1
Transcrito das apresentações da autora no XVI ENCONTRO NACIONAL do FORUMDIR, realizado na Chapada
dos Guimarães – MT, agosto de 2002 e no FORUM NACIONAL DE PEDAGOGIA 2004, realizado em Belo
Horizonte, julho de 2004.
2
À propósito, ver as seguintes publicações: PIMENTA, S.G. O Pedagogo na escola pública. SP. Ed. Loyola.
1979 (1a. Ed.); PIMENTA, S.G. (org) Pedagogia, ciência da educação? SP. Cortez Ed. 1996 (1a. Ed.), na qual
publico o cap. Panorama atual da Didática no quadro das ciências da educação: educação, pedagogia e
didática, p. 39:70; PIMENTA, S.G. (org) Didática e Formação de Professores: percursos e perspectivas no
Brasil e em Portugal. SP. Cortez Ed. 1997 (1ª. Ed.), na qual publico o cap. Para uma re-significação da
Didática: ciências da educação, pedagogia e didática, p.19-76; PIMENTA, S.G. (org) Pedagogia e Pedagogos:
caminhos e perspectivas. SP. Cortez Ed. 2002 (1a. Ed.), na qual publico , em parceria com LIBÂNEO, J.C., o
cap. Formação dos Profissionais da Educação: visão crítica e perspectivas de mudança, p. 11-58. E o livro de
LIBÂNEO, J.C. Pedagogia e Pedagogos, para quê? SP. Cortez Ed. 1998 (1a. Ed.), no qual publico o Prefácio.
1
entendendo, pois, que a pedagogia é a base da formação e da
atuação profissional do professor, e não o contrário como configura
a posição da ANFOPE.
2
para o desenvolvimento humano de todas os sujeitos que nascem,
garantido-lhes o usufruto dos bens da civilização e dotando-os de uma
perspectiva analítica e crítica a fim de que se coloquem como
construtores de novos modos de se processar a civilização. Uma
civilização que garanta as condições humanas de vida a todos, que
assegure os direitos humanos para todos, de sobrevivência, de
alimentação, de trabalho, de participação social, de elaboração da lei, de
construção da democracia etc. A educação é inerente ao processo de
humanização que ocorre na sociedade em geral. Por isso, afirmamos
que a educação é uma prática social, histórica e situada em
determinados contextos. Nesse sentido, é que podemos afirmar que a
educação é uma práxis social. Estudá-la, analisá-la, compreendê-la,
interpretá-la em sua complexidade, e propor outros modos e processos
de ser realizada com vistas à construção de sociedade justa e
igualitária, supõe a contribuição de vários campos disciplinares, dentre
os quais o da pedagogia.
3
pedagógicas, sintetizando os aportes das disciplinas anteriores, focando
nos resultados do ensino e da educação e dos sistemas escolares. Por
sua vez, ciências como a física, a matemática, a geografia, a história, a
biologia, as letras, têm-se constituído também como campo da
pedagogia, por se voltarem aos estudos dos fundamentos dos métodos
do ensino, uma das atividades profissionais do pedagogo.
3
Um breve histórico do curso de pedagogia no Brasil pode ser examinado no item 1. O CURSO DE
GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA NO CONTEXTO ATUAL, da proposta de Diretrizes Curriculares para os Cursos de
Pedagogia, apresentada pelo FORUMDIR ao CNE, em junho de 2004, e anexa a este.
4
interior das instituições de ensino superior. Uma amostra do quadro
atual desses cursos4, na região sudeste, apresenta os cursos de
pedagogia em diferentes formatos: cursos que mantém as habilitações
conforme o parecer 252/69 e acrescentaram outras; cursos que
retiraram as habilitações e se transformaram em formação de
professores para as séries iniciais do Ensino Fundamental; cursos que
combinam essas duas modalidades; cursos que mantém a formação de
professores das séries iniciais e oferecem modalidades de
aprofundamento em educação especial, educação infantil, jovens e
adultos, empresas, indígenas, etc., em forma de cursos de
especialização, com variação de horas, enriquecimento curricular, etc.
