Aluno: 311608019
Semestre Inverno
Ano terceiro
2010/2011
Sexual Morality in the Catholic Tradition. In SALZMAN, T; LAWLER,M – The Sexual
Person. Washington: Georgetown University Press, 2008, p. 6-47
Estamos perante uma obra que na sua totalidade é composta por oito capítulos, onde de
uma forma significativa o(s) autor(s) contribui num genuíno e respeitoso diálogo e,
sempre na procura da verdade e do significado da sexualidade na tradição Católica de
hoje. A obra principia numa abordagem histórica, seguindo-se dois longos capítulos
onde se analisa e critica a abordagem da nova teoria da lei natural e a tendência
revisionista para a moralidade e sexualidade, sucedendo-se um sentir do autor sobre
antropologia e os princípios para fazer juízos sobre a moralidade dos actos sexuais, nos
capítulos subsequentes, o(s) autor(s) articula a sua sensibilidade antropológica com os
princípios de julgar os actos sexuais a casos específicos (coabitação, sexualidade pré-
conjugal, homossexualidade e tecnologias artificiais reprodutivas). Sendo notório ao
longo da obra, que o(s) autor(s) não sofre de isolamento neste juízo um pouco ambíguo
na tradição católica, confessando ainda, não se tratar de uma excepção à regra.
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sensibilidade, uma forte tendência utilitarista à boa maneira Americana do relatório de
Kinsey (comportamento da maioria torna-se norma moral).
Para tal, o(s) autor(s) usa expressões, onde claramente ressaltam palavras fortes e
apelativas para o homem em termos de moral sexual na tradição católica: “relação
erótica”, “divórcio”,“aborto”, “casamento”, actividade homossexual”, “procriação”,
“conjugal”, “pecaminoso”, poligamia”, “sincretismo”, “reciprocidade”, “mito”,
“proibido”, “estóicos”, “ascéticos”, etc. Evitando fazer um resumo sistemático do
capítulo, será importante reflectir como, o autor é capaz de deambular a problemática
subjacente ao nível da ética sexual inserida na Bioética Teológica, quando se agudizam
e vacilam as certezas que constituem o quadro de referência e orientação, num mundo
em pleno processo de secularização; numa impotência de dominar a história pela
velocidade com que segue; num fluxo de informação desenfreado; num culto
exacerbado da liberdade e uma autêntica frustração existencial.
De uma forma breve, o capítulo inicia a história pré-cristã que ajudou a formar o
entendimento ocidental de sexualidade humana, actividade sexual e ética sexual, depois,
e mais prolongadamente, até porque é tema central da obra, considera o entendimento
da história católico desta problemática.
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Antes de embarcar nesta sinopse histórica, o(s) autor(s), diz-nos algumas palavras sobre
o conceito de historicidade, tornando claro e fazendo suas as palavras de Bernard
Lonergan, que fala sobre a historicidade afirmando que são “as premissas teóricas por
onde segue a história do pensamento e acção humana” , ou seja, primeiro, surgem
conceitos fruto do entendimento humano; segundo, o entendimento humano
desenvolve-se e muda ao longo do tempo; terceiro, este movimento é cumulativo;
quarto, estas mudanças cumulativas num tempo e num espaço não são esperadas que
coincidam noutro. Destas premissas se conclui que o mundo e o homem estão sempre
em permanente mudança e evolução, e tudo o que se entendera “atrás”, “já fora ali,
agora é real”. Com esta abordagem inicial, fica lapidado que, fazer qualquer juízo moral
hoje, de acordo com os que vivem no passado e não conhecem a realidade actual, nem
total, cai-se num modo classicista, estático, permanente de julgar as coisas, ao contrário
do modo empírico, que é dinâmico. Qualquer tentativa de fazer Teologia numa ética
sexual, terá sempre que analisar as normas passadas vindas do Magistério de modo
passivo e não crítico, mas com introspecções parciais que são a base para uma tensão
crítica de entendimento, avaliação, juízo e decisões na presente situação sócio –
histórica.
Fazendo uma apreciação sobre a sinopse histórica que o capítulo nos apresenta, iremos
apenas abordar pontos essenciais e consequentes que o(s) autor(s) nos guia desde a
Grécia antiga até à nossa contemporaneidade, no modo de entender a moralidade da
sexual na tradição católica.
Primeiro, mostrou que na Grécia antiga e Roma, apesar de serem sociedades dominadas
por homens, onde a actividade sexual tinha um carácter patriarcal, colocando fortes
entraves à sexualidade feminina; não deixava de ser geralmente aceite como parte
natural da vida, apesar do dualismo grego do corpo e da alma, Aristóteles e Platão,
consideravam haver valores mais elevados na vida, como a beleza, a verdade e o bem.
Mas, a grande influência na abordagem cristã da sexualidade, foram os Estóicos,
embora sofram da influência dualista grega, entre valores mais elevados uns do que
outros, a sexualidade não faz parte deste quadro, ou seja, desejo e actividade sexual são
irracionais e susceptíveis de excesso, só ordenando-os somente numa atmosfera de
procriação, se torna moralmente aceitável. O silêncio como regra no que respeita ao
sexo e, a conjugalidade do casal autêntico e a sua procriação estabelecem a lei. Os
filósofos Estóicos “conjugalizaram” e “procriaram” as relações sexuais.
