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PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO


PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

COOPERAÇÃO E PARCERIA NA GESTÃO SÓCIO-CULTURAL:


O CASO DO PROGRAMA CORDAS DA AMAZÔNIA

JULIANA DE OLIVEIRA TAVARES

BELÉM-PARÁ
2010
2

JULIANA DE OLIVEIRA TAVARES

COOPERAÇÃO E PARCERIA NA GESTÃO SÓCIO-CULTURAL:


O CASO DO PROGRAMA CORDAS DA AMAZÔNIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Mestrado em administração da
Universidade da Amazônia - UNAMA,
como requisito para a obtenção do título de
Mestre em Administração.

Orientação: Profa. Dra. Ana Maria de


Albuquerque Vasconcellos.

BELÉM-PARÁ
2010
3

DEDICATÓRIA

A todas as funcionárias públicas brasileiras que


dedicam ao Brasil um trabalho ético e de qualidade.
Seu empenho, motivação e profissionalismo
contribuem para a formação de um país mais justo,
onde todos os cidadãos brasileiros sejam atendidos
dignamente. Que a esperança de construir uma
nação próspera e segura continue a movê-las em
direção a um futuro plenamente feliz.
4

AGRADECIMENTOS

Jamais conseguiria esta vitória, se não estivesse cercada de pessoas especiais as


quais Deus me presenteou. Agradeço a todos que contribuíram nesta conquista, a
destacar:
Inês, bela flor que me concedeu a existência. Como agradecer aos vinte e nove
anos de dedicação diária em prol de minha educação e felicidade? Creio que nunca
haverá palavra que possa traduzir a imensidão de meus sentimentos. Haja o que houver,
estaremos juntas: tu és minha música, letra e dança.
Ao amado Ismael, pelo apoio incondicional durante a trajetória do Mestrado.
Agradeço por compreender os momentos em que estive ausente, por me confortar nas
horas difíceis, por tolerar minha impaciência, por estar sempre disponível a me ajudar,
pela integridade de seu caráter, por sua lealdade e zelo. Ao meu noivo: obrigada por
você existir.
Às três mulheres de minha vida: Edileide, Lindinaura e Jasmim. Pelo incentivo,
pela ternura, por acreditarem em minha capacidade, pela paciência que sempre tiveram,
pelo respeito desta relação. A vocês, tia, avó e irmã, minha eterna gratidão e devoção.
Se eu tivesse mais alma para dar, lhes daria.
Ao paidrasto Armando, por trazer para nossas vidas sua alegria contagiante e
consagrar à nossa família tamanho afeto. Obrigada pela sua presença. Você se tornou
parte de nossos corações.
Às queridas amigas Katy, Natasha, Amanda e Andrea, pelos incontáveis
momentos de conforto e encorajamento. Nossos amigos formam a família que
escolhemos ter, e me sinto privilegiada em conviver com pessoas especiais como vocês.
Ao professor Dr. Áureo DeFreitas, meus agradecimentos especiais. Seu espírito
de liderança e habilidade de inovação me inspiram a prosseguir nos caminhos da
pesquisa. Sua disponibilidade durante esta dissertação foi vital, colaborando
concretamente para meu progresso acadêmico.
A equipe do Programa Cordas da Amazônia e a todos os entrevistados, obrigada
por disporem seu tempo, este trabalho não existiria sem a colaboração de vocês. Em
especial, a estimada professora Msc. Lúcia Uchôa, que sempre me animou nos
momentos mais difíceis, acreditando em meu trabalho e poder de superação.
5

Às colegas de Mestrado: Aline, Rosa e Carmem. Juntas, compartilhamos a


estrada, muitas vezes tortuosa, em busca de um sonho comum. A felicidade de
concluirmos esta etapa transpõe a obtenção do título de mestre, demonstrando nossa
força interior e o sentimento de fraternidade que nos uniu ao longo do curso.
Finalmente, agradeço a todos os professores que tive, desde os primeiros passos
da alfabetização, até a formação atual como Mestre. Dentre todas as profissões, eis a
mais digna, pois não há de ter missão mais admirável do que educar um ser humano e
ajudá-lo a ser alguém melhor, em todos os sentidos. Meus agradecimentos aos
professores que Deus pôs em meu caminho, pois cada um, à sua maneira, ensinou
grandes lições. A orientadora desta pesquisa, professora Dra. Ana Maria Vasconcelos,
por ter acreditado em meu potencial.
6

EPÍGRAFE

Se não houve frutos, valeu a beleza das


flores.
Se não houver flores, valeu a sombra das
folhas.
Se não houve folhas, valeu a intenção da
semente.
(Cecília Meireles)
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RESUMO

O presente estudo tem como objetivo compreender como a cooperação entre


organizações contribui para a formação de redes na gestão de programa de
desenvolvimento sociocultural que visa à inclusão social. Para isso, buscou-se conhecer
o PCA – Programa Cordas da Amazônia da Escola de Música da Universidade Federal
do Pará, analisando seus princípios, objetivos e estrutura. Primeiramente, realizou-se
uma pesquisa bibliográfica, com a finalidade de fundamentar as temáticas relacionadas
com parceria e redes de cooperação. Explicou-se a evolução da cultura organizacional
das organizações frente à mudança do cenário competitivo, apontando o
desenvolvimento do relacionamento em redes desde os primórdios da Administração,
onde as empresas buscavam o isolamento a fim de aumentar sua capacidade
competitiva, até os dias atuais, em que o estabelecimento de parcerias tornou-se
necessário para a sobrevivência das mesmas. Após a discussão sobre a problematização
e a delimitação do objeto da pesquisa, partiu-se da hipótese de que o Programa Cordas
da Amazônia possui uma complexa rede de interação que fortalece os interesses e
benefícios comuns entre parceiros da sociedade civil, órgãos públicos e organizações
particulares. O método de estudo será o estudo de caso citado, com a intenção de análise
de discurso das entrevistas semi-estruturadas a serem feitas com os envolvidos no PCA,
especialmente com gestor, professor Ph.D. Áureo DeFreitas. Para delimitar este estudo
foram citadas as obras de autores relacionados com a temática: Redes de Cooperação,
explicando que as redes de cooperação e estabelecimento de parcerias criaram novos
valores na gestão de projetos e programas. Finalizando, são apresentadas sugestões para
o fortalecimento de parcerias na Rede do PCA, bem como sugestões para estudos
futuros.

Palavras-chave: Parceria, redes de cooperação, gestão sócio-cultural, inclusão social.


8

ABSTRACT

This study aims to understand how cooperation among organizations contributes to the
formation of networks in the management of socio-cultural development program which
aims at social inclusion. With that Said, we sought to know the ASP – the Amazon
String Program of the School of Music of the University Federal of Pará., analyzing its
principles, goals and structure. First, we performed a literature search, in order to
substantiate the issues related to partnership and cooperation networks. He explained
the evolution of the organizational culture of organizations facing change the
competitive landscape, pointing to the development of relationship networks since the
beginning of Directors, where companies sought isolation in order to increase their
competitive edge, even today, in that the establishment of partnerships has become
necessary for survival. After discussion of the questioning and the delimitation of the
research object, we started with the hypothesis that the Amazon String Program has a
complex network of interaction that strengthens the common interests and benefits
among civil society partners, public agencies and private organizations. The method of
study is a case study cited, with the intention of the discourse analysis of semi-
structured interviews to be done with those involved in the ASP, especially with
manager, Ph.D. Aureo DeFreitas. To delimit this study we cite the works of authors
connected with the theme: Cooperation Networks, explaining that the cooperation
networks and partnerships created new values in the management of projects and
programs. Finally, suggestions are provided for the strengthening of partnerships in the
ASP Network, as well as suggestions for future studies.

Keywords: Partnership, collaborative networks, socio-cultural, social inclusion.


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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa conceitual das Redes de Cooperação..................................................29


Figura 2 - Redes de Fornecimento..................................................................................32
Figura 3 – Estrutura de Consórcio..................................................................................33
Figura 4 – Estrutura de Redes Associativas...................................................................34
Figura 5 – Objetivos, interação e ganhos competitivos..................................................44
Figura 6 – Apresentação dos métodos de pesquisa. ......................................................63
Figura 7 – Rede de Cooperação que envolve o Programa Cordas da Amazônia...........65
Figura 8 – Organograma de fluxo burocrático para fomento de projetos......................68
Figura 9 - Alunos dos pólos Cremação, Bengui e Jurunas ..........................................102
Figura 10 - Alunos dos pólos Cremação, Bengui e Jurunas ........................................102
Figura 11 - Alunos dos pólos Cremação, Bengui e Jurunas ........................................102
Figuras 12 - Equipe de pesquisadores voluntários do PCA.........................................102
Figura 13 – Apresentação no programa global Gente Inocente.................................103
Figura 14- Publicação de sobre a turnê Holanda, em 2004.......................................103
Figura 15 - Banda Madame Saatan e Orquestra no Teatro da Paz em 2007................103
Figura16 - Juliana Sinimbú e Orquestra no Teatro da Paz........................................103
Figura 17 – Orquestra em show em cima do trio elétrico, no ENARTE 2009.............104
Figura 18 – Prof. Dr. Áureo DeFreitas em performance no Theatro da Paz................104
Figura 19 – Orquestra em show na Praça da República, em 2010..............................104
Figura 20 – Orquestra em show no evento Conexão Vivo, em 2010..........................104
Figura 21 – Orquestra de Violoncelistas da Amazônia no evento Fest Music.............105
Figura 22 – Orquestra em show no evento ENARTE Flutuante, em 2010.................105
Figura 23 – Balsa do ENARTE Flutuante, 2010.....................................................105
Figura 24 - Conferência Mundial de Educadores Musicais, em 2010.........................105
Figura 25 – Turnê China 2010...............................................................................106
Figura 26 – Show realizado em Pequim, ano de 2010..............................................106
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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Formas de relações econômicas que envolvem as redes de cooperação.....27


Quadro 2 – Evolução teórica sobre redes de cooperação...............................................28
Quadro 3 – Ganhos competitivos das redes de cooperação...........................................41
Quadro 4 – Ações Internacionais da Orquestra da OIJVA...........................................54
Quadro 5 - Pesquisadores do Projeto Transtornos do Desenvolvimento.......................60
Quadro 6 – Mapeamento dos entrevistados...................................................................64
Quadro 7 – Coletânea de TCCs produzidos pelos pesquisadores do PCA....................73
Quadro 8 - Coletânea de Dissertações produzidas pelos pesquisadores do PCA..........74
Quadro 9 – Artigos publicados pelos pesquisadores do PCA.......................................74
Quadro 10 – Projetos do PCA.......................................................................................75
Quadro 11 – Progresso acadêmico dos integrantes das aulas individuais......................81
Quadro 12 – Progresso acadêmico dos integrantes das aulas em grupo........................82
Quadro 13 – 1° fase de estruturação da OIJVA.............................................................83
Quadro 14 – 2° fase de estruturação da OIJVA.............................................................84
Quadro 15 – 3° fase de estruturação da OIJVA.............................................................85
Quadro 16 – Mobilidade Nacional e Internacional do integrantes da OIJVA...............87
Quadro 17 – Síntese da rede de cooperação que envolve o PCA..................................93
11

SUMÁRIO

RESUMO..........................................................................................................................7
ABSTRACT.....................................................................................................................8
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................9
LISTA DE QUADROS................................................................................................ 10

1.INTRODUÇÃO..........................................................................................................13
1.1 TEMA........................................................................................................................13
1.2. OBJETIVOS E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA...................13
1.3. JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA............................................................16
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO.......................................................................22

2. REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................23
2.1 COOPERAÇÃO INTERORGANIZACIONAL......................................................23
2.2 TIPOLOGIAS EM REDES DE COOPERAÇÃO...................................................29
2.3 PRINCIPAIS CONFIGURAÇÕES DAS REDES DE COOPERAÇÃO
ORGANIZACIONAL ...................................................................................................30
2.3.1 Redes de Fornecimento..........................................................................................31
2.3.2 Rede de Corsórcios................................................................................................32
2.3.3 Redes Associativas................................................................................................34
2.4 GANHOS COMPETITIVOS DAS REDES DE COOPERAÇÃO..........................37
2.5 ESTABELECENDO UMA REDE DE COOPERAÇÃO.......................................44
2.6. CONTEXTUALIZANDO O PROGRAMA CORDAS DA AMAZÔNIA..............47
2.6.1. Aspectos de liderança no PCA..............................................................................47
2.6.2. Surgimento da Orquestra de Violoncelistas da Amazônia....................................50
2.6.3. Panorama atual do Programa Cordas da Amazônia..............................................55
2.6.4 Projetos que compõem o Programa Cordas da Amazônia.....................................58

3. METODOLOGIA DA PESQUISA..........................................................................62
3.1 TIPO DE COLETA DE DADOS..............................................................................62
12

4. ESTUDO EMPÍRICO:............................................................................................67
4.1 O SURGIMENTO DA REDE DE COOPERAÇÃO NO PCA...............................67
4.1.1 Formação de Parcerias: Universidade Federal do Pará.........................................71
4.1.2 Formação de Parcerias: MEC – Ministério da Educação......................................76
4.1.3 Formação de Parcerias: MINC – Ministério da Cultura........................................77
4.1.4 Formação de Parcerias: EMUFPA- Escola de Música da UFPA.........................78
4.1.5 Formação de Parcerias: os alunos do PCA...........................................................80
4.1.6 Formação de Parcerias: mães de alunos...............................................................88
4.1.7 Formação de Parcerias: pesquisadores.................................................................90
4.1.8 Formação de Parcerias: pesquisadores.................................................................92

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS.....................94

6. REFERÊNCIAS BBLIOGRÁFICAS......................................................................97

7. ANEXOS...................................................................................................................101
13

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa à investigação do processo de articulação de parcerias


como condição de sobrevivência para um programa de gestão sócio-cultural. Para isso,
explora elementos que permitem o entendimento do contexto em que o Programa
Cordas da Amazônia está inserido, identificando e analisando os princípios gerais de
cooperação aplicável na Universidade Federal do Pará e as formas e a natureza das
relações entre os parceiros do programa em foco.

1.1 TEMA

O tema deste trabalho é o estabelecimento das redes de cooperação entre


organizações, e como essa formação de redes pode contribuir para o desenvolvimento
de um programa de gestão sócio-cultural. A temática inclusão social também será
abordada, visto que está relacionada com o estudo de caso em questão. A pretensão é
analisar a interação existente entre parceria como condição de sobrevivência,
cooperação e inclusão social, já que não há estudos nesta área na região Norte do país.
Para isto, optou-se por realizar uma pesquisa qualitativa baseada na bibliografia
existente e nas entrevistas coletadas ao longo deste estudo.

1.2. OBJETIVOS E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA

A idéia do estabelecimento de redes foi consolidada em nossa sociedade através


de exemplos práticos desta parceria, vistos em: organizações públicas e privadas,
organizações não-governamentais, nas relações familiares, profissionais, em pesquisas
acadêmicas, inclusive na esfera política. Se tratando de dois ou mais agentes
interligados em prol de um objetivo comum, podemos firmar a idéia de cooperação. A
condução de negócios, outrora meramente competitiva, ganha nova roupagem neste
século, sendo abordada por diversos autores, especialmente nas dissertações de
Mestrado e teses de Doutorado dos cursos de Pós Graduação em Administração.
A concorrência, que no século passado era limitada a atores locais, globalizou-
se, como comprova os editais de projetos de extensão aos quais o objeto deste estudo, o
Programa Cordas da Amazônia, se submete. A orquestra paraense compete a nível
14

nacional, com programas de gestão cultural do Brasil inteiro, na disputa de fomentos


advindos do Governo Federal. O programa precisa, portanto, utilizar-se de parcerias
para atender com rapidez às demandas que são colocadas em seu ambiente
organizacional.
O presente trabalho visa à investigação do processo de articulação de parcerias
como condição de sobrevivência para um programa de gestão sócio-cultural. Para isso,
explora elementos que permitem o entendimento do contexto em que o Programa
Cordas da Amazônia está inserido, identificando e analisando os princípios gerais de
cooperação aplicável na Universidade Federal do Pará e as formas e a natureza das
relações entre os parceiros do PCA.
O objetivo central da pesquisa consiste em compreender como a parceria e a
cooperação entre organizações contribuem para a gestão de programa de
desenvolvimento sociocultural que visam à inclusão social. E ainda, verificar as formas
de parcerias estabelecidas na gestão de programa de desenvolvimento sócio-cultural e
identificar como se apresentam os arranjos organizacionais para o estabelecimento da
cooperação e/ou articulações entre parceiros que promovam a valorização dos aspectos
sociais, culturais e ambientais na formação sociocultural e conhecimento local.
Os objetivos específicos da pesquisa são:
- Verificar as formas de parcerias estabelecidas na gestão de programa de
desenvolvimento sócio-cultural;
- Identificar como se apresentam os arranjos organizacionais para o
estabelecimento da cooperação;
- Identificar a ocorrência de formas de articulações entre parceiros visando à
cooperação e valorização dos aspectos sociais, culturais e ambientais na formação
sociocultural e conhecimento local.
- Verificar as diferentes motivações que levam empresários, voluntários e
executivos federais a realizar ações de cooperação com o programa, identificando os
possíveis ganhos de ambos neste processo.
A análise de novas formas de redes de cooperação tem sido objeto de
investigação em vários campos do conhecimento. Na tentativa de compreenderem o seu
impacto sobre a vida social, estes campos se desdobraram e originaram as diversas
metodologias de análise. Entende-se que as redes de cooperações consistem em sistemas
15

compostos por conexões representados por sujeitos sociais entre indivíduos, grupos,
organizações etc. conectados por algum tipo de relação (MARTELETO, 2001).
Neste sentido a questão central da pesquisa é compreender como a cooperação
entre organizações contribui para o fortalecimento da gestão de programa Cordas da
Amazônia visando o desenvolvimento sociocultural com inclusão social. Com o
propósito de dar maior ênfase à discussão central, a pesquisa se desdobra em três
questões norteadoras da questão central, a saber:

1- Qual o tipo e concepção de cooperação que predomina nas ações articuladas entre o
programa Cordas da Amazônia, a Universidade e as empresas parceiras que se
envolvem com o programa?
2- Quais as ações desenvolvidas pelo programa que tem sido atrativas ao fortalecimento
da cooperação?
3- O programa apresenta propostas de inclusão e maior participação social através de
ações articuladas de valorização dos aspectos sociais, culturais e ambientais?

Parte-se da hipótese da existência de uma complexa rede de interação que atua


em diferentes níveis de cooperação e valorização das relações sociais construídas e
fortalecidas na relação de cooperação entre organizações e setores da sociedade civil.
16

1.3. JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA

No século passado, as organizações viviam basicamente preocupadas com a sua


própria produção; a coordenação deste processo possuía quase que exclusivamente uma
estrutura familiar e hierárquica, sem nenhuma preocupação em interagir com outras
organizações, quer fossem do mesmo segmento ou de diferentes ramos. Os modelos de
gestão baseados em parcerias sequer eram cogitados. Ser uma organização de sucesso
consistia, fundamentalmente, em lucrar oferecendo ao mercado consumidor um
produto/serviço com qualidade razoável, baixo preço e logística compatível com os
custos dispensados.
Porém, houve o surgimento de novos parâmetros de mercado, alterando o
cenário competitivo, exigindo das organizações a implantação de um novo modelo de
gestão, mais sustentável, pois as companhias não estavam preparadas para as novas leis
do mercado que se formavam graças aos significativos avanços de uma nova cultura
organizacional.
Entendendo o conceito de cultura no âmbito das organizações, segundo
Mintzberg (1999), a cultura significa a junção de modos de falar, agir, pensar, enfim,
atitudes e formas organizacionais de um grupo, pois à medida que as pessoas se reúnem
para fazer alguma coisa, aí está formada um estilo de agir, pensar e falar, portanto, uma
cultura própria do grupo. O autor apresenta outros conceitos mais simples de cultura
organizacional:
a) São os princípios e regulamentos que regem a cultura, fornecendo aos
grupos significado, direção e mobilização quanto à cultura organizacional vivenciada.
b) É a força social que move a aliança rumo ao alcance de objetivos.
c) É o modo pelo qual as tarefas são realizadas.
d) Uma moeda social.
e) O conhecimento adquirido e utilizado para interpretar experiências e
gerar desempenho social.
Porém, ao abordar a temática Cultura Organizacional, é imprescindível
conceituar o termo “organização”. Segundo Pires e Macedo (2006), pode-se afirmar que
organização é um conjunto de tarefas e atividades direcionadas por duas ou mais
pessoas onde, devido a entraves pessoais, os indivíduos são levados a cooperarem uns
17

com os outros para alcançar certos objetivos que a ação individual isoladamente seria
incapaz de fazê-lo.
Chega-se à idéia de que o conjunto de organizações que constituem esta
interação é formado por sentimentos de dinamismo e complexidade, como se fossem
um organismo vivo, possuindo “vida própria”.
Na concepção de Pires e Macedo (2006, p.88), uma organização consiste em um
conjunto de preceitos, políticas públicas, valores e crenças que influenciam na forma
como as pessoas agem e interagem e colaboram para o estabelecimento de uma cultural
organizacional.
Observa-se nestes conceitos que a cultura organizacional varia de acordo com o
comportamento dos indivíduos que a compõem. As mudanças culturais entre gestores e
sociedade permitiram a abertura de mercados através de novas frentes de negócio, e
conseqüentemente, ocorreu à entrada de novos concorrentes, mão-de-obra mais
capacitada, consumidores mais exigentes e o surgimento de conceitos atrelados à
cooperação. Abordando os significados de cultura organizacional e de organização,
pode-se compreender o surgimento de novas concepções de modelos de gestão.
Putnam (1996, p.97) discorre sobre a evolução sofrida pelo mercado,
contextualizando sobre a Revolução Industrial, como o mais importante acontecimento
social e econômico verificados na sociedade ocidental nos últimos séculos, trazendo
como conseqüência, a partir da mudança de milhares de pessoas dos campos para as
cidades, a elevação do padrão de vida da sociedade: estruturas de classes sociais
transformadas, níveis de educação e padrões sanitários elevados, e capacidade
econômica e tecnológica multiplicadas.
Outro passo em discussão seria o surgimento da globalização econômica, que,
segundo Porter (1998), modificou drasticamente a conjuntura dos mercados, fazendo
com que estes ficassem mais competitivos e buscassem aperfeiçoar a produção e criar
diferenciais relacionados à qualidade de seus produtos / serviços. Ocorre que entre as
inúmeras dimensões humanas existentes, este estudo supõe como relevante a
sociabilidade da natureza humana. É esta dimensão que é responsável pela aproximação
do homem e de seus semelhantes, com a finalidade de criarem, unidos, associações
estáveis para agirem como membros de um mesmo grupo social.
Até a década de 70, a sociedade tinha como foco o meio econômico para
alcançar uma melhor qualidade de vida; com o passar do tempo, percebeu-se que o
18

crescimento advindo do capital trazia benefícios estritamente nesta área, enquanto


outras – tais como a área social, cultural, ambiental e política – eram subjugadas pela
força da imposição monetária.
Barbieri (2007) discorre a respeito no que tange aos aspectos ambientais e
sociais, quando ainda não se percebia preocupação com a desenfreada degradação
ambiental ou com a exclusão social; as atividades comerciais motivadas pelo modo de
produção extrativista eram tidas como único modo de geração de lucro e riquezas, sem
importar-se com os impactos gerados por elas.
Seguindo essa lógica de estudo, o tema ‘parceria e cooperação’ exige uma
discussão prévia sobre a evolução da conduta de cada cidadão, que ultrapassam os
portões das fábricas e faz surgir uma sociedade preocupada com a inclusão social dos
menos favorecidos, a então chamada responsabilidade social. Assim, os próprios
gestores passam a vislumbrar, no estabelecimento de parcerias, uma oportunidade de
preservar o bem estar de suas futuras gerações.
Mintzberg (2009) afirma que o desgaste de capital intelectual voltado para a
inovação e aumento do lucro levou os gestores a perceberem que a estratégia acirrada de
competição os levaria a exaustão financeira e ao fracasso. Alertas e conferências de
caráter sócio-ambiental cujo objetivo era apontar a urgência em se tratar de inclusão e
eficiência incentivaram as organizações a preocuparem-se com sua sustentabilidade,
tornando possível a avaliação da temática parceria e cooperação.
À medida que crescem as organizações na sociedade civil, crescem as demandas
de cunho social e a precisão de intervenção na realidade (CASTELLS, 1999). Desta
forma, aumenta a importância do tema parcerias e alianças estratégicas. Em termos
legais do termo parceria, foi em 23/03/1999 foi aprovada uma Lei pelo Governo
Federal, a Lei n° 9.790, que regulamenta a existência das Leis da Sociedade Civil de
Interesse Público (OSCIP). Pois é justamente nessa Lei que foi criado o termo parceria,
que regula o relacionamento existente entre organizações públicas e privadas:

