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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO

MAIARA DA SILVA ALVAREZ

LEGIBILIDADE EM REVISTA:
A REFORMA GRÁFICA DA SUPERINTERESSANTE

SANTA MARIA, RS, BRASIL


2010
MAIARA DA SILVA ALVAREZ

LEGIBILIDADE EM REVISTA:
A REFORMA GRÁFICA DA SUPERINTERESSANTE

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do Título de Bacharel em
Comunicação Social - Jornalismo pela
Universidade Federal de Santa Maria/RS

Orientadora: Dra. Viviane Borelli

Santa Maria, RS, Brasil


2010
MAIARA DA SILVA ALVAREZ

LEGIBILIDADE EM REVISTA:
A REFORMA GRÁFICA DA SUPERINTERESSANTE

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do Título de Bacharel em
Comunicação Social - Jornalismo pela
Universidade Federal de Santa Maria/RS

Aprovado pela Banca Examinadora em 06 de dezembro de 2010

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________
Dra. Viviane Borelli
Curso de Comunicação Social – Jornalismo – UFSM/RS
Presidente / Orientadora

_________________________________________________
Dra. Caciane Souza de Medeiros
Curso de Comunicação Social - Jornalismo – UFSM/RS

_________________________________________________
Msando Iuri Lammel Marques
Cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda – UNIFRA/RS
Dedico este trabalho às minhas paixões, às minhas vontades realizadas
(e às que ainda são sonho ou que ainda não me atacaram)
às companheiras de Martini e vinho branco
(não necessariamente nessa ordem),
ao meu amor, aos meus familiares
(mais que distantes, mais que necessários, mais que torcedores,
mais que contribuintes, mais que realizadores,
mais que próximos)
e aos meus próximos passos.
AGRADECIMENTO

Aos meus pais, Denise e Horacio, por me


darem todas as possibilidades de chegar
até aqui e realizar este trabalho.
À Prof.ª Viviane Borelli, pela orientação
mais que eficiente, admirável.
RESUMO

O tema deste trabalho é a legibilidade dos produtos jornalísticos. O objetivo é a análise de


uma publicação impresssa - a revista Superinteressante -, a partir da observação sistemática
da sua última reforma gráfica, a fim de compreender como certos fatores do projeto gráfico
influenciam a legibilidade. Para isso houve a conceituação e discussão dos principais
elementos afins à legibilidade – design, linguagem visual, percepção visual, discurso gráfico,
entre outros – e ao discurso gráfico – grid, cor, tipografia, entre outros. Foi realizada uma
categorização de questões inseridas no projeto gráfico e uma análise da legibilidade do
objeto. Constata-se que tanto fatores microtipográficos – configuração detalhada dos
caracteres -, quanto macrotipográficos – layout -, além de costumes sociais, interferem na
legibilidade.

Palavras-chave: legibilidade, design gráfico, linguagem visual, percepção visual, projeto


gráfico, discurso gráfico.
RESUMEN

El tema de este trabajo es la legibilidad de los productos periodísticos. El objetivo es la


análisis de una publicación impresa – la revista Superinteressante -, por la observación
sistémica de su ultima reforma grafica, a fines de entender como determinados factores
influencian la legibilidad. Para eso hubo la conceptuación y la discusión de los principales
elementos prójimos a la legibilidad – diseño, lenguaje visual, percepción visual, entre otros –
y al discurso gráfico – grid, color, tipografía, entre otros. Por fin, fue realizada una
categorización de cuestiones inseridas en el proyecto grafico y una análisis de la legibilidad
del objeto. Constata-se que tanto factores microtipográficos – configuración detallada de los
caracteres – cuanto macrotipográficos – layout -, alén de las costumbres sociales, interfieren
en la legibilidad.

Palabras-clave: legibilidad, diseño gráfico, lenguaje visual, percepción visual, proyecto


gráfico, discurso gráfico.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Tipografia Estilo Antigo.............................................................................................54


Figura 2: Tipografia Moderna..................................................................................................54
Figura 3: Tipografia Serifa Grossa............................................................................................55
Figura 4: Tipografia Sem serifa................................................................................................55
Figura 5: Tipografia Manuscrita...............................................................................................55
Figura 6: Tipografia Decorativa................................................................................................55
Figura 7: seção “Superrespostas” A ed. 266 junho..................................................................72
Figura 8: seção “Superrespostas” B ed. 266 junho .................................................................72
Figura 9: seção “Respostas” ed.268 agosto............................................................................ 75
Figura 10: seção “Superradar” ed.268 agosto.........................................................................75
Figura 11: Capa ed.266 junho..................................................................................................77
Figura 12: Título de seção ed.266 junho..................................................................................77
Figura 13: Créditos ed.266 junho.............................................................................................78
Figura 14: Antetítulo ed.266 junho..........................................................................................78
Figura 15: Título de subseção ed.266 junho............................................................................78
Figura 16: Vinheta e outros elementos ed.266 junho..............................................................79
Figura 17: Capa ed.268 agosto.................................................................................................79
Figura 18: Título seção A ed.268 agosto..................................................................................80
Figura 19: Título seção B ed.268 agosto..................................................................................80
Figura 20: Título editoria ed.268 agosto .................................................................................80
Figura 21 Título grande seção ed.268 agosto..........................................................................80
Figura 22: Item “Foi mal” ed.268 agosto.................................................................................81
Figura 23: Vinheta e outros elementos ed.268 agosto............................................................81
Figura 24: Moldura “Manual” ed.268 agosto..........................................................................81
Figura 25: Capa ed.270 outubro..............................................................................................82
Figura 26: Vinheta ed.270 outubro..........................................................................................82
Figura 27: “Para saber mais” ed.270 outubro..........................................................................82
Figura 28: Tipografia capa ed.266 junho..................................................................................83
Figura 29: Tipografia capa ed.268 agosto................................................................................83
Figura 30: Tipografia A ed.266 junho.......................................................................................85
Figura 31: Tipografia B ed.266 junho.......................................................................................85
Figura 32: Tipografia corpo reportagem ed.266 junho............................................................85
Figura 33: Tipografia matérias curtas e notas ed.268 agosto..................................................86
Figura 34: Tipografia reportagens ed.268 agosto....................................................................86
Figura 35: Grid 3 colunas A ed.266 junho................................................................................88
Figura 36: Grid 3 colunas B ed.266 junho................................................................................88
Figura 37: Grid 2 colunas A ed.266 junho................................................................................89
Figura 38: Grid 2 colunas B ed.266 junho................................................................................89
Figura 39: Grid 3 colunas A ed.270 outubro............................................................................90
Figura 40: Grid 3 colunas B ed.270 outubro............................................................................90
Figura 41: Grid 2 colunas A ed.270 outubro............................................................................90
Figura 12: Grid 2 colunas B ed.270 outubro............................................................................90
Figura 43: Grid 4 colunas A ed.270 outubro............................................................................91
Figura 44: Grid 4 colunas B ed.270 outubro............................................................................91
Figura 45: Grid colunas diferentes A ed.270 outubro..............................................................91
Figura 46: Grid colunas diferentes B ed.270 outubro..............................................................91
Figura 47: Branco A ed.266 junho............................................................................................92
Figura 48: Branco B ed.266 junho............................................................................................92
Figura 49: Branco A ed.268 agosto..........................................................................................93
Figura 50: Branco B ed.268 agosto..........................................................................................93
Figura 51: Branco ed.270 outubro...........................................................................................93
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 17

1 DESIGN GRÁFICO E LEGIBILIDADE..................................................................................... 21


1.1 DESIGN GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO ............................................................................... 21
1.1.1 Breve histórico do design gráfico ............................................................................... 29
1.2 LEGIBILIDADE, O PONTO CENTRAL ................................................................................. 38
1.2.1 Psicologia Gestalt aplicada à composição visual ........................................................ 43
1.3 LEGIBILIDADE NA COMUNICAÇÃO: O ESTADO DA ARTE ................................................. 45

2 O PROJETO GRÁFICO EM REVISTA .................................................................................... 50


2.1 ELEMENTOS DO DISCURSO GRÁFICO .............................................................................. 50
2.2 LENDO A PÁGINA: VISUAL LITERACY ............................................................................... 59
2.3 CONSTRUÇÃO DO HÁBITO DE LEITURA DAS REVISTAS .................................................... 63

3 A REVISTA SUPERINTERESSANTE ...................................................................................... 67


3.1. DESCRIÇÃO DO OBJETO ................................................................................................. 67
3.2 METODOLOGIA .............................................................................................................. 69
3.3 ANÁLISE DA LEGIBILIDADE .............................................................................................. 71
3.3.1 Organização / fluxo de apresentação das matérias .................................................... 72
3.3.2 Elementos de identificação ........................................................................................ 76
3.3.3 Tipografia ................................................................................................................... 83
3.3.4 Grid ............................................................................................................................. 87
3.3.5 Espaço em branco....................................................................................................... 92

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 95

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 98

OBRAS CONSULTADAS ...................................................................................................... 102


17

INTRODUÇÃO

Existe, atualmente, um comportamento mundial que se repete notavelmente no


Brasil: a elevação de uma categoria de profissionais que toma cada vez mais importantes
espaços em diferentes segmentos de trabalho. Este profissional, além de ser respeitado, é
admirado por ocupar cargos que exigem “um quê a mais”, uma capacidade volátil, que
poucas pessoas leigas podem descrever ou até mesmo entender. O designer, pode se dizer
em linguagem coloquial, “está na moda”.
A profissão de designer envolve tantas técnicas e conhecimentos que é difícil fechá-la
num círculo de atividades a desempenhar ou em nichos específicos de trabalho, já que a
cada dia surgem espaços que podem e devem ser ocupados por este profissional,
principalmente ao falarmos de evolução tecnológica.
O designer, longe de ser um profissional que leve em conta apenas a beleza artística
ou normas de produção, tem como responsabilidade, em qualquer área que se envolva, criar
a primeira impressão que se pode ou que se deve ter sobre um produto específico. Ele
decide de que forma este produto vai se apresentar ao seu potencial consumidor, passo
essencial no campo mercadológico. Além disso, geralmente ajuda a definir quesitos de
usabilidade, ou seja, como tornar um produto com uma interface e/ou interatividade mais
amigável ao contato humano.
No campo do jornalismo, é um profissional que, atualmente, ocupa cargos
importantes, principalmente quando nos voltamos ao meio impresso. Geralmente, é ele o
diretor de arte de um jornal ou de uma revista. Hoje, é ele quem decide como a notícia vai
se apresentar e seduzir o leitor. O design de notícias é um avanço da apresentação da
informação contida em um texto (aqui não se refere apenas ao texto escrito, mas ao texto
como um discurso, seja verbal ou não verbal, podendo estar em qualquer mídia).
Dentro da evolução da diagramação de jornais e revistas, espaços antes ocupados
apenas por jornalistas e por funcionários técnicos são divididos, reestruturados e criados
para e pelo designer. A partir de uma rápida olhada no contexto histórico, podemos
perceber como os movimentos artísticos, a chegada (e a necessidade) da publicidade e as
evoluções tecnológicas criaram novas possibilidades para a apresentação de notícias no
meio impresso.
18

Cada vez mais se percebe a importância de um eficiente design na apresentação de


notícias no meio impresso, tanto pelo setor comercial (proveniente do interesse de criar
produtos impressos que lucrem mais e da preocupação do advento da internet e do espaço
que ocupou como disseminadora de informações e, consequentemente, notícias) quanto
pela academia, que tem pesquisado os mais variados aspectos envolvidos na criação do
layout de uma revista.
Entretanto, mesmo com esses esforços e a criação de produtos impressos que
marcam pela estética, não se pode esquecer uma das características indispensáveis para o
consumo da notícia: a possibilidade de uma leitura rápida, tranquila e ordenada lógica e
culturalmente. Mesmo que o design da página seduza o leitor a iniciar a leitura, esse
dificilmente continuará até o final se isso lhe causar incômodo. Ou seja, a mensagem não
será consumida, pelo menos não em sua totalidade, pelo receptor.
Compreende-se notícia (acontecimento com características específicas, como a
novidade) como um produto, desenvolvido a partir de técnicas e de escolhas editorias, com
o objetivo de atingir um público que terá interesse em consumi-la, ou seja, em diferentes
níveis de aprofundamento, vai ler o discurso oferecido pelo veículo para a notícia, tanto o
verbal quanto o gráfico.
Qualquer produto jornalístico é feito para ser consumido. Às vezes para um público
em massa, outras para um específico, a notícia não tem motivo de ser editada se não chegar
até o entendimento do leitor/espectador/ouvinte. No caso dos produtos impressos, a
preocupação com a legibilidade e com a leiturabilidade são princípios intrínsecos para que o
destinatário receba e compreenda a mensagem.
Para que a mensagem atinja com eficiência o público a que se destina, deve estar
escrita de acordo com o repertório desse grupo. Deve ter uma linguagem específica para
este grupo, e, obviamente, de fácil entendimento, e também deve ser apresentada de forma
a chamar a atenção. A legibilidade é, então, uma das preocupações básicas quando se fala
de eficiência na comunicação e não deve ser deixada em segundo plano pelo jornalista
(mesmo que, atualmente, não comumente seja ele a construir a diagramação de sua
página). Ilusão pensar que a parte de jornalista termina onde começa o trabalho do designer
ou do diagramador: eles devem trabalhar em conjunto, sempre objetivando eficiência
máxima na recepção da mensagem.
19

Esse trabalho em conjunto é essencial, porque o leitor não recebe a publicação


jornalística como um produto que tem arte e texto, mas um produto único. O interesse do
leitor é consumir o conteúdo da publicação de seu interesse, e o design é a maneira de
apresentar esse conteúdo. Fica óbvio, então, que se fala de comunicação.
O design de notícias deve, antes de tudo, fazer sentido. Mas esta pesquisa,
entretanto, não irá se focar na análise dos sentidos, e sim observar se o design está fazendo
o seu papel ao se inserir no campo jornalístico, o de apresentar a notícia de forma clara e de
respeitar hábitos construídos por editores e consumidores de produto jornalístico há mais
de quatro séculos, quando da publicação das primeiras revistas periódicas. Assim como o
design se inseriu no campo jornalístico para contribuir com a apresentação de notícias, essa
pesquisa tem o intuito de perceber e analisar a legibilidade de um projeto gráfico, de forma
externa e sem a prepotência de dominar o campo do design, mas sim de entendê-lo em sua
interferência no campo jornalístico, procurando contribuir com a melhoria dessa relação.1
No campo da legibilidade muitas pesquisas têm sido traçadas. Estes estudos,
entretanto, encontram seu lugar principalmente no que cerne à exclusiva legibilidade de
tipos, sem analisá-los em um produto jornalístico pronto. Embora exista, atualmente, uma
infinidade de tipos que apresentem uma boa legibilidade e opções interessantes e legíveis
para o layout de uma página, o mercado de produtos impressos está tomado por “escolhas
erradas”. São páginas de revistas, folhetos, cartões, cartazes, entre outros, que pecam pela
falta ou dificuldade da legibilidade.
Com o advento do computador pessoal e da internet, cada vez mais as notícias vêm
sendo consumidas em telas de monitores. Entretanto, o produto impresso ainda é a
preferência de muitos leitores, principalmente quanto a textos longos. Para manter seu
espaço no mercado, as publicações (neste caso, damos destaque às revistas) devem manter
qualidade na apresentação da informação. A partir desse contexto, tem se como questão
central dessa pesquisa a legibilidade de um produto jornalístico.
A revista Superinteressante2, publicada no Brasil pela Editora Abril, já contabiliza mais
de duas décadas de existência e uma série de reformas em seu projeto gráfico. A mais

1
A Editora Abril, inclusive, recomenda aos seus funcionários de redação a leitura de um dos livros utilizados
para esta pesquisa e que deixa clara a noção de relação essencial entre editor e designer: Edição e Design, de Jan
White.
2
A partir daqui, a revista Superinteressante também será chamada somente de Super, um “apelido” da
publicação, conhecido e utilizado tanto pelos leitores quanto pelos redatores e editores.
20

recente delas foi realizada em agosto de 2009, reformulando vários aspectos da revista,
principalmente a troca de tipos utilizados na revista (como nos nomes de seções e chamadas
de capa). O design gráfico da revista Superinteressante trabalha com vários artifícios para
chamar a atenção do leitor. As matérias geralmente têm fotos, ilustrações e design
diferenciado que cria uma leitura visual repleta de informações e de significado. O
infográfico, por exemplo, destaque na revista pela qualidade, é usado de forma tão
recorrente que ganhou uma seção exclusiva.
Portanto, a revista Superinteressante e sua última reforma no projeto gráfico
apresentam-se como um interessante objeto de estudo para se abordar a questão da
legibilidade. Esta pesquisa objetiva, então, analisar os aspectos da reforma desse projeto
gráfico a fim de reconhecer e entender como e se a reforma interferiu na legibilidade do
produto, tomando como parâmetro o projeto gráfico anterior.
21

1 DESIGN GRÁFICO E LEGIBILIDADE

A primeira parte deste trabalho traz um tratamento teórico que visa abranger
conceitos básicos que são do interesse desta pesquisa e que pretendem esclarecer o
relacionamento do campo de atuação do design ao do jornalismo. Além disso, define os
campos de conhecimentos que devem ser dominados para que se entenda o conceito de
legibilidade.
Nas páginas a seguir, apresentam-se as definições e discussões dos termos que ajuda
a definir: qual é a relação do design gráfico com a diagramação, ou seja, como se iniciou e se
deu a relação entre os editores de informação jornalística e os designers, quais são as
principais conceituações de legibilidade e qual delas será adota nesta pesquisa e como a
psicologia Gestalt pode ajudar no entendimento da percepção visual.
Compila-se um breve histórico do campo do design, a fim de que se possa construir
uma visão geral de um campo de trabalho que está externo ao que se especializa
academicamente o jornalista. Este capítulo ainda traz uma visão geral de contribuições feitas
por outras pesquisas sobre legibilidade ou que tratem de assuntos afins ao design de
notícias, ao projeto gráfico e a outros elementos que fazem parte deste trabalho.

1.1 DESIGN GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Para falar da composição da página impressa e do discurso gráfico existente em uma


revista e suas relações com o jornalismo, precisa-se fazer um resgate histórico de influências
que o design gráfico sofre ao longo do tempo, como ele passou a assim ser considerado e
como chegou a fazer parte da rotina das redações. Também deve-se passar por alguns
conceitos afins, como o de composição visual.
Porém, antes mesmo de discorrer sobre a história do design gráfico, seria importante
deixar claro porque o uso desse termo, discutido dentro da academia e que será adotado
neste trabalho.
Uma das concepções da relação do design com o processo de comunicação é a de
Ehses, da década de 70, apresentada e discutida em um artigo de Flávio Vinícius Cauduro.
Segundo ele, Eshes chega à conclusão de que “a comunicação é idêntica ao processo de
design” (ESHES apud CAUDURO, 1998-b, p.158) e considera a tipografia uma forma de
22

transferências de linguagem, da verbal para a escrita. A comunicação visual seria, então,


nada menos que a transferência de informação e, entende-se, não criaria sentido.
Para Cauduro, o principal problema do conceito de Ehses está no fato de não atentar
para “a natureza aberta dos significados e os conflitos de posicionamento dos sujeitos
predicantes, devido à pluralidade das motivações e das interpretações” (CAUDURO, 1998-b,
p.158).
Essa mesma visão é apresentada por Cauduro em outro artigo do mesmo ano, que
fala sobre o logocentrismo. Hjelmslev considera a língua um sistema formal, fechado e
existente sem a necessidade de suportes materiais, sendo o que ele chama de linguagens
naturais, mera manifestação desse sistema, “[...] independentemente do sujeito e seu
contexto, sua história, sua psique, suas características enunciativas particulares” (1998-a,
p.90).
Desse modo, Hjelmslev exclui do que ele chama de livros sérios (como os
acadêmicos) qualquer estilo na tipografia e na composição da página, incluindo espaços em
branco, deixando essas “perturbações” para o campo da publicidade. Não há lugar para
diagramas, fotos, ou qualquer representação icônica de outros, que poriam em risco o
discurso do autor. “Como se o sujeito semiótico só pensasse e escrevesse em palavras”
(CAUDURO, 1998-a, p.91) e “[...]considerando o leitor como um receptor passivo de idéias
comunicadas, assim renegando a produção ativa de outras significações, a pluralização de
significados, provocada pela forma material dos significantes gráficos [...]” (1998-a, p.94).
Quem vai se preocupar com essa diferença nas significações do design gráfico será
Twyman. Segundo Cauduro, Twyman afirma que o elemento de linguagem existente na
comunicação gráfica está na relação conteúdo informacional e apresentação visual, levando
em conta as circunstâncias e os usuários da linguagem. Assim, “ele postula que o sentido
muda e muito quando se muda a configuração visual de uma cadeia de significantes
gráficos” (CAUDURO, 1998-b, p.159). E ainda destaca que “a linguagem gráfica é diferente da
falada. Uma não é uma simples interpretação da outra” (TWYMAN apud CAUDURO, 1998-b,
p.162).
Como completa Peltzer (1991, p.98), a “linguagem visual, a língua, a fala e escrita, são
sistemas de signos completamente diferentes. Um é visual, o outro lógico, o seguinte
fonético e o último lingüístico”. Concluindo, então, que a composição visual carrega uma
linguagem, neste caso, a linguagem visual, passa-se à concepção do que é design e à
23

discussão do porquê do uso deste termo e não de outros também aplicáveis, como
diagramação ou desenho.
A primeira concepção de design que pode ser incluída e que muito tem afim com o
conceito de linguagem visual é a de Ana Cláudia Gruszynski, que o coloca como mediador.

