Resumo. Estas Notas são uma sı́ntese do que de mais importante foi feito no
curso MAT 0225 - Funções Analı́ticas ministrado durante o primeiro semestre
de 2007 no Bacharelado em Matemática do IME-USP. Alguns dos detalhes da
exposição foram omitidos ou foram deixados como exercı́cio. Apêndices, Lista
de Exercı́cios e Bibliografia estão na página www.ime.usp.br/∼gomes/FA225.
n
Em particular, se n ∈ N, obtemos a potência de z: z n = |z| (cos(nϕ) + i sin(nϕ)).
Com esta fórmula1 podemos determinar as raı́zes enésimas de um número complexo
a ∈ C. De fato, queremos resolver a equação z n = a. Pela fórmula acima, obtemos
p ϕ + 2kπ ϕ + 2kπ
zk := n |a| cos( ) + i sin( ) , k∈Z
n n
como soluções da equação z n = a. Claramente, o conjunto {z0 , . . . , zn−1 } contém
todas as soluções da equação dada. Estas soluções, são os vértices de um polı́gono
p
regular de n lados, inscrito em um cı́rculo do R2 de centro na origem e raio n |a|.
Observação 1.1. Dado um número complexo z ∈ C∗ , certamente existem infinitos
ângulos ϕ tais que z = |z| (cos(ϕ) + i sin(ϕ)). O conjunto de todos estes ângulos
será chamado de argumento de z e denotado por arg(z). Porém, é usual considerar
os ângulos variando apenas em [0, 2π). Deste modo, a cada número complexo z 6= 0
está associado um único ângulo ϕ ∈ [0, 2π) de modo que z = |z| (cos(ϕ) + i sin(ϕ)).
Este ângulo é o argumento principal de z e é denotado por θ(z). Podemos escrever
0, y=0 & x>0
π2 − arctan( xy ),
y>0
θ(z) = θ(x + iy) =
π, y=0 & x<0
3π x
2 − arctan( y ), y<0
Definição 2.5. Dada uma seqüência (zn )n∈N ⊂ C, lim zn = ∞ ⇔ lim |zn | = ∞
n→∞ n→∞
Como C é um conjunto equipado com a métrica d(z, w) = |z − w|, podemos definir
as noções naturais da Topologia em C. De fato, se Ω ⊂ C, temos as definições:
◦
• z ∈ Ω é um ponto interior de Ω se z ∈ Ω := {w ∈ C; ∃r > 0, Dr (w) ⊂ Ω}
• Ω é fechado em C ⇔ C − Ω é aberto em C
Uma questão importante é encontrar um critério para saber se uma série converge:
∞
P
Teorema 3.5. Uma série zn é convergente ⇔ dado > 0, ∃ n0 ∈ N tal que
n=0
m
X
|zn + zn+1 + . . . + zm | = zj < , ∀m > n ≥ n0
j=n
Definição 3.9. Seja (an )n∈N uma seqüência em R. Defina lim sup an e lim inf an :
lim inf an := lim [inf {an , an+1 , . . .}]
n→∞
Exemplo 3.13. Se (sn )n∈N e (tn )n∈N são seqüências de reais tais que sn ≤ tn ,
para todo n ∈ N. Então, lim sup sn ≤ lim sup tn e lim inf sn ≤ lim inf tn .
Observação 3.14. Tome seqüência (an )n∈N em R. Seja E o conjunto dos limites
de todas as subseqüências convergentes de (an )n∈N (incluindo os casos ∞ ou −∞).
Pode-se mostrar que lim sup an = sup E e que lim inf an = inf E.
6Em particular, pelas séries de potências.
7Este teorema é conhecido como “critério de Cauchy”.
MAT 0225 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 7
P∞
Proposição 3.15. (Critério da p raiz) Seja n=0 zn uma série em C. Defina
α ∈ R+ ∪ {∞} por α := lim sup n |zn |. Então α satisfaz as seguintes propriedades:
i) Se α < 1, então a série é absolutamente convergente.
ii) Se α > 1, então a série é divergente.
