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Transtornos de personalidade e

dependência química.
Alessandro Alves

“Eu tenho complexo de Peter Pan com personalidade de


Capitão Gancho”
Alice Cooper

• Uma breve revisão histórica.


A busca do entendimento pleno da personalidade atravessa os séculos na saúde mental.
Entre os anos de 460-377 a.C viveu aquele que é hoje considerado por muitos o pai da
Medicina moderna, Hipócrates de Cós, e que foi o primeiro a considerar uma
classificação da personalidade. A medicina hipocrática é essencialmente ambientalista e
nesse sentido todas as questões médicas sobre a teoria dos quatro elementos do filósofo
grego Empédocles, a saber: água, ar, terra e fogo. Ao utilizar essa concepção da
Natureza, desenvolve uma concepção quaternária dos fluidos ou humores básicos
humanos, que seriam: sangue, bílis, fleuma (linfa) e atrabílis (bílis negra, ou sangue
coagulado). A saúde e a harmonia do ser dependiam da eucrásis, ou seja, do equilíbrio
entre esses quatro humores, enquanto a doença, a discrásis seria o desequilíbrio entre
esses humores. Os aspectos psicológicos desses quatro tipos humanos eram:
1. Sanguíneo: Atlético, musculatura consistente e firme, face rosada. Um tipo
expansivo e otimista, mas também irritável e impulsivo. Submete-se facilmente
aos seus instintos.
2. Fleumático: Pálido, face arredondada, olhar doce e vago. É um tipo sonhador,
pacífico e dócil, tende a levar uma vida isenta de paixões.
3. Colérico (bilioso): Olhar ardente, músculos desenvolvidos vontade tenaz, reações
abruptas e explosivas, desejo de domínio e poder.
4. Melancólico (atrabiliário): Músculos pouco desenvolvidos, olhar triste, tendendo
ao pessimismo, ao rancor e à solidão.
A tentativa de aproximar tipos anatômicos, fisiológicos ou endócrinos tem sua expressão
máxima no início do século XX, época em que o psiquiatra alemão Ernest Kretschmer
buscou dividir os tipos humanos em três espécies morfológicas e psicológicas diferentes, a
saber:
1. Leptossômicos (longilíneos): Corpos delgados, ombros estreitos, rosto alargado e
estreito, mãos e pés longos e delgados. Tende a privilegiar o lógico em contraposição
ao afetivo. Tem dificuldade no contato direto e espontâneo com as pessoas. Tende à
desconfiança e às fantasias de perseguição, preferindo esquemas teorizados e
arquitetados mentalmente e ao mundo real. Ao adoecerem, tenderiam à esquizofrenia,
às personalidades esquizóides ou esquizotípicas.

2. Pícnicos (brevelíneos): O diâmetro do abdome é maior que o do tronco, o rosto é


arredondado e os membros superiores e inferiores são curtos. Caracterizam-se por ter
sintonia afetiva com as pessoas ao seu redor, à vida real e às emoções em geral.
Procuram não categorizar ou entender a vida, só querem senti-la. Ao adoecerem,
tendem aos transtornos do humor, em especial à depressão e o transtorno bipolar.

3. Atléticos (musculares): Seria um tipo intermediário entre o pícnico e o leptossômico.


Com ombros largos, pescoço grosso, quadris estreitos e sistema ósseo e muscular bem
desenvolvidos. Tenderiam à esquizofrenia ou à epilepsia ao adoecerem.

São retratações clássicas desses subtipos as figuras de Don Quijote de La Mancha, o


leptossômico exemplar, que mergulha de tal modo em seus esquemas fantasiosos e artificiais
(o herói, o vilão e a donzela indefesa) a ponto de sua vida transformar-se em um enorme
delírio; e seu escudeiro Sancho Pança, bonachão, amante da culinária e do vinho, desejando
somente a festa, o júbilo e as pessoas a seu redor, afastando-se de questionamentos que o
levariam a categorizar a vida.
Todas essas aproximações biotipológicas da personalidade são atualmente bastante
discutíveis e até reprováveis pela Psiquiatria ocidental moderna, mas é importante ressaltar
sua contribuição ao conhecimento de hoje e que esses conceitos são ainda importantes na
Medicina Tradicional Chinesa e na Medicina Antroposófica.

