Apresentação da disciplina:
Vamos estudar na disciplina de Teoria Geral do Conhecimento a Filosofia e Filosofia
da Educação, reflexão e prática filosófica, estudar as Teorias do Conhecimento.
Também vamos estudar a Tematização sobre educação, cultura, valores e
ideologia. As correntes filosóficas contemporâneas e a educação.
Objetivos:
Conteúdo Programático:
• Introdução à Filosofia
• Teoria socrático-platônica (mito da caverna) - da opinião (doxa) para a ciência (episteme); Teoria
aristotélica e a metafísica - fundamentação da ciência antiga;
• Tipos de conhecimento: senso comum, mítico, religioso, a filosófico e científico;
• Teoria Geral do Conhecimento: contextualização (epistemologia); teoria e ciência; linguagem e
conhecimento; o homem, a linguagem e a cultura; a metafísica e a "pedagogia da essência"
(tendência redentora) no pensamento medieval; o rompimento com a Renascença; a Teoria do
Conhecimento na Modernidade: mudança de paradigma, a nova ciência, nova concepção de
pensamento, visão antropológica, o surgimento da "pedagogia da existência" (tendência
reprodutivista), conhecimento subjetivo e o conhecimento objetivo; Teoria Geral do
Conhecimento e o papel da teoria: racionalismo e empirismo, o método da ciência moderna, o
conhecimento as "teorias"; Teoria Geral do Conhecimento e Organização Social: a proposta
dialética (tendência transformadora), a crítica ao projeto iluminista da razão e o mito da ciência, a
questão do esclarecimento (complementação da crítica ao "dogmatismo da ciência") e a
construção social do conhecimento.
Metodologia:
Os conteúdos programáticos ofertados nessa disciplina serão desenvolvidos por meio das Tele-Aulas de
forma expositiva e interativa (chat – tira dúvidas em tempo real), Aula Atividade por Chat para
aprofundamento e reflexão e Web Aulas que estarão disponíveis no Ambiente Colaborar, compostas de
conteúdos de aprofundamento, reflexão e atividades de aplicação dos conteúdos e avaliação. Serão
também realizadas atividades de acompanhamento tutorial, participação em Fórum, atividades práticas e
estudos independentes (auto estudo) além do Material do Impresso por disciplina.
Avaliação Prevista:
O sistema de avaliação da disciplina compreende em assistir a tele-aula, participação no fórum, produção
de texto/trabalho no portfólio, realização de duas avaliações virtuais, uma avaliação presencial embasada
em todo o material didático, tele-aula e webaula da disciplina.
Web Aula 1:
O PENSAMENTO MÍTICO E O MITO NA GRÉCIA
Apresentação do Professor
Olá, tudo bem? Sou o professora Márcia Bastos, graduada em Filosofia com
mestrado em Educação e um dos seus professores neste módulo I de Pedagogia.
Estarei ministrando a disciplina de Teoria Geral do Conhecimento e buscando com
você uma reflexão sobre a importância desta na formação do Pedagogo. Por isso,
buscando um maior aprofundamento, além das teleaulas, quero desenvolver
algumas discussões com você neste espaço de interatividade. Neste sentido,
desafie-se, ouse e busque ir além do trivial, do exigido.
De minha parte, farei o que estiver ao meu alcance. Mas, evidentemente, você
deve estudar muito. Você só tem a ganhar com isso.
Bem, antes de iniciarmos, quero dar um panorama geral do trabalho que será
desenvolvido. Acompanhe-me.
Apesar de o mito pertencer à cultura dos mais diversos povos, dedicaremos nossa
atenção de forma especial aos gregos. O motivo disto está em que, a Filosofia, no
entendimento que nos interessa abordar, é grega e fundamentou todo o
pensamento Ocidental a partir do pensamento grego. Veremos que a Filosofia
nasce na Grécia e que, somente lá houve uma sistematização do pensamento de tal
forma a propiciar a passagem deste pensamento mítico para o que os gregos
chamaram de logos, ou seja, a razão, a palavra, o discurso racional.
Para apresentar estas origens, do mundo e das coisas, os mitos narram-nas de três
maneiras: relatam o nascimento de tudo a partir da relação sexual entre os seres
divinos que governam o mundo e os homens (mitos sobre o nascimento dos titãs,
dos heróis, dos humanos, dos animais, dos materiais da natureza e das qualidades,
como bem e mal, justo e injusto, o nascimento do amor através do mito de
Eros...), da luta entre estes deuses que afeta o mundo humano (o ciúme das
deusas na origem da Guerra de Tróia, por exemplo) e das alianças destes com os
homens (o mito de Prometeu, que protegia os homens e lhes dá a "luz divina"
como presente). Os deuses gregos, neste sentido, eram antropomórficos (do
grego antropós = homem e morfo = forma), ou seja, criados à imagem e
semelhança dos homens, diferentemente da concepção judaico-cristã, em que Deus
nos fez a sua imagem e semelhança. Criando e crendo em vários deuses - era uma
cultura politeísta -, a relação que estabeleciam com o divino era uma relação com a
natureza. Por isso o antropomorfismo, no qual estes seres divinos não se
diferenciavam muito dos homens em seus sentimentos e atitudes (eram bons ou
maus, invejosos, ciumentos, apaixonavam-se por humanos ou humanas e
protegiam os homens ou faziam deles seus joguetes...) e representavam a própria
natureza (a beleza, o amor, a colheita, a fertilidade...).
