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ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS: AVALIAÇÃO DE

SEGURANÇA E MELHORIAS DE QUALIDADE EM DESENVOLVIMENTO

EDSON WATANABE1 , MARILIA REGINI NUTTI2


1
Pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Av. das Américas, 29501 - Guaratiba. CEP 23020-470 Rio de
Janeiro, RJ. E-mail: edswat@ctaa.embrapa.br (autor para correspondência).
2
Chefe Geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Av. das Américas, 29501 - Guaratiba. CEP 23020-470 Rio de
Janeiro, RJ.

Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.1, n.1, p.1-14, 2002

RESUMO - A utilização de estudos toxicológicos com animais na avaliação de segurança de


compostos como pesticidas e aditivos alimentares encontra-se bem estabelecida. Nestes ca-
sos, animais são alimentados diretamente com esses compostos, em doses muito superiores
ao nível de exposição esperado para consumo humano, estabelecendo-se limites seguros,
através da aplicação de fatores de segurança apropriados. Já os alimentos, devido à ampla
variação em sua composição e valor nutricional, além de seu volume e efeito na saciedade, só
podem ser fornecidos a animais em quantidades equivalentes a um baixo número de múltiplos
daquelas quantidades que provavelmente estariam presentes em uma dieta humana. Assim, as
dificuldades para se aplicar testes toxicológicos tradicionais a alimentos fizeram com que uma
abordagem alternativa fosse requerida para a avaliação de segurança de alimentos genetica-
mente modificados, o que levou a OECD, em 1993, a formular o conceito de equivalência
substancial. O artigo trata, na forma de uma pequena revisão, dos principais componentes da
avaliação de segurança de alimentos geneticamente modificados, que é direcionada pelo esta-
belecimento de sua equivalência substancial. Apresenta, de maneira breve, outros tópicos
relacionados ao assunto, como rotulagem e a utilização, no processo de transformação, de
genes marcadores que conferem resistência a antibióticos. Discute também a utilização da
modificação genética no desenvolvimento de plantas com algum tipo de melhoria em sua qua-
lidade nutricional ou em suas características pós-colheita; são apresentados exemplos de pro-
dutos em desenvolvimento nos Estados Unidos, onde milhares de testes de campo estão auto-
rizados.
Palavras-chave: alimentos geneticamente modificados, segurança alimentar, qualidade.

GENETICALLY MODIFIED FOODS: SAFETY ASSESSMENT AND


QUALITY TRAITS UNDER DEVELOPMENT

ABSTRACT - The use of toxicological animal models for the safety assessment of compounds
such as pesticides and food additives is well established. In these cases, animals are directly
fed such compounds at a range of doses some several orders of magnitude greater than the
expected for human consumption and safe intake levels are estimated by the application of
appropriate safety factors. Whole foods, however, due to their variation in composition and
nutritional value, and their bulk and effect on satiety, can usually only be fed to animals at low
multiples of the amounts that might be present in the human diet. Thus, the difficulties of applying
traditional toxicological tests to whole foods required the development of an alternative approach
for the safety evaluation of genetically modified foods. Such a task was carried out by the
2 Watanabe & Nutti

OECD, which formulated, in 1993, the concept of substantial equivalence. This article, a short
review, describes the major components of the safety evaluation of genetically modified foods,
which is directed by the establishment of the substantial equivalence. It also briefly presents
other topics related to the subject, such as labeling and the use of antibiotic resistance marker
genes during the transformation process. The use of genetic modification in the development of
plants with improved nutritional quality and better post-harvesting characteristics is discussed;
examples of products under development in the USA, where thousands of field tests have been
authorized, are presented herein.
Key words: genetically modified foods, food safety, quality.

Historicamente, um alimento preparado e provavelmente apresentariam efeitos adversos se


utilizado de maneira tradicional é considerado segu- pudessem ser consumidos em doses suficientemen-
ro com base na experiência adquirida ao longo do te altas (Donaldson & May, 1999).
tempo. Em princípio, presume-se que um alimento Produtos geneticamente modificados não
seja seguro, a não ser que um perigo significativo são inerentemente perigosos. A modificação genéti-
tenha sido identificado (Tomlinson, 2000). Ao mes- ca tem sido utilizada na produção de produtos far-
mo tempo, reconhece-se que alimentos podem con- macêuticos há 25 anos, sem que tenham sido docu-
ter vários antinutrientes e toxinas que, em determi- mentados casos de perigos atribuídos ao processo
nados níveis de consumo, podem induzir efeitos de- de modificação genética. Trezentos milhões de con-
letérios em seres humanos e animais (Kuiper et al., sumidores norte-americanos têm consumido muitos
2001). Muitos alimentos tradicionais são conside- alimentos geneticamente modificados, cultivados em
rados seguros, embora esses mesmos alimentos mais de cem milhões de acres desde 1994. Nova-
possam não ser seguros sob determinadas circuns- mente, não existem casos documentados de perigos
tâncias. Entretanto, no que se refere à tecnologia de atribuíveis ao processo pelo qual os produtos gene-
alimentos, a introdução de novas tecnologias sem- ticamente modificados foram desenvolvidos
pre foi acompanhada de controvérsia (IFT, 2000a). (McHughen, 2000).
No desenvolvimento de uma metodologia A atual discussão sobre o uso de organis-
para a avaliação de segurança de novos alimentos, mos geneticamente modificados está concentrada em
era essencial estabelecer uma definição de alimento alguns produtos agrícolas, que chegaram ao merca-
seguro. Segundo a OECD (Organization for do nos últimos cinco anos, como resultado da “pri-
Economic Cooperation and Development), um meira onda” da engenharia genética. Esses produ-
alimento é considerado seguro se houver certeza tos, que apresentam características como tolerância
razoável (“reasonable certainty”) de que nenhum a herbicidas e resistência a insetos, trouxeram pe-
dano resultará de seu consumo, sob condições pre- quenos benefícios aos consumidores. A “segunda
vistas de uso (WHO, 2000). onda” (alimentos funcionais) trará ao mercado pro-
Na prática, poucos alimentos convencionais dutos com novas características, que promovem
(não geneticamente modificados) hoje consumidos melhoras na saúde do consumidor, como a soja com
foram submetidos a quaisquer testes toxicológicos. alto conteúdo de ácido oleico. Mas a maior revolu-
Mesmo assim, esses alimentos são geralmente acei- ção na produção agrícola é esperada com a “tercei-
tos como seguros (Tomlinson, 2000). Contudo, ra onda” (biofábricas), que trará produtos contendo
muitos dos alimentos convencionais hoje existentes medicamentos e outros componentes importantes

