Resumo
O presente trabalho surge a partir de uma atividade de campo da disciplina Fundamentos da Educação
de Jovens e Adultos do Mestrado em Educação Brasileira do Centro de Educação da Universidade
Federal de Alagoas. A referida atividade teve como objetivo a caracterização dos sujeitos da Educação
de Jovens e Adultos. Para tal, foi realizada uma entrevista semi-estruturada com jovens, adultos e/ou
idosos que estivessem em processo de alfabetização, escolarização ou fora dele.
Primeiras palavras
1. Um olhar na História
Desde que se discute EJA no Brasil é recorrente o discurso de que ela deve atender
aquelas pessoas que historicamente tiveram negado o acesso à escolarização. Nesse sentido,
muito se tem falado na oferta de educação para pessoas jovens e adultas, entretanto, por mais
que se venha investindo em programas para a área, os índices (%) de analfabetismo entre as
pessoas com 15 anos ou mais apontam para a necessidade da ampliação desse atendimento.
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Pedagoga, especialista em Educação de Jovens e Adultos. Técnica pedagógica do Departamento de Educação
de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação de Maceió/AL.
Acreditamos que isso se deve ao fato da Educação de Jovens e Adultos no Brasil ter
sempre sido tratada com ações paliativas e compensatórias buscadas através de campanhas,
programas e projetos. Nessa perspectiva, Haddad (1998), destaca que o que vem acontecendo
com a Educação de Jovens e Adultos no Brasil, é a transformação de direitos sociais em
políticas compensatórias da filantropia e do mercado, porém enfatiza que essas ações não
podem ser substitutas da ação do Estado, mas complementares.
Foram diversas campanhas tendo um maior destaque o Movimento Brasileiro de
Alfabetização – MOBRAL que funcionou do período da ditadura militar até final dos anos 80
quando foi substituído pela Fundação Educar extinta pelo governo do então presidente
Fernando Collor; a esta cabia financiar ações voltadas para a área de educação de adultos.
Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, entra em cena a Programa Alfabetização
Solidária que tinha como princípio básico o sistema de parceria público-privado; foram
diversas veiculadas diversas propagandas onde se convidava a população a adotar um aluno.
Quando o presidente Lula assume a Presidência da República entra em cena mais um
programa: Programa Brasil Alfabetizado que surgem como a mesma proposta dos demais,
reduzir os altos índices de analfabetismo entre a população jovem, adulta e idosa.
A negação dos direitos sociais é algo que é muito presente da História do Brasil.
Durante muito tempo, o direito à educação formal assegurado pelo Estado limitou-se às
crianças de 7 a 14 anos.
Com a promulgação da Constituição de 1988 representa um marco importante no
campo da Educação, sobretudo na Educação de Jovens e Adultos inicia-se desde então de
acordo com o legitimado no artigo 208:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;2
...
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
...
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
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Esse texto teve sua redação modificada com a Emenda Constitucional 14/96. A nova redação ficou assim: O
dever do estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I. ensino fundamental obrigatório e
gratuito, assegurado, inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria.
A partir de então, os jovens, adultos e idosos que frequentaram a escola e que por
alguma razão precisaram abandoná-la ou ainda que nunca a tenham freqüentado tiveram seu
acesso assegurado por lei. No entanto, apesar de tantos programas e campanhas que foram e
continuam sendo realizadas ao longo dessas quase três décadas pós Constituição esse acesso
ainda não vem sendo assegurado como proposto o que pode ser constatado, na fala do
entrevistado ao referi-se ao seu processo de exclusão social devido a falta de escolarização:
inclusive eu na V23, eu fui rejeitado porque eu não sube escrever bem, foi
essa a minha, mode essa minha iniciativa deu agora eu entrar porque eu já
era da construção civil, mas era só entrar pela janela, tchun, tchun, tchun.
Agora tem que entrar através de escrita, através de uma fichinha, uma
coisinhas, saber ler direitinho, escrever direitinho, isso ai eu não sabia.
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Empresa da Construção Civil.
II. no nível de conclusão de ensino médio, para os maiores de dezoito
anos.
§ 2º. Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios
informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.
Vale destacar que embora ainda apareça no texto à expressão supletivo, ela não tem o
mesmo sentido que o utilizado na Lei 5.692/71: reposição de escolaridade.
A Declaração de Jomtiem sobre a Educação para Todos nos lembra que:
a educação é um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas
as idades, no mundo inteiro; cada pessoa – criança, jovem ou adulto – deve
estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para
satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem.
O Brasil como signatário da referida declaração ainda está distante de garantir esse
direito fundamental de todos. Entra governo, sai governo e não conseguimos perceber
avanços significativos no tocante a oferta de educação para as pessoas jovens, adultas e
idosas. Elaboram-se documentos para viabilizar essa oferta; documentos estes que
reconhecem a EJA como dívida social e apontam caminhos que podem ser trilhados rumo a
modificação desse triste quadro social. Dentre tantos, podemos citar as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos foram
instituídas em julho de 2000. No Parecer que as fundamenta
(...) a educação de jovens e adultos (EJA) representa uma dívida social não
reparada para com os que não tiveram acesso a e nem domínio da escrita e
leitura como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido a força de
trabalho empregada na constituição de riquezas e na elevação de obras
públicas. Ser privado desse acesso é, de fato, a perda de um instrumento
imprescindível para uma presença significativa na convivência social
contemporânea. (Soares, 2002: 32)
Conforme afirma Andrade, “... os sujeitos da EJA são tratados como uma massa de
alunos, sem identidade, qualificados sob diferentes nomes, relacionados diretamente ao
chamado ‘fracasso escolar’.” O senhor Francisco apesar de jamais ter freqüentado a escola
como ele mesmo fala:
primeiro por falta de compreensão dos meus pais que nunca me colocaram
na escola né, que eu era como se diz, mandado pelos pais, segundo com
medo de levar uma pamatorada que eu tinha um medo arretado da palmatóra
né, que na época era na base de palmatóra, eu tinha, tinha medo, os pais
também nunca me botaram pressão (...)
Como podemos perceber, ele reconhece a importância da escola.
Apesar de sua fala não demonstrar que entre os motivos do seu não acesso a escola
esteve a necessidade de, desde cedo, ajudar aos pais no trabalho do dia-a-dia, sabemos que
com certeza essa foi uma das razões. Para ele, a escola tinha uma imagem negativa “eu tinha
um medo arretado da palmatóra”, certamente esse medo o levou a não se encantar com a
escola, uma escola que castiga não deve ter nada de bom, melhor ficar em casa, a leitura a
época não lhe fazia falta. Hoje nossas escolas continuam amedrontando, quantos daqueles que
hoje são alunos da Educação de Jovens e Adultos foram “expulsos”, pois a mesma não dava
resposta ao que buscavam.
Os documentos internacionais reconhecem cada vez mais a necessidade de se ter
uma educação ao longo da vida (V CONFINTEA, VI CONFINTEA, Declaração Universal
dos Direitos Humanos), é inconcebível que em pleno século XXI ainda acreditamos que
exista idade certa/apropriada para aprender. Nesse sentido:
Considerações Finais
________. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística. Rio de Janeiro, 2009. (Série estudos & pesquisas, informação demográfica e
socioeconômica, n.26)
________. Pedagogia do Oprimido. 32ª Ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
SOARES, Leoncio José Gomes. Educação de Jovens e Adultos. – Rio de Janeiro: DP&A,
2002. – (Diretrizes curriculares nacionais).