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8 Renascimento, Reforma

e Contrarreforma

1 Afresco é um tipo de pintura mural em que as cores


são diluídas em água e aplicadas sobre um reves-
timento de argamassa ou gesso ainda fresco. Tem
grande durabilidade.
2 Resposta pessoal. Professor: se julgar oportuno, leve
para a sala de aula – ou oriente uma pesquisa em
livros e na internet – da vida e obra de Michelange-
lo. São exemplos de obras do artista, as esculturas
Davi, Pietà, Moisés, a Tumba da Família Médici, entre
outras, e as pinturas, Sagrada Família, Papa Julio II,
entre outras.
5 Professor: valorizar o detalhamento da descrição,
da proporção, da composição das figuras, das alego-
rias, os simbolismo
simbolismos,
s, a forma e a cor.
cor.

6 Professor: anote no quadro de giz as suposições dos
alunos para serem retomadas ao final do estudo des-
te capítulo.

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O que você vai aprender
ƒƒ O Humanismo
ƒƒ O Renascimento
ƒƒ A Reforma protestante
ƒƒ A Contrarreforma

Pense nisto
A imagem ao lado é um detalhe de um imenso
afresco pintado entre 1508 e 1512, no teto da Ca-
pela Sistina, no Vaticano, Itália (confira, na pági-
na 226, a reprodução desse afresco inteiro).
1 Você sabe o que é um afresco? 1
2 Michelangelo foi um dos principais representan-
tes das artes plásticas do Renascimento. Você
conhece outras obras desse artista? Quais? 2
3 Esse afresco representa uma passagem do
Gênesis, o primeiro livro do Antigo Testa-
mento, que faz parte da Bíblia. Você sabe
que passagem é essa? A Criação de Adão.
4 Observe as duas personagens principais re-
tratadas. Quem são elas? Deus e Adão.
5 Descreva como essas personagens foram re-
tratadas pelo artista. Mencione a expressão
do rosto, onde elas estão, se estão acompa-
nhadas e por quem, como estão posiciona-
das e como são seus movimentos. 5
6 O trabalho desse imenso afresco levou qua-
se cinco anos para ser completado. Além de
gigantesca (ocupa todo o teto da Capela), a
obra é altamente sofisticada, sob o ponto
de vista da técnica e da expressão artística.
Considerando o período em que ela foi feita,
converse com os colegas: 6
a) Quem vocês acham que poderia financiar
esse tipo de trabalho artístico?
Resposta pessoal.

b) Onde os artistas buscavam inspiração para


criar tais obras de arte? Resposta pessoal.
c) Comparada à expressão artística da Idade
Média, vocês diriam que a obra de Michelan-
gelo reflete uma mudança no modo de ser e
de pensar? Justifiquem. Resposta pessoal.

A expansão do comércio e das cidades na Europa levou ao


fortalecimento e à ascensão da burguesia. As transformações
econômicas, políticas e sociais provocaram mudanças na
visão que as pessoas tinham do mundo. Essa nova percepção
da realidade caracterizou o Renascimento e deu origem a
movimentos como a Reforma protestante.

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1 Asmundo
O sociedades
do Renascimento
da Mesopotêmia

Nos séculos XIV e XV as transformações sociais,


políticas e econômicas que vinham ocorrendo na Europa
desencadearam o surgimento de novas maneiras de
O retratO: O indivíduO entender e explicar o mundo. Artistas, poetas, sábios e
em evidência
intelectuais revolucionaram a arte e a ciência a partir
das cidades italianas e flamengas, recuperando antigos
saberes da Antiguidade clássica e introduzindo novos
valores como base da cultura Ocidental.

Intensas dinâmicas
Os últimos séculos da Baixa Idade Média foram marcados
pelos esforços de centralização do poder político em várias
regiões da Europa, pelo desenvolvimento das cidades, pela
dinamização dos mercados e pelo nascimento de uma nova
Retrato do papa Clemente VII.
Óleo de Sebastiano del Piombo, categoria social. Chamada de burguesia essa nova categoria
1526. Museo e Gallerie Nazionale di originou-se do desenvolvimento da atividade comercial, tor-
Capodimonte, Nápoles, Itália.
nando-se aos poucos a maior empreendedora da circulação
A valorização do indivíduo de produtos e moeda em toda a área do mar Mediterrâneo,
estimulou a proliferação Europa central e do norte.
dos retratos na época do
Renascimento. Burgueses Cidades tornaram-se o ponto de referência em toda a Eu-
enriquecidos, nobres, reis ropa, ligadas por rotas marítimas e terrestres por onde tam-
e autoridades eclesiásticas bém circulavam, além das mercadorias e produtos, notícias e
fizeram-se retratar em roupas ideias. Tudo isso fez aumentar o apego aos valores materiais
elegantes ou acompanhados
de objetos que indicavam
e a capacidade de transformação da vida concreta e da natu-
opulência e posição social. reza, contribuindo para a superação dos medos que acompa-
nharam o homem medieval por vários séculos.
Os contatos mais intensos entre Ocidente e Oriente e as
novas terras encontradas aumentavam as trocas culturais, so-
ciais e econômicas entre os povos de diversas partes do mun-
do. Assim, novos conhecimentos e informações sobre lugares
diferentes estimularam a curiosidade e a reflexão sobre todos
os aspectos da existência humana. Descobertas, invenções e
inovações técnicas transformavam o cotidiano das pessoas,
criando oportunidades de produção e de negócios que benefi-
ciariam uma parcela da população europeia.
Desde o início do século XV o conhecimento da natureza
O nascimento de Vênus, tela pintada
por Sandro Botticelli (1446-1510), uma
tornou-se um dos principais interesses dos sábios e intelec-
encomenda dos Médici para decorar tuais. As plantas e animais, os astros, a geografia das novas
o palácio da família, em Florença. A
obra foi inspirada na mitologia greco-
terras e até mesmo o corpo humano passaram a ser o foco das
-romana. Galleria degli Uffizi, Florença, preocupações. Grande parte dos conhecimentos era desenvol-
Itália.
vida de forma clandestina e pouco divulgada, pois a tradição
da Igreja e de parte das elites políticas considerava os estudos
baseados na experiência e na observação como métodos que
não respeitavam os princípios da fé católica.

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A Antiguidade clássica: uma fonte de elOgiO à lOucura
inspiração e de renovação Um dos principais
No século XIV diversos estudiosos europeus passaram a pensadores do humanismo
foi o holandês Erasmo de
questionar o ensino oferecido nas universidades medievais. Rotterdam (1469-1536).
Baseado em métodos tradicionais, esse ensino limitava o co- Ordenado padre, abdicou
nhecimento do pensamento da Antiguidade clássica — Gré- cedo do sacerdócio, tendo
se tornado professor de
cia e Roma — às traduções feitas durante a Idade Média. Mui- grego na Universidade
tas dessas traduções apresentavam distorções ou faziam uma de Oxford, na Inglaterra.
interpretação livre do conhecimento clássico. Sua obra mais conhecida,
Elogio à loucura, defende a
Esses estudiosos, chamados humanistas, no entanto, liberdade de pensamento
não rejeitavam o pensamento medieval religioso. Suas críti- e critica o clero católico.
cas eram dirigidas, sobretudo, ao modo como os autores da Por causa disso, Erasmo de
Rotterdam
Idade Média interpretavam os textos da Antiguidade, adap- chegou
tando-os aos ensinamentos bíblicos e às crenças e norma da a ser
Igreja católica. O pensamento grego entendia que o homem perseguido
— e não Deus — era a medida de todas as coisas, máxima e teve seus
escritos
que passaria a ser usada também pelos humanistas a partir proibidos
do século XIV. pela Igreja
Apesar disso, é importante lembrar que até o século XVII católica.
nenhum europeu ousaria duvidar da existência de Deus. Os
humanistas não eram ateus, apenas defendiam o estudo das
obras da Antiguidade em suas versões originais. Mas isso
exigiria deles o conhecimento do grego e do latim. Retrato de Erasmo de Rotterdam.
Museu do Louvre, Paris, França.
Pensadores gregos
Um dos elementos fundamentais para esse processo de
mudança de atitude foi a presença de pensadores árabes
na região do Mediterrâneo, sul da península Itálica e da
península Ibérica, tais como: Averróis (1126-1198), mé- conhecimento
para quem?
dico e filósofo de origem árabe nascido em Córdoba, co- No Renascimento, o
mentador de Aristóteles, e Avicenas (979-1037) médico e acesso aos textos origi-
filósofo persa, um dos homens mais célebres de sua época, nais clássicos e as novas
também chamado o príncipe dos médicos. traduções permitiram aos
poetas, artistas e filósofos
Na cultura árabe havia homens que sempre leram nos humanistas inaugurar uma
originais os textos clássicos dos gregos Platão e Aristóte- nova visão de mundo. Suas
les, entre outros, e traduziram esses textos para o idioma ideias passaram a ser deba-
tidas e aprofundadas nas
deles. Ao se comparar essas traduções com aquelas feitas Universidades e dissemina-
pelos monges das ordens cristãs medievais descobriu-se das entre seus alunos. m
que havia muitas imprecisões, fato que contribuiu infini- ƒ Discuta com os colegas
tamente para que os humanistas julgassem fundamental sobre a importância em
terem acesso direto às fontes clássicas. se conhecer os textos
dos historiadores para
O Humanismo se disseminou rapidamente pela Europa, se debater e aprofundar
a partir do século XIV, chegando às Universidades. Nelas, o temas históricos, usando
pensamento humanista era debatido e aprofundado pelos o espaço da escola e a
orientação do professor
professores. Posteriormente suas ideias eram transmitidas para se chegar a essa
aos alunos. compreensão.

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M O Renascimento: conceito e significados
A ideia de retomada da cultura greco-romana deu origem
ao termo Renascimento para designar a produção artística e
cultural dos grandes centros urbanos europeus entre os sécu-
los XIV e XVI.
No século XIX o termo passou a denominar uma época
histórica, e o seu sentido foi também ampliado. Desde então,
aquela época passou a ser consagrada como o berço do pensa-
mento moderno ocidental, a ruptura com a visão de mundo
da Idade Média, a vitória da razão e da natureza sobre a fé, a
reabilitação do paganismo e, ao mesmo tempo, a descoberta
do homem e do mundo pelo próprio homem.
Os artistas e sábios do Renascimento, por sua vez, idea­
O túmulo dos Médici foi desenhado
e esculpido entre 1521 e 1534 por lizavam a Antiguidade greco-romana e a tomavam como um
Michelangelo, cuja formação artística modelo a ser seguido. Ao acreditarem que estavam imitando
ocorreu no ateliê mantido por Lorenzo
de Médici. No centro, seguindo os um mundo perfeito, os homens do Renascimento estavam, na
padrões da arte greco-romana, o verdade, criando uma nova visão de mundo. Neste fato reside a
príncipe florentino é representado
sentado, pensativo. Abaixo, deitados a
grande contribuição dos Humanistas, ou seja, inventaram um
seus pés, personagens representando a mundo novo, pensando que estavam seguindo um modelo.
Alvorada e o Anoitecer.
1 Movimento intelectual que, a partir do século XIV,
passou a questionar os métodos tradicionais de Origens e difusão da cultura do Renascimento
ensino nas universidades medievais europeias. Os
humanistas criticavam o fato de terem acesso ape-
nas aos textos dos filósofos e políticos da Antigui-
Durante a Baixa Idade Média, as cidades da península Itálica
dade, traduzidos por membros da cúpula da Igreja
católica e, por isso mesmo, cheios de interpreta-
e do norte da Europa, por causa da intensificação das dinâmi-
ções segundo os dogmas da religião. cas mercantis, prosperaram e se desenvolveram. Na península
2 Inspiravam-se no conhecimento produzido na An-
tiguidade greco-romana. Itálica, as cidades que se destacaram economicamente eram,
3 Os artistas e sábios que inciaram esse movimento in-
telectual na Europa idealizavam a Antiguidade gre-
sobretudo, Veneza, Gênova, Florença, e Nápoles, enquanto
co-romana e defendiam que aquele era um modelo a
ser seguido. E, pensando que estavam seguindo um
na região da Flandres e dos Países Baixos, Bruges, Antuérpia e
modelo, acabaram inventando um mundo novo. Amsterdã. Nessas cidades, famílias de comerciantes e banquei-
4 Com a prosperidade do comércio e das atividades
financeiras, as cidades de Veneza, Florença, Gê- ros acumularam enormes fortunas e tornaram-se uma elite eco-
nova e Antuérpia tornaram-se os centros econô-
micos europeus. Os burgueses, príncipes e papas nômica graças à intensificação do uso de moe­das, empréstimos
decidiram embelezar suas cidades, construir palá-
cios, patrocinar artistas e intelectuais como forma e contratos de circulação de mercadorias difundidos em função
de ostentar poder e riqueza.
5 Burgueses ricos que financiavam artistas para que
do crescimento das rotas de comércio e das navegações.
produzissem obras de arte para serem expostas em
suas luxuosas residências ou em edifícios religiosos. Para afirmar-se socialmente e obter prestígio diante das
nobrezas tradicionais e do clero, essa nova elite passou a fi-
Verifique o que aprendeu
nanciar também grandes obras de arquitetura e pintura. As-
1. O que foi o Humanismo? sim como as famílias nobres, a nova elite encomendava dos
2. Em que modelos os artistas obras para serem expostas em palácios e edifícios reli-
humanistas buscavam giosos como meio de difundir o nome da família, sua riqueza
inspiração?
e seu poder. Muitas vezes assumiam a proteção e as despe-
3. Por que a época histórica
que compreendeu os
sas integrais desses artistas para tê-los permanentemente a
séculos XIV e XV na seu serviço e em sua companhia, tal como faziam o papa, os
Europa recebeu o nome cardeais e bispos mais renomados, e também os reis, condes
de Renascimento? e duques, tradicionais protetores da arte em suas cortes ur-
4. Por que o Renascimento banas. Essa prática bastante difundida de financiamento da
floresceu nas cidades
da península Itálica e do arte ficou conhecida como mecenato, e àquele que o pratica
norte da Europa? deu-se o nome de mecenas. Em Florença, por exemplo, uma
5. Quem eram os mecenas? das mais poderosas famílias da época era a dos Médici, que
possuía grandes mecenas.