Demonstração. Suponha que α < 1. Fixe β ∈ R tal que α < β <p 1. Pela definição
de α, existe natural n0 ≥ 1 tal que, para todo n ≥ n0 temos que n |zn | < β. Logo,
n
X
sn := |zj | < |z0 | + . . . + |zn0 −1 | + β n0 + . . . + β n
j=0
0 −1
nX
= |zj | + β n0 (1 + . . . + β n−n0 )
j=0
0 −1
nX ∞
X
< |zj | + β n0 βj
j=0 j=0
0 −1
nX
β n0
= |zj | + <∞
j=0
1−β
8E escrevemos f −→u
n f
9Para todos z ∈ Ω e para todo n ≥ n .
0
MAT 0225 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 9
e esta série é convergente para |(z − z0 )/(z1 − z0 )| < 1. Sendo assim, a série
P ∞ n
n=0 an (z − z0 ) converge absolutamente P∞ para todo z tal que |z − z0 | < |z1 − z0 |.
Defina agora
P∞ ρ := sup {|z 1 − z 0 | ; n=0 a n (z1 − z0 )n converge}. Se ρ = 0, então
n
a série n=0 an (z − z0 ) só converge para z = z0 . Supondo 0 < ρ ≤ ∞, dado
0
P∞ z no disco |zn − z0 | < ρ, a definição0 de ρ nos mostra que existe z1 ∈ C tal
qualquer
que n=0 an (zP 1 − z0 ) converge e tal que |z − z0 | < |z1 − z0 |. Pelas considerações
∞
acima, a série n=0 an (z −z0 )n converge absolutamente para z = z 0 e também para
todo z no disco |z − z0 | < ρ. Por outro lado, a própria definição de ρ nos mostra
que a série diverge para |z − z0 | > ρ. Considere
agora
disco |z − z0 | ≤ r < ρ.
um
Seja z1 tal que r < |z1 − z0 | < ρ. Logo, zz−z
r
0
≤ z1 −z0 =: c < 1 e de (4.1), temos
1 −z0
|an (z − z0 )n | < M cn
P∞
Portanto, pelo Teste M de Weierstrass, conclui-se que a série n=0 an (z − z0 )n
converge uniformemente no disco |z − z0 | ≤ r < ρ. Falta apenas mostrar que
1
ρ = R := 1/n
lim sup |an |
Mas isto segue
P∞do Critério da Raiz (Proposição 3.15). De fato, este critério nos diz
que a série n=0 an (z − z0 )n converge absolutamente se vale a desigualdade abaixo
p p
lim sup n an (z − z0 )n = |z − z0 | lim sup n |an | < 1
e isto é equivalente a |z − z0 | < R. Por outro lado, se vale a desigualdade contrária
p p
lim sup n an (z − z0 )n = |z − z0 | lim sup n |an | > 1
P∞
e que é equivalente a |z − z0 | > R, a série n=0 an (z − z0 )n é divergente
10 ANDRÉ DE OLIVEIRA GOMES
Observação
P∞ 4.11. O valor ρ do Teorema 4.10 é chamado de raio de convergência
da série n=0 an (z −P z0 )n e o disco {z ∈ C; |z − z0 | < ρ} é chamado de disco de
∞
convergência da série n=0 an (z −z0 )n . O Teorema 4.10 nada nos diz a respeito da
convergência da série na fronteira do seu disco de convergência. De fato, considere
∞ ∞ ∞
X 1 n X 1 n X
2
z , z e zn
n=1
n n=1
n n=0
Suponha que existe uma seqüência de números complexos (wk )n∈N de modo que
lim wk = z0 , 0 < |wk − z0 | < R e f (wk ) = g(wk ) ∀k ∈ N
k→∞
e assim, a0 = b0 . Agora, como f (wk ) = g(wk ) para todo k ∈ N, devemos ter que
(wk − z0 ) {a1 + a2 (wk − z0 ) + . . .} = (wk − z0 ) {b1 + b2 (wk − z0 ) + . . .}
para todo k ∈ N. Por outro lado, wk − z0 6= 0 e wk → z0 e assim a1 = b1 .
Indutivamente, chegaremos a conclusão que an = bn ∀n e portanto que f = g
Observação 4.15. O resultado acima é conhecido como o Teorema da Identidade.
MAT 0225 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 11
5. Funções C-diferenciáveis
De agora em diante, as funções serão sempre definidas em domı́nios de C.