Toda esta tradição mítica dos gregos foi construída, como já apontamos, a partir da
autoridade dos poetas. Os dois grandes representantes desta tradição foram
Homero e Hesíodo. Ao primeiro atribuem-se duas grandes obras clássicas: a Ilíada
e a Odisséia. A Ilíada trata da Guerra de Tróia (Ílion é o original grego de Tróia)
e a Odisséia refere-se ao retorno de Ulisses (cujo nome em grego é Odisseu)
para casa após a guerra. É bem verdade que não temos a confirmação histórica de
que Homero realmente as tenha escrito. O mais provável é que tenha sido o
compilador dos mitos e tradições que se mantinham por gerações. O fato é que sua
importância é fundamental na construção desta tradição. E é exatamente esta
tradição, a chamada "tradição homérica" que Platão criticará quando "expulsa" os
poetas da sua "cidade perfeita". Homero representa o ápice e a vitalidade de todo
um impulso cultural dos gregos. É considerado o "pai" da cultura helênica, pois dele
deriva a idéia marcante da mitologia grega: o destino, que comanda a vida dos
homens e dos deuses. E esta força, atrelada ao mito é a pergunta básica na
formação do pensamento ocidental: o que é essa força do destino que domina
tudo? Por isso, a originalidade de Homero consiste no fato de ter legado à
posteridade uma visão clara do espírito grego, em que a existência
humana é profundamente permeada da presença do divino: cada momento
da vida, nenhum detalhe da vida parece ter sentido sem referência à
divindade. O ser divino não representa explicação, interrupção ou
suspensão do curso natural do mundo: é o próprio mundo natural (PAIM;
PROTA & RODRIGUEZ, 1999, p. 45) Durante os séculos homéricos a narração se
organiza em torno dos personagens divinos, sendo os humanos reduzidos a
essências com o estatuto da quase-dependência. Por isso tudo se explica pelas
cosmogonias e teogonias, conforme já foi relatado.
Cronos tomou por esposa a Réia, que se sentia muito infeliz porque tinha
tido muitos filhos formosos e o cruel marido os havia devorado. Um oráculo
anunciara ao feroz pai que seria destronado por um dos filhos e ele tratava
de evitar essa desdita, engolindo-os quando nasciam.
A luta contra os Titãs durou dez anos. Foi terrível e sem tréguas. Ao ver
que não conseguia dominá-los, Zeus recorreu ao auxílio dos Ciclopes,
irmãos dos Titãs, enormes gigantes de um olho só, no meio da testa e,
para assegurar a vitória, pôs igualmente em liberdade os Centímanos (por
ter cem mãos cada um). Desencadeou-se, então, uma espantosa luta: os
Centímanos atiravam enormes penhascos contra os Titãs e os Ciclopes
feriam-nos e queimavam-nos com raios de fogo. O ardor e a cólera dos
combatentes sacudiam toda a terra, desde os seus alicerces, e seus gritos
raivosos rasgavam o céu. Zeus, no meio da peleja, resplandecente no seu
carro doirado, animava os seus defensores e lançava contra os inimigos
poderosos raios, acompanhados de relâmpagos e trovões.
No link abaixo, você pode ver um vídeo que ilustra um pouco o fragmento
apresentado, em que a mãe de Zeus engana Cronos, dando-lhe uma pedra como se
fosse o filho para ser devorado. O vídeo está em inglês, mas a imagem é suficiente
para entender, se comparada com o texto anterior. O vídeo é do You Tube e é um
fragmento do game chamado "Deus da Guerra 2 (God of War 2)". Confira:
http://medievalx.blogspot.com/2008/03/greek-gods-series-zeus-sire-deuses.html
Web Aula 2:
NASCE A FILOSOFIA
Filha dos gregos, a Filosofia tem data e local de nascimento específicos e, também,
um "pai", considerado o primeiro filósofo datado historicamente: Tales. Mileto, a
cidade de Tales, ficava na Jônia, atual Turquia, uma das colônias micênicas
desenvolvidas após a invasão dos dóricos. É exatamente aí, portanto, na Jônia, no
século VI a. C. que surge a primeira proposta filosófica. Neste sentido, vamos
entender o contexto de formação do povo grego e o processo que levou ao
nascimento do pensamento filosófico.