Art. 9o Fica instituído o Termo de Parceria, assim considerado o


instrumento passível de ser firmado entre o Poder Público e as
entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil
de Interesse Público destinado à formação de vínculo de
cooperação entre as partes, para o fomento e a execução das
atividades de interesse público previstas no art. 3o desta Lei.
(art.9° da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999).
19

Noleto (2000, p.15) afirma que a máxima de que somando esforços estaremos
mais aptos a enfrentar os problemas de toda ordem é verdadeira, pois a somatória de
recursos, conhecimentos e perfis multifuncionais ampliam admiravelmente as
possibilidades de atuação.
Segundo Noleto (2000, p.16), a construção de parcerias é uma verdadeira arte,
pois envolve habilidades de todos os envolvidos no processo de cooperação. A parceria
está atrelada às ações mais pontuais, como um projeto ou uma iniciativa em conjunto; já
a aliança estratégica abordará ações conjuntas de longo prazo, ou uma associação
ininterrupta, independentemente do projeto em questão.
O estabelecimento de parcerias resulta na formação de alianças estratégicas.
Estas ocorrem quando há cooperação entre duas ou mais entidades, em prol da mesma
finalidade representando um modo de transformar a sociedade. Assim, quando se fala de
aliança estratégica, é preciso que se pense em longo prazo, com ambas as partes
dispostas a investir em um relacionamento, sendo vistas como um modo de alcançar
resultados, e não o fim em si é uma união firme e durável, disposta a alterar uma
realidade vivenciada, a partir da somatória de forças (KAY, 1993).
Segundo Noleto (2000, p.17), são características das parcerias e alianças
estratégicas: é um compromisso que será desenvolvido em longo prazo, sendo que os
recursos humanos, financeiros e materiais serão compartilhados, além dos riscos e
sucessos; para isto, é preciso que haja um objetivo comum, mesmo que cada parceiro
mantenha suas habilidades e competências. A autora afirma sobre a acuidade que se
deve ter ao avaliar parceiros:

(...) um importante desafio consiste em selecionar parceiros,


avaliar riscos e identificar os fatores que justificam e levam à
parceria ou aliança. É preciso verificar: atuação, tempo de
existência, credibilidade, imagem, missão, valores,
intencionalidade ética, capacidade de investimento, saúde
financeira, recursos humanos qualificados, projetos já
desenvolvidos (NOLETO, 2000, p. 19).

Segundo Lewis (1992, p.3), uma aliança dura tanto quanto a necessidade mútua,
incluindo a eficácia com a qual os parceiros irão trabalhar em conjunto. Esta
20

interdependência expõe os parceiros, que deverão buscar as soluções pertinentes,


compartilhando seu grau de controle sobre as atividades desenvolvidas da rede.
Faz-se necessário o estudo sobre a gestão de um programa de desenvolvimento
sócio-cultural, com o recorte teórico baseado na Teoria da Cooperação e no conceito de
parcerias, pois a formação de redes intra-organizacionais tornou-se uma nova realidade
no relacionamento outrora somente competitivo.
Tais conceitos surgiram em meio às organizações inovadoras sustentáveis. São
modelos organizacionais vistos como mais adequados para as novas exigências
mercadológicas e sociais, relacionadas com a temática em evidência, o desenvolvimento
sustentável, que teve início na CNUMAD, em 1992. E esta adequação é resultado da
busca pela eficiência técnica e simbólica. (BARBIERI, ANDREASSI,
VASCONCELOS, 2010).
Segundo Barbieri et al (2010, p.3), a necessidade de substituir os meios e
práticas antigas por outras que traduzam os princípios, diretrizes e objetivos de um novo
movimento é um aspecto central quando se pretende aderir a um movimento social. A
inovação deverá ser encarada de uma nova forma, levando a um tipo de inovação que
resulte em desenvolvimento sustentável: é esta a idéia de inovação sustentável.
O processo de institucionalização do termo inovação sustentável não teve
precedentes, sendo a popularização do conceito espalhada rapidamente. A possível
explicação para a adoção do comportamento voltado para a inovação sustentável derive
da teoria institucional, onde a própria sociedade adquire novos valores que serão seus
novos “mitos” a serem seguidos em um determinado setor. O sistema social pressiona a
organização para que ela adote o novo modelo de gestão. O modelo de gestão requerido
é baseado na busca pela eficiência simbólica – adoção de modelos institucionalizados
no setor e na sociedade, tidos como ideais – e a eficiência técnica, que é a busca por
produtividade, qualidade, eficácia . (BARBIERI, 2010, p.6).
Neste ínterim, organizações inovadoras, segundo Barbieri (2007, p.88), são
aquelas capazes de revelar a efetividade da adesão ao desenvolvimento sustentável,
dando uma efetiva contribuição para o planeta e suas futuras gerações. Este autor
apresenta dois conceitos essenciais para o entendimento necessário a proposta deste
trabalho: essencialmente, os esforços para inovar resultam, inicialmente, em idéias que
se transformam em inovações sustentáveis.
21

É no contexto de organizações que utilizam a parceria e a cooperação como


modo de sobrevivência e aumento de competitividade, apresentado nos parágrafos
anteriores, que o Programa Cordas da Amazônia de insere, daí a importância deste
estudo. A cooperação visa solidificar e promover o PCA, promovendo a solidificação de
um processo integrado e auto-sustentável, aumentando o poder de barganha entre os
participantes de sua rede. A finalidade é sempre a alavancagem da competitividade.
Este trabalho caracteriza-se como um estudo teórico exploratório, a partir do
estudo de caso. A intenção desta parte do trabalho é apresentar o Programa Cordas da
Amazônia, e compreender as razões que influenciaram o estabelecimento de
relacionamentos interorganizacionais, investigando as peculiaridades inerentes ao
projeto.
Portanto, trata-se de pesquisa qualitativa, pois existe um vínculo ao qual não
podemos desassociar entre objetividade e subjetividade do cenário que está sendo
observado. Os fenômenos relacionados com o Programa Cordas da Amazônia serão
analisados, e significados auferidos para a construção da coleta e interpretação dos
dados. A pesquisa compreenderá as ações dos participantes da Rede de Cooperação.
22

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Este trabalho tem o objetivo de apresentar elementos que auxiliem na


compreensão de conceitos sobre os fatores que colaboram na formação da concepção
sobre o fenômeno com as redes de cooperação.
Para o conseguimento deste objetivo, estruturamos o presente trabalho em sete
partes, seguindo uma apresentação lógica da evolução do tema delimitado no contexto
organizacional.
O capítulo 1, introdutório, é apresentado o tema de pesquisa, bem como os
objetivos específicos, contextualizando os questionamentos formulados pela
pesquisadora. Neste capítulo também é justificado a escolha teórica deste trabalho, além
de sua abordagem prática.
O capítulo 2 abrange o referencial teórico do trabalho, abordando os seguintes
temas: Cooperação Interorganizacional, Tipologias em Redes de Cooperação, as
Principais Configurações de Cooperação Organizacional, os Ganhos Competitivos das
Redes de Cooperação, e finalmente, o Processo de Estabelecimento de uma Rede de
Cooperação. Finalizando o capítulo 2, veremos a Contextualização do Programa Cordas
da Amazônia, como suporte teórico essencial para o entendimento do objeto de estudo.
O capítulo 3 discorre sobre a metodologia de pesquisa empregada, explicando o
motivo da adoção de procedimentos qualitativos, especificamente, de caráter descritivo.
Também é explicado o tipo de coleta de dados utilizado.
O capítulo 4 compreende a abordagem empírica deste estudo, descrevendo como
surgiu a rede de cooperação do Programa Cordas da Amazônia, bem como o processo
de estabelecimento de parceria dos pertencentes à Rede.
No capítulo 5 são apresentadas as conclusões da pesquisa, suas limitações e
sugestões para trabalhos futuros.
Os capítulos que se seguem comportam as referências bibliográficas e os anexos.
23

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. COOPERAÇÃO INTERORGANIZACIONAL

Os fundamentos das relações de cooperação ganharam importância da economia


atual, visando não somente a sobrevivência, mas real competitividade no mercado,
surgindo à temática “aliança estratégica”. Esta aliança pode ter a duração de um curto
período, como a exemplo as empresas que se unem em torno de um projeto, tendo esta
cooperação uma duração determinada para findar.
Verschoore (2006) exemplifica benefícios das empresas ao entrarem em rede:
a) A respeito do poder de mercado, onde as empresas em rede terão
melhores condições de barganharem e ampliarem seu portfólio de produtos e serviços.
b) Os serviços oferecidos através da rede tornar-se-ão mais especializados,
já que mais de uma organização estará somando forças, dando mais criatividade e
flexibilidade ao processo.
c) Os riscos são compartilhados e dispersos entre todos que pertencem à
rede, diminuindo as chances de fracasso do negócio e aumentando o nível de
responsabilidade sobre todas as etapas de comercialização.
d) Alta especialização gerada pelos membros da rede: cada um oferece ao
grupo o melhor de suas atividades dentro de sua especialidade. Por exemplo, uma
empresa de telefonia associada a uma de marketing; a de telefonia proverá a tecnologia
de comunicação necessária, enquanto a de marketing se encarregará do relacionamento
com o cliente.
e) Novos métodos de resolução das continências. Como existem mais de
uma equipe pensando em conjunto, há condições de se elaborar várias soluções para os
eventuais problemas que surgirem.
f) Os custos são reduzidos em função das economias apresentadas pelas
organizações da rede.
g) Os ativos (recursos financeiros disponíveis) e capital social são
compartilhados e postos à cooperação da rede no alcance de seus objetivos.
h) Gestão do conhecimento: diversos estilos de recursos humanos e
tecnológicos das cooperadas são somados em prol do atendimento de suas metas.
24

i) Noção de coletivismo: ações antes individualistas e oportunistas cedem


lugar à colaboração mútua, oferecendo vantagens exclusivas para participantes da rede.
Grandori e Soda (1982 apud BECKER, 2007) referem-se ao tema não como
sendo uma noção abstrata, mas que:
‘O conceito de rede se relaciona com o conjunto de relacionamentos que se
conectam e modificam a constituição de nossa sociedade. Grandori e Soda
desenvolveram o estado da arte a respeito dos estudos sobre redes interorganizacionais,
e complementando que o tema não é utilizado somente na Teoria das Organizações;
conectam o termo com a Neurociência, Pesquisa Operacional, Teoria da Comunicação e
Teoria dos Pequenos Grupos.
Thorelli (1986 apud BECKER, 2007) define que de uma forma geral uma rede
pode ser vista como consistindo de nós ou posições (ocupadas pro empresas, lares,
unidades estratégicas de negócios dentro de um interesse diversificado, associações de
negócios e outros tipos de organizações) e ligações manifestadas por interações entre as
posições. O autor reconhece que a interdependência que os elementos de uma rede
possuem uns com os outros é necessária.
Estes autores afirmam que há, nos últimos anos, uma fragmentação do estudo de
redes, pois as redes existem há pouco tempo, enquanto são intensamente difundidas nas
empresas.
A busca pelo desenvolvimento do PCA revela que a forma de organização em
rede (network) promove sua sustentabilidade. São interações sociais em torno de um
projeto sócio cultural, que envolve um grupo de empresas com interesses comuns
(patrocinadores), além de pais, órgãos públicos federais, professores, trabalho
voluntariado. Essas ações são feitas em conjunto, em detrimento de ações individuais, e
buscam alcançar o sucesso do programa.
Em uma rede, segundo Pereira (2005), ocorrem dificuldades acarretadas pela
busca de maior poder, por exemplo, má gestão do negócio, entraves gerados pela
competição e falta de confiança entre os próprios parceiros da rede.
É através da rede de cooperação que o Programa Cordas da Amazônia encontra
espaço no acirrado mercado musical de Belém, pois graças às compartes, o grupo
consegue obter uma melhor troca de informações, contratos fechados para participações
em eventos, divulgação da imagem da orquestra, realização de lobbyng,
25

desenvolvimento e execução de planos de marketing e patrocínio de órgãos federais e


empresas particulares.
Segundo Becker (2007), as redes têm formado uma nova constituição
recentemente, que é o resultado de uma forma diferente de compreensão de criação de
valor. As empresas se comportam dentro da rede segundo suas próprias perspectivas e
interesses, permitindo a sua sobrevivência e a de outras organizações, sendo que cada
organização fornece algo em troca de obter outra coisa de seu interesse.
Pode-se dar apoio quanto à tecnologia da informação (marketing) em troca de
equipamentos e matérias-primas, por exemplo. No intuito de atingir os objetivos
específicos lançados para este trabalho, foram considerados diversos autores que
discursem sobre Redes de Cooperação, ou seja, que abordem os motivos pelos quais as
organizações devem estar dispostas em redes.
Visto que um dos objetivos do Programa Cordas da Amazônia é promover o
estudo do violoncelo através da inclusão social e estabelecimento de parcerias, em prol
de uma estratégia de relacionamento em conjunto e não meramente individualista; este
trabalho poderá contribuir futuramente para futuros gestores que queiram formar redes
ou ingressar em uma já formada, nos diversos campos de atuação existentes, facilitando
este processo.
Segundo Peroni (2009), a cooperação não é tarefa fácil, mesmo todos estando
dispostos a construí-la. As experiências já existentes envolvendo processos cooperativos
provam que, para que haja a prática de projetos conjuntos, mesmo estes trazendo
incontáveis benefícios ao seu redor, se faz necessário um processo de coordenação
ajustado a cada situação. Este é justamente o desafio dos gestores, utilizarem a
cooperação como estratégia diante dos quadros de competitividade enfrentados pelas
organizações contemporâneas.
Segundo Balestrin e Verschoore (2008), a expansão tecnológica global permite a
ampliação das ações conjuntas, impulsionada através da expansão da capacidade
tecnológica. Os conceitos de cooperação atuais estão relacionados com a nova
configuração do mercado, balizados por corporações unidas através da rede da Internet.
A organização na forma de rede de cooperação aglomera projetos com objetivos
comuns, firmemente relacionados, cujo objetivo é manter a capacidade autônoma de
gestão e desenvolver vantagens coletivas.
26

Segundo Peroni (2009), ao aliar complexas exigências competitivas, tais como:


flexibilidade, aprendizado contínuo e inovação, as redes de cooperação vêm sendo uma
solução eficaz para os problemas enfrentados por empresas do século XXI, e
gradativamente as temáticas pautadas na ascensão das redes conquistam seu espaço no
mundo empresarial e acadêmico, abordando temáticas pautadas. Em relação ao último
citado, comprova-se a relevância do tema nas preocupações demonstradas em revistas
nacionais e internacionais, bem como nas publicações em congressos.
O sentimento altruístico, ou seja, a capacidade de doar algo de si sem exigir nada
em troca, é a base para a existência da cooperação entre os homens. Este sentimento é
raro nas relações humanas, e, portanto igualmente raro nas relações empresariais.
A cooperação nasce do desejo de se obter algo em troca, mas como
entendimento de que é necessário dar também, para que haja recíproca, a recíproca
consiste no objetivo comum existente entre os indivíduos, e a partir daí ocorre à ação
coletiva. Assim, as empresas colaboram entre si buscando alcançar resultados que
certamente não conquistariam se trabalhassem de forma isolada.
Neste trabalho se faz necessária a conceituação do termo “rede”, que é bastante
utilizado na vida contemporânea, a partir do advento da internet, que, segundo Castells
(1999) é formada por um conjunto de computadores conectados.
Para compreender este termo dentro da esfera da cooperação, devemos pensar no
termo inglês network, nos remetendo a estrutura de cordas, o entrelaçamento de fios e
emaranhado de informações, nos remetendo ao relacionamento existente entre seres
humanos, objetos e situações de toda a ordem; sendo que as redes, nesse contexto,
seriam os próprios nós destas relações.
Balestrin e Verschoore (2008) afirmam que independentemente da forma como
rede é analisada, seja como relação entre pessoas ou relação entre organizações, as redes
são caracterizadas por três elementos distintos: (a) nós ou atores individuais, (b) as
interconexões que regem os atores, (c) a unidade formada pela conexão estabelecida
pelos mesmos. Pode-se afirmar que as redes são uma tentativa de unir forças
socioeconômicas, como forma de solucionar problemas enfrentados pelas organizações,
diante de novos paradigmas que são impostos diariamente.
Uma das propriedades fundamentais de cooperação em redes é o caráter
competitivo, ou seja, seus partícipes se pautam condicionados pela concorrência das
empresas que não estão abrangidas nas redes. Segundo as redes de cooperação são
27

formadas por grupos de empresas conexas e amplamente inter-relacionadas, dirigidas a


gerar e oferecer soluções competitivas de caráter coletivo e coordenado. (BALESTRIN
E VERSCHOORE, 2008, p.79),
A coordenação é a maneira pela qual a rede de cooperação conseguirá destacar-
se perante o mercado competitivo em relação aos agentes externos; as empresas da rede
devem possuir objetivos comuns, prazo de existência ilimitado e escopo múltiplo de
atuação, sendo que cada participante da rede possui sua estrutura formal própria (como
capacidade legal), mas participa ativamente das decisões coorporativas.
No Quadro 1 é apresentada a forma de relações econômicas que envolvem as
redes:

Características Mercado Hierarquia Rede


Resolução de conflitos Lei e códigos Supervisão Reciprocidade
Flexibilidade Alta Baixa Média
Comprometimento Baixo Alto Médio
Comunicação Formal Burocrática Formal e Informal
Ênfase Indivíduo Indivíduo Coletivo
Estratégia Competição Competição Co-repetição
Relação entre
Independência Dependência Interdependência
envolvidos
Determinação do poder Market Share Cargo Reputação
Quadro 1 – Formas de relações econômicas que envolvem as redes de cooperação.
Fonte: Balestrin e Verschoore (2008, p.79), a partir de Powell (1990) e Child et al.
(2005).

Para Balestrin e Verschoore (2008), tem crescido no Brasil um interesse


crescente quanto ao papel das redes de cooperação para o processo de desenvolvimento
econômico e social. Este fato deriva de dois aspectos: em primeiro lugar, da
reciprocidade da comunidade acadêmica brasileira com as teorizações modernas sobre
os estudos organizacionais; em segundo lugar, do significativo volume econômico e
social que o desenvolvimento das redes brasileiras apresenta.
O Quadro 2 apresenta uma síntese entre a teoria, o contexto do período histórico
e as idéias centrais sobre Redes de Cooperação. A evolução teórica ocorre desde 1978,
28

na Teoria de Dependência dos Recursos, quando se tentava compreender quais as


estratégias utilizadas pelas organizações para aumentar seu nível competitivo no
mercado, até estudos mais recentes, em 2007, sobre laços sociais em rede relacionados
com desempenho organizacional, debatidos na Teoria das Redes Sociais.

Teoria Idéias Centrais


Dependência dos Recursos Compreende o processo pelo qual as organizações
Pfeffer e Salancik reduzem suas dependências ambientais, utilizando várias
(1978) estratégias para aumentar seu próprio poder no sistema.
Economia Industrial Esclarece de que modo os diferentes ganhos – de escala e
Teece (1980) de especialização - econômicos de produção explicam a
Eccles (1981) eficiência das estruturas das redes.
Teorias Criticas Entendem, sob a ótica do poder e da dominação, de que
Whitt (1980) forma as relações se estabelecem junto a uma estrutura
Perucci e Potter (1989) em rede.
Teoria Institucional
Compreende a dependência como conceito central na
DiMaggio e Powell
configuração de redes, legitimando-a.
(1983)
Teoria das Redes Sociais Presta-se ao estudo de como os laços sociais entre os
Burt (1992) autores de determinada rede poderão afetar o desempenho
Granovetter (2007) da empresa.

Quadro 2 – Evolução teórica sobre redes de cooperação.


Fonte: Elaboração própria, baseada no conteúdo de BALESTRIN e VERSCHOORE
(2008, p.79-82).

A evolução do tema gerou novas formas de conceituação das tipologias de redes,


conforme se vê no subtópico a seguir.
29

2.2 TIPOLOGIAS EM REDES DE COOPERAÇÃO

Segundo Vershoore e Balestrin (2008), o entendimento do termo redes sofre


ambigüidades, devido a sua amplitude. Visando compreender essa diversidade
conceitual, os autores formalizaram tipologias em redes de cooperação.
Na Figura 1, os autores estabelecem um mapa conceitual das redes de
cooperação, ilustrando exemplos normalmente encontrados que representam os
conceitos explanados a seguir.

Assimetria de poder

Redes de
fornecimento Empresas em Crime organizado
rede
Formalidade

Informalidade
Consórcios Centrais de
compras Redes informais
Joint-ventures

Crime organizado

Figura xxx: Simetria de poder


Simetria de Poder

Figura 1 – Mapa conceitual das Redes de Cooperação.


Fonte: Balestrin e Verschoore (2008, p.86).

a) Redes Assimétricas: a dimensão da hierarquia. Algumas redes


apresentam clara configuração hierárquica da estrutura com poder centralizado, a
exemplo de conglomerações que seguem estratégias de redes verticais para tornarem-se
mais possantes e competitivas. Essa hierarquia pode ser observada na estrutura entre
matriz e filial, onde as filiais seguem uma linha autonômica parcial, já que suas ações
decisões administrativas são “vigiadas” de perto pela matriz.
30

b) Redes Simétricas: a dimensão da horizontalidade. Trata-se daquelas


redes que apresentam maior descentralização de poder, guardando sua independência e
optando por coordenar suas decisões e atividades específicas de maneira conjunta,
selecionando uma formalização mais flexível para melhor ampliar a natureza de suas
ações.
c) Redes formais: a dimensão contratual. Algumas redes estabelecem termos
contratuais para formalizar suas relações, assim cada membro da rede conhece seu papel
e tem legalmente formalizado o seu sript comportamental. A confiança exerce um papel
menos relevante do que em redes informais, já que as atitudes dos atores estão pautadas
em normas e regulamentos pré-estabelecidos. Consórcios e joint ventures são exemplos
desta realidade.
d) Redes informais: a dimensão a conivência. Estas redes permitem encontros
informais entre os atores econômicos, possibilitando o intercâmbio de experiências e
informações com base na livre participação. As redes são formadas sem estabelecimento
de eventuais condicionamentos de conduta entre os participantes. Neste tipo de rede o
sentimento de confiança entre parceiros é essencial para a boa convivência e sucesso do
grupo.
Quanto aos gestores das redes de cooperação, estes administradores exercerão as
funções clássicas de planejamento, organização, direção e controle. Mas diferentemente
das organizações que trabalham com uma configuração individual, estes gestores terão
que pensar nas práticas compartilhadas exigidas pela formatação das redes.