• Conceito de Personalidade

A origem da palavra personalidade provém do termo persona que representa a


máscara que cobria o rosto dos atores na Roma antiga. O termo personare em latim
significa ainda ressoar através de algo. Imaginem o autor de uma peça de teatro, que
não é visto pelo público, mas que faz ressoar sua voz pelas máscaras que cria; assim,
ao mesmo tempo em que o autor se esconde, suas máscaras denunciam o que busca
esconder. Nise da Silveira, uma das mais importantes estudiosas da Saúde Mental no
Brasil, utiliza um conto de Machado de Assis chamado “O Espelho” para ilustrar o
que seria a persona. No conto, Machado descreve o caso de um jovem que, ao ser
nomeado alferes (posição da hierarquia militar) da Guarda Nacional, se identifica de
tal maneira com a patente que se esquece de olhar para si como ser humano. O
escritor propõe no conto uma teoria de que o homem teria duas almas, “uma que olha
para fora e outra que olha para si”. Machado de Assis relata que em determinado
momento da estória o alferes foi obrigado a ficar sozinho em uma casa onde não havia
ninguém para prestar-lhe homenagens ou deferências em relação à sua patente. Nesse
momento, o pobre alferes sentiu-se completamente vazio, e no espelho a imagem que
via refletida de si mesmo era apenas uma nuvem de fumaça sem contornos definidos,
e estão entrou em pânico. “O alferes matou o homem”, escreve Machado.

Dentre as muitas conceituações de personalidade, destacamos:


“Conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das características
individuais, em sua relação com o meio, incluindo todos os fatores físicos,
biológicos, psíquicos e socioculturais de sua formação, conjugando tendências
inatas e experiências adquiridas no curso de sua existência. É dinâmica, pode ser
mutável sem ser instável, e encontra-se em constante desenvolvimento.”

Quando se procura estudar a personalidade humana, é preciso estar atento á complexidade do


tema e à facilidade com que somos induzidos a erros e simplificações. O Conselheiro em
Dependência Química deve saber que todas as áreas do conhecimento em Saúde Mental
procura discutir o assunto, mas nenhuma parece ter a pretensão de esgotá-lo.
Três conceitos são de fundamental importância para o Conselheiro em Dependência Química
no estudo da personalidade e suas alterações:
• Constituição corporal
• Temperamento
• Caráter

