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XLV CONGRESSO DA SOBER

"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

FUSÕES E AQUISIÇÕES NO PROCESSO DE EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA


PROCESSADORA DE CITROS DO ESTADO DE SÃO PAULO

ANA CLAUDIA GIANNINI BORGES (1) ; VERA MARIZA HENRIQUES DE


MIRANDA COSTA (2) .

1.UNESP - FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS,


JABOTICABAL, SP, BRASIL; 2.UNIARA E UNESP, ARARAQUARA, SP,
BRASIL.

acgiannini@uol.com.br

APRESENTAÇÃO ORAL

SISTEMAS AGROALIMENTARES E CADEIAS AGROINDUSTRIAIS

FUSÕES E AQUISIÇÕES NO PROCESSO DE EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA


PROCESSADORA DE CITROS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Grupo de Pesquisa: Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo identificar estratégias de fusão e aquisição ao longo
da evolução da indústria processadora de citros no estado de São Paulo, no período que
tem início na década de 60 e se estende pela década de 80. Partiu-se da hipótese de que a
adoção dessas estratégias, em período anterior ao que ocorre nas demais indústrias no
Brasil, deveu-se à importância do mercado externo para a indústria processadora citrícola,
desde seus primórdios. Para a identificação das estratégias de fusão e aquisição adotadas,
em busca de competitividade, foram utilizados dados e informações de fontes primária e
secundária, por meio de levantamento de campo e em bibliografia que trata desses temas.
Pôde-se concluir que a maior incidência de fusões e aquisições na indústria processadora
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de citros – do final da década de 70 até início dos anos 80 – aconteceu com antecedência
de mais de uma década do ocorrido em outros segmentos produtivos no Brasil. Assim
sendo, a “onda” de fusões e aquisições na indústria processadora de citros situa-se em
período mais próximo ao registro desse movimento no exterior. Apesar da maior
incidência de fusões e aquisições nas décadas referidas, no entanto, essas estratégias
marcam todo o processo evolutivo da indústria de citros do estado de São Paulo.
Palavras-chave: fusão, aquisição, competitividade, indústria processadora de citros; estado
de São Paulo.

Abstract

MERGERS AND ACQUISITIONS IN THE DEVELOPMENT PROCESS OF


CITRUS INDUSTRY IN SÃO PAULO STATE

This paper has as its main goal the identification of merger and acquisition strategies
throughout citrus industry evolution in São Paulo State, during the period lasting from the
60’s to the 80’s. The hypothesis undertaken was that the adoption of such strategies were
made use of in a period prior to that occurring in other Brazilian industries. This was due to
the importance of the foreign market to the citrus industries since their beginning. In order
to obtain the characterization of the merger and acquisition strategies in search of
competitiveness, data and information of primary and secondary sources were sought for
from the specialized literature and from interviews with people related to the organizations
in cause. It was possible to conclude that the greater occurrence of merger and acquisitions
in citrus industry took place with the anticipation of more than a decade in relation to what
occurred in other sectors of the Brazilian industry – from the end of the 70’s to the
beginning of the 80’s. Therefore, the “wave” of mergers and acquisitions in citrus industry
lies closer to the external tendency. In spite of the greater presence of mergers and
acquisitions in the 70’s and 80’s such strategies are part of the evolution process in the
citrus industry of São Paulo State since the 60’s

Key words: merger; acquisition; competitiveness; citrus industry; São Paulo State.

1 - INTRODUÇÃO

Nos anos 70, os países avançados passaram por uma crise na economia, levando ao
questionamento de algumas medidas inspiradas nas políticas keynesiana,
desenvolvimentista e a de welfare state, implementadas no pós-guerra. Nesse contexto se
desenvolve uma nova postura, a neoliberal, com uma base conceitual divergente das
políticas até então adotadas, que se difunde por quase todo o mundo.
Simultaneamente, o processo de globalização se apresenta para os defensores da
internacionalização da economia como um movimento benéfico para a retomada do
crescimento e do desenvolvimento econômico. O livre comércio internacional, a
liberalização do mercado financeiro e a redução de posturas reguladoras e protecionistas
são vistos como estímulos para a elevação da concorrência entre as empresas e os países.
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Se já no final do século XIX a concorrência e a dinamicidade do mercado mostravam-se


presentes, no entanto é a partir de meados do século XX que se observa maior intensidade
e velocidade na transformação das tecnologias e das formas de organização.
As mudanças no sistema produtivo no fim da década de 70 e na década de 80
desencadearam intensas mudanças nos mercados e na tecnologia. Essas mudanças
contínuas proporcionaram a transição para um novo paradigma industrial. O sistema
produtivo possibilitou a criação de uma ampla base tecnológica genérica, que trouxe um
aperfeiçoamento de produtos e processos.
A concorrência se modificou da busca contínua pelo menor custo para focar o
design superior do produto e a combinação da redução do custo sem o prejuízo da
qualidade. Essa nova forma de concorrência é mantida com a inovação contínua em
métodos, processos e produtos. A inovação contínua depende da resolução de problemas e
da relação cooperativa entre as empresas concorrentes, seus fornecedores e consumidores,
ou seja, tem-se como base a visão de que há uma cadeia de produção e, portanto, um
encadeamento de ações e reações.
A discussão sobre competitividade ganha destaque no Brasil nas décadas de 80 e
90, com o novo desenho econômico, político, produtivo e social. Desenvolve-se articulada
ao debate da política econômica na esfera mundial, em razão da internacionalização
econômica, produtiva e financeira.
As mudanças do ambiente institucional e concorrencial, intensificadas com o
processo de “globalização”, suscitam respostas estratégicas das empresas dentre as quais
fusões e aquisições (F&A). O Brasil, segundo Matias e Pasin (2001), vem se posicionando
como o país com maior número de operações de F&A da América Latina a partir de 1994.
Essas operações vêm ocorrendo nos mais diversos setores, mas os principais têm sido os de
alimentos, bebidas e fumo; telecomunicação; tecnologia de informação (TI); e instituições
financeiras; setores esses que estão classificados sempre entre os cinco mais
representativos para as operações de F&A. Vale destacar que o setor de alimentos, bebidas
e fumo é o que mais apresenta operações de F&A, no período de 1994 a 2005, de acordo
com relatório da KPMG 2005.
No caso do agronegócio citrícola, a análise de sua evolução indica a presença de
F&A como estratégia adotada pela indústria processadora em diversos momentos desse
processo evolutivo. No entanto, é no período que vai de fins dos anos 70 até o início dos 80
que se observa maior intensidade na adoção dessa estratégia.
Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo identificar os processos de
F&A, ao longo da evolução da indústria processadora de citros no estado de São Paulo, a
partir dos anos 60, com destaque para o período que se inicia no final dos anos 70,
estendendo-se pela década de 80.
O processo evolutivo do agronegócio citrícola é marcado por forte influência do
mercado externo. Sendo o estado de São Paulo um dos maiores produtores e exportadores
mundiais de suco de laranja concentrado congelado (SLCC) e dado que em sua quase
totalidade esse suco produzido é exportado, torna-se fundamental para a manutenção da
competitividade do agronegócio citrícola o conhecimento e o acompanhamento da
dinâmica do mercado externo. De fato, mais que o mercado interno, o externo teve maior
influência sobre as decisões dos agentes vinculados ao agronegócio citrícola.
Assim sendo, para a realização deste trabalho, partiu-se da hipótese de que dado o
peso do mercado externo para o agronegócio citrícola, as estratégias de F&A para obtenção
de competitividade foram adotadas por esse segmento em período anterior ao observado
nos demais segmentos produtivos no país.
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Para a consecução dos objetivos propostos foram levantados dados e informações


em fontes primárias e secundárias.
Para caracterizar a adoção de estratégias de F&A no processo evolutivo da indústria
processadora citrícola paulista, visando à manutenção e à ampliação de sua
competitividade, são abordados neste texto: 1) os efeitos dos processos de F&A para a
competitividade das empresas; 2) a identificação de processos de F&A em diversos
períodos de desenvolvimento da indústria processadora citrícola paulista.