2.3 PRINCIPAIS CONFIGURAÇÕES DAS REDES DE COOPERAÇÃO


ORGANIZACIONAL

Conforme estudos de Vershoore e Balestrini (2008), para melhor compreender o


que é ou não redes de cooperação, se faz necessário o estudo das principais
configurações das redes de cooperação organizacional, sendo neste trabalho abordadas
as três formas mais comuns: as redes de fornecimento, as redes de consórcio e as redes
associativas. A seguir os autores dissertam acerca dos erros ocorridos na caracterização
de uma rede de cooperação:
31

A amplitude da adoção das redes de cooperação no campo empresarial faz


com que assumam diversas configurações, conforme os objetivos de seus
membros e suas dimensões estruturais e formalizações de poder. Por
conseguinte, algumas formas de organização empresarial notadamente
hierárquicas, como as empresas multidivisionais ou de relações
majoritariamente de mercado (franquias e licenciamentos), são erroneamente
caracterizadas como redes de cooperação. (BALESTRIN E
VERSCHOORE, 2008,p.90)

As três formas mais comuns de formação de redes de cooperação organizacional


são apresentadas a seguir.

2.3.1 Redes de Fornecimento

O modelo das Redes de Fornecimento apresenta um relacionamento colaborativo


entre a empresa central e suas empresas parceiras. O tipo de relacionamento é baseado
em autonomia e interdependência, sendo a meta principal o rendimento maximizado
proporcionado pelo estabelecimento da rede, buscado de forma incessante pelos agentes
envolvidos.
Segundo Balestrin e Verschoore, (2008) são quatro os benefícios que se
destacam ao adotar um modelo de redes de fornecimento entre empresas líder e as
empresas parceiras:
a) Concentração de investimentos e esforços no que a companhia faz de
melhor, buscando a maximização dos recursos internos.
b) O desenvolvimento de competências ergue uma barreira contra
concorrentes.
c) A habilitação da empresa líder em utilizar a plenitude de seus
investimentos em ativos de seus parceiros externos, incorporando inovações e
capacidades profissionais que seriam financeiramente inviáveis de duplicar
internamente.
d) As redes de fornecimento diminuem riscos nos mercados de rápida
mutação, encurtando o ciclo produtivo, minimizando os investimentos e gerando maior
receptividade às exigências dos clientes.
Segundo Verchoore (2006), a rede de cooperação é formada através da formação
da rede produtiva integrada, coordenada, e simultaneamente flexível ao ponto de se
adaptar às mudanças ocasionadas pelo meio ambiente, o qual o negócio se insere. Os
32

mecanismos de coordenação dos processos entre empresa líder e fornecedores


despontam para o ganho relacional, formando uma estrutura positiva integrada.
Verchoore (2006) afirma que uma característica marcante deste tipo de rede de
cooperação é a sua organização estratégica, que é concentrada nas mãos de um número
pequeno de decisores. Isto gera um possível problema: existe a tendência de relações
assimétricas durarem entre a empresa líder e seus fornecedores, afinal, a motivação e as
ações das empresas fornecedoras acabam por serem inibidas devido à necessidade de
maior controle por parte da empresa central. A centralização é o maior desafio a ser
superados. A Figura 2 apresenta a estrutura que configura uma rede de fornecimento:

3 4
2
Exportador

1 Prestador de
serviços
Empresa

Central Distribuidor

Banco

FORN. 1 FORN.2 FORN. 3


A E
B I
F
C J
G
L
D H
M

Figura 2 - Redes de Fornecimento


Fonte: Balestrin e Verschoore (2008, p.93).

2.3.2 Rede de Corsórcios

A segunda configuração das redes de cooperação amplamente adotada é o


consórcio de empresas. O consórcio é constituído por um grupo de empresas com o
objetivo de assumir um empreendimento acima dos recursos de qualquer um de seus
membros.
33

Segundo Balestrin e Verschoore (2008), a formação dos consórcios é diversa,


pois depende dos objetivos que as empresas associadas pretendem alcançar. Neste
formato de rede, a competição é realçada pelo fato de que vários consórcios lutam por
projetos em licitações públicas, sendo que o quadro diretivo do consórcio deve ser
formado por seus próprios membros, respondendo os questionamentos de seus
participantes em assembléias gerais e periódicas.
A coordenação deve possuir um perfil democrático, e a presença de equipes que
dividam o trabalho internamente, promovendo o controle e o monitoramento da
performance, causando, de forma conseqüente, o fortalecimento dos laços sociais.
Exemplos deste tipo de empreendimento são as empresas italianas que criaram os
consórcios de exportação voltados para a área de bebidas e calçados, e os consórcios de
garantia de crédito.
Os autores afirmam que um ponto negativo a ser observado é a distribuição
geralmente desequilibrada das quotas entre os proprietários, pois este desequilíbrio gera
desmotivação e insatisfação dos proprietários que receberem a menor quantidade de
quotas, ficando desanimados na busca pelos ganhos de cunho coletivo. A Figura 3
representa esta tipologia de rede.

Consórcio 1
Objetivo C
A

C B Prestador
Consórcio 2
de Serviços

D
E

F H

Objetivo A Objetivo B
G

Figura 3 – Estrutura de Consórcio


Fonte: Verschoore e Balestrini (2008, p.96).
34

2.3.3 Redes Associativas

Vershoore (2006) relata que as transformações econômicas contemporânea


afetam especialmente as pequenas e médias empresas, causando maior enfrentamento
competitivo entre as mesmas. Movimentos inspirados no associativismo empresarial
pressupõem que as dificuldades comuns aos membros podem ser superadas com menos
dificuldades, graças à realização de ações colaborativas que permitam às empresas de
pequeno porte aumentar suas escalas de ganho com as redes associativas. A
visualização desse tipo de rede se apresenta na Figura 4.

B C F G

A E
D H
E I

Cliente 1

Cliente 2
L M
Cliente 3
J
N
Cliente 4
O

Figura 4 – Estrutura de Redes Associativas


Fonte: Balestrin e Verschoore (2008, p.98).

Conforme Balestrin e Verschoore (2008), diferentemente as duas redes


apresentadas anteriormente, as associativas possuem sua configuração concentrada em
uma única estrutura, a associação, promovendo a integração de seus participeis dentro
da própria rede e também como meio ambiente ao seu redor. Os membros esperam
através desta configuração, melhor posicionar-se no mercado, graças à redução das
dificuldades competitivas. Estas redes são encontradas no Brasil especialmente nas
regiões do Rio Grande do Sul, em formato de cooperativas, que buscam um meio de
35

sobreviverem em uma região onde as empresas de grande porte exercem forte


concorrência com as PMEs.
Estudos de Balestrin e Verschoore (2008) apontam que, neste tipo de
organização, as normas são definidas mediante estatuto e regimentos, com contratos
estabelecidos de modo mais flexível. Os ganhos gerados em conjunto são distribuídos
de forma mais igualitária possível. Os membros têm a opção de participarem ou não das
decisões, pois esta rede é regida por uma gestão absolutamente democrática, tendo em
sua equipe diretiva os próprios associados monitorando as atividades dos demais. A
propriedade da associação pertence a todos os envolvidos e nenhum deles tem a posse
individual dessa organização, sendo claros os deveres e direitos de cada um.
Seu principal benefício é a constituição de uma entidade formalizada e ganhos
distribuídos em conjunto de forma igualitária, e sua maior dificuldade, assim como nos
consórcios, é a conscientização de todos os associados de modo que efetivamente
contribuam para os ganhos de escala, promovendo a integração comercial com o
aumento de foco estratégico.
Levando em consideração os conceitos apresentados anteriormente, é possível a
identificação de duas concepções sobre redes de cooperação. Segundo Balestrin e
Verschoore (2008), a primeira concepção interpreta a organização como um arranjo
organizacional intermediário ou híbrido, sendo que características da subcontratação de
mercado se fazem presentes. Esta idéia é ratificada pelos autores:

Os teóricos desta linha de pensamento afirmam que as redes não constituem


uma forma particular de organização da atividade econômica, mas uma
combinação híbrida entre os elementos estruturais das relações de mercado e
os elementos hierárquicos das empresas tradicionais. As redes estariam, na
visão dessa corrente de análise, situadas em um espaço contínuo demarcado,
em um extremo, pela coordenação solta de mercado e, em outro, pelo
controle firme da hierarquia, conforme apresentado. (BALESTRIN E
VERSCHOORE, 2008, p. 103)

Já a segunda concepção, segundo seus adeptos, afirma que nas redes de


cooperação não existe um meio termo: antes constituem uma terceira forma
organizacional, com suas características próprias e marcantes, de modo que a
subcontratação e a hierarquia possuam perfis completamente distintos. Alguns autores
afirmam que futuramente as redes organizacionais reinarão como o modelo
organizacional mais comum e forte.
36

A concepção de rede como organização permite que possamos nos aprofundar


no tocante ao conhecimento sobre seus aspectos gerenciais, assim, será facilitado à
gestão do conhecimento e a criação de novas estruturas que enfrentarão as pressões e
contingências do meio ambiente.
Segundo Peroni (2009), no Brasil observam-se práticas de gestão relacionadas
com as redes de cooperação através de iniciativas da rede pública e privada, sendo a
maioria dos casos concentrados no Rio Grande do Sul. É neste estado que foi
estabelecido o Programa Redes de Cooperação (PRC), um programa de política pública
que tem o intuito de gerar desenvolvimento amparado em pequenas e médias empresas.
Suas ações são voltadas para o fomento da cooperação e a superação das dificuldades
que as redes encontram no decorrer de sua evolução.
Os autores Vershoore e Balestrini (2008) também abordam o Programa Redes de
Cooperação do Rio Grande do Sul, conforme destaque:

O PRC foi elaborado sob três pilares de sustentação: a) uma metodologia de


formação, consolidação e expansão entre redes de empresas; b) uma estrutura
regionalizada de apoio à implementação do modelo de rede proposto; c) uma
coordenação estadual mantida pelo governo. (BALESTRIN E
VERSCHOORE, 2008, pg. 110)

Iniciado no ano de 2000, o Programa Redes de Cooperação visa à sistematização


das principais etapas para que empresas com características afins consigam estabelecer
uma parceria, empreendendo um conjunto de ações realizadas em conjunto, objetivando
o atendimento de suas metas comuns.
Em suma, o PRC proporciona o surgimento e mantimento de redes. Idéias são
expostas, planos de atuação conjuntos são definidos e ações previstas no plano
operacional da rede são executadas, dentro do plano estratégico inicialmente traçado.
Um segundo pilar utilizado é são os núcleos de atuação regionais amparados por
universidades interessadas, imbuídas com o papel de prover à coordenação estadual o
respeito às especificidades locais, bem como a efetiva operacionalização da
metodologia acordada entre as empresas parceiras. Vershoore e Balestrin (2008)
discorrem sobre os resultados da pesquisa nesta rede de cooperação:
37

Em 2006 realizou-se uma ampla pesquisa junto às redes desenvolvidas pelo


PRC, a fim de avaliar o impacto de suas ações sobre as empresas associadas.
Com uma amostra de oitocentos e dezesseis empresas, representativa de
cento e dez redes de cooperação, os resultados indicaram a seguinte
percepção dos empresários quanto aos benefícios das redes de cooperação: a)
aumento médio de 23,64% no faturamento de 54,4% das empresas; b)
redução média de 11,62% no custo das compras de 71,9% das empresas; c)
redução média de 2,29% nos custos operacionais de 42,2% das empresas; d)
aumento médio de 21,73% no número de novos clientes de 65% das
empresas; e) aumento médio de 26,71% no número de novos fornecedores de
55% das empresas; f) aumento médio de 22,95% no nível de investimento de
53,95% das empresas; g) aumento médio de 3,71% no número de
colaboradores de 36,3% das empresas. Os resultados também indicaram que,
após seu ingresso na rede, após seu ingresso na rede, 73,4% das empresas
adotaram, em média, quatro novas práticas de trabalho, e 47,1% delas
apresentaram, com o lançamento de novos produtos e serviços, um
faturamento médio de 14,54%. (BALESTRIN E VERSCHOORE,
2008, p. 111).

Com amostra considerável entre empresas inseridas em redes de cooperação


(oitocentas e dezesseis organizações), a pesquisa aponta resultados totalmente positivos
quando analisadas as vantagens de entrada em rede. Todos os percentuais apontam para
aumento de faturamento, de clientes, aumento de colaboradores, de produtividade e
competitividade, enquanto há gradativa redução em custos operacionais. Em suma, os
dados apontam somente ganhos competitivos na formação de uma rede de cooperação.
O subitem a seguir reforça a questão acerca destes ganhos.

2.4 GANHOS COMPETITIVOS DAS REDES DE COOPERAÇÃO

Becker (2007) expõe quanto aos ganhos competitivos das redes de cooperação,
afirmando que a lógica sugere que o estabelecimento de redes de cooperação gere
resultados de ganhos reais para todos os envolvidos na rede, caso contrário não havia
cooperação entre a rede. Seguindo esta linha de pensamento, o enfoque no ganho
coletivo é ressaltado perante o enfoque da empresa tradicional, onde a individualidade
prevalece.
Segundo Balestrin e Verschoore (2008), a expressão dominada ganhos
competitivos será empregada na indicação da natureza estratégica dos resultados
aspirados pela rede, objetivando o fortalecimento da competitividade das empresas
associadas. O termo remete que esse resultado possui essência naturalmente estratégica,
fortalecendo a competitividade das organizações associadas em rede, se comparadas
38

com alguma organização meramente individualista. Segundo os autores, a expressão


dominada “ganhos competitivos” será empregada na indicação da natureza estratégica
dos resultados aspirados pela rede, objetivando o fortalecimento da competitividade das
empresas associadas.
Segundo estudos prévios de Vershoore e Balestrin (2008), são denominados seis
os ganhos competitivos das organizações participantes de redes: maior escala e poder de
mercado; geração de soluções coletivas; redução de custos e riscos; acúmulo de capital
social; conhecimento e aprendizagem coletiva; inovação por meio das redes de
cooperação, conforme explanações a seguir, baseadas no entendimento dos autores
citados.
O primeiro ganho percebido quando se trata de formação de redes de cooperação
é a maior escala de poder de mercado, conquistada através do crescimento do número
de associados na rede, já que a capacidade de ação de uma empresa é ampliada através
da aliança com outras organizações. A negociação feita em escala é vantajosa, pois
aumenta o poder de negociação junto aos fornecedores, e a maior possibilidade de
ganhos em descontos, prazos, condições de pagamento e modos de entrega (fretes).
Matérias-prima poderão ser adquiridas também em larga escala, ampliando os
benefícios citados anteriormente. Neste entendimento, as redes de cooperação
proporcionam o surgimento de marcas reconhecidas e expressivas, devido à exposição
pública obtida. Os benefícios mencionados não são garantidos devido ao simples
enfrentamento da concorrência, mas também a soma dos fatores: representatividade e
credibilidade junto ao público. (VERSHOORE, BALESTRIN, 2008, p.120)
Becker (2007) reforça esta idéia, afirmando que as ações empresariais destas
organizações dispostas em rede são legitimadas, desnivelando seu grau de importância
em comparação a outras empresas de menor porte existentes no mercado, já que o
ganho em maior escala permite, inclusive, o estabelecimento de parcerias com
universidades, institutos tecnológicos e agências estatais, órgãos de acesso limitado para
organizações comuns.
Vershoore e Balestrin (2008) citam o exemplo do Rio Grande do Sul, estudos
citam pesquisas realizadas junto à rede de mercados Redefort, onde se verificou que as
empresas associadas a esta rede colheram os louros as notoriedade pública que a marca
alcançou no Rio Grande do Sul, fato ocasionado pela sua exposição na mídia, e
especialmente sua exposição na fachada dos mais de cem mercados associados; este
39

processo firma um vínculo de confiança entre a cartela de clientes já existente e atraindo


uma nova clientela.
O seguinte ganho competitivo é o denominado: geração de soluções coletivas.
Este termo refere-se aos serviços, produtos e infra-estrutura gerados e disponibilizados
para o atendimento das necessidades de seus associados. Exemplos de soluções
coletivas: maquinário adquirido coletivamente, aprimoramento de processos de
produção, elaboração de planos de investimento, oferta de planos de treinamento e
desenvolvimento para associados da rede e compartilhamento de conhecimentos nas
áreas de consultoria de reengenharia de processos, modernização administrativa e
sistemas informáticos. (VERSHOORE, BALESTRIN, 2008, p.122)
Outro ganho competitivo citado é a redução de custos e riscos. Os riscos
envolvem quaisquer tipos de negócios, tornando desafiadores os empreendimentos das
atividades, especialmente em setores dinâmicos. Embora não seja possível a completa
eliminação dos riscos, a configuração em redes permite a minimização deles através do
compartilhamento de custos, um dos principais motivadores para o ingresso em redes.
Compartilhar experiências técnicas com parceiros sobre processos do negócio, troca de
informações sobre clientes e fornecedores, empreendimento de ações conjuntas com
rateamento de custos e compartilhamento de recursos já existentes são demonstrativos
de diferenciais encontrados por empresas integradas em redes, fatores que certamente
diminuem a propensão ao risco e aumentam a capacidade competitiva destas
organizações. (VERSHOORE, BALESTRIN, 2008, p.123)
Estudos de Becker (2007) também apontam que um dos maiores e mais visados
ganhos competitivos é a redução de custos e riscos de determinadas ações e
investimentos que são comuns aos partícipes da rede. Tal redução é obtida por meio das
atividades participadas, da confiança em novos investimentos, e da facilidade
transacional que leva ao aumento de produtividade.
Vershoore e Balestrin (2008) definem outro ganho competitivo: o acúmulo de
capital social. Sabe-se que os laços fortes de relacionamentos entre empresas da mesma
rede podem estocar capital social, sendo que os ganhos relacionados ao acúmulo deste
capital são advindos do estreitamento das relações entre indivíduos, da evolução do
grupo com o sentimento de pertencimento. Neste contexto, há naturalmente inibição das
ações oportunistas, criando a necessidade de sansões severas para membros que
40

insistem em querer apenas usufruir os benefícios da rede, sem contribuições mais


efetivas. Os autores reforçam o ganho competitivo atrelado ao capital social:

O capital social – modernamente definido como o conjunto de características


de uma organização humana que englobam as relações entre os indivíduos, as
normas de comportamento cívico, as obrigações mútuas e a credibilidade
recíproca – torna possível o empreendimento de ações colaborativas
complexas. Em face dessas características, a formação de uma rede de
cooperação será influenciada pelo grau com que as pessoas de uma
comunidade empresarial compartilham normas e valores e são capazes de
subordinar os interesses individuais aos coletivos. Pode-se, pois,
compreender o capital social como um potencializa dor da capacidade
individual e coletiva mediante práticas colaborativas. (BALESTRIN E
VERSCHOORE, 2008, p.125)

Segundo Becker (2007), o acúmulo de capital social é fator proeminente,


considerando o aprofundamento das afinidades entre os sujeitos, ao crescimento da
sensação de pertencer ao grupo, à evolução das relações sociais, além daquelas
meramente econômicas. Os benefícios para os associados são: limitação do
oportunismo, ampliação da confiança, reciprocidade e coesão interna. A socialização de
informações e experiências, o acesso as novas informações externas, benchmarking
interno e externo são ganhos competitivos da aprendizagem coletiva. Os membros da
rede socializam conhecimentos e fortalecem o processo de aprendizagem coletiva.
Segundo Balestrin e Verschoore (2008), um dos ganhos competitivos de maior
relevância é o atrelado ao papel das redes de cooperação no processo de criação do
conhecimento e aprendizagem coletiva, pois o verdadeiro diferencial estratégico da
organização está muito mais em gerenciar estes recursos do que propriamente em
empregá-los, gerando integração entre seus membros. A questão central da atualidade,
desafiando consultores e estudiosos da Administração, é saber como administrar da
melhor forma os recursos humanos da organização, em especial a capacidade que os
indivíduos possuem de assimilar, gerar e converter conhecimentos em ativos
econômicos.
Segundo Becker (2007), outro exemplo a fortalecer a concepção sobre geração
de soluções coletivas é a dificuldade dos concorrentes em imitar os avanços alcançados
rede, inclusive no conceito de marketing alcançado por ela. A função deste ganho é
aglutinar interesses, instaurando os padrões de qualidade e promovendo as campanhas
de divulgação da marca, amparando-se da contribuição do conjunto de seus associados
nos negócios em que atuam. Segundo o pesquisador, os benefícios da geração de ações
41

coletivas são: capacitação do capital intelectual dos atores da rede, consultoria


empresarial formalizada em grupo, marketing compartilhando gerando redução de
custos, prospecção de oportunidades, inclusão digital, melhorias nas estruturas de
comercialização, além da ampliação de credibilidade no mercado devido à garantia ao
crédito.
O cenário executivo designa como principal fator de produtividade e
competitividade a habilidade para criar e empregar conhecimento. Conforme já foi
evidenciado anteriormente, a organização tem muito mais chances de ampliar seus
conhecimentos a partir das interações com outras empresas do que meramente
individualizada:
Para efetivar este processo de acúmulo de conhecimento, faz-se necessário
um ambiente de sinergia e estímulo no qual as experiências, os sentimentos e
as imagens mentais sejam compartilhados. Em vista disso, dificilmente ele
poderá ser produzido pelo modelo tradicional hierárquico de comando e
controle adotado pela grande empresa burocrática. (BALESTRIN E
VERSCHOORE, 2008, p. 134)

Becker (2007) considera a inovação colaborativa como relevante ganho de


mercado. As ações de cunho inovador desenvolvidas em conjunto por empresas, centros
de pesquisas e demais agentes, por meio de um modelo de inovação aberto, integrado e
em rede. Os benefícios para associados são: novos produtos e serviços, adoção de novas
práticas organizacionais, acesso a novos mercados e desenvolvimento de novos modelos
de mercado. O Quadro 3 resume a definição e o respectivo benefício para o associado
de cada ganho competitivo apresentado. São estudados apenas os ganhos da inserção em
uma rede, pois os estudos atuais ainda não apontaram fatores negativos no
estabelecimento de parcerias.

