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REDAÇÃO E GRAMÁTICA

Você pretende prestar um concurso público em que se é exigido redação, sabe a importância de
escrever bem. Isto implica não só conhecer a matéria de que se trata, mas também as normas do
nosso idioma. O Português está sendo cada vez mais valorizado, e não é por menos, afinal,
expressar-se com clareza é fundamental para o bom entendimento das idéias. E aprendê-lo não é tão
difícil como muitos pensam pois esta é a língua que você fala desde que nasceu. Você já sabe
Português, o problema é a norma, suas regras e exceções. Se um brasileiro não sabe português,
quem sabe? Um russo? Os concursos, entretanto, exigem a norma culta do nosso bom português.
Nada vai sair de um texto confuso e mal estruturado. Lembre-se que um texto escrito sem esforço é
geralmente lido sem prazer, já dizia Samuel Jhonson. Por isso, não deixe o estudo de gramática e
redação para a última hora: ele é mais importante do que você imagina.
Gramática
A gramática do português não é a matéria preferida dos alunos, o que é perfeitamente
compreensível. Com tantas exceções e muitas regras que os alunos não fazem a mínima idéia de por
que aprender, eles ficam desmotivados. O meu interesse está justamente em fazer vocês aprenderem
a gramática para usá-la como ferramenta na escrita e saber a sua utilidade, além de acertar os testes
em que ela é cobrada diretamente – exigidos na maioria dos bons concursos públicos.
Redação
Não adianta querer escrever sem o conhecimento da gramática. Mas só ela também não é suficiente,
pois, se assim fosse, eu mesma, ou os grandes gramáticos do nosso país seriam os maiores
escritores. Clarice Lispector ou Mário de Andrade não eram gramáticos, eram? Sabia que Machado
de Assis se assustou ao abrir a gramática do sobrinho e não entender nada? Ignorante? Creio que
não. Por isso, não pense que com ela você vai escrever qualquer texto: conteúdo é fundamental. A
gramática simplesmente ajuda a não "travar" quando você quer expressar uma idéia e sente
dificuldade por não saber como. Aliás, a gramática é decorrência da língua, e não o contrário - por
isso, não se deixe limitar por ela.
Seguem abaixo algumas dicas de como ter bom desempenho em provas de redação.
1. Quem quer escrever bem deve ler muito. E entenda este ler não como passar os olhos, mas
realmente compreender o assunto lido. Grife, faça anotações na página de que assunto está
sendo abordado naquele trecho que você leu. Faça fichamentos sempre que puder e não vá
para o parágrafo seguinte antes de entender tudo que está dito no anterior. Um bom leitor
com certeza é um bom redator.
2. Torne-se crítico, relacione o texto lido com outros textos e assuntos que você conhece. Faça
o intercâmbio entre as matérias, de modo a relacionar um determinado tópico com outras
disciplinas como história, geografia, economia, direito, arte. Isso mostra a sua versatilidade e
passa uma boa impressão ao leitor.
3. Falando em leitor, lembre-se de que trata-se justamente disso: um texto escrito. As maiores
dificuldades da redação é passar as idéias para o papel de forma clara, coesa e coerente.
Sempre digo aos meus alunos que eles não vão estar ao lado do corretor na hora para falar o
que eles estavam querendo dizer naquele trecho confuso. O que ele vai ler é exatamente o
que está escrito, por isso, sempre leia o que você escreveu antes de entregar e certifique-se
de que você conseguiu passar para o papel a idéia que pensava. Nada vai sair de um texto
confuso e mal estruturado, a não ser uma má impressão do autor deste.
4. Cuidado com a coloquialidade! Quando pensamos em um determinado argumento temos a
tendência de escrevê-lo no papel exatamente como foi pensado e muitas vezes "escapam"
expressões do dia-a-dia que não ficam bem em um texto escrito. Mas também não vá para o
oposto: não seja pedante, usando expressões que o corretor deverá procurar no dicionário a
cada linha. Isso prejudicará muito seu texto. Quanto mais clareza melhor; se o argumento for
bom você não precisa dificultar o seu entendimento com expressões eruditas demais.
5. Na maioria dos casos o que se pede em concursos são dissertações. Por isso, escreva sempre
de forma impessoal, como se fosse uma notícia de jornal, em 3º pessoa. Nada de
sentimentalismos, exclamações, apelações ou radicalismos. Você deve apresentar o assunto,
introduzi-lo, mostrar um problema, uma dúvida, algo que revele o porquê de valer a leitura
de seu texto. Não esgote o assunto na introdução, ela apenas apresenta, define o tema a ser
tratado.
6. Sempre é possível tratar o tema por vários viés distintos. Escolha um que dê margem para
uma boa extensão de argumentos ao longo da sua dissertação. Adaptando o discurso de
Padre A. Vieira (um dos maiores oradores portugueses), imagine seu texto como uma árvore:
ele apresenta vários argumentos, várias ramificações, mas o tronco é único, ele deve
apresentar unidade sempre.
7. E não se esqueça de escrever aquilo em que você acredita. Dificilmente você conseguirá
sustentar um ponto de vista em que não creia até o fim de seu texto sem entrar em
contradição ou usando argumentos fracos. Escrevendo o que você defende é muito mais fácil
de pensar em bons argumentos e ter um texto coeso. O corretor pode até não ser da mesma
opinião que a sua, mas que vai admitir que o seu texto está coerente e coeso de acordo com
suas idéias, ele vai. E isso lhe garante ótimos resultados.