Definição 5.1. Uma função f : Ω −→ C é dita C-diferenciável em z0 ∈ Ω se
f (z) − f (z0 ) f (z0 + ξ) − f (z0 )
∃ f 0 (z0 ) := lim = lim
z→z0 z − z0 ξ→0 ξ
Alternativamente, podemos dizer que uma função f : Ω −→ C é C-diferenciável no
ponto z0 ∈ Ω se existe um número complexo f 0 (z0 ) de modo que vale a igualdade
f (z) = f (z0 ) + f 0 (z0 )(z − z0 ) + Ef (z)
para todo z ∈ Ω, onde Ef : Ω −→ C é uma função que satisfaz a seguinte condição
|Ef (z)|
lim =0
|z − z0 |
z→z0
1
v(x, y) := =(f (z)) = 2i (f (z) − f (z))
Observação 5.9. Neste momento, fica evidente uma relação entre a noção usual
de diferenciabilidade de uma aplicação definida em um aberto do R2 e o conceito
de função C-diferenciável: Uma função f : Ω −→ C, considerada como função da
variável complexa z = x + iy, será C-diferenciável no ponto z0 = x0 + iy0 , se e só
se, a função f , considerada como uma aplicação de duas variáveis reais (x, y), for
diferenciável no ponto (x0 , y0 ) e ainda ∂f ∂f
∂x (x0 , y0 ) = −i ∂y (x0 , y0 ).
derivadas parciais ∂f ∂f ∂f ∂f
∂x e ∂y , são contı́nuas e ainda ∂x = −i ∂y . Portanto f é inteira.
Observe que, pelo Teorema 5.6, f 0 (z) = ∂f z
∂x (z) = f (z). Denotaremos f (z) por e .
z z −1 −z
Verifique que f (z) = e é uma função periódica de perı́odo 2πi e que (e ) = e .
Exemplo 5.12. (As funções trigonométricas) Definimos as seguintes funções
eiz + e−iz eiz − e−iz
cos(z) := e sin(z) :=
2 2i
para todo z ∈ C. Claramente, estas funções são inteiras e ainda valem as igualdades
0 0
(cos(z)) = − sin(z) e (sin(z)) = cos(z)
Devemos ainda observar que, se na Proposição 5.8 a função f for contı́nua, podemos
suprimir a condição de continuidade das derivadas parciais. Mais precisamente:
Teorema 5.13. (Teorema de Looman-Menchoff ) Seja f : Ω −→ C contı́nua e
tal que possua derivadas parciais ∂f /∂x e ∂f /∂y em todo ponto. Suponha ainda que
valem as equações de Cauchy-Riemann para f em Ω. Então, f é C-diferenciável11.
Exercı́cio 5.14. Mostre que a seguinte função f : C −→ C não é inteira
−4
e−z z 6= 0
f (z) :=
0 z=0
∞
an (z − z0 )n com ρ > 0. Então
P
Teorema 5.16. Seja uma série de potências
n=0
∞
X
f : Dρ (z0 ) −→ C, f (z) := an (z − z0 )n
n=0
12Podemos supor z = 0.
0
MAT 0225 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 15
é inteira e ainda que g 0 (z) = g(z) para todo z ∈ C. Mas a função exponencial
f (z) = ez (ver o Exemplo 5.11) também é inteira e ainda f 0 (z) = f (z) para todo
z ∈ C. Afirmamos que f = g. De fato, defina F : C −→ C por F (z) := g(z)f (−z).
Daı́, F 0 (z) = 0 para todo z ∈ C. Pelo Exercı́cio resolvido 5.15, F é constante.
Como F (0) = 1, segue que 1 = g(z)f (−z) = g(z)e−z e então que g(z) = ez ∀ z ∈ C.
13Veja o Apêndice 2.
