COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS: HONRA, VIDA
PRIVADA, INTIMIDADE, IMAGEM VERSUS LIBERDADE
DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO1
Makvel Reis Nascimento2
I - Introdução
Gostaria de começar delimitando o âmbito
desta despretensiosa exposição, que certamente dirá
muita coisa de óbvio.
Trata-se de falar aqui, sobre a Liberdade de
Imprensa e os Direitos da Personalidade.
Grande relevo tem ostentado o tema, que
enseja muita discussão, acerca dos direitos da
personalidade e do direito à liberdade de imprensa. Mais
ainda em um tempo de globalização, em que a difusão
da notícia é imediata, integrando povos e países,
revelando acontecimentos diários sempre a uma
velocidade quase instantânea.
Nesta perspectiva, é evidente e inegável o
relevante papel reservado ao desempenho da atividade
de informar, em que se coloca a Liberdade de Imprensa.
Trata-se, a bem da verdade, de mister, sobretudo,
revestido de interesse social, ligado à formação de
conceitos e valores.
A função jornalística, não se pode negar,
cumpre mais que uma finalidade informativa. Forma, a
rigor, a consciência de uma comunidade. Quando
menos, concorre, de forma decisiva. Forja valores
culturais e sociais, divulgando e estimulando a produção
artística, literária, econômica, fomentando a relação
entre os povos.
Desloca-se, pois, o problema do direito de
informar para um contexto mais amplo, espraiando sua
importância por campos mais abrangentes, da difusão
de idéias, mais que das notícias, até desaguar na
motivação de mudanças políticas e sociais, não raro
originárias ou alimentadas pela atuação da mídia.
Não vão longe os exemplos, em nosso país, da
importância da atividade jornalística. Não há como
negar o decisivo papel dos meios de comunicação no
desdobramento de acontecimentos recentes (tais
como: afronto ao Estado - segurança pública em São
Paulo - ou a corrupção no Congresso Nacional). Isso
demonstra a depuração política e moral, que mostra
bem a relevância social, mais que garantia da expressão
de Direitos individuais e constitucionais, que o pleno
exercício da liberdade de imprensa representa,
alicerçando mesmo regime que se pretenda
democrático.
Todavia, em contrapartida, igualmente não são
longínquos casos em que o exercício açodado desse
direito de informar provocou efeitos devastadores em
pessoas, indevidamente envolvidas em fatos penais, de
1 atentados que pode sofrer por parte de outros
Palestra proferida no III Semana Jurídica do Curso de Direito
do Centro Universitário do Sul de Minas, em 18 de maio de 2007.
2 Alguns autores, tais como Carlos Alberto Bittar,
Mestrando em Direito. Pós-graduado em Direito Civil, Processo
Civil e Docência no Ensino Superior. Professor Universitário.
Advogado
outra parte a denotar o quão responsável deve ser o
mister informativo.
De qualquer maneira, importa considerar que a
causa e destinatário dessa atividade, afinal, é o homem,
que, de uma forma ou de outra, acaba sendo, sempre,
o personagem da notícia, ao mesmo tempo em que se
apresenta como receptor da informação e das idéias
que, sobre ela, se levantam.
Assim, é natural que, ao lado do direito de
informar e de ser informado, haja, também, o
reconhecimento, que lhe é precedente, de uma esfera
inatingível do homem a ser preservada, exatamente
onde se põem as questões dos chamados Direitos da
Personalidade.
Trata-se dos chamados Direitos essenciais,
emanações diretas da condição humana, entre os quais
se reconhece o direito à integridade moral do homem, a
sua imagem, a sua privacidade e a sua intimidade.
E esses direitos, como não raro ocorre, podem
conflitar com o exercício do direito de manifestar o
pensamento, bem assim com o de informar e mesmo
com o de crítica. Veja-se que são direitos de dignidade
constitucional, cujos exercícios podem suscitar a
necessidade de um juízo sobre a prevalência de um, em
detrimento do outro.
Ninguém há de questionar quão freqüente se
mostra o entrechoque do direito de informar com o
direito à honra, à imagem ou à intimidade de uma
pessoa. Inúmeras são as hipóteses em que o exercício,
pela imprensa, do direito de crítica ou, em geral, da
liberdade de expressão, os coloca em confronto com os
direitos da personalidade.
É nesse contexto que se apresenta a questão do
conflito dos direitos da personalidade e da liberdade de
imprensa, que de há muito vem desafiando doutrina e
jurisprudência, sem que se obtenha orientação única ou
uníssona para sua solução.
II - Direitos da Personalidade
A princípio cumpre informá-los que a
personalidade não é, ela própria, um direito. Não se
reconhece, com efeito, um direito à personalidade.
A personalidade é que apóia os direitos e
deveres, que lhe pertence como primeira utilidade, para
que ela possa ser o que é, para sobreviver e se adaptar
às condições do ambiente em que se encontra,
servindo-lhe de critério para aferir, adquirir e ordenar
outros bens.
Pois a esses direitos que irradiam e se apóiam na
personalidade, servindo, justamente, a sua proteção,
bem assim à tutela de suas emanações primeiras, como
a vida, a liberdade, a honra, a privacidade, a imagem
da pessoa, entre outras, é que se dá o nome de direitos
da personalidade.
