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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO TRABALHO DA __VARA

DO TRABALHO DA COMARCA DE BAURU DO ESTADO DE SÃO PAULO

“O lucro, em todos os tempos e em todos os


povos, quando se constitui em critério e
justificativa, se alimenta sempre de sangue
humano. A escravidão é uma decorrência
da insaciável e inescrupulosa hegemonia
do lucro. Ontem e hoje. Na escravidão
clássica, na escravidão africana, nesta
atual diluída escravidão, que pode ser o
trabalho infantil degradante, ou as
maquiladoras nos porões das cidades, ou a
peonagem flutuante nas fazendas
latifundiárias. Comprar, vender, roubar

Franco Lima Advocacia


Av. Professor Francisco Morato, 1908, sala 3, CEP 05512-200,Butantã, São Paulo, SP
Tel.: 011 6304 9668
E-mail: lucthiza@adv.oabsp.org.br // skype: ricardo.de.oliveira.franco.lima
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vidas humanas é um comércio conatural
para quem faz da ganância razão da
própria vida desumana". (Pedro
Casaldáliga, bispo em São Félix do
Araguaia, MT).

LUCIANA ANGÉLICA RODRIGUES


OLIVEIRA SOUZA, brasileira, casada, comerciária, titular da CTPS nº
021110 série 00168/SP, inscrita no R.G. sob nº 25.058.487-6 e CPF/MF
216.128.538-62, residente e domiciliada na Rua Argemiro Jorge Ferraz, 9-
65, Vila Tecnológica, 17031-630, Bauru, SP (DOC 1), vem, respeitosamente
à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado e bastante
procurador, que esta subscreve (DOC.2), com escritório profissional situado
na Avenida Professor Francisco Morato, 1908, sala 3, Butantã, 05512-200,
São Paulo, SP, onde de acordo com o artigo 39, inciso I, do Código de
Processo Civil , receberá as intimações , propor a presente

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

Em face de FAUSTO LIMA LOPES


BAURU - ME, empresa de direito privado, inscrito no CNPJ
04.253.806/0001-42 estabelecida á Avenida Lúcio Luciano 5-75, Parque
Bauru, 17031-640, Bauru, São Paulo, a ser notificada pelas razões de fato e
de direito a seguir aduzidos:

I- Preliminares

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Preliminarmente, o Reclamante é
pessoa pobre, no sentido legal do termo, não tendo condições de arcar com
as despesas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo de seus
respectivos sustentos e da família, de modo que requer que Vossa
Excelência se digne a lhe conceder os benefícios da Assistência Judiciária
Gratuita, conforme art. 789, § 9º, da CLT, combinado com o art. 4º da Lei
1.060/50 e artigo 5º LXXIV da Constituição Federal.

Declara o Reclamante que a presente


demanda é superior a 40 salários mínimos e que não existe, no âmbito
sindical, Comissão de Conciliação Prévia.

Preliminarmente, REQUER O
RECONHECIMENTO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO COM A RECLAMADA.

I.1 DOS FATOS

A Reclamante, aos préstimos do


Reclamado, fora contratada em 16/03/2008, para exercer a função de
balconista no estabelecimento comercial do mesmo, sendo este, mini-
mercado, situado no endereço do Reclamado cuja sua principal função,
consistia em atendimento aos clientes e distribuição de panfletos.

No ato de sua contratação, o Reclamado


solicitou a carteira profissional da Reclamante, porém, nenhuma das
anotações devidas por força do contrato individual de trabalho foi realizada,
situação esta, que persiste até o presente momento, inclusive, a CTPS da
Reclamante ainda encontra-se retida na posse do Reclamado.

A Reclamante laborava na função de


balconista, açougueira, repositora, caixa, auxiliar administrativa e faxineira
das 07:30 às 17:30 horas, de segunda a segunda, não lhe sendo concedido
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nenhum dia de descanso semanal remunerado, sendo que, eventualmente,
conforme a conveniência e oportunidade do Reclamado, este lhe concedia
esporadicamente o referido dia de descanso.

