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As culturas populares e tradicionais no futuro governo Dilma

Neste artigo, pretendo analisar os avanços obtidos durante o governo Lula e os desafios colocados para a
gestão Dilma em relação às Culturas Tradicionais, às Culturas Populares, aos Povos e Comunidades
Tradicionais, ao Folclore, dentre outras denominações possíveis, dependendo do interlocutor que se
apresente para o debate. Por tratar-se de um segmento com bases sociais bastante amplas (habitantes das
periferias urbanas, povos indígenas, trabalhadores rurais, afrodescendentes, dentre outros), responsável
por uma grande diversidade de expressões culturais, uma análise mais complexa ainda precisa ser
encaminhada, de preferência, colaborativamente, a partir deste ponta pé inicial.

As expressões culturais em questão foram, neste governo que termina agora, cada vez mais exaltadas
como patrimônio da nossa nacionalidade, embora, por força da imobilidade das estruturas do poder
hegemônico, seus praticantes tenham permanecido ainda muito distantes de ganhos sociais e políticos
realmente significativos, mesmo que contemplados por melhorias econômicas substanciais.

Sendo assim, não acumulamos força política para participar com propriedade, por exemplo, do intenso
debate que marca a escolha do novo ministro. Temo que não participemos nem mesmo da escolha dos
escalões menores, responsáveis pelas áreas afins ao nosso universo de preocupações.

Efeitos positivos, mas indiretos

Minha tese inicial é a de que, a despeito das inúmeras ações, programas e projetos específicos de cultura
iniciados pelo governo Lula (não ousaria falar que atingimos o patamar de uma política pública), os
benefícios maiores ocorreram apenas de forma indireta, como efeito da melhora geral nas condições de
emprego e renda da população mais carente. A maior estabilidade em relação a este fator, determinante
para a qualidade geral da vida das classes populares, permitiu que inúmeras ocorrências importantes e
negativas para o equilíbrio necessário ao florescimento da criação, da produção, da circulação, da difusão,
do ensino e da memória destas expressões culturais tradicionais fossem se não exterminadas, pelo menos,
neutralizadas.

Se, por um lado, a recomposição do salário mínimo e programas como o Bolsa Família, o Minha Casa
Minha Vida e o ProUni, dentre outros, foram responsáveis pela retirada de milhões de pessoas da pobreza
extrema ou favoreceram a ascensão de milhões de pessoas das classes baixas para as classes médias, por
outro lado, as condições de acesso à terra e aos territórios tradicionais, o acesso aos meios de
comunicação de massa como emissores de conteúdo e o acesso à educação básica de qualidade,
quedaram-se intactas ou, até mesmo, mais desfavoráveis e concentradas. Como resultado, os
representantes deste segmento encontram-se ainda imersos numa situação socioeconômica injusta e são
vítimas de todas as mazelas que a nossa sociedade produz a cada dia, afetando diretamente o modo como
se organizam para se expressar culturalmente.

Diante deste quadro, as políticas públicas de cultura, por si só, não foram suficientes para transformar o
quadro geral onde as expressões tradicionais ocorrem. As ações culturais com foco neste segmento
precisam ser cada vez mais combinadas com as políticas sociais.

A desarticulação das ações específicas existentes


Do ponto de vista da gestão, ações e projetos como os Pontos de Cultura, o programa Mais Cultura e os
editais mais adaptados a este segmento como o Prêmio Culturas Indígenas (do Ministério da Cultura); a
Política de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome); o controle do acesso ao Conhecimento Tradicional Associado
e a Carteira Indígena (do Ministério do Meio Ambiente); os Territórios da Cidadania, o Arca das Letras e o
Pronaf (do Ministério do Desenvolvimento Agrário); o Turismo de Base Comunitário e o Turismo Étnico
(do Ministério do Turismo); o Economia Solidária (Ministério do Trabalho e Emprego); o Brasil
Quilombola (SEPPIR); dentre outros, foram propostos de forma bastante desarticulada entre si,
abrigando inclusive, inconsistências e contradições conceituais, sombreamentos, duplicação de
responsabilidades e concentração de recursos. Ações que, em muitos casos, incidiam sobre o mesmo
público-alvo, como o Prêmio Culturas Populares (Secretaria da Identidade e da Diversidade
Cultural/MinC), a Ação Griô (Secretaria de Cidadania Cultural/MinC) e a Política de Salvaguarda do
Patrimônio Imaterial (Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN/MinC), foram executadas
paralelamente por longos períodos, sem a busca de uma maior sinergia entre as diferentes abordagens e
sem a preocupação com um melhor aproveitamento dos escassos recursos disponíveis para cada uma
delas e para o seu conjunto.

