AZEVEDO
No final do século XVIII e início do século seguinte, a Europa passou por grandes
transformações. Pois, com a Revolução Francesa, ascende ao poder político europeu, a
partir do ano de 1789, a classe social outrora habitante dos burgos. Estas eram regiões
situadas nas proximidades dos castelos feudais, onde havia um maior fluxo de pessoal e de
produtos, facilitando o comércio. Daí a palavra burguesia para designar os que viviam
basicamente das transações comerciais.
Enquanto esse quadro sofria agravância, uma pequena parcela da população vivia
sob os mais diversos privilégios: o Primeiro Estado e o Segundo Estado. Eram compostos
pelo alto clero e pela nobreza, respectivamente. Entre algumas mordomias, podemos citar
o recebimento de dízimos e a isenção de impostos, por exemplo. Com isso, toda a carga de
estabilização econômica recaía sobre o chamado Terceiro Estado, que tinha grande
composição: artesãos, camponeses, profissionais liberais e os burgueses (banqueiros,
comerciantes, lojistas, fabricantes, etc.). Desta forma, diante de uma recessão na economia
nacional, o rei francês, Luís XVI, imediatamente elevava os impostos atribuídos à camada
mais carente. Assim, deixava-a sobrecarregada. No entanto, mantinha o alto nível de vida
dos Estados superiores.
O novo ideário, por sua vez, introduzido na literatura universal por meio do livro Os
sofrimentos do jovem Werther, obra do alemão Johann Wolfgang von Goethe, publicada
pela editora Leipzig em 1774. Nesse romance, Werther, protagonista da história, narra sua
vida em cartas. Tudo acaba com o suicídio do personagem principal, levando os jovens da
época a se identificar com sua história e, com isso, fazer o mesmo. A onda de suicídios
gerada pela leitura do livro o fez ser considerado como o mal-do-século.
“Outro fato importante foi a criação das Faculdades de Direito de São Paulo e de
Olinda (esta mais tarde transferida para o Recife), alijando a hegemonia do curso jurídico
de Coimbra (...)”.
Com isso, o Brasil passa a ser produtor de uma literatura mais nacional no sentido de
receber menos influência estrangeira. E é com a publicação da Revista Niterói e da obra
poética de Gonçalves de Magalhães Suspiros poéticos e saudades, ambas em 1836, que o
Romantismo é inaugurado oficialmente na literatura brasileira.
AS TRÊS GERAÇÕES
2ª Geração – surge em um momento político social mais tranqüilo, por isso aparece
arrefecida do patriotismo e dos temas de denúncia social. Seus potes retomam os artistas
europeus, principalmente George Noel Gordon, ou Lord Byron, cuja vida e obra passam a
influenciar os românticos desta fase. A geração, por isso mesmo chamada byroniana,
revela como características marcantes: o pessimismo, o egocentrismo, o desejo de evasão
da realidade e o cansaço da vida. Os destaques de sua poesia foram: Álvares de Azevedo,
Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.
Assim, o que será feito a partir de então, é pôr em destaque as semelhanças entre
Byron e Azevedo, mostrando como o primeiro inspirou o brasileiro na vida e na arte.
George Noel Gordon, ou Lord Byron, nasceu em Londres, em janeiro de 1788. Ficou
órfão de pai e mãe aos três anos de idade e, aos onze, recebeu grande fortuna como
herança pela morte do tio-avô.
Aristocrata, não precisou trabalhar para se manter, tampouco vender suas obras
como meio de vida. Após escandalizar a tradicional sociedade inglesa pela sua excêntrica
visão de mundo, parte para a Grécia, onde vai lutar pessoalmente, ajudar a financiar os
custos e defender em seus poemas o processo de independência daquele país sobre os
turcos. Lá, morre em janeiro de 1824.
“Eat, drink and love; what can the rest avail us?
Manuel Antônio Álvares de Azevedo, por sua vez, nascido em São Paulo, a 12 de
setembro de 1831, também teve uma vida privilegiada do ponto de vista financeiro. Assim
como Byron, recebeu uma educação esmerada e, aos 12 anos de idade, já lia obras em
inglês e em francês.
O fragmento acima revela que Álvares de Azevedo conhecia o texto de Byron citado
anteriormente. Pois, além da sensível relação intertextual, a frase do autor de D. Juan foi
utilizada pelo brasileiro como epígrafe de um de seus poemas “Spleen e Charutos”.
Lord Byron
Álvares de Azevedo
Por sua vez, a vida é tratada pelos dois poetas com desgosto não por um cansaço
trazido pelo passar dos anos, mas pela desmotivação causada por um mundo enfadonho.
Neste mundo, desta maneira, não existiria estímulo ou razão para viver. Segundo Álvares
de Azevedo:
Álvares de Azevedo
Lord Byron
A solidão também foi tema presente na obra dos dois autores. Em ambos, há traços
autobiográficos.
Lord Byron
Álvares de Azevedo
BYRON, SHELLEY & KEATS. Poesia romântica inglesa. Lisboa: Relógio D’Água, 1992.
Tradução de Fernando Guimarães.
CÁCERES, Florival & PEDRO, Antonio. História geral. São Paulo: Moderna, 1982.
GOETHE, Johann Wolfgang von. Os sofrimentos do jovem Werther. São Paulo: Clube do
Livro, 1988. Tradução de Erlon José Paschoal.