A Reclamante, como forma de


contraprestação pelo seu labor, não percebia qualquer prestação pecuniária,
porém, o Reclamado lhe entregava alimentos vendidos em seu
estabelecimento comercial, os quais, segundo este, serviriam para custear a
prestação dos serviços. Dizia ainda o Reclamado que a Reclamante sempre
ficava devendo alimentos de um mês para o outro.

A Reclamante era constantemente


humilhada e aviltada pelo Reclamado, que lhe dizia que se não fosse por
ele, ela, a Reclamante, passaria fome, que ela deveria dar graças a Deus
por poder trabalhar para ele.

A Reclamante, pessoa pobre, humilde e


necessitada, permitia este procedimento, posto que, mãe de família, e com
três crianças, duas pequenas e uma adolescente para sustentar, não
poderia permanecer desempregada.

Em 05/06/09, houve a dispensa da


Reclamante sem justo motivo, não percebendo qualquer valor a título de
verbas rescisórias até o presente momento, e ainda o Reclamado disse à
Reclamante que ela tinha uma dívida com o mini-mercado, pois, havia
recebido mais mercadorias do que tinha prestado serviços.

II - DO DIREITO

II.1 Das anotações na CTPS

A Reclamada não fez as devidas


anotações na CTPS da Reclamante, infringindo assim, o disposto no art. 29
da CLT e seus parágrafos, senão vejamos:

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Art. 29. A Carteira de Trabalho e
Previdência Social será obrigatoriamente
apresentada, contra recibo, pelo
trabalhador ao empregador que o admitir, o
qual terá o prazo de quarenta e oito horas
para nela anotar, especialmente, a data de
admissão, a remuneração e as condições
especiais, se houver, sendo facultada a
adoção de sistema manual, mecânico ou
eletrônico, conforme instruções a serem
expedidas pelo Ministério do Trabalho.
(Grifo Nosso)

Sendo assim, requer seja a Reclamada


condenada a efetuar as respectivas anotações em sua CTPS, em prazo não
superior ao legal e, sem que tais anotações façam qualquer referência a
presente Ação, sob pena de serem estas efetuadas pela secretaria da vara.

II.2 Inversão do ônus da Prova

Tendo a Reclamada descumprido


obrigação legal, (anotação da CTPS, art. 29, e anotação da hora de entrada
e saída, art. 74 e parágrafos), requer seja invertido o ônus da prova quanto
às horas extras e remuneração, conforme entendimento consolidado pelos
Tribunais Superiores, como a ementa do acórdão número 414048 – 98 do
TST que segue transcrita:

“HORAS EXTRAS – ÔNUS DA PROVA –


INVARIABILIDADE DOS REGISTROS
DE PONTO. Não sendo consideradas as
provas apresentadas pelos bancos, quais
sejam, fichas de ponto que registram
invariavelmente o mesmo horário, não há
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como se admitir que o ônus da prova passe
a ser do autor, pois , foi o reclamado que
não teve a cautela de controlar a
freqüência de forma aceitável, razoável.
Nessas circunstâncias, permanece com o
empregador o ônus de provar o verdadeiro
horário do reclamante. Não logrando fazê-
lo, prevalece a jornada de trabalho
declinada na inicial. Recurso de Revista a
que se nega provimento.”

II.3 Da multa do 477 da CLT e do


acréscimo de 50% sobre as parcelas rescisórias

O não pagamento das parcelas


rescisórias no prazo do artigo 477 da CLT, implica no pagamento das multas
previstas no parágrafo 8° do citado dispositivo legal, senão vejamos

“Art. 477. É assegurado a todo empregado,


não existindo prazo estipulado para a
terminação do respectivo contrato, e quando
não haja ele dado motivo para cessação das
relações de trabalho, o direito de haver do
empregador uma indenização, paga na base
da maior remuneração que tenha percebido
na mesma empresa.