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Atividades

1 Leia o seguinte texto.


O duque Frederico, que em seu tempo foi a luz da Itália [...] nós podemos igualá-lo aos
grandes homens da Antiguidade. Este duque [...] edificou na cidade de Urbino um palácio,
segundo a opinião de muitos, o mais belo da Itália. Ele não o decorou somente com peças
comuns como vasos de prata, tapeçarias de seda bordadas a ouro [...] para ornamentá-lo
colocou uma infinidade de estátuas antigas de mármore e bronze, de pinturas originais,
instrumentos de música, e não havia nada que não fosse raro e excelente.
Baldassare Castiglione. O livro do cortesão. Veneza, 1528. In: World Book Encyclopaedia. Toronto, 1984. p. 284.

a) Como o texto apresenta o duque Frederico?


O duque Frederico era um grande homem, igualável às grandes personagens da Antiguidade.
b) O que fez o duque Frederico para ser descrito assim? Com quais objetivos o du­
Financiou a construção de grandes e belas obras na cidade de Urbino. Para afirmar­se
que realizou tais feitos? socialmente e obter prestígio diante das nobrezas tradicionais e do clero.
c) Considerando o que você estudou neste módulo, em que contexto histórico a
personagem descrita no texto acima se enquadra? No contexto do Renascimento.
2 Leia o texto a seguir e responda às questões.
M

Na Idade Média, só a estrita necessidade justificava o acesso aos livros e à própria alfabe-
tização. O humanismo significou uma reviravolta na economia política da leitura, criando
não apenas uma oferta de novos tipos de livros (a saber, os antigos, agora redescobertos),
como também de novas maneiras de lê-los. Os príncipes já não recebiam mais sua instru-
ção exclusivamente dos clérigos, e a literatura da Antiguidade continha inúmeras instru-
ções úteis aos governantes e comandantes de exércitos. [...]
Colecionar livros raros e importantes e organizá-los em bibliotecas é uma constante na vida
desses homens. Podemos perceber, a partir daí, que a própria natureza dos livros e da leitura
passava por um processo de mudança radical. A construção de bibliotecas é a melhor expres-
são disso. De repente tornou-se importante reunir muitos livros num só lugar, tornando-os aces-
síveis não apenas aos amigos, à família, a artistas e protegidos, mas também ao público [...]
Matthew Battles. A conturbada história das bibliotecas. São Paulo: Planeta, 2003. p 74-75.

a) Segundo o texto, qual a importância dos livros para as mudanças que levaram ao
O Humanismo ampliou a oferta de livros e inaugurou também uma nova maneira de lê­los. Mais pessoas tiveram aces­
Renascimento? so à essas escrituras. A instrução dos príncipes já não era necessariamente feita pelos clérigos e a literatura da Anti­
guidade continha inúmeras instruções úteis aos governantes e comandantes de exércitos.
b) Como você explica o grande interesse dos membros das elites urbanas do Renas­
A partir desse momento todas as pessoas que queriam conhecer, também queriam possuir
cimento em colecionar livros? livros para poderem ler em sua própria casa, algo impensado nos tempos medievais.
c) Com base na leitura do texto acima e também no estudo deste módulo, converse
com um colega qual seria a ligação entre mercado, livros e poder? Anotem suas
conclusões no caderno. Resposta pessoal. Professor: oriente a discussão para que os
alunos possam chegar à resposta que a questão pede.
3 Faça uma discussão com um grupo de colegas sobre a relação entre os seguintes
aspectos do Humanismo: alfabetização, conhecimento, livros, artistas. 3 3 Professor: oriente a dis­
cussão incentivando­os
4 Junte­se
Junte a alguns colegas e formem grupos. Vocês vão pesquisar como se produz a buscar as informações
no conteúdo deste mó­
arte nos dias de hoje e como os artistas fazem para financiar suas produções. dulo. Organize uma roda
de conversa e cuide para
Sigam estas orientações: que todos possam ex­
M • Elaborem um roteiro para o trabalho. Para isso, vocês devem aguardar as orien­
pressar suas opiniões a
respeito desse tema.
tações do professor. Professor: oriente os grupos para a pesquisa.
• Combinem uma data para a apresentação dos trabalhos. Nesse dia, todos os
grupos irão mostrar para o restante da turma suas descobertas. Lembrem­se,
portanto, que o trabalho deve ser feito de forma organizada, objetivando sua
apresentação.
• Ao final, conversem sobre a realização do trabalho: o que foi mais interessante e
produtivo, o que não deu tão certo, como resolveram as dificuldades, etc.

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2 Uma nova visão do mundo

As transformações ocorridas entre os séculos XIV


e XV deram nova dinâmica à vida dos europeus, com o
desenvolvimento de novas mentalidades e formas de
O desenvOlvimentO expressão artística e intelectual.
da impressãO
No Ocidente, as primeiras
m
A imprensa e a difusão do
impressões em série foram pensamento humanista
feitas no século XIV, com a
técnica da xilografia. Imagens O pensamento humanista difundiu-se rapidamente. Nas
e palavras eram talhadas universidades, mestres e estudiosos se encontravam para
em madeira e carimbadas trocar experiências e debater suas ideias.
com tinta em folhas papel,
introduzido na Europa pelos
Embora a vontade de saber e de aprender fosse intensa, o
árabes no século XII. clima não era de liberdade total, pois havia muito medo por
Na segunda metade do século parte das elites tradicionais, o clero e as velhas nobrezas, de que
XV, os alemães Johann as novidades do pensamento moderno ameaçassem os pilares
Gutenberg e Johann Fust do conhecimento que imperava nos ambientes eruditos da Eu-
desenvolveram os tipos
móveis em metal e, com eles,
ropa cristã. Assim como as práticas orais eram muito utilizadas
a tipografia. Letras fundidas por esses novos pensadores, tais como aulas, palestras e ser-
em metal eram combinadas mões, também a escrita tornou-se um meio de difusão privi-
numa forma, uma a uma, legiado, pois era por meio dela que ideias podiam chegar onde
compondo o texto a ser seus autores jamais iriam.
impresso.
O primeiro livro a sair do
A invenção da imprensa foi uma das técnicas fundamentais
ateliê de Gutenberg foi a nesse momento, facilitando a reprodução de textos em muitos
Bíblia, em 1455. exemplares idênticos, algo absolutamente novo no campo da
cultura escrita ocidental.
Desenvolvida na Alemanha por Johann Gutenberg, a im-
prensa favoreceu a fixação das línguas nacionais — também
chamadas vernáculas. Inicialmente publicada em latim, aos
poucos as traduções passaram a ter grande aceitação entre as
elites não religiosas. A partir do final
do século XV, novos autores surgiram
e escreveram obras em italiano, fran-
cês, inglês, português e espanhol, en-
tre outras.
Durante o Renascimento, era cos-
tume uma pessoa letrada ler textos
para aqueles que não conheciam a
leitura. Entre os mais populares esta-
vam as anedotas, os provérbios e as
profecias. Já entre aqueles que ocu-
pavam posições privilegiadas na so-
ciedade, liam-se textos mais técnicos
ou profissionais, relatos de viagem,
Elaborada no início do século XX, esta gravura procura reproduzir a rotina de novelas e textos da Antiguidade tra-
Gutenberg em sua oficina, em meados do século XV. duzidos para as línguas nacionais.

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Conhecimento do mundo e
contestação dos saberes
Teorias e ideias que ameaçassem os dogmas religiosos
eram censuradas, e seus autores, perseguidos. Entretanto, a
resistência da Igreja não foi suficiente para impedir a renova-
ção no pensamento. Este passou a ser orientado pela razão,
pela análise crítica e pelo método experimental. A partir
de então, o Universo e a natureza começaram a ser entendi- a terra gira em
dos como sistemas lógicos e racionais. tOrnO dO sOl
O filósofo e cientista
Giordano Bruno nasceu em
Os novos saberes Nápoles, em 1548. Em seus
O monge polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) cons- estudos, interessou-se pela
truiu e defendeu a teoria heliocêntrica, segundo a qual o filosofia do grego Platão
Sol era o centro do Universo. Questionava assim, a teoria e pelas concepções pagãs
sobre o Universo. Defendeu
geocêntrica, sustentada pela Igreja e inspirada no pensamen- a teoria heliocêntrica de
to do grego Ptolomeu, que considerava a Terra como o centro Copérnico e enfrentou
do Universo. Por temer a repressão eclesiástica, o tratado de a Igreja, afirmando que
Copérnico somente foi publicado após sua morte. o Sistema Solar era
apenas um entre muitos,
Vários anos depois, as ideias de Copérnico foram retoma- espalhados por um universo
das e desenvolvidas por outros pensadores, como o alemão infinito. Foi condenado
Johannes Kepler (1571-1628) e o italiano Galileu Galilei à morte por heresia e
(1564-1642). Kepler provou que a órbita dos planetas não era queimado vivo em fevereiro
de 1600.
circular como se pensava, mas elíptica. Galileu, que era seu
contemporâneo, levantou uma série de evidências em favor
do heliocentrismo e concluiu que a Terra se movia, ao con-
trário do que defendia a Igreja. Para não ter o mesmo destino
que seu contemporâneo Giordano Bruno, Galileu retratou-se
publicamente, tendo continuado seus estudos em segredo.
Também os estudos da medicina e da anatomia desenvol-
veram-se bastante nos séculos XIV a XVI, apesar dos impedi-
mentos e censuras. Os sábios queriam entender o funciona-
mento do corpo humano e as doenças que o acometiam. No
século XVI, alguns médicos, como o belga Andreas Vesalius
(1514-1564) e o inglês Willian
Harvey (1578-1657), ba-
searam-se em estudos de
anatomia feitos em ca-
dáveres e em cálculos
matemáticos — uma
novidade na medici-
na — para provarem
suas teorias.

O modelo geocêntrico de Ptolomeu. O modelo heliocêntrico de Copérnico.