Ganhos Definição Benefícios para os


Competitivos associados
Maior escala e Benefícios obtidos em decorrência do Poder de barganha,
poder de crescimento do número de associados relações comerciais
mercado da rede. Quanto maior o número de amplas, representatividade,
empresas, maior a capacidade na rede credibilidade, legitimidade,
de obter ganhos de escala e poder de força de mercado.
mercado.
42

Geração de Os serviços, os produtos e a infra- Capacitação, consultoria


soluções estrutura disponibilizados pela rede empresarial, marketing
coletivas para o desenvolvimento dos seus compartilhado, prospecção
associados. de oportunidades, garantia
de crédito, inclusão digital,
estruturas de
comercialização.
Redução de A vantagem de dividir entre os Atividades compartilhadas,
custos e riscos associados os custos de riscos de confiança em novos
determinadas ações e investimentos investimentos,
que são comuns a participantes. complementariedade,
facilidade transacional,
produtividade.
Acúmulo de Diz respeito ao aprofundamento das Limitação do oportunismo,
capital social relações entre os indivíduos, ao ampliação da confiança,
crescimento da sensação de pertencer laços familiares,
ao grupo, à evolução das relações reciprocidade, coesão
sociais, além daquelas puramente interna.
econômicas.
Aprendizagem A socialização de conhecimentos entre Socialização de
coletiva os associados e o acesso a informações e
conhecimentos externos fortalecem o experiências, acesso a
processo de aprendizagem coletiva novos conhecimentos
entre empresas da rede. externos, benchmarking
interno e externo.
Inovação As ações de cunho inovador Novos produtos e serviços,
colaborativa desenvolvidas em conjunto por a adoção de novas práticas
empresas, centros de pesquisa e organizacionais, acesso a
demais agentes, por meio de um novos mercados e
modelo de inovação aberto, integrado desenvolvimento de novos
em rede. modelos de negócios.
Quadro 3 – Ganhos competitivos das redes de cooperação
Fonte: Vershoore e Balestrin (2008, p.120)
43

As redes de cooperação representam a oportunidade onde a solidificação do


conhecimento poderá tomar forma, já que em um único espaço convivem culturas
organizacionais diversas, dotadas de valores diferentes, práticas diferenciadas,
competências e habilidades híbridas e demais recursos intangíveis, interligados em um
ambiente informal e de sinergia comum.
Os autores empregam o termo “efeito rede”, referindo-se a ampliação do
conhecimento. Balestrin e Verschoore (2008) exemplificam espaços e interação entre
empresas:
a) As visitas técnicas, onde os executivos percebem possibilidades de melhorias
nos processos produtivos e tecnológicos;
b) Assembléias ocorridas mensalmente, funcionando como um fórum formal de
tomada de decisão estratégica;
c) Confraternizações entre empresários, colaboradores e familiares envolvidos
com a rede, momento propício para conversas informais sobre a rede, de suma
importância para a solidificação de relações de confiança entre seus membros;
d) Viagens e visitas a feiras permitem a reflexão conjunta sobre as tendências e
os desafios do mercado, ampliando as vantagens competitivas da rede sobre os seus
concorrentes;
e) Cursos e palestras são eventos que reúnem empresários de todos os ramos,
permitindo fluir idéias e o desenvolvimento de novos conceitos e técnicas de gestão
empresarial;
f) Planejamento estratégico todos os associados da rede deverão ser
envolvidos, buscando o comprometimento na realização em equipe do que foi acordado
em conjunto, quanto à elaboração das estratégias, objetivos, metas e cronogramas da
rede;
g) Espaço eletrônico: são recursos eletrônicos tais como e-mail, intranet, sites
de relacionamento e internet que fortalecem a socialização de conhecimento entre os
participeis da rede.

Com o entendimento sobre os ganhos competitivos das redes de cooperação e os


espaços de interação entre as empresas, visando o compartilhamento de conhecimento,
o tópico a seguir falará sobre o processo de estabelecimento da rede.
44

2.5 ESTABELECENDO UMA REDE DE COOPERAÇÃO

Segundo Vershoore e Balestrin (2008), ao responder sobre o que é necessário


para estabelecer uma rede de cooperação, estudos anteriores são levados em
consideração. Um deles é o de Castells (1999) que indica a conectividade e a coerência
como elementos essenciais no estabelecimento de parcerias em redes.
Outro estudo necessário para suportar a questão é o de Grandori e Soda (1995
apud BECKER 2007), que afirma a importância da existência de uma estrutura que
permita a coordenação entre os vários agentes da rede. Ambos concordam que as
pressões do ambiente são estimulantes à adoção de ações coletivas, que corroboram no
surgimento de três condições basilares para o estabelecimento de uma rede de
cooperação: objetivos comuns, interação e gestão.
Assim como para os autores citados no parágrafo anterior, para Castells (1999),
o estabelecimento de interação, de objetivos comuns, de ganhos competitivos e modelos
de gestão são condições essenciais para a formação de redes de cooperação, conforme
demonstra a Figura 5:

Interação

conectividade, identidade, complexidade e


autenticidade
Laços fortes e laços fracos
Densidade, cliques e centralidade
Equivalência, buraco e autonomia estrutural
Proximidade e poder de Bonacich

Objetivos comuns Ganhos competitivos

Acessar recursos Escala e poder de mercado


Exercer a simetria Soluções coletivas
Buscar a reciprocidade Redução de custos e riscos
Ganhar a eficiência Acúmulo de capital social
Alcançar estabilidade Aprendizagem coletiva
Atingir legitimidade Inovação coloborativa
Possibilitar flexibilidade
Gestão

Figura 5 – Objetivos, interação e ganhos competitivos


Fonte: Vershoore e Balestrin (2008, p.120).
45

A interação dentro da rede ocorre quando dois ou mais participantes estão


conectados. O termo conectividade aqui é empregado no sentido de interligar os
participantes da rede; esta conectividade pode ser medida pelo grau de comunicação
existente na rede, obtido através dos instrumentos tecnológicos disponíveis como: e-
mails, internet, intranet, redes de relacionamento. Segundo Castells (1999), os atributos
para a conexão de uma rede são os seguintes:
a) Identidade: faz referências às imagens mentais que são criadas em torno de
outros participantes da rede;
b) Complexidade: grau de interação que ocorrem as conexões;
c) Autenticidade: trata da autenticidade e honestidade das relações da rede;
d) Laços fortes: são interações que ocorrem repetidamente por longos períodos
de tempo;
e) Laços fracos: interações pouco intensas, distantes e menos freqüentes;
f) Densidade: demonstra o grau de complexidade da rede;
g) Cliques: são os subgrupos fechados dentro das redes;
h) Equivalência estrutural: indica o grau de semelhança das influências
mútuas entre os participantes da rede;
i) Buraco estrutural: este termo indica as conexões onde existe pouca ou
nenhuma interação na rede;
j) Autonomia estrutural: é a capacidade do membro da rede de se beneficiar do
fluxo informacional existente;
l) Centralidade: indica o grau de conexão da empresa às demais;
m) Proximidade: indica o nível de acessibilidade da empresa, ou seja, a
distância média entre um participante e outro;
n) Poder de Bonacich: avalia a quantidade de conexões e a quantidade de
conexões que as empresas próximo a ela mantêm.

Os objetivos comuns são o marco inicial de qualquer fechamento de contrato,


por assim dizer, e funcionam como um antecedente facilitando o surgimento de um
ambiente de cooperação em torno dos interesses de todos os participantes da rede.
Castells (1999) afirma existirem as seguintes tipologias dos objetivos comuns:
46

a) Acessar recursos: as organizações compartilham pela necessidade de ter


acesso a recursos tangíveis e intangíveis;
b) Exercer assimetria de poder: obter o empoderamento em potencial que a
rede apresenta ter no mercado;
c) Buscar reciprocidade: obter cooperação, colaboração e coordenação de
outras organizações em prol de negócios em comum;
d) Ganhar eficiência: conseguir o melhor desempenho organizacional;
e) Alcançar estabilidade: diminuir as incertezas de mercado;
f) Atingir legitimidade: participar de uma rede forte no mercado garante mais
credibilidade junto aos clientes, parceiros e fornecedores;
g) Possibilitar flexibilidade: apresentar a estrutura organizacional o mais
flexível possível, diante das inovações constantes do mercado e o engessamento
provocado pela burocracia.
Segundo Cândido e Abreu (2000), as redes de cooperação são definidas como
conjunto de empresas independentes que, agrupadas em uma única estrutura e operando
coletivamente, formam uma nova organização tão ou mais importante que as próprias
entidades envolvidas. Assim percebidas, as redes constituem organizações complexas,
que exigem um maior aprofundamento sobre sua gestão a fim de que seus objetivos
sejam alcançados. Logo, conceber a rede como uma organização complexa e entender
seu gerenciamento é crucial para a obtenção de ganhos competitivos.
A simples formação de uma rede não garante que ganhos competitivos sejam
gerados, pois o importante, além da gestão individual das empresas, é a gestão coletiva
da rede. Redes de cooperação são organizações complexas, e como tais, necessitam de
um modelo de gestão bem desenvolvido, capaz de suprir suas necessidades e garantir
sua sobrevivência no ambiente em que está relacionada.
Existem outras teorias que tentam ressaltar a teoria relacionada com a cultura da
cooperação. Segundo Mancur (1965 apud Olave, 2001), a idéia de que os empresários
cobicem lucros cada vez maiores é comum, assim como os trabalhadores em busca de
melhores salários e benefícios e clientes lutando por melhores condições de pagamento.
O autor assinala a incoerência lógica da teoria das classes sociais defendida por Karl
Marx, utilizada por muitos cientistas políticos, e afirma que, se tratando da lógica da
ação coletiva, os indivíduos de um grupo devem agir, mesmo que coagidos, em prol de
47

um objetivo comum, embora racionalmente desejem a total satisfação de suas próprias


necessidades.

2.6. CONTEXTUALIZANDO O PROGRAMA CORDAS DA AMAZÔNIA

Antes de tomar conhecimento sobre o Programa Cordas da Amazônia, se faz


necessário compreender o perfil de seu gestor, atualmente, Ph D. em Educação Musical
Áureo DeFreitas. Afinal, é ele quem idealiza e lidera todas as ações do programa:
coordenando seus recursos humanos, fomentando idéias, arrecadando recursos,
orientando e co-orientando as pesquisas.
A seguir, o relato do professor Msc. Maurício Gouvêia, Pedagogo da Escola de
Música, sobre a liderança do programa:

“O professor Áureo é o grande articulador do programa, como vemos


diariamente em seu relacionamento com os alunos, pesquisadores e pais
integrantes do projeto (...) ele consegue estabelecer parcerias além dos muros
da escola, como, por exemplo, a parceria com a iniciativa privada, através
dos diversos patrocínios.” (ENTREVISTA PEDAGOGO DA EMUFPA,
03.02.2011).

A cultura organizacional existente no PCA é consolidada através da


personalidade deste líder, juntamente com sua forma de estabelecer a rede de
cooperação que o cerca, como veremos adiante.

2.6.1. Aspectos de liderança no PCA

Segundo Schein (2009), cultura é a construção de outros vários termos, como:


normas, valores, padrões de comportamento, rituais, tradições, e o acréscimo de
elementos relacionados com o compartilhamento, estabilidade estrutural, profundidade,
extensão e padronização ou integração.
Ao distinguir liderança de gestão ou administração, o argumento de
diferenciação é que a liderança cria e muda as culturas, enquanto a gestão e a
administração atuam na cultura. Cultura é o resultado de um processo de aprendizado
complexo, onde parte do grupo é influenciada pelo comportamento do líder. Caso este
grupo esteja sendo ameaçado em função de elementos de sua cultura estar mal
48

adaptados, é o papel do líder ajustar tal situação. É neste ínterim que a cultura
organizacional e a liderança estão entrelaçadas.
Caso o indivíduo tente impor seu modo de ser, tentando obter a liderança “à
força”, a cultura não será produzida, pois a confiança é gerada quando os liderados o
seguem espontaneamente. No caso deste estudo, o processo de formação cultural do
programa gira em torno de seu líder, seu comportamento leva o grupo de professores,
alunos, pais e incentivadores ao sucesso dentro da rede, e o modo como este sucesso é
alcançado dentro da cultura criada.
A cultura é a aprendizagem acumulada e compartilhada pelo grupo,
direcionando o comportamento de seus membros. Estes membros convivem dentro de
uma unidade social, que é o próprio Programa Cordas da Amazônia, e dentro de um
espaço comum, ou seja, as instalações físicas da Universidade Federal do Pará. Mesmo
com a saída de alguns membros, dificilmente a cultura sofrerá mudanças, pois o sentido
de estabilidade do grupo é valorizado pela permanência da liderança e pela
profundidade de sua cultura.
Com o tempo que dispensam juntos, os membros do grupo criam sua própria
identidade, valores e crenças; caso estas crenças e valores do fundador não sejam
aceitos pelos membros do grupo, estes elegerão outra liderança, na tentativa de obterem
as atitudes que os levem ao sucesso pretendido (SCHEIN, 2009). A partir desta
afirmação do autor, os parágrafos que seguem buscam mostrar a formação profissional
do gestor do programa, que norteará todo o perfil das ações do Programa Cordas da
Amazônia, bem como de seus parceiros.
Aos dezesseis anos de idade, Áureo DeFreitas teve seu contato com o violoncelo
pela primeira vez, em 1980, sendo este o instrumento que o acompanharia em toda a sua
vida profissional. Esta imersão musical foi possível através de sua participação no
Projeto Espiral do Instituto Carlos Gomes, onde tinha como professora a norte-
americana Dra. Linda Kruger. Foi esta profissional que mais tarde o convidou para
estudar nos Estados Unidos. (FARIAS, 2009)
Em 1982, DeFreitas inicia o curso superior de Graduação em Educação Artística
na Universidade Federal do Pará, já que na época não existia em Belém um curso
específico para a área musical. Porém, decidido a construir uma carreira na Música, ele
transfere seu curso para o Rio de Janeiro, especificamente na Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro, a UFRJ. Neste mesmo ano de início no curso de bacharelado
49

brasileiro, recebe um telefonema da professora de violoncelo Linda Kruger, reforçando


o convite feito em 1980, incluindo uma bolsa de estudos para que se transferisse para o
curso de Bacharelado em Violoncelo na Universidade de Missouri, em Columbia
(FARIAS, 2009).
Deixou o Brasil em 1984, e iniciou o estudo superior especificamente de
violoncelo em 1985, o Bacharelado em Violoncelo, tendo com o professor Carleton B.
Spotts. Foi nesta universidade que houve o contato com o Projeto Cordas dos EUA; o
interesse foi imediato, e seu fascínio e dedicação foram tamanhos que culminaram na
premiação em 1988 de aluno revelação. Em 1990, o professor recebe bolsa integral para
cursar o Mestrado em Violoncelo Performance na Universidade de Louisiana, em Baton
Rouge, com o professor Denis Parker (FARIAS, 2009).
Dando continuidade no aperfeiçoamento da docência e desempenho do
instrumento de violoncelo, prestou concurso para o cargo de violoncelista na Orquestra
Sinfônica de Baton Rouge, onde passou em primeiro lugar. Concluindo o Mestrado em
1992, conquista uma bolsa de estudos para dar continuidade à formação, nos Estados
Unidos, especificamente no Doutorado em Arte Musical pela Universidade de Austin,
no Texas.
Contudo, ele opta pelo retorno ao Brasil, e em 1993 é aprovado no concurso
público para professor efetivo da Escola de Música da Universidade Federal do Pará.
Este foi o início de sua carreira no ensino de cordas friccionadas em Belém do Pará,
causando uma revolução no ensino desta área educacional. Iniciou sua carreira como
docente em 1994 na EMUFPA, e em 1997 foi contratado pelo Instituto Estadual Carlos
Gomes (IECG) para lecionar violoncelo (FARIAS, 2009).
Primeiramente, no período de 1998 a 2000, introduziu o estudo de violoncelo em
grupo com o Projeto Violoncelo em Grupo; nesta primeira etapa, as matrículas
apontaram um quantitativo de cerca de cem alunos, entre alunos da Escola de Música da
Universidade Federal do Pará - EMUFPA e da Fundação Carlos Gomes - FCG
(DEFREITAS, 2009).
Segundo Farias (2009), na época, a EMUFPA não tinha visibilidade no contexto
musical, não sendo concorrente para a Fundação Carlos Gomes, onde já havia
desenvolvida uma cultura do ensino musical erudito. A Fundação Carlos Gomes
convidou DeFreitas para desenvolver um trabalho na fundação, onde este conseguiu
50

implantar uma escola de violoncelo, dotada de seu próprio uniforme, método de


trabalho, elementos chaves da cultura.
O respeito da comunidade surgiu, a partir de observações sobre comportamento
profissional dos participantes das aulas de violoncelo, o impacto gerado pela produção
musical do grupo. Foram insights adquiridos ao longo da formação americana do
coordenador do grupo, transferindo ao grupo todos os seus próprios valores construídos
a partir de sua forte liderança.

2.6.2. Surgimento da Orquestra de Violoncelistas da Amazônia

Em 1998, foi criada a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia (Amazon Youth


Cello Choir). Através desta proposta, o grupo iniciou as primeiras turnês intituladas
Turnê Curitiba 1999 e Turnê Rio de Janeiro 2000 e 2001. As turnês promoveram a
orquestra e seus integrantes alcançando um reconhecimento dentre os especialistas da
área musical em nível nacional e internacional, favorecendo inclusão musical para
pessoas de classes sociais desfavorecidas de diversas faixas etárias, trazendo para
estudar violoncelo na cidade de Belém do Pará (DEFEITAS, 2009).
As crianças da primeira etapa do ensino básico não tinham oportunidade de
estudar violoncelo, e diante desta problemática, o professor criou uma nova proposta
metodológica de ensino. Esta metodologia mentalizada pelo gestor permitia ao aluno o
prazer da prática do violoncelo e a estratégia objetivava sua capacitação para o ingresso
no ensino formal de uma escola de música.
Assumindo a coordenação das turmas de violoncelo da Escola de Música da
UFPA e do Instituto Carlos Gomes no final da década de 90, DeFreitas agrupou certa
quantidade de alunos, atraindo-os com suas aulas convidativas, diferentes e criativas. O
primeiro resultado conseguido através desta nova metodologia educacional foi à
formação do Quarteto de Violoncelo de Belém, que era formado pelos alunos Diego
Carneiro, Orley Gordo, Eber Soares e Áureo DeFreitas. Este quarteto se apresentou em
vários Festivais, tais como o Festival de Juiz de Fora - MG, o Festival de Campos - RJ,
o Festival de Brasília – DF e o Festival Internacional de Música de Câmara – Pará, além
de participarem do Encontro de Arte da Universidade Federal do Pará.
Em 2001, retornou aos Estados Unidos com a finalidade de fazer o doutorado
em Educação Musical. Com essa exposição via BBC de Londres e residindo no exterior,
51

iniciam-se as turnês internacionais dos Violoncelistas da Amazônia: Turnê USA 2002,


Turnê Holanda, e Turnê Rio de Janeiro 2004.
Em 2005, conclui seu doutoramento em Filosofia da Educação Musical. Após
defender a tese de doutorado, Áureo DeFreitas retorna ao Brasil visando implementar
uma proposta metodológica de ensino, em que mais tarde radicalizaria o ensino do
violoncelo na cidade de Belém do Pará.
Em 2006, DeFreitas idealiza um proposta de ensino, extensão e pesquisa,
intitulada de Programa Cordas da Amazônia. Inicialmente, conseguiu a mobilização de
indivíduos e instituições que doaram para o projeto noventa e cinco violoncelos e
trezentos violinos e violas, permitindo uma maior alcance de alunos por toda a cidade
de Belém. Parcerias com a Pró-Reitoria de Extensão da UFPA, Escola de Música da
Universidade Federal do Pará e Academia Cultural de Violoncelistas da Amazônia são
estabelecidas, criando um vínculo de cooperação entre estes elementos.
Na EMUFPA, o professor encontra um clima de desmotivação e total
desinteresse pelo instrumento violoncelo, e começa a implantar uma nova cultura
musical em torno do estudo do violoncelo em grupo, culminando, em 1997, com a
criação e coordenação do Projeto Violoncelo em Grupo, abrangendo desde o ensino
fundamental até o médio. Foi este grupo, composto por crianças e adolescentes, que
cresceu e resignificou a Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia –
OIJVA, onde os músicos se destacavam como instrumentistas solistas e também como
cameristas e músicos de orquestras, formando a primeira – e até os dias atuais a única -
orquestra de violoncelistas do Brasil, na categoria profissional.
Farias (2009) afirma que a estratégia de ensino do gestor do projeto é manter o
nível motivacional de seus alunos. Uma estratégia de inovação adotada para atender a
motivação dos jovens é a inserção de um repertório polêmico e variado, incluindo, além
das tradicionais clássicas como Bach, Vivaldi, Saint-Saens, Villa Lobos, Haydn,
Piazzola, são apresentadas músicas da bandas de rock internacionais tais como
Metallica, Led Zeppelin, Beatles e também de compositores paraenses citando Edir
Proênça, Waldemar Henrique, e Edmar Rocha. Como resultado deste processo criativo,
surgiram os shows dos Violoncelistas da Amazônia que tiveram como convidados as
Bandas Madame Saatan, La Pupunã, e Álibi de Orfeu, além das cantoras Alba Maria,
Juliana Sininbú e Marcia Aliverti.
52

Dentro do universo de pesquisa e atuação do Programa Cordas da Amazônia,


existem três gerações anteriores, atuando no âmbito das escolas de música oficiais de
Belém, que se assemelha por terem o mesmo formato do Projeto Cordas norte-
americano, onde o gestor do programa se inspirou.
A primeira geração é denominada Projeto Espiral do Instituto Carlos Gomes,
desenvolvido no período de 1977 a 1981, atuando em convênio com a Secretaria de
Desenvolvimento Tecnológico - SECDET. A segunda geração é o Projeto Cordas do
Instituto Carlos Gomes, iniciado em 1988 e concluído em 1990, gerenciado pela própria
FCG. Finalmente se destaca a terceira geração, atuando nos anos de 2006 e 2007, o
então Projeto Cordas da Amazônia: Violoncelo em Grupo, idealizado e gerenciado pelo
professor Áureo DeFreitas em convênio com a Escola de Música da UFPA. O Projeto
Cordas da Amazônia evoluiu, culminado, em 2008, no atual Programa Cordas da
Amazônia, objeto deste estudo (DEFREITAS, 2009).
Dentre as três gerações citadas, somente a terceira aplicou em sua metodologia
de estudo o ensino musical em grupo, trazendo para a cena musical paraense um tema
inédito: a educação inclusiva. Esta metodologia rompeu os paradigmas existentes acerca
do ensino musical tradicional, aplicado até então na cidade de Belém.
Sobre a primeira geração do Projeto Cordas, o gestor do atual Programa Cordas
da Amazônia iniciou em 1997 o Projeto Violoncelo em Grupo, objetivando ensinar
primeiramente os adultos a tocar violoncelo, e, posteriormente, inserir em suas aulas as
crianças matriculadas nas duas escolas de músicas oficiais de Belém: Fundação Carlos
Gomes - FCG e a Escola de Música da UFPA – EMUFPA.
Neste contexto, foi constituída a primeira leva de estudantes de violoncelo de
Belém, abrangendo o nível fundamental e médio de formação escolar, que tocavam em
grupo. Foi o marco inicial para a rede de alunos do instrumento violoncelo paraense,
que desde então nunca parou de crescer e desenvolver novos talentos.
Em 2007, durante uma apresentação para o 33° Encontro de Arte de Belém –
ENARTE, se apresentou a Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia –
OIJVA, tendo seu repertório renovado pelo violoncelista coordenador do PCA. Durante
o 33º ENARTE o público paraense teve o privilégio de ver e ouvir no Teatro da Paz a
interação histórica dos Violoncelistas da Amazônia com a renomada banda de Hevy
Metal Madame Saatan.
53

A inovação do repertório incluiu, além das tradicionais clássicas, músicas do


rock americano da Banda Metallica, músicas dos Beatles e também, visando valorizar a
cultura local, foram tocadas nesta apresentação as músicas populares de compositores
paraenses: Bom Dia Belém, de Edir Proença; e Belém-Pará- Brasil, de Edmar Rocha e
Prometeu, de Madame Saatan.
O resultado foi altamente positivo, sendo usado pela primeira vez no cenário
erudito paraense o termo show, em vez do tradicional termo concerto. A repercussão foi
tamanha que despertou a atenção de jornais e programas televisivos locais, como: TV
Cultura, TV Liberal e TV Record. Este episódio foi imprescindível para que o trabalho
desenvolvido pelo professor chamasse a atenção do público e das autoridades locais
(DEFREITAS, 2009).
O interessante é que o Programa Cordas da Amazônia é mais conhecido no
âmbito internacional do que dentro da região Norte do Brasil, sendo registrado por
jornais, programas e revistas internacionais, tal cronologia descrita a seguir.
Em 2002, o violoncelista inglês Richard Markson expressa sua admiração pela
então Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, produzindo a
veiculação de seu documentário na BBC de Londres, denominado Children from the
Rainforest. Em 2003, Markson repete o feito, apresentando também na BBC de Londres
o documentário denominado Children from the Rainforest: one year on (FARIAS,
2009).
Outras demonstrações da popularidade internacional da Orquestra Infanto-
Juvenil de Violoncelistas da Amazônia podem ser observadas nos jornais:
DeVolkskrant-Holanda; Patek Philippe International Magazine; Classic FM;
Entertainment Portfolio; Le Violoncelle; The Strad. Cita-se também as entrevistas
concedidas para a Rádio Internacional: BBC Radio 4-UK; BBC World Service-UK;
National Public Radio-USA e BBC Today., e se apresentou também no programas TV
24-UK. Até então, a Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia passa era
conhecida internacionalmente como “Amazon Youth Cello Choir” (DEFREITAS,
2009).
No Quadro 4 se observa a síntese das ações internacionais da Orquestra Infanto
Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, comprovando o sucesso do grupo no cenário
internacional. Curiosamente, a orquestra chama mais atenção fora do Brasil do que em
seu próprio Estado de origem.
54

Ano Ações Internacionais da OIJVA

• Documentário da BBC de Londres: Children from the Rainforest.


