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Inicialmente, é importante reafirmar a importância da obra de Aristóteles (384-322 a.C.)


e sua imensa influência sobre a cultura ocidental nesses dois mil e quatrocentos anos. O
grande pensador grego foi, durante toda a Idade Média, considerado o mais importante
filósofo, e sua doutrina tida como verdade inatacável. Foi com base na obra aristotélica
que Santo Tomás de Aquino buscou, em seus escritos, harmonizar razão e fé. Na Era
Moderna, que reabilitou o matematicismo pitagórico-platônico, o pensamento
aristotélico permaneceu, mesmo muitas vezes rejeitado, servindo como contraponto.

Atualmente, o pensamento aristotélico passa por um período de renascimento e


revalorização. O marco inicial dessa tendência data da primeira metade do século XX,
com a publicação de obras com novas interpretações sobre o estagirita, sobretudo as de
Werner Jaeger e William D. Ross.

Na segunda metade do século, as obras e os autores neo-aristotélicos, como Alasdair


MacIntyre, proliferaram no campo da Filosofia. No âmbito do Direito, Aristóteles é,
entretanto, praticamente ignorado. Os juristas atuais parecem muito pouco preocupados
com a obra aristotélica. Mesmo muitos filósofos do direito parecem não se dar conta da
real dimensão e do significado de Aristóteles para o Direito, preferindo o estudo de
autores contemporâneos.

A obra aristotélica, contudo, é de extrema importância tanto para a Filosofia quanto para
as reflexões jurídicas contemporâneas. Vou me ocupar aqui de duas obras aristotélicas,
a "Ética a Nicômaco" e os "Tópicos", embora outras, como, por exemplo, a "Política",
ou a "Retórica", também sejam fundamentais para uma correta compreensão da
importância do pensamento aristotélico para os juristas de hoje.

Na Ética a Nicômaco, Aristóteles expõe uma teoria do V e da justiça da Atenas do


século IV a.C., discutindo conceitos como "o bem", "a virtude", "a justiça", "a lei", "a
amizade" e "a felicidade". Nos Tópicos, apresenta um método de argumentação (o
dialético) que parte de opiniões geralmente aceitas, por todas as pessoas, ou pela
maioria, ou pelos mais eminentes (os filósofos).

A primeira obra é incluída entre as obras éticas do estagirita, ao lado da Ética a Eudemo
e da Grande Moral (Magna Moralia). A segunda, entre as lógicas, constantes do
  aristotélico, composto de mais cinco obras, além dos Tópicos: as Categorias, o
Da Interpretação, os Analíticos (Primeiro e Segundo) e os Argumentos Sofísticos.

Aristóteles, diferentemente de seu mestre Platão (de índole essencialmente idealista), foi
ideologicamente mais conservador, dando maior ênfase às condições reais do homem e
de suas instituições, discordando, inclusive, da teoria das formas ou idéias de Platão, por
considerá-la desnecessária para os fins da ciência.

O mundo é concebido por Aristóteles de forma finalista, onde cada coisa tem uma
atividade determinada por seu fim. O bem é a plenitude da essência, aquilo a que todas
as coisas tendem. O bem, portanto, é a finalidade de uma coisa (ou de uma ciência, ou
arte). Assim, a finalidade da medicina é a saúde, e a da estratégia é a vitória.cDentre
todos os bens, contudo, há um que é supremo, que deve ser buscado como fim último da
à . Esse bem é a felicidade, entendida não como um estado, mas como um processo,
uma atividade através da qual o ser humano desenvolve da melhor maneira possível
suas aptidões.

Os meios para se atingir a felicidade são as virtudes (formas de excelência), discutidas


por Aristóteles na Ética a Nicômaco. As virtudes são disposições de caráter cuja
finalidade é a realização da perfeição do homem, enquanto ser racional. A virtude
consiste em um meio-termo entre dois extremos, entre dois atos viciosos, um
caracterizado pelo excesso e outro pela falta, pela carência.