Como já podemos perceber a filosofia não nasce na Grécia propriamente dita, mas
na Jônia e na Magna Grécia, colônias desta no Oriente e no Ocidente. Mas, por que
nasce na Grécia e não nas culturas orientais antigas como Egito, Babilônia, China,
Índia ou entre os Hebreus? Sofreu influência destas pelo menos ou, terá sido
apenas um "milagre" o que aconteceu na Grécia? Este é um ponto que nos
interessa discutir. Durante algum tempo duas teses foram defendidas para o fato
de a Filosofia ter tido seu início na Grécia. Uma considerava o fato um "milagre", ou
seja, algo "a-histórico", desconsiderando as condições sócio-econômico-culturais e
políticas que faziam parte da cultura grega. A outra considerava o nascimento da
Filosofia como sendo devida a "ensinamentos esotéricos que os gregos adquiriram
em suas viagens pelo Oriente, ou seja, a Filosofia nasceu por influência dos povos
orientais, sem mérito algum dos gregos e não, novamente, por um contexto sócio-
cultural próprio que existia na Grécia. Estas duas correntes, portanto, "milagre
grego" versus influência oriental, estão desacreditadas academicamente. A tese
aceita atualmente defende o nascimento da Filosofia devido a uma série de fatores
sócio-político-econômico-culturais que aconteceram somente na Grécia. Por isso,
neste entendimento não foi possível o mesmo acontecer em outras culturas, não da
forma como se dá no Ocidente. Com isto esclarecemos que, no entendimento
acadêmico estamos falando da Filosofia Ocidental e não das "filosofias orientais",
que apresentam sua sabedoria e importância mas, num olhar mais depurado, não
desenvolveram uma sistematização do pensamento de tal forma que permitisse o
nascimento do que viria a ser conhecido posteriormente como ciência.
Vencendo o princípio de que todos são iguais diante da lei, a discussão torna-se a forma
normal de tratar-se não só a política mas os acontecimentos em geral; prevalece a opinião
de quem expõe suas idéias corretamente e com argumentos válidos, quer dizer há a
supremacia do logos (que significa "palavra", "razão"). Assim que, enquanto antes os
fenômenos divinos, naturais e humanos confundiam-se e eram vivenciados sem
necessidades de explicação, com a pólis, esses fenômenos tornam-se problemas, à procura
de explicação (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 47).
Na estruturação política, cada comunidade grega era uma cidade-Estado - as
chamadas polis -, autônoma, com a dimensão de pequeno município. Na Pólis é
que se efetua a conquista política do estatuto cívico, da ordem da cidadania, na
qual o destino de cada um é definido não pela obrigação de lealdade à um chefe,
mas pela relação ao princípio abstrato que é a lei - primeira etapa. Num segundo
momento. A democracia se instaura em Atenas. Apresenta-se a idéia de governo do
povo ou, governo no "meio" do povo e não governo do "povinho". O grego tem
consciência de sua cidadania porque participa da vida pública da cidade. Os
destinos da pólis são de responsabilidade comum de todos os cidadãos, acima dos
quais nada a não ser as leis que eles mesmos elaboraram. Escreve HOWART
(1984):
Pode parecer exagero, porém acredito que seja justo afirmar que as realizações políticas e
as experiências práticas de governo dos gregos, nas quais se basearam todas as formas
modernas de política da Europa ocidental, pelo menos até a aparição do marxismo, não
poderiam ter acontecido em outro ambiente que não fosse o da pólis. Conceitos tão
familiares como, por exemplo, governo constitucional, império da lei, democracia e, acima
de tudo, cidadania, eram completamente desconhecidos até que os gregos começaram a
experimentá-los (HOWART, 1984, p. 170-171).
O modelo de governo da pólis como esforço coletivo e exclusivo dos cidadãos, até
então desconhecida em outras civilizações tem por fundamento a idéia de que os
deuses abandonaram os homens. E a idéia do Destino, como força superior aos
próprios deuses, sugere a visão democrática de que a lei está acima dos indivíduos.
É nesse quadro que surge a reflexão filosófica, que busca uma lei universal, acima
de todas as coisas, que possa explicar o homem e o mundo sem recorrer a forças
divinas.
²Minotauro: criatura que habitava o labirinto em Cretas, onde Minos, rei da ilha
colocava seus inimigos para serem mortos pelo monstro. Teseu, o herói grego,
vence a criatura e consegue sair do labirinto utilizando-se de um novelo de linha
para reencontrar o caminho.
Por todos estes fatores, portanto, e não por um "milagre" ou por "influência do
oriente" como já esclarecemos, é que, no século VI a.C. Tales inicia a jornada que
se tornará a grande aventura na História do Ocidente: o pensamento filosófico.
O mito, contudo, não perdeu sua beleza, seu sentido que propiciou todo este
progresso. É uma forma diferente de olhar a realidade. Hesíodo fala em suas obras
do "abandono dos deuses" com relação aos homens. Há um princípio de
"secularização" do pensamento. O homem não precisa mais recorrer aos deuses
para explicar o mundo. Na Teogonia - de Hesíodo - o homem encontra-se sem
deuses, abandonado, mas livre para agir e pensar. Entre os séculos VIII e V a.C.,
portanto, desenvolve-se o esforço para a construção de uma sociedade justa,
propiciada pelas condições históricas próprias do mundo grego. É neste contexto
que nasce a filosofia e aparecem os primeiros filósofos, os chamados pré-
socráticos.