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Verifique o que aprendeu Pensar e transformar o mundo
1. Quais eram os princípios Um dos aspectos mais importantes decorrente do pen-
do pensamento científico samento renascentista é o da polêmica entre fé e razão.
no Renascimento? Embora as coisas não se colocassem nesses termos entre os
2. Que teoria Nicolau séculos XIV e XVI, com o passar do tempo essa questão foi fi-
Copérnico defendeu? cando mais evidente, já que muitos autores, ao questionarem
3. Os pensadores os métodos do conhecimento medieval baseado na tradição
concordavam com a
filosofia medieval que bíblica, estavam inventando uma nova maneira de pensar a
buscava conciliar fé e natureza, o homem e até mesmo a sua relação com a fé, a par-
razão? Explique. tir da observação sistemática dos fenômenos naturais e das
1 A razão, a análise crítica e o método expe- sociedades humanas. Embora cada vez mais os humanistas
rimental. fizessem uso do pensamento lógico e racional, o termo racio-
2 Nicolau Copérnico defendeu a teoria helio-
cêntrica, segundo a qual o Sol era o centro nalismo não aparecia no vocabulário deles.
do Universo.
3 Não. Os pensadores entendiam o conhe-
Com a difusão dessas novas concepções alguns pensado-
cimento como algo desvinculado da reli-
gião.
res propuseram novas maneiras de pensar as sociedades hu-
manas, dentre eles podemos destacar Francis Bacon (1561-
1626), que entendia que os estudos não podiam ter um fim
em si mesmos, e sim uma aplicação prática na realidade. Ou-
tro pensador do período que merece destaque foi Michel de
Montaigne (1533-1592), talvez o primeiro a questionar a
existência de uma natureza humana universal e a refletir so-
bre a singularidade do indivíduo. Em seus Ensaios, Montaig-
ne deixava o pensamento fluir com liberdade, arriscando a
elaboração de novas ideias e exteriorizando suas experiências
pessoais e seus sentimentos.
M A nova face da política
Nicolau Maquiavel nasceu na cidade italiana de Florença
em 1469, onde também morreu em 1527. Sua vida foi total-
mente dedicada ao conhecimento e às atividades político-mili-
tares, tendo atuado ao lado de diversos expoentes do poder da
época. Autor de uma das obras mais conhecidas do pensamen-
to mundial, O Príncipe, escrita em 1513 e publicada em 1532,
após sua morte, e foi dedicada a Lourenzo de Médici. Nessa
obra Maquiavel procurou mostrar que não existe uma fórmula
infalível para o exercício do bom governo. Este, muitas vezes
exige a tomada de decisões moralmente condenáveis, mas es-
trategicamente necessárias, ou seja, preferindo a prática no
lugar da ética. Com isso, se evitariam os males maiores. Essa
ideia está presente na máxima “os fins justificam os meios”,
muito utilizada por diversos governantes até os dias de hoje.
Na mesma época, o inglês Thomas Morus (1478-1535) to-
mou um caminho diferente de Maquiavel. Em seu livro Utopia,
de 1516, imaginou uma ilha onde todas as pessoas vivessem em
harmonia, orientando suas vidas de maneira justa e prática, em
favor do bem comum.
A sociedade ideal proposta por Morus, inspirada pelo mode-
Xilogravura de Ambrosius Holbein de
1518, para o livro Utopia,
lo político apresentado pelo filósofo grego Platão em A Repúbli-
de Thomas Morus. ca, era apresentada como o oposto da Inglaterra do século XVI.

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Atividades
1a Para o homem renascentista, todas as coisas poderiam ser compreendidas dentro de um sistema lógico e racional que ressal-
tavam a capacidade de pensar dos indivíduos.
1 Leia a afirmação de Nicolau de Cusa (século XV).

O Senhor tudo criou com conta, peso e medida.


Jean Delumeau. A civilização do Renascimento. Volume II. Lisboa: Estampa, 1984. p. 149.

a) Por que essa afirmação traduz a mentalidade do homem renascentista? 1a


b) Explique, por meio da afirmação acima, como a mentalidade renascentista podia
ser aplicada ao comércio e aos bancos em expansão na época.
O comércio e os bancos eram administrados de forma racional e utilizando cálculos matemáticos.
matemáticos.

2 No Renascimento, o conhecimento passava por um
m longo processo de mudança, sendo o resultado da
experiência prática. Animais selvagens, como
o rinoceronte, eram desconhecidos ou muito
pouco vistos até o século XVI. A maioria das
pessoas pensava que eram seres mitológicos
ou fantásticos. A pintura e o desenho era uma
forma de registrar as plantas e os animais, já
que não era possível conhecer todas as espé-
cies existentes no mundo.
a) Relacione a imagem ao conteúdo da
legenda. Qual é a relação existente entre o
conhecimento da natureza e a representação A obra Rinoceronte foi criada pelo artista alemão Albrecht Dürer
do Rinoceronte de Dürer? 2a em 1515. Apesar de o artista ter conseguido representar um
rinoceronte de maneira fiel, Dürer jamais vira um rinoceronte.
b) Apresente algumas suposições que poderiam A figura acima foi baseada em descrições de viajantes e em um
explicar o interesse dos monarcas e dos papas esboço feito por um desenhista português quando, naquele mesmo
ano, um rinoceronte e um elefante foram trazidos da Índia para
por
possuírem
animais
exóticos.
Assim como monarcas e Lisboa. Desde o Império Romano, não se via um rinoceronte na
papas financiavam obras de artistas, pintores e arquitetos, além de colecionarem
Europa e, por ser tão raro, o animal despertou grande curiosidade.
livros e obras de arte também gostavam dos animais exóticos e selvagens.
3 Leia o poema abaixo e responda.
2a No Renascimento, a pintura e o desenho foram
Anatomia do mundo - 1611 os responsáveis pela difusão de imagens que
A nova filosofia coloca tudo em dúvida remetiam a lugares distantes, objetos de inte-
resse dos sábios e estudiosos que inauguravam
[...] a partir daí uma nova visão de mundo, mais ra-
cional e lógica, em contraposição com o que se
Os homens confessam espontaneamente pensava na Idade Média a respeito da criação e
das criaturas do mundo. No caso do rinoceron-
Que este mundo está acabado, te do rei de Portugal, sua fama espalhou-se por
enquanto nos planetas e no firmamento toda a Europa e vários os artistas ficaram muito
curiosos por conhecê-lo, mesmo que fosse atra-
muitos procuram o novo. E veem que o mundo vés do desenho realista, como este de Dürer.
está despedaçado mesmo em seus átomos. 3b Trata das transformações que ocorreram sobre
o conhecimento do mundo, abalando as certe-
Tudo cai aos pedaços, toda coerência desapareceu, zas existentes no período anterior ao huma-
nismo. O poema traduz a inquietação causada
toda justa providência, toda relação: por aquela nova visão de mundo, inaugurada na
príncipe, súdito, pai, filho são coisas esquecidas, época do Renascimento.

porque cada homem pensa ter conseguido, sozinho,


ser uma Fênix...
John Donne (1573-1631). In. Paolo Rossi. O nascimento da ciência moderna na Europa. Trad. Antonio Angonese.
Bauru: Edusc, 2001. p.128.

m a) Em dupla, conversem sobre o conteúdo do poema e o porquê do nome “Anatomia


do mundo”. Anatomia é o estudo minucioso das partes do corpo, feito a partir da separação dessas partes. O título, nesse
caso, simboliza um mundo que estava sendo dissecado, passando então a ser visto sob outra perspectiva.
b) Qual é o tema central do poema do escritor inglês John Donne? Como vocês
relacionam o conteúdo do poema ao Renascimento? 3b
c) Segundo o autor, o que a substituição da “velha filosofia” pela “nova filosofia”
provocava no mundo, no tempo em que ele viveu?
Na visão do autor, o novo provocava a desestabilização de todas as coisas; as ordens da natureza e dos poderes estavam alteradas, invertidas,
e isto significava a perda dos valores mais importantes. O pensamento “velho” estava despedaçado, a coerência desapareceu, as velhas hierar-
quias estavam esquecidas. O novo estava agora em cada ser humano que renascia sozinho simbolizado pela fênix que é o pássaro que renasce
das suas próprias cinzas. Para Donne, a dúvida significava o novo, o renascimento do indivíduo capaz de pensar.
221

04.03.09 18:09:59
3 A produção cultural
renascentista
No início da época Moderna, o acúmulo de riqueza e a
expansão do comércio nas principais cidades da Europa,
sobretudo na Itália, contribuiu para a renovação urbana e
para o desenvolvimento das artes e da literatura.

sOb a PersPectiva
As cidades renascentistas
de brunelleschi As principais vias de circulação das cidades foram alarga-
Uma das descobertas mais das para facilitar o fluxo crescente de pessoas e mercadorias.
relevantes do Renascimento Portos e sistemas de distribuição de água foram reformados.
foi a da perspectiva, feita Antigos prédios tiveram suas fachadas remodeladas e orna-
pelo florentino Filippo
Brunelleschi (1377-1446). Isso mentadas com elementos decorativos inspirados na arquite-
não significa que os artistas tura greco-romana. Edifícios suntuosos foram construídos
da Antiguidade e da Idade para abrigar associações de artesãos e comerciantes.
Média desconhecessem as
técnicas de profundidade
para pintarem suas obras.
Contudo, Brunelleschi
inventou uma maneira de
reproduzir a profundidade
em desenhos arquitetônicos
que lhe permitia encontrar a
proporção exata da distância
e do tamanho das figuras
dentro de uma cena, algo
praticamente impossível de
se calcular a olho nu.
Filho de um escrivão de
documentos públicos,
Brunelleschi tornou-se
ourives muito jovem e
dedicou-se, além dessa arte,
à arquitetura, à pintura e ao
desenho.

O palácio Strozzi, em Florença, foi encomendado pelo rico banqueiro Felippo Strozzi,
no final do século XV, para concorrer com o palácio dos Médici, outra família de ricos
burgueses florentinos.

Governantes e ricos comerciantes financiaram para si a


construção de belíssimos palácios. Os espaços destinados à
habitação sofisticaram-se, tornando-se prova material da ri-
queza e do poder de seus proprietários.
Cúpula da igreja de San Lorenzo,
No interior dessas habitações, multiplicaram-se os cômodos
em Florença, planejada por destinados a funções específicas, como o descanso de seus mora-
Brunelleschi em 1421.
dores, as reuniões sociais, a leitura ou o trabalho. Salões arejados
e espaçosos valorizavam o conforto dos moradores. Colunas, ca-
pitéis e frontões distinguiam as residências dos indivíduos mais
importantes e ricos dos demais imóveis da cidade.

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As artes plásticas
Os pintores e escultores do Renascimento procuravam re-
produzir o ideal clássico de beleza. Assim, inspirados pelos O gênio de Leonardo
gregos e romanos da Antiguidade, buscavam nas suas compo-
sições artísticas a harmonia das proporções e o equilíbrio.
Para conseguir uma reprodução naturalista do homem e do
mundo, os artistas desse período também se esforçaram para
conferir movimento às suas obras e exprimir nelas os senti-
mentos humanos.
Embora a arte tenha sido sempre um dos elementos funda-
mentais da cultura europeia, a partir do século XIV, com as dis-
putas entre as cidades italianas, muitos artistas se destacaram
por inovarem nas técnicas e formas de representar. Costuma-
-se atribuir a inauguração dessa nova época ao pintor floren-
tino Giotto di Bondone (1266-1337), cuja fama correu em
toda a península por ter criado afrescos que representavam a
vida de Cristo de modo muito realista. Giotto foi o recriador do
volume dos elementos na pintura, através de técnicas de dese- Para criar figuras humanas
naturais como as da obra Virgem
nho e cor ele conseguia dar às imagens uma forma dramática e e o menino com Sant’Anna (1508),
realista, algo que estava em desuso há mais de mil anos. Outro Leonardo da Vinci desenvolveu a
técnica do sfumato. A sobreposição
caso mais tardio foi o flamengo Jan van Eyck (1390-1441) que de várias camadas de tinta
descobriu a tinta a óleo, conseguindo produzir grande varieda- produzia uma textura semelhante à
da pele humana.
de de cores e matizes em seus quadros. Museu do Louvre, Paris.
Quanto à escultura, tornou-se uma arte independente da
arquitetura. As obras passaram a valorizar as formas huma- No Renascimento,
o conhecimento não era
nas, inclusive com a multiplicação das representações de cor- compartimentado em áreas
pos nus e seminus. Os corpos e as faces ganharam expressão independentes como é hoje.
e movimento. Assim, artistas e pensadores
debruçaram-se com o
Em todas as esfe­ras, a arte renascentista representou mesmo interesse sobre os
uma grande variedade de temas, que iam das cenas mitoló- diversos campos do saber.
gicas às passagens bíblicas, passando pelos retratos e episó- Talvez Leonardo da
dios históricos. Vinci (1452-1519) seja o
melhor representante do
espírito da época. Dono
de um temperamento
inquieto, Leonardo foi um
pesquisador incansável,
buscando sempre soluções
originais para os problemas
que encontrava. Só para
citar alguns exemplos,
dominava conhecimentos
de química, anatomia,
matemática, óptica e
geometria.

