Derivada dos radicais latinos acus e pungere, que significam agulha e puncionar, respectivamente, a acupuntura faz parte de um
conjunto de conhecimentos teórico-empíricos.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) visa a terapia e cura das enfermidades pela aplicação de estímulos através da pele, com a
inserção de agulhas em pontos específicos chamados acupontos.
Conforme a filosofia da MTC, a acupuntura é baseada na teoria da polaridade universal ou teoria do Yin-Yang. Princípio dualista
de dois poderes independentes, este raciocínio afirma que qualquer manifestação no universo, inclusive o funcionamento dos
organismos, é o produto da interação de duas forças opostas, porém interdependentes e complementares: Yin e Yang. Yin é o
potencial: escuro, parado, interior, frio, enquanto Yang é a manifestação: luz, movimento, calor. O equilíbrio é o produto desta
interação e a acupuntura visa restabelecer a homeostasia orgânica através da atuação nestas forças.
Os pontos de acupuntura, ou acupontos, são considerados as portas de entrada e saída de energia vital de um organismo; através de
sua manipulação, pode-se obter a restauração do equilíbrio. Estes pontos são distribuídos ao longo de canais que interligam todo
organismo e por onde circularia um fator principal responsável por associar, regular e controlar as atividades funcionais do corpo;
este fator é denominado Qi, considerado a energia vital circulante.
No Oriente a acupuntura vem sendo utilizada há vários milênios. De fato, agulhas de pedra e de espinha de peixe foram utilizadas
na China durante a Idade da Pedra (circa de 3000 anos AC). Ney Jing, ou "Clássico do Imperador Amarelo sobre Medicina
Interna", texto clássico e fundamental da MTC, descreve aspectos anatômicos, fisiológicos, patológicos, diagnósticos e
terapêuticos das moléstias à luz da medicina oriental. Nesse tratado já se afirmava que o sangue flui continuamente por todo o
corpo, sob controle do coração. Cerca de 2000 anos depois, mais precisamente em 1628, William Harvey, proporia sua teoria
sobre a circulação sangüínea.
A acupuntura veterinária é, provavelmente, tão antiga quanto à história da acupuntura, acompanhando-a pari passu. Estima-se em
3000 anos a idade de um tratado descoberto no Sri Lanka sobre o uso de acupuntura em elefantes indianos.
A terminologia e raciocínio utilizados pela Medicina Tradicional Chinesa (MTC), da qual a acupuntura é um segmento, diferem
intensamente da medicina contemporânea praticada no Ocidente, dificultando sua aceitação na comunidade científica. Entretanto,
há pouco mais de vinte anos, esta técnica é reconhecida e indicada pela Organização Mundial de Saúde e, desde de 1995, figura
como uma especialidade medica veterinária em nosso país.
Em Medicina Veterinária, a acupuntura é indicada para o tratamento de diversas doenças, tais como: gastrites, úlceras gástrica e
duodenal, enterites, colites, vômitos, diarréia, constipação, bronquite, broncopneumonia, pleurisia, miocardites, cardiopatia
reumática, arritmia cardíaca, hipertensão, hipotensão, nefrites, alterações na micção, prostatite, cistite, hipotiroidismo,
hipertiroidismo, diabetes insipidus, espondilopatia hipertrófica, artrite reumatóide, paralisia facial, epilepsia, seqüelas da
cinomose, mastite, conjuntivite, otite média.
ACUPUNTURA E CINOMOSE:
A acupuntura tem sido utilizada para o tratamento de distúrbios neurológicos em cães. Normalmente, a eutanásia é indicada em casos de distúrbios
neurológicos com conseqüente paralisia de membros posteriores como seqüela de cinomose. Numa tese de mestrado realizada na Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE), 52 cães acometidos de paralisia de membros posteriores e conseqüente paralisia de membros posteriores, causadas pela
cinomose, foram divididos aleatoriamente em três grupos, após uma avaliação neurológica completa.
Destes, 17 cães foram tratados convencionalmente de acordo com a medicina ocidental, incluindo antibióticos, complexos vitamínicos e
corticosteróides, quando necessário. Outros 18 cães foram tratados com acupuntura, sem nenhuma estimulação elétrica, e 17 cães não receberam
tratamento algum. O tratamento com acupuntura foi realizado semanalmente durante o período de quatro semanas, ao final do qual um novo exame
neurológico foi realizado e por meio de escore, comparado ao exame inicial, para análise estatística do efeito dos tratamentos nos diferentes grupos.
Considerou-se cura quando os animais eram capazes de andar novamente e ter uma vida normal, sem se observar seqüelas, tais como incontinência
fecal ou urinária e outras. A cura foi observada em nove cães tratados com acupuntura, em apenas um dos cães tratados convencionalmente e em nenhum
cão não tratado. Todos os cães tratados com acupuntura sobreviveram, enquanto que três cães tratados convencionalmente e cinco cães não tratados
apresentaram óbito neste período de avaliação, demonstrando que o tratamento com acupuntura em pontos pré-estabelecidos apresentou bons resultados
para o tratamento de distúrbios neurológicos produzidos pela cinomose em cães.
Acupuntura e analgesia:
A eletroacupuntura tem sido utilizada para produzir hipoalgesia para realização de diversos procedimentos cirúrgicos nas espécies domésticas. A
anestesia convencional produz depressão neurológica e cardiorrespiratória fetal e materna, levando a uma alta taxa de mortalidade neonatal. O grau de
depressão neurológica e cardiorrespiratória foi avaliado em cães neonatos, após cesariana, cujas cadelas foram tranqüilizadas com levomepromazina
(Neozine, Rhodia), nalbufina (Nubaim, Rhodia) e midazolam (Dormonid, Roche) e divididas em dois grupos.
Seis cadelas foram submetidas à eletroacupuntura nos pontos E36, IG4, VG1 e Bai Hui, utilizando-se estímulo elétrico até 9 v, freqüência f1 de l00 Hz
e f2 de 200 Hz e em seis a indução da anestesia foi realizada com quetamina (Ketalar, Parke Davis) e a manutenção com enfluorano (Etrane, Abbott). As
freqüências cardíaca e respiratória foram maiores nos filhotes de cadelas submetidas a eletroacupuntura e os reflexos neurológicos também tenderam a
ser maiores nestes mesmos neonatos.
Duas de seis cadelas necessitaram uma suplementação de l a 2 mg/kg de quetamina numa ocasião durante a anestesia, demonstrando que há variação
individual no tocante ao efeito analgésico e que hipoalgesia pode ocorrer ao invés de analgesia. A menor depressão neurológica e cardiorrespiratória em
neonatos após cesariana é uma vantagem potencial do uso da acupuntura, quando comparado à anestesia convencional, mesmo necessitando uma
complementação ocasional de fármacos para obtenção de uma analgesia satisfatória.