Outros cursos fundiram as habilitações em uma só. De modo geral, os
cursos que mantiveram as habilitações fizeram modificações e
atualização no interior das mesmas. O fato novo que se observa é a
ênfase à formação de professores para as séries iniciais, muitas vezes
reduzindo a formação do pedagogo a professores para esse segmento
do ensino.
4
Fonte: Carta de Uberlândia, Relatório do Encontro da Regional Sudeste do FoRUMDIR, realizado em
Uberlândia – MG, em janeiro de 2003.
5
da abertura indiscriminada de universidades particulares, representam
ações ideológicas claramente voltadas à dimensão da análise crítica
necessária à atuação dos educadores. No caso da investida contra o
curso de pedagogia, o sentido ideológico foi o de desvalorizar o único
espaço nas universidades, ao nível de graduação, que se volta a fazer,
intencionalmente, a análise crítica da educação praticada na sociedade.
5
Esse destaque é importante, porque nem sempre os professores que assumem as disciplinas do curso de
pedagogia têm a clareza de que seu objeto é a educação enquanto práxis social. Marcados por sua formação
de origem no campo da sociologia, da filosofia, da psicologia, etc., muitas vezes desconhecem o campo da
educação e do ensino ou por eles não se interessam.
6
superior público, especialmente as universidades. Ilustra essa afirmação
o discurso governamental de que as universidades não são capazes de
formar professores que se inseriram na escola pública e lá permaneçam.
Esse discurso ignora a desvalorização histórica dos salários e das
condições de trabalho dos professores, mantida nesse mesmo governo,
como o fator preponderante para que os jovens bem formados busquem
outras alternativas de inserção profissional6.
6
É importante lembrar que o pacto estabelecido pela Conferência Nacional de Educação, promovida pelo MEC
e várias entidades civis e governamentais e sindicatos de educadores, em 1993, no governo anterior, para o
estabelecimento de um salário mínimo nacional de R$ 300,00, foi ignorado pelo governo FHC.
7
pedagogia, quer no âmbito de suas representações sobre esse curso,
quer pela maior valorização do diploma de pedagogo nos estatutos do
magistério dos estados e municípios. Esse dado cultural os legisladores
de então não haviam previsto.
3. Propostas e encaminhamentos
7
Sobre esse tema, ver o excelente texto de Jacques THERRIEN, A Pedagogia no atual contexto de formação,
apresentado na Semana de Pedagogia da FEUSP – 2003 (versão em CD Rom) e que subsidia a proposta de
Diretrizes do ForumDir no seu item 2. PRESSUPOSTOS E FUNDAMENTOS DA PROPOSTA DE DIRETRIZES
CURRICULARES PARA O CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA, especialmente o item O trabalho
pedagógico. Ver também o livro de LIBÂNEO J.C., Pedagogia e Pedagogos, para quê?, referido em nota
anterior.
8
minha inserção profissional, de meu trabalho que crio as condições para
sobreviver e para me constituir como ser humano e contribuir para que
outros o sejam.
8
Sobre esses temas ver, por exemplo, BRZEZINSKI, Iria. Pedagogia, pedagogos e formação de professores.
Campinas. Papirus. 1996; LIBÂNEO, J.C. Adeus Professor, adeus Professora? São Paulo. Cortez. 1998;
PIMENTA, Selma G. Saberes pedagógicos e atividade docente.(org). São Paulo. Cortez. 1999; GUIMARÃES,
Valter. Formação de Professores: saberes, identidade e profissão. Campinas. Papirus, 2004.
9
Não vou desenvolver esse tema neste texto. Para aprofunda-lo ver o livro de PIMENTA, Selma G. e
ANASTASIOU, Lea. Docência no Ensino Superior. São Paulo. Cortez Ed. 2003.
