RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do Curso de Direito da Escola de Direito e Relações Internacionais das
Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.
2
1 SITUANDO A ADOLESCÊNCIA
... uma etapa evolutiva peculiar ao ser humano. Nela culmina todo o processo maturativo
biopsicossocial do indivíduo (...) não podemos compreender a adolescência estudando
separadamente os aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Eles são
indissociáveis e é justamente um conjunto de suas características que confere unidade ao
3
fenômeno da adolescência.
2
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p.
420.
3
OSÓRIO, Luiz Carlos. Adolescente Hoje. Porto alegre: Artes Médicas, 1989. p. 10.
4
4
ABERASTURY, Arminda. Adolescência. Porto Alegre: Arte Médicas, 1980. p.16
5
Ibidem, p. 15.
6
PINSKY, Ilana; BESSA, Marco Antonio. Adolescência e drogas. São Paulo: Contexto,
2004. p. 11.
7
GOMES, Maira Marchi et al. Da lei no estatuto da criança e do adolescente a uma
psicanálise do adolescente em conflito com a lei. Revista de Estudos Criminais. Porto Alegre, v. 7,
n. 24, p. 81-83, jan./mar. 2007.
5
8
ERIKSON, Erik Homburger. Identidade, juventude e crise. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1976. p. 92.
9
Idem.
10
ABERASTURY, Arminda. Op. cit., p. 29.
6
11
Idem.
12
Idem.
13
Ibidem, p. 29-30.
7
14
VOLPI, Mário. Sem liberdade, sem direitos: A privação de liberdade na percepção do
adolescente. São Paulo: Editora Cortez, 2001, p. 15-16.
15
Ibidem, p. 15.
8
Porém, Mário VOLPI mostra que estudos realizados no país que os atos infracionais
praticados por adolescentes são em maioria aqueles relacionados ao patrimônio.16
Quanto ao mito da irresponsabilidade este está relacionado à idéia de que
os adolescentes não seriam realmente punidos, já que a legislação é extramente
branda no tratamento aos adolescentes comparando-se com os adultos. Porém,
deve-se lembrar que inimputabilidade penal é diferente de impunidade. 17 O fato de
um adolescente ser considerado inimputável penalmente não significa que o exime
de sua responsabilização com medidas sócio-educativas, podendo inclusive ser
privado de liberdade por até três anos. E segundo o autor, em relação ao
agravamento das penas, não está comprovado por nenhuma sociedade mesmo
aqueles que adotam a pena de morte, que reduziria a prática de delitos.18
Importante conceituar imputabilidade e impunibilidade, segundo De Plácido e
SILVA:
16
Idem.
17
Idem
18
Ibidem, p. 16.
19
SILVA, de Plácido e. Vocabulário Jurídico, 15. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1999. p.
717.
9
não ter sido possível a aplicação da penalidade imputável à pessoa, como pelo indulto ou
20
perdão.
20
Idem
21
WINNICOTT, Donald Woods. Privação e delinqüência. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1994. p. 15.
22
TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Liberdade Assistida: Uma polêmica em aberto.
Série Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. São Paulo: Instituto de Estudos Especiais da
PUC/SP, 1994. p. 15.
23
ASSIS, Simone Gonçalves de. Traçando caminhos em uma sociedade violenta: a vida
de jovens infratores e de seus irmãos não-infratores. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999, p. 30.
10
- a perda de uma experiência particularmente boa que o adolescente viveu no início de vida
e não conseguiu manter enquanto “memória consciente”. O roubo, muitas vezes, revela a
busca desse algo bom (na ou a relação com a mãe) que perdeu:
- a ausência ou depreciação da função paterna (não necessariamente a figura do sexo
masculino), que estabelece o controle o externo, a Lei que funciona como “inibidora” dos
impulsos, no caso a destrutividade, que será – no processo de constituição da subjetividade
– internalizada, “dispensando” autoridade externa. Portanto, a ausência de um ambiente
estável e seguro na infância pode estar associada à destrutividade (algo que nos constitui a
todos) que é realizada pelo adolescente – das coisas, do outro e de si próprio;
- a adolescente repete com o ato infracional – principalmente aqueles atos associados ao
não controle da destrutividade – uma situação de violência física, psicológica (um trauma)
que viveu como vítima. Ela atua (age) aquilo que não elaborou (compreendeu). E, enquanto
24
não elaborar, irá repetir.
Crimes cometidos sob influência de drogas: lesões corporais, roubo, furto, dano (vandalismo
e pichação), desacato, ameaça,etc.
Crimes cometidos para alimentar o vício: crimes patrimoniais (como roubo e furto), tráfico de
drogas,etc.
Crimes cometidos no âmbito do funcionamento dos mercados ilícitos: formação de
quadrilha, homicídios, lesões corporais, etc.
Tendo como orientação esses referenciais sobre a criminalidade vinculado ao uso ou tráfico
de drogas, é importante que o profissional esteja atento aos atos infracionais (crimes)
24
TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Op. cit., p. 22.
