Agropecuária Brasileira no
Período de 1946 a 1964: ~
Crescimento Apesar da Discriminação
.-
~
--
6
~ 5
'Õ
"O 4
8-
3
·â
~ 2
1 A taxa de câmbio real aqui considerada é a taxa de câmbio do Brasil frente ao dólar
norte-americano, considerando o IPA-EUAe o IGP-DI do Brasil. A fórmula de cálculo dessa taxa de
• . , •. taxa de câmbio nominal x IPA _
cambIO e: taxa de cambIO real - EUA • O IPA e o IGP-DL estao na
IGP - DIBrasil
mesma base (agosto de 1994 igual a 100). Após isso, o valor calculado foi indexado pelo IGP-DI de
dezembro de 2~2. Desse modo, os valores do Gráfico 6.1 apresentam a taxa de câmbio a preços de
dezembro de 200~
2 Alguns autores usam a expressão Regime de Taxas de Câmbio Múltiplas apenas para o
período de outubro de 1953 ajulho de 1957. Ver, por exemplo, Baer (2001). No entanto, de janeiro
de 1953 a março de 1964 sempre existiu mais de uma taxa de câmbio para exportações e/ou
importações.
de modo a diferenciar as taxas de câmbio entre as operações de exportação e im-
portação e dentro de cada uma dessas operações. Por exemplo, entre janeiro e se-
tembro de 1953 vigoraram duas taxas de câmbio, uma determinada pelo governo
e outra no mercado livre. Esta última era direcionada a produtos não tradicionais
cujas exportações se desejava aumentar. Entre outubro de 1953 e julho de 1957,
ocorreram duas taxas de câmbio para exportações e cinco taxas de câmbio para
importações. Discriminavam-se as importações de acordo com sua essencialidade
no processo de industrialização brasileira, ou seja, taxas de câmbio menores eram
válidas para as importações de matérias-primas e bens de capital; e taxas de câm-
bio maiores eram válidas para as importações de bens que tinham substitutos nacio-
nais. As duas taxas de câmbio de exportação eram uma menor para café, cacau e
algodão e outra maior para os demais produtos exportados. De agosto de 1957 a
janeiro de 1961, reduziram-se de cinco para duas as taxas de câmbio para as im-
portações e mantiveram-se duas taxas de câmbio para as exportações. As importa-
ções foram classificadas em bens de capital e matéria-prima, com taxa preferencial;
e os demais produtos, com taxa de câmbio mais elevada.
Durante todo esse período de múltiplas taxas de câmbio, houve discrimina-
ção dos principais produtos agrícolas de exportação, como o café, os quais recebiam
a menor taxa de câmbio. Além disso, implementou-se o sistema de quotas de con-
tribuição, que impedia que qualquer desvalorização cambial fosse repassada total-
mente aos preços em moeda nacional dos produtos agropecuários, em especial aos
preços do café e do cacau. Por assumir que a demanda externa desses produtos é
inelástica a variações de preços,3 uma desvalorização cambial poderia levar um ex-
portador a diminuir o preço de seu produto visando aumentar a quantidade expor-
tada e sua receita em moeda nacional. No entanto, essa medida, uma vez generali-
zada, implicava redução da receita em dólar das exportações globais (ver Capítulo
3). Assim, um modo de anular para certo produto os efeitos de uma desvalorização
cambial era estabelecer um imposto provisório e específico sobre esse produto,
como era a quota de contribuição sobre as exportações de café e cacau.
Em março de 1961, houve nova reforma cambial, definindo-se apenas duas
taxas de câmbio: uma para as exportações de café e cacau e a outra, para as expor-
tações dos demais produtos e para todas as importações. Em abril de 1964, houve
a unificação das taxas de câmbio. Essas mudanças, em março de 1961 e abril de
1964, foram acompanhadas de maxidesvalorizações cambiais de 100% e 204%,
respectivamente. Essas desvalorizações de grandes proporções e esporádicas con-
tinuaram até julho de 1968. Não obstante isso, a tendência da taxa de câmbio real
foi de valorizar-se nessa fase (março de 1961 ajulho de 1968), ver o Gráfico 6.1.
