RESUMO
“Para Marx, alienação era o resultado das relações entre a propriedade privada, o
dinheiro, e a mercadoria por um lado e a religião e o Estado por outro e nesse sentido, a
perda de sua essência devia-se fundamentalmente à submissão do homem aos interesses
privados que os dissociava dos interesses da comunidade. A necessidade da emancipação
humana é colocada nos termos da perda de uma essência que necessitava ser recuperada”
(HANFAS, 2006).
Não entrarei muito a fundo nesta discussão, pois penso muito na questão da essência
humana no intuito de compreender as forças do poder do capital presentes na sociedade; e a
partir de um certo ponto na trajetória de amadurecimento teórico de Marx, essa questão já
não é tão forte e presente como em outros momentos. Tentar tratar das várias interpretações
de algumas teorias de Marx de forma sistemática seria impossível. Por isso, fiz a escolha de
tratar de apenas alguns pontos, e mesmo assim, de forma bem sintética. Uma das questões
mais controversas seria talvez a colocação de “jovem Marx e velho Marx”. Penso
sinceramente nesta questão como algo no mínimo equivocado, uma vez que coloco a
trajetória teórica de Marx como um caminho de amadurecimentos teóricos, e não como
momentos estanques de rupturas ou momentos de uma possível continuidade de
pensamentos. De acordo com John Macmurray em “The early development of Karl Marx’s
thought” apud Mészáros em “ A teoria da alienação em Marx”:
A discussão sobre o homem sempre esteve presente na vida de Marx, se não como
homem abstrato e universal, mas como “homem real”, indivíduo social. Mesmo no fim de
sua vida, quando escrevia o terceiro volume de “O Capital” , Marx defendia para os seres
humanos as condições mais favoráveis à sua natureza humana. Sua preocupação e estudos
com as classes e com o proletariado continuaram sempre presentes assim como sua
preocupação com a emancipação humana. Assim como também não abandonou ou rompeu
com o conceito de alienação (como dizem muito estudiosos). Pode-se pensar também que
esta controvérsia trata-se de um esforço para opor a economia política à filosofia, ou vice
versa , afastando a idéia do “jovem filósofo Marx” do “velho economista político Marx”
(MÉSZÁROS, 2006). Deixo claro aqui, que de forma alguma o fato de não aceitar essa
dicotomia na vida de Marx, me faria negar toda a “evolução” teórica deste incrível
pensador e intelectual.
Em relação ao que prefiro chamar de amadurecimento teórico, acho interessante
fazer algumas colocações sobre o motivo pelo qual não corroboro com a idéia de ruptura ou
continuidade na trajetória de Marx. A idéia de ruptura não me basta, uma vez que coloca a
idéia de uma mudança radical, onde os pressupostos anteriores são abandonados em virtude
de novos. Não penso ser possível que ocorra dentro do domínio científico, uma ruptura que
elimine a verdade anteriormente aceita. “Desde a sua consolidação o seu objeto é
redefinido várias vezes, mas as teorias que lhe dão corpo não desaparecem como
inverdades.” A idéia de continuidade, responde muito menos ao que entendo como
produção do conhecimento, uma vez que estaríamos ignorando seu caráter histórico e
transitório. É preciso que haja o novo, porém, “[...] os novos momentos do desenvolvimento
científico não se acumulam em continuidade com os momentos anteriores. A sua novidade
exige descontinuidade nessa acumulação. Permanece lícito falar em cumulatividade desde
que o novo aqui não se constrói por mera oposição ao antigo, mas o mantém, limitando-o e
o ultrapassa, acrescentando-se a ele.” (CARDOSO, 1976). Penso que para que o indivíduo
tenha chegado a um tipo de pensamento novo, ele tem que passar, conscientemente ou não,
por outros muitos; assim como ocorre na produção do conhecimento, para que o sujeito
tenha elaborado um novo conhecimento, certamente construiu as bases deste novo usando o
anterior ou negando este anterior por este não responder mais as suas questões ou
problemáticas, ou pegando pontos “positivos” do conhecimento anterior que corroborem
com este conhecimento novo, de forma a amadurecer idéias. É assim que penso a trajetória
de Marx. Para que ele tenha chegado ao marxismo como é pensado hoje, acredito ter sido
de suma importância passar pela concepção hegeliana e feurbachiana; passar da posição
filosófica à posição política; passar da análise do homem para a análise da história, para
somente assim, chegar de forma mais completa na mudança da problemática do humanismo
para o materialismo histórico, completude essa que prefiro pensar como uma fusão entre
estes, utilizando o humanismo marxista, onde algumas idéias do humanismo teórico são
amadurecidas com os novos pressupostos trazidos pelo materialismo histórico.
Os aspectos discutidos acima formam apenas uma pequena base para pensar a
questão da emancipação humana com o olhar do capital. Trazer a reflexão da
desumanização do homem, na medida em que seu poder sobre a natureza se encontra
perdido nas relações sociais capitalistas. Refletindo ainda como este homem perde sua
essência humana para o mundo do trabalho.
Para fechar este trabalho, que acredito ter trazido mais indagações e dúvidas do que
propriamente respostas, venho colocar a proposta de desalienação como possibilidade de
mudança. Dentro desta proposta, trago abarcada a possibilidade de humanização do
homem, da busca por sua essência enquanto ser social, com possibilidades de lutar por uma
sociedade menos desumanizadora e alienada. Talvez estes anseios sejam apenas propostas
ou até mesmo sonhos, mas penso que a luta por outra sociedade seja a única forma
verdadeiramente possível de pensar a questão da emancipação. Segundo Handfas (2006), a
alienação é tida como a própria desumanização do homem, na medida em que a sua
liberdade, o seu direito e o seu poder sobre a natureza se encontram mutilados nas relações
sociais capitalistas. Sendo assim, a única forma possível de desalienação ou retorno à
essência do homem seria a transformação da realidade.
Por fim, trarei as palavras de Marx transcritas por Anita Handfas (2006) no que diz
respeito às possibilidades possíveis em nosso panorama atual.