§ 6º O pagamento das parcelas constantes


do instrumento de rescisão ou recibo de
quitação deverá ser efetuado nos seguintes
prazos:

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a) até o primeiro dia útil imediato ao
término do contrato; ou
b) até o décimo dia, contado da data da
notificação da demissão, quando da
ausência do aviso prévio, indenização do
mesmo ou dispensa de seu cumprimento.

§ 8º A inobservância do disposto no § 6º
deste artigo sujeitará o infrator à multa de
160 BTN, por trabalhador, bem assim ao
pagamento da multa a favor do empregado,
em valor equivalente ao seu salário,
devidamente corrigido pelo índice de
variação do BTN, salvo quando
comprovadamente, o trabalhador der causa
à mora.”

No caso cabe o acréscimo de 50% sobre


as parcelas rescisórias, conforme artigo 467 da CLT, na hipótese destas não
serem pagas em primeira audiência, verbis

“Art. 467. Em caso de rescisão de contrato


de trabalho, havendo controvérsia sobre o
montante das verbas rescisórias, o
empregador é obrigado a pagar ao
trabalhador, à data do comparecimento à
Justiça do Trabalho, a parte incontroversa
dessas verbas, sob pena de pagá-las
acrescidas de cinqüenta por cento.”

II.4 Dano Moral, Ordem Jurídica e


Trabalho Degradante
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A Constituição Federal de 1988
reconhece o cabimento do dano moral em seu artigo 5°, incisos V e X, nos
respectivos termos:

“V – É assegurado o direito de resposta,


proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à
imagem”.

“X – São invioláveis a intimidade, a vida


privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito à indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua
violação.”

Ao cuidar do problema da escravidão


contemporânea, ou neo-escravidão representada na presente demanda, não
se deve dar ênfase apenas ao resgate de direitos sociais e econômicos no
âmbito da relação de trabalho. Não há como negar que esta prática atinge
profundamente a própria condição de pessoa da vítima.

A situação suportada pela Reclamante


durante o período em que laborou arduamente para o Reclamado, é, em si,
uma grave violação ao princípio da dignidade humana, consagrado em
nossa Constituição Cidadã e pelos principais tratados internacionais afetos
aos direitos humanos. O estabelecimento de um Estado Democrático de
Direito passa pela eliminação desta problemática.

O trabalho degradante e forçado é


proibido pelo sistema internacional de promoção e proteção dos direitos
humanos e suas acepções contemporâneas vêm sendo rechaçadas no plano
internacional pelos principais tratados de direitos humanos, seja no âmbito
da ONU, da OEA ou da Organização Internacional do Trabalho, a exemplo
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da Convenção n° 29/1930, ratificada por nós pelo Decreto Legislativo n°
41.721, de 25.06.57:

“Todos os membros da OIT que ratificam a


presente convenção se obrigam a suprimir o
emprego do trabalho forçado ou obrigatório
sob todas as suas formas no mais curto
prazo possível”.

O que se pode entender por trabalho


degradante? Como dizer realmente o que é um trabalho degradante? Ora
Excelência, degradante é sinônimo de humilhante e é derivado do verbo
degradar. É o ato ou fato que provoca degradação, desonra, humilhação.
Degradação é o ato ou o efeito de degradar. Degradar é privar de graus,
títulos, dignidades, de forma desonrante. Degradar é o oposto a promover.
Degradar é não promover. Degradante é o fato ou ato que despromove, que
rebaixa o indivíduo, que priva do “status” ou do grau de cidadão, que lhe
nega os direitos inerentes à cidadania do trabalhador, tirando-o da condição
de cidadão, rebaixando-o a uma condição semelhante ou análoga à de
escravo, embora sem ser de fato um escravo. Portanto, trabalho
degradante é aquele cuja relação jurídica não garante ao trabalhador os
direitos fundamentais da pessoa humana relacionados à prestação laboral.