Obviamente, minha fala se constrói, neste momento e em grande medida, a partir de impressões, e não
com base em números concretos, uma vez que as avaliações mais consistentes sobre os efeitos destes
programas ainda estão sendo encaminhadas, como a avaliação do desempenho dos Pontos de Cultura
iniciada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA).

Os avanços políticos

Do ponto de vista político, como o governo Lula se notabilizou pela abertura de espaços de participação
direta em comissões, conselhos, conferências. A novidade da presença constante de lideranças
tradicionais neste meio representou uma enorme conquista política, que será melhor aproveitada nos
próximos anos. A participação, neste caso, torna-se pedagógica de uma prática política renovada e pró-
ativa em busca de benefícios concretos para as comunidades tradicionais, mal acostumadas a formas de
mando e a relações de poder muito diferentes nos seus lugares de origem.

Os agentes culturais populares, em boa medida, possuem também algum nível de interlocução com as
classes médias interessadas em cultura, o que reduz, em parte, seu isolamento, sobretudo através de ações
e parcerias viabilizadas pela mediação de pesquisadores acadêmicos (antropólogos, sociólogos, geógrafos,
etc.), agentes do terceiro setor (ambientalistas, militantes de partidos de esquerda, etc.), artistas
populares e eruditos voltado para o aproveitamento de seu repertório simbólico (músicos, atores,
escritores, dentre outros), agentes de mercado (produtores culturais) e gestores públicos dos diferentes
níveis de governo (federal, estadual e municipal) e alocados em diferentes pastas (cultura, educação,
turismo, etc.). No entanto, pela desigualdade característica destas relações entre tradicionais e
mediadores, os maiores beneficiados do ponto de vista político acabam sendo estes últimos, ficando os
artistas populares com a sobra da migalha destinada ao fomento da cultura tradicional do país.

No campo das culturas populares, por exemplo, a realização do I e do II Seminário Nacional de Políticas
Públicas para as Culturas Populares, uma série de reflexos puderam ser sentidos nas estruturas das
entidades representativas do segmento, além do surgimento de novos arranjos organizacionais, como os
Fóruns de Culturas Populares e Tradicionais de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Goiás e Rio
Grande do Sul, dentre outros, a Campanha de Defesa do Carimbó como Patrimônio Imaterial, no Pará,
como a Articulação Pacari de Ervas Medicinais e as redes de Memória do Jongo e a das Culturas
Populares, esta última com cerca de quatro mil integrantes permanentemente conectados e mobilizados
em relação às políticas públicas para o setor.

As idas e vindas do processo

A curva ascendente na organização política deste movimento foi parcialmente interrompida com as
oscilações observadas na disposição do MinC em incorporá-lo como parceiro, abrindo espaços, por
exemplo, em outras instâncias, como as Câmaras Setoriais, na época em que sua gestão estava na Funarte.
Os motivos destes recuos, muitas vezes, podem ser encontrados no desconhecimento dos agentes públicos
sobre as especificidades deste ambiente político particular e, também, por medo do enfrentamento da
complexidade que esta tarefa exige em termos de avanços orçamentários, jurídicos e de gestão. Em outras
instâncias, a condução dos trabalhos de consulta às lideranças tradicionais na formulação, implantação e
avaliação dos projetos foram mais favoráveis e, portanto, os resultados mostraram-se extremamente
promissores. Por exemplo, o Grupo de Trabalho Indígena da SID/MinC, que produziu a revolucionária
fórmula da inscrição oral em editais públicos; e, também, a Comissão Nacional de dos Povos e
Comunidades Tradicionais do MDS, que desenvolveu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável
para o segmento e permitiu o desenvolvimento mais aprofundado da metodologia de mapeamento
territorial destas comunidades a partir de uma experiência da Universidade Federal do Amazonas.