• BBC World Service – UK.
2002
• Participação em programa de rádio BBC Radio 4 – UK.
• National Public Radio – USA.
• Documentário da BBC de Londres: Children from the Rainforest: one
year on.
2003 • Artigo sobre a OIJVA na revista Patek Philippe International
Magazine.
• Participação em programa de rádio BBC Radio 4 – UK.
• Artigo sobre a OIJVA na revista na Classic FM.
2004
• Participação em programa de rádio BBC Radio 4 – UK.
2005 • Artigo sobre a OIJVA na revista Entertainment Portfolio.
• Artigo sobre a OIJVA na revista The Strad Magazine.
2006 • Participação em programa de rádio BBC Today.
• Participação em programa de TV BBC TV 24 – UK.
2007 • Artigo sobre a OIJVA na revista Le Violoncele.
Quadro 4 – Ações Internacionais da Orquestra da OIJVA
Fonte: Dados coletados pela autora, 2011.

No âmbito nacional, são feitas algumas reportagens sobre a orquestra no Jornal


O Liberal, Diário o Estado do Pará, A província do Pará, O Globo e Jornal do Brasil. Na
televisão brasileira, são vinculadas matérias sobre o grupo: na TV Cultura (Programa
Sem Censura), TV Educativa (Programa Sem Censura), TV Globo (Programa Gente
Inocente), Sistema Brasileiro de Televisão SBT (Jô Soares Onze e Meia), TV Globo
(Programa Ação). Todo este cenário foi o alicerce para que afinal fossem unidos os
vários projetos existentes, oriundos do norte-americano Projeto Cordas, e criado o PCA.
55

2.6.3. Panorama atual do Programa Cordas da Amazônia

O programa Cordas da Amazônia foi instituído em 2008, na Escola de Música


da UFPA, sendo caracterizado pelo atendimento dos três pilares da Universidade
Federal do Pará: ensino, extensão e pesquisa. Segundo o criador do programa, a partir
de uma equipe multidisciplinar é promovido o ensino do violoncelo em grupo. Estes
estudantes realizam pesquisas sobre como educar musicalmente crianças, adolescentes e
adultos com transtornos do desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem.
O sucesso das pesquisas, comprovadas nas diversas aprovações de Trabalhos de
Conclusão de Curso, Dissertações, artigos e projetos de extensão pode ser explicado
através da linguagem inovadora promovida pelo programa, por intermédio da educação
musical, visando que os estudantes de cordas friccionadas sejam incluídos socialmente e
iniciados cientificamente nos cursos de graduação e pós graduação. Segundo DeFreitas
(2009), o programa é constituído de quatro projetos específicos:
(a) Projetos em Grupo: promover uma inovação de linguagem que fomente a
inclusão social de estudantes carentes por intermédio do aprendizado musical,
resgatando crianças e adolescentes em situação de risco dos bairros do Jurunas e Bengui
e oportunizando-os educação musical para que ingressem na Escola de Música da
Universidade Federal do Pará;
(b) Projeto Violoncelo em Grupo: promover uma inovação de linguagem que
fomente a inclusão social de crianças, adolescentes, e adultos em situação, da região
metropolitana de Belém, que estejam em situação de risco e/ou com dificuldades de
aprendizagem. Os coordenadores do Projeto Violoncelo em Grupo oportunizam a
iniciação musical dos alunos para que ingressem na Escola de Música da Universidade
Federal do Pará;
(c) Projeto Transtornos do Desenvolvimento e Dificuldades de Aprendizagem -
TDDA: coordenadores do projeto TDDA desenvolvem três ações distintas. (1)
promovem uma inovação de linguagem que fomente a inclusão social, através da
intervenção musical no violoncelo, envolvendo estudantes com TDDA – inicialmente
com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Autismo, e Dislexia;
(2) promovem a iniciação cientifica de estudantes de graduação e pós-graduação que
compõem o grupo de pesquisa e a equipe de intervenção do Programa Cordas da
Amazônia; e (3) organizam reuniões com o grupo de cuidadores dos estudantes
56

diagnosticados com TDDA, para avaliar os conhecimentos que eles possuem acerca do
transtorno apresentado pela criança/adolescente sob seus cuidados;
O reconhecimento do Programa Cordas da Amazônia através do público e dos
meios de comunicação (os meios de comunicação coletados ao longo da produção deste
estudo foram: matérias em jornais, revistas, televisão, apresentações em turnês
regionais, nacionais e internacionais) foi conquistado através da educação musical
inovadora e de qualidade que é oferecida para cerca quatrocentos alunos nas faixas
etárias entre seis a quarenta e cinco anos, demonstrando que a prática cultural independe
das circunstâncias e limitações.
O termo relacionado com inovação diz respeito ao caráter singular da
metodologia proposta pelo PCA de inserir crianças e adolescentes portadores de
transtornos tais como déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), autismo, e dislexia no
projeto. A proposta visa oportunizar melhoria de qualidade de vida e valorizar a auto-
estima por intermédio do ensino do violoncelo. A coordenação do projeto investiga os
efeitos da música no desempenho dos participantes, principalmente no que diz respeito
à inclusão social e equilíbrio emocional.
Os alunos portadores de transtornos tais como: déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH), autismo e dislexia encontram no projeto uma oportunidade de
melhoria de sua qualidade de vida e valorização da auto-estima. A equipe do projeto
investiga os efeitos da música no desempenho dos participantes, principalmente no que
diz respeito à inclusão social e equilíbrio emocional.
O gestor do programa ressalta a relevância das pesquisas realizadas no PCA:

O PCA utiliza de metodologia educacional e pesquisa científica para


oportunizar socialmente e culturalmente o aprendizado, desenvolvimento e a
inclusão de diversas classes sociais, faixas-etárias, segmentos, performances
e práticas educacionais. O Programa Cordas da Amazônia possibilitou, em
2009, a inclusão social de estudantes com necessidade educacional especial à
formação musical técnica, tecnológica, universitária, e acima de tudo cidadã.
Essas ações, também contemplaram os estudantes de graduação e pós-
graduação visando integralizar a grade curricular de seus respectivos cursos.
Com isso, permitiram à coordenação do programa cumprir um papel de
fundamental importância: desenvolvimento da educação musical na área de
instrumentos de cordas friccionadas por intermédio da inclusão social; e
possibilidade de uma iniciação cientifica concomitante aos cursos técnicos,
tecnológicos e universitários. (DEFREITAS, 2009, p.52)
57

O programa criou, dentro da Escola de Música da UFPA, uma divisão


responsável por esta temática, a DIS – Divisão de Inclusão Social. Esta divisão tem a
função de preparar os professores e voluntários a lidar com os alunos e ministrar aulas
criativas e inovadoras. O repertório inclui músicas populares paraenses, de outros
estados do Brasil, música erudita, internacionais e rock. Os participantes continuamente
dividem o palco com artistas de estilo popular e erudito do cenário nacional e
internacional. O trecho a seguir ressalta a importância da educação musical para a
inclusão social:
(...) Educação musical como meio que tem a função de desenvolver a
personalidade [do educando] como um todo; de despertar e desenvolver
faculdades indispensáveis ao profissional de qualquer área de atividade,
como, por exemplo, as faculdades de percepção, as faculdades de
comunicação, as faculdades de concentração (autodisciplina), de trabalho em
equipe, ou seja, a subordinação dos interesses pessoais aos do grupo, as
faculdades de discernimento, análise e síntese, desembaraço e autoconfiança,
a redução do medo e da inibição causados por preconceitos, o
desenvolvimento de criatividade, do senso crítico, do senso de
responsabilidade, da sensibilidade de valores qualitativos e da memória,
principalmente, o desenvolvimento do processo de conscientização do todo,
base essencial do raciocínio e da reflexão. (RODRIGUES, 2008, p.77)

O gestor do programa defende que o PCA não é uma simples procura por novos
talentos musicais, e sim uma aprendizagem diária dos alunos sobre os enfrentamentos
dos desafios diários da vida, respeitando as características individuais dos participantes,
e extraindo destes as suas melhores possibilidades de produção artística.

“Através das aulas conseguimos extrair o melhor dos alunos. Eles saem da
sala de aula transformados em outras pessoas, mais seguros, confiantes, mais
preparados para enfrentar os desafios da vida. Esse é o diferencial do PCA”.
(ENTREVISTA PROFESSORA DO PROGRAMA, 17.10.2011).

O programa atinge não somente o educando, mas seus familiares e amigos,


melhorando seu desempenho em diversas áreas de atuação da sociedade: lar, escola,
trabalho. A troca de conhecimentos entre professor e aluno é valorizada e justifica o
trabalho inclusivo dentro da educação formalizada, fomentando a importância do
diagnosticado portador de necessidades especiais dentro da sociedade. Segundo
DeFreitas (2009, p.41) foi necessário algumas adaptações de dois métodos que serviram
como modelo para o modelo próprio a ser utilizado no PCA, idealizado pelo professor.
Um destes métodos foi o Método Suzuki, que idealiza a capacidade de
aprendizado de todos os alunos em geral, inserindo os alunos com transtornos do
58

desenvolvimento e dificuldade de aprendizagem em turmas regulares de violoncelo. As


aulas são em grupo, e estes alunos têm contato com a prática musical antes da teórica.
Outra forte característica deste método é o comprometimento dos pais na educação
musical dos filhos. O método Suzuki de ensino é amplamente discutido por DeFreitas,
em seu livro ainda não publicado, intitulado Resignificando a História da Orquestra
Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia. Neste livro, o autor explica o contexto
histórico em que o método Suzuki foi trazido para o cenário musical paraense.
Segundo DeFreitas (2009), O outro método inspirador é o String Project,
adotando técnicas musicais em grupo, qualificando os alunos como assistentes do
professor, e permitindo o ingresso destes em orquestras sinfônicas.
A contribuição de pesquisadores de outras áreas de atuação como Psicologia,
Pedagogia, e Letras permitem o entendimento de que o método de ensino que utiliza as
duas bases apresentadas tem condições de promover o desenvolvimento musical de
crianças e adolescentes com qualidade, em atendimentos personalidades feitos na
Divisão de Inclusão Social.
Nobre (2011) relata a importância da formação da equipe de pesquisadores do
Programa Cordas da Amazônia:

“É justamente através da formação diversificada de nossos pesquisadores que


conseguimos alcançar a qualidade de trabalho conquistada atualmente. É
preciso ter um olhar sobre as outras áreas que tangem o ensino da música,
tentando entender o participante do PCA como um ser integral”.
(ENTREVISTA PESQUISADOR DO PROGRAMA, 19.02.2011).

2.6.4 Projetos que compõem o Programa Cordas da Amazônia

Um dos objetivos da coordenação do Programa Cordas a Amazônia é a educação


musical de crianças, jovens e adultos por meio de aulas de violino, viola, e violoncelo,
independentemente de sua idade ou condição social. Visando alcançar esta prática de
ensino, o Programa foi distribuído em três pólos:
a) Programa Cordas da Amazônia Cremação – Pólo EMUFPA,
b) Programa Cordas da Amazônia Benguí – Pólo EMAUS, e
c) Programa Cordas da Amazônia Jurunas – Pólo EMAUS.
59

Nestes pólos, são agregados cinco projetos voltados para a pesquisa, ensino e
extensão. São eles:
a) Viola em Grupo,
b) Violino em Grupo,
c) Violoncelo em Grupo, e
d) Transtornos do Desenvolvimento e Aprendizagem, e
e) Orquestra de Violoncelistas da Amazônia

O Projeto Viola em Grupo iniciou em 04 de maio de 2009 e foi renovado até os


dias atuais, tendo como atual coordenador o professor da Escola de Música, Msc.
Antônio Batista de Pádua. Segundo Batista (2010), o método de seleção consiste em
formar um grupo de diversas origens sociais, sociais, étnicas e culturais, resgatando-as
de situações de risco. A idade mínima para inscrição (feita por ordem de chegada) é de
cinco anos de idade, não existindo idade de corte. Estes alunos são provenientes da
região metropolitana de Belém, mais concentrados nos bairros de Jurunas e Bengui,
chegando a cerca de sessenta alunos matriculados, atualmente.
O Projeto Violino em Grupo é gerenciado pela professora Msc. Tárcilla
Rodrigues. São ministradas aulas por duas vezes na semana, com noventa minutos de
duração, cada uma. O projeto contém quatro turmas de vinte e cinco participantes cada,
totalizando cem alunos. Sua metodologia se assemelha ao Projeto Viola em Grupo,
apresentada no parágrafo anterior, modificando apenas o critério idade, como destaca a
própria coordenadora, a seguir:

“O objetivo do “Projeto Violino em Grupo” como uma ferramenta de ensino


é continuar fomentando a educação musical nos bairros do Jurunas e Benguí,
visando promover a inclusão sócia - política e cultural de estudantes e
professores de Violino na Escola de Música da Universidade Federal do Pará
(EMUFPA). Serão selecionados estudantes de violino de diversas origens
sociais, étnicas, e culturais de 06 a 09 anos de idade e por ordem de chegada
dos bairros do Jurunas e Benguí”. (RODRIGUES, 2010, p.2)

Nos pólos do PCA Benguí – Pólo EMAÚS, e PCA Jurunas, o perfil dos
estudantes de viola e violino é voltado para o estudo instrumental prático, sem o
conhecimento teórico. Esta metodologia aplicada de forma diferenciada é necessária
para cativar o estudante, que em sua totalidade é muito carente, tanto em aspectos
financeiros quanto em conhecimentos escolares pregressos. Como veremos adiante, a
60

evasão é maior nestes locais, devido especialmente às dificuldades financeiras


enfrentadas pelos estudantes.
No projeto do PCA Cremação – Pólo EMUFPA, os estudantes de violoncelo são
musicalizados por meio de vivência lúdica, aprendendo a ler partituras e obtendo noções
de teoria ao mesmo tempo em que inicia a prática instrumental, no entanto sem rigores
técnicos.
O primeiro projeto Transtornos do Desenvolvimento e Dificuldades de
Aprendizagem – TDDA, coordenado por DeFreitas, foi desenvolvido na Escola de
Música, com a participação de quarenta e nove alunos com transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade - TDAH. Tem por objetivo comparar o aprendizado musical
entre crianças e adolescentes com TDAH e crianças e adolescentes sem o transtorno,
inseridas em uma turma de educação musical (estudo do instrumento violoncelo).
DeFreitas (2010) elenca os critérios de participação neste projeto: a criança deverá ter
entre nove e quatorze anos; possuir característica de risco para o TDAH; não ser
iniciado musicalmente e que sejam alfabetizadas e freqüentem aulas em instituição de
ensino regular.
Todos os projetos se estruturam a partir do trabalho voluntário de professores,
pesquisadores e bolsistas. Especificamente o projeto intitulado Transtornos do
Desenvolvimento e Aprendizagem conta com pesquisadores do comportamento
humano, tal demonstrado no Quadro 5 a seguir.

Transtorno
Orientador (a) Bolsista Voluntário
estudado
Mestranda em
Déficit de atenção / Ph.d. em educação Graduando em
Música / Bacharel
Hiperatividade musical Música
em Psicologia
Doutoranda em Graduando em Graduanda em
Autismo
Psicologia Letras Música
Mestre em Graduando em Graduanda em
Dislexia
Psicologia Música Música
Graduanda em
Síndrome de Down Pedagoga Sem bolsista
Música
Quadro 5 - Pesquisadores do Projeto Transtornos do Desenvolvimento e Aprendizagem.
61

Fonte: LOPES (2008, p.18).

Apesar da parceria com a Escola de Música da Universidade Federal do Pará –


EMUFPA, que possui tradição com o ensino de instrumentos de cordas friccionadas, a
sistematização do método de inclusão desses estudantes não tem sido prioridade nesta
instituição de ensino. Desta forma, o ensino público está oportunizando apenas uma
parcela seleta da população que ingressa na EMUFPA para aprender a manusear os
instrumentos de cordas friccionadas. Por tal motivo, é necessária a promoção de
inclusão social nesta área.
Por enquanto não há um estudo efetivo sobre a evasão no Programa Cordas da
Amazônia, porém alguns depoimentos coletados afirmam que incompatibilidade com
atividades escolares, dificuldade financeira e problemas de ordem familiar são alguns
fatores que interferem no desenvolvimento dos alunos. A sugestão seria investigar as
características como situação econômica, qualidade de vida e características sócio-
culturais dos participantes, e como estes índices podem interferir no processo de
manutenção destes indivíduos na educação musical.
Os parceiros são agentes fundamentais neste contexto, pois a união de forças
estratégicas constitui a melhor maneira de assegurar a presença dos ingressantes no
programa, bem como seu efetivo desenvolvimento acadêmico, social e profissional. No
capítulo a seguir, veremos como se apresenta a rede de cooperação que envolve o PCA.
62

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa adotou procedimentos qualitativos, especificamente, de caráter


descritivos. Primeiramente, a contextualização temática e a construção do referencial
teórico são baseadas em uma revisão de literatura acerca da temática redes de
cooperação e a legislação vigente sobre a área. Depois, realizou-se a pesquisa empírica,
adotando o estudo de caso como método de procedimento.
Na base teórico-empírica desse estudo, abordou-se o estabelecimento das redes
de cooperação como fator determinante para a obtenção de ganhos competitivos,
evidenciando vários conceitos sobre redes e parcerias. Com relação ao propósito da
teoria, a pesquisa pode ser classificada como exploratória, já que os estudos buscam
estabelecer uma relação entre teoria e prática.
O estudo de caso foi escolhido para pautar a pesquisa, tendo como foco o
Programa Cordas da Amazônia – PCA, que consiste em programa vinculado à
Universidade Federal do Pará, mas, ao mesmo tempo, mantém formas de cooperação
com outras organizações e empresas no Estado do Pará.

3.1 TIPO DE COLETA DE DADOS

A metodologia adotada para a coleta de dados é análise documental e entrevista.


O método de observação participante e a pesquisa bibliográfica reforçarão o estudo de
caso. O estudo foi elaborado com base em pesquisa bibliográfica acerca o tema Redes
de Cooperação, e também sobre material bibliográfico específico do Programa Cordas
da Amazônia; através da pesquisa bibliográfica é possível ter mais informações acerca
dos fatos pesquisados.
A análise documental deu-se em torno dos projetos, trabalhos de conclusão de
curso, dissertações, artigos, matérias publicitárias, editais e contratos intrínsecos ao
programa, envolvendo Ministério da Cultura, Ministério da Educação, Universidade
Federal do Pará, grupo de voluntariado, professores, alunos e patrocinadores, enfim,
toda a rede de relacionamento do PCA.
Outro método utilizado na pesquisa é a observação participante, onde, segundo
Vergara (2008), o observador tem uma participação real na vida da rede pesquisada;
63

neste caso, a pesquisadora também atua como servidora pública da Universidade


Federal do Pará. Esta metodologia permite um acesso ao dia-a-dia do grupo observado
(a orquestra juvenil de violoncelo da Amazônia) de forma natural. Também é possível
ter acesso à documentação que se fizer necessária ao aprimoramento da pesquisa.
Conforme Vergara (2008), fazendo parte do grupo é possível perceber bem de perto,
como se comporta e o que pensam as pessoas observadas. Este método foi selecionado
pelo fato da pesquisadora estar presente, diariamente, na Universidade Federal do Pará.
A figura 6 demonstra a relação entre os métodos de pesquisa utilizados com o
estudo de caso em questão.

Figura 6 – Apresentação dos métodos de pesquisa.


Fonte: Elaborado pela autora, 2011.