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para a saúde humana e produção animal, o que po- conjuntamente pela FAO, WHO e o IPCS
deria resultar numa “revolução da saúde” promovi- (International Program on Chemical Safety), e
da por produtos geneticamente modificados (Por- focam no estabelecimento de um nível de ingestão
tugal et al., 2001). diária por humanos, com base no peso corporal, que
Entretanto, enquanto populações de países não causaria risco apreciável (acceptable daily
como o Brasil ainda não podem se beneficiar das intake, ADI). Para isso, antes é necessário deter-
vantagens oferecidas pela utilização de plantas ge- minar o nível de ingestão abaixo do qual o efeito
neticamente modificadas, estão autorizados, nos tóxico não é aparente (no observed adverse effect
Estados Unidos, milhares de testes de campo para level, NOAEL), o que envolve uma bateria de tes-
o estudo de novas variedades de plantas genetica- tes toxicológicos (estudos de toxicidade aguda,
mente modificadas, muitos dos quais fazem parte de subcrônica e crônica, genotoxicidade, carcinogeni-
estudos que visam algum tipo de melhoria em sua cidade, imunotoxicidade, reprodução etc.). A partir
qualidade nutricional ou de suas características pós- desses estudos, a maioria realizada com animais de
colheita. laboratório, determina-se o NOAEL e, pela aplica-
ção de um fator de segurança, deriva-se a ADI. Em
A avaliação de segurança de produtos
muitos casos, um fator de segurança de 100 é utili-
químicos
zado, compensando diferenças de sensibilidade en-
A avaliação de segurança de substâncias tre animais de laboratório e humanos e diferenças
como aditivos alimentares, resíduos de pesticidas e dentro da população humana. Dependendo dos da-
contaminantes de alimentos é conduzida de acordo dos disponíveis e da substância em estudo, fatores
com o paradigma: identificação do perigo, caracte- de segurança mais altos ou mais baixos podem ser
rização do perigo e avaliação da exposição ao peri- aplicados. O uso de fatores de segurança relativa-
go. É necessário fazer uma distinção clara entre pe- mente altos no estabelecimento da ADI provavel-
rigo e risco, pois, neste contexto, as duas palavras mente resulta numa estimativa exagerada do verda-
não são sinônimos. Segundo as definições elabora- deiro risco envolvido, o que pode ser considerado
das pela WHO (World Health Organization), jun- como uma primeira abordagem de segurança
tamente com a FAO (Food and Agriculture (Kuiper et al., 2001).
Organization of the United Nations), perigo é o Estudos toxicológicos com animais de la-
potencial de um agente biológico, químico ou físico boratório constituem um dos principais componen-
presente no alimento, ou uma condição do alimento, tes da avaliação de segurança de produtos quími-
causar um efeito adverso à saúde; o risco é definido cos. Na maioria dos casos, entretanto, a substância
como uma função da probabilidade do efeito ad- teste é bem caracterizada, de pureza conhecida, de
verso à saúde ocorrer como conseqüência do peri- nenhum valor nutricional particular e a exposição de
go, e a severidade desse efeito. Dessa forma, o ris- humanos à mesma é geralmente baixa (Donaldson
co depende do nível de exposição ao perigo, e a & May, 1999).
existência do perigo, por si só, não implica risco Os alimentos, por sua vez, constituem mis-
apreciável (Walker, 2000). turas complexas de vários compostos, e são carac-
Estratégias para a avaliação de segurança terizados por uma ampla variação na composição e
desses tipos de produtos químicos, que podem es- valor nutricional. Devido ao seu volume e efeito de
tar presentes em alimentos, foram desenvolvidas saciedade, os alimentos são usualmente fornecidos