2- COMPETITIVIDADE, FUSÕES E AQUISIÇÕES

A competitividade depende da produtividade do sistema e é obtida por um processo


contínuo de melhorias e inovações produtivas, organizacionais, institucionais e
tecnológicas, que resultam na manutenção ou na ampliação da vantagem competitiva em
âmbito nacional e internacional.
Para Coutinho e Ferraz (1993, p.18), “a competitividade deve ser entendida como
a capacidade da empresa de formular e implementar estratégias concorrenciais, que
lhe permitam conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado”.
Portanto, a competitividade só será obtida quando for analisada e pensada de uma forma
sistêmica, onde a empresa faz parte de um sistema, sendo influenciada por ele e até
podendo influenciá-lo por meio de suas estratégias.
Segundo Goldenstein (2001), pode-se afirmar que na década de 80, nos países
desenvolvidos, e na de 90, nos demais, vem ocorrendo uma das maiores transformações
passadas pelo capitalismo. É uma revolução tecnológica igual ou maior do que aquela que
levou à revolução industrial, ampliando e acentuando o novo paradigma produtivo,
impactando e sendo impactada pelo sistema financeiro internacional, pelas estruturas
produtivas, pelas relações entre as diferentes economias e pelas economias nacionais.
A concorrência entre as empresas de uma mesma indústria deixa de ser sustentada
apenas pela variação do preço, acrescentando outros valores como a qualidade, as
características e a performace do produto e os esforços de venda. A concorrência, no novo
paradigma, visa a novos produtos, novas tecnologias, novas fontes de oferta, novos tipos
de organização entre outros, de forma contínua.
A firma não deve se preocupar apenas com o preço, mas em buscar conhecimento e
informações mais amplas, abrangendo as preferências do consumidor, os sistemas de
comunicação, as relações de produção e as informações de mercado, entre outros. Cumpre
destacar a importância da informação, para a firma promover e acompanhar as melhorias e
as inovações contínuas, ou seja, realizar ações ex-ante e não apenas ex-post.
As mudanças decorrentes da formação de um novo sistema produtivo alteram o
ambiente competitivo, já que há mudanças nas relações da cadeia de produção – entre os
fornecedores e os clientes - no processo de produção e no ambiente organizacional, entre
outros.
A vantagem competitiva das empresas torna-se mais passageira e vulnerável, pois
“[…] o ciclo de produção se encurta e o poder de monopólio torna-se fugaz.” (FARINA,
1997, p. 142). Uma alternativa para obter e manter a competitividade é a cooperação
horizontal e vertical, mas muitas vezes as empresas deixam a cooperação e preferem atuar
de forma voraz.
As empresas nesse novo cenário – industrial, socioeconômico e político – adotam
políticas competitivas variadas, tais como: diferenciação e diversificação de produto;
minimização do custo sem prejuízo da qualidade; fusões e aquisições; parcerias;
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terceirização; inovação, entre outras. Dessa forma, essas estratégias competitivas são ações
ofensivas ou defensivas, de acordo com Porter (1993), para enfrentar a influência dos
fatores do ambiente geral das empresas.
A busca pela inovação é uma forma das empresas ganharem lucros de monopólio,
por um determinado período, e manterem e ampliarem a sua competitividade. Mas essa
ação não é algo final, exigindo um continuum de ações, pois cada empresa tem
concorrentes habilitadas a superá-la.
Faz-se necessária a adoção de ações estratégicas de cooperação entre as empresas
concorrentes, com os seus clientes e seus fornecedores, ou seja, cooperação horizontal e
vertical, e mesmo o emprego de estratégias por vezes mais conflituosas, como as operações
de F&A entre as empresas. A cooperação pode estar relacionada à obtenção de
informações o que, dada a dinamicidade do mercado, se torna vital para a sustentação da
competitividade das empresas e de sua cadeia produtiva. Segundo Farina (1997) é
importante destacar que a concorrência, por definição, não é vista como um
comportamento cooperativo, mas que tem sido uma prática habitualmente adotada. As
operações de F&A, além de ampliarem a possibilidade de obtenção de informações
acabam reduzindo a concorrência e, portanto, pelo menos momentaneamente, a incerteza.

2.1 - Fusões e aquisições: conceito, teoria e condicionantes

A fusão é a combinação de duas ou mais empresas, mantendo a empresa resultante


a identidade de uma delas. Designa-se aquisição a compra de parte ou da totalidade das
ações de uma empresa por outra de forma amigável ou não, deixando de existir a empresa
adquirida.1
Matias, Barretto e Gorgati (1996) apresentam três tipos de fusões: horizontal,
vertical e de conglomerados.
A primeira - horizontal - ocorre quando as empresas que se fundem são
concorrentes diretas (operam no mesmo ramo de atividade). Essa operação pode estar
objetivando a redução de custos e ganhos de escala, o que modifica a estrutura de mercado,
pois pode aumentar a concentração, ampliando a participação da empresa resultante,
aumentando o poder de negociação frente às demais concorrentes e seus compradores e
fornecedores. Tal situação cria condições para ampliação de receitas, em decorrência da
ampliação do poder de mercado.
A fusão vertical ocorre quando a empresa se funde à outra que está “a montante”
(upstream) ou “a jusante” (dowstream) desta, ou seja, absorve etapas ou atividades
diferentes de sua cadeia produtiva. Essa operação também pode ser caracterizada como
uma diversificação vertical. Vale acrescentar que esse processo posiciona a empresa nas
mais diversas etapas de elaboração do produto: tanto em uma etapa em que se adiciona um
pequeno valor ao produto, quanto em etapas onde o acréscimo é mais substancial, como
também em atividades não estritamente industriais – distribuição, comercialização,
assistência pós-venda, entre outras (BRITTO, 2002). A verticalização se justifica por
vários fatores, entre eles como meio de reduzir os custos de transação, haja vista que as
informações do mercado são assimétricas, isto é, o mercado funciona de forma imperfeita,
o que poderia resultar em custos de transação ex-ante (minimização das várias
possibilidades de ações oportunistas) e ex-pot (minimização dos efeitos das ações
oportunistas realizadas a posteriori).
1
Para maiores informações vide Sandroni (2005) e Matias e Pasin (2001).
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A terceira fusão é a de conglomerados e ocorre quando as empresas que se fundem


atuam em negócios diferentes, podendo ser considerada uma diversificação. Essa forma de
fusão, para Matias, Barretto e Gorgati (1996), pode ser dividida em três tipos: a) extensão
de produto - ocorre com a ampliação das linhas de produtos, que atuam no mesmo negócio
e as atividades estão relacionadas entre si, podendo ser caracterizadas, segundo Britto
(2002), também como um processo de diversificação concêntrica; b) extensão geográfica
de mercados - fusão que ocorre entre empresas que atuam em locais geograficamente
diferentes, mas que podem ser complementares e, para tal, o produto deve ser substituto; c)
conglomerado puro - fusões entre empresas que não apresentam negócios relacionados.
Britto (2002) identifica uma forma de diversificação em conglomerado em que a empresa
passa a atuar em atividades com baixos níveis de sinergia ou quase nenhuma relação, e
essa diversificação pode se dar também pela F&A.
Essa discussão também é analisada pelo Informe Setorial do BNDES (BRASIL,
1999) que apresenta um resumo da teoria, conforme Quadro 1, a seguir.
Pasin, Bucchi e Calais (2003) apresentam alguns motivos para a realização de F&A
transnacionais que podem ser aplicadas às não transnacionais, muitos dos quais já referidos
nos estudo do BNDES (BRASIL, 1999). Essa discussão está sustentada em trabalho de
Samuels e Wilkes (1996) que destacam alguns motivos e causas para as F&A: economias
de escala de produção; poder de mercado; diversificação de risco; entrada em novos
mercados e em novas indústrias.

