1. Introdução
A perda de peças metálicas por ação da corrosão tem preocupado engenheiros e metalurgistas
que procuram constantemente n só aperfeiçoar ou desenvolver novos métodos de proteção, como
também aperfeiçoar ou criar novas ligas que apresentem o característico de resistência à corrosão.
A corrosão pode ser considerada como um ataque gradual e contínuo de metal por parte do
meio circunvizinho, que pode ser a atmosfera mais ou menos contaminada das cidades, ou em meio
químico, líquido ou gasoso. Como resultado de reações químicas entre os metais e elementos não-
metálicos contidos nesses meios, tem-se mudança gradual num composto ou em vários compostos
químicos, que são geralmente óxidos ou sais.
Admite-se que a corrosão n passa de uma forma de atividade química ou, mais precisamente,
eletroquímica. A velocidade do ataque e sua extensão dependem n só da natureza do meio
circunvizinho, como igualmente do tipo do metal ou liga sofrendo a ação corrosiva.
Quando um metal n corrói, admite-se que se produz alguma reação química entre ele e o meio
que o circunda, com a formação de uma camada fina, a qual adere à superfície metálica e é aí
mantida por forças atômicas. Se, por qualquer motivo, essa camada protetora for destruída
momentaneamente, ela será instantaneamente restabelecida e a lesão o metal é, por assim dizer,
automaticamente sanada.
Em resumo, a maioria dos metais nos meios comuns é instável, tendendo a reverter a formas
mais estáveis (das quais os minérios encontrados na natureza são exemplos comuns).
O tipo de corrosão mais comum é a atmosférica. Por outro lado, como a corrosão do ferro é a
mais importante, será feito a seguir um apanhado sucinto dos fenômenos que levam à destruição,
por corrosão, desse metal.
A teoria mais simples e aceita para explicar a corrosão do ferro é a eletrolítica:
- o ferro está colocado acima do hidrogênio na tabela dos potenciais eletroquímicos;
- portanto, pode deslocar os átomos de hidrogênio da água;
- tal se dá pelo envio de íons de ferro (Fe++) em solução na água, deslocando os íons
de hidrogênio (H+) da água;
- logo, a camada de água circundando o objeto de ferro contém íons Fe++ e íons 20H-
ou seja, Fe(OH)2 dissociado em considerável concentração;
- se o oxigênio do ar for admitido nesta camada — por difusão através da água —
forma-se Fe(OH)3;
- este é menos solúvel que o Fe(OH)2 e precipita de acordo com a reação 2Fe(OH)3
- FeO3 + 3H2O como um depósito marrom;
- em resumo, o Fe(OH)3 passa gradualmente a Fe2O3 conhecido comumente com o
nome de ferrugem.
Os meios corrosivos são inúmeros e a respeito dos mais comuns cabem os seguintes
comentários:
Outros dados obtidos em ensaios realizados por especialistas americanos comprovam que a
corrosão atmosférica é função mais da composição do material do que da espessura dos corpos de
prova utilizados. Assim, à medida que o teor de ligas introduzidas no aço é aumentado, a velocidade
de corrosão em ambientes industriais e rurais decresce mais rapidamente; por exemplo, aço-carbono
exige cerca de cinco anos para que a velocidade de corrosão se estabilize, ao passo que essa
estabilização em aços com cobre ocorre em três anos e nos aços de baixo teor em liga e alta
resistência, ela ocorre em cerca de dois anos.
Um pequeno acréscimo de cobre — de 0,01 para 0,04% — já provoca uma grande mudança
do comportamento do material em relação à resistência à corrosão; do mesmo modo atua o níquel,
ria ausência do cobre; cromo só é eficiente, na presença do cobre.
Para combater a corrosão atmosférica, os processos mais econômicos incluem não só a
adição, acima citada, de pequenos teores de alguns elementos de liga, como a pintura, aplicada em
peças bem limpas e protegidas com uma primeira camada de recobrimento. A galvanização é
igualmente empregada como meio protetor relativamente econômico.
Em resumo:
— o cromo é capaz de assegurar-se o oxigênio para manter uma camada
impermeável de oxigênio ou de óxido, a qual é extremamente estável;
— esta camada, embora invisível, é contínua e, em meios oxidantes, possui uma
pressão de solução tão baixa que concede ao metal um comportamento nobre;
— esta propriedade do cromo é possuída também por certas de suas ligas com o
ferro;
— a película Cr-O é, entretanto, removida pela HCI e o metal, uma vez
desprovido da película protetora, é menos nobre que o ferro.