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a animais em quantidades equivalentes a um baixo também poderia ser expandido para outros orga-
número de múltiplos daquelas quantidades que pro- nismos geneticamente modificados ou organismos
vavelmente estariam presentes em uma dieta huma- modificados por outras biotécnicas ou melhoramento
na, o que implica baixos fatores de segurança. Há, tradicional (Pedersen, 2000).
ainda, que se considerar em maior profundidade o A aplicação do conceito não constitui, por
valor nutricional do alimento e, conseqüentemente, si só, a avaliação de segurança, mas auxilia na iden-
o balanceamento das dietas utilizadas. A detecção tificação de similaridades e possíveis diferenças en-
de quaisquer efeitos adversos potenciais e o relaci- tre o alimento convencional e o novo produto, que é
onamento destes a uma característica individual do então submetido a avaliação toxicológica adicional
alimento pode ser, entretanto, extremamente difícil (Kuiper et al., 2001).
(Donaldson & May, 1999; WHO, 2000). Os fatores considerados incluem a identi-
Assim, as dificuldades para a aplicação de dade, fonte e composição do organismo genetica-
testes toxicológicos tradicionais e procedimentos de mente modificado, os efeitos do processamento/coc-
avaliação de risco a alimentos fizeram com que uma ção sobre alimento geneticamente modificado, o
abordagem alternativa fosse requerida para a avali- processo de transformação, o produto da expres-
ação de segurança de alimentos geneticamente mo- são da proteína do novo DNA (em que são avalia-
dificados, o que levou ao desenvolvimento do con- dos os efeitos na função, a potencial toxicidade e a
ceito de equivalência substancial (WHO, 2000). potencial alergenicidade), possíveis efeitos secundá-
rios da expressão do gene (que incluem a composi-
O conceito de equivalência substancial ção em macro e micronutrientes críticos,
Em 1993, a OECD formulou o conceito de antinutrientes, fatores tóxicos endógenos, alérgenos
equivalência substancial (ES) como uma ferramenta e substâncias fisiologicamente ativas), ingestão po-
a ser utilizada como guia na avaliação de segurança tencial e impacto da introdução do alimento geneti-
camente modificado na dieta. O tipo e a extensão
de alimentos geneticamente modificados, a qual tem
de estudos adicionais dependem da natureza das
sido aperfeiçoada ao longo dos anos (FAO/WHO,
diferenças observadas e se estas podem ser ou não
1996). O conceito de ES faz parte de uma estrutura
bem caracterizadas (WHO, 2000).
de avaliação de segurança que se baseia na idéia de
O estabelecimento da ES pode resultar em
que alimentos já existentes podem servir como base
três possíveis cenários: 1) o alimento ou ingrediente
para a comparação do alimento geneticamente mo-
alimentar geneticamente modificado é substancial-
dificado com o análogo convencional apropriado mente equivalente ao análogo convencional, quanto
(Kuiper et al., 2001). à sua composição e aos seus aspectos agronômicos
Tal abordagem não se destina ao estabele- e toxicológicos; 2) o alimento geneticamente modi-
cimento da segurança absoluta, que é uma meta ina- ficado ou ingrediente alimentar é substancialmente
tingível para qualquer alimento. O objetivo é garan- equivalente ao análogo convencional, exceto por al-
tir que o alimento, e quaisquer substâncias que nele gumas poucas diferenças claramente definidas; 3) o
tenham sido introduzidas como resultado de modifi- alimento geneticamente modificado ou ingrediente
cação genética, sejam tão seguros quanto seus aná- alimentar não é substancialmente equivalente, por-
logos convencionais (WHO, 2000). Hoje, o con- que diferenças não podem ser definidas ou porque
ceito de ES é associado quase que somente à avali- o análogo convencional não existe (Donaldson &
ação de plantas geneticamente modificadas, mas May, 1999).

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No primeiro cenário, não são requeridos novo em organismos vivos são atualmente utiliza-
testes específicos adicionais, uma vez que o produ- dos. Em plantas, os dois métodos mais comuns são:
to foi caracterizado como substancialmente equiva- o bombardeamento de partículas e a transformação
lente a um análogo convencional, cujo consumo é mediada por Agrobacterium (ANZFA, 2000).
considerado seguro (por exemplo, amido de bata- A completa caracterização do material ge-
ta). No segundo cenário, a equivalência substancial nético inserido inclui a identificação da fonte do ma-
é constatada, a não ser pela característica inserida, terial genético, para se verificar se é proveniente de
fazendo com que o foco da avaliação de segurança uma fonte patogênica, tóxica ou alergênica. Os prin-
seja direcionado para essa característica (por exem- cipais parâmetros a serem avaliados são: o tamanho
plo, uma proteína com propriedade inseticida em um do material genético inserido, o número de genes
tomate geneticamente modificado). Neste caso, a inseridos, a localização da inserção e a identificação
avaliação de segurança deverá incluir testes especí- das seqüências marcadoras do material genético
ficos de toxicidade (de acordo com a natureza e a construído para inserção, que permitem sua detecção
função da nova proteína expressa), assim como es- (genes marcadores) e expressão (promotor) (IFT,
tudar a ocorrência de efeitos não intencionais, o 2000b).
potencial de transferência de genes do alimento ge- Uma vez que o material genético tenha sido
neticamente modificado para a flora intestinal huma- completamente caracterizado, é preciso avaliar a
na/animal, a potencial alergenicidade das novas ca- segurança da proteína expressa pelo gene inserido,
racterísticas introduzidas e o papel do novo alimen- geralmente uma enzima. Inicialmente, a nova prote-
to na dieta. No terceiro cenário, uma avaliação do ína, depois de purificada, é caracterizada, determi-
novo alimento, definida caso a caso, deverá ser re- nando-se sua identidade, concentração, força, pu-
alizada de acordo com as características do novo reza e composição (Hammond et al., 1996).
produto (Kuiper et al., 2001). A demonstração de ausência de homologia
O fato de um alimento geneticamente modi-
na seqüência de aminoácidos com relação a
ficado ser substancialmente equivalente ao seu aná-
alérgenos e toxinas conhecidos e uma rápida degra-
logo convencional não significa que o mesmo seja
dação proteolítica sob condições simuladas de di-
seguro, nem elimina a necessidade de se conduzir
gestão eram consideradas suficientes para se assu-
uma avaliação rigorosa para garantir a segurança do
mir a segurança da nova proteína (FAO/WHO,
mesmo antes que sua comercialização seja permiti-
1996). Entretanto, pode haver circunstâncias em que
da. Por outro lado, a não constatação de ES não
significa que o alimento geneticamente modificado um estudo mais extensivo da nova proteína seja re-
não seja seguro, mas que há necessidade de se pro- querido. Freqüentemente, a expressão da nova pro-
ver dados de maneira extensiva, que demonstrem teína na planta geneticamente modificada ocorre em
sua segurança (Donaldson & May, 1999). níveis muito inferiores aos necessários para a reali-
zação de testes extensivos. Assim, quantidades su-
O material genético inserido e a proteína ficientes são obtidas a partir de sistemas de expres-
expressa pelo novo gene são bacterianos, o que implica a potencial presença
A primeira etapa da avaliação é o exame de impurezas tóxicas e a possibilidade de que a
detalhado da modificação genética. Vários métodos glicosilação, durante o processamento da proteína,
diferentes para a introdução de material genético seja diferente em bactérias e plantas. Nesses casos,