Quadro 1 - Fusões e Aquisições: classificação e principais motivações


Tipo Definição Possíveis objetivos
Horizontal Fusões dentro de uma Obter economias de escala e escopo
mesma indústria ou Elevar o market-share
segmento Penetrar rapidamente em novas regiões
Vertical Fusões de empresas que Ampliar controle sobre as atividades
estão à frente ou atrás da Proteger o investimento principal
cadeia produtiva Facilitar a distribuição dos produtos
Assegurar matérias-primas (eventualmente a custos mais
baixos)
Concêntrica Fusões de empresas com Diminuir os custos de distribuição
produtos ou serviços não Diversificar o risco
similares que apresentam Adquirir rapidamente o know-how no setor
algum tipo de sinergia Ampliar a linha de produtos
Entrar em novos mercados
Conglomera Fusões sem qualquer tipo Diversificar o risco
do puro de sinergia Aproveitar as oportunidades de investimento

Fonte: BNDES (BRASIL, 1999 p. 2).


Há várias teorias que buscam explicar as razões das operações de F&A. Matias,
Barretto e Gorgati (1996, p. 7-8) fazem uma revisão e uma síntese pontual das teorias. Os
autores destacam seis teorias explicativas, a partir do trabalho de Weston, Chung e Hoag
(1990). A primeira seria a de eficiência, caso em que as F&A proporcionam formas de
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melhorar o desempenho administrativo e ou alcançar alguma sinergia, o que poderia


aumentar, de modo geral, a eficiência da economia. Para a teoria da informação e
sinalização a proposta de F&A possibilita a liberação de informações de forma mais
completa sobre a empresa objeto de fusão e/ou aquisição. Para a teoria dos problemas de
agência o processo de F&A constitui uma alternativa para minimizar os problemas de
agência, decorrentes de conflitos entre os administradores e os proprietários da empresa,
facilitando os administradores externos ao assumirem o controle da empresa com o
problema. A teoria do poder de mercado considera que um motivo para a ocorrência de
F&A é a possibilidade de se ampliar a fatia de mercado de uma empresa, o que não
significa que esta se tornará mais eficiente, tornando essa operação não vantajosa; por
outro lado, pode resultar em uma ampliação da concentração de mercado. A teoria das
vantagens fiscais considera que F&A podem proporcionar a minimização de custos
fiscais. A teoria do fluxo de caixa considera que as F&A constituem uma alternativa para
resolver os problemas de custo de agências, decorrentes dos conflitos quanto ao pagamento
dos fluxos de caixa livre.

2.1.1 - Os principais momentos de ocorrência – “ondas” – de fusões e aquisições

Nos EUA as F&A vêm ocorrendo, ao longo do século XX, acentuando-se em


determinados períodos, ou seja, observam-se “ondas” de F&A que são explicadas e
impulsionadas principalmente por condições ambientais do período, mudanças
tecnológicas e crescimento econômico representativo e persistente ao longo de um
período.2
No caso específico do Brasil, a política de abertura comercial adotada a partir do
início da década de 90 e o fim da regulação, sustentada no modelo de substituição de
importações, intensificam a concorrência e as mudanças institucionais. Matias, Barretto e
Gorgati (1996) destacam que há um crescente número de F&A ocorrendo no Brasil a partir
de 1990, o que é corroborado pelos dados da KPMG (2005), apresentados no Quadro 2.
No caso específico do setor de alimentos, bebidas e fumo, as F&A se apresentam
significativas em valores absolutos e em relação ao total das operações de F&A. Esse setor
se destacou de forma representativa, ao longo da década de 90 e na primeira década do
século XXI, variando sua participação, no total das F&A, de 8,09% a 13,17% , conforme
Quadro 2.

Quadro 2: Total de fusões e aquisições no Brasil e participação do setor de alimentos,


bebidas e fumo – 1994-2005.
Ano Fusões e Aquisições Ano Fusões e Aquisições
Total Setor Participação do setor Total Setor Participação do setor
ABF* ABF no total das F&A ABF* ABF no total das
F&A
1994 175 21 12% 2000 353 36 10,2%
1995 212 24 11,32% 2001 340 32 9,41%
1996 328 38 11,59% 2002 227 29 12,78%
1997 372 49 13,17% 2003 230 22 9,57%
1998 351 36 10,26% 2004 290 36 12,41%
1999 309 25 8,09% 2005 363 36 9,92%
* Setor ABF – setor de alimentos, bebidas e fumo.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados da KPMG (2005).

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Identificando e destacando a importância do setor de alimentos, bebidas e fumo nas


F&A, cabe apresentar, segundo o estudo do BNDES (BRASIL, 1999 p. 3), os fatores
específicos que estão relacionados às F&A no setor de alimentos. São eles: saturação dos
mercados dos países desenvolvidos; crescente poder das cadeias de distribuição (os
supermercados buscam mercados fornecedores menos competitivos, com menor poder de
atuação); custos crescentes (propaganda, distribuição e qualidade) inviabilizando empresas
de menor porte; focalização do negócio na atividade central da empresa, com redução da
atuação em áreas periféricas; entrada em novos mercados regionais/locais, com redução de
custos.

3 – FUSÕES E AQUISIÇÕES NO PROCESSO DE EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA


PROCESSADORA CITRÍCOLA DO ESTADO DE SÃO PAULO

A caracterização da formação e da estrutura atual do agronegócio citrícola deve ser


analisada como resultado de um processo evolutivo e dinâmico e de sua capacidade,
durante sua consolidação, de se adaptar e responder às mudanças do mercado. As
características desse processo ficam mais claras a partir de periodização, que contempla a
presença ou a ausência de fatores de diversas ordens, com destaque para: os determinantes
da competitividade; as formas de coordenação; o tipo de relacionamento entre os principais
agentes – os produtores e as processadoras; os elementos responsáveis pela sua dinâmica; e
as crises – de caráter econômico ou fitossanitário.
Essa periodização contemplando os referidos fatores está apresentada em trabalho
de Borges e Miranda Costa (2006) que propõem quatro períodos para a avaliação desse
processo evolutivo.
O primeiro compreende o início do século XX até o final da década de 20 desse
mesmo século. É marcado pela implementação dos pomares comerciais, no estado do Rio
de Janeiro e de São Paulo, e pela exportação da fruta in natura.
O segundo vai da década de 30 até início da década de 60. É caracterizado pelo
desenvolvimento e pela consolidação da atividade de produção de citros no estado de São
Paulo.
O terceiro período, da década de 60 a fins da década de 80, é marcado pela
formação e consolidação do parque industrial e do agronegócio exportador de SLCC.
O quarto abrange a década de 90 e o início do século XXI. É marcado por um
processo de reestruturação do agronegócio citrícola, que visa manter a vantagem
competitiva alcançada no decorrer do processo evolutivo desse agronegócio.
Dados os objetivos do presente trabalho, de analisar as F&A realizadas pela
indústria processadora, a partir de 1963, quando ela se instala em São Paulo, apenas os dois
últimos períodos foram utilizados como referência.

3.1 - O período de 1963 ao final dos anos 80: formação da indústria e consolidação do
agronegócio citrícola

O período que vai de 1963 ao final dos anos 80 é marcado pela formação e
consolidação do agronegócio citrícola no estado de São Paulo. Esse período abrange três
momentos: o primeiro, relacionado à formação do segmento processador, na década de 60;
o segundo, na década de 70, marcado pelo maior crescimento registrado na atividade,
simultaneamente à ocorrência de crises econômicas e organizacionais, que contribuíram
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para mudanças institucionais na atividade; o terceiro, na década de 80, caracterizado pelo


quase monopólio do SLCC brasileiro no mercado internacional, sustentado pela expansão
da atividade, com a entrada, no país, de novos produtores de SLCC e de citros, e pela
mudança do contrato da laranja3, que excluiu a atuação do Estado como intermediário.