A passividade dos aços resistentes à corrosão depende essencialmente dos seguintes fatores:
a) composição química;
b) condições de oxidação;
c) suscetibilidade à corrosão localizada (“pitting”);
d) suscetibilidade à corrosão intergranular;
e) outros.
4.1. Outros fatores de que depende a passividade dos aços resistentes à corrosão.
a) condições da superfície;
b) fissura
c) fenômenos de natureza galvânica (corrosão galvânica);
d) tensões (corrosão sob tensão).
Como complemento das considerações até aqui feitas, podemos fazer as seguintes
generalizações:
a) a resistência à corrosão depende da passividade;
b) o cromo é o elemento básico para conferir passividade aos aços;
c) condições fortemente redutoras, ou seja, ausência de condições oxidantes, causam
suscetibilidade ao ataque corrosivo;
d) condições fortemente oxidantes promovem extraordinária resistência ao ataque;
e) e (on cloro é destrutivo em relação aos aços-cromo;
f) o níquel além de melhorar as propriedades mecânicas dos inoxidáveis, melhora sua
resistência à corrosão em soluções neutras de cloretos e ácidos de baixa capacidade de
oxidação;
g) o molibdênio aumenta a faixa de passividade dos aços inoxidáveis e melhora sua
resistência
à corrosão em ácidos sulfúrico e sulfuroso quentes, em soluções neutras de cloretos, como
água do mar;
h) o ataque intergranular dos aços níquel-cromo, fenômeno típico nesses tipos de aços
inoxidáveis, é evitado por baixos teores de carbono, tratamento térmico adequado ou
introdução de titânio e nióbio.
Estes aços caracterizam-se por serem aços-cromo, contendo cromo entre 11,5% e 18,0%; eles
tornam-se martensíticos e endurecem pela têmpera. Dentro desse grupo podem ser ainda
consideradas três classes:
a) baixo carbono, também chamado tipo “turbina”;
b) médio carbono, também chamado tipo “cutelaria”;
c) alto carbono, também chamado tipo “resistente ao desgaste”
Esses aços estão todos incluídos na classificação AISI que considera os tipos indica dos na
Tabela 74.
A figura 151 mostra o efeito do revenido sobre a resistência ao ataque em solução normal de
ácido nítrico de aço inoxidável martensítico tipo “cutelaria”. O gráfico mostra como a perda em
peso pelo ataque por parte de ácido nítrico diluído aumenta em vários aços temperados de
temperaturas diferentes quando são revenidos a diferentes temperaturas durante uma hora. A
melhora gradual da resistência à corrosão em função da temperatura de têmpera é evidente. O
estudo foi realizado em aço com 17,4% de cromo e 0,77% de carbono. A explicação aparente do
fenômeno é a seguinte: a martensita, sendo uma solução grandemente supersaturada de carbono,
sofre uma precipitação de carboneto, quando ao aço for reaquecido após a têmpera; esse carboneto é
muito, rico em cromo.
O aço, que exige que todo o cromo fique em solução, perderá, em conseqüência, resistência à
corrosão. O revenido deverá, pois, ser aplicado com rigoroso controle. O gráfico da figura 151
mostra, em resumo, dois fatos importantes:
— maiores temperaturas de têmpera melhoram a resistência à corrosão do
aço;
— à -medida que aumenta a temperatura de revenido, a resistência à corrosão
diminui, devido à mencionada precipitação de carbonetos ricos em cromo
de martensita.
Um outro fato que deve ser mencionado, em relação aos aços inoxidáveis martensíticos, diz
respeito ao fenômeno denominado “fragilidade pelo hidrogênio”, o qual pode ocorrer nesses aços
quando a sua dureza e o seu carbono s elevados. Essa fragilidade pode ser adquirida durante o
processo de fusão do aço, ou durante o seu tratamento térmico devido à atmosfera usada, ou durante
os tratamentos que (micos ou eletroquímicos como decapagem ou eletrodeposição que
eventualmente sejam empregados nesses aços. A prevenção é a melhor maneira de eliminar esse
inconveniente, o qual, por outro lado, pode ser atenuado por um aquecimento do aço, sob essa
condição de fragilidade, a uma temperatura no máximo igual a 4000C, às vezes da ordem de apenas
l000˚C.
Além do níquel, outras adições que podem ser feitas nesses aços ao cromo s as seguintes:
C Si Mn Cr Ni Mo V
0,25% 0,50% 0,50% 12,50% 0,50% 1,00% 0,30%
Esse aço, temperado a partir de 1010˚C, durante 15 minutos, revenido a 480˚C durante 4
horas, apresenta as seguintes propriedades mecânicas:
Limite de resistência à tração — 180 kgf/mm2
Limite de escoamento — 145 kgf/mm2
Alongamento — 10%.