Em decorrência da instabilidade e da ausência de padrão nestes relacionamentos políticos delicados,


muitas lideranças importantes que estavam nascendo junto com o processo foram queimadas e muitas
iniciativas meritórias passaram a ser contestadas pelos beneficiários, em função do medo dessa
instabilidade. Como exemplo disso, no MinC, podemos citar o programa Capoeira Viva. Em outros
ministérios e pastas tivemos exemplos similares, como a situação dos representantes da bancada indígena
na Comissão Nacional de Política Indigenista após a aprovação da publicação do decreto que reforma as
estruturas da FUNAI, a situação dos líderes ciganos no Grupo de Trabalho da Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial na II Conferência da Igualdade Racial, a das entidades conveniadas para a
prestação de serviços de saúde indígena com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), dentre outras.

A pouca tradição política e institucional do segmento, necessária à participação direta e decisiva nestas
instâncias de representação, tem proporcionado muitos casos de cooptação de lideranças e uma válvula de
escape para o governo diminuir o ritmo dos investimentos e o grau dos esforços exigidos pelo contexto.
Por outro lado, também, a injeção maior de recursos, desacompanhada de um investimento na saúde
institucional das organizações tem gerado muitos problemas e retrocessos políticos enormes, como a
inadimplência de inúmeros Pontos de Cultura.

Acionadas para darem conta, sem poder e sem saber, de convênios baseados em relações jurídicas
idênticas às exigidas para a construção de grandes hidroelétricas ou contratos de prestação de serviços
muito complexos, as instituições tradicionais tendem a sucumbir. Assim, ao invés de multiplicar os
agentes interlocutores, em grande medida, as confusões instauradas no seio das comunidades com a má
gestão dos recursos têm ocasionada um número significativo de rachas internos e de conflitos que podem,
a médio e longo prazo, redundarem em perdas políticas importantes para o segmento.

A curva de alta na organização política do segmento das culturas populares foi retomada só muito
recentemente, a partir da articulação da Rede das Culturas Populares com a TEIA dos Pontos de Cultura,
que permitiu a criação, no âmbito do Conselho Nacional de Política Cultural e da II Conferência Nacional
de Cultura, de dois colegiados setoriais. Neste momento, eles são os responsáveis pela formatação final
dos planos setoriais de cultura que orientarão as ações do governo nos próximos 10 anos no campo das
culturas populares e das culturas indígenas. Da TEIA também surgiu o movimento liderado pelos
membros da Ação Griô pela aprovação, através de iniciativa popular, de projeto de lei que regule e
fomente a relação dos mestres populares com as escolas, na incorporação de práticas da oralidade na
transmissão de conhecimentos tradicionais. A própria Comissão Nacional de Folclore, mais antiga e com
maior capilaridade, apesar da resistência de alguns de seus membros mais notáveis e antigos, teve grande
parte de suas atividades reanimadas e revigoradas, como os Congressos de Folclore e as comissões
estaduais, notadamente as do Ceará, Espírito Santo e Rio de Janeiro, que passaram a contar com mais
apoio federal para suas atividades.

