1. INTRODUÇÃO
A maioria dos relés digitais trabalha com a componente de freqüência fundamental das ondas de
corrente e tensão. Esta componente é obtida após filtragem analógica dos sinais para eliminar as
altas freqüências e depois que a série de valores amostrados é submetida a uma filtragem digital.
A partir do resultado da filtragem digital são obtidos os fasores das ondas de corrente e tensão de
cada fase.
Os relés digitais são, em geral, do tipo multifunção. Para a proteção de linhas de transmissão
podem ser usadas diversas funções, dependendo das características do sistema e da linha
protegida, bem como do relé digital disponível. É apresentada, a seguir, uma lista de funções
incluídas em relés digitais disponíveis no mercado.
o
N de Função Descrição Da Função
79 Religamento automático
São fornecidas a seguir algumas noções de como são obtidos os fasores de corrente e tensão,
com os quais são construídas as características de operação desses relés.
Sendo V e I os valores RMS dos sinais de tensão e corrente que estão sendo analisados, e
chamando de VS e I S as componentes Seno e VC e I C as componentes Co-seno de tais ondas,
sua representação fasorial será:
V = V s + jVc (2.1)
I = I s + jI c (2.2)
A partir dessa representação fasorial pode ser calculada, para o caso dos relés de distância, a
posição da falta, dada por:
V VC + jV S
Z= ou Z= (2.3)
I I C + jI S
Nesse tipo de algorítmos procura-se obter os parâmetros relativos às componentes das ondas de
corrente e tensão na freqüência fundamental. Todos os demais componentes são considerados
ruídos. Uma exceção é a proteção diferencial de transformadores que utiliza o nível de alguns
harmônicos para restrição em condições de magnetização ou sobreexcitação.
Na maioria dos relés, portanto, deve-se utilizar um filtro passa-banda, que deixe passar a
componente fundamental e bloqueie a componente c.c, assim como os harmônicos e sub-
harmônicos.
Este tipo de filtro tem seu desenvolvimento baseado numa função chamada de convolução,
segundo a qual é possível expressar o sinal de saída y (t ) de um sistema linear, a partir do sinal
de entrada x (t ) e de uma função y (δ ) , pela expressão:
t
y(t) = ∫ y(δ ) ⋅ x(t − δ ) ⋅ dδ (2.4)
o
Sendo y (δ ) a resposta ao impulso do sistema linear, isto é, corresponde ao sinal de saída para
uma entrada tipo impulso unitário.
onde:
k = número total de amostras
ak = coeficientes do filtro (resposta ao impulso para cada amostra)
xn − k = valor do sinal de entrada para a amostra n − k
• Filtros recursivos: - Tem resposta ao impulso infinita no tempo (IIR). O sinal de saída depende do
valor da amostra medido em determinado instante e das estimações nos instantes anteriores, isto
é, de toda a história prévia do sinal de entrada.
• Filtros não recursivos: - Tem resposta ao impulso finita (FIR). O sinal de saída depende de uma
história finita do sinal de entrada. Neste filtros, as estimações se realizam com um somatório de
amostras afetadas por um coeficiente.
A partir da equação (2.5) pode-se calcular o valor instantâneo do sinal de saída yn a partir dos
últimos k valores do sinal de entrada. Para cada yn , portanto, tem-se k valores do sinal de
entrada, correspondendo a uma janela de dados deslizante, conforme mostrado na Figura 2.2.
Nesta figura está indicada uma janela deslizante com 3 amostras, tendo-se uma freqüência de
amostragem de 12 amostras por ciclo. Na mesma figura, é mostrada também uma
descontinuidade no sinal da tensão devido a uma falta. A janela A contém 3 amostras da tensão
pré-falta. As janelas B e C contém amostras da tensão pré-falta e de falta. A janela D contém
apenas amostras de tensão de falta.
Como se pode verificar, a equação (2.5) fornece resultados corretos para as janelas A e D. Os
resultados para as janelas B e C não tem significado. O filtro é dito em estado transitório, e
contém informações pré-falta e de falta.