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é importante demonstrar que a produção da prote- inicialmente, determinar sua equivalência à proteína
ína em um hospedeiro alternativo não provoca dife- vegetal com relação a alguns parâmetros, como peso
renças em sua toxicidade (Kuiper et al., 2001). molecular, imunorreatividade, ausência de
A avaliação de segurança da proteína ex- glicosilação e atividade enzimática. Depois, é reali-
pressa inclui as seguintes etapas: busca de similari- zado um estudo de toxicidade oral aguda (“acute
dade com outras toxinas, alergênicos, fatores mouse gavage”), em que a proteína expressa é
antinutricionais e outras proteínas funcionais, inserida com uma seringa diretamente no estômago
termoestabilidade e digestibilidade, testes do animal (Harrison et al., 1996).
toxicológicos in vitro e in vivo, e avaliação do po- Se existir a possibilidade de que mudanças
tencial alergênico in vivo e in vitro (IFT, 2000b). relevantes na composição do alimento possam ocor-
Técnicas moleculares e bioquímicas padrões são rer, em adição às mudanças desejadas, estudos em
utilizadas para verificar se o tamanho de qualquer que animais são alimentados com o produto que foi
produto novo do gene está de acordo com o espe- genericamente modificado devem ser considerados.
rado e também para quantificar tais produtos em Entretanto, tais estudos devem ser analisados caso
tecidos específicos. A presença e a quantidade de a caso, levando-se em consideração suas limitações,
novas proteínas em frações específicas ou compo- já discutidas neste trabalho. O requerimento mínimo
nentes de variedades geneticamente modificadas uti- necessário para demonstrar a segurança do consu-
lizadas como alimento ou na preparação de alimen- mo do alimento a longo prazo é a realização de um
tos podem ser relevantes para a segurança alimen- estudo subcrônico de 90 dias. Estudos mais longos
tar. Na maioria dos casos, todos esses pontos são podem ser necessários se os resultados do estudo
considerados em maiores detalhes em etapas sub- subcrônico indicarem efeitos adversos (Kuiper et al.,
seqüentes da avaliação (ANZFA, 2000). 2001).
A segurança de novas proteínas inseridas Alergenicidade
por modificação genética tem sido avaliada caso a
caso. Deve ser observado que o consumo de pro- Alergias alimentares são reações adversas
provocadas por um alimento, ou por um de seus
teínas transgênicas virais, presentes em produtos
componentes, o que envolve uma resposta anormal
agrícolas aprovados no Canadá e nos Estados Uni-
do sistema imunológico do organismo a proteínas
dos, foi assumido como seguro com base no históri-
específicas. As alergias alimentares atingem 2% da
co de ingestão de vírus encontrados em plantas sel-
população mundial e, em alguns casos, podem levar
vagens (Kuiper et al., 2001).
a choques anafiláticos (OECD, 1997). Os tipos mais
Estudos toxicológicos com animais comuns de alergias a alimentos são mediados por
anticorpos da classe IgE. Alimentos comumente
Estudos com animais, análogos aos testes alergênicos (amendoim, soja, leite, ovos, peixe, crus-
convencionais de toxicidade realizados para aditivos táceos, trigo e castanhas) respondem por 90% de
alimentares, podem ser necessários para a obten- todas as reações alérgicas a alimentos, de modera-
ção de informações sobre as características de no- das a severas. Quase todos os alergênicos alimen-
vas proteínas expressas em alimentos (Kuiper et al., tares são proteínas. Não há um grande número de
2001). alergênicos potenciais no suprimento de alimentos,
Se a proteína foi purificada a partir de um mas novos alimentos alergênicos são às vezes intro-
sistema de expressão como E. Coli, é necessário, duzidos no mercado (WHO, 2000).