9
Essas questões referentes à profissionalização docente reveste-se
de grande importância, especialmente quando se trata dos professores
das séries iniciais, tradicionalmente desqualificados social e
profissionalmente como ´tias´. Por isso, a conquista de se elevar sua
formação ao nível superior na LDBEN, em que pesem suas contradições,
é indiscutivelmente uma conquista, pois ensinar crianças é tão complexo
quanto o pediatra (médico formado em nível superior) cuidar da saúde
dessas crianças. Para essa formação, estão aí as universidades e, nelas,
o curso de pedagogia. Não seria, pois necessário inventar-se nova
instituição! Mas, é preciso re-inventar o curso de pedagogia para dar
conta também dessa formação!
Da profissão de pedagogo
10
Admitindo, pois, que a docência é uma profissão com identidade
e estatuto epistemológico próprios, e que em si, o ensino é uma das
manifestações da práxis educativa, definir o pedagogo como professor
(e das séries iniciais) é reduzir a potencialidade de sua inserção na
práxis educativa10. Por outro lado, dizer que enquanto pedagogo ele
pode também ser docente das séries iniciais (para o que ele tem que ser
formado e preparado, através do conjunto das disciplinas e atividades
que compõem o curso, orientadas por docentes de várias áreas que
tenham a educação e o ensino como objeto de estudo), significa garantir
o único espaço adequado na universidade para a formação dos
professores e pesquisadores para esse nível de escolarização
(lembrando que o curso normal médio está em extinção e lembrando
que onde se faz pesquisa é na universidade).
10
Para aprofundar esse tema ver FRANCO, Maria Amélia. Pedagogia como ciência da educação. Campinas.
Papirus. 2003; e PINTO, Umberto A. O Pedagogo escolar: avançando no debate a partir de experiência nos
cursos de Complementação Pedagógica. In: PIMENTA, S.G. (org) Pedagogia e pedagogos: caminhos e
perspectivas. São Paulo. Cortez Ed. 2002.
11
cursos de formação de professores e na gestão dos processos
educativos escolares e não-escolares, assim como na produção e difusão
do conhecimento do campo educacional (cf. item 2. da proposta de
Diretrizes, ForumDir, 2004). A meu ver essa proposta de diretrizes,
além de avanços construídos pela Comissão de Especialistas11, enfrenta,
estrategicamente, a importância da formação dos professores das séries
iniciais no curso de pedagogia, único espaço em nível superior para se
proceder sua formação com a qualidade desejada, entendendo-a como
uma das inserções profissionais possíveis dos pedagogos, e entendendo
que essa formação não se reduz a sala de aula, mas inclui a gestão das
políticas e dos espaços de ensino e aprendizagem, sejam eles escolares
ou não. Portanto, implica a formação de um pedagogo da educação
infantil (da criança de 0 a 10 anos). Considerando a complexidade dessa
educação, admite-se áreas de aprofundamento para uma formação mais
voltada para a criança de 0 a 06 anos (Educação Infantil) e para a
criança de 07 a 10 anos (séries iniciais do Ensino Fundamental).
Portanto, tendo a pedagogia como base para a formação docente.
11
Essa Comissão teve como coordenadoras as profas. Dras. Mérion Bordás, diretora da Faculdade de
Educação da UFRGS e Yoshie Ussami Ferrari Leite, da UNESP de presidente Prudente.
12
que as áreas e demandas específicas, como educação de pessoas com
necessidades, educação no campo, de indígenas, para a inserção nas
mídias, etc. se faça fora do curso de pedagogia, como aprofundamentos,
enriquecimento curricular, especialização, etc., e não necessariamente
restritos a pedagogos.
(anexo)
13
Brasileiras, aprovada no XVII Encontro Nacional realizado em
Porto Alegre/RS –dezembro de 2003.
