1. Introdução.
O escopo deste trabalho tem por finalidade trazer breves considerações a respeito do
concurso de crimes, seja o concurso material, concurso formal e também o crime
continuado, no que tange aos requisitos, espécies e sistemas de fixação de penas,
respectivamente dispostos nos artigos 69, 70 e 71 do Código Penal Brasileiro.
Preceitua o artigo 69 do Código Penal Brasileiro que: ³quando o agente, mediante mais
de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não´,
Assim extrai-se da própria lei o conceito de concurso material, ou seja, ocorrendo duas
ou mais condutas e dois ou mais resultados, causados pelo mesmo autor, caracterizado
estará o concurso material, porém para que ocorra, necessário se faz o preenchimento de
dois requisitos (cumulativos) conforme citados a seguir:
2.1. Requisitos
O agente realiza duas ou mais condutas, para que se configure o concurso material,
sejam elas dolosas ou culposas omissivas ou comissivas. Ex: o agente comete o crime
de roubo, e em seguida estupra a vítima, matando-a posteriormente para que fique
impune.
O agente pratica dois ou mais crimes, sejam eles idênticos ou não, porém com liame
pela identidade do agente, não se levando em consideração se os crimes ocorreram na
mesma ocasião ou em dias diferentes. Verificando o exemplo acima citado o agente
cometeu o crime de roubo ( art. 157,CP ), estupro ( art. 213,CP ), e homicídio ( art. 121,
CP ).
Destarte, sem o preenchimento de ambos os requisitos, não há que se falar em concurso
de crimes. Cabe ainda salientar que não haverá concurso de crimes no caso de crimes
permanentes (crime prolongado no tempo), tampouco em crime habitual (reiteração do
crime), pois há somente um crime.
Ex: Crime permanente - seqüestro.
Ex: Crime habitual - exercício ilegal da medicina.
Quando os crimes praticados, são idênticos, ou seja, previstos no mesmo tipo penal.
Ex: roubo (art. 157, CP) ocorrido no mês de janeiro de 2008 e roubo (art. 157, CP) no
mês de junho de 2008;
Obs: Neste caso não há que se falar em crime continuado, pois a jurisprudência firmada
pelos Tribunais, afirma que o lapso temporal entre um crime e outro não poderá
ultrapassar os 30 (trinta) dias.
Quando os crimes praticados não são idênticos, ou seja, previstos em tipos penais
diversos.
Ex: furto (art. 155, CP) e estupro (art. 213, CP).
2.4. Observações
Prescrição ± o prazo prescricional devera ser contado isoladamente para cada crime
cometido pelo agente, conforme assevera o artigo 119 do Código Penal.
Reincidência ± conforme dispõe o artigo 63 da Lei Penal, a reincidência ocorre quando
o agente comete novo crime, depois de transitado em julgado sentença que o tenha
condenado por crime anterior. Fato é que o concurso material por si só não gera
reincidência, pois há dois crimes julgados em única sentença prolatada pelo juiz.
O artigo 70, 1ª parte do CP, traz em seu bojo o conceito de concurso formal/ideal.
Acentua que: ³ quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não, haverá concurso formal.
Diferencia-se do concurso material, pois os requisitos divergem-se, conforme logo mais
exporemos.
3.1. Requisitos
O agente realiza uma só conduta, seja ela dolosa ou culposa, omissiva ou comissiva,
Fernando Capez ensina: ³por conduta devemos entender a ação ou omissão humana
consciente e voluntária, dirigida a uma finalidade. Compreende um único ato ou uma
seqüência de atos desencadeados pela vontade humana, objetivando a realização de um
fato típico.´
Ex: o agente com único tiro fere mais de uma pessoa.
O agente comete dois ou mais crimes, sejam eles idênticos ou não, porém com uma só
conduta. Fernando Capez em sua obra assevera: ³uma só conduta dá origem a mais de
um fato, ou a mais de um crime, quando atingir mais de um bem penalmente tutelado.
Por outro lado, se da conduta única surgir um único fato típico, inexistirá o concurso
formal.´
Ex: em um atropelamento, o motorista mata uma pessoa e causa lesões corporais em
outra.