É importante, portanto, detectar quando a janela de dados está cruzando por um ponto de
descontinuidade, para evitar a operação do relé neste período.
Se o sinal de entrada fosse puramente senoidal, poder-se-ia concluir que quanto menor a janela
de dados, mais rapidamente o relé ficaria liberado para tomar uma decisão de disparo ou não
disparo.
Sabemos, porém, que os sinais de entrada estão distorcidos por diferentes tipos de ruídos. A
capacidade do algorítmo para eliminar estes ruídos depende, em grande parte, da largura da
janela de dados.
Assim, pode-se dizer que, em geral, a redução da largura da janela aumenta a velocidade do relé,
porém prejudica sua precisão.
A equação (2.5) fornece apenas os valores instantâneos do sinal de saída yn . Para se obter o
valor dos fasores de corrente e tensão, em magnitude e fase, há dois métodos:
• Determinação simultânea das componentes real e imaginária do fasor, utilizando um par de filtros
ortogonais (por ex.: um filtro Seno e um filtro Co-seno).
• Determinação das componentes real e imaginária do fasor utilizando um único filtro, tomando
como componentes real e imaginária os valores de saída do filtro defasados de 1/4 de ciclo. Este
método apresenta um retardo no tempo de resposta de 1/4 e ciclo em relação ao primeiro
método.
Se baseia em um caso particular da equação (2.5), onde a função y (δ ) toma a forma de uma
exponencial de expoente imaginário. Assim, para se obter a componente fundamental de x ( t ) ,
temos:
t
y (t ) = ∫ x(t − δ ) ⋅ e jωδ ⋅ dδ (2.6)
o
As componentes ortogonais do fasor y ( t ) (componente fundamental de x ( t ) ) são:
T
Função Co-seno: YC = ∫ y (t ) ⋅ cos ω ⋅ t ⋅ dt (2.7)
o
T
Função Seno: YS = ∫ y (t ) ⋅ sen ω ⋅ t ⋅ dt (2.8)
0
Onde T é o período de observação do sinal de entrada.
As formas discretas das equações (2.7) e (2.8) constituem o algorítmo de Fourier. Assim, para
uma janela de 1 ciclo e N amostras por ciclo, pode-se demonstrar, com base na teoria da
Transformada de Fourier que, para o instante k -ésimo, tem-se:
N
2
YC =
N
∑
k =1
yk ⋅ cos(k ⋅ θ ) (2.9)
N
2
YS =
N
∑
k =1
yk ⋅ sen (k ⋅ θ ) (2.10)
O módulo e ângulo do fasor correspondente à janela de dados centrada na amostra i, são dados
por:
(i ) 2 (i ) 2
Y (i ) = [Y ] + [Y ]
C S (2.11)
Y (i ) S
ϕ (i ) = tg −1 − i ⋅θ (2.12)
Y ( I )C
Observa-se que o fasor em questão tem magnitude definida, porém gira a medida que a janela de
dados se desloca. Esta rotação não afeta os relés que operam com uma só grandeza, nem os
que se baseiam no quociente de 2 fasores, como é o caso dos relés de distância. Em algumas
aplicações, porém, pode ser necessário corrigir a rotação.
Em geral, para uma janela de dados de 1 ciclo e k amostras por ciclo (sendo k um número par),
k
é possível determinar um total de −1 harmônicos. As componentes ortogonais
2
correspondentes ao harmônico de ordem m, são:
2 k
YC( m) = ∑ y k ⋅ cos(m ⋅ k ⋅ θ )
k k =1
(2.13)
2 k
YS( m ) = ∑ y k ⋅ sen(m ⋅ k ⋅θ )
k k =1
(2.14)
( m)
( m) −1 YS
ϕ = tg (2.15)
YC( m)
A Figura 2.3 mostra os gráficos de resposta de freqüência para os filtros tipo Seno, Co-seno e
Fourier, com janelas de dados de 1 ciclo e 16 amostras por ciclo. A escala do eixo das abcissas é
indicada em múltiplos da componente de frequência fundamental.
O filtro tipo Fourier corresponde a uma combinação de um filtro seno e de um filtro Co-seno.