Entendo o design como uma atividade de mediação. Ao dar forma


material a conceitos intelectuais – uma das definições que considero mais
sintética e consistente da atividade, neste caso, apresentada por Rafael Cardoso –,
situa-se em uma zona limítrofe (GRUSZYNSKI, 2010, p.14).

Esse conceito já havia sido levantado pela própria autora anteriormente e aqui o
transcrevemos, de forma a esclarecê-lo.

A práxis do design gráfico, portanto, revela um duplo caráter: o de


mediação de um texto verbal, associado à noção de transparência; e o de co-
autoria, uma vez que as opções gráficas estabelecidas pela atividade trazem um
sentido próprio que influi o leitor. O design gráfico trabalha justamente na
conjunção dos signos gráficos e lingüísticos (GRUSZYNSKI, 2008, p.13).

Gruszynski deixa claro, então, o papel do design gráfico, o que ele é, o que resulta
como atividade. Para entender, agora, o seu significado, a autora explica que se passou da
concepção de transmissão ou codificação de mensagens (como vimos anteriormente), mas o
que ficou de importante dessas considerações foi o aspecto composição ou arquitetura da
página.
Através da história, o design gráfico tem significado compor, estetizar e
estilizar componentes numa página, embalagem ou sinal, para atrair a atenção
visual e transmitir uma mensagem. O designer gráfico é um navegador que
estrategicamente posiciona sinais para o leitor seguir. No papel, títulos e corpo do
texto, linhas decorativas e funcionais, imagens cores são como ponto de
referências [sic], parte fundamental da arquitetura de uma página (HELLER e
DRENNAN apud GRUSZYNSKI, 2008, p.14).

Fica claro que a atividade do designer gráfico envolve a composição dos elementos
na página, dando a liberdade de usar o termo arquitetura, já que se fala da construção visual
de um produto impresso. A discussão dos termos usados para designar esse profissional gira
em torno da autonomia a que lhe é dada para interferir graficamente na disposição de um
discurso, especialmente um texto jornalístico. Como indaga Gruszynski, “Mas qual é o grau
de autonomia para criar e desenvolver um leiaute? Em que medida a configuração escolhida
interfere na interpretação da palavra do autor?” (2008, p.11).
Na prática, essa pergunta tem respostas diferentes ao longo da história do design
gráfico, mesmo que essa história não tenha um século de existência. De acordo com Farias
24

(2000, p.18) “O termo ‘graphic design’ foi utilizado pela primeira vez pelo tipógrafo
americano William Addison Dwiggins, em um artigo publicado em agosto de 1922 no jornal
Boston Evening Transcript, para definir seu campo de atuação”.
Embora pareça extremista colocar uma data para o início da atuação do design
gráfico, o que não é a pretensão deste trabalho, a afirmação de Farias serve para mostrar
que, mesmo que a história do grafismo tenha acompanhado a humanidade desde os seus
primórdios (quando foram encontrados os primeiros registros de pinturas rupestres), a
atividade que se conhece como design gráfico só ganhou destaque no último século, e sua
evolução é ainda mais lenta quando se fala em design jornalístico. Isso porque foi somente
com o passar dos anos e do desenvolvimento dos produtos impressos e também dos
sistemas e técnicas de impressão que surgiu a preocupação com uma estética atraente.

[...] mesmo que o design não fosse muito valorizado, a utilização, ao longo
do tempo, de gráficos, diagramas, mapas e formas gráficas de hierarquizar e
sistematizar a informação, permite concluir que se foi dando conta de que a
atitude dos leitores seria mais receptiva se os conteúdos fossem interessantes e a
paginação garantisse uma maior legibilidade das páginas e tornasse o jornal num
[sic] produto mais bonito (SOUSA, 2001, p.339).

Ou seja, analisando a história e os produtos jornalísticos impressos, pode-se perceber


que o termo design gráfico surge ao mesmo tempo em que os responsáveis por desenvolver
esses produtos percebem a necessidade de tornar os impressos mais atraentes e começam a
nomear profissionais que realizem esse trabalho. Como se verá mais adiante, a partir do
início do século XX começam várias reformas gráficas em jornais e revistas.
Transforma-se, então, a concepção do lugar que deve ocupar o construtor da página,
já que se muda a importância do papel que desempenha. Antes, o diagramador apenas
organizava os elementos na página, de modo que se ocupavam todos os espaços possíveis,
procurando não interferir no texto. Agora, o designer também interage e se comunica com o
leitor, seu grau de autonomia aumenta (ele realiza com mais liberdade e autoridade a
criação do layout) e, em consequência, a interferência também. Para entender o porquê
dessa evolução e diferenciação, pode-se recorrer à definição de alguns autores sobre outros
termos que estão envolvidos no design: a diagramação e o desenho.
Persistente em poucas revistas e ainda existente em muitos jornais, consta no
expediente das publicações jornalísticas o termo diagramação. De acordo com Collaro
(2000, p.160) “A diagramação desenvolve o seu trabalho com vistas à disposição da matéria,
25

levando em conta o aproveitamento do texto, o destaque, a atração, a forma, a estética,


conjugando o conteúdo com a apresentação gráfica”.
Essa conjugação de que fala Collaro pode ser complementada pela afirmação de Silva
(1985, p.41) sobre a origem do termo: “diagramação é resultante da palavra diagrama, do
latim diagramma, que significa desenho geométrico usado para demonstrar algum
problema, resolver alguma questão ou representar graficamente a lei de variação de um
fenômeno”.
A diagramação, então, resolve o problema da distribuição do conteúdo nas páginas,
ao criar e utilizar um projeto “de acordo com determinados critérios jornalísticos e visuais”
(RABAÇA e BARBOSA apud SILVA, 1985, p.41).
Alguns autores diferenciam diagramação de paginação:

[...] enquanto a paginação quer dizer a montagem de títulos, notícias e fotos, a


diagramação é a consciência dos elementos gráficos com a estética – o liame entre
a técnica do jornal e a arte da apresentação. Em outras palavras, a diagramação
busca dar o padrão de representação gráfica, ligando harmonia e técnica (BAHIA
apud SILVA, 1985, p.41).

Hoeltz também traz importante contribuição para a discussão e deixa ainda mais
claro o conceito de diagramação e o papel específico do diagramador.

Os meios impressos utilizam como base formal os diagramas, que servem


de guias, agilizando o processo de produção. [...] À ação de ordenar, de combinar
elementos nestes espaços midiáticos deu-se o nome de ‘diagramação’. Assim,
diagramação é a atividade de coordenar corretamente o material gráfico com o
material jornalístico [...]. A preocupação do diagramador, e, consequentemente,
sua tarefa específica, é dotar as mensagens da devida estrutura visual, a fim de
que o leitor possa discernir, rápida e confortavelmente, aquilo que para ele
representa interesse (HOELTZ, 2001, p.5).

Assim, conclui-se que a diagramação trata da estruturação da página, de sua


composição, através de projetos pré-definidos que criam regras para a disposição dos
elementos de um produto jornalístico específico. Já o design gráfico “[...] envolve o social, a
técnica e também significações” (GRUSZYNSKI, 2008, p.23).
Voltando ao conceito de design gráfico, observa-se como ele abarca e muitas vezes
se assemelha ao conceito de diagramação.

O design gráfico é uma atividade profissional e uma área de


conhecimento que, em linhas gerais, tem como objeto produtos gráficos com fins
expressamente comunicacionais que através de elementos visuais (textuais ou
não), visam persuadir o observador, guiar sua leitura ou vender um produto. A
26

escolha destes elementos visuais, sua forma de apresentação e sua ordenação


visam à máxima eficiência comunicacional (VILLAS-BOAS apud BICA, 2004, p.13).

O design gráfico possui, então, estreita relação com a informação. Como afirma
Gruszynski,

[...] é possível considerar o design gráfico não apenas como uma função vinculada
à estética, mas também como uma atividade que lida fundamentalmente com a
informação. Levando em conta este novo elemento, chega-se a uma visão do
design como uma atividade, um processo de fazer e comunicar signos híbridos e
não somente o de produzir um conjunto de vestes gráficas de um determinado
estilo para signos linguísticos ou o simples dimensionamento de ilustrações (2008,
p.26).

O design supera (mas não exclui) a diagramação ao não se preocupar somente com a
harmonia da disposição. Ele não só organiza a matéria, mas cria um ambiente de leitura, que
envolvem ilustrações, gráficos e outros elementos (além do texto) que compõem
significativamente a página.
Entretanto, o uso da palavra design para especificar esta área de atuação pode ser
discutido. Luiz Vidal Negreiros Gomes traz à tona essa discussão e não acredita que este seja
o melhor termo para designar uma atividade que pode ser definida como desenho industrial.
Segundo ele a palavra inglesa design tem sido importada por outras culturas, mas é
assimilada com outros significados que não o original (GOMES, 1998, p.70).

A palavra design contudo, não carece, de algum tipo de adaptação


gráfico-morfológica, uma vez que não se trata de significar algo de novo para a
cultura dos países de língua-portuguesa. Por exemplo, o termo desenho e todos os
termos que usam o radical desenh seriam suficientemente precisos para denotar e
conotar tudo e muito mais do que o termo inglês design denota e conota. Não
obstante, só no caso de a palavra design estar sendo usada para denominar, em
algum lugar entre os anos 60 e 70, um novo modo de vida, uma nova filosofia para
o planejamento de produto industrial, um novo movimento desenhístico para
definir os estilos do desenho no fim deste século (tal como foi o Arts and Crafts do
final do século XIX), a palavra deveria ser mantida em sua forma original inglesa
(GOMES, 1998, p.72) [grifos do autor].

Entretanto, pelo menos quando se fala de design gráfico, são exatamente esses
fatores que o tornam único para denominar seu meio de atuação. Primeiro, o design não
envolve tudo o que faz parte da concepção de desenho; ele é mais específico. Segundo, ele
surge justamente por uma nova filosofia para o planejamento do produto impresso, mas que
acontece um pouco antes no período histórico. E o diagramador, que antes trabalhava com
princípios e técnicas, agora abrange os seus conhecimentos e cria um produto conceitual, ou
seja, sua profissão e sua função passam por muitas mudanças.
27

Ao falar do design no Brasil, Gomes (1998, p.73) cita que a profissão é considerada
altamente especializada e que o design está longe de ser um atributo inato ao ser humano.
Só que o desenho (seja ele compreensível ou não – como acontece com algumas pinturas
rupestres, que até hoje não foram entendidas em totalidade, mas que se reconhece a
existência de significação) é inato ao ser humano, diferentemente do design gráfico, que
segue certos princípios que precisam ser aprendidos.
É o próprio Gomes que fornece uma definição do conceito no seu original em inglês3:

[...] como substantivo, design significa o plano gráfico ou o debuxo


preliminar; a organização o arranjo, os elementos ou aspectos de um trabalho
artístico ou decorativo; uma criação artística ou decorativa finalizada; a arte de
desenhar; um plano ou projeto; uma intenção, um propósito. [...] A forma
“design”, assim, foi o radical para se formar: [...] designer (aquele/a) que idealiza,
inventa e executa desenhos para roupas, máquinas, etc.; uma pessoa que faz
desenhos artísticos, padrões, ou planos pra uma construção; um indivíduo
habilidoso, esquemático [...] (GOMES, 1998, p.77) [grifos do autor].

Entende-se, então, principalmente ao se observar a conceituação de designer, que


esse profissional precisa ter uma habilidade específica e que trabalha a partir de
características essenciais: a artística (quando pensa e cria a página a partir de princípios
visuais buscando uma eficiência estética que seduza e interaja como o leitor) e funcional (ao
trabalhar como organizador dos elementos da página e mediador da relação do leitor com o
autor do texto do produto impresso). Essa afirmação, de modo semelhante, é encontrada
em outros autores. Segundo Borges (2010, p.9) “O filósofo e comunicólogo Vilém Flusser
(2007) assinalou que uma das características do design é ter caráter artístico e funcional”.
Entretanto, o problema no uso do termo design está no fato da profissão ter sofrido
grandes mudanças com o advento da tecnologia computacional e por ser vítima de
modismos nos últimos anos, graças ao seu lugar cada vez mais alto na hierarquia das
empresas de comunicação e a adaptação da sociedade com este novo profissional. E aqui se
concorda com Gomes (1998, p.96-97), ao dizer que design “[...] tornou-se uma palavra da
moda, superficial e efêmera que qualquer ‘um’, na atualidade, com qualquer habilidade
‘estética’ ou principalmente conhecedor de gráfica computacional, podia se intitular
designer” [grifos do autor].

3
Segundo Gomes (1998, p.76) o termo design foi introduzido no inglês por decalque (partes de uma palavra que
são traduzidas separadamente e formam uma nova palavra ou expressão) a partir do francês désigner e do latim
designare.
28

Esse impasse no entendimento do termo causa consequências, como se percebe


principalmente no Brasil, ao se observar que “o grande público parece conceber a qualidade
do desenho de qualquer produto industrial, não pelo bom desenho que o produto encerra
em si, mas sim pela marca que este carrega” (GOMES, 1998, p.158). Mesmo assim, o uso
do termo design, principalmente quando aplicado à especialização design gráfico, serve de
maneira mais exata para definir o profissional que trabalha com a composição das páginas
impressas dos produtos jornalísticos atuais (principalmente revistas), aquele que, portanto,
vai se preocupar e se responsabilizar pela legibilidade, tema principal deste trabalho. A
decisão, longe de ser conveniente, está baseada nos conceitos apresentados e suas
diferenças e singularidades, e também no fato de que o designer surge em contextos
históricos e específicos (que serão detalhados a seguir) diferentes dos que surgiram os
conceitos de diagramação e desenho, não os excluindo, mas sendo superior ao primeiro e
uma possível ramificação do segundo.
Eduardo Nunes Freire tem a mesma opinião e faz a indagação:

Por que design e não desenho, ou diagramação? Não se deve a nenhum


ufanismo anglicista, antes por não dispormos no léxico de um termo que abarque
toda a atividade em que está envolvido o design (da mesma forma que
marketing transcende a promoção de vendas). Design diferencia-se de desenho,
pois é mais do que apenas esquematizar com um lápis (ou no computador) a
representação de um objeto ou idéia, de materializá-la visualmente em duas
dimensões. O design é um processo que envolve a concepção ampla de um
produto desde seu rascunho mais primário, passando pela fase de protótipo
(leiaute), finalização e produção [2006, p.2].

Ainda segundo Freire, uma das especializações do design é o design gráfico, que se
preocupa com a publicação de produtos impressos (como livros e peças publicitárias). O
design de notícias (dedicado a revistas e jornais) é um nicho do design gráfico, que se faz
necessário por causa das “[...] especificidades do discurso jornalístico. Ele vem para
potencializar esse discurso, organizar os conteúdos, criar identidade, atrair a atenção do
leitor, e construir o sentido na relação entre verbal e não- verbal” (2006, p.2).
Deve-se esclarecer que dificilmente o público leigo considera o planejamento ou até
mesmo a estética algo como parte do ato de desenhar, muito menos fases de processo de
concepção e composição do produto. Por isso o design se aplica como melhor forma de
tratar o trabalho de composição das revistas.
Diagramação, historicamente, dá a ideia de uma grade pronta ou pré-estabelecida,
que atualmente cabe mais ao produto jornal do que à revista ou a outros produtos
29

impressos em geral. Não que o design da revista não tenha características pré-estabelecidas,
mas elas vão fazer parte, antes, do seu discurso gráfico, do que como regras delimitadoras
para a composição da página.
Para concluir esse pensamento, apresenta-se solução que Mario Garcia construiu
para que o design dos jornais seja cada vez mais eficiente, e que pode ser aplicada também
nas revistas. Sua fórmula Writing, Editing and Design ou sinteticamente WED, propõe a
integração de três setores da empresa de comunicação impressa, a redação, a edição e o
departamento de arte, que devem trabalhar em uma “relação dinâmica”. Assim, o designer
gráfico deve participar de todas as etapas da concepção da notícia, resultando em um jornal
(ou revista) “inteirado por palavras e imagens” (QUADROS, 2004, p.7).
Como contribuição para o entendimento do que é design gráfico, esta pesquisa
realiza uma pequena descrição histórica, procurando citar momentos e conceitos que
complementam a conceituação do termo.

1.1.1 Breve histórico do design gráfico

Ao se falar sobre a história do design gráfico, deve-se passar, pelo menos, por quatro
influências básicas para que se possa entender o ponto em que se encontra essa atividade
atualmente: a linguagem, os movimentos artísticos, a tecnologia e a publicidade (que por
sua vez envolvem outros aspectos como o econômico e o sócio-cultural), principais
responsáveis por moldar o design gráfico praticado neste início de século e no final do século
passado, principalmente quanto ao design das revistas comerciais.
Esses quatros aspectos tornam-se necessários para explicar que, mesmo que o design
gráfico cunhado por este termo tenha surgido há não mais de um século, suas linhas
antecedentes acompanham a humanidade desde os seus primeiros aperfeiçoamentos
grafistas. E também para montar um quadro histórico mais completo, na busca por evitar
uma visão unidimensional.

A história do design constrói uma lente através da qual eles vêem o


design – e nós vemos o design. Essa lente é seletiva: ela aproxima um objeto e
bloqueia a nossa visão periférica. O que vemos é um estreito segmento da história
do design: um período, uma classe de designers dentro daquele período. O que
não vemos é o contexto, ambos dentro da profissão do design e dentro da história
social (KALMAN, MILLER & JACOBS apud GRUSZYNSKI, 2008, p.25).
30

A capacidade humana para manipular e interpretar mensagens visuais, chamada de


cultura visual por Gonzalo Peltzer, é o que possibilita a socialização primária do ser humano.

Como veículo do pensamento, o visual é anterior a qualquer linguagem


(sistema de signos) na história das comunicações entre os homens. E na história
de cada homem em particular é também anterior aos sistemas linguísticos que se
começam a aprender, nos países ocidentais, no começo da educação primária
(PELTZER, 1991, p.97).