6.1. Aplicações dos aços inoxidáveis martensíticos.
Os tipos 405 e 409 são os de cromo mais baixo. A estrutura ferrítica é no 405 garantida pela
adição de alumínio que, como se sabe, é poderoso estabilizador da ferrita. Nesse tipo, a quantidade
de alumínio adicionada é suficiente para evitar a formação de quantidade apreciável de austenita,
quando o aço é aquecido a altas temperaturas. Esse fato tem grande importância e significado nas
operações de soldagem, as quais podem ser feitas normalmente, sem que haja formação de
martensita próximo à zona soldada, o que exigiria um recozimento posterior.
O tipo 430 é o mais usado, devido a sua grande resistência à ação de ácidos, sobre tudo o
nítrico e ácidos orgânicos e à ação da água do mar. Esse é o único tipo de aço do grupo ferrítico que
não é inteiramente ferrítico, podendo por resfriamento rápido sofrer um ligeiro endurecimento.
Entretanto, nesse aço como nos outros tipos do mesmo grupo, o tratamento térmico usual é o
recozimento para alívio de tensões e obtenção da máxima ductilidade. A adição de enxofre, fósforo
ou selênio, dando origem ao tipo 430F, melhora a sua usinabilidade.
Os tipos 442 e 443 possuem melhor resistência à corrosão que os anteriores. A adição de
cobre, tipo 443, melhora a resistência ao ataque pelo ácido sulfúrico.
O tipo 446, sendo o de mais alto cromo da série, é o que apresenta maior resistência à
corrosão e à oxidação a altas temperaturas. Esse aço pode apresentar carbonetos dispersos na ferrita
ou nos contornos dos grãos, o que constitui um inconveniente, sobretudo porque favorece o
crescimento de grão durante o aquecimento, resultando em resistência ao choque mais baixa que a
normal.
Como foi visto, sendo esses aços n endurecíveis, o tratamento térmico usual é um
recozimento para alívio de tensões originadas no tratamento a frio e para obtenção da máxima
ductilidade. Geralmente, recoze-se a 800 durante uma a duas horas, seguindo-se resfriamento ao ar
ou mesmo em água ou óleo para evitar a fragilidade que pode ocorrer pelo resfriamento lento. O
tipo 430F de usinagem fácil é recozido a temperatura baixa — 675°C a 800°C.
É certo, finalmente, que a fragilidade a 475°C pode ser eliminada pelo reaqueci mento do aço
a temperaturas superiores a 600°C, seguindo de resfriamento rápido através da temperatura
perigosa.
As principais propriedades mecânicas desses aços inoxidáveis ferríticos estão indica das na
Tabela 77. Como se vê, a dureza é baixa, a não ser no tipo 430 quando temperado. A resistência ao
choque, por sua vez, é também baixa, sobretudo nos tipos de cromo mais alto.
— não magnéticos;
— não endurecíveis, por serem austeníticos;
— quando encruados, apresentam um fenômeno interessante: o aumento de dureza
que se verifica é bem superior ao que se encontraria, mediante a mesma
deformação, em outros aços. Esse aumento, além do normal da dureza, pode ser
atribuído à instabilidade da austenita que, sob o efeito das tensões do
encruamento, transforma-se parcialmente e paulatinamente em ferrita. Esta ferrita,
supersaturada de carbono, nas mesmas condições que uma martensita, contribui
para o endurecimento excepcional do aço, O estiramento a frio, por exemplo, do
aço 18-8 pode produzir resistência à tração da ordem de 250 kgf/mm2 com uma
porcentagem de deformação que num aço comum não produziria mais do que
cerca de 140 kgf/mm2.
As micrografias das figuras 153 e 154 correspondem a aço inoxidável austenítico, do tipo 18-
8; a primeira micrografia mostra uma zona superficial de corrosão intergranular; a segunda, o
núcleo do mesmo aço, sem corrosão; sua estrutura é típica de aço inoxidável austenítico.