11
praticados por adolescentes, pois ele podem indicar um possível envolvimento com
25
drogas.
25
SCHELB, Guilherme Zanina. Violência e criminalidade infanto-juvenil: Intervenções e
encaminhamentos. Brasília: [s.n.], 2004. p. 55-59.
26
RIZZINI, Irene. A criança e a Lei no Brasil: Revisitando a história (1822-2000), 2. ed.
Rio de Janeiro: USU Editora Universitária, 2002. p.19.
27
TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Op. cit., p. 24.
12
distribuição de suas riquezas, avara com o acesso à educação para todos e vincada
pelas marcas do escravismo”.28
Segundo Irene RIZZINI o Código Criminal de 1830 estabelecia a
responsabilidade aos menores a partir dos 14 anos, estabelecendo em seu art. 10
que: “Se se provar que os menores de quatorze annos, que tiverem commettido
crimes, obraram com discernimento, deverão ser colhidos às Casas se Correcção,
pelo tempo que o Juiz parecer, como tanto que o recolhimento não exceda a idade
de dezasete anos”.29
De forma complementar Maria de Lourdes Trassi TEIXEIRA expõe que nas
primeiras décadas deste século, por influência do debate internacional sobre o tema,
os juristas e estudiosos do direito brasileiro concluíram que deveria haver um direito
específico para crianças e adolescentes, um direito substituísse a punição pela
educação.30
Para Irene RIZZINI no Período do Império o que havia eram medidas de
caráter essencialmente assistencial, com um cunho religioso. A Igreja incumbia a
responsabilidade pelas instituições de menores, porém eram subsidiadas com o
dinheiro público. O autor ressalta que “a legislação reflete nítida associação
existente entre os poderes públicos e a Igreja, na esfera política e mesmo no âmbito
mais estritamente jurídico”.31
Nas leis penais da época do Império havia a intenção de reprimir a
delinqüência, porém não se constituía uma ameaça que ultrapassasse o controle
das autoridade policiais e judiciárias.32
Com o Brasil República surge a urgência da intervenção do Estado nas
questões que envolviam menores, para que promovesse a educação e correção do
menores, para transformá-los em cidadãos úteis e produtivos para o país,
desenvolvendo assim uma sociedade moralmente organizada. Em 1906, foi
elaborado por Mello Mattos o projeto que visava entre outras questões da
regulamentação da idade criminal, que passou de “nove para doze anos, e, entre
28
PRIORE, Mary Del. (Org.). História das crianças no Brasil. 4. ed. São Paulo: Contexto,
2004. p. 12.
29
RIZZINI, Irene. Op. cit., p. 9-10.
30
TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Op. cit., p. 25.
31
RIZZINI, Irene. Op. cit., p. 11.
32
Ibidem, p. 89.
13
doze e dezessete para os que obrarem sem discernimento. Os que agissem com
discernimento seriam recolhidos às chamadas escolas de reforma”.33
A partir do final do Século XIX as discussões sobre a internação dos
menores foram mais intensas, contando com a participação de autoridades policiais
no desenvolvimento de vários projetos de lei. Segundo Irene RIZZINI criaram-se
estabelecimentos para recolher os menores:
A autora ainda, destaca que em 1912, foi proposto por João Chaves um
projeto de lei visando uma legislação especial para os menores, em seu art. primeiro
destacava que “para o effeito de serem submetidos a conviniente regimen hospitalar
ou educativo, os menores de um ou outro sexo (...) d) que tiverem delinqüido”. Para
a autora o projeto de Chaves inova ao propor que deveria haver juízes e tribunais
especiais para menores, promovendo uma maior afastamento da área penal, já que
propunha que não seriam objetos de procedimento penal os menores de dezesseis
anos de idade acusados de qualquer infração (delito ou contravenção).35
Para Irene RIZZINI os vários projetos criados foram lentamente ao longo das
próximas décadas dando corpo para a criação de uma legislação especial para
menores – O Código de Menores - Decreto nº 17943, de 12 de outubro de 1927,
com o objetivo de regulamentar a proteção e assistência aos menores, sendo que
diversas medidas de prevenção, proteção e assistência foram observadas visando
proteger à criança abandonada fisicamente ou moralmente e delinqüentes.36
Citando ainda Maria de Lourdes Trassi TEIXEIRA, a autora, expõe que o
Código de Menores de 1927 foi chamado de “Mello de Mattos”, substituiu a
aplicação de penas por medidas de prevenção criminal e assistência, conforme o
grau de corrupção do menor, desta forma consolidou as leis de assistência e
33
Ibidem, p. 19-20.
34
Ibidem, p. 20.
35
Ibidem, p. 21-22.
36
Ibidem, p. 90.