Aristóteles divide as virtudes em dianoéticas (ou intelectuais), às quais se chega pelo


ensinamento, e éticas (ou morais), às quais se chega pelo exercício, pelo hábito. As
virtudes éticas, enquanto virtudes do saber prático, não se destinam ao conhecer, como
as dianoéticas, mas à ação. Para sua aquisição o conhecimento tem pouca ou nenhuma
importância.

Das virtudes dianoéticas, a de maior importância é a à V(prudência), capacidade


de deliberar sobre o que é bom ou mal, correto ou incorreto. Das virtudes éticas, a mais
importante é a .

Aristóteles distingue a justiça em duas importantes classes: a universal e a particular. A


justiça universal é o cumprimento da lei (lei, na Antiguidade, designava mais o modo de
ser da à  do que propriamente uma prescrição). O homem justo, portanto, é aquele
que, como Sócrates, no diálogo platônico
  , cumpre a lei. Neste caso, abrange as
demais virtudes, pois o que a lei manda é cumprir todas as virtudes éticas particulares.
A justiça particular é o hábito que realiza a igualdade, a atribuição a cada um do que lhe
é devido. Neste caso, a justiça se coloca ao lado das demais virtudes, pois respeitar a
igualdade implica, quando necessário, agir com coragem, ou com temperança etc.

A justiça particular divide-se em duas: a justiça distributiva e a justiça corretiva. A


justiça distributiva é a mais importante, pois responsável pela manutenção da ordem e
da harmonia da à . Consiste em atribuir a cada um o que lhe é devido, tendo em vista
sua excelência, seu valor (V ) para a comunidade. Baseia-se numa igualdade
geométrica, na qual quem valha 8 receba 4, e quem valha 2 receba 1. Já a justiça
corretiva, ou retificadora, não se baseia numa igualdade geométrica, mas numa
igualdade aritmética. A justiça corretiva não trata das relações dos indivíduos com a
comunidade, mas das relações dos indivíduos entre si (interpessoais), como, por
exemplo, as de troca de bens.

A obra "Tópicos", na revalorização do pensamento aristotélico, inicialmente foi


considerada uma obra de juventude, tentativa frustrada de se estabelecer um tratado de
lógica, o que só teria sido conseguido por Aristóteles posteriormente, com os Analíticos.
W. D. Ross, inclusive, em sua obra "Aristóteles", de 1923, a considerava como um
modo de pensamento do passado, que não merecia maiores apreciações. O próprio
Aristóteles, contudo, concedia às provas dialéticas (expostas nos Tópicos) um papel
específico, impossível de ser cumprido por meio das provas analíticas.

Nos Analíticos, Aristóteles estabelece as bases do que posteriormente denominou-se


lógica formal, expondo os raciocínios analíticos, que têm por base o silogismo dedutivo.
O silogismo de Aristóteles pode ser definido assim: é um trio de termos, no qual o
último, que é a conclusão, contém uma verdade à qual se chega obrigatoriamente,
através dos outros dois. A lógica formal aristotélica, essencialmente demonstrativa,
embora tendo sofrido diversas críticas, atravessou os séculos praticamente sem ser
alterada e predominou sobremaneira sobre sua lógica dialética.

No início da segunda metade do século XX, entretanto, ocorreu uma redescoberta das
diversas formas de racionalidade de Aristóteles pelos filósofos. O primeiro foi Chaim
Perelman que, insatisfeito com o formalismo lógico, foi buscar nos Tópicos e na
Retórica de Aristóteles a lógica do discurso não formalizável (ético, político e jurídico),
formulando sua "teoria da argumentação", mais conhecida por "nova retórica", uma
retomada da retórica e principalmente da dialética aristotélica. Os Tópicos, portanto,
foram revalorizados, sendo considerados não mais como um modo de pensar do
passado, mas como um modo de pensar diferente do contido nos Analíticos.