ANÁLISE DE REDAÇÃO 250 A 300


PALAVRAS
Antes de entrarmos efetivamente na análise da redação escolhida, queria dizer mais algumas
palavras. Clareza é fundamental e, para tanto, é necessário ter muita atenção ao passar as idéias para
o papel - principalmente na introdução. Normalmente, é nesta hora que muitos estão “empolgados”
com o tema, e as idéias vêm à mente fazendo com que vocês simplesmente “despejem” tudo no
papel. Não é bem assim que funciona. Nada sairá de um parágrafo–chave mal feito, em que se
amontoam várias idéias ao mesmo tempo. Ele é a base para a construção do seu texto e tudo deve
estar amarrado a este primeiro parágrafo, verificando se o viés escolhido dá margem para uma boa
extensão do tema. Vejam este exemplo:
“Assistimos nos noticiários a crescente onda de violência que domina o país, põem –se em
evidência que o crime organizado está vencendo várias batalhas contra o Estado, pois este tem
demonstrado estar inerte, com exceção das promessas de combater à criminalidade; assim, a
audácia dos criminosos é combatida com veementes promessas, e as conseqüências desta guerra
urbana recaem sobre a população, sobre o cidadão, enfim, das famílias que perdem seus entes
queridos de forma abominável.”
Lembre-se de que você não deve esgotar o assunto na introdução. Ela apenas aponta a questão a ser
desenvolvida. Às vezes, vocês escrevem tanta coisa logo no primeiro parágrafo que o leitor já vai
para o próximo cansado. Ou ainda, há vezes em que, ao chegar ao final do primeiro parágrafo, eu já
esqueci o que o aluno dizia no começo. Observem o caso abaixo:
“O sistema de transporte coletivo de Fortaleza é péssimo. As pessoas usuárias deste sistema são
vítimas de verdadeiros maus-tratos. Os ônibus trafegam geralmente lotados e os trocadores e
motoristas desenvolvem suas atividades da pior maneira possível. Esses maus profissionais tratam
os passageiros com descaso. São desatenciosos, mal-educados e irresponsáveis. Às vezes, não
respeitam idosos e crianças. Os velhinhos são tratados com indiferença. Quando estão sozinhos
nas paradas, muitas vezes os coletivos não param. Os estudantes também são prejudicados por
eles, principalmente, pelos trocadores. A meia-passagem é abominada de todas as formas. Nunca
há troco para a classe estudantil.. É evidente que há exceções. Existem ainda bons profissionais,
mas é a minoria.”
Infelizmente, não há como publicar todas as redações comentadas, porém alguns trechos sempre
serão usados como exemplo a fim de evitar erros comuns. Aliás, a maior parte dos erros sempre é
reproduzida, como o uso de vírgula ou crase, além de repetições desnecessárias das palavras, falta
de coesão e coerência. A coloquialidade, entretanto, é a “rainha” de todos os erros: os alunos
redigem como falam. Às vezes, parece que podemos ouvir o aluno falando, tão próximo da língua
oral está o texto escrito. Vejam este trecho:
“O objetivo é seduzir e prender os telespectadores com suas histórias polêmicas, seus belos
profissionais, suas cenografias atraentes, entre outros atrativos, tudo com muita beleza e glamour;
fazendo com que os pobres mortais do lado de cá da tela sonhem em ser um daqueles personagens
mostrados, ou ter o que eles têm e etc...”
O uso excessivo de adjetivos e a falta de formalidade no trecho grifado tornam esta passagem
extremamente coloquial. Tenham cuidado.
Finalmente, leiam a redação escolhida, enviada por uma aluna:
Tema: A reforma previdenciária
É do conhecimento de todos a polêmica entre: partidos políticos, classes trabalhistas,
servidores públicos ativos e inativos, em relação a maneira como está sendo conduzida a
proposta de reforma da previdência social no Brasil. Apesar do impasse a respeito do assunto,
encaminharam a proposta ao Congresso Nacional para apreciação e votação dos deputados e
senadores.
Para os favoráveis a reforma é necessária, devido a necessidade econômica e financeira pela
qual se encontra a previdência, além do mais, contribuiria para a diminuição das
desigualdades social no Brasil.
Dentre os principais benefícios, são favoráveis a fixação de tetos salariais federais equivalentes
ao salário do ministro do Supremo Tribunal Federal e subtetos para os servidores do Estado.
Acreditam que dessa forma, viabilizaria o pagamento de aposentadoria a longo prazo, com
riscos menores de constituir uma previdência falida.
Por outro lado, há os contrários a reforma, que alegam a perda do direito adquirido dos
servidores em alguns aspectos, tais como: redução da aposentadoria para os servidores
inativos e pensionistas, por intermédio de contribuição previdenciária e consequente redução
no padrão de vida social. Além disso, os servidores admitidos após a reforma, não teriam
direito à aposentadoria integral, fixando-se um teto, e para receber um valor maior, teria que
ingressar num fundo de previdência complementar. Outro aspecto divergente, é quanto a
dilatação do tempo necessário no serviço público para garantir a aposentadoria integral.
Diante da polêmica que envolve a questão exposta, devido as diversas opiniões controversas
sobre o tema, torna-se difícil chegar a um consenso em que beneficie a todos. Apesar das
divergências, cabe a justiça desenvolver a reforma com o objetivo de beneficiar a sociedade
como um todo, independente de categorias a que pertençam as partes envolvidas, de forma a
garantir uma sociedade menos injusta e uma previdência social que sobreviva a longo prazo.
Para melhor visualização da correção, comentarei o texto por parágrafos.
No primeiro parágrafo, já nos defrontamos com um problema: a generalização. Não se pode afirmar
que algo “é do conhecimento de todos” em um texto escrito, pois sempre há alguém que não sabe –
e você não conhece todos para perguntar. Por isso evite construções do tipo “todos sabem”, “é
inegável que”, “todos pensam”, entre outras que indicam generalizações.