A Constituição corporal é o conjunto de propriedades morfológicas, metabólicas,


hormonais, bioquímicas, dentre outras, que são transmitidas ao indivíduo principalmente por
mecanismos genéticos. Determina, em boa parte, sua aparência física, o aspecto do
indivíduo, sua voz, o estilo de seus gestos e o perfil de seus movimentos. Já vimos que
muitos pensadores ao longo dos séculos buscam uma correlação entre a constituição
corporal. O que sabemos é que ela tem significativa influência sobre as experiências
psicológicas do indivíduo ao longo de sua vida. O Conselheiro deve estar atento às
mudanças na constituição corporal que podem tanto facilitar o uso de drogas (ganho de peso
associado ao uso de anfetamina, à percepção de uma realidade corporal de forma distorcida
que o indivíduo tenta sanar com o uso de drogas (uso de anabolizantes para parecer
musculoso), mas sempre estando atento que não existe realidade corporal determinante para
o uso de drogas.
O Temperamento é o conjunto de particularidades psicológicas inatas que diferenciam um
indivíduo do outro. Assim, os indivíduos nascem com temperamentos astênicos, com
tendência à passividade e à hipoatividade, outros com temperamentos estênicos com
tendência à impulsividade e à agressividade. A identificação desses traços individuais é
tarefa muito difícil, uma vez que o indivíduo traz sempre uma combinação de aspectos inatos
com aspectos apreendidos e incorporados na convivência com os pais e com a sociedade.
O Caráter é a soma dos traços de personalidade expressa no modo do indivíduo reagir
perante a vida. O Caráter reflete o temperamento moldado, modificado e inserido nos meios
familiar, social e cultural. É a resultante, ao longo da história pessoal do indivíduo, da
interação entre o temperamento e as expectativas e exigências conscientes e inconscientes
daqueles que o criaram. Para o Conselheiro em Dependência Química, o conceito de caráter
é de extrema importância. A relação do uso de droga é carregada de fatalismo e
determinismo, e o indivíduo, ainda que queira mudar, sente-se incapaz por não enxergar sua
capacidade de fazer a mudança. O SEXTO PASSO da Programação de 12 Passos é claro
quando fala dos “defeitos de caráter”, que são na verdade as reações comportamentais
negativas do indivíduo frente às questões cotidianas. Aquele que se propõe a trabalhar o
QUARTO PASSO vai ficar de frente com essas características de seu comportamento e
deixa de lado o “véu da ignorância”, passa a enxergar comportamentos que antes aram
automáticos e passavam despercebidos. O QUINTO PASSO expõe esses comportamentos à
luz do olhar de outro ser humano, numa confissão em que o indivíduo admite para si e para
outro a natureza de suas dificuldades e no sexto o indivíduo opta pela resolução desses
comportamentos. O Conselheiro só será capaz de acompanhar seu paciente nesse processo
de profunda reflexão e mudança de atitude se compreender a personalidade como dinâmica e
o caráter como algo a ser moldado em um processo constante e perene. Alvo de críticas, a
palavra “defeito de caráter” não deve ser vista com o peso moral de “deficiência”, mas sim
como algo simples e natural, como um defeito em um eletrodoméstico, que pode ser
consertado, DESDE QUE o proprietário disponha-se a submeter-se. O paciente nesse
estágio começa a apropriar-se do processo terapêutico, pois ele próprio escolhe suas
prioridades, seus “defeitos de caráter” que precisa naquele momento trabalhar. Observe o
texto utilizado em DAYTOP VILLAGE, uma das mais tradicionais Comunidades
Terapêuticas dos EUA, que prioriza na recuperação do dependente químico a Espiritualidade
com o trabalho de 12 Passos guiado pelos Conselheiros em Dependência Química e
percebam que o objetivo da identificação dos próprios “segredos” e a partilha dos mesmos
são as chaves para o crescimento junto a si mesmo e à sociedade como um todo.
Estou aqui porque, finalmente, não há mais como refugiar-me de mim mesmo.
Até que me confronte nos olhos e no coração dos outros, estarei fugindo.
Até que sofra no partilhar dos meus segredos, não me libertarei deles.
Temeroso de ser conhecido, não poderei me conhecer e nem aos outros. Estarei só.
Onde, se não em meus companheiros, poderei encontrar este espelho?
Nele posso enfim revelar-me claramente para mim mesmo.
Não como o gigante dos meus sonhos, nem como o anão dos meus temores, mas como
alguém, parte de um todo, com a sua contribuição para o propósito comum.
Sobre este fundamento posso me enraizar e crescer.
Não mais solitário como na morte, porém vivo para mim mesmo e também para o outro.

• Transtornos de Personalidade
Ao longo dos últimos duzentos anos, o transtorno de personalidade foi nomeado de diversas
formas (insanidade moral, monomania moral, neurose de caráter, etc.), mas o termo que mais
se popularizou foi psicopatia. Esse, contudo, é um termo que infelizmente é utilizado
popularmente e até por alguns profissionais de saúde mental de forma equivocada como
sinônimo de transtorno da personalidade anti-social (sociopatia). Na verdade, o transtorno
da personalidade é uma profunda desarmonia que se reflete tanto no ambiente
intrapsíquico como nas relações interpessoais, e a despeito das conseqüências penosas
que traz tanto para o indivíduo, familiares e pessoas próximas, não é facilmente
modificável por meio das experiências de vida. O psiquiatra alemão Kurt Schneider
define como portador de transtorno de personalidade o indivíduo que...
...“sofre e faz sofrer a sociedade” assim como... “não aprende com a
experiência”.

Critérios diagnósticos para um transtorno de personalidade


A. Um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das
expectativas da cultura do indivíduo. Este padrão manifesta-se em duas (ou mais) das seguintes
áreas:
(1) cognição (isto é, modo de perceber e interpretar a si mesmo, outras pessoas e eventos)
(2) afetividade (isto é, variação, intensidade, labilidade e adequação da resposta emocional)
(3) funcionamento interpessoal
(4) controle dos impulsos
B. O padrão persistente é inflexível e abrange uma ampla faixa de situações pessoais e sociais.
C. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
D. O padrão é estável e de longa duração, podendo seu início remontar à adolescência ou começo
da idade adulta.
E. O padrão persistente não é melhor explicado como uma manifestação ou conseqüência de outro
transtorno mental.
F. O padrão persistente não é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por
ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., traumatismo
craniano).