A análise dos gráficos indica que a resposta de freqüência dos filtros Co-seno, Seno e Fourier
possui zeros que correspondem à componente de c.c (freqüência zero) e aos harmônicos dos
sinais de entrada, além de apresentar atenuação crescente com a freqüência para os sinais de
freqüências intermediárias.
4.4.4 Resposta do Filtro em Estado Transitório
Durante o estado transitório do filtro digital, um relé de distância, por exemplo, poderá sofrer
sobrealcance ou subalcance transitório.
Como um dos métodos para avaliar a resposta de estado transitório de um filtro, aplica-se, na
entrada, sinais distorcidos pela componente c.c, componentes oscilatórias amortecidas e outros
ruídos, e calcula-se a impedância aparente dividindo os fasores de tensão e corrente estimados.
A trajetória da impedância aparente vista por relés de distância dotados de filtros tipo Co-seno,
Seno e Fourier para o caso de falta no final de uma linha curta e em condições de máxima
assimetria da corrente, está mostrada na Figura 2.4.
Através da Figura 2.5 pode-se verificar que a resposta transitória do filtro tipo Co-seno é melhor
que a dos demais, em virtude da maior rapidez de convergência para o valor final 0,1 +j1,0 p.u
(impedância da linha de transmissão até a falta).
Verifica-se que o algorítmo elimina os harmônicos ímpares, mas não impede a componente c.c
nem os harmônicos pares.
Com o algorítmo recursivo, estes dois problemas ficam resolvidos. Assim, para um filtro de 1
ciclo, o algorítmo fica:
Neste algorítmo se requer, apenas, uma multiplicação e uma soma para atualizar cada
componente ortogonal do fasor. Além disto, o fasor resultante não gira.
A resposta de estado transitório deste algorítmo é pior que no caso de algorítmo não recursivo,
especialmente no caso do filtro Co-seno. Isto se deve ao fato de que nos algorítmos não
recursivos o coeficiente do filtro não varia enquanto a janela de dados desliza, isto é, a ação
filtrante é sempre a mesma.
Nos algorítmos recursivos, os coeficientes variam a cada amostra, de modo que o filtro fica
alternando-se entre os tipos Seno e Co-seno a cada ¼ ciclo. A resposta de freqüência,
portanto, também não é fixa, influindo negativamente sobre a resposta em estado transitório.
Os algorítmos baseados em modelos de sinais de entrada estimam fasores, que são aplicados à
distintos tipos de relés. Nos relés de proteção de linhas de transmissão é possível também utilizar
algorítmos baseados em modelos do sistema, que estimam os valores de parâmetro tais como a
indutância e a resistência da linha com defeito.
Podemos representar uma linha de transmissão monofásica curta (ver Figura 2.7) a partir da
equação diferencial que relaciona a voltagem e a corrente de entrada no relé. Para um curto-
circuito franco no sistema, no instante inicial, a tensão no relé será dada por:
di
VL = RL ⋅ i + LL ⋅ (2.19)
dt
t1 t1
t k +1
∆t
∫ vL (t ) = [vL (tk +1 ) − vL (tk )] = ∆t (vLk +1 − vLk ) (2.22)
tk
2 2
Para as amostras k, k+1 e k+2, as equações (2.20) e (2.21), podem, então, ser escritas:
∆t ∆t
2 (i Lk +1 + i Lk )(i Lk +1 − i k ) R L 2 (v Lk +1 + v Lk )
= (2.23)
∆t L L ∆t
(i Lk + 2 + i Lk +1 )(i Lk + 2 − i Lk +1 ) (v Lk + 2 + v Lk +1
2 2
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 10
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
Estes algorítmos representam uma carga computacional menor que os algorítmos baseados
em modelo dos sinais de entrada. Outra vantagem deste algorítmo é que a componente a
periódica exponencial não é um erro para o algorítmo, pois satisfaz à equação diferencial.