Ela introduz bem, não acarreta várias informações, apenas situando o leitor no assunto. Mas há
alguns erros gramaticais, como a falta do acento grave em “em relação à maneira (ao povo)” e não
vejo a necessidade de se colocar os dois pontos logo na primeira oração. Além disso, o verbo
‘encaminharam’ usando o sujeito indeterminado soa estranho no texto, seria melhor usar a voz
passiva “a proposta foi encaminhada”.
No segundo parágrafo, há mais alguns problemas gramaticais, como a pontuação em “Para os
favoráveis, a reforma é necessária devido” e a crase novamente em “devido à necessidade (ao
poder)”. Também mudaria a regência e não diria “necessidade financeira pela qual”, mas sim
“necessidade em que se encontra...”.
Após “previdência” colocaria um ponto-e-vírgula ou um travessão e começaria outra oração: “...se
encontra a previdência; além do mais,...”. A concordância está errada em “desigualdades sociais”
– ademais, deixaria tudo no singular, por se tratar de substantivos abstratos: “contribuiria para a
diminuição da desigualdade social no Brasil.”
Não faria a quebra entre o segundo e o terceiro parágrafo. Está tudo em volta do mesmo bloco
semântico, podendo se continuar na mesma linha do segundo. Há a repetição desnecessária de
“favoráveis”, a crase errada em “favoráveis à fixação (ao acordo)” e novamente o uso do sujeito
indeterminado “acreditam”. Possivelmente, o sujeito deste verbo é “os favoráveis” do parágrafo
acima, mas está tão distante que o leitor não mais o reconhece como sujeito simples. Seria melhor
começar o período direto de “Dessa forma”.
No quarto parágrafo, há um problema de coesão: não se pode iniciar um período com “Por outro
lado” sem apresentar um primeiro lado antes. Claro que sabemos que ela está dividindo entre ‘os
favoráveis’ e ‘os não-favoráveis’, mas deve-se escrever sempre “Por um lado” se depois vai se
escrever “Por outro”. O ideal seria, no segundo parágrafo, estar escrito “Por um lado, há os
favoráveis que...” e agora no quarto: “Por outro, há os contrários à reforma” - e, mais uma vez,
olha a crase aí. Falta uma vírgula em “... por intermédio de contribuição previdenciária, e...” além
do trema em “conseqüente” (não, o trema não caiu...).
Há outros problemas de pontuação, como a falta da vírgula após “admitidos” em “Além disso, os
servidores admitidos, após a reforma, não teriam...”. Colocaria um ponto final após “teto” e
começaria outra frase em “...teto. Para receber um valor maior, ...” e já aproveito para corrigir a
concordância e a regência do verbo “ter”, pois (os servidores) “teriam de ingressar em um...”. E não
se pode separar sujeito e predicado por vírgulas , observe: “Outro aspecto divergente é quanto à
dilatação...” – e a crase mais uma vez.
Na conclusão, no quinto parágrafo, finalmente ela expõe sua opinião. Há mais problemas de crase
em “devido às diversas” (aos diversos) e “cabe à justiça” (ao poder) e na construção de “chegar a
um consenso em que beneficie a todos” o ideal seria “chegar a um consenso em que se beneficie a
todos” devido à regência do verbo.
Ela conhece bem o assunto e expôs o problema de forma coerente, deixando claro, na conclusão,
que não é algo fácil de ser resolvido e “colocando” ao judiciário a tarefa a ser cumprida. Entretanto,
justamente este ponto interessante não ficou bem fundamentado e poderia ter sido desenvolvido um
pouco mais: não é dito por que seria essa tarefa devida ao judiciário e não aos demais poderes,
como é usual.
Enfim, ela apresenta facilidade para expor, mas parece um pouco incerta quanto às suas conclusões,
podendo ter dado mais ênfase a uma análise crítica do problema, sem ser radical. Contudo, não
apresenta muita dificuldade e organiza bem seus argumentos. Provavelmente, com um pouco mais
de treino, irá muito bem nas próximas dissertações.
Mas, vamos ao que nos interessa. Realmente o tema da Identidade Nacional é extremamente
complexo e os que me enviaram a redação perceberam isso. A tendência é ficar no imaginário
superficial do tema que todos têm, os estereótipos da cultura brasileira. Claro que se pedem um
tema sobre identidade nacional você obrigatoriamente deve abordar o Brasil, o nosso país em
relação a este conceito que é tão abstrato.
Li todas as redações e, sinceramente, nenhuma me satisfez em relação ao conteúdo. Nada mais
natural já que este tema exige uma determinada carga de estudo e não posso e nem vou exigir este
conteúdo de vocês. Uma aluna tentou fazer um percurso histórico desde a colonização, o que já é
um bom caminho. Argumentos e alusões históricas sempre são bem-vindos em um texto dissertativo
pois além de dar uma noção maior do problema, situa o seu leitor no tempo e o ajuda a entender
porque determinada situação vigora hoje. Ser um bom entendedor de história sempre ajuda a
desenvolver uma consciência crítica tão em falta.
Há um ponto positivo: ninguém falou de samba e futebol. Quando você se pergunta a respeito da
nossa identidade nacional, qual é a imagem que o brasileiro tem de si, para muitos a resposta estará
nestes dois substantivos. Contudo, nem sequer uma pessoa que leu a aula passada e teve coragem de
enfrentar o tema escreveu sobre isso – o que é excelente, parabéns.