Essa noção, de que o ser humano tem uma condição inata para lidar com signos
visuais, gera certo comodismo quanto à educação visual que ele recebe. Porém, segundo
Peltzer (1991), autores como Donis Dondis revelam que é necessário um conhecimento que
torne os indivíduos capazes de lidar com códigos visuais que possibilitem uma boa
comunicação.
O mesmo pensa Gomes (1998, p.23), ao explicar que “o processo da linguagem
gráfica do desenho é a base para a linguagem gráfica da escrita e, diferentemente desta, é
inerente a todos os seres humanos, logo, necessário na educação fundamental”. É Gomes
que também destaca as diferenças da capacidade de lidar com os grafismos, deixando claro
que, mesmo que a segunda seja mais sofisticada, não há uma mais importante. A chamada
ideografia, que seria a “escrita do pensar” se dividiria em dois grandes grupos: as
iconografias – desenhos das imagens, caracterizados pela representação de ambientes e
elementos naturais ou artificiais; e as fonografias – as escritas da fala, caracterizadas pela
convenção de formas gráficas (impositiva ou natural) em um grupo social que permitam a
comunicação mesmo sem a presença do emissor.
Pode-se dizer, portanto, que a capacidade humana de lidar com os grafismos evoluiu
até a criação dos primeiros sistemas alfabéticos.

Philip Meggs (1983), em A History of Graphic Design, aponta a invenção


da escrita, a comunicação gráfica do antigo Egito e da Ásia, o surgimento do
alfabeto e, por fim, os manuscritos medievais como prólogos da atividade.
Somente durante o Renascimento, com a invenção de tipos móveis e da imprensa,
o design começa a delinear-se como um campo de atuação que requer
conhecimentos particulares (GRUSZYNSKI, 2008, p.15).

A invenção do tipo móvel aconteceu no século XV, mas, de acordo com Dondis
(1980), foi somente nos séculos XVII e XVIII que os impressores procuraram aperfeiçoar o
seu ofício, principalmente desenhando tipos, muitos usados até hoje, que carregam o nome
de seus criadores como Bodoni, Garamond e Calson. O designer gráfico como é conhecido
31

hoje começou a surgir a partir da revolução industrial do século XIX. “O artista gráfico e o
pintor de cavalete foram os que prestaram atenção aos processos de impressão recém
descobertos, para obter deles resultados criativos” 4 (DONDIS, 1980, p.186).
Ainda de acordo com Dondis, a profissão de grafista sofreu uma perda de interesse.
Posteriormente, quando o setor comercial voltou a dar destaque às técnicas, o grafista
passou a se especializar e os produtos impressos, a obter melhores resultados estéticos.

O antecessor do grafista foi um especialista do ofício que se costumava


chamar artista comercial, qualificado com certas conotações pejorativas.
Posteriormente, o designer gráfico foi resgatado de esta cidadania de segunda
classe a que haviam sido relegados pintores e críticos. Graças primeiro aos
esforços de William Morris e depois aos da Bauhaus5, apareceu uma nova atitude,
um interesse renascido pelas técnicas básicas de impressão e uma tentativa de
entender as possibilidades desses processos e a maquinaria necessária, a qual
acabou dando um novo aspecto aos materiais impressos6 (1980, p.187) [grifos do
autor].

Alan Weill concorda com a afirmação de Dondis, mas a analisa por um viés
econômico. Segundo ele, “O design gráfico nascerá a partir da revolução das artes
decorativas. Até o início do século XIX, a divulgação boca a boca era suficiente para uma
economia cuja produção correspondia mais ou menos a uma demanda limitada” (2010,
p.12). Ainda há, segundo Gruszynski (2008), alguns autores que creem que a atividade só se
instituiu formalmente quando seus profissionais passaram à condição de assalariados e que,
portanto, seria redundante afirmar que existe um design gráfico moderno.
Já Meggs acredita que, mesmo que o termo tenha surgido em 1922, ele tem uma
herança histórica.

Escribas sumérios, que inventaram a escrita, artesão egípcios que


combinavam palavras e imagens em manuscritos sobre papiros, impressores de
blocos chineses, iluminadores medievais e impressores e compositores do século
XV, que ilustram os primeiros livros impressos europeus, todos se tornaram parte
da rica herança e da história do design gráfico (MEGGS apud GRUSZYNSKI, 2008,
p.38).

Inclui-se, então, não só a história da impressão dos livros, mas também a dos
primeiros periódicos jornalísticos. De acordo com Sousa (2001), os primeiros jornais muito se
assemelhavam aos livros, mas com o passar do tempo foram ganhando identidade, como o

4
Tradução própria.
5
Bauhaus é o nome do centro de estudos alemão responsável pela afirmação do Estilo Internacional, um design
minimalista, que busca a universalização. Sua história ainda será tratada neste capítulo.
6
Tradução própria.
32

nome da publicação, aumento de número de colunas (ao invés de uma só, como no livro),
diminuição do corpo das letras e títulos grande para as notícias. Com a industrialização,
surgem novas ideologias e políticas e a necessidade de estar mais bem informado. Com o
crescimento da alfabetização e a concentração dos leitores na cidade, o que oferecia
melhores possibilidades de distribuição, há um aumento na procura dos jornais impressos. É
também graças à industrialização que a publicidade se aperfeiçoa e passa a ocupar espaços
dentro do jornal, obrigando-o a rever conceitos de composição visual a fim de que as
matérias não perdessem atenção para os anúncios.

Do movimento Arts & Crafts, fundado em 1861 por William Morris, na


Inglarerra, ao Art Nouveau na França e na Bélgica, que irá se transformar em
Jugendstil na Alemanha, é tudo parte de uma corrente que recusa aquela eterna
cópia de modelos viciados e preconiza um retorno à criatividade dos artesão da
Idade Média. [...] Essa concepção de Gesamtkunstwerk (obra de arte total) os leva
naturalmente a incluir a tipografia e o conjunto da arte publicitária em pé de
igualdade na sua universalidade (WEILL, 2010, p.14) [grifos do autor].

A inclusão de vários produtos nos movimentos artísticos possibilitou uma melhora no


aspecto visual das páginas impressas, a começar pelo livro, revolucionado por Eugène
Grasset, do Art Nouveau, que “[...] chega a uma construção global da página no qual o texto,
ilustração e motivos se fundem de maneira harmoniosa” (WEILL, 2010, p.20).

Ao contrário da maioria das correntes associadas ao movimento


modernista, o Art Nouveau não foi dominado pela pintura. Mesmo os pintores
mais estreitamente relacionados com este estilo – Tolouse-Lautrec, Pierre
Bonnard, Gustav Klimt – são identificados, no caso, por seus posters e objetos de
decoração. O Art Nouveau foi o primeiro movimento orientado exclusivamente
para o design. [...] O Art Nouveau é importante para o artista gráfico por causa do
estilo que fixa para a página impressa; por sua influência na criação de formatos
de letras e de marcas comerciais; por sua criação e primeiro desenvolvimento dos
modernos posters (HURLBURT, 1986, p.16).

Toda essa evolução, entretanto, só foi possível graças a um avanço tecnológico, a


litografia, criada no final do século XIX, que possibilitou aos artistas “[...] trabalhar
diretamente na pedra, sem as restrições retilíneas tradicionais na impressão tipográfica”
(HURLBURT, 1986, p.17).
Nos últimos anos do século XIX e no início do século XX, os ornamentos começaram a
ser questionados. Em 1898 surgiu a primeira revista de design gráfico, a Ver Sacrum, onde o
estilo se geometrizou e o branco foi inserido, possibilitando áreas de respiro nas páginas
(WEILL, 2010). A Alemanha revolucionou a tipografia, saindo dos góticos e chegando aos
33

sem serifa7, e os alemães se colocaram a serviço da indústria e da produção em massa.


Surgiram as primeiras agências de publicidade e a invenção do linotipo8, que diminuiu o
tempo e as pessoas necessárias para a impressão de uma revista e criou uma demanda por
novos caracteres.
Movimentos artísticos como o Cubismo, de 1907, o Futurismo, do mesmo ano, e o
Dadaísmo, de 1916, interagiram com o design e propuseram “[...] uma tipografia direta e
impactante, que tirasse proveito dos meios técnicos de reprodução” (FARIAS, 2000, p.20),
com o propósito de intensificar o conteúdo dos textos. “Despertou também os designers
para o fato de que o chocante e o surpreendente podem representar um importante papel
na superação da apatia visual” (HURLBURT, 1986, p.23).
Em 1915 surgiu o De Stijl, na Holanda. Com a intenção de criar uma visão universal,
abusou das letras sem serifa, das cores primárias e das linhas retas, com diagramações cada
vez mais puristas (FARIAS, 2000; WEILL, 2010). Logo após surgiu na Rússia o Construtivismo,
que pregava o design funcional, combinando imagens e palavras que influenciaram o
fotojornalismo (HURLBURT, 1986).
Por volta de 1919 foi criado um centro de estudo que viria a ser uma grande
influência na criação e profissionalização do designer gráfico. Apesar de não ter seu
destaque na produção impressa (o design gráfico só passou a fazer parte com a criação da
oficina de tipografia, em 1925), a Bauhaus teve grande repercussão neste tipo de produto e
possibilitou o posteriormente chamado Estilo Internacional.9

[...] a escola alemã fundada por Gropius foi a encruzilhada onde o design
se consolidou e tornou-se uma técnica a serviço do mercado consumidor. A partir
desse ponto a tarefa da Bauhaus de compor informação visualmente, foi
profissionalizada e penetrou lentamente nas redações das revistas e jornais (BICA,
2004, p.12).

Pregando um design totalmente funcional, com tipos sem serifa e até sem
maiúsculas, a Bauhaus buscava a universalização. O problema é que, ao padronizar letras e
grades em busca de maior legibilidade, ignorou costumes, tradições, linguagens e valores
culturais (GRUSZYNSKI, 2008, p.54)
7
Serifa é o prolongamento das hastes dos tipos (o pequeno e fino fio de remate). Os tipos sem-serifa não
possuem esse prolongamento.
8
Máquina de composição de páginas a partir da montagem de tipos fundidos por disposição em linha.
9
Ao citar uma palestra proferida pelo ex-diretor da Bauhaus Walter Gropius, Farias (2000, p.25) afirma que a
meta da escola não era propagar um estilo, mas exercer uma influência viva no design, revelando a crença de um
método de ensino que implicasse em influência estética.
34

Longe das vanguardas, mas sem ignorá-las, muitos criadores espalhados


na Europa trabalharão [sic] para a evolução da comunicação e do grafismo:
estilização, reduções em perspectiva, nova abordagem tipográfica formam a base
de um vasto movimento que constitui aquilo que hoje chamamos de Art Déco
(WEILL, 2010, p.59).

Segundo Hurlburt, assim como nos outros movimentos, é difícil avaliar com precisão
os efeitos da Art Déco no design gráfico, mas considera que a melhor contribuição do estilo
foi fornecer “[...] elegantes designs que faziam bom uso dos espaços em branco e das linhas
de composição amplamente entrelinhadas, não raro contrastando com pesados títulos em
negrito” (1986, p.33).
Foi nessa época do entre guerra e do início da Segunda Guerra Mundial que as
principais movimentações do design gráfico saíram do contexto europeu. Por motivos
políticos, muitos artistas e designers gráficos deixaram os seus países de origem e foram
principalmente para os Estados Unidos. Isso possibilitou à América, até então muito distante
das vanguardas, viver um nível mais alto de criação.
A interferência desse movimento no mercado dos impressos é clara. Criou-se a figura
do diretor de arte, principalmente a partir do desempenho de Alexey Brodovitch na revista
de moda Harper’s Bazaar. Como bem resume Andy Grundberg “Nenhum outro diretor de
publicação compreendeu tão profundamente o vínculo entre a diagramação e a experiência
temporal” (GRUNDBERG apud WEILL, 2010, p.81).
Como afirma Sousa (2000, p.347) “começou-se precisamente a falar com seriedade e
profundidade do design de imprensa nos anos trinta”. Contudo, a revolução nos veículos
impressos de comunicação não aconteceu de forma pacífica, porque muitos editores
acreditavam que tradição gráfica ajudava a moldar a autoridade da prática jornalística. No
Brasil, as “[...] transformações gráficas somente começaram a ocorrer a partir do final da
década de 40” (QUADROS, 2004, p.2), com destaque para o Jornal do Brasil.
Foi na fase de Odylo Costa Filho que o Jornal do Brasil reestruturou todos
os conceitos e padrões visuais, com a utilização de espaço e volumes, isto é, o
confronto do horizontal com o vertical: mistura de simetria com assimetria. Odylo,
juntamente com o escultor e artista gráfico Amílcar de Castro e Reinaldo Jardim,
criaram novo conceito [sic] visual gráfico na imprensa brasileira. Foi com a
revolução do desenho industrial que tornou a funcionalidade uma questão
estética e o jornal beneficiou-se diretamente com estes novos valores (SILVA,
1985, p.51).

Em linhas gerais, identifica-se a divisão do jornal em seções, a ancoragem gráfica


voltada para as fotografias e para os títulos e o império da assimetria. A partir da década de
35

60, vários jornais passaram a fazer experiências no desenho e na tipografia e o mercado de


comunicação explodiu (SOUSA, 2000, p.348-351). O advento da televisão na década de 50 foi
grande responsável pela reestruturação dos jornais impressos.
As portas se abriram para o design suíço, rigorosamente organizado por grades
tipográficas.

À exuberância americana se opõe o rigor helvético: o Helvética e o Univers


[famílias de tipos], aliados à fotografia, são as ferramentas desse novo
construtivismo [...] exportado maciçamente para os Estados Unidos, pois sua
limpeza e seriedade correspondem ao gosto das grandes empresas (WEILL, 2010,
p.91).

Em contrapartida é exercido, na Polônia, um design conceitual, simbólico e colorido,


de escrita manuscrita, difundido no mundo pela revista Projeckt, que estimulou um design
autoral pela Europa, mas que não sobreviveu sem o apoio estatal e some após a queda da
Cortina de Ferro (WEILL, 2010).
Contudo, produções criativas não aconteceram somente nos grandes centros
culturais. Os japoneses irromperam, na década de 70, com um classicismo moderno,
equilibrando elementos tradicionais em novas diagramações, cores vivas, colagens e
sobreposições, mas sem programar um estilo único.

Os japoneses logo perceberam que as imagens tradicionais e a simples


apresentação do produto que pretendem vender não funcionam para conquistar
um público jovem. É preciso atrair e surpreender com um universo que, quanto
mais louco, luxuriante e absurdo for, melhor funciona. A leitura que fazem é mais
sensível e subjetiva do que racional e objetiva (WEILL, 2010, p.115).

Também surgiu, nas décadas de 60 e 70, uma série de movimentos que têm em
comum uma cultura “underground” com uma tipografia posteriormente chamada de “new
wave” ou “swiss punk”. A tipografia, assim como outros conceitos desses movimentos, ia
contra os eventos tradicionais. Além de tipógrafos mais especializados que negavam o estilo
internacional, havia uma expansão de pequenas publicações alternativas de baixa tiragem,
os fanzines (FARIAS, 2000, p.26-28).

Dentro do princípio do do it yourself, cada pequeno grupo ou indivíduo


passou a produzir sua própria revista ou jornal, muitas vezes reciclando material já
impresso ou criando seus próprios desenhos, textos e diagramações,
freqüentemente sem nenhum treinamento específico anterior (2000, p.29,30)
[grifos do autor].
36

As imagens e as páginas passaram a ser produzidas em determinados contextos e


para públicos específicos. Nos jornais, houve um aumento de interesse pelos leitores e,
graças às novas tecnologias, intensificou-se a utilização expressiva da cor.

Em termos estritamente jornalísticos, a história do jornalismo visual é a


história das tecnologias que tornaram possível o visual como linguagem
informativa. Por esse motivo podem considerar-se quatro grandes avanços
tecnológicos relacionados com o visual nos meios de comunicação pública: a
gravura, a fotomecânica, o cabo e a digitalização (PELTZER, 1991, p.104).

A história do design vive hoje uma situação única, em que a época ou o lugar não são
marcados por similaridades estéticas ou por escolhas padronizadas a partir de uma
ideologia. Segundo Grusynski (2008), o momento atual, que se intitula de pós-moderno, está
marcado por algumas novas concepções do que é design gráfico, do que é legibilidade e de
qual é ou deve ser o papel do designer (artista, mediador ativo ou passivo). O que liga os
trabalhos pós-modernos é uma busca da desconstrução ou negação da crença moderna, que
foi justamente responsável por fixar o termo design gráfico. “Como, no entanto, a pós-
modernidade não tem um princípio dominante que subsuma as manifestações
heterogêneas, ela pode trazer, e traz, dentro de si, elementos modernos” (GRUSZYNSKI,
2008, p.69).

O caráter lúdico nas artes é o que dá início à fase pós-moderna e que, a


partir dos anos 60, abriga três principais temas, segundo Frederico Morais (1977):
Objeto, Conceito e Corpo. O Objeto de consumo de massa da sociedade industrial
[...] é o ícone privilegiado pela Pop Art. O Conceito, por sua vez, privilegia a idéia
como arte, usando meios de comunicação de massa como suporte e mediação,
dando origem à arte conceitual [...]. O Corpo, por outro lado, torna-se meio de
expressão e fundamento de toda expressão simbólica, amalgando a arte com
processos vitais, em performances destinadas à divulgação por impressos, filmes e
vídeos (CAUDURO, 2000, p.129).

A perda da pureza não é lamentada, de acordo com Gruszynski, “[...] mas se procura
a compreensão do significado cultural da condição híbrida” (2008, p.77). Esse contexto
específico em que estão sendo produzidos os trabalhos impressos muda os papéis
envolvidos. Agora, o receptor participa da produção de sentido.

Segundo o novo paradigma da semiótica pós-estruturalista, a recepção de


mensagens passa a ser um jogo hermenêutico, [...] os sentidos produzidos sempre
variam de acordo com as idiossincrasias e particularidades do sujeito predicante.
Caberia, pois, ao designer descobrir estratégias que permitissem suas
audiências participar desse constante jogo interpretativo (CAUDURO, 2000, p.132
e 133).
37

Porém, segundo Dondis, essa mudança e especialização se refletem muito na forma e


na função dos componentes visuais, mas não na técnica da construção estética. Passou-se a
dar uma grande importância para a imagem, mas não se criaram técnicas comuns de
produção e leitura das composições visuais.
Pode-se dizer que houve, na história do uso da linguagem humana, um ciclo. A
evolução da linguagem começou a partir de imagens, passando à pictografia, e então às
unidades fonéticas e, finalmente, ao alfabeto; mas hoje, há evidentes indícios da volta deste
processo à imagem, “[...] inspirado novamente na busca de uma maior eficiência” (DONDIS,
1980, p.20).10
A sociedade atual vive, então, como afirma a autora, um interesse a tudo que é
icônico, pela sua facilidade e rapidez de entendimento.

Nos meios modernos [...] Predomina o visual; e o verbal vem por


agrupamento. O produto impresso não morreu nem, seguramente, morrerá
jamais, mas nossa cultura, dominada pela linguagem, muda, perceptivelmente, em
direção ao icônico 11 (1980, p.19).

O design, portanto, passou a ter crescente importância nos últimos anos, quando se
passou a dar destaque a uma apresentação estética de qualidade.

[...] a tendência do jornalismo moderno é absorver novas tecnologias para


melhor apresentar o seu produto ao consumidor. É com essa preocupação cada
vez mais crescente, que o jornalismo impresso tem se calçar, não somente no
conteúdo, mas também no aspecto estético e morfológico da mensagem (SILVA,
1985, p.12).

Há um consenso de que essa evolução no design gráfico busca incansavelmente a


maior eficiência na transmissão da mensagem. O objetivo é facilitar, cada vez mais, o
entendimento rápido do seu conteúdo. O leitor deve logo descobrir onde estão as
informações de seu interesse, quais são os núcleos básicos da matéria (dados, entrevistas,
etc.) e de que maneira ele pode conseguir mais detalhes, se assim desejar.
Como afirma Robin Williams (2009, p.143), “Um leitor nunca deveria tentar descobrir
o que está acontecendo na página; o foco, a organização do material, o propósito, o fluxo de
informações deveriam ser reconhecidos instantaneamente, por um único olhar”.