A Pietà (1498-99), de Michelangelo (1475-1564), representa Cristo morto no colo de


Maria e expressa a dor, muito humana, de uma mãe que acaba de perder seu filho.
Basílica de São Pedro, Vaticano, Itália.

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1 O acúmulo de riquezas obtido com o comércio foi aplicado na modernização das cidades, na construção de suntuosos edifícios, no alargamento das
ruas, etc. Além de melhorar o fluxo de pessoas e de mercadorias, a modernização das cidades era um sinal da prosperidade dos comerciantes e dos go-
vernantes que ali viviam e que queriam demonstrar sua riqueza e poder.

O POvO cOmO herói


A literatura e as línguas nacionais
A literatura renascentista também se baseou nas obras
dos autores gregos e romanos e retomou os gêneros da li-
teratura clássica. Assim, seguiu os modelos dos poemas
épicos, da poesia lírica, da tragédia e da comédia.
Contudo, a literatura do Renascimento também inovou ao
explorar as particularidades das línguas nacionais em formação
e a realidade política, cultural e histórica de cada região ou país.
Dante Alighieri (1265-1321), por exemplo, explorou a
Retrato de Luís Vaz de Camões, de sonoridade do italiano ao criar os versos do poema épico A di-
1581. O olho cego foi consequência
de um ferimento numa luta contra
vina comédia, no qual se imagina sendo conduzido do Inferno
os árabes, na época em que serviu o ao Paraíso pelas mãos de Virgílio, para, finalmente, encontrar
exército português. a salvação junto à bela Beatriz.
Luís Vaz de Camões nasceu O poeta italiano Francesco
em Lisboa, por volta de 1524.
Apesar de sua linhagem
Petrarca (1304-1374) foi con-
nobre, era pobre e estudou siderado o pai do Humanis-
Humanis
graças à proteção do tio, prior mo porque foi o primeiro
do mosteiro de Santa Cruz. escritor a valorizar o estudo
Ainda jovem foi exilado por das obras gregas e latinas
causa de uma briga de rua
e passou dezessete anos da Antiguidade. Foi tam-
viajando pelos continentes bém o primeiro a qualifi-
africano e asiático. Durante car a Idade Média como uma
esse tempo, começou a
escrever Os lusíadas, uma
época de “trevas”. Fez muitas
narrativa poética cujo grande viagens pela península Itálica e
herói é o povo português, também pela Europa, visitando
representado pelos bibliotecas e monumentos
navegantes que, para
a glória de seu rei, enfrentam antigos. Nos lugares por
monstros míticos e toda onde passou manteve
sorte de perigos durante uma contato com várias famí-
viagem ao Oriente. lias de nobres italianos e
Dedicado ao rei dom
Sebastião, Os lusíadas foi Retrato de Petrarca, século XVI. Galleria Sabauda,
com os mais importantes
publicado em 1572. Apesar Turim, Itália. intelectuais da época em
da pensão que o monarca que viveu. Escreveu poemas em italiano e, ao lado de Dan-
lhe concedeu como prêmio, te e de outros poetas da região da Toscana, ele contribuiu
Camões morreu miserável,
por volta de 1580. para o aprimoramento do idioma italiano. Em seus escritos,
Petrarca exaltava a grandeza da natureza humana. Como re-
conhecimento público da grandiosidade de sua obra, o poeta
Verifique o que aprendeu Petrarca recebeu uma coroa de louros, em 1341. A cerimônia,
muito corriqueira na Antiguidade, teria sido celebrada pela
1. Por que as cidades primeira vez no século XIV.
renascentistas se
modernizaram e se O espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) explorou a
sofisticaram no início da realidade espanhola ao escrever Dom Quixote de la Mancha, uma
época Moderna? sátira à sociedade feudal. Desde a sua publicação em 1640, Dom
2. Quem foi Leonardo da Quixote de La Mancha já foi traduzido para diversas línguas e es-
Vinci?
tima-se que, depois da Bíblia, seja o livro mais lido no mundo.
3. Cite exemplos de
representantes da O inglês William Shakespeare (1564-1618) escreveu pe-
literatura renascentista. ças de teatro, como Romeu e Julieta e Hamlet, que ainda hoje
são encenadas em todo o mundo.
2 Foi um gênio que viveu na época do Renascimento, na península Itálica. Leonardo talvez seja o melhor representante dessa época por atuar, ao
mesmo tempo, nas mais diferentes áreas do conhecimento e das artes.
3 Dante Alighieri, Petrarca, William Shakespeare, Luís Vaz de Camões, entre outros.
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1d Resposta pessoal. Professor: ajude os alunos no reconhecimento desses detalhes. Veja por exemplo, se houve uma tentativa em reproduzir a profundi-
dade do quadro, as feições perfeitas, o equilíbrio entre as cores, etc. Considere também que o desenho do aluno poderá ter sido somente inspirado no
quadro da Mona Lisa, sem necessariamente reproduzir qualquer elemento que remeta ao Renascimento. Mesmo neste caso, espera-se que o aluno seja
capaz de argumentar por que sua produção não faz referência à época de Leonardo da Vinci.

Atividades
1b Professor: acompanhe atentamente a produção dos alunos procurando orientá-los quando for solicitado.
1 A imagem ao lado, uma repro-
dução da obra La Gioconda, de
Leonardo da Vinci, está exposta
no Museu do Louvre, em Paris,
França. Essa tela foi pintada entre
1502 e 1506 e é popularmente co-
nhecida pelo nome de Mona Lisa.
a) Em dupla, conversem sobre a
tela de Da Vinci. O que mais
chamou a atenção de vocês
nessa obra? Resposta pessoal.
M b) Crie um desenho com sua pró-
pria versão da Mona Lisa. 1b
c) Registre no caderno o que você
valorizou da pintura de Leonar-
do da Vinci, para criar o seu de-
senho. Resposta pessoal.
d) Em sua opinião, o desenho
que você criou tem influência
das pinturas da época do Re-
nascimento? Justifique sua
resposta. 1d
e) Em dupla, observem atenta-
mente a imagem da Mona Lisa,
procurando identificar quais
elementos poderiam servir de
exemplos para se definir uma
O ideal clássi-
pintura renascentista. co de beleza,
a harmonia das proporções, o desenho em perspectiva, o uso da técnica do sfumato são respostas possíveis.
2 Além de se dedicar à pintura, Leonardo da Vinci também tinha outros interesses no
campo do saber.
a) Pesquise informações sobre em quais áreas do conhecimento ele atuou e regis-
tre suas descobertas no caderno. conhecimentos
Leonardo da Vinci era um pesquisador incansável e, além das artes plásticas, ele dominava
de anatomia, matemática, química, óptica, geometria, entre outras.
b) Escreva um texto procurando explicar por que Leonardo da Vinci é considerado
o maior representante da época do Renascimento. 2b 2b Professor: espera-se
que o aluno reconheça
3 A frase a seguir faz parte da obra Vidas de Dante e Petrarca, escrita por Leonardo em Leonardo um au-
têntico representante
Bruni, em 1436. Leia-a e responda o que se pede. do Renascimento por
causa da diversidade
de interesses e de ta-
lentos que se manifes-
[Petrarca] foi o primeiro a possuir bastante graça e gênio para poder distinguir e eviden- tava nele. No Renasci-
ciar a antiga elegância do estilo [de escrever] [...] mento, o conhecimento
não estava comparti-
mentado em áreas dis-
Leonardo Bruni. Vidas de Dante e Petrarca, 1436. In: Jean Delumeau. A civilização do renascimento. Volume 1. tintas, como está atual-
Lisboa: Estampa, 1984. p. 85. mente.

a) Do que trata a frase? Do estilo elegante de escrever de Petrarca.


b) A obra de Leonardo Bruni se refere a Dante e a Petrarca. Quem foram essas
personalidades? Otambém
italiano Dante Alighieri, autor do poema épico A divina comédia, e Francesco Petrarca, escritor
italiano são considerados os precursores da Humanismo.
c) Considerando o que você estudou neste capítulo, o que Petrarca e Dante Alighie-
ri tinham em comum?
Foram contemporâneos, eram italianos e a alta qualidade de seus escritos contribuiu para aprimorar o idioma italiano.

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Arte renascentista
A produção artística das cidades tas exibirem certas características em
italianas e do norte da Europa entre o comum, como a inspiração em mo-
final do século XIII e o início do século delos greco-romanos e a valorização
XVI é marcada por uma enorme diver- das formas e sentimentos humanos, é
sidade de estilos. possível distinguir estilos muito dife-
Essa diversidade é resultado do fato rentes em seu conjunto.
de cada artista ter buscado imprimir ao A busca de individualidade foi afirma-
seu trabalho características particula- da também pela prática de os artistas as-
res, que os diferenciassem dos outros. sinarem suas obras, deixando uma marca
Assim, apesar de as obras renascentis- inconfundível de sua personalidade.

Quem visita a Capela Sistina, no Vaticano, em


Roma, fica fascinado diante da obra monumental de
Michelangelo, o afresco que cobre o teto da capela.
Feita entre os anos 1508 e 1512, a obra retrata cenas
e personagens do Antigo Testamento em centenas
de figuras ricamente detalhadas.

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Detalhe de A última ceia (1495-97), pintada por Leonardo da Vinci e exposta no
convento Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália. A obra foi feita na parede do
refeitório do convento, simulando uma extensão do pavimento. Nela, da Vinci
experimentou uma nova técnica de pintura de afrescos, desenvolvida por ele.
Contudo, a técnica apresentou resultados decepcionantes: em pouco tempo a
pintura começou a rachar e a soltar-se da parede.

Na arte renascentista
flamenga, Pieter
Brueghel, o Velho
(1525?-1569) merece
destaque. Brueghel
gostava muito de pintar
paisagens e cenas do
cotidiano popular. Em
O casamento camponês,
de 1568, podemos
encontrar um exemplo
da forma um tanto
caricata e cômica,
às vezes grotesca,
como o pintor retrata
as figuras humanas.
Kunsthistorisches
Museum, Viena, Áustria.

Atividades
1 Observe a imagem da página 226 e leia a legenda. Compare-a com a imagem de
abertura deste capítulo. Use seus conhecimentos sobre o assunto e responda.
Esse afresco foi pintado por Michelangelo no teto da Capela Sistina, no Vaticano e é composto de
a) Por que essa obra é tão detalhada? pintura
cenas que contam a criação do mundo, segundo a Bíblia. A riqueza em detalhes e é um traço da
renascentista, que se inspirava na Antiguidade clássica.
b) Qual é a relação entre as duas imagens?
A imagem de abertura é um detalhe (uma cena) do afresco como um todo, representado na imagem da página 226
2 Troque ideias com um colega sobre as duas pinturas desta página.
a) Na opinião da dupla, o que cada uma das cenas representa?
Cada uma das cenas representa um banquete.
b) O que há em comum entre as duas cenas e no que elas são diferentes?
Excluindo o fato de as duas cenas retratarem banquetes, as duas cenas são bem diferentes. Enquanto a obra de Leonardo da Vinci representa
a última ceia de Jesus Cristo com seus apóstolos, a obra de Brueghel representa um casamento camponês. Na primeira, nota-se a profundida-
de do quadro e a riqueza de detalhes dos personagens, um tanto austeros. Já a segunda, tem um caráter mais alegre, retratando uma cena do
cotidiano popular. 227

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Rafael Sanzio
(1483-1520). Na tela A
sagrada família (c. 1506)
foram utilizadas as
técnicas de perspectiva e
volume. Maria (à direita)
e Isabel sentadas têm
no colo seus filhos Jesus
e São João Batista,
respectivamente, sob o
olhar atento de São José.
Alte Pinakothek, Munique,
Alemanha.

Nessa obra de 1434, denominada O casal Arnolfini, o


flamengo Jan van Eyck (1390-1441) retrata o rico comerciante
Giovanni di Nicolao Arnolfini no quarto conjugal, ao lado
de sua esposa. No fundo do cômodo, vemos um espelho
que reflete a imagem invertida do casal e de mais duas
personagens que estariam “fora” do quadro (possivelmente,
uma delas é o próprio pintor). Para os críticos, o cachorro
aos pés da jovem esposa é um símbolo de fidelidade, e a
vela acesa no castiçal, em plena luz do dia, está associada à
presença do Divino Espírito Santo.
National Gallery, Londres, Inglaterra.