Esses direitos, ditos pela doutrina moderna como
“absolutos”, se destinam a resguardar a eminente
dignidade da pessoa humana, preservando-a dos
indivíduos.
Adriano de Cupis e Orlando Gomes, consideram que os
direitos da personalidade não existem por força de Lei,
1
constituindo direitos que, destarte, chama de inatos,
correspondentes às faculdades normalmente exercidas
pelo homem, relacionados a atributos inerentes à
condição humana.
Essa posição, na qual sou adepto, é uma
orientação naturalista, pois tem por pressuposto o fato
de que o direito não pode ser reduzido a sua forma
positiva, ou seja, não pode estar somente adstrito à lei.
Sem confundi-los, pois, esse não é objeto desta
explanação, cumpre também delinear quando surgiram
os ditos Direitos da Personalidade.
O que estamos discutindo aqui, não é fato novo!
A Teoria do Direito geral de Personalidade
ganhou relevo, ao menos em nível positivo, quando
levada ao texto expresso da Constituição Alemã de
1949, muito embora alguns Códigos, no mesmo sentido,
já a previssem, ainda que não com igual nitidez, como,
por exemplo, o Código Suíço de 1907. O CC português
de 66, em seu art. 70, I, consagrou a tutela genérica da
personalidade física e moral do indivíduo, vedando
qualquer ofensa que contra ela se volte, enfim,
cuidando de garantir a própria dignidade do homem.
No Brasil, mercê de igual previsão do artigo 1º da
Constituição Federal, tem-se admitido a adoção do
conceito de um direito geral de personalidade, muito
embora sua proteção se dê, não raro, pela tutela de
bens específicos, como a honra, a intimidade, a imagem
da pessoa, entre outros, bem assim apesar de, em
doutrina, no mais das vezes vir sendo abraçada
sistemática de verdadeira tipologia dos direitos da
personalidade.
O NCC, previu a tutela desses direitos, na
eventualidade de violação (art. 12), como o direito ao
próprio corpo (art. 13), o direito ao nome (art. 17), o
direito à imagem (art. 20) e o direito à privacidade (art.
21).
Portanto, podemos verificar que o código civil
está em sintonia com a Constituição Federal.
A escolha da dignidade da pessoa humana
como fundamento da República, associada ao objetivo
fundamental de erradicação da pobreza e da
marginalização, e de redução das desigualdades
sociais, juntamente com a previsão do parágrafo
segundo do artigo 5º, no sentido da não-exclusão de
quaisquer direitos e garantias, mesmo que não expressos,
desde que decorrentes dos princípios adotados pelo
texto maior, configuram uma verdadeira cláusula geral
de tutela e promoção da pessoa humana, tomada
como valor máximo pelo ordenamento.
Honra, Imagem e Privacidade: Direitos Conexos
à Liberdade de Imprensa
Costumeiramente, o exercício da liberdade de
imprensa suscita conflitos em especial com o Direito à
honra, à imagem e à privacidade. Inclusive a ponto de
existir verdadeira tendência material de que liberdade
de informação e direito à privacidade, honra e imagem
se destruam, reciprocamente, quando colocados em
confronto.
Honra, imagem e privacidade são bens jurídicos
pessoais que carregam consigo, quando exposto o
homem ao relacionamento social, intrínseca vocação
conflitual com a liberdade de informação, fazendo-se
mesmo portadores duma imanente colisão de direitos
fundamentais e valores.
Mas como falar em erradicação da pobreza, em
marginalização, redução de Desigualdades Sociais ou
em Direitos do Consumidor ou trabalhistas, ou ética
parlamentar, se não for dado o direito de informar (pela
imprensa) e da população de ser informada (direito
coletivo)?
Esse imanente conflito não deve levar a mais
que uma necessária conciliação entre elas, ao contrário
de determinar o completo aniquilamento de uma ou
outras. Até porque, o direito a informação constitui
mesmo uma das formas de garantir a efetividade de
direitos de igual dignidade.
Os conflitos entre direitos fundamentais não
deverão superar-se por via do sacrifício total de um
deles. Em vez disso, há de procurar assegurar-se a ambos
a mais extensa e consistente proteção em concreto
praticável. O que implica, notadamente, a sacrificar, e
por outro lado, a proibição ao sacrifício desmesurado ou
desproporcionado.
III – Liberdade de Pensamento: Consciência e Expressão
Liberdade de Pensamento
Após anos de censura política e ideológica
durante o regime militar instaurado em 1964, o
constituinte de 88, com a redemocratização do País,
evidenciou sua preocupação em assegurar ampla
liberdade de manifestação do pensamento, o que fez
em diversos dispositivos constitucionais.
O pensamento consiste na atividade intelectual
através da qual o homem exerce uma faculdade de
espírito, que lhe permite conceber, raciocinar ou interferir
com o objeto eventual, exteriorizando suas conclusões
mediante uma ação.
Desenvolve, no entanto, em dois momentos. Um
primeiro momento interno, em que se forma o
pensamento, tanto quanto outro externo, em que se o
manifesta.
Portanto, a liberdade de pensamento não é
somente a faculdade de pensar livremente, em que se
contém a chamada liberdade de consciência e a de
crença, como também o direito de manifestar o que se
sinta e pense, seja sobre o que for.
Liberdade de Consciência versus a liberdade de
expressão
O pensamento em si é absolutamente livre.
