Segredos do Hospicio
GALENO PROCÓPIO M. ALVARENGA
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Segredos do Hospicio
BELO HORIZONTE
2009
Supervisão Gráfica
Sofia Lopes
Diagramação e Capa
Marcos de Oliveira Lara
Revisão
Maria Isabel da Silva Lopes
Impressão
Sografe
Contato c/ o Autor
galenoalvarenga@terra.com.br
www.galenoalvarenga.com.br
CDD: B869.35
CDU: 869.0(81) – 31
Elaborado por:
Maria Aparecida Costa Duarte
CRB/6-1047
Capítulo 1......................................................9
Capítulo 2....................................................15
Capítulo 3....................................................23
Capítulo 4....................................................31
Capítulo 5....................................................41
Capítulo 6....................................................47
Capítulo 7....................................................53
Capítulo 8....................................................59
Capítulo 9....................................................65
Capítulo 10..................................................75
Capítulo 11..................................................89
Capítulo 12..................................................97
Capítulo 13................................................105
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- Que legal!
- Senti uma enorme emoção, uma atração pelo acon-
tecimento como se tivesse vencido uma grande batalha ou,
depois de ter sido derrotada, conquistado um grande amor.
O meu olhar doce e meigo dirigido a Duca, o sabor azedo-
adocicado da maçã, bem como seu perfume refrescante alia-
do à minha voz macia e calma, amansou a fera por minutos.
As enfermeiras e as internas nervosas, que até então assistiam
de longe ao espetáculo, foram se aproximando para ver me-
lhor a peça que estava sendo encenada.
Ninguém sabia como ela iria acabar. A calma existen-
te durou pouco: Duca, sem mais nem menos, voltou ao que
era e virando-se bruscamente em minha direção, deu-me um
violento tapa que acertou minha cabeça e desceu de raspão
sobre minha face, ferindo-a ligeiramente.
- Você virou uma fera!
- Nada, ao contrário do esperado pelas assistentes e
também por mim, não me enfureci. Eu mesma espantei-me
com minha reação. Com calma e segurança contornei seu
corpo, sem xingá-la, passei com a maior suavidade possível
minhas mãos nos seus cabelos engordurados e duros. Este
contato acalmou-a novamente.
- Não tenha medo, disse-lhe. Sou sua amiga, quero aju-
dá-la. A maçã está gostosa? Come, veja como eu como...
Eu sabia que não eram minhas palavras que poderiam
acalmá-la, mas sim meu tom de voz, minha paciência, postu-
ra e olhar. A conversa continuou por algum tempo nesse tom.
A temível paciente foi, aos poucos, ficando mais tranquila e
confiante na sua nova tratadora. Eu, extremamente orgulho-
sa com minha vitória, dei prosseguimento ao meu trabalho.
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que foram atrás dela querendo ouvir sua voz. Eu, entusiasma-
da com o fato, cheguei a esquecer de meus problemas com a
justiça por uns momentos.
Duca, espantada com a nossa euforia e sem compreen-
der, ficou com medo e nada falou por mais alguns dias.
Entretanto, pouco a pouco, Duca foi voltando a falar.
No início, a maioria das vezes era para expressar raiva,
para xingar nomes feios, o que ela sempre ouviu de todos que
cuidaram dela. Ela respondia, como os animais, às agressões
sofridas. Mas aos poucos, ensinada por nós, principalmen-
te por você, Cristina, que já havia sido professora no colégio
onde foi freira, o seu vocabulário foi aumentando.
Os progressos foram muitos com Duca. Ela começou
a comer com os talheres, a princípio com uma colher e de-
pois com o garfo, passou a tomar seu banho sozinha, mas eu
sempre tinha que passar minhas mãos em suas costas, não
mais urinou nas roupas e andava asseada. Um dia levantei-me
triste, quase não dormi devido às notícias trazidas pela minha
mãe na tarde do dia anterior, de que tudo indicava, segundo
meu advogado, de que teria que sair do hospital e deveria ser
transferida para a prisão para cumprir minha pena. Quando
saí do meu leito, ao contrário dos dias anteriores, nem olhei
para Duca, pois tinha meus olhos inchados de tanto chorar à
noite e lágrimas corriam sobre minha face. Desviei meus olhos
para o lado oposto onde ela estava esperando-me. De repen-
te ela levantou-se, sem minha ajuda, aproximou-se de mim e
pela primeira vez desde sua entrada no hospital, abriu seus
enormes braços e abraçou-me ternamente. Chorei como nun-
ca. Não sei se ela havia percebido meu sofrimento. Sei apenas
que ficamos, diante das outras internas espantadas, abraçadas
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