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Giotto di Bondone (1267-1337) é considerado um dos precursores da arte
renascentista. Embora ainda se mantivesse restrito aos temas religiosos,
tão característicos da arte medieval, valoriza em suas obras o aspecto
humano e a individualidade das personagens, buscando representá-las
de maneira mais naturalista, como neste mural, intitulado São Francisco
renunciando a todas as posses mundanas, 1297-1299.
Exposto na Igreja de S. Francisco, Assisi, Itália.

Atividades
1 Sobre as duas imagens da página 228, procure decifrar:
a) O que mais chama a sua atenção nelas?
Resposta pessoal. Professor: incentive os alunos a buscar aspectos interessantes nas imagens.
b) Quais são os pontos em comum entre as duas pinturas?
Ambas retratam cenas de famílias. A obra de Sanzio representa a Sagrada Família, tendo, portanto, um caráter religioso. A obra de Jan van Eyck retrata um casal burguês.
2 Descreva a imagem desta página, feita por Giotto. Considerando as informações da
legenda, que mensagem o artista quis comunicar quando criou essa obra?
Trata-se de uma cena de rua, com várias personagens religiosas. Uma delas representa São Francisco renunciando às coisas materiais da vida.
Giotto valorizou, nesta obra, o aspecto humano e a individualidade das personagens, retratando-as de maneira naturalista.
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41 AsReforma
A sociedades
protestante
da Mesopotêmia

A propagação das ideias humanistas provocou


a igreja abalada crises na relação dos fiéis com a Igreja católica. Vários
No final da Idade Média, apesar dogmas religiosos foram contestados e críticas foram
de seu enorme poder, a Igreja feitas à riqueza e à corrupção do clero. Em toda a
enfrentou muitos problemas, Europa, líderes religiosos pregavam novas ideias e
como uma longa cisão no
papado, o desentendimento
exigiam a reforma da Igreja. Recebiam o apoio de reis
entre o clero secular e o e príncipes que, interessados em diminuir o poder da
regular, e denúncias de padres
regular Igreja, ajudaram a fundar novas religiões.
corruptos. Principalmente
no campo, o baixo clero A Igreja contestada
mostrava-se despreparado
para orientar a comunidade No final da Idade Média começaram a despontar líderes reli-
cristã, justamente quando giosos, geralmente membros da própria Igreja, que propunham
acontecimentos, como a reformas nas práticas e dogmas católicos.
peste, o avanço turco no
Oriente e as sucessivas crises
No século XIV, o sacerdote e professor de teologia inglês John
de fome faziam aumentar Wycliffe criticou a riqueza acumulada pela Igreja e seu envolvi-
nos fiéis o medo do Juízo mento em assuntos não religiosos. Questionou a autoridade do
Final e a preocupação com a papa, defendeu publicamente uma revolta camponesa e colocou
salvação de suas almas. Sem em dúvida o dogma católico segundo o qual, durante a missa, o
conhecer as Escrituras, muitos
fiéis criavam sua própria
pão e o vinho são transformados no corpo e sangue de Cristo.
versão do cristianismo, Foi o responsável pela primeira tradução da Bíblia para o inglês.
proliferando as heresias. Acusado de heresia, desafiou os tribunais eclesiásticos e só
não foi condenado à morte porque morreu antes.
A reverência de São Francisco De origem camponesa, o também sacerdote e professor tche-
pela Natureza e suas críticas
ao alto clero colocaram-no co Jan Huss defendeu, no século XV, a ideia de que a presença
muito perto de ser condenado de intermediários entre seres humanos e Deus era dispensável.
por heresia.
Detalhe da tela de Huss lutou pela realização do culto religioso nas línguas nacio-
El Greco, São nais, argumentando que assim ele poderia ser compreendido
Francisco
recebendo o
pelos fiéis que, na maioria das vezes, não falavam o latim. Foi crí-
Stigmata, tico feroz da venda de indulgências e do envolvimento dos papas
século XVI.
em questões políticas. Por causa disso indispôs-se com o papa e
foi condenado à morte em uma fogueira por heresia.

PerdãO à venda
Uma das maiores críticas à Igreja referia-se à
venda de indulgências.
A indulgência era o perdão do pecado. Geral-
mente, o fiel a recebia do padre depois de se con-
fessar e cumprir uma penitência. Porém, para ter-
minar a construção da basílica de São Pedro, o papa
Leão X determinou que a concessão da indulgência
ficasse condicionada a uma doação em dinheiro à
Xilogravura de c. 1530, por Jorg Breu (c. 1475-1537).
Igreja. Essa atitude provocou uma onda de indigna-
A imagem retrata fiéis pagando pelas indulgências. ção e de protestos.

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A Reforma Luterana
O monge alemão Martinho Lutero (1483-1546) sempre
manifestou grande preocupação com a salvação da alma. Ao Origem dO termO
longo de seus estudos, concluiu que nada do que o ser huma- PrOtestante
no fizesse poderia lhe garantir o perdão divino e que apenas Em 1529, a decisão da Igreja
de banir Lutero do Sacro
a verdadeira fé seria capaz de atrair a graça de Deus. Por isso,
Império Germânico, apoiada
atacou a ideia de que a Igreja poderia conceder a salvação aos por Carlos V, despertou
fiéis, opondo-se à venda de indulgências. protestos violentos de seis
Em 31 de outubro de 1517, Lutero pregou na porta da igre- príncipes e catorze cidades
alemãs. Desde então,
ja de Wittenberg 95 teses. Entre outras coisas, as teses dis-
os adeptos das religiões
cutiam a autoridade do papa e defendiam a aceitação apenas reformadas passaram
da Bíblia como fonte de fé. Também rejeitavam a adoração de a ser conhecidos como
símbolos religiosos, os santos e boa parte dos sacramentos. protestantes.
A oposição do papa Leão X a várias das propostas de Lute- Martinho
ro deu início a um confronto que acabou com a excomunhão Lutero, por
Lucas Cranach
do monge. Contudo, sob proteção do príncipe Frederico da (1472-1553), o
Saxônia, Lutero continuou suas atividades, traduzindo a Bí- Bí Velho, 1529.
Museu Poldi
blia para o alemão e escrevendo trabalhos de teologia. A di- Pezzoli,
fusão de suas ideias, para outras regiões da Europa, como a Milão, Itália
dos Países Baixos, França e Suíça, fez eclodir o movimento
religioso que terminou numa ruptura entre a Igreja católica e
parte da comunidade cristã.
O apoio a Lutero
No século XVI, a Alemanha ainda não era um país, mas um glOssáriO
conjunto de principados e cidades submetido à autoridade do Clero secular e regular: o
imperador Carlos V, que era apoiado pela Igreja católica. clero secular era formado por
padres e bispos, que viviam
Para a nobreza alemã, romper com o papa significava en- em contato constante com o
fraquecer o imperador e aumentar o próprio poder. Além dis- mundo leigo, acompanhando
so, os príncipes pensavam em se apossar dos bens da Igreja. sua rotina. Já o clero regular
Também a burguesia e o povo viam nesse rompimento uma era formado pelos frades e
monges, que viviam fechados
chance de diminuírem os impostos que eram obrigados a pa- em mosteiros ou conventos,
gar. Assim, quando foi punido pelo papa, Lutero contou com sujeitos a regras especiais.
a proteção dos príncipes alemães e o apoio da população.

luterO e a insurreiçãO camPOnesa


Em 1525, o pastor Thomas Müntzer, um seguidor radi-
cal de Lutero, liderou os camponeses alemães numa
rebelião contra seus senhores. Em suas reivindicações, os
rebeldes misturavam questões religiosas — como a liber-
dade para escolherem seus pastores — e sociais — como a
abolição da servidão e a diminuição dos impostos.
Lutero, que defendia a manutenção da ordem social
e da hierarquia estabelecida, apoiou a repressão aos
revoltosos.

Cerca de cinco mil pessoas morreram na Alemanha, em 1525, e Thomas


Müntzer acabou preso, torturado e decapitado. Ao lado, representação de
Thomas Müntzer, óleo sobre tela do artista R. Weibezohl, de 1832.

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A Reforma se alastra
Entre as correntes protestantes que surgiram com base
nas ideias de Lutero, destaca-se o calvinismo, resultado das
pregações de João Calvino (1509-1564) na França.
O calvinismo, como o luteranismo, rejeitava a autoridade
do papa, os santos e a maioria dos sacramentos. Defendia que
somente por meio da Bíblia os fiéis podiam conhecer a palavra
divina e que a relação do homem com Deus não necessitava
da intermediação do padre. Também dizia que apenas a fé sal-
vava, mas pregava que as pessoas já nasciam predestinadas
ao Céu ou ao Inferno. Assim, nenhuma ação humana poderia
mudar uma decisão divina, que permanecia como mistério.
A dúvida sobre o que Deus havia decidido para cada um era
Henrique VIII por Hans Hoebein, o Moço muito angustiante. Por isso, os seguidores de Calvino preocu-
(1497-1593). Óleo sobre madeira, 1536-7. param-se em identificar algum sinal de que estavam predesti-
nados à salvação. Como o trabalho árduo e a vida regrada e sem
1 Indulgência era o perdão concedido pelo
papa ao fiel pelos pecados cometidos.
ostentação dos calvinistas favoreciam o enriquecimento, logo o
2 A corrupção do clero e a incapacidade da sucesso material passou a ser visto como sinal de salvação.
Igreja católica em adaptar seus rituais e
dogmas às mudanças da época.
3 O sucesso material proveniente do traba-
A Reforma na Inglaterra: Henrique VIII
lho e do esforço pessoal.
Na Inglaterra, a Reforma protestante não envolveu re-
Verifique o que aprendeu ligiosos. O movimento foi liderado pelo rei Henrique VIII
1. O que eram indulgências? (1509-1547), que desejava se livrar da interferên­cia do pa-
2. Identifique duas razões pado em seu governo.
para a eclosão da Reforma Alegando a necessidade de gerar um herdeiro para o tro-
protestante na Europa do no, o rei solicitou ao papa a anulação de seu casamento com
século XVI.
Catarina de Aragão, com quem não tinha filhos homens.
3. O que os calvinistas
consideravam como sinal Diante da recusa do papa, o rei decidiu romper com a Igreja
de salvação da alma? de Roma. Para isso, fez com que o Parlamento inglês aprovas-
se o Ato de Supremacia (1534). Por meio dele, o rei se tornava
o chefe único e supremo da
A divisão religiosa da Europa (século NORUEGA XVI) Igreja na Inglaterra. Henri-
ESCÓCIA
SUÉCIA
que VIII então divorciou-se
MAR DO DINAMARCA
MAR
BÁLTICO
e se casou com Ana Bolena.
IRLANDA NORTE
Pouco tempo depois, o
INGLATERRA PAÍSES
BAIXOS SACRO Wittenberg rei dissolveu mosteiros e
IMPÉRIO
ROMANO confiscou as propriedades e
GERMÂNICO
OCEANO
terras da Igreja católica.
ATLÂNTICO EUROPA A nova Igreja, denomina-
FRANÇA SUÍÇA
Genebra
da anglicana, apresentava
MAR
poucas diferenças em relação
NEGRO ao catolicismo. Praticamen-
PORTUGAL
ESPANHA
Roma Legenda te, limitava-se a rejeitar a
Católicos
autoridade do papa e modifi-
Luteranos

Calvinistas
car parte da liturgia católica.
MAR MEDITERRÂNEO
0 360
Anglicanos O soberano inglês passava a
ÁFRICA km
ser o chefe supremo da Igreja
Fonte: Atlas da história do mundo. São Paulo: Folha de S. Paulo, 1995. p. 179. anglicana.

