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Balanço precoce e desvairado

Eu tinha tomado resoluções sérias, ontem a noite, antes de me deitar. Tinha


resolvido que ia para praia às sete da manhã, oito talvez, depois, um afago do mar, um
pouco de sal na manhã ainda sem cheiros ou gostos, um olhar para o céu azul e pronto! O
dia seria perfeito a partir disso. Fui dormir cedo, pela noite afora, não inventei histórias,
não chamei fantasmas para conversar comigo, não fiz nada. Apaguei a luz e fitei a
escuridão no alto. E estranhamente, como se uma benção me fosse concedida, adormeci.
Acordei feliz, preparado para meu primeiro dia, e deparei-me com uma paisagem
desoladora. Eu detesto esta cidade, quando o céu se enluta e ela adquire uma coloração
cinzenta. Eram sete e meia da manhã e chovia e tudo era áspero e o ar estava pesado e já
havia um engarrafamento imenso que se estendia feito uma cobra pela Atlântica afora. Aí,
joguei a vida para o alto e resolvi que meu ano terminou. Não vou esperar réveillon coisa
nenhuma, não quero fogos de artifício, nada. Já fechei o ano e estou quieto, aqui, fazendo
um balanço para o ano que vem, porque é preciso colocar os livros em dia, a contabilidade
emocional, se possível, deve estar organizada, caso contrário vira uma bola de neve e sabe
Deus onde podemos parar!
Não foi um ano fácil. Longe disso. Eu estive relendo algumas das crônicas que
escrevi neste período e, realmente, algumas críticas, que os leitores me enviaram, não são
tão disparatadas assim. Andei muito melancólico, é verdade. Mas, em contrapartida, dei
algumas risadas e, acredito, chegamos a nos emocionar juntos algumas vezes. Porque,
embora tentemos esconder o terrível fato, no fundo, no fundo, continuamos humanos. E,
como tal, continuamos sem respostas, sem entender direito o que é que nos está
acontecendo e, ao mesmo tempo, sem poder parar e pensar que diabo quer dizer tudo
isso, no fim das contas. Se paramos, recebemos todas as cobranças. Se continuamos com o
pé no acelerador, o perigo ronda a cada nova curva. Ah! É muito difícil ser gente!
Eu juro que prefiro a placidez, a calmaria dos gatos. Imagine se eles estão
preocupados com respostas metafísicas. Você já viu algum gato sofrendo por amor?
Mas, enfim, vamos deixar os gatos para lá, porque eles se viram e muito bem. Eu
falava de gente. E este ano gente me alegrou, gente me decepcionou e gente esteve
presente todo o tempo. Houve gente ensolarada, gente enevoada, gente do bem e gente
do mal. Se bem que, de uns tempos para cá, eu começo a pensar que, como a teoria de
Truffaut, segundo a qual todo filme, por pior que seja, tem o seu momento bom, assim é
com gente. Por pior que seja a criatura, por mais maligno que seja o cururu, sempre vai
haver alguma coisa boa, se alguém estiver realmente disposto a vasculhar aquela alma.
Eu comecei a escrever, na verdade, para dizer que não tenho mais nada o que
escrever este ano. Já disse tudo o que queria e tinha para dizer. Estou oco. Nem uma única
coruja fez moradia no buraco do meu peito. Se alguém bater, com a mão fechada na minha
cara-de-pau, não vai escutar o indefectível “tem gente”. Estou sem ninguém morando
dentro. Acho que vou botar uma plaquinha de aluga-se em algum lugar e vou me mudar de
mim por uns tempos. Vou pegar algumas lembranças, uma ou outra lágrima ocasional,
muitos risos, inúmeros sorrisos, aquele beijo que nunca esqueci, e toda a saudade e vou
me mudar. Pelo menos, enquanto durar esse céu de chumbo.
Quando o sol voltar a brilhar, eu volto a repensar a vida. Até lá, é greve de
existência!

Miguel Falabella
Jornal “O Globo”
22/12/97

Vocabulário
*Atlântica – avenida da zona sul do Rio de Janeiro
*Truffaut – diretor de cinema francês

1. Assinale a alternativa que apresente idéias verdadeiras sobre o 1º parágrafo do


texto:

A) O trecho em questão nos leva a crer que as atitudes a serem tomadas pelo autor
denunciam uma forma ociosa de se
levar a vida.
B) O autor elabora saudável projeto de vida que antecedeu a um sono tranqüilo
motivado possivelmente por inspiração
divina.
C)O raciocínio do autor de que é preciso enxergar a natureza como bênção dos céus o
motiva a traçar metas para uma
vida melhor.
D)Segundo o autor, a freqüência à praia, os banhos de mar e a contemplação do céu
azul são benéficos à saúde do
corpo e da mente.
E) A perfeição do dia estaria vinculada, segundo o autor, à contemplação da natureza e
ao recebimento das bênçãos
de Deus.

