masculino a prin-
avaliação da força de contração detrusora para cipal causa de esvaziamento vesical deficiente é
O termo bexiga hiperativa refere-se aos sintomas
que possamos diferenciar obstrução infravesical a hiperplasia benigna da próstata e, menos fre-
clínicos de polaciúria, urgência miccional,
de hipocontractilidade do músculo detrusor. Nessa qüentemente, o adenocarcinoma prostático e as
noctúria e urge-incontinência. É uma denomi-
situação especial, o diagnóstico de certeza é estenoses da uretra. A ocorrência de obstrução
nação sindrômica, baseada exclusivamente nas
obtido através da avaliação urodinâmica. em mulheres é menos freqüente que nos homens
queixas clínicas dos pacientes, não dependendo
dos achados urodinâmicos. Nos Estados Unidos, A hiperatividade detrusora também está presente e, decorrem da presença de grandes prolapsos
a bexiga hiperativa afeta mais de 17 milhões de nos pacientes portadores de obstrução infrave- genitais ou de complicações das cirurgias para a
pessoas. Na Europa, 17% da população acima sical. Trinta e dois porcento dos homens com correção de incontinência urinária. Em ambos
dos 40 anos de idade apresenta essa síndrome. obstrução do trato urinário baixo decorrente de os sexos a constipação intestinal, o efeito colate-
Muitos pacientes referem prejuízo significativo hiperplasia prostática benigna, estenose de uretra ral de drogas como as anticolinérgicas e algumas
da qualidade de vida. ou neoplasia prostática apresentam hiperativi- neuropatias (principalmente a diabética) são
dade detrusora. Mulheres podem também causas freqüentes de incontinência relacionada
Ao contrário da bexiga hiperativa, a aplicação
apresentar quadros de obstrução associados à ao esvaziamento vesical deficiente.
de outros termos relacionados à urge-incontinên-
hiperatividade. Nesses casos, os principais fatores
cia necessita da confirmação urodinâmica da A investigação para o diagnóstico da inconti-
desencadeastes são os prolapsos genitais ou causas
presença de contrações vesicais involuntárias. nência urinária relacionada ao esvaziamento vesi-
Contrações vesicais involuntárias são os princi- iatrogênicas cirúrgicas.
cal inadequado baseia-se no diário miccional, na
pais fatores determinantes de urge-incontinência. Fatores irritativos locais como tumores vesicais, história clínica e nos achados urodinâmicos. O
O termo bexiga instável relaciona-se à demons- litíase urinária, divertículos e infeções do trato tratamento é direcionado à causa base, podendo
tração objetiva de contrações involuntárias urinário podem também levar à hiperativade ser simplesmente a interrupção de alguma droga
vesicais, que podem ser espontâneas ou ocorrer detrusora, com conseqüente urge-incontinência. que o paciente esteja utilizando, ou procedimen-
em resposta a estímulos provocativos nas fases Nesses casos, acredita-se que os impulsos nervo- tos cirúrgicos que visem a desobstrução do fluxo
de enchimento e armazenamento, durante a sos direcionados ao sistema nervoso central,
urinário.
cistometria. As contrações devem ser acompa- gerados pela hipersensibilidade dos receptores
nhadas de vontade de urinar. O termo instabilidade sensitivos do trato urinário, causam desequilíbrio
detrusora é reservado para os pacientes que apre- entre os estímulos inibitórios, desencadeando a C - Incontinência urinária de esforço
sentam contrações involuntárias documentadas contração vesical.
A incontinência urinária induzida pelo estresse é
na avaliação urodinâmica e que não apresentam O tratamento farmacológico da urge-incontinên-
doença neurológica associada. Na presença de uma das causas mais comuns de perda involun-
cia é baseado na utilização de drogas anticolinér- tária de urina nos pacientes idosos do sexo
fator neurológico desencadeante, devemos usar gicas. Já o tratamento conservador consiste na
o termo hiperreflexia do músculo detrusor. Muitas feminino24,25. A causa mais freqüente de inconti-
mudança dos hábitos de ingestão hídrica, na nência urinária de esforço é a hipermotilidade
vezes, nos pacientes idosos, não é possível a realização de fisioterapia do assoalho pélvico,
distinção entre hiperreflexia e instabilidade uretral decorrente da fraqueza do assoalho pélvico
na eletroestimulação e no “biofeedback”.
detrusora. ou conseqüente a procedimentos cirúrgicos. A
O Quadro 2 lista os principais agentes anticolinér- deficiência esfincteriana intrínseca também é
Dependendo da intensidade das contrações gicos e seus efeitos colaterais.
involuntárias e da integridade dos mecanismos freqüentemente observada e está geralmente asso-
de continência a perda involuntária de urina pode ciada à desnervação do assoalho pélvico, à radio-
ocorrer, sendo chamada de urge-incontinência. B - Incontinência urinária relacionada ao terapia prévia, à diminuição dos níveis estrogêni-
esvaziamento vesical inadequado cos e a procedimentos cirúrgicos. A instabilidade
A urge-incontinência é a causa mais freqüente de
uretral, que consiste no relaxamento esfincteria-
incontinência urinária permanente nos pacientes A perda involuntária de urina pode estar associada no na ausência de contração vesical, é uma causa
idosos23. A hiperatividade detrusora pode ocorrer à incapacidade de esvaziar completamente a rara de incontinência urinária de esforço e de
quando a força de contração da musculatura vesical bexiga. As principais causas de esvaziamento
está preservada ou quando está diminuída. Apesar difícil diagnóstico.
vesical incompleto são a acontractilidade e a
de as duas situações poderem levar à inconti- hipocontractilidade da musculatura detrusora, Pacientes idosos do sexo masculino raramente
nência, os mecanismos envolvidos são diferentes. assim como a obstrução ao fluxo urinário. O apresentam incontinência urinária de esforço.
A hiperatividade detrusora associada à hipocon- déficit contráctil da musculatura detrusora e a Quando isso ocorre, a principal causa é o funciona-
tractilidade vesical pode levar à urge-inconti- obstrução ao fluxo urinário podem estar mento inadequado do mecanismo esfincteriano
nência e ao aparecimento de outros sintomas presentes isoladamente ou em conjunto. Em decorrente de radioterapia prévia ou de procedi-
relacionados à obstrução urinária, à incontinência situações extremas, a hiperdistenção vesical faz mentos cirúrgicos, principalmente as prostatec-
urinária de esforço ou à incontinência por com que ocorra incontinência urinária por tomias, quer realizadas para doenças prostáticas
transbordamento. Ao nos depararmos com transbordamento, também chamada de inconti- benignas ou malignas.
pacientes idosos que apresentam resíduo pós- nência paradoxal. O tratamento da incontinência urinária de esfor-
ço depende da causa base, das condições clínicas
do paciente e da expectativa em relação aos re-
Quadro 2: Principais anticolinérgicos e seus efeitos colaterais.
sultados. Atualmente existem 3 formas de aborda-
gem terapêutica:
DROGAS EFEITOS COLATERAIS
l Tratamento farmacológico;
Antipsicóticos Boca seca / confusão mental l Tratamento conservador comportamental
e fisioterápico;
Antidepressivos tricíclicos Constipação intestinal
l Tratamento cirúrgico
Antiparkinsonianos Confusão mental
A forma de tratamento deve ser decidida corre-
Sedativos / antihistamínicos Fadiga / sonolência lacionando-se os dados da avaliação clínica e dos
achados urodinâmicos, quando estes estiverem
Antiarrítmicos – disopiramida Taquicardia disponíveis. As modalidades terapêuticas citadas
acima não são obrigatoriamente utilizadas indivi-
Antiespasmódicos Inibição da contração detrusora
dualmente. A combinação de diferentes estraté-
Opióides Retenção urinária / visão turva / Aumento da pressão ocular gias muitas vezes proporciona resultados melho-
res, com menor agressão ao paciente.