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Até o momento, não se tem conhecimento do desenvolvimento do produto. Um resultado ne-


de nenhum produto agrícola ou alimento genetica- gativo implica a realização de testes in vitro adicio-
mente modificado aprovado que tenha causado aler- nais, realizados com soro de pacientes
gias. A tecnologia de modificação genética oferece hipersensibilizados a certos grupos de alérgenos re-
a oportunidade de reduzir ou eliminar alergênicos lacionados à fonte original do gene; implica também
protéicos que ocorrem naturalmente em alimentos o teste de resistência da proteína expressa à diges-
específicos (WHO, 2000). Pesquisadores têm tra- tão pela pepsina (“digestive fate”) e a determina-
balhado para retirar alergênicos naturalmente pre- ção da imunogenicidade em modelos animais. Tes-
sentes em trigo, leite e até mesmo amendoim. As- tes in vivo com humanos podem ser considerados
sim, a biotecnologia tem trabalhado para reduzir pro- em alguns casos, porém não são obrigatórios. No
blemas com alergias alimentares e não para agravá- caso da nova proteína proceder de uma fonte não
los (Avery, 2000). reconhecida como alergênica, a árvore de decisões
Uma árvore de decisões para a avaliação busca a similaridade da seqüência com alérgenos
do potencial de alergenicidade de novas proteínas conhecidos e subseqüente teste in vitro com soro
em alimentos geneticamente modificados foi desen- de pacientes hipersensibilizados àqueles grupos de
volvida, em 1996, pelo Conselho Internacional de alérgenos relacionados à fonte original do gene. A
Biotecnologia de Alimentos e pelo Instituto de Aler- proteína é considerada alergênica quando for
gia e Imunologia do ILSI (International Life verificada homologia da seqüência e o resultado do
Sciences Institute). Tal processo de decisão foi teste com soro for positivo. Quando os resultados
posteriormente revisado, em 2001, pelos peritos que forem negativos, testes adicionais de resistência da
participaram da consulta conjunta da FAO/WHO nova proteína à digestão pela pepsina e testes de
sobre alimentos derivados da biotecnologia (WHO, imunogenicidade em modelos animais podem indi-
2001). car a alta ou baixa probabilidade do potencial
Segundo a versão revisada da árvore de alergênico da nova proteína (Kuiper et al., 2001).
decisões, quando a fonte da nova proteína é
sabidamente alergênica, a similaridade da seqüência Composição do alimento
com alérgenos conhecidos e subseqüente teste es-
Muitas plantas utilizadas como alimento con-
pecífico in vitro com soros de pacientes alérgicos à
têm toxinas naturais, cujos níveis podem variar am-
fonte da proteína são recomendados. Considera-se
plamente entre diferentes linhagens da mesma espé-
positivo o resultado da similaridade da seqüência
quando for obtida identidade superior a 35% entre cie. Esses níveis também podem variar entre plantas
as seqüências de aminoácidos da proteína expressa de uma mesma linhagem, como resultado da influ-
e de um alérgeno conhecido, ou quando for obser- ência de fatores externos, como clima, estação do
vada identidade numa seqüência de seis aminoácidos ano e local onde a planta foi cultivada (WHO, 1991).
contíguos (Kuiper et al., 2001). Para a determinação da equivalência subs-
A nova árvore de decisões, ao contrário da tancial, a composição do alimento geneticamente
versão anterior, não faz distinção entre fontes modificado deverá ser comparada à composição de
comumente alergênicas e fontes menos comumente seu análogo convencional, preferencialmente a linha-
alergênicas, no que diz respeito aos testes com soro gem parental direta, que, em alguns casos, não está
in vitro. Qualquer resultado positivo define o pro- disponível. Nesses casos, a OECD defende o uso
duto como sendo alergênico, levando à interrupção de várias linhagens-controle para determinar se