Da mesma época é a obra de Theodor Viehweg, "Tópica e Jurisprudência", em que o


autor, com base nos "Tópicos" de Aristóteles, expõe um estilo de pensar por problemas,
partindo deles e em função deles. Esse estilo deve ser utilizado pela Ciência do Direito
na decidibilidade dos conflitos, pois a tarefa de decisão só pode ser efetuada após a
análise de todas as peculiaridades do problema, do caso concreto.

Merece referência também a recente obra do brasileiro Olavo de Carvalho, "Aristóteles


em nova perspectiva", de 1996, em que expõe interessante teoria (a teoria dos quatro
discursos) sobre as relações entre lógica formal e lógica dialética. Ainda sobre essa
relação, Carvalho cita o filósofo Eric Weil, que apresenta um excelente argumento: se
para Aristóteles a lógica analítico-formal é tão importante na construção do
conhecimento, por que ele nunca se utiliza dela em seus tratados, preferindo sempre
argumentar dialeticamente?

Os raciocínios dialéticos expostos nos Tópicos não se referem às demonstrações


científicas (apodíticas), mas às deliberações e às controvérsias. Diferentemente dos
raciocínios apodíticos (analíticos), que partem de premissas verdadeiras e primeiras,
esses raciocínios partem de opiniões geralmente aceitas e, por isso, são apenas
prováveis. Funcionam como meio de persuasão e de convencimento por um discurso
cuja função é levar a uma decisão.

A estrutura da argumentação dialética, que motiva uma decisão, é diferente do


silogismo, pelo qual se passa das premissas à conclusão necessariamente. A passagem
dos argumentos dialéticos à decisão, ao contrário, não é obrigatória, pois uma decisão
envolve sempre a possibilidade de decidir de outro modo (ou mesmo de não decidir).

Daí a importância da dialética de Aristóteles para o Direito atual. Os raciocínios


jurídicos são raciocínios dialéticos, e não analíticos. A lógica jurídica não é uma lógica
de demonstração formal, mas uma lógica argumentativa, que não utiliza provas
analíticas, mas dialéticas, que visam o convencimento do juiz no caso concreto.

O Direito não pode partir de premissas consideradas verdadeiras, pois, assim, só haveria
uma decisão possível e obrigatória. Quando as premissas são contestadas, através da
dialética, não se impõe uma decisão como obrigatória, mas como a mais provável, a
melhor possível naquele caso concreto.
Disso resulta a relação entre justiça e dialética, que Aristóteles legou aos juristas atuais.
A justiça é o fim último do Direito. Para alcança-la, os raciocínios jurídicos não devem
ser analíticos, decorrentes de um sistema jurídico estabelecido em bases formais. Como
os casos concretos não se repetem, não podem ser tratados de modo universal. As
normas de uma sociedade não devem ser axiomas, mas "lugares comuns", princípios
comumente aceitos.

O Direito, concebido como ordenação racional dedutiva, conforme teorizaram os


filósofos e juristas da Escola do Direito Natural Racional não conseguirá realizar a
justiça de forma adequada. Essa concepção da estrutura jurídica como uma conexão
dedutiva é de uma época em que se considerava a interpretação jurídica como algo
secundário. A interpretação, nos termos em que hoje é entendida, como problema
fundamental para a decisão, não se coaduna com o rigor de um sistema dedutivo.

Dentro dessa concepção, o Direito não deve ser entendido como um sistema formal já
pronto, pois comporta opiniões e raciocínios os mais diversos. O Direito constrói-se
através da argumentação que promove sua interpretação e aplicação. Nesses termos, não
deve o juiz decidir através de um silogismo, com base em um sistema dedutivo, mas sim
criar um sistema próprio para cada problema, para cada caso concreto, que possibilite
que todos nele envolvidos tenham oportunidades iguais de emitirem suas opiniões e
seus valores. Só assim uma decisão poderá ser considerada justa. Apenas, portanto,
através dos raciocínios dialéticos, que recorrerão a argumentos de todas as espécies, é
que a justiça pode ser alcançada, enquanto cumprimento da lei e realização da
igualdade.