Por outro lado, porém, os harmônicos superiores e outros erros não são suprimidos, e
afetam a medição, a menos que sejam eliminados por outro filtro. Pode-se considerar,
também, no algorítmo o modelo de linha que inclui a capacitância “Shunt” da LT. Esta
solução, porém, necessita de maior processamento, tornando sua aplicação mais restrita.
Assim, a seleção do relé mais adequado para proteger determinada linha em função do(s) seu(s)
algorítmo(s) de filtragem digital deveria considerar todos os recursos de que o fabricante lançou
mão para melhorar o seu desempenho. Estas informações, porém, geralmente não estão
disponíveis ao usuário.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 11
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
A escolha, portanto, deve ser feita com base na experiência já demonstrada pelo fabricante, ou
através de ensaios em modelo reduzido, em que sejam simuladas condições, o mais possível,
próximas das condições reais em que irá operar o relé. Devem-se considerar, também, as
diversas funções de proteção oferecidas, além das demais funções para monitoração e apoio à
operação e manutenção.
Nos itens que se seguem, é apresentado, a título de recordação, um resumo dos diversos tipos
de proteção de linhas normalmente empregados. Na maioria dos casos, a filosofia de proteção
utilizada independe da tecnologia de construção do relé. No caso dos relés digitais, porém, existe
um componente novo que é a capacidade que tem o relé de modificar os seus ajustes em função
de variações do sistema e de se comunicar com outros relés ou dispositivos inteligentes. É
possível e desejável, pois, utilizar este recurso oferecido pelos novos relés para melhorar a
sensibilidade, a seletividade e a velocidade de operação dos sistemas de proteção.
A função sobrecorrente não constitui propriamente uma proteção de linhas de transmissão pois
possui limitações de seletividade e apresenta tempos de operação elevados. Seu alcance é
variável em função do nível de geração.
Em razão da necessidade de se ajustar os relés de fase acima da carga máxima esperada e das
oscilações de potência moderadas que possam ocorrer, esta função se torna pouco sensível a
faltas de menor magnitude, principalmente no caso de configurações desfavoráveis do sistema.
Como conseqüência, o uso da função sobrecorrente para faltas envolvendo mais de uma fase é
restrito a sistemas de distribuição, sistemas industriais e alguns sistemas de subtransmissão. O
emprego mais freqüente da função sobrecorrente na proteção de linhas de transmissão está na
proteção de terra, onde os ajustes podem ser feitos de modo a detectar faltas à terra de
magnitude relativamente baixa.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 12
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
Para se obter seletividade, os relés devem ser ajustados de modo a se ter um intervalo de tempo
mínimo (S) entre curvas de relés adjacentes, da ordem de 0,3 a 0,4 seg., chamado intervalo de
coordenação. A definição do intervalo S é função do tempo de abertura do disjuntor mais uma
margem de segurança que leva em conta o erro dos TCs e o erro nas curvas dos relés. A Figura
2.10 mostra um exemplo de proteção coordenada, utilizando relés de sobrecorrente. Cada relé
deve proteger sua própria linha, além de cobrir as linhas remotas adjacentes.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 13
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Em linhas com suficiente variação da corrente de curto-circuito para faltas no início e no final da
linha, pode-se complementar a proteção de sobrecorrente utilizando-se unidades instantâneas
(função 50), ajustadas para não alcançar o terminal remoto, mesmo em condições de falta
máxima. Na Figura 2.11 são mostrados os alcances das unidades instantâneas para geração
máxima e mínima e a redução no tempo de operação da proteção da linha, obtida com o uso das
unidades 50.
Para os relés 1 e 3, o ajuste típico será: Itap ≥ 1,5 In, sendo In a corrente nominal de carga; o
TDS deve ser definido de modo a garantir coordenação com o relé 5. Para os relés 2 e 4 o ajuste
típico será: Itap ≥ 0,5 In e TDS=1/2 (o mínimo Tap disponível).
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 14
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Pode ocorrer quando existem sistemas paralelos que oferecem caminho para a circulação da
corrente de seqüência zero, normalmente em níveis de tensão diferentes. A Figura 2.14
apresenta um exemplo deste efeito.