A Liberdade de Consciência é a de foro íntimo.
Enquanto não manifesta, é condicionável por meios
variados, mas é livre sempre, já que ninguém pode ser
obrigado a pensar deste ou daquele modo. Ninguém
possui condições de controlá-lo, de conhecer o que, de
certo ou errado, passa na mente de um ser humano. Está
absolutamente fora do poder social.
A liberdade de consciência, porém, se
extroverte, se manifesta na medida em que os indivíduos,
2
segundo suas convicções, agem desta ou daquela
forma, na medida em que, por uma inclinação natural,
tendem a expor seus pensamentos aos outros e, mais, a
ganhá-los para suas idéias.
A tutela constitucional surge no momento em
que o pensamento é exteriorizado com a sua
manifestação. Se o pensamento, em si, é absolutamente
livre, sua manifestação já não pode ser feita de forma
descontrolada, pois o abuso desse direito é passível de
punição.
As manifestações, estas sim, pelo seu caráter
social valioso, é que devem ser protegidas, ao mesmo
tempo impedidas de destruir ou prejudicar a sociedade.
A título de exemplo:
art. 5º, VIII - “ninguém será privado de direitos por
motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa,
fixada em lei”; desde que não contrariem a
ordem pública e os bons costumes.
A manifestação do pensamento pode, porém,
dirigir-se a outrem e não apenas exprimir as convicções
do indivíduo, sem que este indivíduo se preocupe que
outros a percebam. Essa liberdade, expressão
fundamental da personalidade também é consagrada,
mas sob regimes diversos, conforme sua importância
social.
Essa manifestação pode dirigir-se de uma
pessoa para outra ou outras não presentes de forma
sigilosa, por carta, telegrama, telefone ou rádio3.
A manifestação mais comum do pensamento é
a palavra falada. Essa liberdade é consagrada pelo art.
5º, IV e V. Na verdade essa é uma das principais de
todas as liberdades humanas por ser a palavra uma das
características fundamentais do homem. O meio por
que se transmite e recebe as lições da civilização. A
liberdade da palavra não exclui a responsabilidade
pelos abusos cometidos.
Outra forma da manifestação do pensamento é
a palavra escrita, destinada a pessoas indeterminadas,
divulgada por meios de livros, jornais, revistas.
Vedação do anonimato
Se a constituição assegura a liberdade de
manifestação de pensamento, as pessoas são obrigadas
a assumir a responsabilidade do que exteriorizam.
Ninguém pode fugir da responsabilidade do
pensamento exteriorizado, escondendo-se sob a forma
do anonimato. Proíbe-se o anonimato, não o
pseudônimo.
IV - é livre a manifestação do pensamento,
sendo vedado o anonimato;
O direito de manifestação de pensamento deve
ser exercido de maneira responsável. Não se tolera o
exercício abusivo desse direito em detrimento da honra
3
Comunicação telefônica: Exceção – pode sofrer restrições em
sua inviolabilidade com objetivos de investigação criminal ou
instrução processual penal (exemplos: crimes de seqüestro e
narcotráfego). Porém, somente por ordem judicial. Art. 5, inciso
LVI da CF- são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
meios ilícitos.
das demais pessoas (art. 5º, X).
No caso da imprensa, responde pela
informação abusiva do direito de manifestação de
pensamento o autor da notícia. Tratando-se de matéria
sem indicação do autor, responderão por eventual
abuso as pessoas responsáveis pelo jornal ou periódico
(Lei 5.250/67).
IV - Direito à informação, Direito de Informar e Liberdade
de Imprensa
Antes de falarmos sobre direito à informação,
necessário se faz definir o que realmente seja
propriamente informação.
Devemos entender a informação como sendo o
conhecimento de fatos, de acontecimentos, de
situações de interesse geral e particular que implica, do
ponto de vista jurídico, duas direções: a do direito de
informar e a do direito de ser informado.
Esse direito de informação ou de ser informado,
então, antes concebido como um direito individual,
decorrente da liberdade de manifestação e expressão
do pensamento, modernamente vem sendo entendido
como dotado de forte componente e interesses
coletivos, a que corresponde, na realidade, um direito
coletivo à informação.
E, em se tratando de um direito coletivo, de
expansão social, calcada no interesse da sociedade no
acesso à informação, a Imprensa deve ter a sua
responsabilidade social na divulgação e propagação
das informações, onde estas deverão ocorrer sem
interpenetração de influências, ou seja, de forma pura,
sem distorção dos fatos.
V – Liberdade de Imprensa
Nesse contexto, em que se garante a liberdade
de informação, abrangente do direito a informar e de
ser informado, se coloca a liberdade de imprensa.
A liberdade de Imprensa é a liberdade de
imprimir palavras, desenhos ou fotografias em que se
expressa o que se pensa e se fornecem informações ao
público acerca de fatos ou atividades próprias ou
alheias.
É certo que, em tempos atuais, ao termo
imprensa não se reserva apenas seu sentido estrito e
original, vinculado mesmo à própria descoberta da
máquina de imprimir, a prensa. Não se concebe mais a
imprensa adstrita às informações impressas.
Tem-se hoje a liberdade de imprensa como a de
informação por qualquer meio jornalístico, aí
compreendida a comunicação e o acesso ao que se