14
agregam à habilitação para o magistério, uma ou mais habilitações de
especialistas, obedecendo parcialmente ao Parecer CFE 252/69. Este
predomínio foi uma decorrência natural do entendimento cada vez mais
claro da urgência em prover uma formação em nível superior a novas
gerações de professores, como instrumento de aperfeiçoamento
profissional e, conseqüentemente, de melhoria do ensino fundamental e
da educação infantil do país.
Em seu processo de consolidação do novo modelo de curso, boa
parte das instituições formadoras tem contemplado o atendimento a
demandas sociais específicas com a oferta de disciplinas optativas,
enriquecimento curricular, cursos de extensão e desenvolvimento de
projetos especiais. Nesta ultima categoria, encontra-se a formação para
a docência na Educação de Jovens e Adultos, na Educação Indígena, na
Educação para os portadores de necessidades especiais, entre outras, a
partir da capacidade instalada e do desenvolvimento da pesquisa das
respectivas áreas nessas instituições. ]
Ocorre que todas as perspectivas inovadoras que marcam a
trajetória dos Cursos de Pedagogia nos últimos quinze anos foram
ignoradas pelos reformadores oficiais que instauraram uma nova ordem
para a educação do país, a partir da promulgação da nova Lei de
Diretrizes e Bases, a LDB nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Diante das sucessivas determinações legais que se seguiram à
Lei, instituições, entidades de classe e educadores responsáveis pelos
cursos de Pedagogia, durante os últimos seis anos, agora foram
insistentes na busca de diálogo com o Conselho Nacional de Educação e
com o Ministério de Educação, procurando não apenas tornar claros os
dados da realidade dos Cursos como explicitar as razões de seu
desacordo com os rumos traçados pelas novas políticas governamentais
em relação aos mesmos. Os resultados insatisfatórios dessa busca
revelam-se, hoje, na confusa e quase insustentável situação legal em
15
que se encontram os Cursos de Pedagogia, dada a inexistência de
Diretrizes Curriculares Nacionais que os orientem.
No sentido de contribuir para encontrar uma saída institucional
que responda às expectativas dos educadores e aos interesses da
educação básica do país, o Fórum de Diretores de Faculdades/Centros
de Educação das Universidades Públicas Brasileiras – FORUMDIR – vem,
mais uma vez, apresentar o resultado concreto das discussões
realizadas ao longo dos últimos cinco anos, consubstanciado no presente
documento. Acreditamos que este representa o máximo de consenso
possível ao sistematizar idéias e proposições debatidas nacionalmente
nas instituições de ensino superior e nas diferentes entidades que
reúnem os profissionais da formação de professores e os pesquisadores
da área da educação, bem como incorpora as propostas de diretrizes
encaminhadas ao MEC e ao CNE pelas Comissões de Especialistas da
Pedagogia, chamadas a manifestar-se formalmente em 1998 e em
2002.
16
processo formador, mostrou sua precariedade em termos de
constituição e titulação acadêmica de seu corpo docente, tornando-os
inaptos para o desenvolvimento da pesquisa. Assim, ao separar
atividades de formação e atividades de produção de conhecimentos
essenciais à docência de cada área, desenvolvida fundamentalmente no
ambiente universitário e responsável pelos significativos avanços
teóricos na área da Educação nos últimos trinta anos, o novo achado
oficial acabou exacerbando o dualismo que caracteriza o modelo de
licenciatura ainda vigente.
Mesmo admitindo as possibilidades de um currículo melhor
definido, mais integrado, abertas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Formação de Professores da Educação Básica, aprovadas em
2002, é difícil sustentar a hipótese de que os ISEs ultrapassem os
limites de uma formação profissional eminentemente prática ou técnica,
por não contarem com o indispensável aporte da produção de novo
conhecimento. Isto porque os Institutos, na verdade vieram, tão
somente substituir, por mera mudança de nome e razão social de
mantenedoras, a legião de Faculdades isoladas que formam professores
em todas as regiões do país, com uma qualidade menor, senão suspeita.