A Tabela 78 mostra os principais tipos, classificados pela AISI, com suas propriedades gerais
e aplicações típicas. Do exame dessa Tabela podem ser feitas as seguintes considerações:
a) Os tipos mais populares de aços inoxidáveis austeníticos s os conhecidos comercialmente
com a designação 18-8, os quais possuem 18% de cromo e 8% de níquel. São eles os tipos
301, 302 e 304. Suas variedades são: 302B com Si elevado para melhor resistência à
oxidação a altas temperaturas; 303, para usinagem fácil e 321 e 347, estabilizados contra a
corrosão intercristalina.
b) A presença do titânio e do nióbio — tipos 321 e 347 — previnem a corrosão intergranular,
porque esses elementos fixam o carbono na forma de carboneto de titânio ou nióbio,
evitando a precipitação de carboneto de cromo e a formação de zonas isentas de cromo.
c) O molibdênio, que constitui provavelmente a mais útil das adições aos aços 18-8 (tipos 316
e 317), confere resistência à corrosão localizada por parte de soluções contendo cloretos.
Além disso, melhora as condições gerais de resistência ao ataque por parte de Outros
reagentes químicos, como ácido sulfúrico. Com teor de molibdênio de 1% a 3%, esses aços
devem ter o teor de níquel aumentado de cerca de 4% para que conservem a estrutura
essencialmente austenítica.
d) Teores crescentes de cromo e níquel, tipos 309 e 310 principalmente, melhoram a
resistência à oxidação a altas temperaturas e a resistência à corrosão em geral por parte de
reagentes químicos.
8.2. Novos tipos de aços inoxidáveis austeníticos.
São aços que se caracterizam por apresentarem simultaneamente alta resistência à corrosão e
elevada resistência mecânica, sendo em conseqüência empregados onde ambos os requisitos são
fundamentais, como em molas especiais, indústria aeronáutica, etc. As Tabelas 84 e 85 mostram
alguns tipos, com sua composição química, propriedades mecânicas e os tratamentos térmicos
recomendados para atingir as propriedades mecânicas indicadas.
10. Peças fundidas de aço resistente à corrosão.
A Allegheny apresenta aços inoxidáveis ferríticos como alternativa técnica e econômica para
aços inoxidáveis austeníticos(199). São dois tipos designados por:
E-Brite-26-1, com 26% de cromo e 1% de molibdênio;
AL-29-4-2, com 29% de cromo, 4% de molibdênio e 2% de níquel.
Ambos resistem ao ataque por parte de cloretos, álcalis, ácido nítrico, uréia, aminas e ácidos
orgânicos. O tipo 29-4-2 possui grande resistência à ação de óxidos redutores diluídos e o 26-1,
devido seu alto teor de cromo, apresenta excelente resistência à oxidação a alta temperatura.
Outros tipos desenvolvidos pela Uddeholm e pela Crucible apresentam as seguintes composições
respectivamente:
25Cr — 4Mo — 4Ni
26Cr — 3Mo — 2N
aplicados, ambos, em sistemas de recirculação de água de resfriamento nas usinas de papel
e celulose.
Outras variedades de aços inoxidáveis incluem os chamados “duplex” ou seja, aus teníticos-
ferríticos, com uma composição típica equivalente a 22Cr — 3Mo — 5Ni. Esses aços combinam
propriedades mecânicas elevadas com notável resistência à fissuração sob tensão por cloretos, à
corrosão localizada (por cavidade) e à corrosão galvânica dos cantos.
— Alguns aços inoxidáveis desenvolvidos na Europa estão representados na Tabela
86(200).
Esses aços caracterizam-se por possuirem resistência à corrosão geral, à corrosão localizada e à
corrosão intergranular. Aqueles que contêm nitrogênio, possuem melhor resistência à fluência,
como já se viu.
Os aços 1805 LC, 2205 LCN, 1925 LC e 4221 resistem à fissuração por tensão, na presença de
cloretos. Os aços 1805 LC e 2205 LCN são do tipo “duplex”, ou seja, ferríti cos-austen (ticos.
As ligas lncoloy e Inconel não são consideradas ligas ferrosas.
Finalmente, pesquisas estão sendo desenvolvidas no sentido da põdução de novos aços inoxidáveis
austeníticos com manganês e alumínio, como substitutos do níquel e do cromo(201). Nesses aços, a
resistência à oxidação seria devida ao alumínio e a combinação Mn-C estabilizaria a lupa gama e
pode reter a estrutura austenítica.
Escalas de Dureza Rockwell.
Símbolo da escala Penetrador Carga Principal (Kg)
A Cone diamante 60
B Esfera Ф 1/16 100
C Cone diamante 150
D Cone diamante 100
E Esfera Ф 1/8 100
F Esfera Ф 1/16 60
G Esfera Ф 1/16 150
H Esfera Ф 1/8 60
K Esfera Ф 1/8 150