3.1.1 - A instalação da indústria processadora nos anos 60 e o movimento inicial de


incorporações

O segmento processador surgiu na década de 60, estimulado por um conjunto de


fatores, entre eles a presença de uma citricultura de porte no estado de São Paulo, mudança
e crescimento no mercado de consumo internacional4, a ocorrência de geadas na Flórida –
EUA, maior produtor de laranja e SLCC.
A primeira processadora foi instalada em 1962 e no período de dez anos já havia
sete empresas processando no estado de São Paulo (Quadro 3): Avante e Citral em
Limeira, Citrobrasil em Bebedouro, Citrosuco em Matão, Cutrale em Araraquara,
Frigorífico Anglo em Barretos e a Sanderson em Bebedouro. (MENEZES, 1993).
Tem-se dificuldade em determinar datas referentes às empresas processadoras, pois
não há um consenso entre as datas exatas de instalação e de início de produção. Vale
acrescentar que, a partir de 1962, muitas empresas de grande e de pequeno porte surgiram,
muitas fecharam, outras foram compradas, mudando o controle acionário.5
A primeira empresa processadora foi a Companhia Mineira de Conservas, surgindo
em 1962, em Bebedouro. Possuía apenas uma extratora e processava as frutas que não
eram exportadas. Foi adquirida integralmente pela Sanderson, em 1970. Outra empresa
fundada6, nesse período, foi a Suconasa S/A (Sucos Naturais S/A); instalada em
Araraquara com investimento externo, pela Toddy do Brasil, foi adquirida pela família
Cutrale em 1967.

Quadro 3: Cronologia das indústrias processadoras de suco de laranja no estado de


São Paulo – Década de 60
1962 Instalação da Companhia Mineira de Conservas, em Bebedouro-SP.
1963 Suconasa S/A é instalada em Araraquara-SP. *

3
Desde o início da atividade de processamento o processo de venda do citricultor para a empresa
processadora ocorria por um tipo de contrato, por meio do qual a processadora se tornava “proprietária” dos
pomares, já “na florada”, o que a habilitava a praticar os controles e os cuidados necessários nos pomares,
realizando, posteriormente, a colheita e o transporte, dentro das especificações, para resguardar a qualidade
do fruto, garantir o ritmo de processamento e a qualidade do suco. A partir de meados da década de 70 até
1985, vigorou o assim denominado “contrato a preço fixo”, caracterizado pela determinação do preço da
caixa de laranja por atuação da CACEX (Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil). O “contrato a
preço fixo” foi substituído pelo “contrato padrão”, também chamado de “contrato de participação”, a partir
da safra 1986/87, sendo praticado até a safra de 1994/95. A principal característica do “contrato padrão” era
atrelar o preço da caixa de laranja ao preço do SLCC (Suco de Laranja Concentrado Congelado), cotado na
Bolsa de Nova Iorque.
4
Na década de 50 observa-se um aumento da renda per capita no mundo, favorecendo o crescimento da
demanda por produtos semi-prontos, como o suco de laranja concentrado congelado. Essa mudança se
apresenta de forma clara, principalmente, nos EUA.
5
Os quadros 3, 5, 7 e 9 apresentam, cronologicamente, o “movimento” da indústria processadora de citros,
ao longo de quase cinco décadas.
6
Há autores que indicam outras datas. Assim, Martinelli Júnior (1987) aponta a fundação desta empresa em
1962 e outros como Menezes (1993) em 1963. Na verdade há discordância quanto ao ano de instalação de
várias empresas.
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1964 Citrosuco Paulista é inaugurada em Matão-SP.


1964 Citrobrasil instala-se em Bebedouro-SP. *
1965 Universal Citrus instala-se em Bebedouro-SP.
1967 Sucocitros Cutrale surge com a compra da Suconasa por José Cutrale.
1967 Companhia Mineira de Conservas passa 50% das ações para o grupo italiano Sanderson.
1967 Universal Citrus finaliza suas atividades.
1968 Frular/Sucolanja é instalada em Limeira-SP.
*Nesses casos há divergência na data indicada pelos autores, adotando aquela de maior incidência.
Fonte: Borges (2004).

No ano de 1964 surgiram duas empresas: a Citrobrasil em Bebedouro e a Citrosuco


em Matão. A primeira empresa já existia, desde 1948, atuando no comércio in natura da
laranja e na importação/exportação de produtos agrícolas. Atuou, também, na produção de
óleo essencial, uma alternativa praticada diante do estrangulamento do mercado externo
por ocasião da II Guerra Mundial e das barreiras fitossanitárias, em razão, principalmente,
do Cancro Cítrico. A outra empresa, a Citrosuco surgiu em 1964, em Matão, com uma
associação de capital de três procedências: alemão (Grupo Eckes), nacional (Grupo Fisher)
e americano (Grupo Pasco Packing). O grupo majoritário era o americano, que deixou a
sociedade em 1967.
Em 1968 foi instalada em Limeira a Frular/Sucolanja S/A, empresa usuária de
tecnologia nacional desenvolvida pelo ITAL7, instituto vinculado à Secretaria de
Agricultura e Abastecimento (SAA) do estado de São Paulo, por solicitação de um grupo
de investidores de Limeira. Em 1970 a empresa foi adquirida pela Avante S/A produtos
Alimentícios e, já em outro momento evolutivo, em 1977, pela Citrosuco Paulista.
Na década de 60 e no início da década de 70 identifica-se a formação do segmento
processador com investimentos de origem nacional e internacional. Esse segmento surge
com grande dinamicidade, e se expande favorecido pelas geadas dos anos de 1962 e 1963,
na Flórida, que prejudicaram a produção americana, estimulando a produção nacional.

3.1.2 - Fusões, aquisições e políticas de preços na expansão da indústria processadora

Os primeiros anos da década de 70 foram de crescimento para o agronegócio


citrícola, com a elevação da produção da laranja, do SLCC e das exportações. Tanto os
pomares quanto as processadoras apresentaram crescimento no período.
Em 1971 se implanta uma nova empresa a Citral S/A – Exportação Indústria e
Comércio, em Limeira, com capital de citricultores associados a uma cooperativa. No ano
de 1973 surge a Sucorrico S/A Ind. e Com. na região de Araras, com capital de origem
nacional, de produtores tradicionais de cana e álcool. Outra empresa que surge nessa
época, no ano de 1972, é a Tropisuco S/A Agroindustrial e Mercantil, em Santo Antônio da
Posse, com capital de origem nacional, vinculado a produtores e comerciantes da
citricultura.
A situação de crescimento do início da década de 70 se alterou entre 1973 e 1974.
Em 1974, com a crise internacional, relacionada ao preço do petróleo, reduziram-se as
exportações e houve aumento do estoque de SLCC. Ao mesmo tempo em que o preço do
SLCC se reduziu, o custo da caixa de laranja apresentou uma tendência de aumento. Essa
situação pressionou o segmento processador que passou a administrar o volume exportado
e, portanto, a aumentar os estoques de suco para não reduzir ainda mais os preços. Nesse