Existe, entretanto, um problema em relação à delimitação do tema. Quando vocês forem prestar um
concurso público, lembrem-se sempre de que a maioria dos temas devem ser aplicados ao Brasil.
Tentem reduzir o tema em uma ou duas palavras, achem o ponto sobre o qual vocês devem discorrer
e sempre o aplique no Brasil . Foi comum nesta redação abordagens sobre a guerra, os atentados
terroristas e os conflitos no Iraque. O tema Identidade Nacional: o indivíduo e a pátria é,
desculpem a coloquialidade, um prato cheio para ser discutido em âmbito nacional. Vocês podem
citar como exemplo uma determinada cultura para explicitar melhor um argumento, mas não uma
redação inteira sobre o assunto. Um exemplo por texto sempre é bom.
Cuidado com a coesão, ela continua sendo a grande vilã. Vejam esta introdução:
O percurso histórico da formação do povo brasileiro traz em seu bojo a questão da identidade
nacional. Apresentando-se mais como um problema de fato do que uma questão a ser
conhecida, pois revela na sua forma mais aguda a dificuldade de identificação do brasileiro
como nacional e possuidor dos valores da terra.
Para muitos é difícil perceber o problema da coesão, mas se você ler com atenção, respeitando a
devida pontuação do período, notará que o gerúndio iniciando o segundo período traz um problema
sério a este trecho. O erro ocorre porque na mente da pessoa que redigiu o texto, este apresentando-
se está ligado ao primeiro período, como se houvesse uma vírgula antes dele – o que deixaria o
trecho perfeito – mas como ele inicia o período com este gerúndio fica faltando uma parte da
oração. É a mesma coisa que eu dizer: “Joana e Paula indo ao mercado.” Não falta algo? Você não
pergunta: ah? O quê? O que que tem ou o que ocorreu quando elas foram ao mercado?. É diferente
de eu dizer: Joana e Paula indo ao mercado, encontraram Francisco. É a mesma situação no trecho
acima: “Apresentando-se mais como um problema do que uma questão a ser conhecida.” O que? O
que que tem? Percebem agora como falta algo, uma conclusão ao trecho? Isso é um problema de
coesão. Como evitar este erro? Não interrompendo suas orações em gerúndios, pronomes relativos,
conjunções subordinadas... Sempre que o gerúndio iniciar o período releia a frase para garantir que
não há um problema.
Observem se não fica melhor :
O percurso histórico da formação do povo brasileiro traz em seu bojo a questão da identidade
nacional, apresentando-se mais como um problema de fato do que uma questão a ser conhecida,
pois revela na sua forma mais aguda a dificuldade de identificação do brasileiro como nacional e
possuidor dos valores da terra.
Outro problema nas introduções é o fato de os alunos quererem falar tudo de uma vez. Como já
disse aula passada, além de a introdução ser apenas para apontar o tema a ser desenvolvido, como
uma espécie de índice da redação, quanto mais você se alonga, mais o período ramifica-se sem
chegar a lugar algum. Vejam este exemplo:
No final do último século, vimos um crescente processo de globalização e desenvolvimento
tecnológico que permitiu um intercâmbio de informações entre os diversos países do Mundo,
que apesar de trazer muitos benefícios, influenciou negativamente em alguns casos, pois
contribuiu com transformações culturais de muitos povos, especialmente dos
subdesenvolvidos, que admirando a supremacia dos desenvolvidos, passaram a copiá-los nos
seus hábitos e costumes. Ao mesmo tempo, outros se sentindo ameaçados em perder o domínio
sobre sua economia, sua política, sua religião, seus costumes etc... ergueram um verdadeiro
exército que espalha o terror pelo Mundo sob o prisma de defesa ao patriotismo.
Quando chegamos ao final às vezes nem nos lembramos de qual era a idéia dita no começo. Não
caia também no erro oposto, escrever frases curtas demais. Apenas seja objetivo, uma boa extensão
(duas ou três linhas) faz com que você não se perca.
Um aluno perguntou-me se pode usar siglas na redação. Pode sim, desde que na primeira vez você
escreva por extenso o seu significado. Por exemplo, em uma redação sobre reforma agrária você
pode usar MST, desde que na primeira vez você tenha dito assim: “O movimento dos trabalhadores
rurais sem-terra (o MST) ganhou popularidade anos atrás. Contudo, o MST ...”
Quanto à separação de palavras não só pode como deve ser feita. Vocês sempre devem ir até o
final da linha, separar a palavra corretamente, e continuar na próxima linha. Imagino que ninguém
vai prestar um concurso em que a redação pode ser feita usando o computador pois, que eu saiba,
ainda se pedem para escrever a caneta (ainda bem). Aproveitando a deixa, cuidado com a
caligrafia. Um corretor com 300 redações para corrigir não vai ficar com muito bom humor ao
corrigir uma redação com letra de médico. Facilitem ao máximo.
E, por favor, nada de pleonasmos como “a cada dia que passa”(= a cada dia), “acabamentos finais”
(= acabamentos), “há dois anos atrás” (= há doze anos) - lidos em algumas redações. E evitem as
repetições.

Os concursos estão aí e cada vez mais exigindo redação e interpretação de texto em suas provas.
Dizem que agora cobram dos profissionais um “português fluente”. Exageros à parte, vamos ao que
interessa. Para começar bem o ano veremos nesta aula alguns conceitos que podem ajudar a
desenvolver uma boa redação.