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Atividades
1b Não. Sendo ele monge, mostra seu descontentamento com as ideias de Wycliffe os padres seculares, chamando-os de “heréticos”, julga-os
usando expressões do tipo: “conclusões erradas”, “insinuavam seus erros”, ideias “absurdas” e “palavras venenosas”.
1 Leia o trecho abaixo do livro História da Inglaterra, escrito pelo monge inglês Tho-
mas Walsingham, no século XV.
4 Tanto Calvino como Lutero rejeitavam a autoridade do
papa, a adoração aos santos e vários dos sacramentos ca-
tólicos. Defendiam que somente por meio da Bíblia os fi-
Nesse tempo surgiu na Universidade de Oxford éis poderiam conhecer a palavra divina e por meio dela é
que o indivíduo poderia estabelecer uma relação direta e
[Inglaterra] um homem do Norte chamado mestre pessoal com Deus. A ideia de que só a fé salva também é
John Wycliffe. Era um secular na teologia. Sustentava característica dos dois líderes, mas, para Calvino, as pesso-
as já nascem predestinadas ao Céu ou ao Inferno. Para os
publicamente, nas escolas e fora delas, conclusões calvinistas, o sinal da salvação da alma seria a obtenção de
erradas e heréticas, contrárias ao estatuto da igreja sucesso material na vida terrena.

universal e absurdas, principalmente contra os mon-


ges e outros religiosos, semeando palavras veneno- Glossário
sas. Para melhor espalhar a sua heresia e apresentá-la Herético: aquilo que se
sob cores atraentes, agrupou em redor de si [...] com- desvia dos ensinamentos e
panheiros e associados de sua seita, quer morado-
morado das concepções aceitos como
res de Oxford quer fora, vestidos de burel em sinal verdadeiros pela Igreja ou que
de maior perfeição, descalços, e insinuavam os seus os distorce, propositadamente
erros ao povo e pregavam-nos abertamente nos seus ser
ser- ou não.
mões. Burel: hábito de frade feito com
tecido grosseiro, geralmente
Gustavo de Freitas. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, preto ou marrom.
1977. p. 157.

a) Qual é o tema do texto? As pregações de John Wycliffe, contrariando as regras e os dogmas católicos.
b) O autor do texto faz um relato neutro dos fatos que narra? Explique. 1b
c) Que intenções você considera que o autor pudesse ter ao escrever o texto
acima? A intenção era a de desestimular a difusão de ideias reformistas, preservando a hierarquia e a tradição católicas.
2 Leia o texto a seguir e responda às questões.

Os mesmos sentimentos de hostilidade aos poderes da Igreja cresciam, nos anos que
antecederam a Reforma, na voz das próprias autoridades seculares. O primeiro ponto que
contestaram foram os privilégios e jurisdições a que o estamento clerical aspirava tradicio-
nalmente. Essa objeção muitas vezes se acompanhava de uma tentação, cada vez maior, a
deitar os olhos de cobiça sobre as vastas extensões de terra que, por aquele tempo, eram
propriedade de bom número de comunidades religiosas.
Quentin Skinner. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 339.

a) Segundo o texto, por que as autoridades seculares contestavam?


Contestavam os privilégios e o poder da Igreja.
b) Na prática, qual era o interesse das autoridades seculares?
As terras.
c) Com base no que você estudou neste capítulo, é possível afirmar que membros da
Igreja católica perderam de fato suas propriedades após Reforma? Justifique.
De acordo com o texto, não é possível afirmar que, de fato, eles perderam propriedades, mas se viram ameaçados, certamente.

3 Identifique as principais críticas feitas à Igreja católica. 3 A corrupção, a venda de indulgências, o acúmulo de
riquezas, a proibição do casamento para o clero, entre
outras. Lutero contestava ainda a autoridade do papa,
4 Compare as ideias de Martinho Lutero e João Calvino. 4 a adoração de imagens e dos santos e boa parte dos
sacramentos católicos, explicitadas em suas 95 teses.
5 Levante uma hipótese para explicar por que as ideias reformistas conseguiram
triunfar em várias regiões da Europa, nos séculos XV e XVI, apesar da oposição da
As ideias reformistas triunfaram por causa dos abusos cometidos pela Igreja e
então poderosa Igreja católica. vinham ao encontro da necessidade de certos governantes absolutistas de au-
mentar o poder político.
6 O anglicanismo surgiu de uma desavença entre o rei Henrique VIII da Inglaterra e
o papa da Igreja católica Clemente VII. Levante informações em livros e na internet
sobre essa religião e investigue se ela ainda existe.
Professor: oriente os alunos para esta pesquisa, incentivando-os a considerar aquilo que já sabem sobre o assunto para buscar a
ampliação desse conhecimento.

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5 A Contrarreforma

Diante da propagação das ideias reformistas pela


Europa, a Igreja católica empreendeu um movimento
chamado de Contrarreforma, na tentativa de
reconquistar os fiéis, conter o avanço do protestantismo
e reorganizar o catolicismo.

O Concílio de Trento
Entre 1545 e 1563, o papa Paulo III reuniu os represen-
tantes máximos da Igreja católica em um concílio, realizado
na cidade de Trento, na atual Itália, para discutir as questões
de disciplina religiosa e os dogmas da Igreja.
O Concílio de Trento reafirmou todos os pontos da doutri-
na católica e deixou claro que a Igreja era contrária às propostas
reformistas. Foi reafirmado o livre-arbítrio e, portanto, a ideia de
que os seres humanos são livres para decidir suas ações. Reafir-
maram-se também a autoridade do papa, os sete sacramentos (o
batismo, a crisma, a penitência, a eucaristia, a extrema-unção, a
ordenação sacerdotal e o casamento), o culto à Virgem Maria e
aos santos e a obrigação do clero manter o celibato.
O Concílio também determinou que se publicasse um re-
sumo didático da doutrina católica, o catecismo; e a criação de
seminários, escolas especiais para os sacerdotes, para melho-
rar a formação intelectual e religiosa do clero.

O Concílio de Trento, retratado nessa


pintura do século XVII, de autor
desconhecido, representou a reação
da Igreja católica à expansão do
protestantismo na Europa. Secretaria de
Estado, Vaticano, Itália.

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Inquisição, política e sociedade A Heresia cátara
O Tribunal do Santo Ofício sofreu grandes mudanças a
partir do início do século XV e sobretudo durante o Concí-
lio de Trento. Para conseguir reagir à força dos movimentos
protestantes e reformistas, considerados heresias dentro da
doutrina cristã, o papa contou com o apoio e colaboração das
monarquias europeias que continuavam professando o catoli-
cismo. Assim, os Tribunais do Santo Ofício adquiriram pode-
res de vigilância e punição vinculados às monaquias e aos po-
Iluminura, do século XV, representa
deres políticos. Espanha, Portugal e algumas cidades italianas castigo dos cátaros. Biblioteca
criaram seus próprios tribunais, com autorização papal, no Britânica, Londres.

intuito de impedirem o fortalecimento de heresias dentro de Em 1022, na região francesa


seus domínios, incluindo as novas conquistas ultramarinas. de Orleans, um grupo de
cônegos passou a defender
Os reis de Portugal e Espanha passaram, então, a controlar publicamente ideias
também a fé de seus súditos leigos, graças à existência da Inqui- contrárias aos dogmas
sição, embora as funções e cargos continuassem sendo ocupa- católicos. Os chamados
cátaros acreditavam na
dos pelos membros do clero. Essa aliança poderosa durou mais reencarnação, defendiam uma
de três séculos e conseguiu barrar a entrada de ideias conside- relação direta entre os seres
radas perigosas à fé católica. Os judeus que tinham sido bastan- humanos e Deus e negavam
te tolerados na península Ibérica desde os tempos do Império a Santíssima Trindade.
A ação do grupo propagou-se
Romano também passaram a ser perseguidos pela Inquisição, rapidamente pelo
sendo obrigados a se converterem ao cristianismo, e desde os Landguedoc, no sudeste da
finais do século XV eram chamados de cristãos novos. França, assustando a Igreja,
que, em 1215, no Concílio
Nos outros reinos da Europa onde não havia a Inquisição de Latrão, decidiu pela
também cresceu a intolerância, sendo criadas várias insti- eliminação dos cátaros.
tuições que perseguiam os chamados “desviantes da fé” ou
“infiéis”, além dos judeus, os muçulmanos, as feiticeiras e os
hereges. Foi um tempo de extrema perseguição em todos os
países.
Os livros proibidos
No campo da cultura, um fato muito importante foi a
criação da Censura Inquisitorial, por meio da qual eram con-
trolados os livros com ideias protestantes, contestadoras e
que defendiam a liberdade de interpretação. Muitos filóso-
fos, sábios, físicos e artistas foram censurados e perseguidos
pela Censura Inquisitorial e suas obras incluídas no Índice
dos Livros Proibidos, criado e divulgado a partir da reali-
zação do Concílio de Trento. Os censores do Tribunal liam
tudo o que deveria ser publicado, cortavam partes do texto,
prendiam e interrogavam pessoas que liam os livros estran-
geiros vetados. Alguns dos livros de autores mais célebres do
Humanismo ficaram proibidos durante séculos nas escolas e
universidades católicas, como os de Erasmo de Rotterdam,
Pintura do espanhol Pedro Berruguete
Nicolau Maquiavel, Giordano Bruno, entre outros. Estes li- (1450-1504), c. 1495, representando
vros chegavam clandestinamente aos leitores que eram pre- um auto de fé. Nesses eventos, os
juízes liam a pena dos réus e estes
sos e interrogados como hereges se fossem denunciados por eram punidos diante da comunidade.
algum parente, amigo ou mesmo por um vizinho. Museu do Prado, Madri, Espanha.

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Verifique o que aprendeu A Companhia de Jesus
1. O que foi a A Companhia de Jesus foi fundada em 1534, pelo nobre
Contrarreforma? militar espanhol Inácio de Loyola (1491-1566). Essa ordem re-
2. Cite pelo menos três ligiosa tinha como objetivo difundir o catolicismo pelo mundo,
medidas tomadas pelo mantendo-se o mais fiel possível à doutrina da Igreja.
Concílio de Trento.
Os integrantes da Companhia de Jesus eram os jesuítas.
3. Qual era o papel do
Santo Ofício? Ficaram conhecidos como “soldados de Cristo”, devido à sua
4. Que recurso era permitido dedicação ao trabalho missionário e à estrutura da ordem, ca-
pela Inquisição para racterizada pela obediência à hierarquia e pela disciplina rígi-
conseguir a confissão da, semelhante à organização militar.
dos réus? A prática da tortura.
Os jesuítas tinham elevado grau de instrução e a educação
5. Quem eram os jesuítas?
foi uma das suas atividades principais. Por meio da pregação
6. Qual foi o principal
instrumento de ação da e da catequese, convertiam os povos da América, África e Ásia
Companhia de Jesus? ao catolicismo e convenciam os fiéis a manterem seus laços
A catequese.
1 Conjunto de medidas tomadas pela Igreja com a Igreja.
católica para reafirmar seus princípios e
combater a reforma protestante. Os jesuítas espalharam-se pela Ásia, África e América e es-
2 Reafirmação da doutrina católica, criação
do catecismo e instituição dos seminários. tiveram entre os primeiros colonizadores a pisar em solo ame-
3 Coibir práticas e ideias contrárias à doutri-
na católica. ricano, onde buscaram se aproximar da cultura nativa para de-
5 Eram os religiosos da Companhia de Je-
sus, conhecidos como “soldados de Cris-
senvolver estratégias de conversão dos indígenas à fé católica.
to” por sua disciplina e dedicação missio-
nária à difusão da fé católica.

A arte e a Contrarreforma
O estilo cultural dominante durante o período da Contrarreforma foi o barroco. Nesse
estilo, a religiosidade é o tema central e os sentimentos são expressos de maneira exal-
tada, dramática, comovente, envolvendo emocionalmente as pessoas que viam as obras.
A arte barroca exprimia uma grande angústia relacionada às questões espirituais, como
o pecado, a morte, a salvação da alma. Esse sentimento se traduziu na representação de
figuras sinuosas e retorcidas, muitas vezes mostradas em ângulos incomuns e no uso
exagerado do contraste entre sombra e luz.

Na obra Crucificação de São Pedro, de 1600, A dramaticidade está presente nessa obra
Caravaggio (1571-1610) representa suas personagens de Anthony van Dyck (1599-1641), intitulada A coroação
em ângulos que causam estranhamento e desconforto. de espinhos (1618-1620). Museo do Prado, Madri,
Capela Cerasi, Santa Maria del Popolo, Roma, Itália. Espanha.

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Atividades
1 Resposta pessoal. Professor: acompanhe atentamente a produção dos alunos, incentivando-os a usar os conhecimentos adquiridos
com o estudo do capítulo.
1 Crie uma história sobre uma mulher do século XVI acusada de praticar bruxaria.
Para isso: 1
• Baseie-se no que você estudou neste capítulo.
• Imagine quem era essa mulher e o que ela teria feito para ser vítima dessa
acusação.
• Pense em como teria sido sua prisão, o desenrolar do processo inquisitorial e
o seu desfecho.
Ao final, leia seu texto para um colega e peça sua opinião. Verifique também o que
ele escreveu.
2 Compare o papel da Companhia de Jesus e do Santo Ofício na defesa do catolicismo. 2
3 O estilo artístico da Contrarreforma, cha-
mado de barroco, apresenta as seguintes
características: angústia espiritual, for-
mas retorcidas e contraste de luz e som-
bras. Indique como estes traços estão re-
presentados na tela.
Professor: ajude os alunos a perceber na imagem as
características do estilo barroco, como o Cristo “ilu-
minado”, a luz no rosto da mulher com os braços
para cima, destacando a expressão de angústia, en-
tre outros elementos.