O trabalho degradante afronta os


direitos humanos laborais consagrados pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos e abrigados pela Constituição Federal, assim como pela
Consolidação das Leis do Trabalho e pelas Normas Regulamentadoras, as já
populares “NRs”, entre outras normas jurídico-laborais.

Identifica-se um trabalho degradante


passando a relação de trabalho pelo escopo da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, pela Constituição Federal, pela Consolidação das Leis do
Trabalho e pelas Normas Regulamentadoras.

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Os artigos XXIII, XXIV e XXV da
Declaração Universal dos Direitos Humanos dizem que

“Artigo XXIII 1.Toda pessoa tem direito


ao trabalho, à livre escolha de emprego, a
condições justas e favoráveis de trabalho e à
proteção contra o desemprego.
2. Toda pessoa, sem qualquer
distinção, tem direito a igual remuneração
por igual trabalho.(grifamos)
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito
a uma remuneração justa e satisfatória, que
lhe assegure, assim como à sua família, uma
existência compatível com a dignidade
humana, e a que se acrescentarão, se
necessário, outros meios de proteção social.
(grifamos)
Artigo XXIV Toda pessoa tem
direito a repouso e lazer, inclusive a
limitação razoável das horas de trabalho
e férias periódicas remuneradas.
(grifamos)

Artigo XXV 1. Toda pessoa tem direito a


um padrão de vida capaz de assegurar a si e
a sua família saúde e bem estar, inclusive
alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos e os serviços sociais indispensáveis,
e direito à segurança em caso de
desemprego, doença, invalidez, viuvez,
velhice ou outros casos de perda dos meios
de subsistência fora de seu controle.

A nossa Constituição Cidadã trata do


tema em vários dispositivos, entre eles podemos citar os incisos II, III e IV

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do artigo 1º, que visa garantir a cidadania, a dignidade da pessoa humana e
os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Os incisos I, III e IV do
artigo 3º que coloca entre os objetivos fundamentais da República Brasileira
uma sociedade livre, justa e solidária, sem pobreza, marginalização e
desigualdades, assim como a promoção do bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.

Ainda podemos destacar os seguintes


artigos da Constituição que servem para combater a prática do trabalho
análogo à escravidão: Art. 4º, II; Art. 5º III; Art. 6º; Art. 7º, XXII, XXVIII;
Art. 170, III; Art. 186, III, IV e Art. 193.

Mais de quatro décadas se passaram e a


anunciada supressão não se deu em nosso país, como revela a presente
demanda, as inúmeras matérias jornalísticas, os dados oficiais do MTE –
Ministério do Trabalho e Emprego, sendo que uma das causas da
persistência destas formas perversas de trabalho, de matizes históricos e
contemporâneos, passa pela questão da impunidade.

A redução de alguém à condição análoga


a de escravo desdenha o ser humano, a ordem social e econômica
consagradas em sede constitucional e internacional, assim como os mais
elementares padrões éticos dominantes em nossa sociedade.

A escravidão coisifica o homem.


Transforma-o em força de trabalho pura, preterida de direitos. Nega ao
trabalhador sua própria dignidade, atingindo profundamente, no âmago,
sua integridade pessoal e o tecido social. Submeter alguém à escravidão é
privar-lhe da condição de ser humano.

Marcelo Dias Varela, em obra intitulada


Introdução ao Direito à Reforma Agrária: o direito face aos novos conflitos
sociais (São Paulo: LED, 1998, p. 451), busca identificar algumas formas de
trabalho escravo contemporâneo, dentre elas a que se afigura na presente
demanda:
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“O trabalho escravo pode ser identificado
de várias formas, como pelas más condições
de trabalho, sem qualquer higiene ou
segurança, sem registros e pagamentos de
direitos trabalhistas, a tal ponto que os
direitos do trabalhador sejam tão ofendidos
que a situação se assemelhe ao período de
escravidão”. (grifo nosso)

O tema, portanto, embora decorrente de


contratos de trabalho, não se restringe à defesa de direitos trabalhistas, à
quitação de débitos, à assinatura da carteira de trabalho. Não é mera
questão de reequilíbrio entre as partes num contrato de trabalho.