A ocorrência de períodos de valorização cambial seguidos de quotas de con-
tribuição, que anulavam os efeitos das maxidesvalorizações nas exportações de
3 Ou seja, diminuição de 10% no preço do café implicará aumento de menos do que 10% na
quantidade demandada.
certos produtos agrícolas, implicaram transferência de renda da agropecuária
para o setor industrial no período de 1946 a 1964. Esse processo de transferência
foi patrocinado pelo Estado, pois esse controlava as operações com moeda estran-
geira, comprando-as a preço baixo dos exportadores de produtos agropecuários e
vendendo-as a preços também baixos para os importadores de bens necessários ao
processo de industrialização.
No período de 1946 a 1964, poucas políticas foram adotadas de modo a esti-
mular o crescimento da agropecuária. Entre elas se ressaltam: a ampliação da ma-
lha rodoviária, permitindo a expansão da fronteira agrícola; e a criação por parte
de governos estaduais, a partir do final da década de 40, das associações de crédito
e assistência técnica (Acar) e de companhias agrícolas visando à venda de insumos
e equipamentos agropecuários. Estas últimas permitiam à agropecuária tomar-se
um mercado para os produtos industriais.
As ferrovias tiveram importância crescente no transporte de cargas no Brasil
até a década de 1920/1929. A partir dessa década, a expansão da rede ferroviária
foi mais lenta do que nos períodos anteriores. Entre 1879 e 1889, foram construí-
dos 6.672 km de estradas de ferro no Brasil. Entre 1889 e 1899, a rede ferroviária
brasileira foi expandida em 5.333 km. Entre 1899 e 1909, foram acrescentados
4.325 km, e entre 1909 e 1919, mais 8.887 km de estradas de ferro foram construí-
dos. Entre 1919 e 1929, esse acréscimo foi de 3.839 km, tendo ele sido de 2.237
km entre 1929 e 1939 e de 1.766 km entre 1939 e 1949 (IBGE, 1990, p. 457).
A partir da década de 1940/1949 houve maior crescimento do transporte ro-
doviário no Brasil. Em 31-12-1938, havia 192.612 km de estradas de rodagem no
Brasil. Em 31-12-1952, elas já eram 302.147 km, e em 31-12-1964 elas eram
548.510 km.
Como conseqüência desses dinamismos distintos de criações de ferrovias e
rodovias a partir da década de 1940/1949, o transporte rodoviário ampliou sua
importância no transporte de cargas, enquanto o transporte ferroviário diminuiu
sua importância. Em 1953, 53,1% da quantidade transportada de cargas no Brasil
foram via transporte rodoviário. Em 1964, essa percentagem era 68,4%. Essas
mesmas percentagens para o transporte ferroviário foram 21,7% e 16,3%, respec-
tivamente (IBGE, 1990, p. 456).
6 Este último dado de Szmrecsányi não confere com os dados censitários. De acordo com a
Tabela 5.2, em 1960 havia 61.345 tratores nos estabelecimentos agropecuários. Não obstante isso,
houve grande crescimento do número de tratores empregados na agropecuária entre 1950 e 1960.
Tabela 6.2 Indicadores da concentração regional da atividade agropecuária (valo-
res em percentagem do total nacional).
Valor Área Lavouras Lavouras Efetivo da pecuária
Região Ano bruto da tempo- perma· Tratores
total Bovinos Suínos
produção rárias Dentes Aves
Indústrias extrativas 2.267 35.433 1.539 36.809 2.178 45.714 3.906 65.339
-;'" Borracha 65 4.524 119 10.861 339 20.878 974 32.863
Minerais não metálicos 4.861 57.416 12.750 128.928 18.146 163.680 25.367 236.506
.g~ Metalurgia
Mecânica
1.460
327
61.338
-
2.221
762
102.826
26.600
4.850
1.692
174.279
62.148
9.681
6.744
266.928
180.431
.5 Material elétrico e comunicações 119 25.624 341 15.774 982 57.904 3.155 115.485
'Oe" Material de transporte
Química
248 -
28.605
539
1.158
20.182 2.096
1.774
81.876 3.319 158.336
- 44.656 76.518 2.645 104.367
al
Produtos farmacêuticos 1.780 9.442 547 17.533 504 27.066 522 30.801
'"O'" Perfumaria, sabões e velas - 7.549 959 11.283 1.071 14.714 1.060 19.160
b Produtos de matérias plásticas - - 104 3.057 295 9.683 1.311 42.566
;:I Editorial e gráfica 31.617 5.526
O 2.207 2.749 49.367 3.389 60.625 97.087
Outras indústrias 756 10.976 1.370 24.033 2.218 37.910 3.755 62.533