10
Tradução própria.
11
Idem.
38

Dondis complementa: “O olho busca uma solução simples para o que vê e, ainda que
o processo de assimilação da informação possa ser longo e complicado, a simplicidade é
sempre o fim perseguido” (1980, p.50). E ainda Silva:

A preocupação do programador visual, e, conseqüentemente, sua tarefa


específica, é dar a tais mensagens a devida estrutura visual a fim de que o leitor
possa discernir, rápida e confortavelmente, aquilo que para ele representa algum
interesse (1985, p.43).

Nesse contexto, o design busca a eficiência sem deixar de lado o apelo estético.
Porém, essa busca não acontece de forma organizada ou uniforme e não há um estudo
aprofundado sobre técnicas de composição visual nem o entendimento mútuo de uma
alfabetização visual (visual literacy)12, como afirma Dondis.

Há uma grande variedade de fórmulas simples; fórmulas que proliferam nos


manuais. Porém, resultam ser unidimensionais, pobres e limitadoras, e não
representam a qualidade mais desejável dos meios visuais, seu ilimitado poder
13
descritivo e sua infinita variedade (1980, p.205 e 206).

O designer passa por vários desafios, tanto na concepção de sua profissão e de seu
papel como durante a elaboração de um trabalho. Ele deve tirar máximo proveito dos
recursos que lhe são disponibilizados pela evolução tecnológica, sem deixar para trás
princípios modernos, mas funcionais para diversas culturas. E entre os seus desafios está o
de construir um produto que seja atrativo visualmente, mas que não deixe de ser,
principalmente, o mais legível possível. É justamente esta questão do capítulo seguinte:
entender o conceito de legibilidade.

1.2 LEGIBILIDADE, O PONTO CENTRAL

Assim como debateu o conceito de design gráfico, este trabalho se propõe a discutir
o que é legibilidade. Essa decisão deve-se uma discordância que existe entre autores que ou
diferenciam ou têm como mesmo significado as definições de legibilidade e leiturabilidade.
Esta pesquisa entende que a conceituação resumida por Heitlinger (2007) é a mais
apropriada (e a que será aplicada no decorrer do trabalho de análise): legibilidade (ou

12
O termo, que será explicitado na seção 2.2, define uma área de conhecimento a ser criada e desenvolvida como
forma de aprendizagem de leitura e construção de formas visuais.
13
Tradução própria.
39

legibility) diz respeito à percepção visual, enquanto que a leiturabilidade (ou readability) é a
compreensão intelectual do discurso.
Silva concorda com estes conceitos:

Segundo H. Barranco, no texto escrito o problema da legibilidade pode ser


conceituado como um simples ato formal, isto é, qualquer pessoa alfabetizada
estará em condições de ler o texto. Entretanto, nem sempre a legibilidade do
texto corresponde à leiturabilidade do mesmo, ou seja, a capacidade entendê-lo e
interpretá-lo (1985, p.32).

A definição de Ana Cláudia Gruszynski, em entrevista à Ana Elisa Ribeiro e publicada


no periódico cultural Letras, complementa:

Uma vez que as letras são signos que representam convencionalmente sons
da linguagem verbal, sua função primária é remeter a uma imagem mental
padrão, reconhecível como tal pelo leitor. Isso identificamos diretamente com o
que comumente se afirma como legibilidade (GRUSZYNSKI, 2010, p.14).

Resumindo a ideia, legibilidade envolve o fácil reconhecimento das letras e um


ambiente visual que permita uma leitura rápida e tranquila, entendimento comum entre os
autores. Gruszynski, entretanto, crê que ambos os termos legibility e readability dizem
respeitos a essas dificuldades, de formas distintas:

O vocabulário técnico mantém – em língua inglesa14 uma distinção entre


readability e legibility. A primeira refere-se à facilidade de ler textos extensos;
associa-se, portanto, ao arranjo dos tipos. A segunda diz respeito a seu rápido
reconhecimento, sendo relacionado a textos curtos e, assim, ao design dos tipos
(2008, p.33).

Essa diferenciação será adotada por este trabalho, com as denominações dadas por
Heitlinger (2007), que define como microtipografia o desenho das letras e de seus detalhes e
a macrotipografia como a disposição das palavras, linhas, colunas, páginas e hierarquia dos
conteúdos. Fica claro então, que se permanece com a definição de legibilidade dada pelo
próprio Heitlinger e também utilizada em outros textos, como em Ribeiro (2009, p.5), ao
explicar que, para os designers, o conceito de legibilidade “[...] é fundado não na estrutura
do texto (sintaxe, canonicidade silábica, propriedade vocabular, etc.), mas na forma como
ele é disposto e organizado na página”; e também em Hoeltz: “em sentido restrito, essa

14
Embora seja comum no vocabulário técnico, a distinção não é unânime entre os autores. De acordo com Farias
(2000, p.76), o Oxford English Dictionary define legible como algo claro para ser lido, de fácil decifração,
enquanto que readable seria aplicado geralmente ao gênero literário por ser fácil ou agradável de ler por ter um
estilo aprazível.
40

legibilidade depende da maneira como se dispõem os caracteres [...] em amplo sentido,


porém, tal disposição deve combinar-se à própria organização da página” (ARAÚJO apud
HOELTZ, 2001, p.3).15
O que influencia, então, a legibilidade? De acordo com Heitlinger (2007), há um
consenso entre pesquisadores de que a legibilidade de diferentes tipos é muito influenciada
pelo layout escolhido para a página (2007). Quais elementos fazem parte do layout?
Imagens, blocos de textos, elementos gráficos como linhas e quadros e escolha e disposição
da tipografia (o tamanho e as características da letra, o espaço entre letras – tracking -, o
espaço entre linhas – leading - e entre pares de caracteres – kerning). Gruszynski (2008) faz
contribuição semelhante:

O conceito de tipografia envolve igualmente outros elementos,


especialmente a legibilidade. Entende-se pelo termo as qualidades e atributos
inerentes à tipografia que possibilitam ao leitor reconhecer e compreender as
formas e o arranjo dos tipos com maior facilidade. Os principais elementos
envolvidos nas questões sobre legibilidade – convenções tipográficas e
familiaridade do leitor com tipos – são:
1. presença ou não de serifa;
2. características particulares do design da fonte;
3. composição em letras maiúsculas, minúsculas ou maiúsculas/ minúsculas;
16
4. espaço entre letras (kerning) ;
5. espaço entre palavras;
6. espaço entre linhas (leading);
7. extensão da linha (largura a coluna);
8. alinhamento dos parágrafos;
9. relação figura (elemento tipográfico) e fundo (2008, p.31 e 32).

É possível perceber dois itens essenciais ao falar de legibilidade. O primeiro, a


tipografia, “personagem principal”, já que se trate de facilidade e rapidez de leitura. O
segundo são as convenções tipográficas, ou seja, os meios culturais e sociais em que está
inserida a composição da página a ser lida. Essas devem ser as principais preocupações
necessárias ao designer para compor uma página.

Já foi dito antes e deveria ser dito de novo: a tipografia é a infra-estrutura


do design gráfico, a própria base da comunicação visual. Um pôster que comunica
sem palavras é uma raridade. Toda propaganda, todo design de informação
depende de palavras (HENRION apud GRUSZYNSKI, 2008, p.16).

15
O conceito de leiturabilidade de Heitlinger também pode ser encontrado em outros textos, como Borges (2010,
p.9), que o define como capacidade de entender e interpretar o texto.
16
Como há uma confusão entre os autores quanto à definição de kerning e tracking, devido à falta de
detalhamento, cabe aqui esclarecer que ambos os conceitos dizem respeito ao espaço entre caracteres. O kerning
é mais específico: ele define espaços entre pares determinados de caracteres, como “VA”. O tracking aplica o
mesmo espaço para um grupo de letras na página.
41

Mesmo que o termo tipografia seja de amplo conhecimento na área, vale lembrar
aqui algumas definições. Segundo Silva (1985, p.71), a tipografia comunica uma informação
por meio da letra impressa. Os tipos (palavra que deu origem ao termo tipografia) são todos
os caracteres: letras, números e sinais de pontuação. Farias define tipografia como “o
conjunto de práticas subjacentes à criação e utilização de símbolos visíveis relacionados aos
caracteres ortográficos (letras) e paraortográficos (tais como números e sinais de pontuação)
para fins de reprodução” (2000, p.15 e 16).
Já o termo fonte, segundo Silva, designa um conjunto completo de caracteres, com
letras minúsculas e maiúsculas, sendo todos com o mesmo tipo de desenho. “O
agrupamento de todos os tamanhos dos caracteres, reunindo a variação de estilos de um
desenho de tipo (romanos, itálicos, negritos, largos, condensados e outros), recebe o nome
de família de tipos” (1985, p.72) [grifos do autor].

Embora o termo original, ligado às práticas mecânicas, derive do latim


fundere (fundir), este termo parece se adequar perfeitamente às novas
tecnologias por invocar não uma matriz absolutamente fixa e concreta, mas sim
um lugar – um arquivo digital – de onde ‘emana’ um conjunto de instruções capaz
de construir um caractere para o qual podemos estabelecer, através de programas
de manipulação de tipos, parâmetros diversos (FARIAS, 2000, p.16) [grifos do
autor].

Um dos maiores desafios do designer de informação é trabalhar com o principal


veículo: a palavra. E este papel se reflete, entre outros fatores, nos tipos escolhidos para
compor uma página. A falta de preocupação com a legibilidade é um dos principais
problemas do design.

A tipografia sempre foi o principal elemento da página impressa. Hoje em


dia, sob o peso crescente de uma saturação visual e conseqüente ênfase em
relação aos conceitos verbais, a tipografia atinge o seu ponto de mais alta
propriedade do mundo do design. Isso não impede, todavia, que um
surpreendente número de designers gráficos encare a tipografia como um mal
necessário, havendo mesmo muitos layouts onde as palavras ocupam claramente
um segundo plano (HURLBURT, 1986, p.98).

O principal expoente de culto à legibilidade surgiu com os movimentos racionalistas


como a Bauhaus, que tentaram universalizar os tipos, procurando letras facilmente
decifráveis e que respeitassem o leitor. Com estes movimentos, as letras sem serifa
passaram a ganhar destaque. O problema é que essa universalização pode ir de encontro a
outros fatores que influenciam a legibilidade, como os fatores sócio-culturais. O ocidente,
por exemplo, está acostumado a tipos serifados em textos longos. Isso também se reflete na
42

preferência pelo ângulo superior esquerdo: um favoritismo que, acredita-se, deve-se aos
hábitos ocidentais de impressão e de leitura, que acontece da esquerda para a direita.

Assim como a visão instintivamente se desloca com rapidez em diagonal


para o lado inferior oposto, a rota básica da vista se projeta do lado superior
esquerdo para o lado inferior direito. Para isso o diagramador terá o cuidado de
preencher as zonas mortas e o centro ótico da página com aspectos atrativos para
que a leitura se torne ordenada, com racionalidade, sem o deslocamento brutal da
visão (SILVA, 1985, p.48).

Segundo Dondis, o modo como as coisas são vistas está geralmente programado
pelos costumes sociais (1980, p.24). Gruszynski dá um exemplo mais prático ao discorrer
sobre o comportamento da criança quando aprende a escrever, embaralhando palavras, ou
colocando-as fora de linha ou espelhadas: “São erros? Sim, mas não deixam de revelar que a
escrita está assentada em regras convencionais, [...] que à força de repetição e insistência
até a maturidade, o sujeito passa a considerar como naturais” (2008, p.79).
Há também a finalidade da leitura:

Há muitas formas diferentes de ler, ligadas a objetos de leitura bastante


variados. Pode-se ler para pesquisar, para estudar, para informar-se ou para
descansar. [...] A leitura de listas telefônicas e de dicionários é evidentemente
diversa, quando ao modo, da leitura de um jornal, e um romance, igualmente,
exige um modo próprio, peculiar, de leitura (UNGER apud GRUSZYNSKI, 2008,
p.62).

Adotam-se, então, uma série de convenções que, a partir de seu aprendizado,


facilitam a leitura das composições visuais, tornado-as legíveis. Uma composição para um
determinado público se torna mais legível e mais cheia de significado se for produzida com a
preocupação das especificidades deste público e do significado que deve conter essa
composição.
Além dessa preocupação com o significado e com uma composição mais atraente, as
possibilidades tecnológicas colocaram o designer em uma posição de destaque dentro das
empresas de comunicação e grandes diretores de arte trouxeram suas contribuições na
revolução da página impressa (como já observamos neste trabalho). O problema é que
muitas produções que vieram depois dessa revolução, principalmente na pós-modernidade,
tornavam-se ilegíveis.
Como afirma Gruszynski (2008), o design que chama a atenção para si mesmo é
defeituoso, pois cria uma barreira à leitura por exigir decifração.
43

Os autores não são mais figuras de autoridade. Diretores de arte e designers


de tipos, mantidos por muitos anos numa posição subordinada, tomaram conta e
reivindicaram a autoria da página. A revolução eletrônica deu-lhes vantagem. A
vitória deixa o que restou de nós examinando o naufrágio visual – manchetes
emaranhadas, letras borradas, citações flutuantes e imagens aflitas – e incapazes
de descobrir do que trata um artigo. [...] Este meio ilegível é a nova mensagem
(VIENNE apud GRUSZYNSKI, 2008, p.12).

Entre essa discussão fica a dúvida de como construir composições que sejam
eficientes. Heitlinger responde com uma regra geral, ao citar Stanley Morison em First
Principles of Typography: qualquer disposição que se interponha entre o autor e o leitor é
incorreta, não importando a intenção (2007, p.20).

Em sua precipitação de interpretar e em suas ocasionais excitações


expressionistas, a nova tipografia nega ao leitor a oportunidade de experimentar o
texto por si próprio. Fica parecendo como se alguém estivesse de pé sobre o seu
ombro enquanto você lê, sublinhando certas passagens, colocando outras em
itálico, resmungando a respeito de outras ainda (FENTON apud GRUSZYNSKI, 2008,
p.95).

Toda essa discussão acerca das composições visuais, entretanto, traz relevante
contribuição ao se observar, novamente, o conceito de legibilidade, mas, diferentemente
dos racionalistas, com uma visão mais madura e ampla dos fatores que dele participam.

[...] é interessante notar que, com as tecnologias que dispomos atualmente,


qualquer conjunto de formas – alfabéticas ou não – pode ser facilmente
transformado e distribuído como um arquivo de fonte. Se por um lado estas
facilidades tecnológicas deram mais liberdade e poder ao designer, elas também o
colocaram no meio de um labirinto de possibilidades praticamente infinitas em
relação às formas das letras e sua manipulação na página, o que explica o
crescente interesse pela tipografia e a retomada das polêmicas em torno de seu
clássico paradigma: a legibilidade (FARIAS, 2000, p.64).

A preocupação e a busca por uma eficiente legibilidade mostram-se como princípio


básico na composição de um produto jornalístico impresso. Para que ela seja alcançada,
tanto jornalista quanto designer devem entender sua importância e conhecer os fatores que
lhe influenciam. Com o intuito de ajudar nessa meta, será apresentada a seguir uma rápida
visão sobre a teoria psicológica de percepção visual Gestalt.

1.2.1 Psicologia Gestalt aplicada à composição visual

Dentro dos vários conceitos que se devem conhecer para analisar a composição
visual, tem-se nos estudos psicológicos da Gestalt um dos mais importantes e
44

revolucionários. Isso se deve ao fato do movimento gestaltista ter desenvolvido uma teoria
que envolve a fisiologia do sistema nervoso e a relação sujeito-objeto ao modo como a
forma é concebida, opondo-se ao subjetivismo.

O movimento gestaltista atuou principalmente no campo da teoria da


forma, com contribuição relevante aos estudos da percepção [...]. A teoria da
Gestalt, extraída de uma rigorosa experimentação, vai sugerir uma resposta ao
porquê de umas formas agradarem mais e outras não. [...] Como curiosidade, cabe
acrescentar ainda que o termo Gestalt, que se generalizou dando nome ao
movimento, no seu sentido mais amplo, significa uma integração de partes em
oposição à soma do “todo”. É geralmente traduzido em inglês, espanhol e
português como estrutura, figura e forma (GOMES FILHO, 2003, p.18).

Entende-se, então, que a Gestalt fala de um princípio de organização perceptiva, da


constituição do todo a partir das partes, sendo deste modo que realizamos a visualização
dos mais diversos objetos, ambientes e contextos. Desde o primeiro olhar posto na página, o
que se vê e o que o cérebro percebe, não se assemelha a um processo fotográfico (como
acontece na retina), mas constitui “[...]uma operação que consiste em reunir e ajustar as
informações visuais e compará-las com o vasto mosaico de nossas imagens mentais” (SILVA,
1985,p. 25).
A percepção visual, portanto, além de global (porque percebe o conjunto como um
todo) é única para cada indivíduo e para cada momento e ambiente, já que “Não vemos
partes isoladas, mas relações. Isto é, uma parte na dependência de outra parte. [...] as partes
são inseparáveis do todo e são outra coisa que não elas mesmas, fora desse todo” (GOMES
FILHO, 2003, p.19).
A psicologia Gestalt também vem a somar esforços com outro conceito que veremos
mais adiante, o de visual literacy, pois, como observa Gomes Filho (2003), seria ideal que
todos compartilhassem de uma educação visual para que melhor compreendessem como
funciona a percepção visual e o motivo de se ter diferentes reações a distintas mensagens
visuais e em variadas situações.
Para entender como formam-se e percebem-se as mensagens visuais, Gomes Filho
apresenta sete princípios básicos que regem as chamadas Forças Internas de Organização
(segregação, unificação, contraste, fechamento, boa continuação ou continuidade,
proximidade e semelhança), além de um último princípio, que englobaria todos os outros, a
“[...] pregnância da forma ou força estrutural. Segundo esse princípio, as forças de
organização da forma tendem a se dirigir tanto quanto o permitem as condições dadas no
45

sentido da clareza, da unidade, do equilíbrio, da Boa Gestalt, enfim” (GOMES FILHO, 2003,
p.24). Ou seja, “um objeto com alta pregnância é um objeto que apresenta um máximo de
equilíbrio, clareza e unificação visual, e um mínimo de complicação visual na organização
visual de seus elementos ou unidades compositivas” (2003, p.36).
Os outros princípios básicos descritos por Gomes Filho vão se revelar como
influenciadores de manuais para criar um bom design. A segregação é “[...] a capacidade
perceptiva de separar, identificar, evidenciar ou destacar unidades formais em um todo
compositivo ou em partes deste todo” (2003, p.30). A unificação se manifesta em
características presentes na composição que informam ou evidenciam que diferentes
subáreas ou partes formam um todo único. O contraste é a evidência de certos elementos
em contraponto a outros, podendo ser por cores, tamanhos, distâncias, entre outros. O
fechamento é a direção de formas em uma ordem espacial que dão a noção de uma unidade
fechada. A continuidade é a fluidez que busca a forma mais estável estruturalmente. A
proximidade posiciona elementos da composição que tenham algum tipo de relação e, por
fim, a semelhança serve de apoio para identificar elementos participantes do todo, mesmo
que em espaços diferentes.
A Gestalt surgiu de uma série de pesquisas que tiveram como resultado uma teoria
que modificou a ideia que se tinha da forma como o ser humano realizava a percepção das
imagens e, consequentemente, ajudaram a enriquecer o campo de pesquisa em legibilidade.
Algumas pesquisas contribuíram para o entendimento das características da legibilidade e
serão vistas a seguir.