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O ideário de Aristóteles não se limita à busca do conhecimento no domínio político,


mas abrange também o modo como o filósofo investiga os outros campos do
conhecimento, tal como a Física e a Biologia.

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Aristóteles concebe a natureza de uma coisa como a sua finalidade. É a causa final que
explica os fenômenos. Desse modo, tudo aquilo que está no mundo desempenha uma
função e é a isso que o filósofo recorre para explicar como as coisas são.

A teoria política de Aristóteles também é finalista. Constrói-se em torno da idéia de que


o homem é um animal político por natureza, que a cidade é natural e que o fim do
homem é a felicidade (eudaimonia). Tal felicidade, contudo, só se atinge plenamente na
à.

O homem é um animal político porquanto vive conjuntamente com o seu semelhante,


ainda que dele não necessite. Além disso, o homem é considerado um animal político
porque, diferentemente de todos os outros animais, é dotado da razão e do discurso. Por
meio da razão e do discurso, o homem desenvolve as noções de justo e de injusto, de
bem e de mal. Tais noções só se desenvolvem em conjunto com o outro e constituem a
base da comunidade política. (Convém observar que o atributo do homem como animal
político é peculiar aos cidadãos. Somente aqueles que exercem a administração da
cidade são considerados animais políticos.)

A cidade se forma a partir da união de várias aldeias que, por sua vez, se compõem em
razão da reunião de muitas famílias. A família se organiza em razão da natureza e com
vistas à satisfação das necessidades diárias. Várias famílias reúnem- se e formam uma
aldeia com a finalidade de satisfazer as necessidades não supridas no interior da família.
Nesse sentido, cada associação, segundo Aristóteles, visa um bem específico.

Diferentemente das demais associações, a cidade é auto-suficiente e tem como fim o


bem-estar, a felicidade (V  ). Então, a cidade é natural porque é para ela que
convergem todas as demais associações, cada uma de suas partes constitutivas que, por
si sós, são insuficientes para a satisfação do homem. Assim, afirma o filósofo: ³O
Estado, ou sociedade política, é até mesmo o primeiro objeto a que se propôs a natureza.
O todo existe necessariamente antes da parte. As sociedades domésticas e os indivíduos
não são senão as partes integrantes da cidade, todas subordinadas ao corpo inteiro, todas
distintas por seus poderes e suas funções, e todas inúteis quando desarticuladas,
semelhantes às mãos e aos pés, que, uma vez separados do corpo, só conservam o nome
e a aparência, sem a realidade, como a mão de pedra. O mesmo ocorre com os membros
da cidade: nenhum pode bastar-se a si mesmo. (...) Assim, a inclinação natural leva os
homens a este gênero de sociedade.´

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Dentre as atividades desenvolvidas nas comunidades humanas, duas eram
essencialmente políticas: a ação e o discurso. Tais atividades políticas, que só podiam se
desenvolver na polis, entre homens livres e iguais, constituíam o homem como animal
político. Era por meio da ação e do discurso que o homem atingia o seu fim, a
felicidade, a eudaimonia.

A palavra eudaimonia é traduzida por vezes como felicidade. Também é traduzida como
bem-estar, como vida bem-sucedida. É uma noção importante para se entender a
comunidade política.

K   é uma noção complexa que, embora traduzida como felicidade, não
coincide com um estado de espírito. É antes uma atividade, ³uma atividade da alma de
acordo com a excelência´.

Isto significa que a eudaimonia é uma realização humana que requer o exercício de
faculdades eminentemente humanas, levadas a efeito de acordo com a excelência. As
excelências humanas ou as virtudes humanas são de duas ordens: intelectual e moral

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Resumo: O presente artigo analisa o desenvolvimento do tema da justiça no pensamento
aristotélico, contrapondo os valores ou função do direito na obra do estagirita aos fins
presentes nas teorias jurídicas contemporâneas, especialmente no positivismo jurídico.

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Aristóteles tinha uma concepção realista, teleológica e finalista do mundo, onde cada
coisa tem uma atividade determinada por seu fim, sendo que os fins procurados devem
ser os fundamentais, e não os secundários.