16 ANDRÉ DE OLIVEIRA GOMES
7. Integrais curvilı́neas
Seja F (t) := U (t) + iV (t) uma função contı́nua de variável real definida em um
intervalo [a, b] com valores em C. Definimos a integral de F em [a, b] pela expressão
Z b Z b Z b
F (t)dt := U (t)dt + i V (t)dt
a a a
Valem as seguintes propriedades da integral de funções de [a, b] a valores em C:
Rb Rb
i) <( a F (t)dt) = a <(F (t))dt
Rb Rb
ii) =( a F (t)dt) = a =(F (t))dt
Rb Rb Rb
iii) a {F (t) + G(t)} dt = a F (t)dt + a G(t)dt
Rb Rb
iv) a cF (t)dt = c a F (t)dt, para todo c ∈ C
R b Rb
v) a F (t)dt ≤ a |F (t)| dt
Podemos estender esta definição. Dada uma curva γ : [a, b] −→ C de classe C 1 por
partes, i.e., existe uma partição a = a0 < . . . < an−1 < an = b de [a, b] tal que
γk := γ|[ak ,ak+1 ] é de classe C 1 para k = 0, . . . , n − 1, defina a integral de f sobre γ:
Z n−1
XZ
f (z)dz := f (z)dz
γ k=0 γk
R
A seguinte lista de propriedades para as integrais γ f (z)dz é de fácil verificação
R R R
vi) γ {cf (z) + g(z)} dz = c γ f (z)dz + γ g(z)dz, ∀c ∈ C
Sejam agora γ1 : [a, b] −→ C e γ2 : [c, d] −→ C duas curvas15 tais que γ1 (b) = γ2 (c)
e considere a curva γ : [0, 1] −→ C, chamada de justaposição de γ1 e γ2 , e dada por
γ1 (2(b − a)t + a); t ∈ [0, 1/2]
γ(t) :=
γ2 (2(d − c)t + 2c − d); t ∈ [1/2, 1]
Denotamos a curva γ por γ1 +γ2 e não é difı́cil verificar que vale a seguinte igualdade
Z Z Z
f (z)dz = f (z)dz + f (z)dz
γ1 +γ2 γ1 γ2
desde que a imagem de γ1 e de γ2 estejam contidas no domı́nio Ω de f . Por outro
lado, dada γ : [a, b] −→ C, denotamos por −γ a curva definida em [a,b] e dada por
−γ(t) := γ(a + b − t). Pelo item ix) listado acima, temos a seguinte igualdade
Z Z
f (z)dz = − f (z)dz
−γ γ
15A palavra curva vai sempre representar uma curva de classe C 1 por partes.
16Todas as fronteiras de cada retângulo estão orientadas positivamente (anti-horário).
17A seqüência é tal que R ⊃ R ⊃ R ⊃ . . ..
j1 j2 j3
18 ANDRÉ DE OLIVEIRA GOMES
Demonstração. Se a ∈
/ R, o resultado segue do Teorema 7.2 aplicado à f |Ω−{a} .
Suponha agora que a ∈ R. Dado um inteiro positivo n, considere a subdivisão do
retângulo R em n2 subretângulos congruentes (Rkl ) conforme mostrado na figura18.
Demonstração. Seja t ∈ [0, 1]. Então, deve existir um único real positivo c(t) tal
que γ(t) := a + c(t)e2πit ∈ ∂R. Assim, γ é uma reparametrização de ∂R e portanto
Z Z 1
1 1 d
dz = 2πit dt
(a + c(t)e2πit )dt
γ z − a 0 c(t)e
Z 1 0 Z 1
c (t)
= dt + 2πi dt
0 c(t) 0
c(1)
= ln( ) + 2πi
c(0)
E como c(0) = c(1), segue que o valor da integral é 2πi
18No caso n = 4. Todos os retângulos tem fronteiras orientadas positivamente.
MAT 0225 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 19
19Ou analı́tica. O Teorema da identidade (4.14), mostra que a definição a seguir é boa.
20 ANDRÉ DE OLIVEIRA GOMES
R
Definimos F : Ω −→ C pela expressão F (z) := γz f (z)dz. Seja h ∈ R pequeno o
suficiente para que z + ih ∈ Dr (a). Assim, podemos calcular a derivada parcial
R y+h
∂F F (z + ih) − F (z) y
f (x + it)dt
(z) = lim = i lim = if (z)
∂y h→0 h h→0 h
onde na última igualdade usamos a Regra de L’Hospital. Por outro lado, as curvas
γz e Γz formam a fronteira do retângulo. Uma aplicação do Teorema 7.2 nos mostra
Z Z
(8.3) f (z)dz = f (z)dz
γz Γz
Temos então, c0 = f (a) = 0. Como f não é idênticamente nula, existe21 n > 0 tal
que cn 6= 0. Seja k o menor inteiro positivo tal que ck 6= 0. Podemos então escrever
∞
X
f (z) = (z − a)k cn (z − a)n−k = (z − a)k g(z)
n=k
Assim, g(a) = ck 6= 0 e portanto existe uma vizinhança V ⊂ Dr (a) tal que g(z) 6= 0
para todo z ∈ V . Logo, a é isolado uma vez que Zf ∩ V = {a}
Corolário 8.10. Sejam f, g : Ω −→ C holomorfas. Suponha que o conjunto
{z ∈ Ω; f (z) = g(z)}
tem um ponto de acumulação em Ω. Então, f = g.