informa, seja através dos modernos e poderosos veículos
de difusão como a rádio, televisão ou internet, ou até
mesmo por meros panfletos informativos.
É certo que, sem o acesso à informação, em dias
atuais, num mundo potencialmente globalizado, rápido,
o indivíduo, isolado, alheio aos acontecimentos, não tem
como eficazmente desenvolver-se, desenvolver sua
personalidade e a sua cidadania. Por isso mesmo é que
a liberdade de imprensa continua a representar direito
individual.
3
 No entanto, repito, a informação não se resume
a um direito individual, posto que guinado a interesses
coletivos.
VI – Conflito entre Direitos da Personalidade e Liberdade
de Imprensa e Critérios de sua Solução
Como já se viu, inúmeras são as possibilidades
de, no exercício do direito de informar, se manifestar um
opinião, ou, de qualquer forma, se publicar notícia que
coloque em confronto alguns dos direitos da
personalidade, por exemplo, honra, imagem, liberdade
de imprensa.
Não são raros os casos em que, à veiculação da
notícia, da crítica ou da opinião, se oponha a vedação
dos direitos da personalidade.
Nessas hipóteses é que surge o grave problema
a ser solvido: qual direito que deve prevalecer?
Os direitos da personalidade cedem diante do
direito de informar, e mesmo de ser informado? Ou será
que esse direito de informar, ou de manifestar o
pensamento, tem aquele limite, ditado pelo âmbito da
inviolabilidade dos direitos da personalidade, sempre
intransponível?
Quantos são os casos, afinal, em que uma
informação vem a detalhar aspectos pessoais do
indivíduo, sem seu consentimento? E as imagens
divulgadas, que retratam pessoas que nem sempre
autorizaram esta divulgação?
Essas são as hipóteses, como tantas outras, em
que os direitos da personalidade e a liberdade de
imprensa se põem em situação oposta e levam o
intérprete ou o operador do direito a questionar qual o
direito que deve prevalecer.
Critérios para solução
Não há relação de hierarquia entre os direitos
constitucionais. A CF dá idêntica guarida ao direito à
honra, à vida privada, à intimidade e a livre
manifestação do pensamento e ao acesso à
informação.
Mas não devemos esquecer que nenhum deles
pode ser considerado absoluto.
Devemos usar o principio da razoabilidade, a
ponderação, sempre resolvendo em favor do interesse
público visado pela informação.
Hipóteses usuais de ocorrência
Pessoas públicas e notórias
Em qualquer campo de atuação, tem mais
limitados seus direitos da personalidade, diante da
atividade de imprensa, sem que haja sua completa
anulação, preservada a finalidade institucional da
informação.
O TJSP já assentou o posicionamento de que
Os políticos estão sujeitos de forma especial às
críticas públicas, e é fundamental, não só ao
povo em geral, larga margem de fiscalização e
censura de suas atividades, mas sobretudo à
imprensa, ante a relevante utilidade pública da
mesma.
Pessoas Comuns
Pessoas comuns, mas que, ocasionalmente,
tenha ganho notoriedade, submetem-se a maior
exposição, diante da liberdade de imprensa; todavia,
com relação apenas àqueles fatos ou acontecimentos
que lhes fizeram notórias e, pois, sem equiparação às
pessoas públicas em virtude de sua própria condição ou
qualidade.
Pessoas comuns, desde que em manifestação
do cotidiano, não podem ser individualizadas mesmo
quando retratadas em locais públicos, devendo estar
inseridas no contexto do cenário, ademais concernente
a informativo a cujo conteúdo o indivíduo não pode ser
relacionado de forma indevida.
Crime
O crime, em si, embora em geral não
indefinidamente, ressalvados casos históricos, constitui
fato que, por sua natureza, tem interesse social e, por
isso, justifica a atividade de impressa que a esse respeito
se desenvolve.
A divulgação de fato criminoso imputado a
pessoa certa deve observar, de um lado,o direito à
ressocialização daquele já condenado que cumpriu sua
pena e a permanência do interesse social da
informação, enquanto, de outro, quando preso o
indivíduo, não julgado, particularmente quanto à
respectiva exposição, deve pressupor seu assentimento
ou retratar o fato em si da prisão, devendo ainda atentar
à presunção constitucional de inocência, sempre
gravado o dever de verdade do jornalista, malgrado
não equiparável ao dos órgãos estatais próprios.
Direito de Crítica
O direito de crítica, concebido como expressão
da liberdade de opinião, constitucionalmente garantido,
de per si, mesmo exercido de modo veemente, com
conteúdo de boa ou má qualidade, e quando não
animado por sentimento pessoal, subjetivo, de
antagonismo a pessoa certa, não é causa de abuso de
liberdade de impressa.
Manifestações humorísticas
As manifestações humorísticas, veiculadas pelos
órgãos de impressa, quando puras, não utilizadas como
pretexto para a ofensa, inclusive mercê da deliberada
deturpação de fatos, e ainda que dotadas do exagero
que lhe é inerente, por si não configuram afronta a
direitos da personalidade.
Tutela dos Direitos da Personalidade
À tutela dos direitos da personalidade, diante da
liberdade de imprensa, servem de medidas preventivas
e corretivas, de natureza administrativa, penal e civil,
4
além de outras de direta emanação constitucional e
além da autotutela.