O bem é a finalidade das ações, de forma que dentre os mais variados há um que é
supremo, que deve ser buscado como fim último da à, consistente na felicidade,
entendida não como um estado, mas como um processo para desenvolvimento das
aptidões.

Trata-se a felicidade do primeiro princípio e causa dos bens. Este bem supremo é
absoluto, isto é, desejável em si e não pelo interesse de outra coisa. É ele perfeito e auto-
suficiente, torna a vida desejável e sem carência.

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O homem atinge a felicidade mediante a prática da virtude, disposição de caráter que o


torna bom e que o faz desempenhar bem sua função. A virtude é o atributo de visar o
meio termo entre dois extremos, entre dois erros, um caracterizado pelo excesso e outro
pela carência, enquanto o meio termo é a forma de acerto.

As virtudes são divididas em dianoéticas ou intelectuais, às quais se chega pelo


ensinamento, e éticas ou morais, às quais se chega pelo exercício, pelo hábito.

Dentre as virtudes intelectuais a mais importante é a prudência, capacidade de deliberar


sobre o que é bom ou mal, correto ou incorreto, e dentre as virtudes éticas, a de maior
relevância é a justiça, porquanto deve ser praticada não somente em relação à própria
pessoa, mas em relação ao próximo.

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O tema da justiça é tratado pelo estagirita nas suas obras ßV ,  , e nas
 , principalmente no Livro V de  neste caso indiretamente,
porque o objeto principal do estudo é a moral.

Ao situar a justiça no campo ético, ou seja, no ramo do conhecimento humano que se


dedica ao estudo do próprio comportamento humano, Aristóteles parte da premissa de
que não somente o conhecimento do que seja justo ou injusto faz um indivíduo ser mais
ou menos virtuoso, mas sim a ação justa ou conforme a justiça, a prática reiterada de
atos voluntários de justiça na relação com o outro, na vida em comunidade.

Ao contrário, todavia, das demais virtudes, à justiça não se opõem dois vícios diversos,
mas um único, que é a injustiça, pressupondo-se que a virtude é o meio-termo entre o
agir injustamente e o ser tratado injustamente.

A justiça é ressaltada por Aristóteles como sendo "àV V V  


àVààV V V   VV V    VàV 
VVà    VVV à. [01]

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Para Aristóteles, o termo justiça possui diversas acepções, razão pela qual adota a
seguinte classificação:

Justiça universal ou geral: é a justiça em sua totalidade, abrangendo a legislação e a


comunidade por ela protegida, encontrando aplicação na vida política, na organização
comunitária.

Se a lei é uma prescrição de caráter genérico e que a todos vincula, então seu fim é a
realização do bem da comunidade. Aquele que observa as leis pode ser chamado de
justo (tal como Sócrates, no diálogo
 ), porque aquelas servem a todos que são por
ela protegidos e beneficiados.

Justiça particular: é a justiça em sentido estrito, aplicável na relação entre particulares. É


o hábito que realiza a igualdade, a atribuição a cada um do que lhe é devido, conforme
definição de Simónedes, em ßVà, de Platão. Neste caso, a justiça se coloca ao
lado das demais virtudes, correspondendo apenas a uma pequena fração da virtude total.
Divide-se em:

Justo distributivo: é responsável pela manutenção da ordem e da harmonia da à.


Relaciona-se a todo tipo de distribuição levada a efeito pelo Estado, seja de dinheiro,
bens pecuniários, honras, cargos, assim como de deveres, responsabilidades, impostos
etc.

Pressupõe uma relação de subordinação ou supra-ordenação, sendo que a justiça e a


injustiça do ato radicam-se na própria ação do governante dirigida aos governados.

A distribuição atingirá seu justo objetivo se proporcionar a cada qual aquilo que lhe é
devido, dentro de uma proporcionalidade participativa e geométrica. [02]

O critério subjetivo é o mérito [03] de cada um, isto porque se os indivíduos não são
iguais, não poderão ter coisas iguais (tratamento desigual dos desiguais), evitando-se,
assim, qualquer dos extremos que representam o excesso e a falta.