As informações acerca da rede de cooperação estabelecida pelo Programa Cordas


da Amazônia foram obtidas através de entrevista semi-estruturada, com perguntas
abertas. Foram captadas as opiniões dos entrevistados, expectativas, frustrações,
informações diversas sobre o objeto do estudo de caso. Não houve rigidez de roteiro,
sendo que a pesquisadora conduziu as perguntas na direção desejada, para que o fio
condutor da entrevista não fosse perdido. Os entrevistados foram todos os envolvidos no
programa, incluindo, além do próprio coordenador do projeto, a Diretora da Escola de
Música da UFPA do ano de 2010 e o coordenador do núcleo de pesquisas do PCA,
conforme mostra o quadro 6:
64

Mapeamento dos entrevistados


Data da Tempo de
Nome do entrevistado Função
entrevista entrevista
• Professor de violoncelo
15.10.2010 1h47min
da Escola de Música da UFPA.
Dr. Áureo DeFreitas • Idealizador do PCA.
• Coordenador Geral do 20.01.2011 1h52min
Programa.
• Professora da Escola de
Música da UFPA.
• Professora de violino
Msc. Tárcilla Rodrigues 17.10.2010 18min
voluntária e coordenadora de
projetos.
• Pesquisadora do PCA.
• Pedagogo da Escola de
Msc. Maurício Gouvêia 03.02.2011 24min
Música da UFPA.
• Psicólogo voluntário do
PCA.
Msc. João Paulo Nobre • Coordenador de 19.02.2011 33min
pesquisas do programa.
• Pesquisador do PCA.
• Vice-diretora do Instituo
de Ciências da Arte no ano de
Dra. Lia Braga 2010. 05.02.2011 20min
• Professora de piano e
teoria musical da EMUFPA.
Msc. Lúcia da Silva • Diretora da EMUFPA no 10.02.2011 41min
Uchôa ano de 2010.
• Professora de piano e
teoria musical da EMUFPA.
Quadro 6 – Mapeamento dos entrevistados
Fonte: Elaborado pela autora, 2011.
65

Enfim, por concentrar-se na investigação de uma única organização, esta pesquisa


caracteriza-se como um estudo de caso. O ponto forte nesta tipologia é o de permitir o
estudo de um fenômeno em profundidade dentro de seu contexto, permitindo uma
análise processual à medida que eles ocorrem dentro das organizações.
Os fundamentos desta pesquisa foram compreendidos a partir do domínio dos
significados e conceitos apreendidos, baseados nos referenciais teóricos que dissertam a
respeito das contribuições sócio-culturais do PCA, sempre relacionados com a temática
Redes de Cooperação.
A intenção do estudo de caso é compreender como a gestão do Programa Cordas
da Amazônia consegue criar e manter sua network, uma rede de cooperação entre pais,
alunos, voluntários, patrocinadores, professores, e instituições públicas e privadas, em
prol dos projetos que dele se originam. Este estudo busca o entendimento sobre os tipos
de cooperações estabelecidas e a importância destas cooperações para o sucesso do
Programa.
A figura 7 demonstra a rede de cooperação estabelecida no Programa Cordas da
Amazônia: a Universidade Federal do Pará, o Ministério da Educação, patrocínio da
iniciativa privada, o voluntariado de pesquisadores, pais e alunos.

UFPA

Patrocinadores
MINC

PROGRAMA

Pesquisadores CORDAS DA MEC

AMAZÔNIA

Pais de alunos EMUFPA

Alunos
66

Figura 7 – Rede de Cooperação que envolve o Programa Cordas da Amazônia.


Fonte: Elaborado pela autora, 2011.

Os dados serão analisados através da análise do discurso. Este método visa não
somente a apreensão da mensagem transmitida pelos entrevistados, mas também
interpretar e explorar o seu sentido. Significa analisar o contexto ao qual o emissor da
mensagem está inserido, e compreender que aquela fala foi produzida mediante
determinado objetivo. Vergara (2008) discorre acerca deste método de pesquisa:

A análise do discurso presta ao leitor cujo objetivo de pesquisa não descarta o


conteúdo, ou seja, o que está sendo dito sobre determinado tema, mas vai
além. Investiga como o conteúdo é usado para o alcance de determinados
efeitos. Assim, é importante verificar a forma pela qual se diz alguma coisa; a
análise do discurso é recomendada como método de pesquisa; se, ao
contrário, basta verificar o que se fala, a análise do conteúdo parece viável.
Esta envolve categorias (processo mais ou menos mecânico de
categorização), enquanto a análise do discurso busca identificar como os
participantes constroem e empregam categorias em sua fala, já que o discurso
pode ter múltiplas funções e significados. (VERGARA, 2008, p.27).

O método de análise de dados escolhido permitirá o importância do processo de


interação entre os envolvidos no Programa Cordas da Amazônia, bem como o
entendimento real do que está explicito e implícito nas falas dos entrevistados; as
manifestações de poder, as mensagens por trás da fala, o tom. Segundo Vergara (2008),
é importante que o pesquisador considere transcrições dos materiais provenientes de
entrevistas, bem como considerar as notas de campo advindas de suas observações.
67

4. ESTUDO EMPÍRICO

Neste capítulo será apresentado o ciclo motivacional que envolve o


estabelecimento de parcerias do Programa Cordas da Amazônia, desde o momento em
que o gestor do programa percebeu a necessidade de se estabelecer o primeiro vínculo
de parceria, até o presente atual momento vivenciado pelo programa, analisando-se cada
parceiro envolvido.

4.1 O SURGIMENTO DA REDE DE COOPERAÇÃO NO PCA

Antes de conseguir estabelecer uma rede de cooperação, o gestor do programa,


professor Dr. Áureo DeFreitas, se viu obrigado a formalizar as ações que envolviam o
programa. Esta percepção ocorreu por volta do ano de 2006, quando os projetos do
gestor não possuíam o certificado nacional de assistência social, e esta ausência de
documentação o impedia de receber doações internacionais. A certificação nacional de
assistência social era concedida através de uma série de trâmites burocráticos,
anualmente, em uma reunião de conselheiros em Brasília. Esta situação culminou na
percepção de que, sozinho, não haveria como o grupo conseguir transpor as barreiras
burocráticas existentes.
A exigência burocrática em termos comprobatórios de que as doações seriam
utilizadas para fins sociais era tamanha devido à grande quantidade de projetos
“laranjas”, ou seja, projetos de fachadas de existem, somente para arrecadar fomento e
doações que jamais chegarão aos estudantes. Devido a este quadro, a idéia inicial do
professor de fundar uma ONG – Organização Não-Governamental não foi adiante.
Foi quando o líder do programa passou a refletir sobre as vantagens de
estabelecer parcerias, primordialmente com a Universidade Federal do Pará. Assim,
resolveu criar, em parceria com os pais dos alunos, a primeira estrutura formal
antecessora do Programa Cordas da Amazônia, uma associação chamada ACVA -
Associação Cultural de Violoncelistas da Amazônia, conforme relato abaixo:
68

“Neste ano, tive uma luz: eu achei que se eu usasse a chancela da


Universidade, eu lucraria muito mais; foi então que eu enterrei de vez a
associação e passei a me dedicar a escrever projetos para a UFPA, foi quando
o negócio de fato andou. Na verdade, a partir do momento em que decidi
parar de lutar sozinho e estabeleci uma parceria com a UFPA, facilitou o
processo. Foi neste momento que eu decidi que eu não tinha que ter filiação
partidária com políticos, no âmbito do governo no caso; se eu me aliasse ao
Governo Federal, ao MEC, ao MINC, a UFPA, as coisas andariam mais
facilmente, o que ocorreu. Até então,eu ficava mendigando, pedindo favores
para a Fundação Carlos Gomes, para a SECULT – Secretaria de Cultura, para
o Governo Federal. Mas quando essa luz me iluminou em 2006, e eu tive a
idéia de estabelecer parceiros de trabalho, tudo mudou”. (ENTREVISTA
GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Pode-se conferir na Figura 8, um organograma, o fluxo burocrático, representado


através da escala hierárquica governamental ao qual o envio do fomento de um projeto
aprovado é submetido:

GOVERNO FEDERAL MEC / MINC

UFPA

PROEX

ICA

EMUFPA

PCA

Figura 8 – Organograma de fluxo burocrático para fomento de projetos


Fonte: Elaborado pela autora, 2011.

Imagina-se, ao observar o organograma indicado, a dificuldade de transitar


sozinho neste fluxo administrativo. Daí a real necessidade de estabelecer uma rede de
cooperação.
A fundação da Associação Cultural de Violoncelistas da Amazônia permitiu que
fossem angariados fomentos para a turnê Holanda, e também para a turnê Rio de
Janeiro, já que através da ACVA o professor conseguiu fomento advindo da
69

Universidade Federal do Pará. O motivo desse estabelecimento cooperativo foi


recíproco: por um lado, o grupo precisava da chancela da Universidade, para conseguir
as documentações necessárias aos patrocínios pretendidos; e a UFPA apostava na
inclusão social que o professor pretendia alcançar com seus projetos.
Segundo Farias (2009), a promoção da inclusão social através da música, com a
utilização de uma linguagem musical inovadora e acessível é o fator que gera o
reconhecimento do programa. Crianças, jovens e adultos, incluindo os indivíduos que
possuam transtornos do desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem, têm no
Programa Cordas da Amazônia a possibilidade de aprender a música erudita e popular,
tocando instrumentos de cordas friccionadas como o violino, a viola e o violoncelo.
O PCA viabiliza o desenvolvimento de seus participantes, independentemente se
estes possuem quaisquer tipos de transtornos. As pessoas querem e merecem usufruir do
sentimento de pertencimento a um grupo, esperam ser em valorizadas por sua
comunidade e úteis a sociedade.
Lopes (2008) também endossa a discussão, afirmando:
Outro ponto importante no PCA é o procedimento de investigação da
qualidade de vida dos estudantes envolvidos no programa que está sendo
desenvolvido. O que segue uma tendência de pesquisas realizadas na área da
saúde. Em que, tradicionalmente se investiga a relação de características
sócio demográficas, relacionadas à percepção de qualidade de vida de
crianças e adolescentes (LOPES, 2008, p. 49).

Segundo Rodrigues (2009), neste ínterim, a inclusão social é agenciada através


das atividades musicais desenvolvidas no programa, ofertadas a pessoas de todas as
camadas sociais, proporcionando o atendimento às Leis Diretrizes e Bases da Educação,
como se explica a seguir.
(...) “no Art.59 da LDB 9.394/96 afirma a necessidade de se criar currículos,
métodos, técnicas e recursos educativos em todas as áreas educacionais para
atender as necessidades de alunos com deficiência, também, menciona a
importância de haver professores com especialização adequada para a
inclusão desses alunos” ( RODRIGUES, 2009, p.18).

Em 2010, o PCA abrangeu cerca de quatrocentos alunos em seu quadro estudantil,


divididos entre crianças, jovens e adultos. Para estes estudantes, o PCA é a porta aberta
para a chegarem a se tornar produtores de cultura. Com aulas ministradas de forma
inusitada, abrangendo diversos níveis de aprendizado técnico de instrumentos de cordas
friccionadas, até os iniciantes ganham a chance de se apresentar em dias de concertos de
grande porte, como é o caso das apresentações no Theatro da Paz, por exemplo.
70

DeFreitas teve seu interesse despertado na área de pesquisa ao ouvir falar sobre
os editais de projetos da Pro - Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Pará.
Segundo DeFreitas (2011), a servidora da UFPA e atual professora da EMUFPA,
professora Msc. Adriana Couçeiro, sempre teve por prática divulgar os referidos editais
da PROEX. Outros professores da Escola de Música também tinham acesso a estes
editais, que eram apresentados a todos, constantemente, em reuniões de Conselho;
porém, não existia ainda na EMUFPA a cultura de se trabalhar além da sala de aula, no
contexto de pesquisa e extensão.
Sua percepção foi que, se passasse a ganhar espaço com projetos de pesquisa,
aprovando em massa várias bolsas, seu trabalho teria um reconhecimento mais efetivo
na academia, e ganharia os fomentos que necessitava para seguir adiante. A falta de
concorrência também o ajudou a avançar, pois foi o único pesquisador a concorrer na
área musical às bolsas de extensão. Em síntese, a UFPA, através dos projetos de
pesquisa e extensão, abriria às portas para que DeFreitas pudesse ultrapassar os entraves
burocráticos que sozinho não havia como enfrentar.
Segundo Farias (2009), especialmente promovendo o ensino, a pesquisa e a
extensão em bairros da periferia de Belém, tais como Cremação, Jurunas e Bengui, onde
se concentra uma demanda carente em todos os aspectos, em especial em acesso a
educação musical, o PCA coloca seus projetos à disposição da sociedade, oportunizando
qualidade de vida aos seus participantes, e estendendo essa assistência às suas famílias.
O indivíduo poderá se desenvolver não somente como músico, mas também como
cidadão, contribuindo para a evolução da sociedade.
Atualmente, o Programa Cordas da Amazônia conta com um rede de cooperação
formada pelos parceiros: Ministério da Educação e Cultura, Ministério da Cultura,
Universidade Federal do Pará (incluindo Pro-Reitoria de Extensão e Instituto de
Ciências da Arte), Escola de Música da UFPA, alunos, pais de alunos, pesquisadores e
patrocinadores.
A seguir a descrição e análise sobre o que motiva cada parceiro a contribuir com
o programa.
71

4.1.1 Formação de Parcerias: Universidade Federal do Pará

Perceber que o Programa Cordas da Amazônia poderia abranger os três eixos


que sustentam a Universidade Federal do Pará: ensino, pesquisa e extensão foi o marco
inicial para que o gestor do programa tivesse a iniciativa de estabelecer esta parceria.
Segundo Braga (2011), o PCA é coerente com o ambiente universitário, colaborando na
consolidação do conhecimento em artes social e na ampliação das atividades do
Instituto de Ciências da Arte junto à comunidade externa. É por esta razão que a UFPA
colabora com o programa, tanto com fomento, quanto com divulgação, incluindo a
doação de CDs e DVDs.
Rodrigues (2010), aponta, em relatório do Projeto de Extensão Violino em
Grupo, os objetivos do projeto, ratificando a contribuição do programa para o
desenvolvimento da pesquisa no Estado do Pará:
a) Qualificar e avaliar novos estudantes de violino dos Pólos Jurunas e
Benguí para que ingressem no curso Básico da Escola de Música da Universidade
Federal do Pará.
b) Qualificar e avaliar os estudantes de violino do curso Básico da
EMUFPA para que ingressem no curso Técnico da EMUFPA.
Segundo Gouveia (2011), a parceria da Universidade se dá através das
concessões de bolsas, conquistadas por meio de concurso público. Dentre essas bolsas,
as mais significativas para o PCA são: as bolsas provenientes do PIBEX- Programa
Institucional de Bolsa de Extensão e do PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica, e também do PAPIM – Programa de Apoio a Projetos de
Intervenção Metodológica.

“A UFPA possibilita ao Programa Cordas da Amazônia a participação em


vários editais, de incentivo a bolsas de extensão, e enfim, como o professor
Áureo é um pesquisador de currículo internacional, ele tem como investir
nessas pesquisas. Assim a UFPA também cumpre o papel dela”.
(ENTREVISTA PEDAGOGO DA EMUFPA, 03.02.2011).

Nos parágrafos seguintes se verifica uma breve descrição sobre os programas


que o PCA tem aprovado fomento.
72

Segundo informações provenientes da Universidade Federal do Pará, o PIBEX


visa estimular a comunidade acadêmica, ou seja, alunos, professores e técnicos -
administrativos a desenvolver ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida da
população, ampliando a função social da universidade pública e gratuita e o seu
compromisso com a transformação da sociedade.
Já o PIBIC é o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica,
financiado pelo CNPq ou pela Universidade. Voltado para o aluno de graduação, tem
como principais objetivos: despertar vocação científica e incentivar talentos potenciais
entre estudantes de graduação universitária, mediante participação em projeto de
pesquisa, orientados por pesquisador qualificado, com vistas à continuidade de sua
formação, de modo particular na pós-graduação.
Conforme edital n° 001/2011 que regulamenta O Programa de Apoio a Projetos
de Intervenção Metodológica, o PAPIM objetiva incentivar e apoiar o desenvolvimento
de atividades e experimentos que acrescentem métodos e técnicas eficazes ao processo
de ensino-aprendizagem na educação básica, educação profissional e educação superior,
com a participação de docentes e discentes vinculados à Educação Básica e profissional,
aos cursos de Licenciatura ou aos Programas de Pós Graduação atuantes na área de
educação.
Os Quadros: 7, 8, 9 e 10 sintetizam os trabalhos publicados com conteúdo
baseado no Programa Cordas da Amazônia, em diferentes áreas do conhecimento. Estes
trabalhos, todos aprovados em bancas de conclusão de curso, de dissertação ou através
de editais de projetos de extensão, comprovam a contribuição do programa para a
finalidade de ensino, pesquisa e extensão da UFPA.

Coletânea de Trabalhos de Conclusão de Curso produzidos por pesquisadores do


PCA

Orientador e co-orientador: Dr. Áureo DeFreitas

Ano Tema Acadêmico Instituição

Educação Musical por meio de Cordas


Friccionadas; Abrangência no Ensino de Tárcila Castro
2008 UEPA
Música: um estudo descritivo do Programa Rodrigues
Cordas da Amazônia
73

A Evasão no Programa Cordas da Amazônia. Társis Salmom


2008 UEPA
da Silva Lopes
Musicalização de Crianças e Adolescentes Jessika
2009 com Diagnostico Rodrigues UEPA
de Autismo.

Mudanças Comportamentais a partir da


Educação Musical: Comparação entre Criança
com Avaliação Comportamental Sugestiva de Paulianne
2010 UFPA
Transtorno de Déficit de Atenção e Nascimento
Hiperatividade (TDAH) e Criança sem este
Transtorno.

A Intervenção Musical Mediando O Processo Suene Ferreira


de Aprendizagem de Alunos Diagnosticados da Silva
2010 UFPA
com Perturbações do Espectro do Autismo –
PEA

Memorial do Programa Cordas da Amazônia e Ulisses Wilson


2010 UFPA
sua Contribuição Sócio-Cultural. Vaz Farias.

Quadro 7 – Coletânea de TCCs produzidos pelos pesquisadores do PCA.


Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

Coletânea de Dissertações produzidas pelos pesquisadores do PCA

Cursos de Mestrado da Universidade Federal do Pará

Áreas de pesquisa: Música e Psicologia

Ano Tema Pesquisador

Ensino Coletivo de Instrumentos de Cordas


2010 Joziely Carmo de Brito*
Friccionadas: Catalogação Crítica.

Educação Musical por meio de Cordas


2010 Friccionadas no Programa Cordas da Tarcilla Rodrigues
Amazônia

Aprendizado do Violoncelo: Influência da Thaís Cristina Santana


Qualidade de Vida de Crianças e Adolescentes Carneiro
2011
com Características de Risco para Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
74

João Paulo dos Santos Nobre


Programa Cordas da Amazônia: Transtorno de
Orientadora:
2011 Déficit de Atenção e Hiperatividade -
intervenção a partir da educação musical. Profª. Drª. Simone Souza da
Costa Silva

Quadro 8 - Coletânea de Dissertações produzidas pelos pesquisadores do PCA.


Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

Resumos e Artigos Publicados pelos pesquisadores do PCA

Ano Título Pesquisador

Educação em saúde com cuidadores de crianças Thaciana Araújo da Silva


e adolescentes com e sem Transtorno de Déficit
2009 de Atenção e Hiperatividade Yolanda Nobre

Onelma Lobato Lima

Jessika Rodrigues,
Autismo e Desenvolvimento Infantil:
Interdisplinaridade e Inovação de Linguagem Áureo DeFreitas
2009
Musical João Paulo Nobre

Suene Ferreira

Jessika Rodrigues

Práticas Pedagógicas do Programa Cordas da Tarcilla Rodrigues


2009 Amazônia da Escola de Música da Universidade
Federal do Pará: Interdisciplinaridade e Inovação Áureo DeFreitas
de Linguagem Musical
João Paulo Nobre

Áureo Defreitas
Mariene da Silva Casseb
Autismo e desenvolvimento infantil: a música
2010 João Paulo Nobre
como forma de intervenção.
Jéssika Rodrigues,

Suene Ferreira
Dislexia do Desenvolvimento: Intervenção a Letícia Silva
2010
partir da Educação Musical no Programa Cordas Áureo Defreitas
75

da Amazônia da Escola de Música da João Paulo Nobre


Universidade Federal do Pará numa turma de
Violoncelo em Grupo

Estudo Comparativo entre um Grupo de Alunos Áureo DeFreitas

com TDAH e um Grupo de Alunos sem o João Paulo Nobre

2010 Transtorno Submetidos à Intervenção a partir da Letícia Silva


Educação Musical. Allana Vilhena

Paulyane Nascimento
Contribuição Sócio-Cultural do Programa
2010 Ulisses Wilson Vaz Farias
Cordas da Amazônia
Quadro 9 – Artigos publicados pelos pesquisadores do PCA.
Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

Projetos Aprovados

Orientador: prof. Dr. Áureo DeFreitas

Ano Programa Título Bolsista

Allana Cristine
Dislexia do desenvolvimento:
2009 PIBEX Nascimento Vilhena
intervenção a partir da
educação musical

Transtornos do

Desenvolvimento e Paulyane Silva do


2010 PIBIC Nascimento
Dificuldades de Aprendizagem

Programa Transtornos do
Onelma Lobato Lima
2010 PIBEX Desenvolvimento e
Dificuldades de Aprendizagem

Práticas pedagógicas do
2010 MEC Sem bolsista.
Programa Cordas da Amazônia
76

da Escola de Música da
Universidade Federal do Pará:
interdisciplinaridade e
inovação de linguagem
Pesquisadores da DIS
e Orquestra de
2010 MINC Turnê China
Violoncelistas da
Amazônia
Programa Transtornos do
Letícia Silva e Silva
2011 PIBEX Desenvolvimento e Onelma Lobato Lima
Dificuldades de Aprendizagem Niely Freitas
Quadro 10 – Projetos do PCA.
Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

Com motivação de parceria recíproca: incentivo, divulgação e atendimento de


diretrizes, os projetos do Programa Cordas da Amazônia ganharam a chancela
universitária, conseguindo acessar setores que antes eram distantes, como o Ministério
da Educação e o Ministério da Cultura, conforme explicam os textos seguintes.

4.1.2 Formação de Parcerias: MEC – Ministério da Educação

Segundo as diretrizes do Governo Federal para o ano de 2011, o Brasil se


compromissa, através das metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), a
erradicar a fome e a miséria, através da inclusão social. Neste plano, todos os brasileiros
deverão receber uma educação básica de qualidade.
Através do Programa Cordas da Amazônia, centenas de crianças são inseridas na
educação formal musical, tendo a oportunidade de serem educadas gratuitamente em um
instrumento de difícil acesso, e além disso, desenvolvem sua cidadania ao serem
incluídas socialmente. A inclusão social é promovida nos seguintes aspectos:
1) A inclusão de estudantes provenientes de características diversas na
formação musical. Pessoas de qualquer idade e classe social, interessados em tocar o
violoncelo, a viola ou o violino, podem ter acesso à educação musical através do
programa.
77

2) A inclusão social de estudantes diagnosticados com Transtornos de


Desenvolvimento e Dificuldades de Aprendizagem – TDDA. Indivíduos que antes
encontravam em suas deficiências uma barreira ao aprendizado, enxergam no PCA uma
oportunidade de socialização.
3) A inclusão dos estudantes que desejam iniciar suas carreiras científicas e
pedagógicas, bem como possivelmente as de magistério. O PCA possibilita o acesso à
pesquisa e extensão, ajudando seus participantes a ingressarem no ensino básico,
técnico, de graduação e pós-graduação musical.
4) O acesso a cidadania oportunizado a estudantes de áreas de risco de
Belém, tais como o pólo dos bairros de Cremação, Jurunas e Bengui. O PCA colabora
na formação da cidadania, e de uma sociedade mais justa e igualitária, demonstrando
sua importância no contexto social.

Fortalecendo os laços de parceria, como o Ministério da Educação e Cultura, o


MEC também contribuiu com o fomento no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais)
para o Programa Cordas da Amazônia. Com esta ação, o Ministério da Educação e
Cultura pôs em prática os objetivos centrais de seu planejamento estratégico, que é
fomentar a inclusão social.