Cumpre ainda ressaltar que a unidade de desígnio não faz parte do concurso formal de
crimes, pois não esta previsto na lei como requisito para que o concurso formal se
configure. O Código penal adotou a teoria objetiva, deixando a questão subjetiva
portanto somente para ser apreciada na aplicação da pena, conforme notamos no art. 70,
2ª parte do CP.
Ocorre o concurso formal homogêneo quando os crimes são idênticos, ou seja, descritos
no mesmo tipo penal, porem com sujeitos passivos diversos.
Ex: um acidente de trânsito com quatro mortes.
3.2.2. Concurso Formal Heterogêneo
O artigo 70, 2ª parte, do CP traz o concurso formal imperfeito. Aqui há uma só ação,
porem o resultado é de desígnios autônomos. O agente deseja os outros resultados ou
aceita o risco de produzi-los.
A autonomia de desígnios ocorre quando o agente pretende praticar vários crimes, tendo
consciência e vontade em relação a cada um deles, embora a conduta seja única.
Ex: o agente dispara um único tiro e provoca duas mortes, porém ambos os sujeitos
passivos ele queria matar.
Ocorre o concurso material benéfico quando a soma das penas - sistema utilizado para
fixação da pena no concurso material, é mais benéfico ao réu do que o sistema da
exasperação da pena - sistema utilizado para aplicação da pena no concurso formal
Ex: o agente comete homicídio doloso e lesões corporais culposas.
Sistema de exasperação (concurso formal) = 6 anos p/ o homicídio + 1/6 da pena p/ a
lesão corporal culposa = 7 anos de pena.
Sistema de cumulo (concurso material = 6 anos p/ o homicídio + 2 meses p/ a lesão
corporal = 6 anos e 2 meses de pena.
Aqui o concurso é formal, mas quando da aplicação da pena, usa-se o sistema do
cumulo material, pois este é mais benéfico ao réu.
- Concurso formal perfeito heterogêneo: aplica-se a pena do crime mais grave acrescida
de 1/6 até a metade.
Esse aumento de pena dependerá via de regra da quantidade de delitos praticados pelo
agente, conforme tabela citada na obra de Fernando Capez ¹:
1. Fernando Capez, Curso de Direito Penal, São Paulo, Editora Saraiva, p,460.
3.5. Observações
4. Crime Continuado
Preconiza o artigo 71, caput do CP: ³quando o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo,
lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os próximos ser tidos em
continuação do primeiro´.
Conforme conceito de MANOEL PEDRO PIMENTEL: ³O crime continuado é uma
ficção jurídica inspirada pelo critério da benignidade; destinada a servir como fator de
individualização da pena e deduzida, por motivos de equidade justificados pela
culpabilidade diminuída do agente, da homogeneidade de condutas concorrentes que
ofendem o mesmo bem jurídico.´²
Diferentemente do concurso formal onde há apenas uma ação que se desdobra em
vários atos, o crime continuado exige a pratica de duas ou mais condutas, com
desdobramentos em crimes da mesma espécie, ou ainda crimes dolosos, cometidos com
violência ou grave ameaça a pessoa, mesmo que os sujeitos passivos sejam diversos,
(CP,art 71, parágrafo único), sendo considerado como crime único pelo CP por razões
de política criminal.
4.1. Requisitos
Do Crime Continuado. 2ª edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1969, pág.
119.
4.2 Espécies
Algumas teorias são destacadas que buscam esclarecer a natureza do instituto jurídico
do crime continuado, sendo elas a teoria da unidade real, da ficção jurídica e a
mista.Cumpre ressaltar que o Código Penal Brasileiro adotou com a reforma de 1984, a
teoria da ficção jurídica, não fazendo nenhuma menção ao elemento subjetivo, levando
em consideração somente os elementos objetivos, elencados na lei, justamente por
opções de política criminal e para que se pudesse evitar sanções penais severas,
desnecessárias, o que não é o fim buscado pela pena, ao contrario a ela cabe justamente
a ressocilaização e reintegração do infrator a sociedade.