A corrente induzida homopolar na linha paralela sã poderá provocar a operação indevida de relés
direcionais de terra, caso tenham atuação pela corrente de seqüência zero. Uma das soluções
para este problema é utilizar corrente de seqüência negativa para operar o relé. Outra solução
consiste no emprego de relés de distância de terra com compensação da impedância mútua de
seqüência zero.
Para os sistemas interligados de alta e extra alta tensão torna-se difícil e muitas vezes impossível
aplicar seletivamente os relés de sobrecorrente, direcionais ou não. Outros sistemas, mesmo
quando não interligados, possuem carga máxima maior ou próxima da corrente de curto-circuito
sob geração mínima, impossibilitando ou dificultando a utilização de relés de sobrecorrente de
fase.
No caso dos sistemas de transmissão que interligam diversas usinas aos centros de consumo, o
tempo de eliminação de faltas torna-se um fator importante. Se as faltas não forem eliminadas
dentro de determinado tempo limite, o sistema pode perder a estabilidade, acarretando o
desligamento de grande número de linhas e geradores.
Para estes sistemas, a proteção por relés de distância constitui a solução mais adequada.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 15
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
Vale comentar que primeiros desenvolvimentos na área de proteção digital envolveram aplicações
para a proteção de distância de linhas de transmissão, em virtude de sua maior complexidade.
Neste tipo de proteção, através do emprego de algorítmos apropriados, é feita a filtragem digital
das ondas de tensão e corrente e são obtidos os valores em módulo e ângulo destas grandezas,
a partir da amostragem.
A impedância da linha de transmissão, do local do relé até a falta, é obtida fazendo-se a divisão
do valor da tensão pelo valor da corrente, por fase, e levando-se em consideração o tipo de falta.
Os relés de distância podem ser do tipo impedância, reatância, reatância modificado, impedância
em ângulo, mho, mho modificado, com característica tipo lente, tipo tomate, quadrilateral,
podendo, ainda, possuir outros tipos de característica. Estas características são definidas em
função da equação de torque correspondente a cada característica. A Figura 2.15 mostra alguns
tipos de característica de operação para relés de distância, no diagrama R.X.
Para prover proteção principal à sua própria linha e proteção de retaguarda às linhas remotas, os
relés de distância devem possuir, pelo menos, 3 (três) zonas de ajuste, conforme mostrado nas
Figuras 2.16a , b e c.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 16
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 17
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
Para faltas entre fases, o comprimento inicial do arco é a distância entre os condutores. No caso
de faltas à terra no vão, o comprimento inicial do arco é a distância entre o condutor e o solo.
Sendo a falta à terra sobre uma cadeia de isoladores, o comprimento inicial correspondente à
distância de escoamento da cadeia (2 a 3 vezes o comprimento da cadeia), a menos que ela
possua anéis anti-corona ou chifres protetores, o que propicia comprimento inicial do arco igual
ao comprimento da cadeia.
As resistências de pé de torre só precisam ser consideradas em adição à resistência do arco
sobre os isoladores se a linha de transmissão não dispuser de cabos pára-raios, ou se esses
forem fortemente isolados da torre.
Para faltas à terra diretas ou através de arco num ponto qualquer de um vão, podem estar
envolvidas grandes resistências de contato, as quais constituem, em alguns casos, parâmetros
não lineares devido a pequenos arcos entre partículas condutoras e a compostos de silício,
carbono, etc., que têm resistividade não linear, proporcional ao inverso da corrente, elevada a
uma potência entre 0,5 e 3.
No caso de relés temporizados, o vento poderá alongar o arco, cujo novo comprimento será:
L = L0 + 0,555 ⋅ v ⋅ t (2.28)
onde,
L0 é o comprimento inicial em metros;
v é a velocidade do vento em Km/h;
t é o tempo de duração do arco em segundos.
A parcela 0,555 ⋅ v ⋅ t é o comprimento adicional do arco, que independe do nível de tensão ou da
corrente na linha de transmissão.