7
Instituto de Tecnologia dos Alimentos.
10
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contexto, a empresa Citrosuco Paulista, adotou a estratégia de dumping, fixando o preço do


seu SLCC, inclusive o estocado, a um valor 30% inferior ao praticado no mercado. Esse
fato provocou a desorganização do mercado, contribuindo para a falência da Sanderson,
em 1974. Cabe lembrar que a Sanderson, empresa de capital italiano, foi constituída em
1970, no município de Bebedouro-SP, a partir da aquisição da Citrobrasil e da Companhia
Mineira. Na ocasião era responsável por 20% da capacidade de processamento de SLCC,
posicionando-se, no ano de 1974, como a terceira maior empresa do segmento de
processamento, quando foi decretada sua falência. Como resultado houve queda de 20%
nas compras de laranja, o equivalente à demanda da Sanderson.
Essa posição da Citrosuco foi punida pelo Governo, que fixou um preço mínimo
para a atuação no mercado internacional e uma quota máxima para a exportação. A
Citrosuco foi proibida de exportar suco até dezembro de 1974, agravando o problema do
agronegócio citrícola, atingindo diretamente os citricultores. Essa situação ocasionou uma
super oferta de laranja, propiciando a atuação praticamente isolada da Cutrale.
Essas condutas – aquisição e política de preços – e os reflexos delas decorrentes
põem em evidência a modificação de estrutura de mercado, em direção a uma maior
concentração, gerando impactos negativos para o agronegócio citrícola em sua totalidade.
Com o intuito de minimizar a crise instalada no agronegócio citrícola, o Governo
do estado de São Paulo assumiu, em 1975, a gestão da empresa Sanderson criando, a partir
dela, a Frutesp. Esta empresa ficou sob responsabilidade do Governo do estado de São
Paulo até 1979, quando foi vendida para a COOPERCITRUS8 (Cooperativa dos
Cafeicultores e Citricultores de São Paulo), resultando numa verticalização para frente.
No segmento processador, além, da falência da Sanderson houve a compra da
Citrobrasil pela Cargill, em 1976. No ano seguinte, a Cutrale e a Citrosuco assumiram a
Sucorrico, a Citral e a Tropisuco, e a Citrosuco comprou a Avante, condutas que
ampliaram a concentração do segmento processador. Isso põe em evidência os resultados
da crise iniciada em 1974 nesse segmento, pois empresas de porte menor foram
prejudicadas por esta crise, por não disporem de recursos financeiros suficientes para
suportá-la.
No Quadro 4 podem ser visualizadas as F&A na indústria processadora de citros, a
partir da década de 60 até os anos iniciais do século XXI.

Quadro 4 – Fusões e aquisições na indústria processadora de citros a partir da década


de 60 – 1967-2004
Ano da Empresa adquirida Empresa adquirente
aquisição
1967 Companhia Mineira de Conservas 50% - Sanderson
1967 Suconasa S/A Família Cutrale
1970 Companhia Mineira de Conservas 100% - Sanderson
1970 Frular / Sucolanja Frigorífico Avante
1976 Citrobrasil Cargill
1977 Avante S/A Produtos Alimentícios Citrosuco
1977 Citral S/A Exportação Indústria e Comércio
1977 Tropisuco Cutrale e Citrosuco (união)
1977 Sucorrico
1979 Frutesp Transferência para a Coopercitrus
1983 Citromogiana Ltda Cutrale
1983 Citrovale S/A 49% - Cutrale

8
A COOPERCITRUS nasceu em 1976, em Bebedouro-SP.
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1984 Bascitrus-Agroindústria S/A 49% - Citrosuco


1985 Branco Peres Citrus S/A 49% - Cutrale
1988 Frutropic Indústria e Comércio Ltda Grupo Louis Dreyfuss
1990 Citrovale S/A 100% - Cutrale
1993 Frutesp Grupo Louis Dreyfuss
1998 Montecitrus Citrovita
1998 Cambuhy Citros Citrovita
1998/1999 Branco Peres Citrus S/A 100% - Cutrale
2004 Cargill Cutrale e Citrosuco
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de Borges (2004).

O parque industrial citrícola continuou crescendo, sustentado basicamente por


capital próprio, tanto nacional como estrangeiro e, como na década anterior, com
intervenção estatal pouco superior à praticada na década de 60. Essa intervenção ocorreu
no sentido de gerar condições favoráveis à atividade citrícola.9
O ano de 1977 é marcado por geada e secas. Uma grande geada nos Estados Unidos
e secas - na Espanha e em Israel - prejudicaram a produção da fruta in natura e a do suco.
O mercado de SLCC foi favorecido com a elevação das cotações do suco, resultando em
uma elevação do preço da caixa da laranja. Essa situação persistiu até a década de 80,
favorecida, em parte, pelas geadas de 1981/82/83, na Flórida-EUA.
Essa situação favorável e a superação da crise interna estimularam novos
investimentos no segmento processador. Em 1977/78, surgiram duas empresas na cidade
de Matão: a Central Citrus e a Frutropic Indústria e Comércio Ltda. Em 1979 surgiram a
Citromogiana Ltda, formada por capital nacional e internacional, a Citrovale S.A., com
capital de um grupo vinculado ao setor sucro-alcooleiro e a Branco Peres Citrus Ltda. A
Cutrale, nesse mesmo ano, iniciou a produção em uma nova instalação em Colina. O
Quadro 5 apresenta a cronologia das processadoras nos anos 70.

Quadro 5: Cronologia das indústrias processadoras de suco de laranja no estado de


São Paulo – Década de 70
1970 Frular/Sucolanja é comprada por Eduardo Rinzler, proprietário do frigorífico Avante, e passa a
chamar-se Avante S/A Produtos Alimentícios.
1970 Sanderson passa a controlar 100% da Companhia Mineira de Conservas, denominando-se
Sanderson S/A Produtos Cítricos.
1970 Cutrale e Citrosuco apresentam uma concentração industrial de 63,15%.
1971 Citral S/A – Exportação Indústria e Comércio – entra em operação em Limeira-SP.
1972 Tropisuco é instalada em Santo Antonio da Posse-SP.
1973 Sucorrico entra em operação em Araras-SP. *
1974 Falência da Sanderson.
1975 Sanderson volta a operar sob gestão estatal do governo do estado de São Paulo, e passa a ser
denominada Frutesp.
1975 Cutrale e Citrosuco apresentam uma concentração industrial de 51,50%.
1976 Cargill compra a Citrobrasil, empresa instalada em 1964.
1977 Avante é adquirida pela Citrosuco Paulista.
1977 Cutrale e Citrosuco se unem para adquirir pequenas empresas com problemas financeiros:
Citral, Tropisuco e Sucorrico.

9
Conforme relata Siffert Filho (1992), principalmente na década de 70, as indústrias desfrutaram de
incentivos fiscais e creditícios, tanto para a exportação como para o replantio. Lifschitz (1993), por outro
lado, informa que o Governo interveio por meio da CACEX para fixar: um preço mínimo para a exportação;
um teto do volume exportado; um preço mínimo da caixa da laranja. E também para: promover a estocagem;
eliminar incentivos fiscais; restituir o IPI (Imposto sobre produtos industrializados) e o ICM (Imposto sobre
circulação de mercadorias).
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1977 Central Citrus é implantada em Matão-SP. *


1978 Frutropic Indústria e Comércio Ltda é fundada em Matão-SP.
1978 Antartica passa a processar suco para atender sua produção com refrigerante.
1979 Frutesp é transferida para cooperativa COOPERCITRUS (negociação de 1976 a 1979).
1979 Branco Peres Citrus S/A começa a operar em Itápolis-SP. *
1979 Sucocítrico Cutrale começa a operar uma nova fábrica em Colina.
1979 Citromogiana Ltda inicia processamento em Conchal-SP. *
1979 Citrovale S/A surge no município de Olímpia-SP.*
* Nesses casos há divergência na data indicada pelos autores, adotando aquela de maior incidência.
Fonte: Borges (2004).

