RESUMO: O presente artigo evidencia a explicação de cada um dos termos da concepção
de conhecimento como: crença verdadeira e justificada. Com base nesses termos, é sucinto reformular o problema do conhecimento como a dificuldade do acesso direto que temos a determinados eventos. Em seguida a ponderação e estudo da teoria do conhecimento de Kant tendo em cômputo que para esse autor a causação é uma das categorias do entendimento, no artigo procura-se explanar como Kant pretende ter resolvido o problema de Hume, segundo o qual nossas inferências causais não são justificáveis.
A teoria de conhecimento tem por base resolver problemas, analisando as principais
reflexões dos filósofos sobre o conhecimento humano, do mundo e que passa por cada um de nós. Emprega-se a teoria do conhecimento no convívio dos seres humanos com o ambiente, entender como se dá e se pode fundamentar é um instrumento de importância em relação a outras dimensões da vida. Os filósofos antigos relacionavam o problema do conhecimento com o problema da realidade, já os da modernidade ocupavam-se principalmente com opinião, a idéia e a ralação entre elas. No século XX novas escolas epistemológicas fazem à virada lingüística, as teorias de conhecimento fundamentadas em uma análise de linguagem.
Elizabete Moresco é Funcionária Pública do Estado de Santa Catarina, com Pós-graduação/FURB -
Blumenau. Licencianda em Filosofia/UFSC. E-mail: betemoresco@hotmail.com A noção geral de crença, verdadeira e justificada é a concepção tradicional de conhecimento e é a mais usada na teoria de conhecimento, está presente desde os primeiros filósofos, antecessores a estes filósofos contavam apenas com a opinião ou crença e o que mais influenciava eram os elementos naturais. “Crença” (ou opinião, ou idéia, ou concepção) é algo nosso já esta em cada um, estado mental, conhecer e poder colocar em palavras. “Verdadeira” deve estar em correspondência com o que é o caso, importante para filósofos e lógicos, o que é verdadeiro é verdade irrecusável, precisamos nos adaptar a essa verdade, independe de nossa opinião. “Justificada” definir as palavras de forma responsável, para a qual podemos dar razões ou argumentos, novamente depende de nós, mas em padrões diferentes. O central é conseguir uma maneira, de justificação que seja irrecusável com juízo perfeito, forma de argumentação impecável, considerando-se duas premissas como verdadeira, não tem como não aceitar a argumentação, ou ainda num argumento válido as premissas justificam a conclusão. O nosso conhecimento nos habilita ter noção do mundo. Mas de que maneira? E o que existe que podemos conhecer? O pensamento atual, a percepção de uma pessoa é algo que ela tem acesso direto. Os nossos pensamentos não são conhecimentos, não temos conhecimento direto das mentes de outras pessoas, não temos conhecimentos diretos de corpos materiais. A teoria de conhecimento tradicional não consegue lidar com o problema do conhecimento como problema de acesso direto, isso faz com que tenha que discutir a verdade de nossas crenças e opiniões. A realidade de nossos dados dos sentidos é inegável, esses são à base do conhecimento direto, todos os demais tem de ser inferidos ou construídos. Reformular o problema do conhecimento como problema do acesso direto é um dos principais problemas da teoria tradicional de conhecimento e pode ser colocado como o problema da legitimidade de inferirmos a existência de algo a partir de nossa percepção, ter uma percepção é inegável para a pessoa que a tem dizer que isso é um acontecimento já é uma inferência e não um conhecimento de acesso direto. O conhecimento de acesso direto são as nossas percepções, e disso inferimos a existência de outras. A abordagem tradicional da teoria envolve o conhecimento proposicional que é o “saber que” isso está expressando certeza ou convicção, não se ocupa com o conhecimento por habilidade que é o “saber como” envolve ainda o conhecimento por familiaridade como todo conhecimento direto, quando presenciamos algo. Nem todo conhecimento direto é perceptivo ele pode ser analítico. O problema tradicional da teoria do conhecimento é o da possibilidade de conhecimento, isto é: O que pode ser conhecido, em que medida?