Justiça corretiva ou comutativa: Relaciona-se com o restabelecimento do equilíbrio


rompido nas transações entre indivíduos que se encontram numa situação de
coordenação, isto é, como particulares e entre particulares (relações interpessoais),
agindo como sujeitos em paridade de direitos e obrigações frente à legislação, buscando
alcançar a igualdade. [04]

Pressupõe um critério unicamente objetivo e aritmético, não se observando o mérito dos


indivíduos. [05] Subdivide-se em:

Justo comutativo: refere-se à correção aplicável às relações voluntariamente


estabelecidas, onde prevalece a liberdade de vinculação e de estipulação (ex.: compra e
venda, locação, depósito etc.).

Justo reparativo: refere-se à correção aplicável às relações involuntariamente


estabelecidas. Não há aproximação entre as partes até que involuntariamente se tornem
vinculadas, seja por clandestinidade (furto, adultério, falso testemunho etc.), seja por
violência (homicídio, roubo à mão armada etc.). [06]

O nivelamento das partes (restabelecimento da igualdade) se dá com o retorno das


partes ao     V, cabendo ao juiz tolher o ganho, reprimindo a conduta lesiva e,
na medida do possível, fazendo com que a perda sofrida seja reparada.

Justo doméstico: trata das relações familiares (pais e filhos) e escravistas (senhor e
escravo).

Justo político: consiste na aplicação da justiça, de regras de convívio na à, tendente


a organizar um modo de vida comunitária entre indivíduos que partilham um espaço
comum, dividindo atividades, em vista à liberdade e igualdade entre eles. O justo
político é a forma abrangente de duas outras formas de justo:

Justo natural: encontra sua fundamentação não na vontade humana preceituada, mas na
própria natureza; independe de qualquer ato de positividade, legislativo. Consiste no
conjunto de regras que encontram aplicação, validade, força e aceitação universais.

Os povos compartilham, incondicional e intemporalmente, noções e princípios comuns,


fundados na própria natureza racional do homem, sendo a resposta oferecida pelo justo
natural única e homogênea, apesar de mutável. [07]

Justo legal: corresponde às prescrições vigentes entre os cidadãos. A opção é feita pelo
legislador, de forma que aquilo que a princípio era indiferente passa a ser vinculativo
para todos os cidadãos. Possui conteúdo de relatividade espaço-temporal, uma vez que
sujeito à variabilidade do juízo humano.

O justo legal, que tem o seu princípio no justo natural, pode nascer eivado de vícios ou
erros humanos, caso esteja em desacordo com a natureza ou se destine ao benefício
exclusivo dos que exercem o poder de governo.

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Para Aristóteles, nem toda lei é legítima, o que depende da sua finalidade. Legítima é
aquele conforme a razão e a natureza, que incite os cidadãos ao hábito da virtude.
Legislação perfeita é a adequação plena do legal ao natural, devendo o justo natural,
enquanto ideal de aperfeiçoamento da regra legislativa, nortear sua reelaboração.

O que se deve questionar para saber se determinada lei é justa ou injusta é se está a
serviço do bem comum ou da satisfação de interesses momentâneos e arbitrários.

Com efeito, o descompasso entre a lei e a solução considerada justa pelo intérprete do
direito ou pela maioria da população pode ocorrer pela insuficiência da lei para resolver
casos particulares mediante a aplicação do justo corretivo, dada sua generalidade e
impessoalidade; pela evolução social que torna inadequada a legislação; pela proteção a
interesses de determinados grupos sociais em detrimento da maioria da população; ou
pelo exercício do poder por governos autoritários tendentes a oprimir os direitos
fundamentais dos governados.

Em casos que tais, Aristóteles propõe que o juiz deve adequar a lei a cada situação
concreta, agindo segundo a epiquéia (critério de valoração) e a equidade.