É comum encontrarmos questões sobre um texto usar uma linguagem predominantemente
conotativa ou denotativa. Qual a diferença? A linguagem denotativa está diretamente ligada à
significação, ou seja, ao seu sentido real, o sentido do dicionário (lembre-se: denotativo de
dicionário). Já a linguagem conotativa, em oposição, trabalha com figurações, com uma extensão
do sentido literal, denotativo. Veja os exemplos:
1) Colhi uma flor do jardim. ( denotativo)
2) Sua filha é mesmo uma flor! (conotativo)
Havia uma antiga propaganda de chantilly que dizia: “O sonho de toda sobremesa é casar de
branco”. Aí está um bom exemplo de palavras empregadas conotativamente: “sonho”/ “casar de
branco” . Aliás, esta linguagem é muito usada em textos publicitários por ampliar o sentido literal e
fazer um jogo de palavras muito apreciado.
Sempre que uma questão abordar uma pergunta sobre o uso da linguagem denotativa, observe se o
texto ou a palavra está no seu sentido literal ou figurado – no caso do texto, veja o que predomina.
Já na redação, você deve sempre privilegiar a linguagem denotativa: a linguagem figurada não é
bem-vinda em um texto referencial, como é o caso de uma dissertação.
Agora você deve ter se perguntado, o que é um texto referencial? Para isso, você deve se lembrar
dos componentes da comunicação humana: emissor, receptor, mensagem, código, canal e referente.
Cada um destes componentes é trabalhado por uma função de linguagem. Vejamos sucintamente:
1) Função emotiva: é a do emissor, centrada na 1ª pessoa do singular, no “eu”, subjetivamente.
2) Função conativa: é a do receptor, centrada na 2º pessoa, no “tu”; busca atuar sobre a imagem do
receptor, persuadindo-o mediante o uso das palavras e de verbos no imperativo.
3) Função fática: é a do canal, serve apenas para manter o contato e ver se o receptor está realmente
entendendo o emissor.
4) Função metalingüística: é a do código (no nosso caso, a língua portuguesa brasileira); usada
quando temos de explicar a própria linguagem, como estou fazendo agora.
5) Função poética: é a da mensagem; privilegia o significante e o significado e depende dos
recursos usados pelo autor do texto (envolvendo muito a conotação).
6) Função referencial: é a do referente, centrada na 3ª pessoa, no assunto; a intenção é apenas
transmitir a informação, objetivamente (envolvendo a denotação).
Claro que em um texto pode haver mais de uma função pois elas não são excludentes. A linguagem
referencial ocorre quando o referente, ou seja, o assunto, é posto em destaque. Se o assunto é posto
em destaque, o texto há de ser objetivo e claro, sem margem a duplas interpretações (como ocorre
com a linguagem conotativa). Como o principal é passar a informação, o texto será escrito em 3ª
pessoa – como vemos na maioria das teses científicas e textos jornalísticos. Por isso em uma
dissertação o que predomina é a função referencial, aquela que visa passar o assunto da forma mais
precisa possível.
Aproveitando o último tema de redação, vejam um bom exemplo desse tipo de linguagem:
O ideal de uma educação que se empenhe em formar e aprimorar a conduta dos jovens, de
forma que esta venha a ser fundada no respeito a certos princípios fundamentais da vida
pública e da dignidade do ser humano, - ou seja, o ideal de uma formação para o exercício da
cidadania e para a conduta ética -, está entre os objetivos mais amplos e ao mesmo tempo mais
consensuais da ação educativa escolar. A lei 9394/96, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, a ele consagra um lugar de destaque ao afirmar, logo em seu artigo 2º que
"A educação ..., inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem
por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania ... ". Também em outros importantes documentos educacionais, como as Diretrizes e
os Parâmetros Curriculares Nacionais, essa meta da ação educativa recebe um tratamento
privilegiado. Mas não é só nos discursos educacionais oficiais que o ideal de uma formação
ética e para a cidadania é considerado como uma meta prioritária. As propostas pedagógicas
das mais diversas instituições escolares - públicas ou privadas -, os discursos dos professores e
demais profissionais da educação, os livros didáticos e até mesmo a mídia e os pais parecem
insistir na necessidade de que as instituições escolares se voltem com grande ênfase e empenho
para essa tarefa, já que dela parecem depender a solidificação e a continuidade de um modo
de vida ao qual, pelo menos discursivamente, atribuímos um valor especial.
( José Sérgio Carvalho, in: Podem a ética e a cidadania serem
ensinadas? )
Belo texto, não?
Abraço.
Recebi um e-mail de um aluno que me motivou para esta aula. A certa altura, dizia o seguinte:
Esquematizo, pois, como sendo dois os meus problemas: eu não tenho a sensibilidade de saber
quando eu devo mudar de parágrafo e, ainda que mude - no desespero de evitar um texto de um só
parágrafo -, eu não sei qual dos inícios enumerados utilizar - nunca! Se eu fosse escolher um eu
estaria tentando a sorte, também desesperadamente, não conseguindo fazer sumir a sensação de
"será que vão perceber que não faz parte de mim usar inícios assim mais rebuscados?"
Achei muito gracioso o modo como ele expressou a sua dúvida, pois, apesar de afirmar
categoricamente que não sabia usar os parágrafos, ou quando fazê-los, e usar os conectivos
adequados, este texto em que se expressou era muito bem estruturado e coeso. Mas esta dúvida é
muito comum e fundamentada em um grande mito: escrever bem é escrever difícil.
Muita gente acha que para escrever bem precisa usar uma linguagem rebuscada, empolada e no fim
só vai fazer um texto pernóstico (uso de termos pouco usuais), quando não, pedante. Contudo,
escrever bem não é escrever difícil: pelo contrário, se você tem argumentos fortes e, portanto,
sustentáveis, quanto mais claro você expressá-los melhor será para o interlocutor compreendê-lo!
