CENTRO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
RAFAEL MOURA DE SÁ
MEMORIAL DO LIVRO-REPORTAGEM
UNIVERSITÁRIA FM:
DUAS DÉCADAS DE HISTÓRIA
VITÓRIA
2
2011
RAFAEL MOURA DE SÁ
MEMORIAL DO LIVRO-REPORTAGEM
UNIVERSITÁRIA FM:
DUAS DÉCADAS DE HISTÓRIA
VITÓRIA
2011
1. INTRODUÇÃO
2. ROTEIROS
Dois mil e oito foi o ano que entrei pela primeira vez na Rádio Universitária. Acolhida
dentro do prédio da Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA), a emissora estava
lá construída com os seus estúdios de locução e produção com as espumas azuis
carcomidas, microfones espalhados e laudas pontuadas por barras e com letras em
maiúsculas. Havia também uma redação meio improvisada e repleta de colegas
veteranos das duas habilitações do curso de Comunicação Social. Mesmo um pouco
maltratado, o lugar reservava um charme interessante. Logo fiquei impressionado
com a placa colada à porta do veículo com os seguintes dizeres: fundada em 15 de
maio de 1989. “Veja só”, pensei, “sou mais velho do que a Rádio”. Realmente sabia
pouco sobre aquele espaço.
Naquela ocasião de 2008, tive o mérito de ser escolhido para integrar a equipe do
projeto de extensão Bandejão 104.7, comandado até então pela professora do
Departamento de Comunicação Social (DepCom) da Universidade Federal do
Espírito Santo (Ufes) Rosane Zanotti. A atração, que vai ao ar no horário do almoço,
proporcionou-me a primeira experiência de estágio e conhecer mais, obviamente,
sobre ambientes de trabalho que envolve jornalismo e radiodifusão.
Com uma noção básica sobre a história do programa do qual participava, fiquei
intrigado por não haver uma maior citação sobre a Rádio Universitária. Perguntava
aos colegas da emissora e eles respondiam que a história do veículo eram os
locutores Saul Josias e Andersen Dourado, colaboradores desde o início da década
de 1990. Não havia registros mais organizados, apenas “lendas vivas”, conforme as
palavras deles. Isso me incomodou.
Em março de 2009, resolvi ler com mais cuidado a obra Balzaquiano, uma narrativa
obrigatória para quem deseja conhecer o percurso das graduações de Comunicação
Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ao realizar a leitura, pude
saber que a Universitária FM teve origem a partir de um movimento de rádio livre;
que o DepCom não poderia arcar com os custos do gerenciamento do veículo; que
houve rixas entre os docentes, membros da reitoria e da FCAA; que a Rádio
Universitária, mais nova do que eu, possuía uma história complexa e que não havia
sido relatada em uma narrativa mais densa.
Foi então que, em abril de 2009, descobri que havia em mão o trabalho que
finalizaria a minha graduação: um livro-reportagem sobre a Rádio Universitária.
Enquanto lia essas obras, me deparava com imprevistos com o qual uma pessoa
que vai produzir um livro-reportagem necessita de estar atenta: atrasos e burocracia.
6
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. Vôo noturno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
7
WOLFE, Tom. Radical chique e o novo jornalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
8
BARCELLOS, Caco. Rota 66: a história da polícia que mata. Rio de Janeiro: Record, 2009.
9
MAILER, Norman. Miami e o cerco de Chicago: a história informal das convenções republicana e
democrática de 1968. -. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1969.
10
TALESE, Gay. O reino e o poder: uma história do New York Times. São Paulo: Companhia Das
Letras, 2000.
9
O primeiro problema era referente à definição das datas de entrevistas. Muitas vezes
as fontes não podiam conversar em um determinado dia e, invariavelmente, o bate-
papo era adiado para outra data. O segundo entrave esteve relacionado à obtenção
de informações das fontes oficiais, como a própria Rádio Universitária. Para acessar
os documentos e clipping da emissora, foi preciso esperar até dezembro de 2010,
fato que atrasou as pesquisas, uma vez que as informações que a emissora
guardava eram essenciais para a apuração que avançava sobre território
praticamente inexplorado, como é a memória da comunicação capixaba,
parafraseando as palavras do livro Balzaquiano11. Entretanto, houve benefício:
concluí a leitura dos produtos literários que serviam como inspiração.