4.1.3 Formação de Parcerias: MINC – Ministério da Cultura

A diretriz central do ex-Governo Lula e do atual Governo Dilma Roussef, no


que diz respeito ao Plano Nacional de Cultura, visa à promoção do desenvolvimento
brasileiro com pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura
nacional, além da difusão e fomento de artes e do patrimônio brasileiro.
No âmbito da gestão sócio-cultural, o Programa Cordas da Amazônia contribui
para o processo democrático de prestação de serviços culturais, onde há participação da
sociedade civil, do Governo Federal e da iniciativa privada. Conseguindo, desta forma,
atender às necessidades do MINC, ao promover a circulação nacional e internacional de
seus projetos, todos atrelados à música brasileira.
DeFreitas afirma, em sua solicitação de patrocínio enviada ao MINC, em julho
de 2010, que a Sociedade Internacional de Educação Musical (International Society for
Music Education - ISME) foi criada em 1953 a partir de deliberações da Organização
78

das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura (United Nations Educational
Scientific and Culture Organization – UNESCO), acreditando que todas as experiências
vivenciadas em música, configuram uma parte fundamental da vida humana. Nesse
contexto, se faz essencial o intercâmbio do grupo paraense, a fim de divulgar nossa
cultura e demonstrar que o Brasil compartilha das crenças da UNESCO.
No ano de 2010, apoiando os objetivos do Programa Cordas da Amazônia, o
Ministério da Educação contribuiu com o fomento de R$ 92.000,00 (noventa e dois mil
reais) para a turnê Pequim. Este fomento contribuiu para que os pesquisadores da
Divisão de Inclusão Social do Programa Cordas da Amazônia e integrantes da comitiva
da Orquestra Juvenil de Violoncelistas da Amazônia pudessem participar da 29ª
Conferência Mundial de Educadores Musicais que se realizará no período de 01 a 10 de
Agosto, de 2010, na cidade de Pequim, China. Durante esta conferência, foram
realizadas três apresentações envolvendo a Orquestra Juvenil de Violoncelistas da
Amazônia e oito comunicações científicas envolvendo os pesquisadores do Programa
Cordas da Amazônia. O grupo foi o único representante brasileiro neste evento,
promovendo o nome do Brasil na temática de educação inclusiva.

4.1.4 Formação de Parcerias: EMUFPA- Escola de Música da UFPA

Atualmente o Programa Cordas da Amazônia se desenvolve no espaço físico da


Escola de Música da Universidade Federal do Pará. Personificada na gestão da ex-
diretora da EMUFPA, a docente do núcleo de Piano e de Teoria, Profa. Msc. Maria
Lúcia Silva Uchôa, a EMUFPA colabora com o PCA no fornecimento da estrutura
física e equipamentos necessários ao desenvolvimento das atividades.
Segundo Uchôa (2011), na sua gestão foi implantada a Divisão de Inclusão
Social, e a EMUFPA forneceu todo o suporte de equipamentos impressora, aparelhos de
som, computadores, sala refrigerada, estações de trabalhos, móveis de escritório,
materiais de expediente, linha telefônica são exemplos de equipamentos destinados
especificamente aos cuidadores da DIS, que funciona inclusive aos sábados e feriados.
No pólo Bengui, por exemplo, os alunos de violoncelo, mesmo não sendo da EMUFPA,
assistiam às aulas em nosso prédio, usufruindo de nossas instalações. É um meio que a
ex-diretora da escola encontrou para contribuir com o PCA.
79

Para a professora Lúcia Uchôa, a importância do estabelecimento de parceria


com o PCA se pelo fato de que, através do PCA, a escola abrange outros níveis sociais,
e consegue chegar até bairros mais distantes de Belém, onde as pessoas dificilmente
teriam acesso a estudar instrumentos de cordas friccionadas. Como exemplo, cita os
pólos existentes no Bengui e Jurunas, de modo que o PCA colabora para que outros
alunos tenham acesso a EMUFPA. Além disso, ano passado, a aprovação de projetos no
Ministério da Educação e também no Ministério da Cultura trouxe mais notoriedade
para o ensino musical paraense. A ex-diretora da EMUFPA afirma:

“Creio que a escola foi importante parceira do Programa Cordas da


Amazônia no ano passado, pois viabilizou toda a estrutura física para que
eles conseguissem se destacar na Pró - Reitoria de Extensão, por exemplo. É
através destes tipos de aprovação de projetos que o PCA consegue
financiamento para adquirir todo o instrumental utilizado por ele”.
(ENTREVISTA EX-DIRETORA DA EMUFPA, 10.02.2011).

Segundo a opinião pessoal da professora Lúcia Uchôa e do coordenador de


pesquisa João Paulo Nobre, quando questionados sobre o fortalecimento da parceria
estabelecida entre o Programa Cordas da Amazônia e a EMUFPA, seria positivo ao
programa a lotação de um servidor da UFPA específico da área de Assistência Social.
Segundo o relato de ambos, o programa necessita urgentemente de um Assistente
Social, que possa dar suporte aos estudantes e respectivos familiares atendidos pela DIS
– Divisão de Inclusão Social. Já o gestor do programa afirma que a Escola de Música
lucra bastante com esta parceria, devido ao atendimento das instâncias superiores, que
exigem a inclusão social.
Ocorre que, sendo uma Escola Técnica vinculada a uma Universidade Federal, a
EMUFPA responde a três órgãos hierarquicamente superiores, respectivamente: ao
Conselho de Dirigentes das Escolas Técnicas Vinculadas, à própria Universidade
Federal do Pará, e ao Ministério da Educação. Desta forma, de acordo com as diretrizes
educacionais advindas destes três órgãos federais, a escola deverá propiciar a educação
inclusiva à comunidade, além de atuar nas esferas da pesquisa, ensino e extensão.
A análise é que o PCA colabora com a EMUFPA no sentido de ser o principal
programa com este caráter dentro da escola. Em toda a história da Escola de Música da
UFPA, o Programa Cordas da Amazônia é o maior aprovador de bolsas institucionais, é
o mais relevante fomentador de verbas e o único programa aberto integralmente à
80

comunidade, permitindo a inserção de alunos que não estão formalmente matriculados


no curso Básico ou Técnico Instrumental. Esta notoriedade acadêmica alcançada pelo
programa, com o auxílio da chancela universitária, permite que o grupo consiga
formalizar as doações recebidas, já que todo o instrumental da Orquestra foi
conquistado dentro do Programa Cordas da Amazônia. Sobre o recebimento formal de
doações, segue o relato do gestor do PCA:

“Imagine que a maior parte do material que utilizamos, inclusive


instrumentos, são bancados por nós mesmos, através de nossas apresentações
e doações recebidas. Basta citar que recebi 200 instrumentos entre
violoncelos e violinos, doados por uma instituição dos Estados Unidos”.
(ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Segundo a professora Dra. Lia Braga, que ano passado atuou como Vice
Diretora do Instituto de Ciências da Arte da UFPA, e pertence atualmente ao quadro
efetivo de docentes do núcleo de Piano e de Teoria da EMUFPA, o Programa Cordas da
Amazônia consegue abranger os três eixos que sustentam a Universidade Federal Do
Pará, que são: ensino, pesquisa e extensão. Ela afirma que essa abrangência torna o
programa coerente com o ambiente universitário, colaborando através de seu papel na
consolidação do conhecimento em artes social e na ampliação das atividades do
Instituto de Ciências da Arte, junto à comunidade externa:

“É esta promoção da música através do ensino, pesquisa e extensão que torna


o Programa Cordas da Amazônia um programa de interesse para a EMUFPA,
o ICA, enfim para a UFPA”. (ENTREVISTA VICE-DIRETORA DO ICA,
05.02.2011).

Braga (2011) discorre a respeito do envolvimento dos estudantes dos cursos de


graduação e técnico em música com o programa, afirmando que o PCA ajuda na
formação de futuros professores e pesquisadores da área musical, fortalecendo o ensino
formal da música, nos níveis básico, técnico e superior.

4.1.5 Formação de Parcerias: os alunos do PCA

Segundo o gestor do programa, o PCA oferece aos alunos participantes uma


oportunidade que eles não encontrariam em nenhum lugar. Afinal, o PCA está sempre
81

de portas abertas, enquanto que, para se conquistar o direito de estudar na escola de


música, existe um acirrado processo seletivo, e nem sempre há vagas disponíveis. Os
alunos são verticalizados e inseridos num contexto musical. Como a música muitas
vezes não é vista como algo profissionalizante, em muitos momentos estes alunos
deixam o grupo, orientado por suas mães, que preferem optar por outras carreiras mais
convencionais, e por cursos livres como o Inglês e a prática de esportes. O esforço de
quebrar estes paradigmas é hercúleo, e por isso há um grande esforço em trazer os
alunos para o curso técnico e nível superior, culminado com a formação no curso de
Bacharelado em Música. Esta característica dos estudantes do Programa Cordas da
Amazônia agrada aos seus pais, que acabam incentivando sua permanência no PCA
(DEFREITAS, 2011).
De acordo com DeFreitas (2009), especificamente no ano de 1995, surge o
Quarteto de Violoncelistas de Belém, resultado concreto das aulas ministradas na Escola
de Música da Universidade Federal do Pará. Formado por Áureo DeFreitas, violoncelo
I; Diego Carneiro, violoncelo II; Eber Soares, violoncelo III, e Orley Gordo, violoncelo
IV, o grupo faz apresentações no Festival de Juiz de Fora - MG, Festival de Campos -
RJ, Festival de Brasília – DF, Festival Internacional de Música de Câmera – Pa, e
Encontro de Arte da Universidade Federal do Pará. Esta projeção nacional seria a
inspiração dos futuros violoncelistas da Orquestra de Violoncelistas da Amazônia.
O Quadro 11 a seguir, demonstra o progresso acadêmico de alguns alunos que se
destacaram nessa época. É a comprovação de que é a verticalização acadêmica e
profissional que motiva os integrantes do PCA.

Aulas de Violoncelo Individuais


Progresso acadêmico universitário dos estudantes de violoncelo
Nível Acadêmico alcançado
Educação Ensinam
Integrante violoncelo
Artística Orquestra
do Projeto Outras áreas em escolas
Bacharelado Semi-
com de de música
Violoncelo em Música profissional/
conhecimento e/ou
Habilitação profissional
em Grupo studio
em Musica particular
7 alunos 2 alunos 3 alunos 5 alunos 6 alunos
82

Quadro 11 – Progresso acadêmico dos integrantes das aulas individuais de violoncelo.


Fonte: DeFreitas (2009, p.14)

Motivados pela excelente fase anterior, o Projeto Violoncelo em Grupo iniciou em


1997, coordenado simultaneamente pelo professor, no Instituto Estadual Carlos Gomes
(IECG) e na Escola de Música da Universidade Federal do Pará (EMUFPA). No
Quadro 12 está descrita a continuidade da verticalização profissional dos alunos
participantes das aulas de violoncelo em grupo, motivo de interesse da participação dos
alunos da Escola de musica da UFPA. Observa-se que a maioria desses alunos direciona
suas carreiras para a ministração de aulas de violoncelo.

Aulas de Violoncelo Individuais


Progresso acadêmico universitário dos estudantes de violoncelo
Nível Acadêmico alcançado
Educação Ensinam
Integrante violoncelo
Artística Orquestra
do Projeto Outras áreas em escolas
Bacharelado Semi-
com de de música
Violoncelo em Música profissional/
conhecimento e/ou
Habilitação profissional
em Grupo studio
em Musica particular
2 alunos 13 alunos 8 alunos 16 alunos 13 alunos

Quadro 12 – Progresso acadêmico dos integrantes das aulas em grupo de violoncelo


Fonte: DeFreitas (2009, p.24).

Outro fator que colabora para que os alunos se interessem em estabelecer


parceria com o Programa Cordas da Amazônia é a oportunidade de obter
reconhecimento nacional e internacional.
As viagens nacionais iniciaram em 1999 com a apresentação da Orquestra
Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, a OIJVA, na Oficina de Música de
Curitiba. O auge aconteceu no ano de 2000, com a turnê Rio de Janeiro, incluindo
apresentações em Cabo Frio, Petrópolis e Friburgo, onde, a convite do violoncelista
inglês David Chew, a Orquestra participou do Rio Cello Encounter.
83

No mesmo ano, o grupo de apresentou na Temporada de Música de Inverno de


Petrópolis, repetindo o feito em 2001; neste mesmo ano, houve a participação da OIJVA
no Festival de Inverno de Friburgo. Em 2002, a violoncelista norte-americana Eva
Szekely possibilita a apresentação dos violoncelistas em Missouri, em uma turnê pelos
Estados Unidos. No ano de 2004, realizaram uma turnê pela Holanda. Em agosto de
2010, os participantes do Programa Cordas da Amazônia foram convidados pelo
governo chinês a se apresentarem em Pequim, já com o nome de Orquestra de
Violoncelistas da Amazônia.
A seguir são demonstradas, ainda pelo grupo anterior à formação atual da
Orquestra de Violoncelistas da Amazônia, as turnês realizadas pelos músicos da
Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, sob a direção do coordenador
do projeto. Essas turnês serviram de motivação para a geração vindoura, motivando os
estudantes a estabelecer a parceria com o programa.
O Quadro 13 aponta o quantitativo de alunos integrantes da orquestra, sendo que
alguns estudantes acompanham a orquestra no período de 1999 a 2002, evoluindo
individualmente, mas em colaboração com o grupo.

1º Fase - Estrutura de Formação da OIJVA


Integrantes da Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia
Turnê Curitiba Turnê RJ Turnê RJ Turnê USA
1999 2000 2001 2002
11 integrantes 15 integrantes 21 integrantes 13 integrantes
Antônia Coelho Antonio Coelho Antonio Coelho Bruno Valente
Bruno Valente Bruno Valente Bianca Camilla Santos
Camilla Santos Camilla Santos Bruno Valente Débora Borges
Débora Borges Débora Borges Camilla Santos Diego Cardoso
Diego Cardoso Diego Cardoso Débora Borges Diego Carneiro
Diego Carneiro Diego Carneiro Diego Cardoso Emilia Neves
Emilia Neves Emilia Neves Diego Carneiro Rebeca Cuima
Joás Cardoso Rebeca Cuima Emilia Neves Kalyne Valente
Kalyne Valente Kalyne Valente Jamile Karla Harada
Karla Harada Karla Harada Kalyne Valente Mayara Alencar
84

Mayara Alencar Mayara Alencar Karla Harada Roberta Coelho


Roberta Coelho Leilane Valente Verena Abufaiadi
Verena Abufaiadi Marquinho Yasmim Alencar
Tayná Gama Mayara Alencar
Yasmim Alencar Rebeca Cuima
Roberta Coelho
Verena Abufaiadi
Verena Mendonça
Virginia
Yasmim Alencar
Quadro 13 – 1° fase de estruturação da OIJVA
Fonte: DeFreitas (2009, p.30)

O Quadro 14 mostra a continuação da formação da orquestra. Observe que


alguns integrantes permanecem desde 1999, promovendo o progresso em equipe.

2º Fase - Estrutura de Formação da OIJVA


Integrantes da Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia
Turnê Holanda Turnê RJ Concerto BBC Concerto
2004 2004 2006 ENARTE
2006
9 integrantes 17 integrantes 17 integrantes 18 integrantes
Bruno Valente Bruno Valente Bruno Valente Ariel Lima
Camilla Santos Camila Lucas Camila Lucas Camila Lucas
Conceição F. Camilla Santos Camilla Santos Daniela Abreu
Daniela Abreu Carlos Adolfo Conceição F. Eliete Amaral
Diego Cardoso Conceição F. Daniela Abreu Elisangela S.
Diego Carneiro Daniela Abreu Diego Cardoso Emilia Neves
Leno Yuri Diego Cardoso Erica Silva Fabrício
Mayara Alencar Kally Hugo Vaz Giovana B.
Wagner Mattos Leno Yuri Leno Yuri Hugo Vaz
Mayara Alencar Mayara Alencar Jonata Araújo
Olivia Pedro Henrique Leno Yuri
Rafael Coelho Rafael Coelho Patrick Wilson
85

Thaciana Araújo Thaciana Araújo Sabrina Abreu


Tiago Imbiriba Tiago Imbiriba Sara M.
Ulisses Vaz Ulisses Vaz Suene Ferreira

Verena M. Verena M. Ulisses Vaz

Wagner Mattos Wagner Mattos Verena M.


Wagner Mattos
Quadro 14 – 2° fase de estruturação da OIJVA
Fonte: DeFreitas (2009, p.32)

Na terceira fase da Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia,


conforme aponta o Quadro 14, já se observa, além da presença de novos alunos, a
ausência de alguns integrantes da fase um e dois; ocorre que, em sua maioria, os
integrantes das fases anteriores foram chamados para tocar fora de Belém, em
orquestras nacionais e também internacionais, como mostrará o Quadro 15 adiante.
Nesta fase a orquestra já possui vários integrantes adultos. Foi um dos motivos que
levou o coordenador do programa a modificar o nome da orquestra para Orquestra de
Violoncelistas da Amazônia, retirando o termo “infanto-juvenil”.

3º Fase - Estrutura de Formação da OIJVA


Integrantes da Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia
ENARTE SHOW HANGAR ENARTE SHOW HANGAR
2007 2008 2008 2008
30 integrantes 26 integrantes 26 integrantes 20 integrantes
Antonio Amilton Antonio Amilton Antonio Amilton Antonio Amilton
Ariel Lima Ariel Lima Ariel Lima Ariel Lima
Bruno Valente Clarissa Jucá Everson Assis Everson Assis
Clarissa Jucá Everson Assis Farid Kzan Farid Kzan
Everson Assis Farid Kzan Geovanna Bertazzo Geovanna Bertazzo
Farid Kzan Geovanna Bertazzo Gustavo Borges Jesimiel dos Santos
Fabrício Gustavo Borges Hugo Vaz Jéssika Rodrigues
Fernando Bahia Hugo Vaz Jesimiel dos Santos Jose Roberto
Gustavo Borges Jesimiel dos Santos Jéssika Rodrigues Lennon Yuri Soares
Hugo Vaz Jéssika Rodrigues Jose Roberto Lucas Borges
86

Jesimiel dos
Jose Roberto Lennon Yuri Soares Rafael Silva
Santos
Jose Roberto Lennon Yuri Soares Lucas Borges Robson Navegante
Lennon Yuri
Lucas Borges Plínio Sergio Rodolfo Carvalho
Soares
Lucas Borges Patrick Wilson Rafael Silva Rodrigo Dias
Plínio Sergio Pedro Henrique Rebeca Lemos Sabrina Abreu
Patrick Wilson Rafael Silva Robson Navegante Sandro Roberto
Pedro Henrique Rebeca Lemos Rodolfo Carvalho Suene Ferreira
Rodrigo Dias Robson Navegante Rodrigo Dias Yan Felipe
Rebeca Lemos Rodolfo Carvalho Sabrina Abreu
Robson Navegante Rodrigo Dias Sandro Roberto
Sabrina Abreu Sabrina Abreu Suene Ferreira
Sandro Roberto Sandro Roberto Ulisses Vaz
Yan Felipe Suene Ferreira Yan Felipe
Jéssika Rodrigues Yan Felipe
Suene Ferreira*
Ulisses Vaz*
Rafael Silva
Isabel Bianca
Wagner Mattos
Quadro 15 – 3° fase de estruturação da OIJVA
Fonte: DeFreitas (2009, p.34)

O gestor do programa relata, em entrevista, sobre o sentimento de orgulho que


seu trabalho proporciona, ao criar a expectativa dos alunos conseguirem lançar suas
carreiras como músicos profissionais:

“Imagina o que representa para mim, acompanhar um menino de oito anos de


idade, ver seu crescimento profissional, vê-lo ingressando na Universidade.
Os alunos têm um sonho de vencer, pois eles sabem que o que eu proponho é
o sonho de que um dia um olheiro poderá levá-los para um lugar melhor,
onde a própria família será beneficiada. Em um primeiro momento da
orquestra, éramos entre doze a vinte músicos e vivíamos sempre viajando,
como ao Rio de Janeiro por exemplo, parando em todas as cidades para
tocar,estávamos em todos os teatros, foi uma exposição absurda.mas que
aconteceu com a gente durante duas temporadas. Deste grupo, vários rapazes
87

foram tocar no exterior, onde estão até hoje, enquanto as meninas, embora
tivessem mais talento, conseguiram sair de Belém, mas ficaram no Brasil, no
eixo Rio / São Paulo. Eu, por exemplo, fui coroado com uma bolsa de cento e
vinte e quatro mil dólares com o Projeto Cordas da Amazônia”.
(ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Assim, observa-se que na rede de parcerias estabelecida pelo PCA, os alunos


contribuem com esforço, dedicação de tempo, árduo trabalho. E em contra partida
esperam receber do programa, além da formação profissional como musicistas, a
possibilidade de projeção nacional e internacional.
Dando continuidade às informações demonstradas anteriormente, o Quadro 16
sintetiza o período de 2004 a 2011, quando os integrantes da OIJVA e da sua próxima
geração, a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia conseguiram alçar novos vôos em
suas carreiras, através de projeções nacionais e internacionais. Compare nas tabelas
demonstradas anteriormente que alguns participantes saíram da Orquestra; eles serão
vistos a seguir, pois saíram do grupo a convite de outras orquestras, ganhando assim
verticalização em suas carreiras, fora do território paraense.

Mobilidade Nacional e Internacional dos Estudantes de Violoncelo


Participante Destino 1 Destino 2 Destino 3 Destino 4
Bruno
RJ - RJ
Valente
Camilla
Tatuí - SP SP - SP Alemanha
Santos
Conceição SP - SP
Fernandes
Daniela Alemanha
Abreu
Diego Columbia –
Tatuí - SP Londres - UK
Carneiro USA
Diego
RJ - RJ Briançon - Fr Lion – Fr
Felipe
Emília SP - SP Belo Horizonte
Neves
Joás
Tatuí - SP Londres - UK
Cardoso
Kalyne SP - SP Natal - RGN
Valente
Karla Tatuí - SP
88

Harada

Mayara Mississipi -
Tatuí - SP SP – SP Natal - RN
Alencar USA
Samuel
Tatuí - SP SP – SP Suiça
Ramiro
Tiago SP - SP
Imbiriba
Ulisses
RJ - RJ
Vaz
Wagner Briançon - Fr
Matos
Yasmim
Tatuí - SP SP – SP
Alencar
Quadro 16 – Mobilidade Nacional e Internacional do integrantes da OIJVA.
Fonte: DeFreitas (2009, p.37).

Segundo DeFreitas (2011), comparando os dados a seguir com as estatísticas


apresentadas no cenário musical paraense, o Programa Cordas da Amazônia consegue
um feito extraordinário, apresentando a escolas musicais do mundo inteiro os novos
talentos a serem profissionalizados musicalmente.
Atualmente, a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia é composta de dezoito
integrantes: Antonio Amilton, Everson Assis, Geovanna Carvalho, Jesimiel dos Santos,,
Lenno Yuri Soares, Lucas Borges, Luiz Gustavo, Rodrigo Dias, Robson Navegante,
Rafael Silva, Rodolfo Monteiro, Sandro Roberto, Yan Felipe, Hézio Saldanha, Cleiton
Satiro (Baixo Elétrico), Rafael Duarte (Baterista). Áureo DeFreitas. O grupo ensaia de
três a quatro vezes por semana, com ensaios de três horas de duração, na EMUFPA.
É justamente em busca da verticalização profissional que centenas de jovens
ingressam e estabelecem uma parceria no programa, mesmo sem terem qualquer tipo de
contrato formalizado, é o sentido de cooperação mútua que fortalece a rede do PCA.