Afinal, qual o objetivo do seu texto? A impressão que tenho de quem quer falar difícil é a de que, na
verdade, essa pessoa não tem nada ou pouco a dizer. Haja vista os discursos de alguns dos nossos
políticos...
Claro que por se tratar de um texto escrito, você deve escrever usando a norma culta e com um
vocabulário acadêmico, mas isto não quer dizer que ninguém deve entender seu texto. Não fique
buscando no dicionário um sinônimo para cada palavra se você já tem uma suficientemente clara se
usada na função referencial (e denotativa, lembram?). Isto só é válido quando você quer buscar
sinônimos que evitem a repetição de um termo. Resumindo: cuidado com a coloquialidade, mas não
peque pelo oposto; lembrem-se também de que "gramatiquês" não é sinônimo de bom português.
Outra coisa comum é o uso exagerado de adjetivos que nada mudam seu texto. Observem este
trecho de uma redação que recebi:
Fanáticos religiosos, terroristas, ultra-nacionalistas de esquerda e nações dominantes se fecham
em blocos de grupos reacionários que impingem aos dominados uma abissal escravidão humana.
Enquanto isso ao sul do equador assistimos perplexos a toda essa bombástica realidade cotidiana
pelos meios de comunicação sem contudo nos darmos conta que uma outra categoria de
escravidão de uma forma bastante velada é travada cotidianamente por milhares de
trabalhadores pelos rincões do Brasil. Atraídos pelas promessas de salários dignos, moradia
gratuita e alimentação _ em busca do eldorado perdido milhares de bóias-frias deixam para trás
suas famílias e a promessa de regressarem com os louros do seu trabalho. Mas os grandes
arrebanhadores dessa farta mão-de-obra por fim dão o golpe final escravizando esses laboriosos
sonhadores com um sutil endividamento do mesmo, de credor a devedor serão obrigados a
trabalhar além mesmo do limite físico humano ao olhar atento de capangas fortemente armados.
Poderíamos entender a sua idéia de forma mais clara e menos emotiva com o uso contido dos
adjetivos, não acham? Só usem adjetivos quando fazem diferença para a compreensão de alguma
idéia (por exemplo, é fundamental eu dizer que a mesa é branca e não marrom), caso contrário,
centrem-se nos substantivos que, como o próprio nome diz, é a substância da sua frase.
Mas voltando agora à questão dos parágrafos e conectivos. Vocês sabem que a manutenção do tema
em uma redação é fundamental para a progressão textual. Os conhecimentos de certos termos de
transição, que chamamos de conectivos, ajudam a fazer esta progressão de forma clara, coesa e
coerente. Entretanto, há um meio termo para o uso destes articuladores : não se deve iniciar cada
frase com um mas também não se deve ignorá-los. O redator deve ter bom senso para perceber
quando é necessário usá-los e estabelecer as relações textuais, sem deixar o texto cansativo – ou
seja, exige uma certa sutileza que só com leitura e treino se adquire. E lembre-se de que não se
escreve um texto bem articulado e uno sem os termos de transição.
De qualquer forma, se vocês não souberem a idéia que cada um destes conectores quer passar fica
difícil mesmo empregá-los. Alguns são para somar uma informação, outros para dar ênfase, outros
são para opor idéias... Segue abaixo uma lista de alguns destes termos mais importantes e suas
funções:
1. afetividade: felizmente, pudera, ainda bem (que).
2. afirmação: certamente, com certeza, indubitavelmente, de fato, por certo.
3. conclusão: em suma, em síntese, em resumo.
4. conseqüência: com efeito, assim, conseqüentemente.
5. continuidade: além de, ainda por cima, bem como, outrossim, também.
6. dúvida: talvez, provavelmente, quiçá.
7. ênfase: até, até mesmo, no mínimo, no máximo, só.
8. exclusão: apenas, exceto, menos, salvo, só, somente, senão
9. explicação: a saber, isto é, por exemplo.
10.inclusão: inclusive, também, mesmo, até.
11.oposição: pelo contrário, ao contrário.
12.prioridade: inicialmente, antes de tudo, acima de tudo, em primeiro lugar.
13.restrição: apenas, só, somente, unicamente.
14.retificação: aliás, isto é, ou seja.
15.tempo: antes, depois, já, posteriormente.
Principais conectivos:
1. adição: e, nem, também, não só... mas também.
2. alternância: ou...ou, quer...quer, seja...seja.
3. causa: porque, já que, visto que, graças a, em virtude de, por (+ infinitivo).
4. conclusão: logo, portanto, pois.
5. condição: se, caso, desde que, a não ser que, a menos que.
6. comparação: como, assim como.
7. conseqüência: tão...que, tanto...que , de modo que, de sorte que, de forma que, de maneira
que.
8. explicação: pois, porque, porquanto.
9. finalidade: para que, a fim de que, para (+ infinitivo)
10.oposição: mas, porém, contudo, entretanto, todavia, mesmo que, apesar de (+ infinitivo)
11.proporção: à medida que, à proporção que, quanto mais, quanto menos,
12.tempo: quando, logo que, assim que, toda vez que, enquanto.
Viana, Antonio Carlos. Ed. SCIPIONE

Mas enquanto os concursos não mudam o modo arcaico de pensar ao fazer a correção de suas
redações, vamos continuar seguindo a norma padrão. Conforme prometido, nesta aula vou fazer
comentários de alguns trechos de redações que os leitores enviaram. Recebi muitas redações, li
todas e, apesar da grande heterogeneidade, há alguns pontos comuns que valem ser comentados.