A situação fartamente demonstrada na


presente demanda revela o desdém que a Reclamada tem para a dignidade
da pessoa humana, expondo seu obreiro a uma odiosa situação de explícito
constrangimento e vexame. Revela também o desprezo para com a ordem
social, fundada na dignidade da pessoa humana, na igualdade e na
liberdade das pessoas, no trabalho livre e na livre manifestação de vontade.

Quanto ao trabalho escravo/compulsório


e degradante (mais freqüente do que se imagina), já contamos no Brasil
com fartos debates, planos de combate e jurisprudência que vem se
firmando gradualmente de modo a punir severamente seus algozes.

II.5 Competência da Justiça do


Trabalho

Colacionamos alguns extratos


jurisprudenciais para demonstrar a posição de nossos Tribunais que fixam a

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competência da Justiça do Trabalho face ao Dano Moral decorrente da
relação jurídica trabalhista, fundada na disposição constitucional do artigo
114 da Carta Magna:

“Compete à Justiça do trabalho conciliar e


julgar os dissídios individuais e coletivos
entre trabalhadores e empregadores
abrangidos os entes de direito público
externo e da administração pública direta e
indireta dos Municípios, do Distrito
Federal, dos Estados e da União, e na
forma da Lei, outras controvérsias
decorrentes da relação de trabalho, bem
como os litígios que tenham origem no
cumprimento de suas próprias sentenças,
inclusive coletivas”. (negritamos)

A) STF

“A determinação da competência não


importa que dependa a lide de questões de
direito civil”.(negritamos)

B) TST

“Preliminar de incompetência da Justiça


do Trabalho – Dano Moral. Recurso de
Revista a que se nega provimento em face
da restrição à competência material desta
Justiça na ocorrência de litígio que envolve
título laboral”.(negritamos)

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C) TRT da 5ª Região

“Competência – Dano Moral. A Justiça do


Trabalho é competente para conhecer do
pedido de indenização do Dano Moral
fundado em ato que se originou na relação
de emprego”.(Relatora Juíza Ilma Aguiar –
Ac. 1° T n° 23415/96-DJT. 15.01.97.
Processo n° 002.95.1573-50 julgado por
unanimidadeem 21.11.96.(negritamos)

Portanto, a indenização do Dano Moral


Trabalhista é amplamente assegurada por preceito constitucional (art. 5°,
inciso X, CF/88), inclusive no que concerne à constatação de trabalho
degradante análogo à escravidão, e à Justiça do Trabalho cabe exercer a
jurisdição, nos termos do art. 114 da Constituição de 1988, em ação
indenizatória de perdas e danos, morais e materiais, pois, a controvérsia,
objeto do dano sofrido pelo Reclamante, encontra lastro na relação jurídica
de direito material de natureza trabalhista.

II.6 Da Fixação da Indenização

A fixação da indenização a ser definida


deve considerar o critério da reparação punitiva, concernente a apenar o
infrator, servindo-lhe de instrumento de punição pela abjeta conduta do
Reclamado, a fim de evitar a reincidência e a prática, conjugada com uma
compensação que visa aproximar-se da recomposição dos prejuízos
causados ao Reclamante, considerando a extensão dos danos de largas
proporções sofridos e as condições econômicas do infrator.

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Não resta dúvidas de que a conduta
repugnante da Reclamada pôs em risco a saúde, a vida, e a incolumidade
física e moral do Reclamante, restando presentes o nexo causal entre a
ação, omissão, e os danos suportados pelo obreiro, expostos a uma cadeia
infindável de constrangimentos. A própria CONDIÇÃO ANÁLOGA A DE
ESCRAVIDÃO degrada o ser humano e o tecido social como um todo.