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CONCLUSÃO Urodynamics: Principles and Practice. New 17. Reynard JM, Cannon A, Yang Q, Abrams
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ABSTRACT – The prevalence of urinary incontinence in the elderly varies from 8 to 34% according to the criteria or method of
investigation. The etiology or main associated factors are: aging tissular degeneration that compromise the lower urinary tract and
pelvic floor, changes of peripheric and central nervous system, hormonal alterations such as menopause, nocturnal polyuria, benign
prostate hyperplasia, concomitant diseases and side effects of medical drugs. The incontinence may be transitory or permanent.
Besides a criterious medical history for a better characterization of the urinary loss, a search for associated or concomitant causes
and the miccional diary, one oftenly may rely on specialized exams such as urodynamics. A specific diagnosis is of utmost value for
correct management that may require only conservative measures based on changes of behaviour or counceiling, drugs prescription,
or invasive methods including surgical procedures.
KEY WORDS: Urinary incontinence. Elderly. Nocturia. Urgency.

Correspondência

Rodolfo Borges Reis


Departamento de Cirurgia e Anatomia – HCFMRP-USP, 9º Andar
Av. Bandeirantes, 3900, CEP: 14048-900
Ribeirão Preto, SP

Acta Cirúrgica Brasileira - Vol 18 (Supl 5) 2003 - 51

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