Tutela Civil Preventiva

A tutela civil preventiva de direitos de

personalidade, diante da atividade de imprensa, que se
faz, particularmente, por meio das ações cautelares e de
obrigação de fazer e de não fazer, a priori não ser
tomada como forma de ser censura.

Indenização

A indenização moral, fixada por arbitramento

judicial, ou material, pelo abuso da liberdade de
imprensa, forma de tutela civil corretiva, tanto quanto as
ações cominatórias, pode ser demandada da empresa
jornalística e/ou do autor do escrito, notícia ou
transmissão, sem tarifação de valor e prazo decadencial
especial.

Conclusão

Tanto menos numerosos serão os casos de

colisão de direitos da personalidade e liberdade de
imprensa quanto mais ético e responsável for o exercício
desse mister informativo.
Pois, não é possível num Estado Democrático de
Direito abdicar da informação, tão necessária para
diminuir as injustiças sociais, erradicação da pobreza e
garantir justamente a Dignidade da Pessoa Humana.
Assim, como dizia Tocqueville: Amo a Imprensa,
não pelo bem que ela faz, mas sim pelo mal que ela
evita.
Mas para tanto, deverá exercer seu mister com
responsabilidade social, desgarrada dos fins obscuros,
pois, senão, não nos resta outra alternativa, a não ser
buscar a Tutela Jurisdicional. Haja visto que esta passa a
vigorar no momento em que o homem não cumpre o
que deveria cumprir espontaneamente, diante de um
caráter moral.