Resposta: Letra B

2. Leia atentamente os trechos a seguir:

I. “E estranhamente, como se uma bênção me fosse concedida, adormeci”


(surpreendentemente)
II. “...E deparei-me com uma paisagem desoladora”. (excessivamente triste)
III. “Eu detesto esta cidade quando o céu se enluta.” (morre, perece)
IV. “...Não vai escutar o indefectível ‘tem gente’ (infalível, costumeiro)
V. “...E, realmente, algumas críticas... não são tão disparatadas assim.” (absurdas,
despropositadas)

A substituição das palavras sublinhadas pelas que se encontram entre


parênteses poderia provocar alteração do sentido original em:

A) I
B) II e III
C)III
D)V
E) III e IV

Resposta: Letra C
3. “Eram sete e meia da manhã e chovia e o ar estava pesado e já havia um
engarrafamento imenso que se estendia feito uma cobra pela Atlântica
afora”.

O uso repetido do e marca ainda mais:

A) a expectativa do leitor.
B) a pressa do autor.
C)a revolta do cidadão.
D)a decepção do narrador.
E) o sofrimento do carioca.

Resposta: Letra D

4. Aí, joguei a vida para o alto e resolvi que meu ano terminou. Não vou esperar
réveillon coisa nenhuma, não quero fogos de artifício, nada.”

Nessa passagem há ausência de:

A) pessimismo
B) impulsividade
C)resolução
D)intolerância
E) resignação

Resposta: Letra E

5. “Caso contrário vira uma bola de neve e sabe Deus onde podemos parar!”

Só NÃO há nessa fala do autor:

A) advertência
B) reflexão
C)promessa
D)alerta
E) suposição

Resposta: Letra C

6. No 3º parágrafo, o autor faz sua auto-avaliação e nela assume, EXCETO:

A) situação de tristeza e desconforto.


B) postura de relaxamento e alegria.
C)manifestação de desconcentração emocional.
D)convicção da simplicidade de ser humano.
E) confissão de atitudes dissimuladas.

Resposta: Letra D

7. Observe:

I. “Sempre vai haver uma coisa boa, se alguém estiver realmente disposto a vasculhar
aquela alma.”

Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento.

II. “Se paramos, recebemos todas as cobranças. Se continuamos com o pé no


acelerador, o perigo ronda a cada nova
curva.”

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

III. “todo filme, por pior que seja, tem o seu momento bom.”

Por pior que seja a colheita, há sempre um grão que se aproveita.

IV. “...Enquanto durar esse céu de chumbo. Quando o sol voltar a brilhar...”

Depois da tempestade, vem a bonança.

Os provérbios estão de acordo com as passagens do texto em:

A) I
B) II e III
C)IV
D)I, II e III
E) II, III e IV

Resposta: Letra E
8. “Eu juro que prefiro a placidez, a calmaria dos gatos. Imagine se eles estão
preocupados com respostas metafísicas. Você já viu algum gato sofrendo por
amor?”
Miguel Falabella

“Para sermos tranqüilos como os bichos, seria necessário que não


tivéssemos coração. Estamos condenados ao sofrimento porque estamos
condenados ao amor.”
Rubem Alves

Nos trechos, os autores:

A) depreciam o comportamento animal.


B) apontam o homem como merecedor do sofrimento.
C)vêem a tranqüilidade animal como resultado de sua incapacidade amorosa.
D)sugerem o sofrimento como punição ao ato de amar.
E) concebem o amor como única razão do sofrimento humano.

Resposta: Letra C

9. Leia o seguinte fragmento:

“O tempo pode dar a impressão de que é responsável pelo sucesso ou insucesso,


trazendo a felicidade ou a infelicidade, determinados tipos de acontecimentos,
podendo produzir coisas boas, más, alegres ou tristes.”
Nilza Rocha Féres
“O Bug do Tempo”

O trecho abaixo que exemplifica isso é:

A) “Houve gente ensolarada, gente enevoada, gente do bem e gente do mal.”


B) “Já fechei o ano e estou quieto, aqui, fazendo um balanço para o ano que vem.”
C)“Por mais maligno que seja o cururu, sempre vai haver alguma coisa boa.”
D)“Estou sem ninguém morando dentro.”
E) “Eu detesto esta cidade quando o céu se enluta e ela adquire uma coloração
cinzenta.”

Resposta: Letra A

10. “Vou pegar algumas lembranças, uma ou outra lágrima ocasional, muitos
risos, inúmeros sorrisos, aquele beijo que nunca esqueci, e toda a saudade e
vou me mudar. Pelo menos, enquanto durar esse céu de chumbo.”

Só NÃO há nessa passagem:

A) otimismo
B) saudosismo
C)esperança
D)gratidão
E) fuga

Resposta: Letra D

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