Aqui, vale transcrever trecho da


sentença prolatada pelo Juiz Jorge Antonio Ramos Vieira na reclamação
trabalhista cumulada com indenização por danos morais sob o n 1354/2002,
da Vara do Trabalho de Parauapebas/PA:

“DIREITO DO TRABALHO – DISSÍDIO


INDIVIDUAL – RECLAMAÇÃO
TRABALHISTA – REPARAÇÃO DE
DANO MORAL – DESCUMPRIMENTO
DE NORMAS PROTETIVAS –
CONTRATAÇÃO ILEGAL DE
TRABALHADORES RURAIS –
POSSIBILIDADE - CRITÉRIOS PARA
FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO –
INEXISTÊNCIA DE TARIFAÇÃO
LEGAL – ARBITRAMENTO JUDICIAL –
EXEGESE E APLICAÇÃO DO ART. 5º,
XXXV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E
DO ART. 8º DA CLT. Inexistindo dúvida
razoável sobre o fato de o réu utilizar-se,
abusivamente, de mão de obra obtida de
forma ilegal, sem observância de normas
protetivas e cogentes que regulam a
proteção do trabalho individual, tal ato é
suficiente e necessário, por si só, a gerar a
possibilidade jurídica de concessão de
reparação por dano moral contra o infrator
de tais normas, pois o dano material pode
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ser reparado pela condenação nas
obrigações impostas pela CLT, contudo,
resta a reparação do dano moral sofrido
pelo empregado, cuja prova obtida
confirma o nexo causal entre a ação ou
omissão, ilegais, do empregador e o dano
moral sofrido pelo empregado. A fixação da
indenização, sempre proporcional ao dano,
deve levar em conta uma unidade de tempo,
relativa ao período contratual do
empregado, sob as condições objetivas do
dano, que pode ser por hora, dia, mês e
ano, multiplicada por uma unidade de
valor, que pode ser o salário do empregado,
ou sua rescisão, sempre com a fixação
criteriosa, e fundamentada do Juiz, que
deve fixar o valor da indenização, segundo
seus critérios, pois a legislação não tarifa o
dano moral e a Jurisdição é inafastável,
não podendo o Estado-Juiz deixar de julgar
o caso, por lacunas na Lei, e levando-se em
conta que a fixação do valor deve ter
caráter punitivo e reparatório,
considerando-se, subjetivamente, a
condição das partes, a extensão do dano
causado e sofrido, e, ainda, sua
proporcionalidade imposta
constitucionalmente. DANO MORAL
DEFERIDO.

Apesar da Lei não tarifar o dano moral,


deve o Juiz, segundo seu prudente arbítrio, fixar-lhe o valor, devendo ser
este proporcional ao dano sofrido (in casu, de repercussão que ultrapassa a
própria dimensão individual), considerando as condições financeiras do
Requerido, de modo a punir e coibir a reincidência na conduta.

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Considerando os parâmetros acolhidos
na jurisprudência citada:
Requer a condenação do dano moral
no valor de dois pisos normativos por mês trabalhado sujeito à
condição degradante de trabalho escravo.
Sendo de 14 meses e cinco dias de
duração na condição de escravo, o Reclamante tem direito a receber R$
19.541,04 (Dezenove mil quinhentos e quarenta e um reais e quatro
centavos).