Observem o trecho abaixo:
...as pessoas não são mais escolhidas pela cor e sim pelo que possam oferecer através do seu
trabalho, as mesmas são enganadas com falsas promessas de ganhos e acabam vivendo muitos
pesadelos, suas condições de vida torna-se sub humana, perde toda dignidade, seus valores morais
e financeiros são tirados, adquirem donos e senhores vivendo sob ameaça de violência e morte a
cada segundo de seus miseráveis dias.
Vamos comentar primeiro a estrutura do parágrafo acima. Tentem ler em voz alta. Fora os erros de
concordância, notaram que acabou o fôlego e nem se chegou ao final? Isto ocorre principalmente
por dois fatores: o primeiro, por uma provável falta de revisão (isso mesmo, ‘ver de novo’) ao
término da escrita; o segundo, por estarmos tão presos à coloquialidade ao escrever (e isso é
natural). Se metade dos meus alunos se dessem ao trabalho de ler o texto quando terminam de
escrever com certeza me poupariam boa parte do trabalho. Eu sei que pode dar preguiça ler tudo de
novo após passar tanto tempo escrevendo, mas acreditem, é fundamental. Quanto ao segundo fator,
é necessário mais que uma leitura para corrigi-lo: é preciso atenção e um pouco de policiamento.
Quando refletimos sobre um tema é natural termos várias idéias ao mesmo tempo pois o nosso
pensamento é assim. Contudo, não podemos passá-las exatamente do mesmo modo que nos veio à
mente, com vírgulas após vírgulas, pois o leitor nada entenderá. Lembrem-se de que o parágrafo
não é um amontoado de idéias. A característica de um bom texto escrito é a adequação ao leitor,
afinal é para este que você escreve, e um texto sem organização e clareza torna-se de difícil
compreensão.
Uma possível redação do trecho acima, mantendo as idéias, seria:
...as pessoas não são mais escolhidas pela cor e sim pelo que possam oferecer mediante o seu
trabalho. Elas são enganadas com falsas promessas de ganhos e acabam vivendo muitos pesadelos.
Assim, suas condições de vida tornam-se subumanas, perdendo a dignidade com a retirada de seus
valores morais e financeiro; passam a ter donos e senhores, e vivem sob constante ameaça de
violência e morte.
Como o tema era escravidão, a escolha lexical (ou seja, do vocabulário) permanecia dentro do
mesmo campo semântico e por isso quero ressaltar certos desvios ortográficos recorrentes . Percebi
que há muita dúvida em relação ao emprego do hífen (observaram o sub humana do texto
original?). Subumano, mão-de-obra, entre outras, são a grafia correta para estas palavras. Mas
querem saber por que as pessoas têm tanta dúvida sobre o emprego de hífens ? Observe as regras:
• Usa-se hífen com:
1. Nas palavras compostas que formem, através do conjunto, uma nova significação.
Ex. couve – flor, pára – choque, pé – de – meia
2. Nas palavras formados por prefixos que representem adjetivos
Ex. luso, latino, greco, anglo, lusitano
3. Nas palavras formados por sufixos que representem adjetivos
Ex. mirim (cobra – mirim), açu (capim – açu)
4. Ante, anti, arqui, sobre, diante de palavras que comecem por h, r, ou s.
Ex. sobre – humano, arqui – rabino, anti – higiênico, sobre - saia
5. Super, hiper, inter, diante de palavras que comecem por h ou r:
Ex. super – homem, hiper – racional, inter - regional
6. Supra, ultra, pseudo, auto, semi, neo, extra, contra diante de palavras que comecem por h, r,
ou s, ou vogais.
Ex. supra – sensível, auto – escola, extra – hipermercados, contra – raiva,
7. Ab, ad, ob, sob, sub diante de palavras que comecem por r e b.
Ex. sub – reino, ab – rogar, sob – roda, sub – bibliotecário, sub- biólogo
8. Pós, pré, pró diante de qualquer palavra.
Ex. pró – reitor, pré – escola, pós – graduação.
9. Bem, quando a palavra que se segue tem autonomia própria.
Ex. bem – aventurança, bem - ditoso
10.Sem, sota(o),vice, além, recém, aquém, sem, ex (com o sentido de estado anterior) diante de
qualquer palavra.
Ex. ex – presidente, recém – nascido, sem - cerimônia
11.Pan, mal, circum diante de palavras que comecem por h ou vogais.
Ex. mal – humorado, pan – americana, circum - esfera
Exceções: extraordinário, sobressair, sobressalente, sobressaltar, predefinir, predeterminado,
predispor, predizer, preexistir.
Haja memória para tanta regra! Para ajudá-los, lembrem-se de que a maioria dos prefixos têm hífen
diante de palavras que comecem por h, r, s ou vogal. Super só recebe hífen diante de h ou r, anti
diante de h, r ou s, mas ao menos você já fica limitado neste grupo de h, r, s ou vogal dentre as
letras do nosso alfabeto (atenção à regra 7, que aceita a letra b também, além das que recebem hífen
diante de qualquer palavra – 8 e 10).
Observem agora os trechos de outra redação:
Seria muito bom se pudéssemos dizer sim aos questionamentos apresentados. Entretanto, a Lei
Áurea, infelizmente, trouxe aos negros apenas uma liberdade formal. Essas pessoas de pele
fortemente pigmentadas, já não são mais escravos de grandes colonizadores, fazendeiros ou
latifundiários, mas trazem(,) até hoje, as marcas do passado. Continuam marginalizadas. Como
podemos perceber, o maior índice de criminosos está entre as pessoas de cor negra, assim como o
maior índice de analfabetismo, desemprego e outras misérias sociais. A história continua e essas
pessoas permanecem escravas de um regime capitalista, agora globalizado; escravas de uma
economia que divide as pessoas em ricas e miseráveis, onde esses trabalham cada vez mais para
que aqueles possam desfrutar de suas grandes fortunas.