Já em relação ao Curso de Pedagogia, os sucessivos
ordenamentos legais que instituíram o Curso Normal Superior como
espaço preferencial da formação de professores para os Anos Iniciais e
para a Educação Infantil, além de desestabilizar o cumprimento de uma
função desempenhada com sucesso nos Cursos desenvolvidos pelas
universidades, pretendem consagrar uma indesejável separação entre
docentes e especialistas que se ocupariam da gestão educacional. Esta
separação é indicadora de uma visão ultrapassada entre o fazer e o
pensar a docência e a escola, contraditada na própria LDB/96, como
evidenciado no seu Título VI que trata dos “Profissionais da Educação”.
17
Curso basilar da formação acadêmico-científica, teórico-
investigativa do campo educacional e do trabalho pedagógico, o Curso
de Pedagogia passou a ter sua existência ameaçada; quando, através de
12
Decretos e Pareceres do CNE , foi proposto transferir ao Curso Normal
Superior sua competência de formar professores para os Anos Iniciais
do Ensino Fundamental e/ou para a Educação Infantil. Mais ainda, as
vozes oficiais insistiram em fundamentar sua proposta excludente no
disposto no Art. 64 da LDB/96 pretendendo atribuir ao Curso apenas a
responsabilidade em formar os profissionais especializados nas áreas de
coordenação, administração, planejamento, orientação, etc.. O
entendimento do referido artigo decorre de leitura enviesada, pois
atribuir ao Curso de Pedagogia a responsabilidade dessa formação de
nenhum modo implicaria impedi-lo de formar os profissionais do ensino,
como vinha e segue fazendo.
De qualquer modo, a insistência em descaracterizar o Curso, sem
considerar o caminho por este percorrido em mais de quinze anos de
trabalho inovador, aliada à resistência por parte do MEC e do CNE em
definir as Diretrizes nacionais para a Pedagogia, a partir da contribuição
apresentada em 1998 e reapresentada em 2001 pelas Comissões de
Especialistas da área que atenderam ao chamado da SESu/MEC, em
Edital de 1997. A proposta das Comissões orientou-se pelos pontos de
vista dos educadores de todo o país, congregados em diferentes
associações e entidades e nos dados recolhidos em estudos e pesquisas
desenvolvidos desde a década de oitenta.
Constatamos que o extenso período decorrido entre o Parecer
252/69 e o momento atual tornou possível não apenas uma ampla e
aberta discussão entre os educadores, nas instituições e em seus
movimentos organizados, como também a implementação de inúmeras
12. Decretos nºs 3276/99 e 3 554/00, Pareceres CNE/CP 0009/2001, 028/2001, Resoluções CNE/CP NºS
1/2002 E 2/2002.
18
experiências praticadas nas diversas instituições de Ensino Superior
Universitárias que formam o pedagogo, além da produção de novos
conhecimento através da pesquisa realizada em contextos escolares e
não-escolares. Esse movimento de experimentações e de pesquisas
possibilitou a que se chegasse a uma clara explicitação da identidade
dos cursos de pedagogia e do pedagogo:
A Pedagogia se aplica ao campo teórico-investigativo da
educação e ao campo do trabalho pedagógico que se realiza na práxis
social. Assim, o curso de graduação em Pedagogia oferece ao pedagogo
uma formação integrada para exercer a docência nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental, na Educação Infantil e nas disciplinas pedagógicas
dos cursos de formação de professores e para atuar na gestão dos
processos educativos escolares e não-escolares bem como na produção
e difusão do conhecimento do campo educacional.
19
uma práxis transformadora repleta de intencionalidade que se expressa
na conceituação de trabalho voltado para a emancipação profissional e
humana de sujeitos.
O trabalho pedagógico
20
O Profissional de Pedagogia e seus Saberes
21
quais o pedagogo, sem ser um profissional da área, deve ter iniciação.