1.3 LEGIBILIDADE NA COMUNICAÇÃO: O ESTADO DA ARTE

Há vários estudos atuais17 que procuram obter informações sobre os mais variados
produtos em que a legibilidade é importante fator no processo de consumo: jornais, revistas,
livros didáticos e livros infantis, sites na web, cartazes, papelarias (os produtos impressos
padronizados de uma empresa, como cartões de visita e papéis de carta), entre outros.
A história da pesquisa tipográfica é recente se comparada a outros estudos sobre
composição visual (como o das cores, por exemplo), mas já encontra bastante referência
17
Não há maneira de citar todas as pesquisas que tratam de legibilidade, ou que se relacionam à composição
visual. Algumas delas, entretanto, foram consultadas, mas não utilizadas no corpo deste trabalho, e suas
referências podem ser encontradas neste trabalho, em “Obras consultadas”.
46

quando se busca especialização nos detalhes das letras. Entretanto, a aplicação dessa
tipografia em produtos que são consumidos diariamente entre os leitores, como as revistas,
carece ainda de muita análise – algo facilmente perceptível em publicações recentes, que
visivelmente dão grande importância ao aspecto estético e acabam por traçar obstáculos a
uma leitura fácil e rápida, que mantenha o foco de atenção do leitor pelo tempo adequado
para que ele entenda e absorva o texto.
De acordo com Paulo Heitlinger, o estudo da legibilidade começa no final do século
XIX, com a pesquisa The Relative Legibility of the Small Letters, de 1888. "Mas só em 1928 é
que Miles Tinker e Donald Paterson estudaram a rapidez de leitura em função da tipografia
usada” (TINKER apud HEITLINGER, 2007, p.19).
Priscila Farias, entretanto, data o início das pesquisas em legibilidade quase cem anos
antes. Segundo ela, um dos primeiros testes de legibilidade foi realizado na França, em 1790,
por Jean Anisson. Tratava-se de duas páginas impressas compostas em tipos diferentes, uma
com a Didot (moderno) e outra com a Garamond (antigo), lidas a distâncias cada vez
maiores, e se conclui que os tipos antigos podiam ser lidos a distâncias maiores e, por isso,
seriam mais legíveis (FARIAS, 2000, p.65).
Já os próximos estudos apontados por Farias acontecem no final do século XIX. Um
deles, do oftalmologista francês Emile Javal, feito em 1879, demonstrou que “a metade
superior de uma palavra é lida muito mais facilmente do que sua metade inferior” (2000,
p.66). Nessa mesma época, a autora ainda cita mais dois outros estudos.

Através de uma série de estudos científicos sobre legibilidade conduzidos


entre 1885 e 1886, James Mckeen Cattel demonstrou, entre outras coisas, que o
aparato visual humano pode identificar uma palavra inteira tão rápido quanto
uma letra, e que um texto coerente é lido com muito mais rapidez que uma série
de palavras combinadas ao acaso (FARIAS, 2000, p.67).

Em outra pesquisa, de 1898, foi verificado que pessoas conseguiam reconhecer


palavras em corpos tão pequenos que não podiam ser identificados. Também se chegou à
conclusão de que as proporções e contornos de cada palavras são mais importantes do que
os caracteres no processo de leitura “[...] e que a percepção de palavras e letras ocorre
somente durante as pausas de fixação que se alternam à movimentação de nossos olhos ao
longo de um texto” (FARIAS, 2000, p.67).
Desde então, a preocupação com a velocidade de leitura que os tipos poderiam ser
capazes de possibilitar ao leitor tornou-se tema de muitos estudos e resultou na construção
47

das mais variadas fontes especificamente para uso em jornais, revistas, livros didáticos e,
posteriormente, feitas especialmente para serem vistas no monitor.
No Brasil, entretanto, há uma grande lacuna na área da pesquisa em legibilidade, que
só vem sendo preenchida nos últimos anos, como aponta Mario Caramillo Neto na
introdução do livro Projeto gráfico: teoria e prática da diagramação, de Antonio Celso
Collaro: “Pouco temos, em língua pátria [sic], trabalhos dessa natureza. Na área de
diagramação, quase todos os trabalhos conhecidos foram traduzidos ou adaptados de
trabalhos estrangeiros, hoje refletindo fórmulas e conceitos aplicados nos países de origem”
(2000, p.9).
Farias aponta alguns motivos:

Devido à falta de uma tradição tipográfica sólida – apenas no início do


século XIX foram concedidas licenças para o funcionamento de oficinas
tipográficas no Brasil -, existem, na língua portuguesa, notáveis lacunas no
vocabulário utilizado para falar sobre design gráfico, e principalmente sobre
tipografia (2000, p.15).

Também é Farias a observar que os experimentos realizados possuem, em comum, o


fato de concluírem que “o processo de percepção de letras ou palavras é compreendido
como algo que envolve o reconhecimento e identificação de padrões visuais” (2000, p.68). E
Heitlinger (2007) contribui ao falar sobre a influência do layout na legibilidade. Segundo ele,
há um consenso entre pesquisadores de que a legibilidade de diferentes tipos está
fortemente ligada ao layout eleito para a composição da página (largura de colunas e,
conquentemente, número médio de caracteres por linha; tamanho ou corpo do tipo; espaço
entre letras, palavras e linhas).
Uma consideração a ser feita é que estas pesquisas são realizadas pelas mais variadas
áreas de conhecimento, além do design. Isso traria mais contribuição ao debate se não fosse
o fato de que, dificilmente, essas áreas de conhecimento compartilham e discutem os seus
resultados.

Embora a metodologia deste tipo de experimento tenha sofrido diversas


modificações com o passar dos anos, pesquisas sobre a legibilidade são
freqüentemente vistas com desconfiança por designers gráficos e tipógrafos. [...]
Se, por um lado, muitos tipógrafos preferem contar unicamente com a intuição e o
bom senso para resolver seus problemas práticos, por outro, muitos dos
pesquisadores em legibilidade (oftalmologistas, fisiologistas, psicólogos, cientistas
da computação, etc) tendem a dividir opiniões e resultados unicamente com suas
próprias comunidades científicas (Farias, 2000, p.66).
48

Entre os pesquisadores – aqui estudados - que mais buscam entender (e melhorar)


aspectos do discurso gráfico e da legibilidade de meios impressos, um dos destaques é Mario
Garcia. Seus estudos, entretanto, geralmente levam em conta somente o jornal. Interessante
observar alguns resultados de um estudo laboratorial de Garcia, Stark e Miller, de 1991,
citado por Sousa (2001, p.378-381), que também podem ser usados ou adaptados para a
análise de revistas.
Segundo esse estudo, os leitores não “entram” na página pelo canto superior
esquerdo, mas pelo mais poderoso ou atrativo elemento gráfico e o que olhar percorre a
página por meio dos elementos gráficos, ou da “força” gráfica, geralmente passando o olhar
da direita para a esquerda, e não da esquerda para a direita, como na leitura.
Os autores também concluíram que as duas páginas de uma publicação que se abre
são vistas como uma única unidade e que os elementos textuais mais processados são
aqueles mais curtos e com tipos grandes, como os títulos e os destaques, além do início de
textos longos. A utilização de texto colorido ou negativo não leva a mais processamento,
mas o uso de um background vermelho tende a gerar mais leituras em profundidade. E cerca
de 70% dos pesquisados processam os infográficos.
Além desses resultados, Sousa (2001) cria um inventário de elementos gráficos que
dificultam a legibilidade de jornais e revistas. Entre suas considerações, podemos destacar:
fonte muito grande ou muito pequena ou com pouco espaço entre letras; colunas estreitas
(menos de 35 caracteres por linha) ou largas demais (mais de 65); pouco espaço entre linhas;
texto sobre trama negra ou colorida (que podem ter, no máximo, 20% de densidade); texto
com muitos ou sem intertítulos; dispersão de elementos e textos por várias páginas e/ou
direções; a quebra de colunas (também chamada de denteamento); inexistência de
separação espacial; e elementos imagéticos muito pequenos, impossibilitando a percepção
dos detalhes.
A partir dessas pesquisas, percebe-se que “Parâmetros como o tamanho da página, a
sua cor, a textura e o brilho do papel, a mancha gráfica, o número e a largura das colunas, os
espaços, afectam [sic] a leitura do texto tão fortemente como as características micro-
tipográficas” (WROLSTAD apud HEITLINGER, 2007, p.20).
Entre os trabalhos atuais, pode-se perceber, em geral, a repetição ou a confirmação
de muitos destes conceitos, mas é sempre interessante buscar neles informações. Além de
analisar produtos comerciais de interesse de certos públicos a partir desses parâmetros,
49

muitas dessas pesquisas apontam novas tendências e estudam relações de outros ou novos
elementos com a legibilidade, com o discurso gráfico ou com a linguagem visual, como o uso
de infográficos e a convergência de mídias. Também existem pesquisas que tratam dos
aspectos do projeto gráfico, tema do capítulo seguinte deste trabalho.
50

2 O PROJETO GRÁFICO EM REVISTA

Conforme se aprofunda a conceituação da legibilidade, pode se perceber de forma


cada vez mais clara a relação entre o design e sua influência no campo jornalístico. A partir
deste capítulo essa relação se mostra ainda mais estreita. Procurando fazer, mais uma vez,
uma discussão de conceitos de vários autores, este capítulo pretende se aprofundar e
especializar dentro do campo do design de impressos, voltando o olhar ao projeto gráfico
das revistas (as coordenadas de posição e configuração de todos os elementos gráficos,
como vinheta, títulos, uso de cor e grid) e como os projetos como conhecemos hoje
surgiram.
Primeiro, deve-se sintetizar e esclarecer os elementos constituintes do discurso
gráfico de uma revista, ou seja, que tipo de linguagem visual ela se utiliza e por quais
elementos. Entender como e a partir de quais decisões cria-se um produto com hierarquia
visual que ajudará o leitor a entender a organização da revista, para que ele possa fazer uma
leitura continuada e para que possa tomar os caminhos que lhe forem mais cômodos, lendo
com mais atenção e/ou primeiro o que lhe parecer mais interessante e da forma como lhe
for mais aprazível.
O responsável por esclarecer as coordenadas visuais e de uma revista é o discurso
gráfico. É ele também que cria, em conjunto com o hábito, uma identidade visual que se
percebe em toda a revista (e principalmente na capa) que a diferenciará de suas
concorrentes e se voltará para o público leitor alvo.
Depois de entender o discurso gráfico, se estudará o conceito de Dondis sobre a
Visual Literacy, para que possa compreender como o olho e o cérebro humano percebem o
conjunto visual de um produto, segundo um emaranhado de hábitos pré-estabelecidos de
acordo com a educação visual, a sociedade a que pertence o ser humano e os costumes a
que ele são impostos.
Finalmente, se verá como se constrói o hábito de leitura dos diferentes públicos e
como e por que a revista foi se diferenciando de outros produtos jornalísticos.

2.1 ELEMENTOS DO DISCURSO GRÁFICO


51

Vive-se um momento, no design de notícias, propício à discussão do discurso gráfico


de um produto jornalístico impresso. Isso acontece porque há um movimento de mutação
dos produtos impressos no que tangem os projetos gráficos e/ou identidades visuais.
Embora jornais e revistas tenham passado, ao longo dos anos, por melhorias na sua
apresentação visual, não houve antes um conjunto de mudanças nos mais diferentes tipos
de produtos impressos como está acontecendo atualmente.
Entre os motivos dessa tendência está a especialização do setor de arte, as
facilidades tecnológicas disponíveis e a necessidade de agradar um leitor cada vez mais
exigente e que pode buscar informações nos mais variados meios (geralmente, por um custo
mais baixo). Essas mudanças, entretanto, nem sempre buscam ou conseguem uma melhora
no aspecto visual e organizacional de um produto impresso. Como apontou Santos (2010,
p.1), “o perigo está no deslumbramento diante das modernas possibilidades. Novos
paradigmas devem ser trabalhados sem que se comprometa a identidade visual do veículo
impresso”.
Outro problema de se modificar a identidade visual ou o projeto gráfico de um
produto impresso está no fato de que não faz muito tempo que a maioria dos jornais e
revistas programaram de forma eficiente este hábito. Um estilo gráfico ou “um sentido de
18
continuidade gráfica em todo o jornal” (GARCIA apud BICA, 2004, p.17) vem sendo
observado somente a partir da década de 70. Embora já existam tradições, muitos produtos
ainda não se destacam de forma tão eficiente entre os concorrentes para que possam
realizar mudanças sem perder a relação de respeito com a vontade do leitor. E essas
mudanças não são tocantes apenas à logo ou aos tipos e cores usados por uma publicação,
mas ao modo como essa publicação dispõe o conteúdo jornalístico.
Pode-se, então, perceber que jornalistas e designers devem entender o que é e como
aplicar de forma eficiente o conceito de discurso gráfico. Segundo Silva (1985, p.13)
“discurso gráfico vem significar o conjunto de elementos visuais de um jornal, livro, revista,
cartaz ou tudo que seja impresso”. 19
Como previu Mario Garcia em 1984,

Nunca houve, em comparação a hoje, maior demanda de jornalistas capazes


de combinar as disciplinas jornalísticas com as de confecção – conhecimentos

18
Tradução própria.
19
É válido acrescentar que entre os elementos visuais está a mancha ou a área ocupada pelo texto.
52

tipográficos, capacidade para fazer que uma série de elementos aparentemente


desconexos entre si apareçam unificados e de fácil leitura – e essa demanda
20
continuará aumentando nos próximos dez anos (GARCIA apud BICA, 2004, P.17).

É a escolha e a disposição destes elementos que determina o discurso gráfico de uma


publicação jornalística. “A partir daí o arranjo gráfico passa a atuar como discurso; e como
discurso, possui uma linguagem específica e uma rede encadeada de significação” (SILVA,
1985, p. 40). Diz respeito, portanto, a um conjunto de decisões que devem ser bem
planejadas, levando em conta a identidade, o público e a linha editorial do produto (no
projeto gráfico) e a significação buscada pelo jornalista (ao criar o design da página da
matéria).

Nenhum elemento gráfico deve estar presente na página se não tiver uma
função comunicativa. Nenhum elemento deve gerar dúvidas ou contradições, a
não ser que esta seja uma condição para compreensão da informação (FREIRE,
2006, p.7).

Todos os elementos gráficos são, portanto, constituintes do discurso gráfico. Ao


escolher esses elementos, tanto os mantidos pelo projeto quanto os exclusivos de cada
matéria, interfere-se diretamente na mensagem da página. Segundo Freire (2006, p.7), “as
regras discursivas do jornal estão estabelecidas pelo projeto gráfico” que explica como e
quais serão os elementos a serem utilizados. O autor cita como elementos desse discurso
“tipologia, filetes (linhas), harmonia de cores, infografias, fotografias, divisão do espaço
compositivo” (FREIRE, 2006, p.7).
Santos (2010) traz contribuição semelhante ao citar tipos, fotos, charges e espaço em
branco, entre outros, como partes da identidade do impresso que influenciará na maneira
da transmissão das notícias.
Estes são alguns exemplos, dentre outros autores pesquisados, que ajudam a definir
certa equivalência entre os significados dos elementos, embora não exista concordância de
exatidão entre os termos. Para fins desta pesquisa, utilizar-se-ão as seguintes
nomenclaturas.
Cores: além de chamar a atenção para certos elementos ao criar áreas de contraste,
as cores utilizadas nas páginas, nos títulos, nas vinhetas, para citar alguns, criam ambientes
que, em geral, transferem uma reação a algum tipo de sentimento. Segundo Collaro (2000,
p.76) as cores transmitem sensação de movimento “O amarelo se expande e invade o
20
Tradução própria.
53

espaço que o circula. [...] O magenta é o equilíbrio, sem criar movimento. O cian tem a
propriedade de criar profundidade e distância”.
Segundo Williams (2009, p.164), cores quentes comandam a atenção enquanto que
as cores frias desaparecem gradualmente. Ainda segundo Collaro (2000, p.74 e 75), há no
ocidente um consenso de sentimentos que podem ser despertados pelas cores: preto =
morte, elegância; violeta = misticismo; cinza = tristeza, angústia; cinza escuro = sujeira;
vermelho = força; púrpura = riqueza; cereja = sensualidade; verde = estabilidade; rosa =
intimidade, feminilidade; laranja = radiação; azul = profundidade, introversão; branco =
pureza; marrom = realismo.
Há também que se preocupar com a reação ao contraste de cores. Um exemplo é o
uso do preto e branco, que se condicionam: “o preto sobre o branco exprime um efeito
positivo, e o branco sobre o preto exprime um efeito negativo” (SILVA, 1985, p.32), e por
causar cansaço no movimento ótico, a leitura negativa deve ser usada de forma restrita e
com o intuito de atingir um objetivo como expressão plástica, para que não interfira na
legibilidade.
Tipos: a escolha dos tipos da publicação abrange o texto das matérias, o título, as
chamadas, os subtítulos, o nome da editoria, a legenda da foto, o autor da matéria e o autor
da foto, entre outros, e todas as variações de sua formatação como tamanho de corpo,
entrelinhamento, espacejamento, negrito, itálico, condensado. “Numa espécie de
onomatopéia visual, as formas tipográficas podem representar tamanhos, pesos, formas e
posturas do ambiente” (BARNHURST apud SOUSA, 2001, p.398).
A escolha do tipo deve levar em conta o público a que é destinado. Segundo Collaro
(2000, p.111), não há norma específica para cada idade, mas podemos seguir a orientação
de corpo 24 para crianças de até sete anos, corpo entre 12 e 18 para crianças de sete a 12
anos, e corpo 10 para pessoas alfabetizadas, a partir dos 12 anos de idade.
A escolha de diferentes categorias de tipos também influência no sentido dado ao
texto. Há inúmeras categorizações, mas aqui daremos destaque a de Williams (2009, p.131-
138). A autora classifica seis categorias de tipos, agrupados por suas similaridades. São elas:
Estilo Antigo: baseado na escrita manual, tem serifas em ângulo e seus traços curvos
passam levemente de fino a grosso. Tem ênfase diagonal e é muito usado em textos longos.
Ex.: Palatino, Times, Garamond.
54

Figura 1: Tipografia Estilo Antigo

Moderno: mais mecânico, tem serifas horizontais e finas, sendo radical a transição
grosso-fino. Considerado frio e elegante, tem ênfase vertical e não é indicado para textos de
grandes extensões. Ex.: Bodoni, Times Bold.

Figura 2: Tipografia Moderna

Serifa grossa: Surgiu com a revolução industrial para melhorar a propaganda. Seu
conceito não existe no Brasil. Sua transição grosso-fino é suave ou nula. Tem ênfase vertical
e é indicado para livros infantis por sua legibilidade em tamanhos grandes. Ex.: Clarendon,
Memphis, Memphis Extra Bold, New Century Schoolbook.

Figura 3: Tipografia Serifa Grossa


55

Sem serifa: conhecido popularmente por seu nome em inglês (ou francês) – sans serif
–, é um tipo que tem peso igual em todas as letras, não tem transição grosso-fino e nem
ênfase. É um progresso tardio da evolução da tipologia e não teve sucesso até o século XX.
Ex.: Franklin Gothic, Futura.

Figura 4: Tipografia Sem serifa

Manuscrito: parece ter sido escrito à mão. Não é aconselhável seu uso em grandes
extensões de texto, muito menos em caixa-alta, mas surpreendem em grandes tamanhos.
Ex.: Arid, Shelley Volante, Legacy, Cascade, Linoscript, Zapf Chancery.

Figura 5: Tipografia Manuscrita

Decorativo: não servem para textos longos, mas para dar significados a certas
situações, como, por exemplo, a informalidade. Ex.: Party, Potzrebie, Improv, Escalido,
Juniper, Juice, Fajita, Scarlett.