(...)
O que percebemos diante de tudo isso, é que a sociedade se divide em dois pólos: de um lado estão
aqueles que estão cada vez mais ricos, e que, não contentes com sua situação, querem aumentar
ainda mais suas fortunas, mesmo que(,) para isso, firam os direitos primordiais das demais
pessoas; de outro lado, estão os pobres e miseráveis, os quais, para atenderem suas necessidades
básicas, entregam-se cada vez mais a trabalhos e atividades subumanas, não tendo a menor
perspectiva de subir um degrau para saírem da base da pirâmide social, onde se encontram os
marginalizados. Algumas destas pessoas percebem que a maneira mais fácil de sair dali é entrar
no mundo do crime, traficar drogas, usar armas de fogo e assaltar pessoas. Esses, também, como
as pessoas do outro pólo, acabam por perder o respeito aos seus semelhantes, ameaçando-os e até
mesmo ceifando-lhes a vida por razões banais. Tudo isso é fruto de uma sociedade que não está
interessada na igualdade entre seus cidadãos, onde alguns preferem viver no seu mundo de
comodismo e facilidades a dividir seus bens com os menos favorecidos. Agindo dessa forma,
apenas contribuem para que tais diferenças sociais aumentem cada vez mais e(,)
consequentemente, nunca cheguemos ao fim de um regime onde os pobres são escravos dos ricos e
os ricos são escravos da ganância e toda a sociedade escrava de uma violência preocupante. Com
o advento da democracia, das Constituições com a participação popular, com a defesa dos Direitos
Humanos, temos a ligeira impressão de que a escravidão não mais existe, mas ela continua a
existir de forma cada vez mais arraigada e forte nos dias atuais.
As vírgulas entre parênteses são alterações minhas, assim como os grifos que indicam os trechos
com problemas gramaticais. Além da falta do trema em conseqüentemente (não, o trema não caiu),
vale lembrar o uso do pronome relativo onde: este é usado quando refere-se à lugar. Portanto,
segundo a norma culta padrão, não se pode escrever "a lógica onde eu me baseio", "a economia
onde vivo" ou "de um regime onde sou escravo" , afinal, lógica, economia e regime não são lugares.
Um exemplo segundo a norma culta seria: "o país onde vivo", ou, "os argumentos em que me
baseio".
Além disso, sempre que você usar pronomes demonstrativos para retomar algo que foi dito, ou seja,
com função anafórica, use ‘este e aquele’ em vez de ‘esse e aquele’ – e faça a correta concordância:
...escravas de uma economia que divide as pessoas em ricas e miseráveis, na qual estas trabalham
cada vez mais para que aquelas possam desfrutar de suas grandes fortunas.
Tomem cuidado com os simplismos. Este tema da escravidão deu margem a um imaginário comum
sobre o tópico do preconceito que nem sempre corresponde à realidade. Fugir dos lugares-comuns
exige reflexão e um conhecimento além dos divulgados pela mídia. Dizer, por exemplo, que os
pobres continuam mais pobres e os ricos mais ricos, ou, que a nossa sociedade está dividida entre os
dominados e os dominadores, apesar de triste e real, não traz nada de novo ao seu leitor. Pense
sempre se o que você escreve acrescenta algo que o seu leitor já não saiba. Lembre-se de que o
processo da escrita começa muito antes do momento de sentar e pegar a caneta na mão – aliás, este
é um dos últimos passos.
Viram como apenas dois trechos destacados rendem muitos comentários? Se eu falasse de todas as
redações não sobraria espaço para mais ninguém no sítio. Para quem teve paciência de ler até aqui,
segue abaixo um bom exemplo de redação, enviada por Antonio Carlos Fernandez, tanto em
relação ao viés adotado quanto à estrutura do texto. Logo após seu texto, segue o tema para o
próximo mês. Boa sorte!
A escravidão contemporânea pode ser identificada, em vários aspectos, com a escravidão em
outros períodos da história da humanidade. Entretanto, a forma com a qual o homem é subjugado
hoje pode se dar de outras formas que só pela violência ou sua ameaça.
O escravo hoje continua sendo explorado economicamente, não recebe pagamento ou o que recebe
não representa o mínimo suficiente para sua subsistência e para manutenção de sua dignidade. O
que ocorre de diferente hoje é que, na maioria dos casos, o escravo é controlado sem saber que o é.
O vínculo não é estabelecido só pela força física, mas também pela psicológica.
Já foram noticiados casos em que empregados de fazendas do interior do Brasil trabalhavam muito
mais de oito horas diárias. Esses indivíduos eram obrigados a adquirir alimentos em pequenas
mercearias da própria fazenda em que trabalhavam e, além disso, tinham que pagar algum tipo de
aluguel por sua moradia. No final, eles trabalhavam só pela comida e, ao invés de receber um
salário, contraíam dívidas que só aumentavam. Eles não podiam abandonar a fazenda enquanto
não quitassem essas dívidas.
O escravo contemporâneo é explorado através da sua ignorância. Ele é escravo, mas não se vê
como tal. Ele é convencido que está dentro de uma relação de trabalho "justa" e que, na verdade,
ele é que tem a culpa por estar preso a essa situação.
A escravidão, velada ou não, deve ser banida de nossa sociedade. Uma das formas de atingir esse
objetivo é disseminando informação, educando essas pessoas que acabam permitindo que as
escravizem por pura ignorância, por não ter conhecimento dos seus direitos como cidadão e
trabalhador.

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