Através da observação cuidadosa e prolongada do paciente e pelo relato dos familiares e


amigos, o Conselheiro em dependência Química pode verificar quais comportamentos são
mais claramente presentes no seu paciente. O Conselheiro deve pedir aos familiares
descreverem como ele(a) é, no dia a dia, seu modo de agir e reagir, seu estilo pessoal, seu
jeito de ser, de sentir e de atuar ao longo dos anos nas mais diversas situações de vida. Com
essas informações os transtornos de personalidade são mais facilmente identificáveis. Segue
abaixo os principais transtornos de personalidade e seus traços mais característicos:
PARANÓIDE
 Desconfiança constante
 Sensível às decepções e críticas
 Rancoroso, arrogante
 Culpa os outros
 Reivindicativo
 Sente-se prejudicado nas relações
ESQUIZÓIDE
 Frio (indiferente)
 Distante, sem relações íntimas
 Esquisito (estranho)
 Solitário
 Tem um mundo próprio
 Não se emociona (imperturbável)
SOCIOPÁTICA
 Irresponsável, inconseqüente
 Frio, insensível, sem compaixão
 Agressivo, cruel
 Não sente culpa ou remorso
 Não aprende com a experiência
 Mente de forma recorrente
 Aproveita-se dos outros
IMPULSIVA
 Explosivo, imprevisível
 Não sabe esperar, não tolera frustrações
 Não faz planos para o futuro
 Não pensa antes de agir
 Não consegue refletir
BODERLINE
 Relações pessoais muito instáveis
 Atos autolesivos repetitivos
 Humor muito instável, aborrecimento crônico
 Impulsivo e explosivo, humor instável
 Transtorno de identidade
HISTRIÔNICA
 Dramatiza muito teatral
 Sugestionável e superficial
 Necessita de atenção e excitação
 Manipulativo
 Infantil e pueril
 Erotização em situações não convencionalmente “erotizáveis”
ANANCÁSTICA
 Rígido, metódico, minucioso
 Não tolera variações ou improvisos
 Perfeccionista e escrupuloso
 Segue rigorosamente as regras, convencional
 Controlador (dos outros e de si)
 Indeciso
ANSIOSA
 Dificuldade em relaxar e descontrair-se
 Preocupa-se facilmente
 Teme situações novas
 Atento a si próprio
 Muito sensível à rejeição
 Extremamente seguro
DEPENDENTE
 Depende extremamente dos outros
 Necessita muito agradar
 Desamparado quando sozinho
 Sem iniciativa
 Sem energia
 Sem autonomia pessoal
ESQUIZOTÍPICA
 Idéias e crenças estranhas de auto-referência
 Desconforto nas relações interpessoais
 Pensamento muito vago e excessivamente metafórico
 Aparência física excêntrica
NARCISÍCA
 Considera-se superior
 Quer ser reconhecido como especial e único
 Fantasias de grande sucesso pessoal
 Requer admiração excessiva
 É freqüentemente arrogante

EPILÉPTICA
 Irritabilidade, impulsividade
 Desconfiança
 Prolixidade, circunstancialidade
 Viscosidade
 Hipergrafia
 Hiperreligiosidade
 Hiposexualidade
O Conselheiro em Dependência Química não precisa e não deve ter seu objetivo dirigido
para a formulação do diagnóstico; ao contrário, mas sua percepção do Comportamento e as
informações que traz de sua vivência terapêutica com o paciente para os demais membros da
equipe são preciosas para a quem tem essa função. O Conselheiro traz as “informações da
doença”, que são os comportamentos, atitudes, a fala do paciente sobre si mesmo e suas
atitudes com o outro, suas crenças e anseios, a fim de que essas informações sejam acessadas
pela equipe, trabalhadas em equipe e devolvidas para o paciente como “informações de
saúde”, que têm claramente os seguintes objetivos:
1. Adesão: estabelecer uma relação de confiança com o paciente e auxiliar no
estabelecimento desta relação de confiança do paciente com seu grupo
2. Compreensão: apresentar o modelo de tratamento e oferecer condições de
acesso ao mesmo de acordo com as particularidades de cada paciente.
3. Introjeção: o Conselheiro garante o treinamento no uso das “ferramentas”,
que são as técnicas e exercícios que o programa oferece para manter a
abstinência de drogas.
4. Individualização: compreensão das necessidades individuais do paciente,
para tornar a prática do programa o mais próxima possível de sua realidade.
5. Manutenção: ter equacionado com o paciente o a manutenção da
abstinência pós-alta.

São objetivos que devem ser atingidos utilizando recursos existentes nas dimensões
básicas do aconselhamento.

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