Sua familiarização com esses, na perspectiva da inter e
transdisciplinaridade, capacita-o a proceder à leitura do mundo onde se
situa e atua cotidianamente, construindo os saberes educacionais de
uma pedagogia de emancipação humana que a função de gestão
educacional requer.
Uma segunda dimensão de saberes próprios ao pedagogo e à
profissão que exerce diz respeito ao campo específico da pedagogia e da
gestão pedagógica propriamente dita. São os saberes que caracterizam
e fundamentam os processos de ensino-aprendizagem, suas teorias, as
determinações legais necessárias ao exercício da docência, e
particularmente o conjunto de saberes necessários à gestão educacional
entendida como a organização do trabalho em termos de planejamento,
coordenação, acompanhamento e avaliação nos sistemas de ensino e
em processos educativos escolares e não escolares, bem como o estudo
e a formulação de políticas públicas na área da educação.
Uma terceira dimensão de saberes próprios ao pedagogo,
integrados organicamente aos demais, refere-se aos saberes de cada
uma das áreas específicas de trabalho docente. Assim, a docência na
educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental, com seus
fundamentos, conteúdos e métodos, constitui lócus de práxis onde o
pedagogo exercita cotidianamente sua função pedagógica e amplia seu
reservatório de experiências – seu saber experiencial aplicado à reflexão
na pesquisa do cotidiano. A estes podem se acrescentar saberes de
disciplinas optativas para o atendimento a demandas específicas
(educação de jovens e adultos, educação de portadores de necessidades
especiais, educação em sistemas sociais ou empresariais, educação
popular, entre outras). Estas poderão, também, ser objeto de cursos de
especialização após a conclusão do curso de pedagogia.
22
Finalmente, não podem ser negligenciados os saberes
construídos na experiência cotidiana da trajetória pessoal de vida social
e cultural, de formação e particularmente de trabalho profissional, os
quais moldam a identidade do repertório de saberes disponíveis.
Um produtor de saberes
23
Um sujeito ético
24
É nesta perspectiva que a tríplice relação ao saber – a base de
conhecimentos do pedagogo, sua atuação como produtor de
conhecimentos e sua atuação ética - funda a característica
eminentemente profissional do trabalho do pedagogo, sistematizada
como segue:
25
participativo; que saiba lidar e gerenciar projetos e processos
educativos.
26
investigarem a realidade escolar e demais espaços educativos, neles
desenvolvendo essa atitude em suas atividades profissionais.
Nesse sentido, a introdução do Trabalho de Conclusão de
Curso, articulado preferencialmente às atividades desenvolvidas nas
práticas pedagógicas (de ensino) e nos estágios supervisionados, e à
participação em diferentes projetos educativos desenvolvidos pela
instituição formadora, pode constituir-se em instrumento que possibilita
a formação na pesquisa fundada na possibilidade de intervenção e
transformação das práticas educativas que ocorrem na sociedade.
Por esta razão, os ambientes de formação do pedagogo
devem propiciar, ao mesmo tempo, vivências reais da prática educativa,
assim como garantir familiaridade com as práticas científicas e
tecnológicas direta ou indiretamente envolvidas. Também o exercício
crítico, o desenvolvimento de atitudes e valores, a promoção do sentido
maior de cidadania, são mais ampla e efetivamente realizados diante de
situações reais, que podem igualmente ser encontradas ou suscitadas
nas condições de formação. Para isso, é preciso assegurar que o
currículo contemple estudo de metodologia de pesquisa, seminários de
discussão/análise das práticas, dentro de um movimento geral de
realização de trabalhos coletivos.