9. O Princı́pio do máximo
Lema 9.1. Seja I um aberto de R e φ : I −→ R uma função de classe C 2 . Suponha
que exista t0 ∈ I tal que φ(t) ≤ φ(t0 ) para todo t ∈ I. Então devemos ter φ00 (t0 ) ≤ 0.
Demonstração. φ00 (t0 ) = lim 1
2 {φ(t0 + h) + φ(t0 − h) − 2φ(t0 )} ≤ 0
h→0 h
Existe ainda uma generalização do Lema acima (que provavelmente não usaremos)
Lema 9.3. Seja Ω um aberto de Rn e u : Ω −→ R de classe C 2 . Suponha que
existe x0 ∈ Ω tal que u(x) ≤ u(x0 ) para todo x ∈ Ω. Então, ∀(c1 , . . . , cn ) ∈ Rn vale
n
X ∂2u
(x0 )ci cj ≤ 0
i,j=1
∂xi ∂xj
Demonstração. Primeiro supomos que ∆u(z) > 0 para todo z ∈ Ω. Assim, seja
z0 ∈ U tal que u(z0 ) = sup u(w); w ∈ U
Se (9.1) não é válida, z0 não está em ∂U e portanto z0 ∈ U com u(w) ≤ u(z0 ) para
todo w ∈ U . Pelo Lema 9.2, devemos ter ∆u(z0 ) ≤ 0: contradição. Assim (9.1) é
válida se ∆u > 0 em Ω. Suponha agora que ∆u ≥ 0 sobre Ω. Seja > 0 e defina
2
u (z) := u(z) + |z| onde z ∈ Ω. Então ∆u = ∆u + 4 > 0 em Ω. Assim, temos
u (z) ≤ sup u (w) ∀z ∈ U
w∈∂U
Agora se |w| < δ, então temos |f (z) − w| ≥ |f (z)| − |w| ≥ δ − |w| para todos z ∈ U
tais que |z − a| = r. Desta forma, pela desigualdade (9.2), se |w| < δ, devemos ter
1 1
≤
|w| δ − |w|
e então |w| ≥ 12 δ. Assim, dado w ∈
/ f (U ), ou temos |w| ≥ δ ou temos |w| ≥ 12 δ.
1
Logo, Dδ/2 (0) = w ∈ C; |w| < 2 δ ⊂ f (U ) e f (U ) é vizinhança de 0 = f (a)
Observação 9.10. O Teorema do módulo máximo é também uma conseqüência
do Teorema da aplicação aberta. De fato, seja f : Ω −→ C holomorfa. Suponha
que exista z0 ∈ Ω tal que |f (z0 )| ≥ |f (z)| para todo z ∈ U , onde U ⊂ Ω é um
aberto contendo z0 . Esta hipótese implica que f (z0 ) está na fronteira de f (U ).
Logo, f (z0 ) não é um ponto interior de f (U ). Portanto, f (U ) não é aberto. Segue
do Teorema da aplicação aberta que f é constante.
11. Singularidades
Dados z0 ∈ C e r > 0, vamos denotar por Dr∗ (z0 ) o conjunto Dr (z0 ) − {z0 }.
Definição 11.1. f : Ω −→ C tem uma singularidade isolada em z0 ∈ C − Ω se
∃r > 0 tal que f é definida e holomorfa em Dr∗ (z0 ) ⊂ Ω. Assim, temos 3 alternativas:
i) Se existe g : Dr (z0 ) ⊂ C −→ C holomorfa e ainda com g|Dr∗ (z0 ) = f |Dr∗ (z0 ) ,
o ponto z0 é chamado de singularidade removı́vel da função f
ii) Se limz→z0 |f (z)| = ∞, o ponto z0 é chamado de pólo da função f
iii) Se não vale i) e nem ii), z0 é chamado de singularidade essencial de f
Exemplo 11.2. A função f (z) := sin(z)
z , definida em C − {0}, tem no ponto z0 = 0
uma singularidade isolada. Esta singularidade é removı́vel. De fato, temos que
z3 z5 z7
sin(z) = z −
+ − + ..., ∀z ∈ C
3! 5! 7!