Assim, por exemplo, para uma falta na 3ª zona, com temporização de 1 segundo e vento de 80
Km/h, o comprimento adicional do arco será:
0,555 ⋅ v ⋅ t = 0,555 x 80 x 1 = 44,4 m
Como se pode concluir, no caso de relés temporizados e ventos perpendiculares à linha, faltas
inicialmente monofásicas tenderão a evoluir para faltas bifásicas ou trifásicas, podendo, inclusive,
envolver o segundo circuito de torres duplas.
7.3 Modificação da Resistência de Arco pela Corrente do Terminal Remoto
Em linhas de transmissão com 2 fontes, a resistência de arco pode ser modificada pela
componente da corrente de falta que é alimentada pelo terminal remoto.
a) b)
Figura 2.17 – Resistência de Arco – Modificação pela Corrente do terminal Remoto.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 18
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Assim, como indicado na Figura 2.17, ocorrendo uma falta com resistência de arco R A e
sendo Z L a impedância da linha de transmissão até o ponto da falta e I 1 e I 2 as contribuições
para a corrente da falta nos terminais A e B, a tensão no relé do terminal A será:
VR = I1 ⋅ Z L + ( I1 + I 2 ) ⋅ R A (2.29)
VR I + I2
ZR = , ou : Z R = Z L + 1 ⋅ RA (2.30)
I1 I1
I
ou, ainda: Z R = Z L + R A + 2 ⋅ R A (2.31)
I1
I2
Se as correntes I 1 e I 2 estiverem fora de fase, a relação será um número complexo,
I1
podendo-se definir uma impedância de arco Z A , dada por:
I2
Z A = RA + ⋅ RA (2.32)
I1
, que poderá ser indutiva ou capacitiva conforme mostra a Figura 2.17 b, dependendo dos
ângulos das correntes I 1 e I 2 . O módulo de Z A poderá ser sensivelmente maior que R A ,
I2
dependendo da relação .
I1
7.4 Efeito de Fontes Intermediárias (“INFEED”)
O ajuste do relé para oferecer proteção de retaguarda à linha BC, sem a influência do “INFEED”
seria:
Z AJ = Z AB + Z BC (2.33)
Devido à influência da fonte intermediária, porém, a tensão no relé será:
V R = I 1 ⋅ Z AB + ( I 1 + I 2 ) ⋅ Z BC (2.34)
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 19
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ZR =
VR ( I + I 2 ) ⋅ Z BC
= Z AB + 1 (2.35)
I1 I1
Sendo I = I1 + I 2 , vem:
I
Z R = Z AB + ⋅ Z BC (2.36)
I1
Desta forma, o relé terá um subalcance, isto é, seu limite de ajuste ficará mais curto. Para que
possa operar para faltas junto à barra B, seu ajuste deverá ser aumentado para:
I
Z AJ = Z AB + ⋅ Z BC (2.37)
I1
Este critério de ajuste, porém, poderá levar a alcances muitos longos, fazendo a característica do
relé aproximar-se da carga, aumentando a probabilidade de disparos indevidos por sobrecargas
temporárias ou oscilações do sistema.
Quando as linhas de transmissão possuem mais de dois terminais, todos associados a fontes ou
interconectados por outros caminhos elétricos, a detecção de faltas internas torna-se tão mais
difícil quanto maior for o número de terminais da linha. Por outro lado, quando em todos os
terminais a relação tensão por corrente do “loop” de falta exceder à impedância fisicamente
existente entre o terminal e a falta, significa que as correntes de todos os terminais estarão
fluindo em direção à falta, que pode ser detectada por esquemas de teleproteção baseados em
sobrealcance.
A adoção de proteções diferenciais com canais piloto óticos ou por microondas vem-se mostrando
uma excelente solução para os troncos multicircuitos multiterminais de linhas de transmissão,
chegando a propiciar seleção de fases para fins de abertura e religamento multipolares nas faltas
simultâneas, desde que se empregue segregação por fase.
Um exemplo de aplicação de proteção de linha com reator shunt está apresentado na Figura 2.19.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 20
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
De forma simplificada, pode-se dizer que esta proteção está baseada no princípio de proteção
diferencial percentual, no qual são comparadas as correntes que fluem nos dois terminais da
linha, havendo restrição pela corrente total. Se as correntes entram em ambos terminais, significa
que há uma falta interna.