27
O currículo para a formação do pedagogo deve ser
simultaneamente, multidisciplinar, ou seja, estar fundado numa série de
disciplinas autonomamente constituídas, mas também interdisciplinar ou
transdisciplinar, no sentido de que determinado saber sobre
determinado objeto ou situação não resulta apenas da soma de
elementos fornecidos pelas várias disciplinas, mas de sua articulação
numa concorrência solidária que transcende cada uma das disciplinas
para a construção do conhecimento. Estas exigências também devem
estar presentes na implementação das atividades de prática pedagógica.
Assim, o trabalho em equipe não é uma alternativa opcional, é uma
necessidade intrínseca da complexidade dos processos de ensinar e de
aprender.
Os estágios supervisionados devem, igualmente, preparar para o
exercício coletivo da docência e da gestão, na perspectiva de que as
demandas e tarefas do cotidiano escolar precisam ser compreendidas e
respondidas como exigências a serem coletivamente elaboradas,
executadas e acompanhadas. As experiências docentes dos alunos que
já atuam no magistério devem ser valorizadas como referências
importantes a serem discutidas e refletidas nas aulas, programando seu
aproveitamento como outra mediação de seu processo formativo.
28
Os espaços da prática educativa, as escolas e outras
instâncias existentes num tempo e num espaço, são o campo de
atuação dos pedagogos (os já formados e os em formação). O
conhecimento e a interpretação desse real existente devem constituir o
ponto de partida dos cursos de formação (inicial e contínua), uma vez
que se trata de dar instrumentos aos futuros pedagogos para sua
atuação profissional.
Os currículos dos cursos de formação de pedagogos serão
assim organizados garantindo uma articulação direta com as escolas e
demais instâncias educativas da sociedade, num projeto que contemple
a análise dos saberes nelas praticados como recurso para o preparo dos
futuros pedagogos, bem como para a organização de programas de
formação continuada dos profissionais dessas instâncias.
Por isso, é importante desenvolver nos alunos, futuros
pedagogos, habilidades para o conhecimento e a análise das escolas e
demais espaços institucionais onde ocorre o ensino e a aprendizagem,
bem como das comunidades onde se inserem. Da mesma forma, a
utilização e a avaliação de técnicas, métodos e estratégias de ensinar
em situações diversas, a habilidade de leitura e reconhecimento das
teorias presentes nas atividades escolares e não escolares, são
conhecimentos a serem mobilizados nas diferentes situações de
aprendizagem oferecidas pelo curso.
As práticas pedagógicas/de ensino, que culminam com os
estágios supervisionados, comporão o currículo do curso de formação de
pedagogos, entendidas como espaços interdisciplinares, com clara
definição de responsabilidades para sua organização e supervisão. Terão
por finalidade proporcionar o conhecimento da realidade educativa
através da pesquisa, envolvendo o estudo, a análise, a problematização,
a reflexão e a proposição de soluções às situações de ensinar, aprender
e de elaborar, executar e avaliar projetos e programas educativos, não
29
apenas nas salas de aula, mas também na escola e demais ambientes
sociais voltados à educação e ao ensino.
Ocorrerão, portanto, desde o início do curso, possibilitando
que a relação entre os saberes teóricos e os saberes das práticas se
efetive durante todo o percurso da formação, garantindo, inclusive, que
os alunos aprimorem sua escolha profissional a partir do contato com as
realidades de sua profissão. Para isso, é importante a realização de
projetos conjuntos entre as escolas de formação e as escolas dos
sistemas, entre seus professores, alunos e coordenadores.
30
b) Gestão Educacional, entendida como a organização do
trabalho em termos de planejamento, coordenação, acompanhamento e
avaliação nos sistemas de ensino e em processos educativos escolares e
não-escolares, bem como o estudo e a formulação de políticas públicas
na área da educação.
31
A possibilidade de exercer a docência das disciplinas pedagógicas
na formação de professores é garantida pela configuração específica do
Curso de Pedagogia, que ao garantir aos estudantes uma apropriação
consistente dos conhecimentos básicos que fundamentam os processos
educativos e ações de ensino, distingue-se dos cursos de Licenciatura
que formam professores para atuar a partir do quinto ano do Ensino
Fundamental e no Ensino Médio.