Aplicar a equidade significa agir de modo a complementar o caso que se apresenta tal
como faria o próprio legislador se estivesse presente. Isto porque, dotada a lei de
abstração e universalidade, não diferencia as circunstâncias de cada caso concreto, daí
poder ensejar injustiça por meio do próprio justo legal.

Da observância de uma estrita legalidade não se pode ser mais arbitrário do que num
estado onde as leis não estão presentes.

Quando a lei universal falha no particular é justa a correção da omissão. O que se deve
se deve ter em vista não é a letra da lei, mas a intenção do legislador; não a parte, mas o
todo.

Pressupõe que o julgador se valha de um amplo senso de justiça em consonância com a


especificidade de cada caso, e não da aplicação inflexível e mecânica do ordenamento
legal.

Quanto às relações existentes entre equidade e justiça, o estagirita entende que a


eqüidade e o eqüitativo não são idênticos à justiça e ao justo, porquanto "V    
 àV   V  V  V  V 
à     VV     àV  VV
V VV V  !"#

Radbruch distingue a justiça da equidade ao ressaltar que "   V


    à V   VVVà à àV
   àVà     VV   V
V Và  VV  VàV V. [09]

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Aristóteles desenvolveu, portanto, uma filosofia do direito, chamada de ßV
$  , caracterizada pelo pragmatismo e pelo empirismo, em que o direito e as leis
devem adequar-se à especificidade de cada caso concreto na busca do justo, de forma
que o conhecimento não pode ser ideal, devendo vir da prática, da experiência.

Contrapõe-se, destarte, à teoria da justiça de Platão, conhecida como %V


$  , que propõe a criação de leis ideais às quais a realidade fática deve adaptar-se,
tudo no compasso do pensamento platônico de que o conhecimento precede e antecede
a experiência sensitiva, priorizando as idéias enquanto representação do mundo material
(teoria da reminiscência).

Desta maneira, aproximando tais pensadores à teoria do direito, forçoso concluir que
Platão valoriza o direito enquanto valor, reflexo do existente no mundo das idéias, de
modo que ao homem incumbiria adequar-se à norma ideal, ao passo que Aristóteles
aproxima o direito do fato social, no qual o aquele seria reflexo e fruto da vida real,
assim como das necessidades surgidas em sociedade.

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Na busca da observação integral da realidade sobre cada objeto, Aristóteles desenvolveu


sua teoria das quatro causas, em que busca observar integralmente a realidade sobre
cada objeto a partir das seguintes causas: material, consistente na matéria de que o
objeto é constituído; formal, relativo à sua forma; eficiente, pertinente ao que o faz ser;
e final, entendida como aquilo a que aspira.

É nesta teoria que se pode fundamentar a realidade dos fenômenos jurídicos, sendo o
fato jurídico-social a sua causa material; o modo pelo qual as leis alcançam essa
categoria, a partir dos costumes, a sua causa formal; a incumbência de elaboração das
leis e distribuição da justiça a sua causa eficiente; e a finalidade do direito a sua causa
final, entendida pelo estagirita como o bem comum. [10]

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Como visto, Aristóteles evidenciou dois sentidos principais de justiça: o geral e o


particular. O primeiro exprime moralidade, entendida como a conformidade da conduta
às leis morais. É, por conseguinte, muito mais que o direito, porquanto constitui toda a
moral.

Já o segundo consiste na boa divisão dos bens e encargos na à, de forma que cada
um não detenha mais ou menos do que sua parte. É, pois, a justiça particular que exigirá
o direito, cuja finalidade é a divisão dos bens, atribuindo a cada um o que é seu ( 
  V  VV&

A doutrina aristotélica do direito tratou de separar a moral do direito, fazendo-o através


da distinção entre justiça subjetiva (
) e justiça objetiva (
 ). A primeira (ter
a virtude da justiça ± justiça em mim) está afeta à moral, prescrevendo condutas. A
segunda (realizar a coisa justa, o que pertence a cada um ± justiça fora de mim) traduz-
se no Direito.