A segunda metade da década de 70 é marcada por um conjunto de condutas – F&A,


estabelecimento de parcerias, expansão da capacidade e novas entrantes, caracterizando a
dinamicidade10 da indústria processadora de citros presente no estado de São Paulo.
As estratégias de F&A praticadas pela indústria processadora citrícola se estendem
ao segmento produtor citrícola. Assim sendo, a verticalização para frente do segmento
produtor de citros passa a ocorrer por meio de F&A e também pela implantação de novas
unidades.
Segundo Azevedo (1996), a aquisição da Sanderson ocasionou uma modificação na
relação entre o segmento processador e o produtor citrícola, pois este último passou a ter
mais informação sobre o mercado, amenizando as assimetrias, ou seja, beneficiando todos
os citricultores e não apenas os cooperados. Essa conduta aumentou o poder de barganha
dos produtores de forma geral, no momento da negociação. No Quadro 6 podem ser
observados os vários momentos em que houve a tentativa dos produtores citrícolas de
realizarem a verticalização para frente.

Quadro 6– F&A e instalação – diversificação de empresas vinculadas à citricultura


Ano Empresa Aquisição / Instalação Agente
Aquisição da Suconasa Produtor e comerciante de
1967 Sucocitros Cutrale
(falência) laranja in natura – José Cutrale
Citral S/A – Exportação Sociedade de citricultores (160
1971 Instalação
Indústria e Comércio produtores)
Produtores e comerciantes de
1972 Tropisuco Instalação
cítricos
1979 Frutesp Aquisição Coopercitrus
1980 Citrovale S/A Instalação Sociedade de citricultores
1983 Tabacitrus Instalação Grupo de citriultores
Produtores de laranja vinculados
1995 Frutax Instalação
à Montecitrus
1997 Frucamp Instalação Grupo de citricultores
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de Borges (2004).

Na década de 70 observou-se a disputa da Cutrale e da Citrosuco, na busca da


posição de maior empresa produtora. Por outro lado, houve ações unificadas para evitar o
crescimento e a entrada de novas empresas. Essa postura das empresas de maior porte
acabou prejudicando as de menor porte. Essa estratégia não se restringiu exclusivamente à

10
A dinamicidade desse segmento, para Paulillo (2000), decorreu, ainda de incentivos do Estado no âmbito
financeiro para instalação e ampliação das plantas das processadoras, além de contar com estímulos fiscais à
exportação.
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década de 70, o que pode ser observado pelo elevado número de empresas que fecham ou
são adquiridas pelas de maior porte.
Com o surgimento de empresas de maior porte, como Cargill e Frutesp, a Cutrale e
a Citrosuco modificaram a estratégia de concorrência, deixando de atuar pelo preço e pela
disputa de mercado, pois as novas empresas também apresentavam recursos para essa
forma de concorrência. O objetivo maior das empresas processadoras, estimuladas por
proposta da Cutrale, passou a ser o mercado internacional, evitando-se, assim, a
concorrência destrutiva.
Há quase um consenso entre os agentes vinculados ao agronegócio citrícola quanto
ao poder da empresa Cutrale em coordenar e organizar, explícita ou implicitamente, o
segmento processador. Destacam eles, também, uma proximidade entre Cutrale e
Citrosuco, desde a década de 70. É identificada, pelos agentes, postura de “alerta” das
demais empresas diante dessas duas, pelo poder que elas têm no mercado. Mesmo que as
empresas apresentem uma capacidade de produção considerável.

3.1.3 - Fusões e Aquisições na expansão e consolidação do agronegócio citrícola nos


anos 80

A citricultura na década de 80, mesmo não apresentando o crescimento da década


de 70, comportou-se diversamente da situação econômica do país, com uma atividade
crescente, demonstrando sua dinâmica, presente tanto no segmento produtor quanto no
processador. Esse período é marcado pela forte presença de F&A, sob o comando direto da
Cutrale e da Citrosuco.
A década de 80 se iniciou sem problemas para o agronegócio citrícola. O
crescimento, nessa década, foi favorecido pelas geadas sofridas na Flórida (USA), nos anos
de 1981 a 1983, 1985 e, mais tarde, em 1989, possibilitando uma situação de quase
monopólio para a citricultura brasileira no comércio internacional de SLCC. As geadas
americanas prejudicaram a produção interna dos Estados Unidos, ocasionando um hiato
entre demanda e oferta, abrindo espaço para a elevação da produção e a ampliação da
exportação brasileira de suco.
A dinamicidade e os investimentos no segmento processador continuaram na
década de 80, como pode ser observado no Quadro 4 e no 7. Em 1983 foi constituída a
Bascitrus Agroindústria S/A., em Mirassol, com capital proveniente do comércio atacadista
de frutas, que, no entanto, somente iniciou a produção em 1984. Nesse mesmo ano, a
Citropectina S/A. voltou a funcionar, em Limeira, e a Cargill instalou uma nova unidade
fabril em Uchoa. Em 1989, surgiu uma nova empresa em Taquaritinga, a Royal Citrus,
com capital nacional e mexicano.

Quadro 7: Cronologia das indústrias processadoras de suco de laranja no estado de


São Paulo – Década de 80
1980 Cutrale e Citrosuco apresentam uma concentração industrial de 59,96%.
1983 Citromogiana se associa à Citrovale.
1983 Citromogiana é comprada pela Cutrale.
1983 Citrovale vende 49% de suas ações para a Cutrale.
1983 Montecitrus surge no município de Monte Azul Paulista-SP.
1983 Bascitrus-Agroindústria S/A é fundada em Mirassol-SP.
1983 Tabacitrus começa a operar, em agosto deste ano.
1983 Tabacitrus deixa de funcionar em meados de novembro deste ano.
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1984 Bascitrus começa a operar e a Citrosuco adquire 49% das ações da empresa.
1984 Cargill começa a operar em nova unidade em Uchoa-SP.
1984 Citropectina, fundada em 1954, para de produzir pectina em Limeira-SP, começa a produzir
suco de laranja.*
1985 Branco Peres Citrus S/A tem 49% das ações sob o controle da empresa Cutrale.
1985 Cutrale e Citrosuco apresentam uma concentração industrial de 63,17%.
1986 Frutropic entra em concordata preventiva.
1988 Frutropic é comprada pelo grupo francês Louis Dreyfus
1989 Royal Citrus é instalada em Taquaritinga-SP.*
* Nesses casos há divergência na data indicada pelos autores, adotando aquela de maior incidência.
Fonte: Borges (2004).

O segmento processador apresentou outras mudanças como inovações tecnológicas


na produção e no transporte, resultando em investimentos no transporte e em terminais no
mercado nacional e internacional. Essas mudanças não foram adotadas por todas as
empresas do segmento, por exigirem um grande montante de investimentos, o que ampliou
a diferença no porte das empresas e na sua capacidade de ação no mercado. Dessa forma, o
grau de concentração no segmento e o poder de barganha de algumas empresas se elevou,
com reflexos sobre as empresas menores. Essa constituiu uma das estratégias que levaram
à ampliação das diferenças entre as empresas criando, de certa forma, barreiras à entrada e
até mesmo condições para a aquisição ou expulsão de empresas de porte menor. Nesse
sentido, estratégias nos moldes da elevação da “produção própria” (produção de laranja nas
propriedades agrícolas das processadoras) e a manutenção de estoque de suco de laranja
concentrado congelado fragilizam produtores e processadoras de menor porte.
Outro fator que contribuiu para a concentração do segmento processador foram as
mudanças de controle acionário e as associações entre as empresas. Em 1983 a
Citromogiana e a Citrovale se associam; nesse mesmo ano, a Cutrale adquiriu 100% da
primeira empresa e 49% das ações da segunda. A Bascitrus, instalada em 1983, começou a
operar em 1984 e teve 49% de suas ações compradas pela Citrosuco. Em 1985 a Cutrale
comprou 49% das ações da Branco Peres Citrus S/A. Em 1988 a Frutropic foi comprada
por um grande grupo francês, o Louis Dreyfus.
Observa-se, claramente, que a Cutrale e a Citrosuco ampliaram seu poder de
atuação no segmento, o que elevou a sua capacidade de compra de matéria-prima e venda
de SLCC. Além dessas duas empresas havia dois grandes grupos internacionais atuando no
segmento: a Cargill, terceira do segmento em 1989 e que passou à quarta posição na
década de 90; e o Grupo Dreyfus que assumiu a posição de terceiro produtor na década de
90, ambos com alta capacidade de investimento.
Segundo Siffert Filho (1992), em 1988 a Citrosuco, a Cutrale, a Cargill e a Frutesp
eram responsáveis por 84% da capacidade industrial e 71% das exportações nacionais de
SLCC. Segundo esse autor a concentração do segmento era superior no início da década de
80, mas o aumento da participação das empresas de menor porte contribuiu para uma
desconcentração. Isso pode ser exemplificado com o aumento da participação das menores
nas exportações de 11% para 24%.
No segmento de processamento, esse panorama favorável, na década de 80,
ocasionou uma euforia para grupos externos e internos, a essa atividade, que, assim,