4.1.6 Formação de Parcerias: mães de alunos

Segundo o próprio idealizador do programa, não haveria nenhum progresso no


Programa Cordas da Amazônia sem a ajuda das mães dos alunos, que atuam como
verdadeiras gestoras do PCA. As mães se doam assim porque acreditam na felicidade
do filho, sem seu talento, em seu desenvolvimento como instrumentista e também como
89

pessoa. Pedagogo efetivo da EMUFPA, o professor Msc. Mauricio Gouveia, ao ser


questionado sobre quem seria a maior força parceira do PCA, opina:

“Além dos alunos, considero que seus pais sejam os principais parceiros do
programa, pois são muito participativos, além das apresentações em público,
estão sempre presentes nas aulas. Essa participação em sala de aula ajuda a
escola a desenvolver estratégias pedagógicas de inclusão, e fortalece o
programa”. (ENTREVISTA PEDAGOGO DA EMUFPA, 03.02.2011).

As mães crêem que os filhos têm, no PCA, a chance de se desenvolverem social e


profissionalmente, por isso investem investirem tempo, dedicação e recursos próprios
na divulgação do programa, ajudando as atividades a fluírem e fortalecendo a relação
com o empresariado. São as mães que trabalham voluntariamente em todas as
apresentações, vendendo objetos relacionados com o Programa Cordas da Amazônia:
camisas, canetas, DVDs, CDs, etc.

“Elas produzem CDs, DVDs, canetas, tudo que vendem elas produzem,
correm atrás e vendem. Montam kits e enviam aos patrocinadores, atuando
como verdadeiras divulgadoras. Elas que recebem o dinheiro com as vendas.
Elas fazem isso porque faço questão de não pegar em dinheiro de jeito
nenhum, pois acredito que a sociedade só espera um vacilo meu para me
crucificar...é algo que desde 1998 coloco nas mãos de terceiros...não vou ao
banco, não sei quanto existe minha conta. Porém, quando o grupo demonstra
fraqueza financeira, é do meu salário como professor da UFPA que eu tiro o
dinheiro para levantar o caixa, do meu bolso”. (ENTREVISTA GESTOR DO
PCA, 05.02.2011).

Esta parceria é positiva, pois não há arrecadação financeira suficiente para pagar
salários a trabalhadores. O trabalho voluntário das mães é essencial para que circule
capital no projeto, com a venda de material de divulgação da Orquestra. Outra curiosa
demonstração de apoio dessas mães consta no relato do gestor do programa:

“No ano de 2010, o MEC disponibilizou para o PCA cerca de 100 mil reais, e
o MINC – Ministério da Cultura – mais 100 mil reais, para a turnê China, que
ocorreu em agosto. Este recurso foi conseguido da seguinte forma: as mães
dos alunos do PCA ficavam de vigília na Internet, e desta forma conseguiam
promoções de passagens aéreas. Juntávamos dinheiro em pedágios, coletas,
apresentações, com meus recursos próprios também...Eu ia para Brasília
marcar território, ficava lá de plantão, pegava chá de cadeira para falar com
alguém; foram três viagens até Brasília para que eu conseguisse patrocínio”.
(ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Um relato interessante sobre a força deste trabalho voluntário é o episódio


ocorrido no mês de julho de 2010, quando a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia
90

fez um show acústico na Praça da República, organizado pelas mães dos integrantes.
Sem investimentos em divulgação, qualquer estrutura de iluminação ou palco, a
orquestra, em somente em uma hora de apresentação, conseguiu arrecadar cerca de mil
e quatrocentos reais, doados pelo público, que foram totalmente revestidos para a turnê
China.
“Após a turnê, entre agosto e dezembro, conseguimos arrecadar cerca de 30
mil reais em shows, visando recuperarmos os recursos investidos para que
levássemos os vinte e um integrantes do PCA para a China, fato inédito na
EMUFPA. Nunca um grupo arrecadou tantos fundos”. (ENTREVISTA
GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Segundo Nobre (2011), o pesquisador se interessa em realizar trabalho


voluntário para o PCA, pois encontra no programa a oportunidade de fortalecer seu
vínculo acadêmico, produzindo e publicando – em grupo - incontáveis trabalhos que
formarão seu currículo Lattes. Posteriormente, ao concorrer para um concurso público,
visando vínculo empregatício, financiamento de projetos ou mesmo bolsa de estudos, os
trabalhos publicados no PCA o ajudarão a compor a nota necessária para sua aprovação.
O Psicólogo cita, inclusive, que através do PCA conseguiu uma gama de clientes para
seu consultório particular, fortalecendo sua parceria com o programa, que, segundo ele,
elenca uma série de benefícios aos pesquisadores.

4.1.7 Formação de Parcerias: pesquisadores

João Paulo Nobre é Psicólogo e pesquisador da área de transtornos no


aprendizado. Atualmente assume a função de coordenador do departamento de pesquisa
do Programa Cordas da Amazônia. Segundo ele, o Programa Cordas da Amazônia é
composto por um grupo multidisciplinar de pesquisadores, das áreas de Psicologia,
Pedagogia, Música e Letras.
DeFreitas (2011) ressalta a importância dos pesquisadores para o PCA, como
agentes ativos na conquista de fomentos para o programa. É o grupo de pesquisadores
que consegue as bolsas e verbas federais, através dos múltiplos projetos que abarcam o
PCA, através da publicação de artigos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações,
participações em congressos, projetos de extensão, conforme relato:

“Essa foi minha tacada de mestre dentro do PCA. Bem, eu sempre fui pago
para estudar, mas essa cultura de pesquisa não havia na escola de música.
91

Observei, no curso de Psicologia, que o voluntariado e as bolsas eram muito


interessantes para os acadêmicos, já que as oportunidades de se receber para
estudar são raras. Para a administração superior é fantástico, pois os jovens
iniciam suas carreiras científicas. Então eu comecei a fazer campanha nas
salas de aula, informando que eles seriam pagos para estudar, pois
receberiam uma bolsa que na época era de duzentos e sessenta reais, hoje é de
trezentos reais, eu entrava na sala e dizia: “pagos para escrever o TCC de
vocês, desde o primeiro ano aqui na academia!” “Então eles se interessaram
em fazer a parceria”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Neste ínterim relacionado ao vínculo com o Programa Cordas da Amazônia, o


gestor do PCA afirma que não há qualquer estabelecimento de contrato formal, mas
cada pesquisador possui seu horário de trabalho voluntário na DIS – Divisão de
Inclusão Social. Os horários são seguidos de maneira rigorosa, propondo o máximo de
qualidade no atendimento. Questionado sobre como consegue manter, de forma
voluntária, a parceria com os pesquisadores, o professor é enfático:

“Neste aspecto tem minha personalidade persuasiva, pois eu tinha que


acorrentá-los de alguma forma ao projeto. Ao iniciar o TCC com nosso grupo
de pesquisadores, acaba que o aluno só termina a graduação se pesquisar aqui
no PCA. O resultado é que todos se envolveram e não puderam evadir, pois
queriam finalizar seus trabalhos. Meus grandes parceiros são os
pesquisadores”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

As ações dos pesquisadores podem ser conferidas no subitem anterior Ciclo


Motivacional dos Parceiros: UFPA, nomeadamente nas tabelas de síntese da produção
científica do Programa Cordas da Amazônia. Sobre a importância das pesquisas para o
desenvolvimento do Programa Cordas da Amazônia, estas pesquisas, o gestor ratifica:

“Para 2011 previstas de fato,temos quatro bolsas PIBEX (que é de extensão),


nós temos dois prêmios PROEX no valor de cinco mil Reais cada, que serão
integralmente revestidas em bolsas de estudos. Também teremos duas bolsas
de iniciação científica. Estas bolsas garantem oito bolsistas garantidos no ano
de 2011. Conseguimos todos estes recursos graças às publicações em grupo.
Ainda aguardamos mais duas bolsas pelo menos, totalizando cerca de dez
bolsas administradas, no valor de trezentos reais mensais cada. (...) Estas
bolsas acabam obrigando a própria EMUFPA a nos dar espaço físico, pois
seria problemático para a própria gestão da escola explicar ao MEC, caso o
programa parasse por falta de espaço físico. (...) Também vamos submeter o
projeto ao PAPIM (bolsa produtividade), pois ano passado aprovamos e este
ano vamos dar continuidade”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA,
05.02.2011).
92

4.1.8 Formação de Parcerias: Patrocinadores

Os patrocinadores do Programa Cordas da Amazônia, todos paraenses, são:

a) REICON – Loja de informática e papelaria. O proprietário colabora


anualmente, entregando cheques nominais, de quantias não especificadas pelo
entrevistado, quando solicitada. Não exige prestação de contas, e cobra nenhum tipo de
relatório acerca a utilização do dinheiro. Segundo DeFreitas (2011), É parceira por um
sentimento fraternal, não exigindo nada em troca.

b) Y.YAMADA – Loja de móveis, eletrodomésticos e supermercados de Belém.


Doa dinheiro em espécie, regularmente. Exige que o grupo se apresente com as camisas
e bonés contendo o slogan institucional da loja, juntamente com o logotipo do Grupo
Y.Yamada. Além disso, exige a exposição no palco de dois banners da empresa, durante
suas apresentações. É parceira do PCA e em benefício obtém a divulgação de sua
marca.
“A Yamada foi propaganda mesmo. Ela fez camisas, orquestra gente boa,
éramos obrigados a usar os bonés e as camisas com o logotipo da Yamada em
todas as entrevistas, para que aparecesse na mídia, em todos os shows
utilizávamos dois banners enormes da Yamada fazendo a propaganda. Enfim,
puro marketing, empresariado radical que eles sempre tiveram. Eu te dou,
mas quero algo em troca”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

c) Ná Figueiredo – Loja de roupas e acessórios estilizados, com a moda voltada


para o rock. É perfil notório da marca Ná Figueiredo colaborar com a divulgação da
cultura musical paraense. Sua parceria consiste em ajudar na divulgação dos shows da
Orquestra, através de cartazes, folders, sites, etc. não havendo qualquer acordo
financeiro ou de prestação de contas, de ambas as partes. Conforme análise de DeFreitas
(2011), este patrocinador se preocupa em atrelar seus produtos com a cultura local, por
isso divulga os shows do Programa Cordas da Amazônia. Não há nada formalmente
contratado.

d) Sol Informática – Loja de equipamentos e acessórios de informática. Apóia o


programa doando não exclusivamente dinheiro, mas CDs e DVDs, atuando na
divulgação da orquestra. DeFreitas (2011) acredita que a loja Sol é parceira do PCA por
conta do grande sucesso que a orquestra faz na Internet, em vídeos no youtube, por
93

exemplo, que tem milhares de acessos. A marca da Sol está associada ao PCA, e ao
visualizar a apresentação da orquestra, simultaneamente ocorre o marketing da Sol.
Assim, a parceria se estabelece.
Não houve, nesta pesquisa, o aprofundamento sobre esta parceria, cabendo como
sugestão a trabalhos profundos. Segundo o gestor do projeto, a parceria com os
fornecedores se fortalece também mediante a divulgação do Programa Cordas da
Amazônia nas redes de relacionamento na Internet, tais como: facebook, orkut, twiter,
youtube. Em entrevista, é enfático sobre a importância da parceria com esta ferramenta:

“Este é um fenômeno mundial. Sempre tive sites pessoais, já tive um site de


25 mil dólares,criado para mim nos Estados Unidos, onde o mundo todo
sabia o que eu estava fazendo. Depois criei um site mais barato, para a
ACVA. (...) Mas em 2004, quando surgiram as redes de relacionamento eu
abandonei os sites tradicionais, pois eu achava que o Orkut e facebook
dariam bem mais acesso, se soubéssemos usar. (...) E foi o que aconteceu,
me tornei um ser virtual, onde divulgo tudo o que acontece, foi com esta
ferramenta que cheguei ao Jô Soares e ao programa do Serginho Groinsman.
(...) Hoje tenho vídeo no youtube que possui 40 mil visitas, o que é
considerado um fenômeno de sucesso no contexto paraense”.
(ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Para finalizar este capítulo, o Quadro 17 demonstra a síntese da rede de


cooperação que envolve o Programa Cordas da Amazônia, destacando a contribuição
que cada parceiro fornece a rede, o benefício adquirido e a avaliação da parceria.

Síntese da rede de cooperação que envolve o PCA


Parceria Contribuição para a Benefício com a rede Avaliação
rede
Alunos Dedicação de tempo e Conhecimento musical, Benefícios
esforço nas aulas, ensaios ascensão profissional e recíprocos.
e apresentações nas aquisição de cachês com
orquestras. as apresentações.
Pesquisadores Dedicação para as Agregação de valor ao Benefícios
pesquisas acadêmicas e currículo Lattes; recíprocos.
trabalho voluntário na notoriedade acadêmica.
Divisão de Inclusão
Social.
94

UFPA Participação em editais, Divulgação do nome da Benefícios


patrocínio e oferecimento instituição; atendimento recíprocos.
de bolsas de extensão e no âmbito de ensino,
iniciação científica. pesquisa e extensão.
EMUFPA Concessão de espaço Divulgação do ensino Benefícios
físico e estrutura de musical e apoio no recíprocos.
trabalho. ingresso de alunos no
curso técnico da escola.
MEC Fomento através de Inclusão social de classes Benefícios
editais. menos favorecidas. recíprocos.

MINC Fomento através de Divulgação da cultura Benefícios


editais. paraense no cenário recíprocos.
nacional e internacional.
Pais Trabalho voluntário
e Melhoria da qualidade de Benefícios
divulgação do programa. vida de seus filhos. recíprocos.

Fornecedores Patrocínio financeiro e Responsabilidade social e Benefícios


apoio na divulgação da divulgação da marca. recíprocos.

orquestra.
Quadro 17 – Síntese da rede de cooperação que envolve o PCA
Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS

Este trabalho se propôs a investigar o processo de articulação de parcerias como


condição de sobrevivência para um programa de gestão sócio-cultural. Para tanto,
ponderou sobre a pesquisa bibliográfica coletada acerca do tema Redes de Cooperação,
e sobre o Programa Cordas da Amazônia, objeto deste estudo.
Através de entrevista semi-estruturada, coletaram-se informações sobre a
motivação do ingresso de parceiros na rede do PCA, chegando-se à conclusão que a
parceria é essencial ao desenvolvimento e sobrevivência do programa estudado, e que
cada parceiro envolvido tem motivação própria para colaborar com o programa,
conforme já discutido em capítulo anterior. O programa forma uma rede classificada
como Rede Associativa, com as seguintes características:
95

a) Constitui-se como uma entidade formalizada;


b) A rede foi originada a partir das dificuldades encontradas quando o programa
ainda se estruturava de forma individualizada.
c) Todos os envolvidos participam nas decisões e ações da rede, sendo que os
ganhos gerados em conjuntos são distribuídos de forma mais igualitária possível.
Uma vez que este trabalho apresentou a rede de cooperação como uma nova
forma de estruturação organizacional, sugere-se que se constitua no PCA uma gestão
voltada para planejar, organizar, dirigir e avaliar os resultados coletivos que envolvam
os vários projetos inseridos no programa.
Para o fortalecimento da rede, a pesquisa aponta as sugestões a seguir:

a) Em termos de envolvimento de recursos humanos


A necessidade da presença de um profissional da área de Assistência Social no
PCA, para realizar atendimento aos integrantes do programa e seus familiares e, em
especial à comunidade atendida nos Pólos Bengui e Jurunas, devido às situações de
riscos sociais aos quais os alunos são expostos diariamente, que os levam a evadirem do
programa.

b) No âmbito da cultura organizacional observada na EMUFPA


Fora detectada, durante as entrevistas, a ausência de interesse em participar das
pesquisas do PCA, na grande maioria dos docentes que compõem a Escola de Música
da Universidade Federal do Pará. Esta realidade pode ser explicada pelo fato de a
EMUFPA trabalhar com o ensino de diversos instrumentos e performances musicais,
além dos instrumentos de cordas friccionadas (utilizadas no PCA), tais como:
instrumentos de cordas dedilhadas, piano, instrumentos de percussão, de sopro, teclado,
canto lírico, entre outros. A EMUFPA é subdividida em núcleos de ensino, e esta
divisão não favorece o trabalho em equipe, ao contrário, o que justifica a atual situação
do programa dentro deste contexto: cada docente atua de forma individualizada, dentro
de sua área de atuação.
96

C) Maior divulgação do programa


O público paraense praticamente desconhece o Programa Cordas da Amazônia,
sendo que a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia é mais conhecida
internacionalmente do que em nosso próprio Estado, como já foi dito anteriormente. A
sugestão é que se busque o estabelecimento de parcerias com programas televisivos, de
rádio e jornais locais, visando divulgar os shows e apresentações da orquestra; esta
exposição na mídia certamente permitirá a inserção de mais patrocinadores na rede, e
também notoriedade nas disputas de editais nacionais e internacionais.

O método utilizado nesse estudo de caso poderia ser empregado em pesquisas


com outras redes de gestão sócio-cultural, ou mesmo pertencente a outros segmentos. O
questionamento é o seguinte: existe diferença na estrutura estabelecida pela Rede de
Cooperação do Programa Cordas da Amazônia com a estrutura de outros programas?
Aspectos culturais e regionais poderiam definir processos diferenciados?
A limitação da pesquisa se deu em torno do fato de não haver publicado material
nesta área (gestão sócio-cultural); também não houve aprofundamento nas entrevistas,
sendo que o grupo de alunos, pais e fornecedores não foram entrevistados. Neste
ínterim, coube à pesquisadora a observação participante.
Ainda há muito a ser pesquisado sobre esta nova forma de gestão, o que sugere a
abertura de investigações que poderão contribuir para o aperfeiçoamento da
metodologia de formação, desenvolvimento e expansão de redes de empresas.
A cooperação é o que permite a sustentabilidade das ações do programa, a rede
de colaboradores oportuniza o suporte de que o PCA necessita para o ensino, a pesquisa
e a extensão dentro e fora da Universidade Federal do Pará. Ao mesmo tempo, essa rede
de relações colaborativas amplia a irradiação das ações do programa em vários âmbitos
– governamentais, não formais, institucionais, público e privado.
97

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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100

RODRIGUES, Társila Castro. Educação Musical por meio de Cordas Friccionadas;


Abrangência no Ensino de Música: um estudo descritivo do Programa Cordas da
Amazônia. (Trabalho de Conclusão de Curso). Belém: UEPA, 2008.

RODRIGUES, Jessika. Musicalização de Crianças e Adolescentes com Diagnostico


de Autismo. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura Plena em
Música) – Universidade do Estado do Pará, Belém: PA, 2009.

VASCONCELLOS, Mário. ROCHA, Gilberto de Miranda. VASCONCELLOS, Ana


Maria de A. Gestão Participativa e Parceria para o Desenvolvimento Local. Belém:
Edufpa, 2009.

VERSCHOORE, Jorge R.S; BALESTRIN, Alsones. Redes de Cooperação


Empresarial: Estratégias de Gestão na Nova Economia. Porto Alegre: Artmed
Editora, 2008.

VERSCHOORE, Jorge R.S. Redes de Cooperação Interorganizacionais:


AIdentificação dos atributos e benefícios para um modelo de gestão. Tese de
Doutorado (Doutorado em Administração). Universidade Federal de Porto Alegre,
2006.

VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de Pesquisa em Administração. São Paulo:


Atlas, 2008.
101

ANEXOS

ANEXO A - PERGUNTAS DA ENTREVISTA

1) Em que contexto ocorreu o surgimento / nascimento do PCA – Programa Cordas


da Amazônia – dentro da Universidade Federal do Pará?
2) Qual foi a cultura organizacional percebida na UFPA / EMUFPA na época em
que o PCA ficou em evidência?
3) Qual o interesse do MEC / MINC no PCA? Posso chamar o MEC / MINC de um
parceiro do PCA?
4) Qual o interesse da UFPA no PCA? Posso chamar a UFPA de uma parceira do
PCA?
5) Quais são as bolsas que o Programa Cordas da Amazônia recebem do MEC
atualmente?
6) Qual o interesse da EMUFPA no PCA? Posso chamar a EMUFPA de uma
parceira do PCA?
7) Quem são os atuais patrocinadores do programa? Posso chamá-los de parceiros
do PCA?
8) Os veículos de comunicação que vocês usam como FACEBOOK, ORKUT,
YOUTUBE, TWITER, qual a força que eles têm? De que forma essa tecnologia é
parceira do PCA?
9) Falando em mães e pais de alunos, eles são considerados parceiros do programa?
Por quê?
10) Quanto aos alunos, por que eles dedicam seu tempo ao PCA?
11) E sobre os pesquisadores? Quantos são? Eles são seus parceiros por quê?
12) E quanto aos professores da EMUFPA, é observado um estabelecimento de
parceria?
13) Como essa rede de cooperação que envolve o programa poderia ser fortalecida?
102

ANEXO B

FOTOS QUE APRESENTAM O OBJETO DE PESQUISA: PCA

Figura 9 Figura 10

Figura 11 Figura 12

Figuras 9, 10 e 11: Alunos dos pólos Cremação, Bengui e Jurunas em apresentação no


Theatro da Paz.

Figuras 12: Equipe de pesquisadores voluntários do PCA.


103

Figura13 Figura 14

Figura 13 - Coordenador do programa juntamente com os músicos da AYCC, e Marcio


Garcia no Gente Inocente (2001).

Figura 14- Publicação de matéria sobre a Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas


da Amazônia, no Jornal holandês De Volkskrant sobre a turnê Holanda, em 2004.

Figura 15 Figura 16

Figura 15 - Banda Madame Saatan e Orquestra de Violoncelistas da Amazônia no


Teatro da Paz em 2007.

Figura16 - Juliana Sinimbú e Orquestra de Violoncelistas da Amazônia no Teatro da


Paz.
104

Figura 17 Figura 18

Figura 17 – Orquestra em show em cima do trio elétrico, no ENARTE 2009.


Figura 18 – Prof. Dr. Áureo DeFreitas em performance no Theatro da Paz.

Figura 19 Figura 20

Figura 19 – Orquestra em apresentação na Praça da República, em 2010.


Figura 20 – Orquestra em apresentação no evento Conexão Vivo, em 2010.
105

Figura 21 Figura 22

Figura 21 – Orquestra de Violoncelistas da Amazônia em show no Cidade Folia, em


2010, para o evento Fest Music.
Figura 22 – Orquestra em show no evento ENARTE Flutuante, em 2010.

Figura 23 Figura 24

Figura 23 – Balsa do ENARTE Flutuante, 2010.


Figura 24 – O gestor do PCA, juntamente com o coordenador da DIS, na Conferência
Mundial de Educadores Musicais, em Pequim, 2010.
106

Figura 25 – O gestor do PCA, juntamente com sua equipe de músicos, em Pequim,


2010.

Figura 26 – Orquestra de Violoncelistas da Amazônia em show realizado em Pequim,


ano de 2010. O grupo paraense foi o representante o único brasileiro nesta conferência
mundial.

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