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Cabe aqui uma reflexão com o escopo de evidenciar que a filosofia aristotélica do
direito perdeu espaço para modernas filosofias jurídicas, notadamente para o
positivismo jurídico, que passaram a coexistir e chocar-se, de forma geral contrapondo-
se à teoria jurídica de Aristóteles.

A concepção positivista do direito, cuja inspiração remonta a   (481 a.C - 411
a.C.), que predizia que as leis feitas pelos homens eram obrigatórias e válidas
independentemente de seu conteúdo moral, nasce da cisão entre direito positivo e
natural, quando este é excluído da categoria de direito, e aquele alçado à condição de
direito em sentido próprio, excludente de qualquer outro.

Esta visão do direito repudia tudo quanto possa lembrar a metafísica, desprezando
qualquer forma de entender e explicar que não baseadas exclusivamente na fusão da
observação humana dos fatos com as semelhanças constantes e idênticas nas mesmas
circunstâncias das relações de antecedência e conseqüência (leis). Nela, a essência e as
causas finais permanecem desconhecidas, numa completa separação entre o direito e
seus fins.

A abordagem positivista teoriza que a noção de direito não corresponde


necessariamente à justiça e à moral, porquanto estas são noções relativas,
temporalmente mutáveis e desprovidas de força política para se impor contra a vontade
de quem cria as normas jurídicas.

Deve o jurista aplicar de forma rígida o sistema jurídico estatal numa atitude científica
frente ao direito, porquanto ele opera-o tal como é (direito posto), não tal como deveria
ser.

O positivismo trata, então, de desprezar a distinção aristotélica entre justiça subjetiva


(
) e justiça objetiva ( 
 ), conceituando o direito como um conjunto de
regras de conduta, ao unir a moral ao direito, no escopo de vigiar e regulamentar o
comportamento humano.

À semelhança de outras filosofias jurídicas contemporâneas, esta vertente do direito


limita-se à procura das causas eficientes, com primazia da à', em detrimento das
causas finais, do bem que se devia pretender.

Com efeito, ao contrário do pensamento aristotélico que entende a essência do direito


como sendo a proporção na divisão dos bens, pretende-se hodiernamente uma
pluralidade de fins, sejam os de respeito aos direitos individuais (segurança, prazer,
liberdade, etc.) sejam os do grupo (ordem, progresso, paz, desenvolvimento,
interferência mínima do Estado etc.).
Por outro lado, culmina por dotar o Estado-Juiz não apenas da obrigação de buscar a
melhor proporção entre as pessoas e coisas, atribuindo a cada um o que é seu, mas
também da tarefa inconciliável de se alcançar a igualdade perfeita ou justiça social.

Destarte, além de ser irrealizável a persecução da plêiade de fins que o direito atual
propõe, seja pela multiplicidade de finalidades ou mesmo por entrechocarem-se, é ainda
incompatível com o ideal da justiça social, porquanto a igualdade absoluta representaria
a supressão dos direitos subjetivos individuais e da ordem pública, fins estes tão caros à
ciência jurídica contemporânea.


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As modernas ciências do direito, especialmente a teoria positivista, rechaçaram a tese


aristotélica da justa divisão, do s   V  VV, substituindo-a por uma justiça
idealista, formada por uma pluralidade de finalidades inerentes a outros campos do
conhecimento (moral, economia, administração e política) de difícil conciliação e
realização.

A busca de uma improvável igualdade absoluta e justiça social e a estreita ligação com a
moral, culminaram por atribuir ao direito a função de regrar e vigiar as condutas e
virtudes humanas, na consecução de fins alheios à ciência jurídica.

Em última análise, as contemporâneas teorias jurídicas, ao ampliarem a finalidade da


justiça, abarcando ideais moralistas, tecnicistas, individualistas e igualitaristas,
terminaram por esvaziar o conceito clássico do direito, o 
 de Aristóteles,
diluindo a atuação do Estado-Juiz e enfraquecendo a busca pela justa proporção, fim
fundamental da ciência jurídica.

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