II.7 Conclusão

Os atos praticados pela Reclamada


constituem-se no execrando trabalho escravo contemporâneo, freqüente em
nossas plagas. Trata-se da mais cruel forma de exploração do ser humano
pelo que pessoas desprovidas de pudor e honestidade, corroídas pela
“insaciável hegemonia do lucro”, aproveitam-se de outros que, diante da
necessidade de sobrevivência, se submetem a uma série de humilhações e
vexames através da coação alimentar, o que DEVE SER REPELIDA COM
RIGOR POR ESTE MM. JUÍZO, pois, parafraseando Kátia Magalhães
Arruda na obra intitulada Trabalho Análogo à Condição de Escravo: um
ultraje à Constituição (Gênesis, Curitiba, n. 36, p.683-689, dez.1995),
numa sociedade democrática calcada na liberdade e na dignidade da pessoa
e do trabalho, a existência do trabalho escravo e degradante é “uma
amostra inequívoca de sua ruína”.

II.8 Do pagamento

A Reclamante fora contratada na função


de balconista para laborar suas atividades no Mini-Mercado do Reclamado,

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não sendo remunerada pelo fruto do seu trabalho desde o dia da
contratação 16/03/2008 até o dia 05/06/2009, assim, faz jus ao
recebimento de sua contraprestação.

Excelência, o salário, como de


conhecimento de todos, tem caráter alimentar, objetiva o sustento do
empregado e de seus dependentes, porém, fato é, que não só de alimentos
vive uma família, cabendo a estas, outras necessidades básicas supridas
pelo recebimento da justa prestação pecuniária, a qual, por justo título
pleiteia.

Sendo assim, em toda relação de


emprego, temos uma relação sinalagmática, em que por um lado temos o
empregado com a obrigação de desempenhar as funções a ele atribuída e,
ao empregador, a obrigação em efetuar a respectiva contraprestação
consistente no pagamento de salários devidos ao empregado em razão de
sua prestação de serviços.

No mais, reza o artigo art. 463 da CLT


que a “prestação em espécie do salário será paga em moeda
corrente do País”, e, em seu parágrafo único que “o pagamento do
salário realizado com inobservância deste artigo considera-se como
não feito”.

Assim sendo, deve a Reclamada ser


condenada ao pagamento dos salários compreendidos, durante todo o
período laborado com base no piso salário profissional de sua categoria,
qual seja R$ 665,00 (seiscentos e sessenta e cinco reais) mensais,
conforme convenção coletiva dos comerciários de Bauru (DOC. 3), assim
como de seus reflexos:

Salários não pagos...................................................... R$ 9.770,52

Décimo Terceiro salário 9/12: ....................................R$ 499,08

Décimo Terceiro salário 6/12:.................................... R$ 332,72

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Férias Proporcionais 3/12: ..........................................R$ 166,36

Abono de férias 1/3:.................................................... R$ 55,45

Aviso Prévio:.............................................................. R$ 665,44

Multa do artigo 477......................................................R$ 665,44

FGTS:...........................................................................R$ 981,31

Multa de 40% sobre os depósitos do FGTS:.................R$ 392,52

Horas extras...................................................................R$ 662,83

Reflexo das horas extras no DSR.................................R$ 118,54

Reflexo das horas extras nas demais verbas.................R$ 188,04

Trabalho no dia 09 de julho..........................................R$ 28,45

Reflexos nos DSRs (09 de julho)...................................R$ 4,21

Total..............................................................................R$ 14.530,91

III. Do Pedido

Do exposto, requer a notificação da


Reclamada para, se quiser, contestar o presente feito para, ao final,
acolhidas as preliminares invocadas, JULGAR PROCEDENTE a presente
Reclamatória, em todos os seus termos, condenando a Reclamada no
seguinte:
a) Declarar vínculo empregatício com a
Reclamada, condenando esta a todos os pedidos abaixo ou como
responsável solidário ou subsidiário, o que pede sucessivamente, conforme
art. 289 CPC;
b) Anotação e baixa na CTPS do período
indicado e inversão do ônus da prova quanto às horas extras e
remuneração;