2 Tanto a Companhia de Jesus quanto o Santo Ofí-


cio tinham o objetivo de defender o catolicismo.
Contudo, a Companhia de Jesus reafirmava a fé
católica pela educação e pela pregação. O Santo
Ofício se utilizava de métodos violentos, como a
tortura e a censura, para eliminar opositores da
Igreja ou os não católicos.

Obra de Caravaggio
intitulada A deposição
de Cristo (1602-1604).
Pinacoteca do Vaticano,
Roma, Itália.

4 O texto que segue é parte de um sermão de autoria do padre Antônio Vieira, jesuíta
português que viveu parte de sua vida no Brasil, no século XVII.

Antigamente convertia-se o Mundo, hoje por que se não converte ninguém? Porque hoje
pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras
sem obra são tiros sem bala; atroam, mas não ferem. [...] Por isso Cristo comparou o pre-
gador ao semeador. O pregar que é falar faz-se com a boca; o pregar que é semear, faz-se
com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias
obras. Diz o Evangelho que a palavra de Deus frutificou cento por um. Que quer isto dizer?
Quer dizer que de uma palavra nasceram cem palavras? — Não. Quer dizer que de poucas
palavras nasceram muitas obras.
Padre Antônio Vieira. Sermão da sexagésima. Disponível em: <www.cce.ufsc.br>. Acesso em: 14 nov. 2007.

a) Qual é a mensagem que o sermão pretendia passar aos fiéis?


As pregações não bastam para sustentar o cristianismo, também são necessárias as boas obras.
b) Identifique o ponto da doutrina católica que o sermão reforça.
O sermão reforça a necessidade de o cristão realizar boas obras.
c) De que maneira essa mensagem está relacionada aos objetivos da Contrarreforma?
O sermão propagava a doutrina católica e ainda pregava contra as ideias protestantes.

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Aprender a...
Ler uma planta arquitetônica
Lojas, shopping centers, cinemas, hospitais, repartições públicas, hotéis, edifícios,
viadutos, monumentos, etc. compõem bairros e cidades. Para muitas pessoas, as edi-
ficações são apenas estruturas com paredes e cobertura, portas e janelas, onde pode-
mos nos abrigar da chuva e do frio, guardar nossos pertences, viver com segurança e
privacidade. Para os historiadores, porém, elas são também documentos históricos,
isto é, podem ser fonte de conhecimento histórico.
Uma edificação pode ser analisada por um historiador de muitas maneiras. In-
terpretar a aparência das fachadas, sua decoração, cores e estilo arquitetônico é uma
dessas maneiras. Mas também é possível analisar um edifício estudando a sua planta
arquitetônica.

Planta baixa é o nome específico de um desenho arquitetônico. Trata-se da representa-


ção gráfica que exibe um plano da construção como se fosse visto de cima

Identificação dos dados gerais da construção


Para ler a planta baixa e entender os elementos nela representados, primeiro é preciso
conhecer os dados do edifício: data de construção, a pessoa ou grupo que ordenou ou
pagou pela obra, a função original e o nome do projetista.
A planta arquitetônica abaixo representa o piso térreo Palazzo Chiericati, na Itália.

1 Pesquise a data de construção, a pessoa que encomendou a obra, a função original e o


nome do arquiteto desse palácio. Data da construção: início 1550 e término em 1580. Foi encomendado pelo Conde Giro
Giro--
lamo Chiericati para ser uma residência e projetado pelo arquiteto Andrea Palladio.

Salão principal
Escadas Escadas

Sala para recepção

Entrada
Fonte de pesquisa:
Nexus Network Journal.
Disponível em: <http://
www.emis.de/journals/
Coluna Escadas
NNJ/mitrovic04.html>.
Acesso em: 20 jan. 2009.

Os traços desenhados na planta arquitetônica representam as paredes do edifício. Quan-


do os traços são interrompidos, significa que ali existe um vão que pode representar uma
porta ou uma janela.

Os traços se unem para compor salas, corredores, fachadas (paredes externas), blocos
edificados, dando forma ao edifício representado.

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Após ter observado a planta baixa do andar térreo do Palazzo Chiericati, resolva as
questões.
2 O projeto apresenta elementos simétricos, ou seja, possui uma harmonia resultante do
equilíbrio de partes semelhantes. Indique quais elementos semelhantes aparece em
pares. Escadas, colunas, cômodos laterais e janelas.
3 Localize na planta baixa a representação das colunas. Quantas colunas aparecem na
planta do Palazzo e onde estão? São 24 colunas que aparecem na entrada e no salão principal.
4 As colunas foram muito usadas nas construções gregas e romanas, mas a data da plan-
ta indica outro período histórico. Qual é o estilo artístico desenvolvido no século XVI que
apresenta padrões arquitetônicos inspirados em modelos de Antiguidade clássica? O Renascimento.
5 Sem conhecer as dimensões do desenho, mas comparando as áreas representadas, res-
ponda: trata-se de um local para grandes recepções, festas ou outro agrupamento so-
cial? Justifique. Sim, pois há grandes salas.
6 Quem poderia custear esse tipo de construção? Pessoas ricas, pobres ou o governo?
Pessoas ricas ou o governo.

Finalização da leitura
7 Escreva um parágrafo sobre o Palazzo de Chiericati. Mencione: sua localização, o estilo
adotado em sua construção e outros elementos que a leitura da planta baixa revelou.
Resposta pessoal. Professor: acompanhe as produções escritas dos alunos, orientando-os a buscar as informações nos tópicos anteriores.

Fachada do Palazzo Chiericati, Vicenza, Itália. Fotografia de 2006.

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Dossiê

A história das boas maneiras


As regras de boas maneiras estão ligadas às relações sociais.
A partir do século XVI, aumentou o interesse em agir de maneira a não incomo-
dar ou ofender as pessoas próximas.
O “bom comportamento” foi lentamente proposto como critério de aceitação so-
cial. À medida que os reis se tornavam importantes, o grupo de cortesões — pessoas
que frequentavam as cortes mas não eram nobres de origem — buscavam copiar os
hábitos que lhe trariam prestígio. Dessa forma, muitas práticas sociais comuns na
Idade Média deixaram de existir.

bastante livre e apenas os excessos eram


desencorajados.
As atitudes consideradas elegantes
normalmente correspondiam aos mo-
dos da nobreza da corte e eram exigidas
apenas quando o indivíduo se encon-
trava na presença de iguais. Diante de
pessoas de condição social inferior ou
quando a sós, era-lhe permitido deixar
os bons modos de lado sem nenhuma
crise de consciência.
Ainda assim, boa parte dos costumes
finos da nobreza europeia nos causaria,
Nos banquetes medievais, as pessoas pegavam a comida
hoje, estranheza, senão desconforto.
com as mãos diretamente da travessa na qual ela era Por exemplo, era considerado muito
servida. Colheres raramente eram usadas, e garfos nem
existiam. O único talher de uso mais comum era a faca, deselegante cumprimentar alguém que
usada também para palitar os dentes e limpar as unhas. estivesse defecando ou urinando, o que
Miniatura do século XIV.
nos leva a deduzir que era relativamente
As regras da boa educação diferem de comum encontrar pessoas se aliviando
um lugar para outro e variam também no pelas ruas ou corredores. Como não era
tempo. No início da Idade Moderna, por hábito usar talheres, os manuais de boas
exemplo, a maneira pela qual os euro- maneiras aconselhavam os comensais a
peus se comportavam em sociedade era não pegarem os alimentos com a mesma
bem diferente daquela de hoje. mão na qual assoavam o nariz, e também
A boa educação era desejável que, durante as refeições,
da nobreza europeia não se escarrasse sobre a mesa, mas sob
Apesar de existirem critérios para di- ela ou em um canto da parede. E, caso
ferenciar os comportamentos elegantes alguém sentisse necessidade de expelir
dos rudes, até o início do século XVI os gases durante o jantar, bastava evitar que
mecanismos de controle sobre a maneira isso fosse feito de modo ruidoso. Alguns
como as pessoas agiam em seu cotidiano manuais chegavam a sugerir que se si-
eram relativamente frouxos. As emoções mulasse um ataque de tosse para disfar-
e os impulsos se manifestavam de forma çar o som dos gases libertados.

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A educação da sensibilidade
Por muito tempo, atos como escarrar,
arrotar, soltar gases e evacuar foram enca-
rados com muita naturalidade pelos nos-
sos antepassados. Por essa razão, não cau-
savam embaraço, sendo realizados sem
segredo, muitas vezes à vista de todos.
Sentimentos como vergonha e constran-
gimento foram se instalando aos poucos,
a partir do século XVI, à medida que cres-
cia a vigilância da sociedade sobre o indi-
víduo e que se impunha um controle cada
vez maior sobre o comportamento. Assim,
certos hábitos e modos foram sendo pro-
gressivamente reprimidos, ao passo que
outros foram incentivados, até que cada
indivíduo tivesse interiorizado tão pro-
fundamente noções de boa e má educação
que acabasse por exigir de si mesmo aten- A postura à mesa passou a ser um diferencial da
ção às regras estabelecidas pela sociedade. burguesia emergente. Pintura do século XV.
Não se tratava mais de temer represálias foi escrita pelo humanista Erasmo de
por desrespeitá-las, mas de sentir-se ver- Rotterdam, no livro A civilidade pueril pu-
dadeiramente mal em não cumpri-las. blicado em 1530.
A educação como forma de controle Depois da publicação dessa obra,
Numa sociedade em que a espon- muitos outros manuais foram escritos e
taneidade passou a ser vista como algo impressos. Contudo, cada vez mais, es-
indesejável, as crianças se tornaram cria- ses manuais foram sendo marcados pelo
turas inconvenientes, uma vez que cos- pudor que passou a dominar a sociedade.
tumam agir orientadas por seus desejos e No século XIX, a sociedade já não precisa-
instintos. Assim, a necessidade de conter va de tantas regras escritas, pois os indi-
os impulsos infantis deu origem a uma víduos, educados para as boas maneiras
educação cada vez mais rígida e extrema- desde pequenos, já não podiam sequer
mente autoritária. sonhar em colocar o dedo nas narinas
Embora ainda livre desse caráter im- ou evacuar em frente aos demais, tão en-
positivo, a primeira obra moderna com vergonhados que se sentiam apenas em
objetivo de orientar os modos infantis imaginar tais gestos.

Discussão sobre o texto


1 Cite alguns exemplos relatados no texto que diferem dos costumes praticados
nos dias de hoje.
Não utilizar talheres durante as refeições, usar faca para limpar os dentes ou as unhas, escarrar sob a mesa, etc.
2 Segundo o texto, qual a origem da educação rígida e autoritária?
A necessidade de conter os impulsos infantis.
3 Descreva alguns hábitos de boas maneiras que são praticados em sua escola.
Resposta pessoal. Professor: incentive os alunos a lembrar das regras de boas maneiras que eles conhecem e prpraticam,
aticam, como
o respeito ao colega, o cuidado com os livros da biblioteca, com o patrimônio da escola, não jogar papel no chão, etc.

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Fazendo História 2 A piedade, nesse caso, é vista por Maquiavel não como compaixão pelo so-
frimento alheio — e é por isso que Maquiavel diz que o príncipe não deve se
importar com a pecha de cruel —, mas como uma qualidade essencial que um
governante deve ter para tomar atitudes, ainda que drásticas, a fim de evitar
que algo maior e mais nocivo possa vir a acontecer com o seu povo. O prín-
O Príncipe, de Maquiavel cipe deve ser, antes tudo, firme em suas decisões, pensando sempre no bem
comum de seus súditos.
Os textos que você vai ler foram retirados do livro O príncipe, escrito pelo pensador florentino
Nicolau Maquiavel em 1513 e publicado em 1532. Nessa obra, Maquiavel defende o poder dos
monarcas. Suas ideias serviram de suporte ideológico para justificar o poder de governantes na
Idade Moderna.
Professor, incentive o uso do dicionário para os alunos pesquisarem o significado de palavras desconhecidas.