Figura 6: Tipografia Decorativa


56

Sinais gráficos: “são todos os elementos que falam diretamente aos leitores e lhes
dizem do que se trata aquilo que estão olhando, assim como onde se localiza na publicação:
logotipos, ‘vinhetas’ de seção, numeração de páginas, indicadores de direção” (WHITE, 2006,
p.195), além de pontos, linhas, quadros ou outros elementos simbólicos que ajudam a
sinalizar ou hierarquizar o texto.
O uso desse tipo de recurso é cada vez mais escasso em revistas, mantido apenas no
seu uso mais básico, e ainda tem um certo espaço no jornalismo diário. Geralmente, a
hierarquização de elementos e a diferenciação entre os tipos dos títulos e dos textos são
suficientes para esclarecer o caminho da matéria. Não se vê mais, por exemplo, o uso de fios
para separar colunas. Os remanescentes desses indicativos estão nos quadros usados como
fundos para designar pequenos complementos às matérias e no uso de setas, pontos e
derivados para elencar dados ou indicar continuações.
Podem ser classificados, como define White (2006, p.195), em definidores de
identidade – devem ser visíveis e formam elos importantes na personalidade visual da
publicação; localizadores - ajudam o leitor a se orientar dentro da edição, com o a
numeração de páginas, por exemplo; e os auxiliares de navegação - que guiam o observador
para aquilo que procura, como o serviço de agenda de um evento, geralmente envolto por
uma moldura ou colocado dentro de uma caixa colorida.
Fotos e imagens: elementos visuais que complementam o texto ou que trazem uma
informação única. Diz respeito a fotografias, tanto com informações exclusivamente
jornalísticas, como fotografias de ilustração ou a imagens e desenhos com a mesma
finalidade. Não estão incluídos aqui esquemas ou imagens acompanhados diretamente de
palavras, a fim de serem esclarecidos.
Infográfico: “Informação transformada numa combinação de explicações verbais e
visuais interconectadas” (WHITE, 2006, p.242). É um recurso esquemático para representar
de forma diferenciada certos discursos que poderiam se tornar longos ou confusos no texto
corrido, exigindo uma combinação complexa de texto e imagens. A diferenciação do
infográfico da imagem faz-se devido ao fato de ele poder, sozinho, formar uma matéria ou
constituir um todo com significado diferente da imagem por si só, além de abarcar mais de
uma série informacional, o visual linguístico e o não linguístico, em um mesmo elemento.21

21
Segundo Peltzer (1991, p.30), nos meios impressos podemos ter, uma mesma matéria significante, três séries
informacionais visuais: a linguística – a linguagem escrita ou fala em transcrição gráfica; a paralinguística –
57

Espaço em branco: “é o espaço de página que não é preenchido por textos ou


figuras” (WILLIAMS, 2009, p.10). Além de funcionar como descanso visual, há a necessidade
de delimitar espaços, como as margens e os espaços entre as colunas. “O papel sobre o qual
você imprime não é mera superfície neutra [...]. Deve ser usado como participante ativo no
processo de comunicação“ (WHITE, 2006, P.24).
“Em vez de preto ocupando cada pedacinho de papel, a leveza do espaço em branco
valoriza a mensagem e o efeito sutil é obtido com o planejamento gráfico e a significação
estética” (SILVA, 1985, p.13). Além da estética, obtida, entre outras maneiras, com margens
brancas razoavelmente largas, “o espaço em branco entre as colunas é preferido em
substituição às linhas (fios) separando as colunas” (SILVA, 1985, p. 34).
O branco conceitual visa dar uma aparência mais leve e limpa para a página. “O
espaço só é percebido quando é bem utilizado. Usado generosamente, suntuosamente,
acrescenta uma aura de valor. Usado estrategicamente, catapulta as idéias da página para a
mente do leitor, porque as esclarece a aumenta o seu impacto” (WHITE, 2006, p.24).
Disposição dos elementos e fluxo: como são distribuídos e quais são os elementos
constituintes da página e da publicação, de forma a criar uma hierarquia e uma organização
visual. “Cada página é uma dupla germinada num fluxo contínuo de espaço” (WHITE, 2006,
p.26).
Atualmente, a diagramação modular22 e a fragmentação do texto da matéria ajudam
o leitor a decidir o que ler, quando ler e com que atenção ou aprofundamento. “O leitor com
menos tempo (ou interesse) pode ser minimamente contemplado na sua necessidade por
informação [...]. Ou pode ler a matéria completa e ter uma informação mais detalhada”
(FREIRE, 2009, p.306).
A grade pode estar organizada com uma coluna larga, que geralmente apresenta
matérias ou seções importantes; em duas colunas largas, que dão percepção a um conteúdo
mais importante; em três colunas, mais usada, por ser de fácil leitura; em quatro colunas,
para seções pequenas; ou então podemos ter as chamadas colunas modulares, que partem
de cinco a sete divisões iguais, que podem ser agrupadas de formas diferentes a cada
página, garantindo mais flexibilidade.

recursos gráficos que cumprem o papel de variações sonoras ou dão ênfase, como o negrito; e a não linguística –
que seriam as imagens, os desenhos, as fotografias e o uso de cores.
22
Organiza o grid em vários módulos ou quadros que podem ser preenchidos sozinhos ou em conjunto (um texto
ocupar dois módulos, por exemplo), permitindo flexibilidade de layout.
58

Tem-se, então, um conjunto de elementos que devem ser observados, escolhidos ou


eliminados, e dialogados para que se forme o discurso gráfico de um produto impresso. “O
verbal e o visual devem trabalhar em harmonia, um reforçando o outro e levando você a
olhar de um lado do papel para o outro lado” (WHITE, 2006, p.16).
Concluindo a definição dessas categorias, observa-se que deve-se buscar um
equilíbrio entre imagem tradicional do veículo, exigências e desejos do público consumidor e
estética visual. A relação com o público será mais detalhada ao se falar do hábito de leitura,
mas aqui já cabe a consideração da importância de conhecer o público a que se quer atingir
e entender em que sociedade ele está inserido, a fim de criar um design que possa alcançá-
lo, instigá-lo e agradá-lo. O contexto é determinante: “um bom design é culturalmente
dependente - o que funciona num contexto pode não funcionar noutro” (LESTER apud
SOUSA, 2001, p.372).
O design atual trabalha com princípios que deverão ser seguidos para lidar com esses
elementos e possibilitar a construção de uma página ou de um produto impresso com uma
visualidade agradável, chamativa e hierarquizada. Como neste trabalho não se pretende
“tomar” o lugar do design, mas observar a sua relação com o jornalismo, vão-se adotar os
princípios apontados por Williams (2009), que já estão expostos a fim de servirem a um
público leigo, além de acreditar que sejam suficientes para contribuir a esta pesquisa. São
eles:
Proximidade: conexão e aproximação de elementos que se relacionam entre si, para
que sejam entendidos como um conjunto. “Itens ou conjuntos de informações que não
estão relacionados entre si não deveriam estar próximos; isso oferece ao leitor uma pista
visual imediata da organização e do conteúdo da página” (WILLIAMS, 2009, p.15).
Alinhamento: todo item presente na página deve ser inserido de forma não
arbitraria, tendo uma conexão com a página. “Mesmo quando os elementos alinhados
estiverem fisicamente separados uns dos outros, se estiverem alinhados, haverá uma linha
invisível conectando-os, tanto em relação aos seus olhos quanto à sua mente” (WILLIAMS,
2009, p.31). A falta de alinhamento, geralmente, produz uma página antiestética.
Repetição: um ou mais elementos do design que se repetem durante toda a
publicação. “Pode ser qualquer item que o leitor reconheça visualmente” (WILLIAMS, 2009,
p.49). É responsável por dar coesão e consistência ao produto, unificando todos os
59

elementos do design. E como complementa Santos (2010, p.04), “a repetição - padronização


- é um dos requisitos para a conquista da unidade”.
Contraste: talvez o mais importante ou eficaz meio de criar um atrativo visual, forma
uma hierarquia visual entre os diferentes elementos da página. “A regra importante que
deve ser lembrada é a de que para o contraste ser realmente eficaz, ele deve ser forte”
(WILLIAMS, 2009, p.63). Seus principais propósitos são chamar a atenção e organizar as
informações, possibilitando que o leitor reconheça instantaneamente a estruturação dos
conteúdos e o fluxo lógico de leitura da página. “Os elementos contrastantes nunca
deveriam confundir o leitor ou criar um foco que não seja o correto” (WILLIAMS, 2009, p.78).
Entretanto, o contraste deve ser usado com cuidado, como destaca Santos (2010, p.6),
“Assim como uma publicação sem contraste é maçante, o excesso de elementos
diferenciados também pode acabar confundindo o leitor”.
Assim como o discurso verbal, o discurso visual também é feito de escolhas.
Escolhem-se elementos e formas de montá-los em uma página ou em uma publicação, para
que o leitor reconheça instantaneamente os caminhos a percorrer e quais são as suas áreas
de mais interesse. E são essas escolhas que definem o discurso gráfico de uma revista.

Ter noção de como nos orientamos no plano é o segredo para fazer um bom
uso dos elementos da linguagem do desenho. Um bom discurso visual deve,
tecnicamente, estruturar bem no plano as grafias de imagens sonoras ou visuais.
Para dar sentido, seja formal e funcionalmente, a essas imagens, é necessário
compreender a ordem gráfica (GOMES, 1998, p.67).

Portanto, para entender como se realiza a leitura deste produto impresso pronto,
discute-se no capítulo seguinte o conceito de Visual Literacy, de Donis Dondis.

2.2 LENDO A PÁGINA: VISUAL LITERACY

Embora o campo do design gráfico tenha passado por notáveis avanços nas últimas
décadas, ainda não existe uma análise de composição visual unificada e experimentada. Um
autor que traça uma análise que sirva aos mais diversos modos de composição visual, desde
a pintura, passando pelos cartazes e pela arquitetura, é Donis Dondis. Entretanto, em seu
60

livro A sintaxe da imagem, a autora deixa claro que propõe não uma análise limitadora, mas
um ensaio que pretende ser um começo de teorização de uma visual literacy. 23
Segundo Dondis, há uma necessidade cada vez maior de se construir uma educação
visual, com categorias de aplicação e análise, a fim de aperfeiçoar métodos que geralmente
estão voltados em definições baseadas somente no gosto individual ou de um grupo de
pessoas.

O julgamento do que é factível, apropriado ou efetivo na comunicação visual


foi abandonado em favor de definições amorfas do gosto ou da avaliação subjetiva
e autorreflexiva do emissor e do receptor, sem ao menos tentar compreender
alguns níveis prescritos do que chamamos alfabetismo no modo verbal. [...] Entre
todos os meios de comunicação humana, o visual é o único que não tem regime
nem metodologia nem um sistema com critérios explícitos para sua expressão ou
compreensão (DONDIS, 1980, p.23). 24

É evidente que a inspiração faz parte do processo da composição visual, mas o


método é igualmente importante. Alcançar a visual literacy é complexo e suas tentativas
podem ser percebidas em várias fórmulas, mas que costumam ser limitadoras. “[...] quando
um discurso gráfico visual se apresenta com problemas de legibilidade [...] esses erros
dificilmente são identificáveis e passíveis de correção, uma vez que falta à maioria das
pessoas educação sistemática do desenho” (GOMES, 1998, p.118).
Como aponta Ribeiro (2009, p.6), “Para ler, não basta ser alfabetizado. É necessário
ter se apropriado das práticas de leitura do texto em seu suporte, em suas formas de
circulação”. Ou seja, o que Ribeiro deixa claro ao falar sobre leitura verbal, é que é
necessária a interação de hábitos que ajudem a definir o modo da leitura. Pode-se fazer a
mesma consideração sobre a leitura visual, como afirma Dondis. Segundo ela, a
alfabetização significa que todos os membros de um grupo compartilham o significado de
um corpo comum de informação. Os fins da alfabetização visual seriam os mesmos da
linguagem escrita: “criar um sistema básico para a aprendizagem, a identificação, a criação e
a compreensão de mensagens visuais que sejam manejáveis por todo mundo” (DONDIS,
1980, p.11).25 Isso é perfeitamente viável ao analisarmos a sintaxe visual, as linhas gerais da
construção de composição visuais.

23
Pode ser traduzido como letramento ou alfabetização visual. Sem escolher um ou outro, pretendemos apenas
deixar claro para finalidades deste trabalho que o conceito de visual literacy trata de uma teorização sobre
educação visual.
24
Tradução própria.
25
Tradução própria.
61

O que mais motiva, provavelmente, a falta desse sistema de aprendizagem visual é o


fato de o ser humano já nascer com poder inato para construir e reconhecer mensagens
visuais. Entretanto, para chegar a uma universalidade, para o entendimento instantâneo do
propósito e do fluxo de informações de que falou Williams anteriormente, é necessário ir
além dessas capacidades intuitivas. É necessário um meio comum para a construção de
composições visuais. “A alfabetização visual significa uma maior inteligência visual. [...] Uma
maior inteligência visual implica uma compreensão mais fácil de todos os significados que
assumem as formas visuais” (DONDIS, 1980, p.208).
Para chegar a essa alfabetização, Dondis primeiro trata dos elementos básicos da
comunicação visual – ponto, linha, contorno, direção, tom, cor, textura ótica, proporção,
dimensão e movimento – para chegar às técnicas de manejo visual. A autora também crê,
assim como Williams, que a técnica fundamental é o contraste (DONDIS, 1980, p.128).

O contraste é, no processo da articulação visual, uma força vital para a


criação de um todo coerente. Em todas as artes o contraste é uma poderosa
ferramenta de expressão, o meio para intensificar o significado e, portanto, para
simplificar a comunicação (DONDIS, 1980, p.104).26

O que cabe para fins deste trabalho são os fundamentos sintáticos da visual literacy
propostos por Dondis. Ao observá-los pode-se concluir que muito têm de semelhante com
outros princípios de design (como os propostos por Williams), mas eles são uma resposta a
costumes sociais e fisiológicos que o ser humano tem ao olhar um produto de comunicação
visual.
O equilíbrio, seja ele simétrico ou assimétrico, é, segundo Dondis (1980, p.36), a
referência visual mais forte que o homem utiliza para formar qualquer juízo visual. Se não há
equilíbrio na página, não há harmonia visual e se mostram difíceis quaisquer formas de
organização visual.
O segundo fundamento proposto por Dondis (1980) é a tensão. Segundo esse
fundamento, os elementos visuais que estão em áreas de tensão têm mais peso (força de
atração para o olho) que os nivelados, tendo, então, grande importância para o equilíbrio
compositivo. “Seu valor para a teoria da percepção está na forma de uso na comunicação

26
Tradução própria.
62

visual, ou seja, de que forma reforça o significado, o propósito, a intenção, e como pode ser
usado como base para interpretação e compreensão” 27 (DONDIS, 1980, p.39).
A nivelação e o estímulo (ou aguçamento), dois pontos contrários de um mesmo
fundamento, são estados da composição visual, que pode estar nivelada ou aguçada de
acordo com o significado que se queira dar. O problema é que existe um estado entre os
dois, quando a composição não está nivelada ou aguçada, resultando na ambiguidade,
quando o olho não consegue distinguir o equilíbrio da imagem. “A ambiguidade visual, assim
28
como a verbal, não só escurece a intenção compositiva, como também o significado”
(DONDIS, 1980, p.42).
O próximo fundamento apontado por Dondis está ainda mais relacionado aos
costumes sociais. A preferência pelo ângulo inferior esquerdo, ou seja, a direção de leitura do
produto de comunicação visual é, de acordo com a autora, um favoritismo que, acredita-se,
se deve aos hábitos ocidentais de impressão e de leitura, que acontece da esquerda para a
direita.
Atração e agrupamento são também duas considerações (desta vez, não díspares) de
um mesmo fundamento. Segundo a autora, os pontos da composição visual se atraem com
força relativa à sua proximidade. O homem sente grande necessidade de agrupá-los a fim de
construir conjuntos inteiros, conectando os pontos de acordo com sua atração. Dentro da
relação opostos se repelem e semelhantes se atraem, o homem faz as conexões que faltam
para relacionar automaticamente unidades semelhantes com mais força (DONDIS, 1980).
O último fundamento apontado por Dondis (1980) trata do positivo e negativo de
uma página, ou seja, o que domina o olhar na experiência visual – o positivo – e o que se
apresenta como elemento passivo – o negativo.
Ao se analisarem todos os fundamentos sintáticos descritos por Dondis (e aqui
apresentados de forma sucinta), pode-se notar que a maioria deles diz respeito ou se
relaciona com o significado da comunicação visual, o que se quer dizer ou se deseja
transmitir. É essa relação entre a composição visual e a intenção do autor que tanto
interessa ao campo do jornalismo, já que, com o movimento do design nos dias atuais,
dificilmente será o jornalista, redator da matéria, a construir a composição visual de sua
página. Assim, deve haver sintonia entre repórter e designer, para que o significado da

27
Idem.
28
Idem.
63

página não se perca, ou seja, distinto à visão que o jornalista tem da mensagem ou
informação que deseja transmitir.
É interessante ainda considerar como contribuição a definição de Dondis para estilo.
Segundo a autora, o estilo é de difícil descrição, mas o aponta como síntese visual dos
elementos, técnicas e finalidade básica. Em termos de visual literacy, sua melhor definição
estaria em considerá-lo “categoria ou classe da expressão visual conformada por um
entorno cultural” (DONDIS, 1980, p.149). “O estilo influencia a expressão artística quase da
mesma maneira que as convenções. Porém, as regras estilísticas são mais sutis que as
convenções e exercem sobre o ato criativo mais influência que controle” (DONDIS, 1980,
p.150).
Aproveita-se esse conceito de Dondis para reforçar, também, que além do significado
da composição visual, outra preocupação do designer está no cumprimento a certos
costumes ou convenções sociais. Ao se falar, portanto, de produto jornalístico impresso, ou
mais especificamente revistas, deve-se entender como se construíram e quais são os hábitos
que regem o seu consumo. É o que veremos no capítulo a seguir.