Para permitir a comparação entre as correntes de cada terminal, é necessário utilizar um canal de
comunicações confiável. No caso de uso de religamento monopolar, a comparação entre as
correntes deve ser feita fase a fase e, neste caso, o canal ou canais de comunicação deve
fornecer as informações de cada fase da corrente.
Nestes relés é feita uma comparação entre os fasores das correntes local (IL)e remota (IR). Para
melhor visualização do desempenho desta proteção, é utilizado o plano complexo, também,
chamado de plano alfa, conforme mostrado na Figura 2.20. A região de restrição corresponde ao
setor circular mostrado na Figura.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 21
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
Com carga normal ou falta externa, sem saturação dos TCs ou erros no sistema de
comunicações, o fasor da relação IR /IL será -1. Erros nos TCs, assimetria no tempo dos canais de
comunicação ou outros erros produzidos por faltas fora da zona protegida irão fazer o fasor da
relação IR /IL se deslocar no plano alfa, porém mantendo-se dentro da área do setor de restrição, e
o relé não irá operar.
A Figura 2.21 mostra um par de relés de proteção de corrente diferencial, indicando, também, a
comunicação relé a relé utilizada para transmitir informações de um terminal a outro.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 22
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
Este tipo de proteção pode ser utilizado em linhas de 3 terminais, utilizando 2 canais de
comunicação ligados a cada relé. Pode, também, operar num esquema mestre-seguidores, no
qual um dos relés recebe todas as informações de corrente, realiza as comparações para
determinar se a falta é interna ou externa e, se for o caso, envia aos outros terminais a ordem de
disparo.
A reatância indutiva da linha de transmissão irá depender do número de condutores por fase, do
espaçamento entre condutores da mesma fase e entre fases, e do diâmetro do condutor.
O valor típico para a reatância indutiva varia entre 0,37 e 0,40 ohms/km.
Assim, para linhas de transmissão de 500 kV ou 700 kV longas, deverá ser usado,
preferencialmente, esquema de comparação direcional. Se o esquema usado for o de
comparação de fases, este deverá ser supervisionado por relés de distância.
Em algumas linhas de transmissão de EAT, não é realizada a transposição das fases, por razões
econômicas. Isto ocasiona diferenças entre as tensões e correntes das fases. Entretanto, a
variação da impedância entre fases pode ser de interesse para a proteção de uma linha de
transmissão de 500 kV. Por exemplo, em uma linha de transmissão com 2 condutores por fase e
configuração horizontal, a diferença entre as impedâncias pode chegar a 13%, devendo ser
considerada no ajuste dos relés de 1ª zona.
9.4 Sobretensões
As sobretensões por rejeição de carga que aparecem nos terminais do transformador da geração,
podem variar de 20% a 50%, dependendo de fatores como, resposta do sistema de excitação,
comprimento da linha de transmissão que permanece conectada à geração, ocorrência de faltas
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 23
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS II
antes da rejeição, quantidade de reatância “Shunt” conectada e carga inicial do gerador. Estas
sobretensões podem permanecer durante tempo prolongado. Na maioria das vezes, o
transformador entra em saturação, ocasionando um aumento considerável na corrente de
excitação.
Uma solução para este problema é a abertura do disjuntor da linha de transmissão assim que for
detectada uma rejeição de carga. Isto pode ser feito através de um canal de transferência de
disparo a partir do terminal remoto, uma vez que o crescimento da tensão durante rejeições de
carga é um fenômeno relativamente lento.
Podem ocorrer, neste caso, sobretensões da ordem de 2,25 a 3,5 p.u., dependendo do
comprimento da linha de transmissão e da impedância de seqüência zero do transformador.
Haverá forte saturação do transformador e aumento considerável na corrente de magnetização, o
que deverá ser considerado nos ajustes da proteção diferencial do transformador ou dos relés
direcionais de terra da proteção da linha de transmissão.
Módulo 1 - Capítulo 2 2 - 24
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