Kant e a Filosofia Crítica
A doutrina de Kant conciliou as virtudes do ‘racionalismo continental europeu’ e do
‘empirismo britânico’, evitando seus vícios, em determinados pontos de vista, na sua avaliação do conhecimento humano, ele da razão aos empiristas como também aos racionalistas. O problema de Hume conhecido como “problema de indução”, sustentava que não havia garantia nenhuma que a relação de causação (causa e efeito) está na natureza ou no mundo, esta pode se alterar, percebe-se que a relação de causação, está na natureza humana e dos animais entendidos como constituições biológicas e psicológicas. A solução de Kant para o problema do conhecimento; acomoda a expectativa empirista e oferece uma saída para as dificuldades que Hume considerou insuperáveis em relação à causalidade e uma fundamentação segura das ciências da natureza, não há conhecimento fora do âmbito da experiência, como defendiam os empiristas, mas esse conhecimento é revestido de necessidade como sustentavam os racionalistas. Kant foi formado e trabalhou num lugar criado pela filosofia sistemática, que deseja o conhecimento racional na metafísica, ele almejou por um fim a tais pretensões de conhecimento da filosofia, mostrando que além das ciências a metafísica teria que ser uma investigação transcendental, ocupando-se não dos objetos, mas das condições e possibilidade de conhecê-los, essa investigação da própria razão ou guia para ação e este sem aspiração de conhecimento, pois podemos pensar sobre muitas coisas que não podemos conhecer, e isso ocorre com a metafísica tradicional que excede os limites da experiência. As idéias da razão são a fontes da metafísica e podem nos levar a falsos conhecimentos e isso que Kant quer expurgar do saber humano Para Kant colocar problemas e encontrar soluções, é fazer progresso, na matemática e ciência da natureza isso é possível, na metafísica que é um domínio de conhecimento a priori, já é uma dificuldade especial, ela é uma promessa não cumprida, aquilo que garante sua possibilidade deve ser conhecida antes de ser ela real. A teoria de Kant seria tornar como objeto de análise não crenças ou opiniões, mas os juízos que ele divide em analíticos e sintéticos: juízos analíticos ou explicativos: desdobra uma noção dada, prioridade independente da experiência, dedutivos, precisa cuidar para seguir o princípio da não-contradição, a priori; juízos sintéticos: aumenta nosso conhecimento, base na experiência, indutivos, posteriori. Kant propôs que há juízos sintéticos a priori o que seria uma contradição, mas para superá-la estabeleceu uma teoria das faculdades do intelecto humano, constituídas por formas puras (sensibilidade). A razão para Kant possuir idéias que nos permitem pensar, mas não conhecer, mostrando os limites do conhecimento humano possível, mas por outro lado, as idéias da razão podem ter um uso regulativo para o conhecimento dentro dos limites da experiência possível. Hume considerava a matemática como meras relações de idéias, que deveriam seguir o princípio de não-contradição e Leibniz que as proposições matemáticas são analíticas e Brouwer como Kant, consideravam construções nossas e Kant considerava que os juízos são sintéticos e não analíticos, a teoria das formas puras da sensibilidade será importante para a fundamentação da matemática e na crítica a metafísica tradicional cujas pretensões de conhecimento se estendem para além do tempo e espaço. Categoria da causação colocada em questão por Hume, Kant dá uma solução definitiva a tal problema mostrando que os juízos hipotéticos são universais e necessários, ao contrário do que pensava Hume, segundo Kant as categorias não derivam da experiência, mas são necessárias para que os objetos sensíveis nos sejam dados na experiência. Assim como Hume, Kant afirma que os juízos hipotéticos relacionando causas e efeitos são inevitáveis, mas para Kant são inevitáveis em virtude da espontaneidade do entendimento no uso da categoria de causação e não como dizia Hume em virtude do hábito. Kant defende a categoria de causação como um conceito puro, a priori do entendimento, isso não faz com que a causalidade deixe de ser universal e necessária, um juízo será universal e necessário quando ele for orientado por um conceito do entendimento puro (uma categoria), o problema de Hume seria resolvido por Kant com o principio da seqüência temporal segundo a lei da causalidade “todas as alterações ocorrem de acordo com a lei de conexão de causa e efeito”, para ele o termo “natureza” é a existência dos objetos determinados por leis universais e os conceitos e princípios puros do entendimento são a experiência e o conhecimento da natureza. A mente humana não é formada apenas pelas formas da sensibilidade, pelos conceitos e princípios do entendimento, mas idéias da razão. A razão também chamada de faculdade dos princípios é a suprema faculdade do conhecimento humano que começa com os objetos dados na sensibilidade e termina na razão, passando pelo entendimento, que é a faculdade de inferir ultrapassando os limites da experiência, a utilidade da crítica da razão, seria limitar o conhecimento da mente humana. Do ponto de vista metafísico Kant é realista, existem coisas em si que não podem ser conhecidas, no ponto de vista epistemólogo é idealista e nesse é transcendental, no sentido de que o mundo, ou a natureza, ou a experiência são constituídas por nossas representações. O extraordinário foi Kant ter introduzido as categorias, que são as formas que o nosso intelecto utiliza para organizar o entendimento da experiência do mundo, permitindo o conhecimento da natureza.
Bibliografia:
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MARCONDES, Danilo.Textos Básicos de Filosofia Dos Pré-Socráticos a Wittgensten. 5ª
ed. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zehar, 2007. 182 pág.