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investiram no processamento de suco e na expansão dos pomares. Essas mudanças


acirraram a concorrência no segmento processador e na citricultura na década de 90.

3.2 - Estrutura e dinâmica do segmento processador e do produtor citrícola a partir


da década de 90

A ampliação da capacidade de produção nacional – citrícola e processadora – e


internacional, com a entrada de novos produtores, explicam o acirramento da concorrência
na indústria processadora e na citricultura, na década de 90.
Elevou-se o grau de concentração do segmento e o poder de barganha de algumas
empresas foi ampliado, por meio de mudanças de controle acionário e do estabelecimento
de associações entre as empresas, com reflexos diretos sobre as menores, presentes,
sobretudo, no segmento produtor, mas também no processador.11
Segundo Siffert Filho (1992) e Garcia (1993), o segmento processador manteve,
na década de 90, a dinâmica apresentada nas décadas anteriores, com empresas de outros
setores investindo na citricultura, tais como: o Grupo Votorantim com a empresa Citrovita
e o Grupo Moreira Salles, por meio da Cambuhy Citrus. Vale destacar que, desde a
implantação da indústria processadora, grandes grupos têm ingressado nessa atividade, ou
pela instalação de nova unidade ou pela F&A, como pode ser verificado no Quadro 8.

11
Nessa década, além das quatro maiores: Citrosuco, Cutrale, Cargill e Frutesp, havia em torno de outras 15
pequenas processadoras, grande parte das quais, porém, funcionando em parceria com as maiores.
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Quadro 8 – F&A e instalação de processadoras por investimento de empresas externas ao


agronegócio citrícola
Empresa -
Aquisição ou
Ano adquirida ou Empresa
instalação
instalada
1963 Suconasa S/A Toddy do Brasil Instalação
Grupo Eckes (alemão) e Grupo Pasco Packing
(americano) – processador, distribuidor e
1964 Citrosuco Instalação
comerciante de suco de frutas - e Grupo Fisher
(nacional) – exportadors da laranja in natura.
Comerciante de laranja in natura e exportadora
1965 Citrobrasil Instalação
e importadora de produtos agrícolas
Moinho Universal de Sumaré (Grupo Chinês) e
1967 Universal Citrus S/A Instalação
Frigorífico Anglo (inglês)
1968 Frular/Sucolanja Investidores de Limeira Instalação
1967 Companhia Mineira 49% - aquisição
Grupo italiano Sanderson
1970 de Conservas 100% - aquisição
1970 Frular/Sucolanja Frigorífico Avante Aquisição
Grupo de Ribeirão Preto (Investidores de terra e
1973 Sucorrico Instalação
produtores de cana e álcool)
1976 Citrobrasil Cargill Aquisição
1977 Central Citris Comercial de Frutas Matão Ltda Instalação
Coca-cola e Toddy (americanas) e Fazenda Sete
1979 Citromogiana Instalação
Lagoas (Grupo belga Leon Van Parys S/A)
1988 Frutropic Grupo Francês Louis Dreyfuss Aquisição
1989 Royal Citrus Grupo nacional e mexicano Instalação
1991 Citrovita Grupo Votorantim Instalação
1992 Cambuhy Citros Grupo Moreira Salles Instalação
1993 Frutesp Grupo Francês Louis Dreyfuss Aquisição
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de Borges (2004).

O grupo francês Louis Dreyfus ampliou sua atuação no agronegócio citrícola


nacional comprando a empresa Frutesp de Matão, em 1993. Na mesma cidade, a empresa
Central Citrus foi fechada no ano de 1996. Um conjunto de mudanças nos anos 1998 e
1999 marcaram as transformações no segmento processador. (Quadros 4 e 9). Dentre elas
podem ser apontadas: a aquisição da Cambuhy Citrus e da Montecitrus pela Citrovita e a
interrupção da atividade da Kiki Citrus e da Royal Citrus. Vale destacar que a Kiki Citrus
apresentou problemas financeiros nos anos de 1997 e 1998, quando vendeu a produção de
laranja para a Cutrale, retomando, porém o processamento em 1999. Cabem ainda
referências às ações: da Cutrale, que assumiu a administração da Branco Peres; e da CTM
Citrus, ex-Citropectina, que paralisou sua atividade de processamento apesar de ainda
manter o comércio e a exportação de suco de laranja12.
Na década de 90 registrou-se a tentativa de atuação dos produtores citrícolas no
processamento e na exportação de SLCC (Vide Quadro 6). Foi o caso da Frutax, por meio
da construção de uma fábrica, em Monte Azul Paulista, em 1995; da Montecitrus, que
locou, segundo Azevedo (1996), a capacidade ociosa da Cargill; e da Frucamp que
começou a processar suco de laranja, em Catanduva, em 1997.

12
Outras informações sobre mudanças no segmento processador encontram-se em Pinazza e Alimandro
(1999).

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Quadro 9: Cronologia das indústrias processadoras de suco de laranja no estado de São


Paulo a partir da década de 90
1990 Citrovale passa a ser 100% da Cutrale.
1990 Cutrale e Citrosuco apresentam uma concentração industrial de 61,53%.
1991 Citrovita é instalada em Catanduva-SP pelo Grupo Votorantim. Há também uma unidade em
Itapeninga.*
1992 Cambuhy Citros entra em operação em Matão-SP, vinculada ao grupo Moreira Salles.*
1993 Frutesp é vendida ao grupo francês Louis Dreyfus (Coinbra-Frutesp).
1993 Cambuhy Citrus firma uma joint venture com a Montecitrus para a construção de uma fábrica.
1993 Citropectina muda de razão social, denominando-se CTM-Citrus.
1994 Citrol Bartol é implantada em Bebedouro-SP.
1994 Lins Citrus é implantada em Lins-SP.
1995 Frutax começa a operar em Monte Azul Paulista-SP.
1995 Cutrale e Citrosuco apresentam uma concentração industrial de 50,52%.
1995 Kiki Citrus começa a operar em sua unidade produtiva em Engenheiro Coelho-SP.
1996 Sucorrico implanta nova unidade em Araras-SP.
1996 Central Citrus é fechada em Matão-SP.
1997 Frucamp é instalada em Catanduva-SP
1997 Frutax finaliza suas operações.
1998 Frucamp é fechada.
1998 CTM-Citrus paralisa o processamento, mas mantém as atividades de exportação.
1998 Cambuhy Citrus e Montecitrus são adquiridas pela Citrovita.
1998/99 Cutrale assume a administração da Branco Peres.
2000 Cutrale e Citrosuco apresentam uma concentração industrial de 42,6%.
2001 Royal Citrus teve suas atividades paralisadas oficialmente, segundo informações da Prefeitura
de Taquaritinga a partir de 2001.
2004 Cargill Juice é comprada pela Cutrale e Citrosuco. As duas empresas concentram, agora, cerca
de 70% do mercado processador brasileiro.
* Nesses casos há divergência na data indicada pelos autores, adotando aquela de maior incidência.
Fonte: Borges (2004).