Outras contribuições foram resultado do próprio reconhecimento das expressões culturais populares e de
seus mestres em instâncias onde antes não lhes era concedida a presença. O grande número de
contemplados com a Ordem do Mérito Cultural, por exemplo, ao lado de expoentes das artes consagradas,
é um sinal claro dessa sensibilidade em relação às culturas populares e tradicionais no governo Lula. No
ato marcante da cultura realizado pela campanha de Dilma na metade do segundo turno, ao lado de
oradores como Chico Buarque e Leonardo Boff, foi concedida a palavra a Lia de Itamaracá, reconhecida
como um tesouro vivo da cultura pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
(Fundarpe). Diante das dezenas de celebridades presentes àquele ato, o espaço aberto para Lia,
independente do que ela disse, é um fato que precisa ser registrado como parte deste amplo processo de
reconhecimento.

A multiplicação das experiências

O impacto dessa renovação política repercutiu em ondas por outras estruturas de poder vinculadas à
cultura. Por um lado, acuadas pela enxurrada de ações federais e, por outro, iluminadas pelos novos
paradigmas e modos de ver a política cultural, as administrações culturais nos estados e municípios
também começaram a reproduzir modelos bem sucedidos e a promover o incremento de políticas de
reconhecimentos dos mestres tradicionais, seus grupos e comunidades como depositários de expressões
culturais de grande valor. Sobretudo com a aprovação de leis que garantem aos mestres tradicionais uma
renda suplementar (Leis dos Mestres) e com a edição reiterada de concursos públicos para o fomento
dessa produção cultural específica, as gestões estaduais e municipais acompanharam os avanços políticos
propostos a partir de Brasília. Muitas delas, inclusive, chegaram a superar as ações federais no campo
político, a exemplo dos Estados do Acre, do Ceará e da Bahia, além do município de São Gabriel da
Cachoeira/AM, que aprovou como línguas oficiais, três idiomas praticados pelos povos indígenas ali
residentes.

A reprodução destas experiências bem sucedidas e o aprofundamento dos programas bem avaliados
demandam, em grande medida, a implantação do Plano Nacional de Cultura e de um aumento
considerável na escala orçamentária de financiamento das ações em prol das comunidades tradicionais.
Deixar uma secretaria estratégica como a SID, que atendia, simultaneamente, as culturas populares, as
culturas indígenas e ciganas, a cultura de jovens, crianças e idosos, o movimento LGBT, as pessoas com
deficiência e em situação de sofrimento psíquico, os imigrantes, as mulheres e os trabalhadores, dentre
outros grupos, com um orçamento de R$ 7 milhões para investimento durante muitos anos é de uma
irresponsabilidade espantosa.

Os novos e velhos desafios


O governo Dilma, em função de tudo o que foi dito, tem os seguintes pontos como desafios para serem
desenvolvidos no campo das culturas populares e tradicionais:

1. O aprofundamento das políticas sociais do governo Lula e a erradicação da pobreza extrema;


2. A aprovação das pautas pendentes no Congresso Nacional, como o Sistema Nacional de Cultura, a
PEC 150, o Vale Cultura, etc.;
3. A consolidação de um padrão mais homogêneo de condução política das instâncias de representação
como as comissões, conselhos e conferências que, de fato, garantam aos mestres e lideranças populares e
tradicionais o seu protagonismo político;
4. O aumento na escala dos investimentos para o segmento;
5. O mapeamento das expressões culturais populares e tradicionais para que se tenha a real dimensão
deste segmento e das necessidades exigidas por ele;
6. A construção de uma estrutura de articulação entre os programas, projetos e ações existentes nas
várias secretarias do MinC e pastas relacionadas, que poderia evoluir, num futuro de média duração, para
a criação do Instituto Brasileiro das Culturas Populares e tradicionais, com vistas à regulamentação e
cumprimento do art. 215 da Constituição, no seu parágrafo primeiro, que diz: “O Estado protegerá as
manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do
processo civilizatório nacional.”;

Aguardo a manifestação dos companheiros envolvidos com o universo das culturas populares e
tradicionais para que, com esta discussão, acumulemos a força política necessária para alcançarmos a
implantação dos pontos que forem consensuais em relação às nossas preocupações.

Marcelo Manzatti

Marcelo Simon Manzatti


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