Assim, dividindo ambos os membros desta igualdade por z ∈ C∗ , obtemos que
sin(z) z2 z4
=1− + + ..., ∀z ∈ C∗
z 3! 5!
z2 z4
Note agora que a série g(z) := 1 − 3! + 5! + . . . define uma função inteira.
Exemplo 11.3. f : C∗ −→ C dada por f (z) := z1 , tem um pólo em z0 = 0.
Exemplo 11.4. f : C∗ −→ C dada por f (z) := e1/z , tem no ponto z0 = 0 uma
singularidade essencial. De fato, isto segue da não-existência do limite lim e1/z .
z→0
Demonstração. Pela hipótese e pelo Teorema 11.5, a função 1/f (z) definida em
Ω − {z0 } tem uma singularidade removı́vel em z0 . De fato, basta definir a função
1
f (z) z ∈ Ω − {z0 }
h(z) :=
0 z = z0
que é analı́tica em Ω. Por outro lado, como h(z0 ) = 0, segue da Observação 11.6
que existem m ∈ N∗ e uma g1 : Ω −→ C analı́tica com g1 (z0 ) 6= 0 tais que
h(z) = (z − z0 )m g1 (z), ∀z ∈ Ω
Notando agora que g1 (z) 6= 0 para todo z ∈ Ω e fazendo g(z) := 1/g1 (z), temos que
g(z)
f (z) = , ∀z ∈ Ω − {z0 }
(z − z0 )m
Observação 11.8. No Teorema acima, z0 é dito um pólo de ordem m de f . Uma
vez que g é analı́tica em Ω, existe um disco Dr (z0 ) ⊂ Ω no qual temos representação
1
a0 + a1 (z − z0 ) + a2 (z − z0 )2 + . . .
f (z) = m
(z − z0 )
a0 a1 am−1
= + + ... + + am + am+1 (z − z0 ) + . . .
(z − z0 )m (z − z0 )m−1 (z − z0 )
a0 am−1
com a0 6= 0. A soma (z−z0 )m + ... + (z−z0 ) é dita a parte singular de f em z0 .
Lema 12.1. Sejam 0 ≤ r1 < r2 ≤ ∞. Considere o anel Ω dado por r1 < |z| < r2 .
Seja f : Ω −→ C uma função holomorfa. Escolha r > 0 tal que r1 < r < r2 . Então
Z
f (z)dz
|z|=r
é independente da escolha de r.
Lema 12.2. Considere o anel Ω dado por r1 < |z| < r2 . Escolha a ∈ Ω tal que
r1 < s1 < |a| < s2 < r2 . Seja também f : Ω −→ C holomorfa. Temos então que
Z Z
1 f (z) 1 f (z)
f (a) = dz − dz
2πi |z|=s2 z − a 2πi |z|=s1 z − a
Por outro lado, pelo Teorema 10.3 e pelo Corolário 10.4 temos que
Z 2πi |a| < s
1
dz =
|z|=s z − a
0 |a| > s
Usando agora a definição da função g, obtemos imediatamente o resultado
MAT 0225 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 29
Definição 12.3. Suponha que (zn )n∈Z seja uma seqüência de números complexos
indexada pelo conjunto dos números inteiros Z. Dizemos então que a série infinita
∞
X
zn
n=−∞
P∞ P∞
é (absolutamente) convergente se ambas as séries n=0 zn e n=1 z−n são também
(absolutamente) convergentes. Nesta situação temos, por definição, a igualdade
∞
X ∞
X ∞
X
zn := z−n + zn
n=−∞ n=1 n=0
Demonstração. Suponha z0 = 0. Tome reais s1 , s2 tais que r < s1 < |z| < s2 < R.
Tome real s > 0 tal que r < s < R e defina an pela expressão (12.1). Pelo Lema
12.1, an não depende de s. Sejam agora |w| < s2 , |z| = s2 , |w0 | > s1 e |z 0 | = s1 ∴
∞ ∞
1 X wn 1 X z 0m
= 0 0
= −
z − w n=0 z n+1 z −w m=0
w0m+1
1
Exemplo 12.7. Análogamente, a série de f (z) = 2−3z+z 2 no anel 1 < |z| < 2 é
1 1 1 1 z z2
2
= ... − 2 − − − − − ...