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quaisquer diferenças observadas são devidas a efei- ser realizada entre o alimento derivado de OGM
tos secundários da modificação genética. Análises processado e o análogo convencional processado.
de composição devem ser realizadas em plantas Com relação aos antinutrientes, o processamento
geneticamente modificadas e seus respectivos aná- também deve ser considerado, uma vez que o mes-
logos convencionais/linhagens-controle que tenham mo pode inativar fatores antinutriconais presentes no
se desenvolvido sob condições ambientais simila- alimento não processado (ANZFA, 2000).
res, uma vez que estas podem levar a diferenças na
composição não relacionadas à modificação genéti- Estudos de equivalência nutricional
ca. Ao mesmo tempo, é necessário avaliar a nova Na avaliação de segurança de alimentos
variedade geneticamente modificada em diferentes geneticamente modificados, além dos estudos de
locais (diferentes condições ambientais) e durante composição e da avaliação de segurança da nova
temporadas subseqüentes (diferentes condições cli- proteína introduzida, expressa pelo gene inserido,
máticas), com a finalidade de verificar se não houve outro componente a ser considerado é a avaliação
alteração de rotas metabólicas, com possíveis efei-
de sua equivalência nutricional. Esta avaliação é re-
tos adversos na composição da planta (Kuiper et
alizada através de estudos em que animais (como
al., 2001).
ratos, peixes, frangos, porcos e gado) são alimenta-
As análises para a determinação da com-
dos com rações produzidas a partir do organismo
posição de alimentos geneticamente modificados e
geneticamente modificado (Sidhu et al., 2000).
seus derivados devem focar o conteúdo de nutrien-
No caso de uma soja desenvolvida para ser
tes-chave (macro e micronutrientes), de componen-
tolerante a um herbicida específico, estudos com
tes tóxicos-chaves e de fatores antinutricionais-cha-
animais foram conduzidos com a finalidade de pro-
ves. Uma análise de composição típica compreen-
ver suporte adicional à aceitação comercial dessa
de: composição centesimal (cinzas, umidade, prote-
nova variedade de soja, embora sua equivalência a
ínas, lipídios, fibras e carboidratos) e perfis de
variedades comerciais já tivesse sido confirmada
aminoácidos, ácidos graxos, carboidratos, vitami-
através de estudos de composição. Neste estudo, a
nas e minerais. O análogo convencional deve refletir
linhagem de soja parental não modificada foi com-
a composição centesimal média encontrada em ali-
parada com duas linhagens geneticamente modifi-
mentos convencionais semelhantes, seu consumo, sua
cadas, tendo sido constatado que estas são nutrici-
importância na dieta e seus efeitos no processamento
onalmente equivalentes à linhagem parental, ou seja,
(ANZFA, 2000).
a incorporação genética da tolerância ao herbicida
Outros componentes presentes em alimen-
tos específicos também podem ser quantificados se não altera sua “saudabilidade”. Este tipo de estudo
apresentarem efeitos biológicos potencialmente be- não é normalmente utilizado na avaliação de quali-
néficos, como as isoflavonas da soja. Também deve dade de novas variedades de soja desenvolvidas
ser verificada a ocorrência de quaisquer antinutrientes através de técnicas convencionais de melhoramento
conhecidos, naturalmente presentes no alimento, genético (Hammond et al., 1996).
para se ter certeza de que os níveis dos mesmos não Resistência a antibióticos
tenham aumentado significativamente, como resul-
tado da modificação genética, em relação aos níveis Desde o advento da tecnologia da modifi-
encontrados em variedades convencionais. Para ali- cação genética, pesquisadores têm utilizado genes
mentos processados, a comparação pode também que conferem resistência a antibióticos como

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marcadores seletivos do processo, o que deu início gene (ou genes) teria que competir com o DNA da
à inquietação de que o uso difundido desses genes dieta para ser transferido; as bactérias receptoras
em plantas poderia aumentar a resistência a antibió- ou células de mamíferos teriam que ser competentes
ticos de patógenos que provocam infecções em hu- para a transformação e os genes teriam que sobre-
manos (Transgenic Plants and World Agriculture, viver às suas enzimas de restrição; o gene (ou genes)
2000). teria que ser inserido no DNA hospedeiro por um
O uso desse tipo de marcadores não se raro reparo ou eventos de recombinação (WHO,
presta a nenhum propósito específico no produto 2000).
final, ou seja, a planta modificada. Na verdade, já é
Rotulagem
possível remover tais marcadores após o passo ini-
cial de multiplicação em bactérias, antes da introdu- À medida que a discussão sobre as ques-
ção do novo DNA na planta receptora. Atualmen- tões de comércio internacional relacionadas à
te, está se tornando prática comum o uso de siste- biotecnologia se intensifica, observa-se a crescente
mas marcadores alternativos, ou a subseqüente re- necessidade de se distinguir alimentos geneticamen-
moção do gene que confere resistência a antibióti- te modificados daqueles que não foram genetica-
cos (Donaldson & May, 1999). mente modificados. Em vários países, a legislação
Uma questão relevante a ser considerada é para a rotulagem de alimentos estabelece limites
a avaliação das conseqüências da transferência permissíveis de OGMs, os chamados “threshold
gênica horizontal, se esta ocorrer. Assim, informa- levels”. Assim, alimentos que contêm ingredientes
ções sobre o papel do antibiótico em humanos, seu geneticamente modificados em níveis acima do per-
mitido devem ser rotulados como “geneticamente
uso veterinário, seu espectro terapêutico específico,
modificados” (Erickson, 2000).
os níveis de resistência existentes no ambiente e as
Na União Européia, alimentos que contêm
possíveis alternativas para o tratamento de doenças
uma porcentagem superior a 1% de soja ou milho
devem estar disponíveis (Kuiper et al., 2001).
geneticamente modificado devem ser rotulados. No
Entretanto, não existe nenhuma evidência
Japão, foi estabelecido o nível de 5% para a soja e,
definitiva de que genes para resistência a antibióti- no caso do milho, devido à potencial polinização
cos utilizados como marcadores provoquem danos cruzada, nenhuma porcentagem foi estabelecida. Nos
à saúde humana, e considera-se que a transferência Estados Unidos, não existe nenhum requerimento
desses genes para bactérias presentes no intestino obrigatório para a rotulagem de alimentos genetica-
humano a partir de plantas seja muito improvável. mente modificados. O FDA mantém a posição de
Contudo, esta hipótese não pode ser descartada que, se alimentos geneticamente modificados são
(Donaldson & May, 1999). substanciamente equivalentes aos seus análogos con-
A transferência do DNA de plantas para vencionais, nenhum tipo de rotulagem é requerida, a
células microbianas ou de mamíferos, sob circuns- não ser nos casos em que o conteúdo nutricional
tâncias normais de exposição através da dieta, re- tenha sido alterado ou quando o produto contenha
quereria que todos os seguintes eventos ocorres- alergênicos conhecidos (Erickson, 2000).
sem: o gene (ou genes) relevante do DNA da planta No Brasil, o Decreto No. 3.871, de 18 de
teria que ser liberado, provavelmente, como um frag- julho de 2001, estabelece que deverão ser rotula-
mento linear; o gene (ou genes) teria que sobreviver dos os alimentos embalados, destinados ao consu-
às nucleases na planta e no trato gastrointestinal; o mo humano, que contenham ou sejam produzidos