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c) Pagamento do aviso prévio com
integração nas demais parcelas, no valor de R$ 665,44 (Seiscentos e
sessenta e cinco reais e quarenta e quatro centavos;
d) Pagamento de 3/12 de férias
proporcionais acrescidos de 1/3, sendo R$ 221,81 (duzentos e vinte e um
reais e oitenta e um centavos;
e) Pagamento de 9/12 de 13º salário,
no valor de R$ 499,08 (quatrocentos e noventa e nove reais e oito
centavos); bem como o pagamento de 6/12 de 13° salário, no valor de R$
332,72 (trezentos e trinta e dois reais e setenta e dois centavos);
f) Pagamento de 90 horas
extraordinárias no valor de R$ 662,83 (seiscentos e sessenta e dois reais e
oitenta e três centavos);

g) Pagamento do Descanso Semanal


Remunerado sobre as horas extraordinárias, sendo R$ 118,54 (cento e
dezoito reais e cinqüenta e quatro centavos);

h) Pagamento do reflexo das horas


extras nas demais verbas no valor de R$ 188,04 (cento e oitenta e oito
reais e quatro centavos);
i) Pagamento do dia 09 de julho
conforme a convenção coletiva no valor de R$ 28,45 (vinte e oito reais e
quarenta e cinco centavos);
j) Pagamento dos reflexos nos DSRs (09
de julho) no valor de R$ 4,21 (quatro reais e vinte um centavos);

k) Pagamento do FGTS de todo pacto,


no valor de R$ 981,31 (novecentos e oitenta e um reais e trinta e um
centavos);
l) Pagamento da multa do art 477 da
CLT, no valor de R$665,44 (seiscentos e sessenta e cinco reais e quarenta e
quatro centavos) e o pagamento da multa do artigo 467 caso o que for
incontroverso não seja pago à data da audiência;

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m)Pagamento da multa de 40% do
FGTS no valor de R$ 392,52 (Trezentos e noventa e dois reais e cinqüenta e
dois centavos);
n) Pagamento de todos os salários
jamais pagos desde o início do período laborativo no valor no valor de R$
9.770,52 (nove mil setecentos e setenta reais e cinqüenta e dois centavos);

o) Pagamento da indenização do dano


moral, conforme pleiteado, no valor de R$ 19.541,04 (dezenove mil
quinhentos e quarenta e um reais e quatro centavos);

p) Pagamento de honorários
advocatícios assistenciais de 15% sobre o valor da condenação, com fulcro
no art. 11, caput e § 1º, da Lei 1060/50;

q) Condenação no acréscimo de 50% do


valor das parcelas rescisórias, caso não pagas em primeira audiência;

r) Juros e atualização monetária;


Requer, ainda que seja oficiado o INSS quanto ao não repasse das
Contribuições Previdenciárias.
s) Os benefícios da Assistência Judiciária
Gratuita, conforme art. 789, § 9º, da CLT, combinado com o art. 4º da Lei
1.060/50 e artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal.

Protesta para provar o quanto alegado


por todos os meios em direito admitidos, inclusive depoimento pessoal dos
representantes da Reclamada, sob pena de confissão, especialmente
juntada de documentos em prova e contra prova e inquirição de
testemunhas.
Requerendo, desde logo, que seja
determinada à Reclamada a juntada, em primeira assentada, dos controles
de entrada e saída do Reclamante (Livros de Ponto ou Cartões de Ponto)
durante todo o período laborado, assim como das FOLHAS DE PAGAMENTO,

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descontos de compras, recolhimentos e depósitos, até a data da audiência
inaugural, sob pena de confissão.
Outrossim, requer, se assim entender
Vossa Excelência, se digne a dar ciência ao Ilustre Representante do
Ministério Público Federal do Trabalho, acerca dos fatos ora articulados,
para as devidas providências que o caso exige.
Dá-se o valor de R$ 34.071,95
(Trinta e quatro mil e setenta e um reais e noventa e cinco
centavos) como valor da causa.

Termos em que,
Pede deferimento.
Bauru, 20 de julho de 2009.

Ricardo de Oliveira Franco Lima


Advogado – OAB/SP 285.802

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