Aceitar a Bíblia como fonte para juízos morais sobre moralidade sexual, requer o filtro
sócio – histórico, como afirma o documento de 1994 da Comissão Bíblica Pontíficia – A
interpretação da Bíblia na Igreja:
Durante o longo período dos padres da Igreja, é patente uma reflexão em torno da
relacionalidade e procriação da actividade sexual em torno do ensinamento de Génesis,
embora, permaneça um juízo que a sexualidade e actividade sexual são boas, porque
criadas por um Deus bom, mas sempre, ameaçadas pelo prazer, pela concupiscência,
pelo eros, gerado pelo pecado. É com S. Agostinho um neoplatónico, que atingimos o
conhecimento profundo e sistemático em moralidade sexual e casamento
(frequentemente chamado o doutor do casamento cristão), onde a fidelidade mútua dos
cônjuges, a procriação de filhos e indissolubilidade, são pontos-chave, num discurso em
que o casamento como em qualquer outro bem, pode ser usado de forma pecaminosa,
mas não invalida de atestar, de que o seu uso desordenado é perverso e não o casamento
em si, ou seja, em qualquer coisa boa, pode existir um uso mau. A relação sexual por
razão estoicamente natural, a procriação de filhos, é boa; a relação sexual que resulta da
concupiscência é pecaminosa. Durante este período, será o Papa Gregório “o Grande” a
ir mais longe, nesta já existente tensão de consciências individuais na auto-estima do
cristão no que respeita ao sexo, ao banir o acesso à Igreja de todos os que tinham tido
relações sexuais de prazer agradável.
Pio XI, terá sido a alavanca para os pensadores Europeus que estavam apontar nesta
direcção ( Dietrich Von Hildebrand e Heribert Doms). O casamento como construção de
uma comunhão amorosa entre conjugues e o amor conjugal como primeiro sentido e fim
último do casamento, são expressões que começam a surgir. O que é natural ou não
natural para animais humanos não é para ser decidido na base do que é natural ou não
natural para animais não humanos. Humanos são especificamente animais espirituais,
vitalizados por uma alma espiritual e não são para ser julgados, tal como os Estóicos e
Aquino os julgaram, na base da biologia animal. Sexualidade humana é essencialmente
a capacidade e o desejo de fundir não apenas o seu corpo, mas muito mais o seu próprio
com o de outra pessoa (cf. p. 39).
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Como era de esperara, a reacção foi imediata por parte da Igreja, uma condenação geral,
que não fez nenhum esforço para filtrar a verdade do erro (segundo o/s autor/s).
Representa mais um período na teologia católica que se desenvolve num outro caminho
que não o ensinamento, recuperando novamente os dois propósitos de casamento e
relação sexual articulada no Génesis, a procriação, como propósito primário e a
relacional, relegada para secundário.
Em jeito de conclusão final, parece-me justo fazer uma reflexão em forma de questões
eternamente abertas que me foram cavadas, ao reflectir sobre esta sinopse histórica. Tal
e qual como o(s) autor(s), sempre o frisou do princípio ao fim deste capítulo, que
qualquer norma de moralidade sexual, terá que ser questionada no contexto sócio –
histórico.
Não será esta tendência de querer tornar como norma, o comportamento de uma
maioria (ao jeito do relatório de Kinsey – EUA), uma revolução sexual que
conduzirá à idolatria do corpo desaparecendo a pessoa?
A relação sexual não será banalizada, quando isenta de qualquer finalidade e
significado, unicamente um puro eros ou hedonismo, despojada de procriação e
reciprocidade conjugal?
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A corporeidade e a sexualidade não serão condições originárias e constitutivas?
Ou serão culturais, como meio para integrar o indivíduo na sociedade, onde a
sua identidade sexual poderá ser escolhida?
Não será a Igreja, no seu Magistério, uma instituição carismática transcultural e
transtemporal, melhor, “imparcial”, livre que qualquer orientação, a não ser a
revelação em plenitude do amor de Deus em Cristo, como entrega de si mesmo
aos outros, alicerçada no bem para todos sem excepção, capaz de reflectir e fazer
um juízo sincero despreconceituoso das tendências “reducionistas” de nível
cosmológico ou antropológico a que o homem lhe quer impor?
Casado e pai de filhos, assumo uma visão personalista, ligada ao amor como abertura e
doação, nunca ao “sabor” de qualquer impulso biopsicofisiológico. Qualquer relação
sexual – genital, é encarada com o espírito de uma relação sexuada, onde evita a
genitalidade e fisicalidade (o que seria dos casais que não tem (ou não pode) relação
sexual – genital? Era um fracasso; no entanto, são prova de uma verdadeira relação
sexuada), ou seja, há uma unicidade na heterossexualidade, onde existe um significado
especial na abertura do dom da vida. Parece-me que qualquer outro comportamento,
revela a parcialidade da sexualidade humana, só assim se entende, as componentes
lúdicas da vida sexual associadas a impulsos que a cultura actual tende a enfatizar,
organizando-o em função de finalidades subjectivas.
A nossa liberdade vista como responsabilidade, é uma liberdade de, e nunca uma
liberdade para.
Torna-se claro que este capítulo ao nível histórico é interessante, no entanto, não fica
imune a uma crítica pessoal: toda abordagem é conduzida para um libertinismo sexual,
que se vive sem finalidades e condicionamentos; de um eros sem ethos, de uma festa
sem regras.
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