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com organismo geneticamente modificado, com pre- -aumento do teor de carotenóides, para o
sença acima do limite de 4% do produto. O rótulo aumento de vitamina A;
deverá apresentar a expressão “(tipo do produto) -alteração no metabolismo dos carboidra-
geneticamente modificado” ou “contém (tipo do in- tos;
grediente) geneticamente modificado”. -redução do nível de fitatos, otimizando o
Contudo, a rotulagem pode não ser produto para ração animal.
requerida para alimentos que não contêm quantida- Soja: -modificação no perfil lipídico, para a
des mensuráveis da nova proteína ou DNA (Beever obtenção de óleo mais nutritivo;
& Kemp, 2000), como é o caso de alguns ingredi- -modificação no perfil de aminoácido, com
entes alimentares altamente refinados (por exemplo, aumento do teor de metionina.
sacarose e óleos vegetais), uma vez que qualquer Batata: -aumento do teor de amido e sóli-
material genético e proteína que possam estar pre- dos, para a redução da absorção de gordura na
sentes são destruídos e removidos durante o pro- fritura.
cesso de refino; assim, o produto final que entra na Mandioca: -modificação no perfil de
composição do alimento não é, em si, modificado e, aminoácidos, para a obtenção de proteína de maior
portanto, não pode ser distinguido daquele produzi- valor biológico.
do através de meios convencionais (Donaldson & Arroz: -modificação dos teores de amido e
May, 1999).
outros carboidratos;
A utilização da modificação genética na -produção de novas proteínas para fins far-
melhoria da qualidade de alimentos macêuticos.
Café: -redução do teor de cafeína.
Nos dias de hoje, enquanto populações de
Canola: -modificação no perfíl lipídico,
países como o Brasil ainda não podem se beneficiar
para a obtenção de óleo mais nutritivo.
das vantagem oferecidas pela utilização de plantas
geneticamente modificadas em sua alimentação, es- Trigo: -modificação no perfil de aminoáci-
tão autorizados, nos Estados Unidos, 7.701 testes dos, para a melhoria da qualidade nutricional;
de campo para o estudo de novas variedades de -melhoria da digestibilidade;
plantas geneticamente modificadas (NBIAP, 2001). -produção de novas proteínas para fins far-
É importante ressaltar que, desses testes de campo, macêuticos.
1.486 são referentes a algum tipo de melhoria na Girassol: -melhoria na qualidade nutricional
qualidade do planta, quer seja pela alteração de sua para ração animal.
composição nutricional, quer seja pelas modifica- Alfafa: -redução do teor de lignina, para a
ção de suas características de pós-colheita. otimização do uso em alimentação animal.
Como exemplos de produtos com melhoria Uva: -aumento do teor de açúcares, para a
de qualidade nutricional em desenvolvimento nos melhoria da qualidade do fruto.
Estados Unidos, temos (USDA, 2001): Maçã: -alteração do teor de açúcares, para
Milho: - modificação no perfil lipídico, para a melhoria da qualidade do fruto
a obtenção de óleo mais nutritivo; Melão: -aumento do teor de açúcares, para
- modificação no perfil de aminoácidos, com a melhoria da qualidade do fruto.
aumento dos teores de triptofano e lisina, implican- Tomate: - aumento no teor de sólidos e
do proteína de maior valor biológico; açúcares para a melhoria na qualidade do fruto.

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Alimentos geneticamente modificados ... 11