Da crueldade e da piedade — se é melhor ser amado


ou temido
[...] Ao príncipe, assim, não deve importar a pecha de cruel
para manter unidos e com fé os seus súditos, pois, com algu-
mas exceções, é ele mais piedoso do que aqueles que, por cle-
mência em demasia, permitem o surgimento de desordens, das
quais podem originar-se assassínios ou rapinagem. Tais conse-
quências são nocivas ao povo inteiro, e as execuções que vêm
do príncipe ofendem somente um indivíduo.[...]
Nicolau Maquiavel. O príncipe: escritos políticos. São Paulo:
Nova Cultural, 1999. p. 105.

Fac-símile do livro O Príncipe. Edição


traduzida para o latim em 1580.

O que um príncipe precisa realizar para ser estimado


Nada promove tanto a estima de um príncipe como as gran-
des empresas e os raros exemplos. Vejamos, em nossa época,
Fernando de Aragão, rei de Espanha. A este príncipe quase se
pode denominar novo, pois, de rei fraco que era, veio a ser, pela
fama e pela glória, o primeiro rei cristão; e, se avaliardes seus
atos, sabereis que todos são elevadíssimos, chegando, alguns,
a extraordinários. Ele atacou Granada no início do reinado, e
essa foi a base de seu Estado. [...] Fernando conquistava então,
naquele meio, fama e autoridade sobre eles, que de tal coisa
não se apercebiam. Com dinheiro da Igreja e do povo, conse-
guiu manter exércitos e, a partir de uma longa guerra, assen-
tar os alicerces de seu próprio renome militar.[...] Ainda sob o
manto da religião, atacou a África; realizou a expedição da Itá-
lia; depois, assaltou a França; e, desse modo, sempre executou
e tramou grandes negócios, que sempre deixaram em suspenso Retrato de Nicolau Maquiavel,
pintado pelo artista florentino Santi
e cheios de admiração os ânimos de seus súditos, empolgados di Tito, século XVI. Óleo sobre tela.
pela espera do êxito final de tais feitos. Palazzo Vecchio, Florença, Itália.

Nicolau Maquiavel. O príncipe: escritos políticos. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 131-132.

1 De acordo com o primeiro texto, por que Maquiavel defende que, antes de ser amado,
um príncipe deve ser temido? importar
Para manter seus súditos unidos e com fé, segundo Maquiavel, um príncipe não deve se
em parecer cruel. Isto evita desordens que trariam consequências nocivas para
todo o seu povo.
2 Comente a frase: “é ele [o Príncipe] mais piedoso do que aqueles que, por clemência em
demasia, permitem o surgimento de desordens...” 2
3 Maquiavel cita o rei Fernando de Aragão, da Espanha, como exemplo de príncipe
novo a ser imitado. Que qualidades esse rei tinha para servir de exemplos aos seus
contemporâneos? Fernando de Aragão, o primeiro rei cristão, de fraco se tornou um governante de grandes ações: sob o man-
to da religião, tomou Granada, atacou a África, invadiu a Itália e a França, sempre executando e tramando
grandes negócios, o que deixava seus súditos empolgados pela espera do êxito final de tais feitos.
4 Como esse rei obteve recursos para custear seus feitos?
Montou exércitos com o dinheiro do povo e da Igreja.

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Lendo História

Antes de ler
ƒ De acordo com determinadas crenças, toda religião apresenta normas e
orientações. Cite uma norma religiosa que você conhece.
Resposta pessoal. Professor: cuide para que no momento da discusão não haja manifestações preconceituosas ou discriminatórias
ƒ Procure no dicionário o significado da palavra ateu. contra qualquer religião. Todas as religiões devem ser res-
peitadas, assim como devem ser respeitados os indivíduos
Pessoa que não crê em Deus.
que não professam nenhuma religião.

A Igreja católica e os hereges


A instauração da repressão contra os grupos que manifesta-
vam sua diversidade, na virada do século XIII, ocorreu num
período de prosperidade, de desenvolvimento urbano e de
sucessos externos para a cristandade. O pontificado romano
estava mais potente do que nunca, apoiado na uniformiza-
ção de crenças e ritos em todo o Ocidente. A monarquia
estava estabelecida tanto na França de São Luís como na
Inglaterra de Henrique III. Nesse contexto, os que fugiam
dos padrões da sociedade não eram bem-vistos.
O acontecimento decisivo foi o IV Concílio de Latrão,
em 1215. Nele legislou-se contra os hereges, redefinindo
claramente o que era preciso para ser considerado um
cristão. Todo fiel deveria frequentar a missa dominical,
confessar-se todos os anos e comungar na Páscoa.
Se havia um caminho, era o que a Igreja definia. Os
que tomassem o caminho conduzido pela Igreja seriam
salvos, fossem ricos ou pobres, nobres ou plebeus. Suas
almas iriam para o paraíso e, no último dia, ressuscitariam.
Os infiéis estavam fora dos limites da comunidade cristã,
mas não eram considerados um problema para a hierarquia Execução de um herege, obra do
eclesiástica, mais preocupada com os judeus e com os hereges. século XV, anônima.
Os judeus eram os únicos não cristãos que viviam no interior da comunidade cristã [...]. Pior
era o herege, porque ele fora cristão e recusou a obediência à Igreja. A heresia era mais do
que tudo vista como um desafio à ordem, tanto a da Igreja quanto a do Estado [...].
A partir do final do século XII, o pontificado se sentiu responsável por uma cristan-
dade unitária. A ausência de ação significaria a indiferença em relação ao outro, seria
levar para o inferno almas que poderiam ter sido salvas com um empurrão. A tolerância
era impensável para os clérigos, porque seria admitir que existem diversas verdades. A
tolerância era apenas, pensavam eles, um outro nome para a indiferença [...].
O objetivo do inquisidor não era matar o herege. Toda fogueira era para ele um fra-
casso. Tratava-se de obter a confissão que dava acesso à misericórdia infinita de Deus e
reintegrar o suspeito na comunidade cristã.
Colette Beaune. Em nome de Deus. Revista História Viva. São Paulo: Duetto, ago. 2004. p. 29-30.
1 No século XIII, as monarquias se fortaleceram com o apoio da Igreja, que também era poderosa. A
De olho no texto Europa passava
passava por
por transformações por conta do crescimento das atividades comerciais e das cida-
des. Essa prosperidade motivou o aparecimento de novos grupos sociais e novos modos de pensar.
pensar.
1 De acordo com a autora, que elementos compunham o contexto europeu do século XIII? 1
2 Nesse contexto, como eram vistos os indivíduos que se comportavam fora dos pa-
3 Os hereges. Eles incomodavam porque não se submetiam à
drões sociais? autoridade da Igreja e se negavam a viver em conformidade
Eram uma ameaça à unidade cristã e à ordem social vigente. com as regras da sociedade a qual pertenciam.
pertenciam.

3 Qual era o grupo que causava maior preocupação à Igreja? Por quê? 3
4 Ao perseguir os hereges, a Igreja tinha como objetivo sua destruição?
Não, ela desejava uniformizá-los e impor suas regras.
5 Qual era a atitude dos clérigos ao perseguir hereges?
Os clérigos consideravam que es
estavam
tavam cumprindo sua obrigação ao defender o reino de Cristo. Ao condenar os hereges, salvariam a
alma deles e assegurariam a vitória de Cristo sobre Satã no dia do Juízo Final.

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1 Em suas pregações, Martinho Lutero condenou os príncipes, bispos e padres pela ex-
ploração dos camponeses e os culpou pela revolta que eclodiu em 1525, sob a liderança
de Thomas Müntzer. Mas em seguida defendeu:
1 Lutero argumenta que a submissão de um ser humano a outro está prevista na Bíblia e corresponde a uma ordem legitimada por Deus.
Assim, não cabe aos seres humanos se levantarem contra uma situação que é da vontade divina, ainda que as considere injusta.

Abrão e outros patriarcas não tinham escravos? Lede o que São Paulo ensina a respeito dos
criados, que nesse tempo eram todos escravos. [...] um reino terreno não pode sobreviver se
não houver nele uma desigualdade de pessoas, de modo que algumas sejam livres, outras pre-
sas, algumas soberanas, outras súditas. Quem usa a espada morrerá pela espada; ainda que os
príncipes sejam malvados ou injustos, nada os autoriza a rebelar-se contra eles.
Fernando Seffner. Da Reforma à Contrarreforma: o cristianismo em crise. São Paulo: Atual, 1993. p. 46.

Qual é o argumento que Lutero usa para condenar as revoltas camponesas? 1


2 Escreva um parágrafo relacionando os termos burguesia, prosperidade e humanismo.
Resposta pessoal. Professor: acompanhe a produção escrita dos alunos, orientando-os a rever o conteúdo do capítulo.
3 Com base no texto a seguir, responda.

Os movimentos da alma se revelam através do movimento do corpo [...] Há movimentos


da alma chamados afeições – dor, alegria, medo, desejo e outros. Há movimentos do corpo:
crescer, encolher, sofrer, sarar, mover-se de um lugar para outro. Nós, pintores, que desejamos
mostrar os movimentos do espírito através de várias partes do corpo, nos referimos somente aos
deslocamentos de um lugar para outro.
Leon Batista Alberti. Opere vol, gari. In: Teresa van Acker. Renascimento e Humanismo: o homem e o mundo europeu do
século XIV ao século XVI. São Paulo: Atual, 1992. p. 51.

a) De acordo com o autor, o que o pintor desejava representar em suas obras e como
pretendia fazê-lo? Opressam:
autor deseja representar os movimentos do espírito por meio dos movimentos do corpo que os ex-
“Os movimentos da alma se revelam através dos movimentos do corpo”.
b) Relacione as ideias do texto ao antropocentrismo que caracterizou a arte renascentista.
Os artistas renacentistas buscavam uma representação perfeita da anatomia humana (corpo) e também dos sentimentos humanos.
O teocentrismo dava lugar, então, ao antropocentrismo; desse modo, o Homem era posto no centro do Universo.

Para saber mais

Livros
Da Reforma à Contrarreforma, de Fernando Seffner.
São Paulo: Atual, 1993
Traz documentos de época relacionando as heresias aos movimentos de contestação religiosa
do século XV.
No tempo de Michelangelo, de Antony Mason.
São Paulo: Callis, 2004.
A biografia do artista é apresentada em paralelo as principais ideias que motivaram e
consolidaram o Renascimento.
O Renascimento, de Graça Proença.
São Paulo: Ática, 1998.
Reproduz importantes obras do Renascimento apontando as principais renovações artísticas
e culturais do período.
Site
<http://www.mnarteantiga-ipmuseus.pt> Site do Museu Nacional de Arte Antiga.
Vasto acervo de obras portuguesas e estrangeira com pinturas que datam desde o século XII.

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Síntese

ƒ O Humanismo inspira-se na Antiguidade


clássica
O mundo do ƒ A renovação do conhecimento
renascimento
ƒ A imprensa difunde o pensamento
humanista

uma nova ƒ A Europa racional e pragmática


visão do mundo ƒ O renascimento científico

a produção ƒ As cidades renascentistas: palácios e riqueza


cultural ƒ As artes plásticas valorizam o ser humano
renascentista ƒ A literatura e a afirmação das línguas nacionais

ƒ A Igreja sofre contestações


a reforma ƒ A reforma de Martinho Lutero
protestante
ƒ A reforma se alastra: o calvinismo e o anglicanismo

ƒ O Concílio de Trento e a reação da Igreja católica


a contrar- ƒ Criação dos seminários e o catecismo
-reforma ƒ A Inquisição
ƒ A atuação da Companhia de Jesus

Linha do Tempo
1513
O florentino Nicolau
Maquiavel escreve
1503 O príncipe
Leonardo da Vinci pinta Mona Lisa
1534 1572
1498 O Parlamento inglês O escritor
Michelangelo esculpe Pietà aprova o Ato de português Luís Vaz
Supremacia. Criação da de Camões escreve
1453 1473 Igreja Anglicana Os lusíadas
Os turcos conquistam O astrônomo
Constantinopla, destruindo Nicolau 1545
o que restava do Império Copérnico Início do
Bizantino expõe a teoria Concílio de
heliocêntrica Trento

séculO Xv séculO Xvi

1401 1454 1501 1601


O alemão Gutenberg
1517
desenvolve a imprensa
Lutero publica suas
teses na porta da
igreja de Wittenberg.
Início da Reforma 1540
O papa aprova a criação
da Companhia de Jesus

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