A primeira entrevista para o projeto foi feita em setembro de 2010, com o professor
do DepCom Cléber Carminati, que teve atuação na emissora embrionária da
Universitária FM, a TX 107.3. As falas de Carminati dariam o tom que os demais
entrevistados diriam sucessivamente: rádio serve como espaço laboratorial e de
desenvolvimento para os alunos das graduações de Comunicação Social.
11
GALVÊAS, Alexandre; MARTINUZZO, José Antonio. Balzaquiano: trinta anos do curso de
Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo, 1975-2005. Vitória: Imprensa Oficial
do Espírito Santo, 2004.
10
O suporte dos conteúdos dos periódicos capixabas foi fundamental para conferir
mais exatidão aos dados expostos no livro-reportagem. O material obtido no Arquivo
Público do Espírito Santo e nos clippings da Universitária FM veio para tirar a
incerteza de falas dos entrevistados. Isso ocorreu no capítulo A pré-história da Rádio
Universitária, no qual o professor do Senai Eduardo Luiz Ferreira da Silva afirmou
que havia sido detido em 21 de fevereiro de 1971, no entanto foi no dia 3 daquele
mês. Então, as publicações ratificavam ou consertavam o que os entrevistados
comentavam com toda a certeza.
A trajetória da Rádio Universitária foi o capítulo que trouxe mais dificuldade para a
escritura. Sintetizar as informações foi um suplício. Todas pareciam ser muito
importantes e continham dados extremamente valorosos. Foi necessário dividir o
percurso em marcos que poderiam ser úteis para a compreensão de quem fosse ler
o livro. Então, optei por categorizar pelo início da trajetória da emissora, em seguida
pela fase de 1993 a 1996, considerada pelos entrevistados como o ‘momento de
ouro’ da Universitária FM. Foi também necessário narrar os períodos de crise, os de
superação e aqueles que antecederam a composição do último capítulo.
“Embora este livro não tenha sido submetido ao Times para aprovação ou edição,
muitos editores e membros da equipe permitiram o uso de seus arquivos pessoais,
assim como de cartas e memorandos” (TALESE, 2000, p. 517). Essa citação,
adaptada às proporções da Universitária FM e também de quem redigiu o livro sobre
a emissora, resumiu um pouco da experiência da produção do livro-reportagem. Em
nenhum momento, o veículo de comunicação Rádio Universitária e a FCAA
interferiram no processo de apuração. Após a superação dos entraves burocráticos,
ocorreu uma boa colaboração dessas instituições para que o andamento da
pesquisa fosse dinamizado.
Gay Talese também aponta um fator importante sobre a forma de fazer um livro e
que em boa parte ocorreu para a produção que relata a história da Rádio
Universitária:
Narrado em terceira pessoa, este primeiro livro-reportagem, que teve início de sua
produção em agosto de 2010 e finalizado em abril de 2011, talvez sirva para o
desenvolvimento de mais trabalhos ou pesquisas que envolvam a Rádio
12
3. REFERÊNCIAS
13
BARCELLOS, Caco. Rota 66: a história da polícia que mata. Rio de Janeiro:
Record, 2009.
KNOP, João Victor Vilaça. Uma rádio mais universitária: propostas para o
aumento da participação estudantil na Rádio Universitária FM. 2008. Monografia
(Graduação em Publicidade e Propaganda) – Departamento de Comunicação
Social, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. Vôo noturno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
TALESE, Gay. O reino e o poder: uma história do New York Times. São Paulo:
Companhia Das Letras, 2000.
WOLFE, Tom. Radical chique e o novo jornalismo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2005.