2 − 3z + z z z 2 4 8
Exemplo 12.8. A seguinte decomposição é válida no anel 0 < |z − 1| < ∞:
∞
sin(πz) X (−1)n+1 π 2n+1 (z − 1)2n−2
3
=
(z − 1) n=0
(2n + 1)!
π π3 π 5 (z − 1)2
= − 2
+ − + ...
(z − 1) 3 5!
Exemplo 12.9. f : C∗ −→ C dada por f (z) := e1/z tem uma singularidade
essencial em z0 = 0. De fato, a série de Laurent de f no anel 0 < |z| < ∞ é
∞
X 1/n!
ez = +1
n=1
zn
15. Resı́duos
Definição 15.1. Suponha que zj ∈ C seja uma singularidade isolada de uma
função holomorfa f : Ω − {zj } −→ C. Escolha r > 0 tal que Dr∗ (zj ) ⊂ Ω. Podemos
portanto considerar a série de Laurent de f com respeito ao anel 0 < |z − zj | < r
∞
X
f (z) = ajn (z − zj )n , 0 < |z − zj | < r
n=−∞
−1
k Z !
X X
= ajn n
(z − zj ) dz
j=1 n=−∞ γ
k
X
= 2πi.aj−1 n(γ, zj )
j=1
k
X
= 2πi.Res(f, zj )n(γ, zj )
j=1
29Ou seja, g :=
j
P
−1
ajn (z − zj )n .
n=−∞
34 ANDRÉ DE OLIVEIRA GOMES
R∞ 1
RR 1
Exemplo 15.5. Considere a integral −∞ x2 +1
dx = lim 2 dz. Como
R→∞ −R z +1
1 1
f (z) := =
z2 + 1 (z − 1)(z + i)
é uma função holomorfa que possui pólos simples nos pontos z = ±i, considere a
curva CR composta pela semi-circunferência com raio R > 1 e o segmento [−R, R]
que contém o pólo z = i onde o resı́duo é 1/2i. Aplicamos agora o Teorema 15.2
Z R Z
1 1 1
(15.1) 2+1
dz + 2+1
dz = 2πi. = π
−R z CR z 2i
2
Por outro lado, temos a desigualdade |f (z)| ≤ 1/(|z| − 1). Desta forma obtemos
Z
1 πR
2
dz ≤ 2
CR z + 1 R −1
1
R
e então lim CR z2 +1 dz = 0. Passando a equação (15.1) ao limite R −→ ∞ temos
R→∞
Z ∞
1
2
dx = π
−∞ x + 1
R 2π 1
Exemplo 15.6. Podemos calcular a integral 0 cos(θ)−2 dθ usando a substituição
z + z −1
cos(θ) = , z = eiθ
2
Logo, dz = ieiθ dθ = izdθ e a integral pode ser calculada usando o Teorema 15.2
Z 2π Z
1 1 1
dθ = z+z −1
dz
0 cos(θ) − 2 |z|=1 ( 2 − 2) iz
Z
2 1
= 2
dz
i |z|=1 z − 4z + 1
Z
2 1
= √ √ dz
i |z|=1 (z − 2 − 3)(z − 2 + 3)
2 1
= 2πi √
i −2 3
−2π
= √
3
MAT 0225 - FUNÇÕES ANALÍTICAS 35
Podemos usar a identificação acima e observar ainda que a toda matriz real 2 × 2
a b
A= ∈ M2×2 (R)
c d
Em outras palavras, devemos ter ^(T (z), T (w)) = ^(z, w) para todos z, w ∈ C∗ .
30Aqui h , i denota o produto escalar usual do R2 .
31E conseqüentemente bijetora.
36 ANDRÉ DE OLIVEIRA GOMES
Exemplo 16.9. A função f : D1 (0) −→ {w ∈ C, <(w) > 0} dada por f (z) := 1−z 1+z
preserva ângulos pois f é holomorfa e f 0 (z) = − (1+z)
2
2 6= 0 para todo z ∈ D1 (0).
38 ANDRÉ DE OLIVEIRA GOMES