No decorrer da década de 90 mantém-se a concentração no segmento processador.


Segundo Neves e Marino (2002), de 1998 para 2001, houve redução do número de
empresas que exportavam SLCC de oito para cinco empresas. Em 1998, a Cutrale e a
Citrosuco detinham 49,1% da capacidade de produção do segmento processador e, em
2001, 70,2%. Ao acrescentar as empresas Coinbra-Frutesp e Cargill, aos dados anteriores,
observa-se um aumento na concentração de 1998 para 2001 de 66,1% para 90,2%.
A estrutura do mercado das processadoras sofreu nova alteração em 2004, com a
aquisição da Cargill Juice, no Brasil, pela Citrosuco e pela Cutrale. Nessa compra foram
negociadas as duas unidades fabris – de Bebedouro e de Uchoa – as fazendas e o terminal
de estocagem de Limeira.
Fica caracterizada a estrutura oligopolizada desse segmento, que apresenta
significativas “barreiras à entrada”, diferenciais de custo, devidos à economia de escala, e
uma capacidade financeira que viabiliza algumas das empresas a resistirem à concorrência
via preço. A concorrência via preço, tanto na compra da matéria-prima como na venda do
SLCC, é uma estratégia que pode apresentar efeitos negativos para as empresas. Para as de
maior porte essa estratégia pode resultar em uma concorrência direta e destrutiva para elas,
já que todas apresentam capacidade de resposta. No caso das empresas de porte menor essa
estratégia pode resultar na expulsão delas do mercado ou em sua aquisição, dada sua baixa
capacidade financeira.
Ao mesmo tempo em que internamente se observou um conjunto de mudanças no
agronegócio citrícola nacional, nas décadas de 70, 80 e 90, nos anos 90 no mercado
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internacional identificaram-se mudanças com o acirramento da concorrência pela entrada


de novos países produtores e pela retomada da produção dos EUA.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de evolução do agronegócio citrícola se deu no decorrer de
transformações que marcaram a economia brasileira, as relações comerciais com o
exterior, o setor agroindustrial, de um modo geral, passando por mudanças tecnológicas e
administrativas e por reestruturações de diversas ordens. Assim sendo, teve seus
“momentos” definidos por essas transformações simultâneas.
O agronegócio citrícola brasileiro desenvolveu-se influenciado, fundamentalmente,
pela demanda externa crescente de SLCC, recebendo menor impacto das transformações
econômicas do país. De fato, constituiu uma atividade que, desde a sua origem, teve sua
estrutura voltada, prioritariamente, para o mercado internacional, desenvolvendo-se a partir
da lógica deste e dinamizada pelo comércio externo.
Essa dependência ao mercado externo viabilizou às empresas processadoras e ao
agronegócio citrícola, como um todo, um desenvolvimento favorecido por esse mercado,
no período que se estende da década de 60 até fins da década de 80. Após esse período
mudanças tecnológicas na produção citrícola americana contribuíram para a redução das
perdas decorrentes de geadas, garantindo maior estabilidade para os Estados Unidos.
A competitividade do agronegócio citrícola pode ser explicada pela visão sistêmica
já que é influenciada por fatores das mais diversas abrangências. As grandes empresas
processadoras se mostraram, desde o início de sua instalação, dinâmicas e adaptativas às
diversas mudanças do ambiente interno e externo. Adotaram estratégias de diversas ordens
– F&A, parcerias, políticas de preços, verticalização, expansão da capacidade – que
levaram à concentração.
No que diz respeito à estratégia de diversificação, em vários momentos observa-se
que houve a diversificação vertical para frente dos produtores citrícolas e em outros a
diversificação ocorreu por conta de empresas com atividades próximas ou totalmente
distintas. Essa diversificação deveu-se tanto à instalação de nova unidade quanto pela
aquisição de empresas, em geral de menor porte.
A expansão da capacidade foi uma estratégia adotada pelas empresas ao instalarem
uma nova unidade produtiva ou ao adquirirem unidades produtivas existentes, o que
resultou em maior poder de mercado para as empresas executoras dessa estratégia.
Para a efetivação da conduta de aquisição foi utilizada, como meio, outra estratégia:
a parceria (união). Essa ação foi praticada principalmente pelas empresas de maior porte,
como a Citrosuco e a Cutrale, quando efetivavam a aquisição de outras empresas, em
conjunto.
Essas diversas estratégias conjugadas com as de política de preços tendem a
modificar a estrutura e o desempenho de mercado das empresas. São estratégias que, por
um lado, aumentam a concentração e o poder de mercado e, por outro, alteram a
lucratividade e o custo da empresa, a qualidade do produto e a competitividade da indústria
e, consequentemente, do agronegócio citrícola como um todo.
A competitividade do agronegócio citrícola e, especificamente, do segmento
processador esteve sempre marcada pela lógica capitalista “voraz”, onde as empresas
processadoras agem no mercado de forma “dura” e exploradora, mesmo que isso resulte
em conseqüências negativas para as condições sociais e para o meio ambiente, num
“círculo vicioso” que poderá gerar efeitos negativos para elas próprias, dificultando o
desenvolvimento socioeconômico e ambiental sustentável. A sua lógica “voraz e dura”
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pode ser exemplificada pela grande quantidade de F&A que ocorreram desde a instalação
da indústria processadora, o que resultou em uma concentração maior dessa indústria que
foi corroborada pelas várias empresas que simplesmente “encerraram suas portas” nesse
período, devido à oscilação do mercado, à insuficiência de capital, pela dificuldade em
acompanhar as mudanças tecnológicas ou pela ação direta das concorrentes.
É importante considerar que o processo de F&A no agronegócio citrícola ocorre
desde a década de 60, com o surgimento da indústria processadora. Ela não acompanha a
dinâmica nacional, mas sim a dinâmica externa, talvez seja essa a razão pela qual as F&A
se apresentaram em tantas fases ao longo da história dessa indústria.
No Brasil as F&A ganham destaque a partir da década de 90, pois é a partir desse
momento que a indústria brasileira de forma geral passa realmente a se integrar à dinâmica
do mercado externo, o que já acontecia com a indústria processadora de SLCC desde a
década de 60, que acompanhava e era influenciada pelos momentos de alta e baixa do
mercado externo.
O período de maior intensidade de F&A no segmento processador citrícola,
formando a principal “onda” de F&A, ocorre a partir de meados da década de 70 até,
aproximadamente, meados da década de 80. Essa “onda” se materializa pouco articulada à
dinâmica da economia brasileira e relacionada diretamente ao movimento do próprio
agronegócio citrícola, nacional e internacional. Inicia-se, em parte, como resultado da
conduta agressiva de política de preços adotada no início da década de 70 e se mantém
com o crescimento persistente do mercado externo de SLCC. No entanto, vale destacar que
as ações de F&A na indústria de processamento de citros marcam todo o processo
evolutivo desta indústria, resultando em períodos de maior concentração no mercado. Essa
situação, em determinados períodos foi minimizada pela entrada de novas empresas. No
último período – a partir dos anos 90 – o mercado que se apresentava distribuído entre
poucas empresas, de grande porte, tem a sua estrutura modificada com o aumento da
concentração, decorrente da aquisição da Cargill pela Citrosuco e pela Cutrale. E,
diferentemente dos períodos anteriores, a tendência de concentração do mercado
permanece.

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