5. Conclusão
×
c c ×
1. INTRODUÇÃO
de liberdade, desde que cumpridas determinadas condições durante certo tempo. Serve
como
para os autores italianos, é uma fase de execução da pena, a qual sofre uma modificação
em seu último estágio; para a maioria da doutrina brasileira, trata-se de direito público
subjetivo do
2. REQUISITOS
Podem ser de duas ordens: objetiva e subjetiva. São requisitos objetivos necessários à
concessão do
livramento condicional:
a) pena privativa de liberdade igual ou superior a dois anos (art. 83, caput) ! admite-se a
soma das
penas, mesmo que em processos distintos, para atingir esse limite mínimo, bem como a
detração
penal. A condenação a pena inferior a dois anos pode ensejar o sursis, jamais o
livramento;
Bdeve cumprir mais de um terço (1/3 ) da pena se o condenado não for reincidente em
Bdeve cumprir mais da metade (1/2) da pena se ele for reincidente em crime doloso,
(art.
83, II);
Bdeve cumprir mais de dois terços (2/3) da pena se, condenado por crime hediondo,
prática
de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, desde que não
que essa reincidência específica é em qualquer dos crimes desta natureza, não
necessitando
que a reincidência seja pelo mesmo delito (p. ex.: é reincidente específico quem é
condenado por extorsão mediante seqüestro (CP., art. 159) e depois por latrocínio (CP.,
a) bons antecedentes ! para o condenado que não seja reincidente em crime doloso; se
for reincidente,
com ou sem bons antecedentes, deverá cumprir mais da metade da pena para poder
pleitear
o benefício;
deve ser satisfatório dentro e fora da prisão (trabalho externo, cursos de instrução),
como indício
de readaptação social;
e) prognose favorável ! diz o art. 83, parágrafo único, que ³para o condenado por crime
doloso,
subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não
voltará
Tal qual no sursis, existem condições de imposição obrigatória e facultativa; por ser um
período de
liberdade de locomoção.
São condições obrigatórias a serem cumpridas durante o benefício (art. 132, §1o, LEP):
proteção cautelar;
A doutrina ainda aponta que o juiz poderá impor como condição que o liberado
abstenha-se de praticar
infrações penais.
As condições judiciais podem ser modificadas no curso do livramento para atender aos
fins da pena e
à situação do condenado (art. 144, LEP). Não havendo aceitação das condições
impostas ou alteradas,
a pena deverá ser cumprida normalmente, ficando sem efeito o livramento condicional.
Neste caso, se, somando-se as penas da nova condenação com a anterior o liberado
poderá continuar
somadas.
anos e 2 meses. Como o cumprimento teve início em outubro de 1990, ele, somadas as
penas, teria
cumprira (contados período preso e período do livramento) 7 anos e 3 meses, prazo que
lhe faculta
permanecer em liberdade.
Existem também as causas de revogação facultativa: ocorrendo uma delas, o juiz terá
três opções:
b) a condenação irrecorrível por crime ou contravenção a pena que não seja privativa de
liberdade
legislador, que se esqueceu de contemplá-la ± para alguns, tal omissão não pode ser
suprida pelo
juiz; para outros, como Cezar Bitencourt e Mirabete, deve ser considerada como causa
de revogação
uma dessas causas, a de pena mais grave (privativa de liberdade) também tem que ser.
Os efeitos da revogação (art. 88, CP) irão variar a depender da sua causa:
de novo livramento, inclusive no que se refere à pena que estava sendo cumprida, as
duas
haverá possibilidade de novo benefício em relação à mesma pena, que terá de ser
cumprida integralmente,
não se computando o prazo em que esteve solto; quanto à nova pena, poderá obter o
benefício;
condições impostas.
Diz o art. 89, CP: ³o juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em
julgado a sentença
liberdade não poderá ser declarada extinta, pois, havendo condenação, revogar-se-á a
liberdade
condicional que estava suspensa, não se considerando o período de prova como de pena
cumprida.
Quanto ao processo por crime praticado antes da vigência do benefício, conforme já foi
mencionado,
o período de prova é computado como de pena cumprida e, chegando ele ao fim, a pena
deverá ser