2.3 CONSTRUÇÃO DO HÁBITO DE LEITURA DAS REVISTAS

Como foi tratado anteriormente, o modo como as coisas são vistas está, geralmente,
programado pelos costumes sociais (DONDIS, 1980). Assim como foram construídos códigos
para a linguagem verbal, estabeleceram-se códigos para a linguagem visual. No caso de
produtos impressos jornalísticos, como jornais e revistas, criaram-se hábitos de organização,
paginação e identificação que devem ser muito bem conhecidos da equipe responsável pelo
projeto gráfico e pela diagramação ou pelo design da página.
Essas convenções são utilizadas pelos leitores para identificar um veículo, o caminho
a ser seguido para se encontrar assuntos de mais interesse ou a localização de seções fixas
que costuma ler. O fluxo, o ritmo da publicação (em que ordem são apresentadas as
matérias aprofundadas, os anúncios e as notas) também é influenciado pela organização que
o público espera da revista.
Esses hábitos, entretanto, não devem ser utilizados como parâmetro para um projeto
gráfico estanque, mas devem ser respeitados. “Respeitar o hábito visual do leitor
acostumado a encontrar sempre na mesma página e no mesmo lugar um mesmo tema ou
64

tipo de informação é uma das obrigações do diagramador” 29 (BRAJNOVIC apud BICA, 2004,
p.49). Isso significa que a tradição visual de uma revista não está no fato de que não existam
reformas visuais, mas de que existe um vínculo com o leitor que deve ser mantido.
Landowski esclarece essa posição ao analisar o jornal como sujeito semiótico.
Segundo ele,

Ao contrário da maioria dos bens de consumo corrente [...] que demandam


uma perpétua mobilidade dos comportamentos de compra e de utilização [...] o
jornal, objeto de comunicação, solicita de cada indivíduo a compulsão inversa,
exigindo a repetição, favorecendo o hábito ou [...] uma certa constância
(LANDOWSKI, 1992, p.118 e 119)

Fátima Ali também trata da relação do produto com o público leitor, mas se foca,
desta vez, na revista que, segundo ela “estabelece com o leitor uma relação que é renovada
a cada nova edição. Uma relação de um-com-um, familiar, íntima” (ALI, 2009, p.19). Ou seja,
como a própria autora refere, a publicação revista deve levar em conta os desejos e
expectativas do seu leitor.
Ali (2009) ainda deixa claro que a revista é um produto feito para o leitor e não para
guardar expressões pessoais (pelo menos enquanto falarmos de revistas comerciais). O
profissional que trabalha com uma revista, por mais experiente que seja, “se não trabalhar
pensando no leitor, [...] sua criação não alcançará o objetivo principal: ser lida e
comunicada” (ALI, 2009, p.32). E, assim como a revista precisa manter uma tradição, um
hábito, também precisa estar atenta para as mudanças por que passam os seus leitores. É
preciso entender, também, que os diferentes leitores não irão se agrupar necessariamente
por sua idade ou por suas condições financeiras, mas pelos seus interesses e
comportamentos.
A primeira ordem estabelecida em uma revista para conectar todos os seus
elementos e torná-la única e existente como sujeito é alinhá-la a partir de sua missão (que
define objetivo, público e tipo e forma de apresentação do conteúdo). Entre os elementos
que serão alinhados, estão, obviamente, o projeto gráfico e a logo (ALI, 2009, p.47).
É necessária então uma fórmula editorial que servirá como modelo para a montagem
de cada edição, para que o leitor a perceba, reconheça e encontre o conteúdo de maior ou
de primeiro interesse onde ele costuma encontrar. “A fórmula organiza todos os elementos

29
Tradução própria. Aqui se optou em trocar a palavra “confeccionador” por “diagramador”, pelo não uso da
primeira no Brasil para designar esse tipo de atividade.
65

da revista, lógica e coerentemente, em um pacote reconhecível a cada edição” (ALI, 2009,


p.56). A fórmula será responsável, então, por definir o número de páginas (total e o
destinado às matérias e o aos anúncios), as seções fixas, as colunas e as matérias (quantas,
com que conteúdo e em qual espaço) e o espelho (distribuição das páginas).
A partir da fórmula editorial a revista vai criar o seu formato gráfico, uma estrutura
fixa que estabelece “padrões para colunas, espaços, tipografia, margens e distribuição dos
principais elementos gráficos” (ALI, 2009, p.97) respeitando uma unidade visual esperada
pelo leitor. É o formato gráfico que vai definir os principais hábitos de leitura, pois define os
elementos e os caminhos que vão guiar a leitura visual da revista e de que forma, com que
linguagem, vão fazer isso.
Ao se pensar no formato gráfico deve-se levar em conta, em primeiro lugar, a
unidade visual. A unidade visual deve acontecer continuamente no tempo (de publicação
para publicação), no espaço total (em toda a publicação) e no espaço de cada matéria
(deixando bem claro que se trata do mesmo assunto, independentemente de quantas
páginas ocupe).
Deve-se, então, pensar de que forma esses diferentes assuntos ou divisões temáticas
(no caso de uma publicação sobre um assunto específico) devem ser organizados e em que
ordem devem ser apresentados em toda a publicação, assim como cada tema se organiza
dentro da página a que pertence.
A unidade, embora pareça limitadora, deve apenas ter o intuito de criar uma relação
clara com o leitor e ajudá-lo a compreender a publicação e a se sentir parte dela. O hábito, o
que e como as pessoas estão acostumadas a consumir, também é responsável a induzir
psicologicamente às pessoas a uma publicação, assim como a expectativa e a curiosidade
(WHITE, 2006).
Usar grades ou um design tradicional tem como vantagem a compreensão
automática dos leitores, porque já estão acostumados a vê-los dessa forma. Levar em conta
hábitos e expectativas do público é uma maneira de ajudar o leitor a interpretar o que se
quer significar. “O falante (escritor/editor/designer) e o ouvinte (leitor) devem falar a
mesma língua” (WHITE, 2006, p.24).
Não se pode ignorar os interesses do leitor. E a relação habitual que ele constrói com
uma publicação o ajuda a definir esses interesses. Se utilizada de maneira correta, a
padronização não é entediante, e sim define identidade e estabelece relação habitual.
66

“Quando cada página é diferente, percebemos caos e confusão. Em vez disso, desenvolva o
formato certo para cada tipo de matéria [...] e estabeleça relações entre elas” (WHITE, 2006,
p.36).
Resumidamente e focando apenas na revista, pode-se dizer que o hábito é definido
por dois diferentes níveis de costumes, elencados a seguir.
O relacionamento com o tipo de publicação, que inclui: apresentação visual - o uso do
título chamando a atenção, a divisão em seções, o uso limitado de tipos no corpo de texto, a
presença das cartas do leitor, do editorial e do sumário no início da publicação, a valorização
de imagens e outros elementos visuais, tamanho geralmente padrão, entre outros; e
linguagem - geralmente mais pessoal e íntima.
O relacionamento com uma determinada publicação, que inclui: nome e logo; sinais
gráficos de identificação; conjunto de tipos; fluxo das matérias – se as aprofundadas
ocuparão o meio da revista, se dividem entre outras fragmentadas; estilo visual – valorização
de imagens, de espaço em branco, de infográficos, uso do preto e branco; estilo verbal –
sério, informal, direcionado a uma faixa etária, entre outros.
Os leitores gostam e sentem-se confortáveis, portanto, ao encontrar seus temas
favoritos nos mesmos lugares e tratados da mesma forma. “Um posicionamento consistente
permite criar hábitos e familiaridade, e os leitores percebem a sua publicação como se fosse
verdadeiramente sua” (WHITE, 2006, p.196).
O hábito e a tradição, volta-se a frisar, não são limitadores, apenas denotam o
respeito ao leitor. A originalidade é eficiente se for “resultado do equilíbrio de abordagens
arejadas como o atendimento de expectativas” (WHITE, 2006, p.217). E esse equilíbrio entre
hábito e originalidade é um dos fatores que serão utilizados para se analisar o produto
escolhido, a Super, no capítulo seguinte.
67

3 A REVISTA SUPERINTERESSANTE

O capítulo final deste trabalho visa analisar um produto midiático que tem o
potencial para que possa ser observado sistematicamente e resulte em um estudo aplicado
dos conceitos utilizados no decorrer desta pesquisa.
Pretende-se, então, descrever a revista, focando em informações que sejam
pertinentes a esta pesquisa, como os dados de público leitor da revista. Após, são
detalhados os passos metodológicos.
Deixa-se a descrição do projeto gráfico, tanto o atual quanto o seu antecessor, para a
seção de análise, já que se busca compreender a legibilidade da última reforma gráfica
realizada pela Super.

3.1. DESCRIÇÃO DO OBJETO

A revista Superinteressante é publicada no Brasil pela Editora Abril S.A. e foi lançada
em 1987. Seu projeto nasceu e é licenciado por um grupo multinacional, o Gruneer + Jar
(G+J), responsável por outras revistas, resultantes do mesmo projeto, na França, Itália,
Inglaterra, México, Colômbia, Venezuela, Argentina e Chile; e tem seu projeto nascente na
Muy Interessante, da Espanha.
Segundo a definição divulgada no site oficial da revista, a Super é a “maior revista
jovem do país”. Tem como objetivo inovação e antecipação de tendências. Trata dos mais
variados temas, de história a religião e de tecnologia a comportamento.“[...]tudo de forma
surpreendente, provocativa e ousada”. É uma referência de como a revista tem um apelo ao
leitor próximo à publicidade, que resulta em uma linguagem verbal e visual voltada ao
público jovem. Seu diferencial atual é um apelo visual voltado para o uso de infográficos e
ilustrações.
A Super é uma revista que, desde a sua criação, tem como objetivo oferecer
conhecimento cultural e científico aos seus leitores, embora tenha tentado, no início, se
afastar das suas “irmãs”, que davam destaque às curiosidades. Apesar de ter sempre
produzido material, a Super tinha uma ligação próxima com o editorial de sua genitora,
recebendo conteúdo. Atualmente, já exporta matérias para filiais estrangeiras.
68

No início, seu editorial estava tão voltado à ciência, tanto em assunto, quanto em
linguagem e crença, que era confundida com uma revista de divulgação científica. Em 1994,
a revista passou por mudanças editoriais e gráficas. A primeira foi definida pelo
comprometimento com um comportamento e uma linguagem muito mais jornalística do que
científica, mais coloquial (que tinha como intuito afirmar uma ciência dirigida ao leitor leigo,
e não ao cientista), e com uma volta ao projeto inicial da revista que abarcava a cultura
geral. A segunda dizia respeito ao seu discurso visual, que, portanto, deveria seguir sua
mudança editorial. A Super aumentou o corpo dos tipos e o uso de imagens associadas ao
texto, a fim de explicar melhor o conteúdo. Não é à toa nem surpreendente, portanto, que a
revista passasse a usar, cada vez mais, infográficos para compor ou completar as matérias
(NOVAES, 2008).
Na última década, a Super expandiu o seu potencial, principalmente no que diz
respeito ao uso de infográficos. Até 2004, quatro matérias ganharam o prêmio Malofiej de
Infografia, concedido pela Society of News Design, e em 2002, a Superinteressante foi
considerada pela Universidade de Navarra, Espanha, como a melhor revista em produção de
infográficos do mundo, devido ao conjunto de infografias do ano anterior (NOVAES, 2008).
Outro aspecto que se consolidou na última década está no aumento de espaço
cedido às ciências humanas e sociais e até ao misticismo (NOVAES, 2008, p.60). A revista
passou, então, nesses últimos anos, a aumentar a sua vendagem, chegando a ser
considerada um dos principais títulos do Brasil.
Segundo o atual redator-chefe da revista, Sérgio Gwercman (informação verbal)30, a
última reforma gráfica semelhante à atual foi realizada em 2005. Gwercman explicou que
não houve uma pesquisa específica sobre o projeto gráfico antes ou depois da reforma, mas
que a Editora Abril realiza uma média de duas a três pesquisas por ano, que objetivam
avaliar o grau de satisfação geral dos leitores da algumas revistas, dando prioridade para a
Super, que, de acordo com o redator-chefe, é uma das mais importantes revistas da Editora.
Nessas pesquisas existem perguntas que objetivam saber se os leitores leram ou não
as matérias, com que aprofundamento (se leram até o final, ou se não, que porcentagem
total da matéria) e que nota o leitor dá para a reportagem. Ainda de acordo com Sérgio

30
Via telefone, por volta das 16h25 do dia 23 de novembro de 2010, com duração aproximada de seis
minutos.
69

Gwercman, também são realizadas perguntas a fim de se obter uma ideia da imagem que a
revista passa (se ela é séria, engraçada, entre outros).
Ao ser perguntado do porquê da decisão da realização da reforma gráfica, Sérgio
Gwercman afirmou que toda revista precisa de renovação. “Ela é um organismo vivo”.
Segundo ele, a Super acompanhou a evolução do mundo e dos objetivos editoriais, desde o
grid, até a conceituação visual.
Em pesquisa realizada em 2009 pelo Grupo de Mídia de São Paulo, em sua publicação
anual Mídia Dados, a Superinteressante aparece classificada como uma revista de gênero
ciência/cultura, com uma média de circulação por edição que evoluiu de 342,9 mil em 2007
a 356,8 mil em 2008 e 362,5 mil em 2009.
De periodicidade mensal, vendida a um preço de R$ 10,95 (em 2010) nas bancas, a
Superinteressante tem como público leitor principal a faixa etária que vai dos 25 aos 34 anos
(28%), seguido pela faixa de 20 a 24 anos (19%) e pela faixa 35 a 44 anos (17%). Em termos
de idade, a Super é mais lida por um público adulto, que pode ou não se identificar com uma
temática e/ou com uma linguagem jovem. Mais de 50% do público total pertence à classe A,
e 27% à classe B, leitores, portanto, com boas condições financeiras, com uma educação
voltada aos conhecimentos científicos (que os aproxima da revista) e com possibilidade de
adquirir a tecnologia que aparecem nas matérias da revista. Outra característica desse
público é que ele tem acesso à internet de banda larga, o que está possibilitando à revista,
cada vez mais, aproximar ou alinhar o seu conteúdo à plataforma web e/ou móvel.
De acordo com pesquisa do Instituo Verificador de Circulação (IVC), em julho de
2010, a tiragem da Superinteressante foi de 451.973 e sua circulação líquida de 370.276. A
venda de assinaturas foi de 243.947, e a revista avulsa atingiu a marca de 126.329. Segundo
a Projeção Brasil de Leitores de 2009, a Super atinge 2.349.000 leitores.
Assim, sendo uma revista de importância nacional, com uma linguagem e um público
específico (embora não limitado) e conhecido, por ter forte apelo visual, além de ter passado
em agosto de 2009 por uma reforma gráfica, a revista Superinteressante se mostra como um
objeto de estudo apropriado para compreender quais são e de que forma certos fatores
interferem na legibilidade, contribuindo ou não com o a leitura rápida e eficiente. Portanto,
a legibilidade de sua reforma gráfica será analisada como objetivo final deste trabalho.

3.2 METODOLOGIA
70

A fim de realizar uma análise detalhada da legibilidade da reforma gráfica da


Superinteressante como um estudo de caso, realizar-se-á uma descrição e análise
sistemática de três edições da revista escolhidas por seu conteúdo visual e por sua
proximidade com a edição em que a reforma gráfica foi apresentada ao público leitor. Cabe
aqui esclarecer que este trabalho utiliza como parâmetro a concepção em que o estudo de
caso é compreendido como um caso eleito para ser estudado devido as suas especificidades
(MICHELS, 2005).
Ao realizar-se uma prévia observação das edições da revista aproximadamente um
ano antes e um ano depois da última reforma gráfica, entendeu-se que a edição em que a
reforma gráfica foi apresentada (nº 268, ano 23, nº 8, de agosto de 2009) e a de dois meses
posteriores (nº 270, ano 23, nº 10, de outubro de 2009) seriam as mais apropriadas para a
análise. A primeira, por ser a edição de apresentação da reforma e a segunda por não ter
muita distância temporal da reforma, mas por ser posterior a edição em que o público
opinou sobre a reforma, deixando espaço para que ajustes fossem feitos.
Também será analisada a edição de dois meses anteriores (nº 266, ano 23, nº 6, de
junho de 2009) para que se crie um sistema de análise que abarque somente os itens
reformados. Esta escolha, portanto, não se deve a uma análise comparativa, embora não se
possa evitar, nas considerações, algum tipo de associação entre os dois projetos.
Embora a revista dê destaque ao uso de infográfico, este não foi o tema escolhido ou
abarcado por esta pesquisa, pois sua análise demandaria um histórico do uso de infográficos
da revista e deveriam ser tratados, além dos conceitos apresentados, uma série de outros
conceitos ainda novos, já que o uso de infográfico, embora não seja tão recente, está sendo
especializado e consumido de maneira mais frequente no jornalismo atualmente. Ainda há,
portanto, um campo de pesquisa promissor, mas que exige uma série de conceituações que
o aproximem e expliquem sua relação com o jornalismo, para que então se passe a uma
análise aplicada.
Esse Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é uma pesquisa qualitativa, pois se trata
de discussão de correlação, compreensão e interpretação de dados, na forma de
experimentação empírica, e argumentação lógica dos resultados (MICHELS, 2005). Após se
conhecer a revista, foi realizado um estudo exploratório de conceitos chave a serem
71

utilizados, como legibilidade, design, percepção e linguagem visual, e de observação do


objeto a fim de definir o corpus adequado.
Para a análise detalhada da legibilidade criaram-se categorias próprias para este
trabalho (já que não se encontrou um conjunto completo que permitisse a análise de todos
os elementos da reforma gráfica), tendo em vista o problema de pesquisa, que trata a
legibilidade como fator determinante do processo de leitura. São elas:
Organização / fluxo de apresentação das matérias: como já diz o título da categoria,
tem se o objetivo de estudar como a reforma definiu a ordem de apresentação de todas as
seções da revista e quais são as possíveis (possíveis, pois, não se teve acesso a uma pesquisa
detalhada sobre opinião do público leitor) implicações de uma nova ordem para o hábito de
leitura;
Elementos de identificação: capa, logo, formatação dos títulos das seções e da
vinheta (data e edição da revista) e cores utilizadas para definir a revista, criar unidade e
diferenciá-la de suas concorrentes;
Tipografia: quais são as especificidades dos tipos usados em toda a revista, desde os
títulos das seções, os títulos das matérias, as chamadas de capa e as diferentes formas das
matérias curtas e das aprofundadas;
Grid: de que forma as colunas de informação textual formam o grid básico da revista,
tanto em matérias aprofundadas quanto em curtas, e como ele é utilizado ou desconstruído;
Espaço em branco: de que forma o produto usa o espaço em branco e como ele pode
ou não, dependendo da utilização, contribuir para a legibilidade e força de atração da
matéria.
A partir dessas cinco categorias, far-se-á uma análise detalhada da reforma do
projeto gráfico da Super a partir da descrição do que foi encontrado de cada categoria em
cada uma das três revistas escolhidas e, a seguir, a observação sobre sua relação com a
legibilidade.

3.3 ANÁLISE DA LEGIBILIDADE

A legibilidade é entendida como a facilidade de leitura de textos verbais, dependente


de fatores microtipográficos - especificações, como arranjo e tamanho, dos caracteres -, e
macrotipográficos - especificações da organização da página (GRUSZYNSKI,
72

2008;HEITLINGER, 2007; HOELTZ 2001). Por ser fator determinante do processo de leitura
de uma publicação e, portanto, processo determinante no consumo da notícia e da
produção jornalística, a legibilidade se revelou como um problema de pesquisa participante
do campo de conhecimento jornalístico.
Como as reformas gráficas geram mudanças nas características da composição das
páginas de um produto jornalísticos e como a Super passou por uma reforma gráfica
consistente em 2009, servirá de objeto nesta pesquisa. A análise de dará a partir de cinco
categorias que pretendem observar fatores que influenciam a legibilidade.

3.3.1 Organização / fluxo de apresentação das matérias

Como dialogam os autores Fátima Ali (2009) e Jan White (2006), o fluxo ou a
organização das matérias trata da ordem de apresentação de todas as seções da revista,
geralmente resultado da consideração de quesitos de hierarquia, padronização e hábito de
leitura.
Para que se tenha uma ideia visual-perceptiva da ordem das matérias, foi adicionado
o número de páginas que a seção ocupa e em que página (par ou ímpar) ela se encontra ou
começa. Essa escolha deveu-se à diferença de percepção visual das páginas como uma
percepção visual única e em que a parte de maior impacto visual logo que se abre a revista é
a da direita (ou seja, a página ímpar).

Figura 7: seção “Superrespostas” A ed. 266 junho Figura 8: seção “Superrespostas” B ed. 266 junho
73
74
75

Figura 9: seção “Respostas” ed.268 agosto

Figura 10: seção “Superradar” ed.268 agosto

3.3.1.1 Análise Organização / fluxo de apresentação das matérias

Nota-se que a organização das seções e das matérias da revista, assim como todas as
outras categorias analisadas, sofreu inúmeras mudanças com o a reforma do projeto gráfico.
A ordem geral, básica, se manteve: várias notas pequenas, de no máximo uma página ou de
76

duas páginas acompanhadas ou formadas por um infográfico no início da publicação;


grandes matérias do centro ao fim da revista; e, mais uma vez, pequenas notas, desta vez
em menor número.
A quebra do hábito de leitura, em relação à organização de páginas, foi consistente,
mas, coerente, mantendo os costumes básicos na ordem de consumo das matérias. A
dispersão de elementos por várias páginas (como ficaram as seções), entretanto, são
indicadas como uma dificuldade para a legibilidade (SOUSA, 2001).
O maior prejuízo foi nas ocorrências posteriores à reforma, foram realizados ajustes
logo após a reforma, não dando tempo ao leitor para entender a nova ordem de seções
iniciais, problema aumentado pela troca de títulos para as seções. Exemplo é o caso da “Por
dentro” que, em dois meses virou “Como funciona” sem qualquer necessidade, pois o
sentido manteve-se o mesmo. Ou como as matérias que não estavam identificadas
visualmente como participantes de uma seção de nenhuma forma, mas que o eram,
entretanto.
A reorganização em grandes seções também faria sentido se o título da grande seção
fosse mantido somente para a sua página de entrada. De outra forma, somente a partir da
ordem das seções, fica difícil entender suas relações visuais, principalmente quando são
interrompidas por páginas publicitárias. As páginas “casadas” foram bastante utilizadas e
contribuíram com a melhor organização contínua espacial da revista, como considera White
(2006).