32
• a tendência a ficar reduzido a um curso de formação
do professor para os anos iniciais do Ensino Fundamental; e/ ou
Educação Infantil
• a tendência em se inflar o curso de pedagogia com
inúmeras habilitações ou especializações desfigurando o campo do
trabalho pedagógico e investigativo-teórico da educação.
33
professor, têm possibilitado essa compreensão mais ampla dos
processos educativos através dos fundamentos da teoria
pedagógica e da gestão educacional e da pesquisa da realidade
escolar, incluindo a de sala de aula.
b) O curso de graduação em pedagogia constitui o
único espaço universitário de formação de professores para os
anos iniciais e para a educação infantil, nos quais a pesquisa é
um componente essencial de formação desse professor.
c) O curso de graduação em pedagogia constitui um
espaço no qual a formação dos professores dos anos iniciais e
da educação infantil se dá na sua integralidade, diferente da
formação dos professores para as demais etapas da
escolaridade, que requer projeto conjunto entre os
institutos/departamentos que se voltam aos conteúdos
científicos específicos.
d) O curso de pedagogia, dada sua identidade
téorico-investigativa do campo da educação e do campo do
trabalho pedagógico na práxis social, forma seus profissionais
com condições de desenvolverem as disciplinas pedagógicas
nos diversos cursos e programas de formação de professores.
34
RESOLUÇÃO CNE/CP Nº , de .................de
...................de 2004
RESOLVE :
35
ART.3. Constituem-se em dimensões integradas e indissociáveis
à formação profissional do Pedagogo:
36
Par. 3º . As instituições formadoras poderão oferecer
integradamente, em seu Projeto Acadêmico-Curricular específico, Curso
de Pedagogia contemplando a formação para os diferentes níveis de
docência e gestão educacional, respeitados os mínimos de carga horária
e duração estabelecidos no Art. 12 desta Resolução.
37
ART.6. O(s) Projeto(s) Acadêmico-Curricular(es) do curso de
Pedagogia será(ão) estruturado(s) tendo como eixos articuladores da
dinâmica do currículo a relação teoria-prática e a produção de
conhecimento sobre a realidade da escola, o trabalho docente, os
processos de aprendizagem, respeitadas a necessária diversidade sócio-
cultural no âmbito nacional e a especificidade eleita pela instituição
formadora.
38
l. Núcleo de conteúdos básicos, que propõe a reflexão crítica
sobre sociedade, educação, escola, profissional da educação e
compreende estudos referidos:
39
(iii) dos processos de organização do trabalho
pedagógico e gestão em espaços e sistemas escolares e não-
escolares;
(iv) das relações entre educação e realidade social
em suas diferentes manifestações;
(v) das relações e tensões constitutivas do exercício
profissional e da participação política dos profissionais da
educação em âmbitos escolares e não-escolares.
40
de conhecimento sócio-educacional, constitui-se em espaço privilegiado
de integração teórico-prática do(s) projeto(s) acadêmico-curricular(es)
do curso e em instrumento de aproximação e inserção do estudante à
realidade social e pedagógica dos espaços educativos escolares e não-
escolares e ao cotidiano do trabalho de docência e de gestão
educacional.
41
Par. 3º. A Prática Pedagógica, sob a forma de Estágio (s)
Supervisionado (s) realizado (s) a partir da metade do curso, implica a
inserção efetiva do estudante nas atividades de docência, como regente
de classe ou grupo de alunos e/ou nas atividades referidas à gestão da
escola, do sistema de ensino ou a outra instância educativa não-escolar.
alternativa
42
Par. Único – O tempo de integralização, para cada uma das áreas
básicas do Curso – Docência e Gestão dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental ou Docência e Gestão na Educação Infantil, será de no
mínimo quatro (04) anos e no máximo de sete (7) anos.
43