14
-o menor de 14 anos, autor de infração penal, não tem processo penal mas, dependendo da
gravidade do delito tem uma „punição‟, o abrigo (as colônias agrícolas);
-o menor de 14 anos tem sanções penais, estabelecidas pelo juiz. Os menores de 14 anos a
18 anos „serão recolhidos para cumprimento da pena a prisões independentes das dos
condenados adultos‟. Esta orientação permaneceria até construírem „escolas de reforma‟
onde seriam cumpridas as „penas educadoras‟;
39
-é atenuante, no julgamento do delito, a idade de 18 a 21 anos.
37
TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Op. cit., p. 22.
38
LIBERATI, Wilson Donizeti. O Adolescente e ato infracional: conseqüências da
realidade brasileira. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. p. 50.
39
TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi, Op. cit., p. 25.
40
Idem
41
RIZZINI, Irene. Op. cit., p. 91.
15
O Código de Menores traduzia em lei uma doutrina que concebia a sociedade sob uma
perspectiva funcionalista, em que cada indivíduo ou instituição tem seu papel a
desempenhar para assegurar o funcionamento harmônico da sociedade. Os problemas, as
injustiças sociais e a exclusão eram vistos como disfunções que deveriam ser atribuídas aos
desvios de conduta dos indivíduos envolvidos. A existência de crianças desnutridas,
abandonadas, maltratadas, vítimas de abuso, autoras de atos inflacionais e outras violações
era atribuída à sua própria índole, enquadrando-se todas numa mesma categoria ambígua e
vaga denominada situação irregular. Estar em situação irregular significava estar à mercê
da Justiça de Menores cuja responsabilidade misturava de forma arbitrária atribuições de
46
caráter jurídico com atribuições de caráter assistencial.
42
Ibidem, p. 92.
43
LIBERATI, Wilson Donizeti. Op. cit., p. 113.
44
RIZZINI, Irene. Op. cit., p. 71.
45
LIBERATI, Wilson Donizeti. Op. cit., p. 77.
46
VOLPI, Mário. Sem liberdade, sem direitos: a privação de liberdade na percepção do
adolescente. São Paulo: Cortez, 2001. p. 32-33.
16
47
SENADO FEDERAL: Subsecretaria de Informações. Lei nº 6.697, de 10 de outubro de
1979. Disponível em:
<http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/cao_infancia_juventude/legislacao_geral/leg_geral_feder
al/LEI_6697_79.HTM> Acesso em: 07 nov. 2008.
48
RIZZINI, Irene. Op. cit., p. 74-75.
49
Ibidem, p. 76-77.
17
Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou
por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente (Art. 106). Parágrafo
único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão,
52
devendo ser informado acerca de seus direitos.
As leis internas e o sistema jurídico dos países que a adotam, devem garantir a satisfação
de todas as necessidades das pessoas até dezoito anos, não incluindo apenas o aspecto
penal do ato praticado pela ou contra criança, mas o seu direito à vida, à saúde, à
educação, à convivência familiar e comunitária, ao lazer, à profissionalização, à liberdade,
54
entre outros.
50
LIBERATI, Wilson Donizeti. Op. cit., p. 77.
51
RIZZINI, Irene. Op. cit., p. 96.
52
Ibidem, p. 80.
53
VOLPI, Mário. Op. cit., p. 35.
54
SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e ato infracional: Garantias processuais
e medidas sócio-educativas. 2. ed. Porto Alegre: Advogado, 2002. p. 17-18.
18
55
VOLPI, Mário Op. cit., p. 35.
56
RUDNCK, Dani; BUARQUE, Wanessa. Restrição de liberdade no sistema penal e o
“tratamento” de adolescentes. Revista de Estudos Criminais. Porto Alegre, v. 7, n. 24, p. 137-151,
jan./mar. 2007. p. 148
57
MELO, Eduardo Rezende. Justiça restaurativa e seus desafios histórico-culturais (um
ensaio crítico sobre os fundamentos ético-filosóficos da justiça restaurativa em contraposição à
justiça retributiva). Revista de Estudos Criminais, Porto Alegre, v. 6, n. 21, p. 111-129,
jan./mar.2006. p. 111.
58
VOLPI, Mário Op. cit., p. 35.
19
CONCLUSÃO
para evitar que haja retrocessos em relação aos avanços conquistados pela
legislação.
Portanto, através desta análise observou-se que é importante a pesquisa,
estudos e reflexão a respeito do tema. É importante a efetiva aplicação do ECA
como mecanismo de responsabilização e ressocialização de adolescentes em
conflito com a lei, como sempre buscando a correta e justa aplicação do direito para
ajudar na resolução do problema da criminalidade e violência.
21
REFERÊNCIAS
OSÓRIO, Luiz Carlos. Adolescente Hoje. Porto alegre: Artes Médicas, 1989.
PINSKY, Ilana; BESSA, Marco Antonio (Org.). Adolescência e drogas. São Paulo:
Contexto, 2004.
PRIORE, Mary Del. (Org.). História das crianças no Brasil. 4. ed. São Paulo:
Contexto, 2004.
22
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.