3.3.2 Elementos de identificação

Segundo Ali (2009) e White (2006), são uma série de objetos visuais responsáveis por
padronizar, unificar e reforçar o hábito de leitura de uma publicação, a partir do uso de
cores, da repetição de formatações de tamanho e de localização, entre outros.

3.3.2.1 Edição 266 (junho de 2009)

A capa da revista é historicamente vermelha (assim como suas publicações-irmãs),


com o logo no canto superior esquerdo. A matéria de capa, através de imagem, título e
chamada ocupa o centro da capa; as chamadas secundárias estão na parte inferior e uma
77

chamada aparece em destaque no canto superior direito, envolta por um quadro de um


vermelho um pouco mais escuro.

Figura 11: Capa ed.266 junho

O uso da cor vermelha é uma constante na edição como um todo, ao falarmos de


elementos de identificação. Todos os títulos de seções apresentam a cor, e aparecem
envoltos pelos caracteres [ ] em preto, da forma a seguir:

Figura 12: Título de seção ed.266 junho

Os tipos dos títulos das seções são em caixa alta, vermelho, no canto superior
externo (direito se começar em página direita e vice-versa) e, quando composto por duas
palavras, uma delas aparece mais pesada (bold) e em preto. A autoria das reportagens
também aparece em caixa alta, com o trabalho desenvolvido (edição, design, entre outros)
em light e o nome do executor em bold, sempre logo após o título da matéria. Nas matérias
curtas, há um pequeno antetítulo, todo em caixa alta e realçado em amarelo.
78

Figura 13: Créditos ed.266 junho Figura 14: Antetítulo ed.266 junho

Os títulos das subseções da seção “Superrespostas” aparecem com o mesmo tipo,


com palavras em branco e azul, inseridas em uma tarja preta que vaza a mancha gráfica em
algum lado. A matéria em si aparece em um fundo vermelho, como o tipo em cor branca e
outros elementos textuais em preto (Figura 9).

Figura 15: Título de subseção ed.266 junho

Nas matérias principais há, comumente, um item intitulado “Para saber mais” em um
quadro com moldura preta, com o título branco realçado em preto e o elemento textual em
fundo branco em tipo preto. Outro item que normalmente o segue é o “Dê sua opinião”, um
quadro em preto e um tipo em branco. Ambos os títulos estão em caixa alta (Figura 10).
O número de página e a vinheta com informações da edição aparecem juntos, nos
cantos externos inferiores das páginas. Seus itens textuais estão separados por uma
pequena linha vertical. Aparecem nesta ordem se estiverem em página ímpar “mês / ano /
Super / página”, e nesta ordem se estiverem em página par “página / Super / mês / ano”. O
fim das matérias é marcado por um pequeno quadro em vermelho com um “S” em branco e
a indicação de continuação na próxima página é marcada por uma seta em vermelho que se
79

complementa com uma seta em branco em volta em um retângulo vermelho na página


seguinte (Figura 10).

Figura 16: Vinheta e outros elementos ed.266 junho

3.3.2.2 Edição 268 (agosto de 2009)

Figura 17: Capa ed.268 agosto

A capa segue a mesma configuração. Em se falando de disposição e cores de


elementos visuais não há diferenças com a reforma. Os títulos das subseções estão
totalmente reformulados e todos ganharam cantos arredondados, assim com a maioria dos
itens da revista. “Cardápio”, “Escuta”, “Digital”, “Fórum” e “Manual” são seções com páginas
praticamente fixas e com um único tipo de conteúdo. Sua configuração aparece com um
80

tamanho um pouco maior do que o da edição anterior, em um tipo totalmente diferente


(será analisado na próxima categoria), em vermelho.

Figura 18: Título seção A ed.268 agosto Figura 19: Título seção B ed.268 agosto

A grande seção “Supernovas” tem como característica a cor laranja. Seu título
aparece em tamanho muito maior que as seções do projeto anterior, com dois tipos
diferentes, e são acrescentadas as palavras “Notícias / Polêmicas / Curiosidades”, logo
abaixo, como parte do título. As seções que fazem parte da “Supernovas” também aparecem
em laranja, com o mesmo tipo, só que em tamanho aproximado ao do título de seção do
projeto gráfico anterior.
Os títulos das matérias aprofundas, divididas por editorias, estão em vermelho, em
um tipo diferente e bem menor. Fica evidente que sua configuração só serve para marcar a
que editoria pertence o assunto, não devendo chamar a atenção do olhar na primeira
percepção. Na editoria “Zoom”, ele aparece em branco.

Figura 20: Título editoria ed.268 agosto Figura 21: Título grande seção ed.268 agosto

Na grande seção “Superradar” a cor adotada é o verde. Sua configuração é a mesma


da grande seção “Supernovas”. As três palavras que acompanham o título são “Cultura /
Tecnologia / Tendências”. O item “Foi mal”, que está dentro da seção “Fórum” ganha um “S”
com “orelhas de burro”. Também são inseridas linhas pretas em toda a revista para separar
alguns elementos.
81

Figura 22: Item “Foi mal” ed.268 agosto

Os itens “Para saber mais” e “Dê sua opinião” das matérias aprofundadas aparecem
com um fundo preto e fonte em branco. O fim de uma matéria é marcado por um círculo
vermelho com um “S” em branco. A continuação de matéria na página seguinte é marcada
por uma dupla de setas vermelhas, que na página seguinte são brancas e estão dentro de
um círculo vermelho. A localização da vinheta e do número de páginas segue a mesma. Seus
itens não são mais separados por linhas verticais.

Figura 23: Vinheta e outros elementos ed.268 agosto Figura 24: Moldura “Manual” ed.268 agosto

O número de página aparece no canto externo, na fonte bold, seguindo (em direção
ao centro da revista) as palavras “Super” e logo depois “mês e ano” (sempre nessa ordem)
em fonte regular. Se a página está dentro de uma das grandes seções, a vinheta recebe,
ainda, o nome (“Novas” ou “Radar”) da seção em bold. A seção “Manual” ganha uma
moldura vermelha.

3.3.2.3 Edição 270 (outubro de 2009)


82

Figura 25: Capa ed.270 outubro

Os ajustes realizados no novo projeto gráfico resumem-se a extensão do nome do


título (“Supernovas” ou “Superradar”) da seção, na vinheta da revista. O item “Para saber
mais” das reportagens volta a ter a mesma configuração de cor de antes da reforma no
projeto gráfico.

Figura 26: Vinheta ed.270 outubro Figura 27: “Para saber mais” ed.270 outubro

3.3.2.4 Análise Elementos de identificação

A reforma dos elementos de identificação dentro da revista é total. Eles ganham uma
padronização visual mais atraente, com cantos arredondados. Sua padronização em cores
para grandes seções diferentes funciona muito bem para organizar as matérias de forma
visual, de fácil entendimento, realizando o intuito de esclarecer o leitor do que ele está
olhando, como espera White (2006), Essas mudanças ajudam a criar um aspecto visual mais
vivo, com uma impressão de movimento e que flui de maneira mais rápida e que não existia
no projeto gráfico anterior devido ao uso constante de tipos e itens com cantos quadrados
83

(que, junto com as colunas retangulares das matérias) davam um aspecto repleto de
retrancas visuais.
O uso de mais possibilidades de cores, embora fuja do uso constante do vermelho,
característica da revista, ajudam a organizar os elementos e a possibilitar novas
combinações de cores, deixando a revista mais colorida. Essas combinações, entretanto,
exigem mais atenção, pois podem gerar páginas confusas visualmente.

3.3.3 Tipografia

Conforme SOUSA (2001) e Williams (2009), a tipografia especifica quais foram as


configurações (tamanho, disposição, entre outros) dos tipos usados em todos os elementos
textuais da publicação.

Figura 28: Tipografia capa ed.266 junho

Figura 29: Tipografia capa ed.268 agosto


84
85

Figura 30: Tipografia A ed.266 junho

Figura 31: Tipografia B ed.266 junho Figura 32: Tipografia corpo reportagem ed.266 junho
86

Figura 33: Tipografia matérias curtas e notas ed.268 agosto

Figura 34: Tipografia reportagens ed.268 agosto


87

3.3.3.1 Análise Tipografia

Em uma das categorias de máxima importância para legibilidade, a reforma, em geral


trouxe avanços. A escolha dos tipos em geral e o seu uso (entrelinhamento, tamanho,
espaço entre caracteres) beneficiaram a padronização e um aspecto visual mais limpo e
atraente. Toda a revista trabalha com praticamente quatro famílias de tipos (excetuando-se
títulos ou seções especiais) que têm boas possibilidades de mudanças e que, combinadas,
formam um conjunto que não fica pesado visualmente por não ter excessos.
Nos títulos, subtítulos, parágrafos de entrada, entre outros, houve melhora pelo uso
de caracteres em caixa baixa e sem serifa. Eles ajudam a tirar o aspecto “quadrado”, que flui
de forma devagar já que o um conjunto de palavras davam a impressão de formar pequenos
retângulos, e davam um aspecto pesado à composição visual, trabalhando como
representação de tamanhos e pesos, como afirma Sousa (2001).
A escolha que piorou a legibilidade da revista foi a composição de tipos mais
importante: o corpo das reportagens. O projeto atual, embora também tenha adotado um
tipo serifado como o projeto antigo, usa um tipo moderno, muito fino (ou light) e com forte
transição grosso-fino, que, de acordo com Williams (2009) não é indicado para textos de
grandes extensões. À primeira vista, a página fica mais limpa, já que a mancha da coluna
parece mais cinza. O problema é que ele se perde facilmente no fundo, principalmente para
leitores com dificuldades de visão (embora a revista se intitule “jovem”, pode se ver nas
pesquisas que a grande maioria do público é adulta) ou para páginas em negativo, de fundo
escuro com tipo claro (SILVA, 1985). As outras configurações (entrelinhamento, corpo,
espaço entre caracteres) seguem as mesmas, mas como o novo tipo é aproximadamente um
milímetro mais alto, o entrelinhamento deveria ser maior do que é. Esse problema na
macro-tipografia (HEITLINGER, 2007) também se percebe em outros momentos, com outros
tipos.

3.3.4 Grid

Organizações básicas de disposição de colunas textuais, padronizadas em uma


publicação, podendo ou não ser desconstruídas em algumas páginas.
88

3.3.4.1 Ed.266 (junho de 2009)

O grid desta edição traz duas organizações básicas de coluna: a primeira, de três
colunas com margens externas e internas de tamanhos aproximados; e a segunda, de duas
colunas, com uma a margem interna ou externa de tamanho maior que a sua contrária. Essa
configuração dificilmente é desconstruída e normalmente acontece em caso de infográfico
ou de matérias compostas por vários textos curtíssimos. É rara a quebra (ou o denteamento)
de uma coluna textual.

Figura 35: Grid 3 colunas A ed.266 junho Figura 36: Grid 3 colunas B ed.266 junho
89

Figura 37: Grid 2 colunas A ed.266 junho Figura 38: Grid 2 colunas B ed.266 junho

3.3.4.2 Ed.268 (agosto de 2009) e Ed.270 (outubro de 2009)

O grid adotado pela reforma gráfica (e seguido, sem diferenças, nas edições
posteriores observadas) é muito mais volátil. Os dois grids do projeto anterior se mantêm
em algumas matérias. Surge o grid de quatro colunas iguais para o “Fórum” e para páginas
com várias notas e o grid com duas colunas de tamanhos diferentes. A quebra com essas
formatações acontece mais frequentemente. O denteamento de colunas também.
90

Figura 39: Grid 3 colunas A ed.270 outubro Figura 40: Grid 3 colunas B ed.270 outubro

Figura 41: Grid 2 colunas A ed.270 outubro Figura 42: Grid 2 colunas B ed.270 outubro
91

Figura 43: Grid 4 colunas A ed.270 outubro Figura 44: Grid 4 colunas B ed.270 outubro

Figura 45: Grid colunas diferentes A ed.270 out. Figura 46: Grid colunas diferentes B ed.270 out.

3.3.4.3 Análise Grid

Sem perder em padronização, a reforma gráfica conseguiu criar um aspecto visual


com mais possibilidades para com seus vários elementos imagéticos (como as variadas
ilustrações e infográficos). A organização visual de cada matéria ou de cada seção resulta em
rápido entendimento, já que elas podem se diferenciar entre si, mantendo ligações visuais e
não deixando de se notar, visualmente, sua unidade como uma revista só. O tamanho das
92

colunas (HEITLINGER, 2007) se mantém razoável. Um dos problemas está na quebra de


colunas, ou denteamento, que, de acordo com Sousa (2001) dificulta a legibilidade.

3.3.5 Espaço em branco

O espaço não preenchido por elementos visuais (textuais ou imagéticos) participa da


comunicação delimitando espaços, criando áreas de contraste e funcionando como descanso
visual (SILVA, 1985; WHITE, 2006; WILLIAMS, 2009).

3.3.5.1 Ed.266 (junho de 2009)

A revista antes da reforma gráfica tinha um grid bem organizado, em que os espaços
em branco estavam bem colocados a fim de criar uma hierarquia de leitura visual bastante
óbvia e que tornava o produto bastante legível, mas que não possibilitava o uso expressivo
ou dramático de espaço em branco. Nesta edição, o uso do branco normalmente está
associado a um aumento de margem exterior ou superior, não sendo utilizado para dar um
grande destaque a um único elemento.

Figura 47: Branco A ed.266 junho Figura 48: Branco B ed.266 junho
93

3.3.5.2 Ed.268 (agosto de 2009) e Ed.270 (outubro de 2009)

Com a adoção do novo projeto gráfico, a revista passou a aumentar os espaços em


branco, principalmente nas reportagens, criando páginas expressivas e dando destaque a
certos elementos visuais. As áreas de interesse visual por contraste, portanto, podem
ocorrer com mais freqüência, assim como a hierarquização e diferenciação de conteúdos por
proximidade.

Figura 49: Branco A ed.268 agosto Figura 50: Branco B ed.268 agosto

Figura 51: Branco ed.270 outubro


94

3.3.5.3 Análise Espaço em branco

Sem perder em padronização, a reforma gráfica conseguiu criar um aspecto visual


com mais possibilidades para com seus vários elementos imagéticos (como as variadas
ilustrações e infográficos). A organização visual de cada matéria ou de cada seção resulta em
rápido entendimento, já que elas podem se diferenciar entre si pela proximidade e contraste
(DONDIS, 1980), mantendo ligações visuais e não deixando de se notar, visualmente, sua
unidade como uma revista.
O impacto visual aumentou, assim como a significação estética, valorizando e
destacando a mensagem visual e esclarecendo o leitor (SILVA, 1985; WHITE, 2006), além de
possibilitar a diferenciação em unidades destacada pela Gestalt.
95

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entrar em áreas de conhecimentos externas a que se comumente trabalha e/ou


conhece com profundidade sempre se mostra um desafio. O jornalista, entretanto, é um
profissional que não tem outra escolha a não ser aprender a fazer isso com maestria, já que
a execução de seu trabalho vai exigir essa capacidade nos mais variados níveis e para os mais
diversos assuntos. O jornalista trabalha com diferentes profissionais, contextos sociais e
áreas de conhecimento: da ciência à cultura, da tecnologia à história, do desejo de seu
público leitor às questões éticas, do sentido à técnica, da linguagem à legibilidade - o
jornalista precisa de sabedoria e discernimento suficientes para lidar com várias questões ao
mesmo tempo.
Este trabalho surgiu e se desenvolveu com o objetivo principal de contribuir à
construção dessa ponte entre diferentes áreas acadêmicas. Neste caso, fez-se o caminho de
uma só via, do jornalismo em direção ao design, mas nada impede que o caminho contrário
seja seguido, assim como se constroem pontes para outras áreas de conhecimentos, como a
antropologia ou a política.
O jornalismo e o design não são expressões puramente artísticas, pois nascem de um
objetivo e devem criar um conteúdo com destinos e sentidos previstos. O Jornalismo é uma
manifestação, e faz isso de muitas formas. Uma delas é a visual. Assim acontece nos
produtos impressos, que se constroem em específica linguagem visual e verbal. Ou na
televisão. Ou na web.
Concluiu-se, então, que não se pode falar de legibilidade sem falar de conteúdo
editorial, sem falar de público. A legibilidade também é influenciada por interesse ou
necessidade (uma lista telefônica tem uma legibilidade ruim se comparada aos produtos
impressos, mas vai ser consultada sempre que o seu “leitor” precisar).
Também não se pode falar em legibilidade sem falar do público leitor, dos seus
anseios e dos seus costumes. Não se deve, portanto, esquecer que o produto jornalístico
não é produzido para ser consumido pelos jornalistas, assim como o design de notícias não é
produzido para consumo pelos designers. A notícia, a reportagem, a matéria são construídas
para atender a interesses e demandas do leitor. O modo como esse leitor vai consumi-la
também dele depende, dos seus hábitos e costumes e de que maneira ele se sensibiliza
visualmente.
96

A atração visual, entretanto, não é a única preocupação, e nem a principal. A atração


é a primeira parte do processo. De nada vale o design de notícias se não guiar o leitor pelo
caminho correto para o entendimento da mensagem. De nada vale o design atraente se a
matéria não for consumida na sua totalidade, ou seja, se for consumida só visualmente e
não verbalmente.
A revista Superinteressante ficou mais atraente, mais interessante visualmente
(expandiu o seu discurso visual) e, portanto com mais potencialidade para ser lida. Sua
organização teve melhora considerável ao hierarquizar de forma mais clara todos os
conteúdos da revista, criando elementos visuais que assim o possibilitam-se. Seu erro,
entretanto está no mais básico e original conceito de legibilidade eficiente: a micro-
tipografia do corpo das matérias, os mínimos aspectos de cada caractere, palavra e coluna.
Este estudo se mostrou como ferramenta de contribuição à área de conhecimento do
campo jornalístico ao retificar a importância dos fatores que influenciam diretamente o
consumo da notícia e que, dentre eles, escolheu pesquisar um fator determinante – a
legibilidade – que, em análise de produtos comerciais, encontra pouca bibliografia.
Também contribui com a discussão de vários termos que permeiam a prática
jornalística, mas que por terem sido adotados por uma área afim, que se fortaleceu no
último século - o design, têm sido pouco discutidos por pesquisas acadêmicas da área de
jornalismo.
Acredita-se que os leitores da revista Superinteressente poderiam ter sido ouvidos, o
que não foi possível por questões de tempo e de delimitação da questão central. São eles,
afinal, que têm importante participação das definições que irão permear o processo de
leitura; são eles os responsáveis por ajudar a criar o hábito de leitura da revista e são eles
que se adaptam (ou não) às novas propostas do corpo editorial e gráfico que a revista fez e
fará a cada renovação.
Espera-se que este trabalho seja um ponto de partida para a retomada da
participação da academia dentro da redação dos produtos jornalísticos, aproximando áreas.
Aproximação que, pelo que se observa em manuais e informações de redações, já faz parte
do contexto de muitas publicações: o comprometimento do jornalista com a apresentação e
conceituação visual de sua matéria e da publicação e a inserção do designer como gestor
desse processo.
97

Percebeu-se, portanto, que o resultado da união de forças de duas áreas distintas


(mas com possibilidades de relação e influência), o jornalismo e o design, têm muito a
contribuir para a construção e consumo da notícia, mas que essas duas áreas devem,
ironicamente, se comunicar melhor. Devem compartilhar problemas e soluções que
beneficiarão a ambas.
E que beneficiarão, em primeiro lugar, a preocupação constante do jornalista de
produto impresso: a compreensão.
98

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