Como exemplos de produtos em desenvol- alto teor de ácido oleico (com 80% deste ácido
vimento com melhoria nas características pós-co- graxo; os óleos produzidos a partir de variedades
lheita temos (USDA, 2001): convencionais de soja contêm 24% de ácido oleico)
Uva: modificação no tempo de amadureci- (Du Pont, 1997). Está provado que a diminuição da
mento (longa vida). ingestão de gorduras saturadas e o aumento da
Maçã: modificação no tempo de amadu- ingestão de gorduras mono e polinsaturas reduz o
recimento (longa vida). risco de doenças cardiovasculares (Hu et al., 1997).
Melão: modificação no tempo de amadu- Outro produto já disponível nos Estados
recimento (longa vida). Unidos e no Canadá é o óleo de canola com maior
Tomate: modificação no tempo de amadu- teor de acido esteárico, largamente utilizado pela
recimento (longa vida). indústria de biscoitos, sorvetes, sobremesas conge-
Ameixa: modificação no tempo de ama- ladas e margarinas. A utilização desse óleo diminui a
durecimento (longa vida).
necessidade de hidrogenação da gordura, diminuin-
Pimenta: retardo do amolecimento, modi-
do a ingestão de ácidos graxos trans, tão prejudici-
ficação no tempo de amadurecimento.
ais para a saúde quanto as gorduras saturadas; foi
Morango: retardo do amolecimento, mo-
demonstrado (Hu et al., 1997) que o aumento de
dificação no tempo de amadurecimento.
2% na ingestão de ácidos graxos trans na dieta acar-
A deficiência de Vitamina A é um sério pro-
reta num aumento de 80% no risco de doenças
blema nos países em desenvolvimento, provocando
cegueira em milhares de crianças no mundo; o au- cardiovasculares.
mento da ingestão de pró-vitamina A ou carotenóides A batata com alto conteúdo de amido, já
é uma das formas preconizadas para combater essa disponível na América do Norte, reduz a absorção
deficiência. O desenvolvimento do “arroz dourado” de óleo durante a fritura, fazendo com que as bata-
por pesquisadores das Universidades de Zurique tas fritas tenham menor conteúdo de gordura
(Suíça) e Freiberg (Alemanha), com o apoio da Fun- (American Dietetic Association, 1995). É importante
dação Rockefeller, é mais um exemplo de como a ressaltar que, nesses casos, poderá ocorrer uma
moderna biotecnologia pode gerar produtos de alto mudança do perfil nutricional da população, sem
valor nutricional. No momento, este produto está necessidade de mudança de hábitos alimentares ou
sendo multiplicado para que sejam efetuados os testes preço do produto final.
de segurança alimentar e ambiental (Potrykus, Pode-se, ainda, citar muitos outros estudos
2001). em andamento, que envolvem a modificação genéti-
No Brasil, a Embrapa está desenvolvendo ca de plantas, com os seguintes objetivos: melhorar
o milho com maior teor de metionina, aminoácido a utilização de nitrogênio; melhorar a tolerância a
essencial que hoje é adicionado à ração animal à condições ambientais externas não biológicas (seca,
base de milho e soja. O lançamento do milho com enchentes, mudanças de temperatura, salinidade,
alto teor de metionina não só proporcionará uma acidez, alcalinidade e metais pesados); aumentar o
melhoria nutricional na dieta da população brasilei- rendimento; reduzir a concentração de fatores
ra, como também poderá reduzir o custo da ração antinutricionais; alergênicos e toxinas; reduzir o con-
animal à base de milho. teúdo de lignina em árvores (aumentando a eficiên-
Nos Estados Unidos e Canadá, já se en- cia da polpa na produção de papel); desenvolver
contra disponível no mercado o óleo de soja com flores mais duráveis e em cores não tradicionais;

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melhorar/intensificar o sabor e o aroma de frutas; nutricionais, o que exigirá uma abordagem multidis-
produzir enzimas, plásticos e pigmentos; produzir ciplinar integrada, que incorpore biologia molecular,
anticorpos, vacinas comestíveis e proteínas terapêu- toxicologia, nutrição e genética. Também será ne-
ticas; recuperar espécies em risco de extinção (Pew cessário apurar em que extensão o nutriente modifi-
Initiative on Food and Biotechnology, 2001). cado se encontra biodisponível e se o mesmo se
Como pode ser observado, essa nova mantém estável em relação ao tempo, ao processa-
tecnologia oferece grandes benefícios. Entretanto, mento e ao armazenamento.
seus riscos inerentes devem ser cuidadosamente A aplicação do conceito de equivalência
avaliados, caso a caso, através de testes de segu- substancial necessita elaboração adicional e
rança alimentar e ambiental. harmonização internacional no que se refere à sele-
ção de parâmetros críticos, requerimentos de testes
Presente e futuro
de campo, análise estatística dos dados e interpreta-
Vivemos uma época de mudanças, em que ção dos mesmos no contexto das variações naturais.
os avanços nas ciências biológicas podem ser con-
Literatura Citada
siderados tão significativos quanto os avanços nas
áreas de comunicação e informação, que estabele- AMERICAN Dietetic association. Position of the
ceram um mundo sem fronteiras. American Dietetic Association. Biotechnology and
Muitas questões relevantes têm sido levan- the future of food. Journal of the American
tadas sobre a segurança de alimentos geneticamen- Dietetic Association, v. 95, n. 12, p. 1429-1432,
te modificados que estão sendo introduzidos na ca- 1995.
deia alimentar. União Européia, Estados Unidos,
ANZFA (Australia New Zealand Food Authority).
Japão e Austrália, assim como vários outros países,
GM foods and the consumer - ANZFA’s safety
estabeleceram processos de avaliação que deman-
assessment process for genetically modified foods.
dam rigorosos testes de segurança antes que alimentos
ANZFA Occasional Paper Series. June 2000. Dis-
geneticamente modificados possam ser cultivados ou
ponível em: (http://www.anzfa.gov.au/Documents/
importados.
pub02_00.pdf ). Acesso em: 18 de July 2000.
Atualmente, a modificação genética de plan-
tas está direcionada ao melhoramento agronômico, AVERY, D. T. Why we need food biotechnology.
o que tem beneficiado agricultures, sem contudo Food Technology, Chicago, v. 54, n. 9, p. 132, 2000.
apresentar grandes benefícios ao consumidor. Em-
BEEVER, D. E.; KEMP, C. F. Safety issues
bora mudanças nutricionais possam resultar num
associated with the DNA in animal feed derived from
maior impacto na saúde da população, no momento
genetically modified crops. A review of scientific and
não estão disponíveis no mercado alimentos deriva-
regulatory procedures. Nutrition Abstracts and
dos de plantas cujas características nutricionais te-
Reviews, Series B: Livestock Feeds and Feeding,
nham sido geneticamente modificadas. Entretanto,
Farnham Royal, v. 70, n. 3, p. 175-192, 2000.
tais produtos, com composição de nutrientes altera-
da pela tecnologia do DNA recombinante, encon- DONALDSON, L.; MAY, R. Health implications
tram-se em desenvolvimento. Neste caso, a avalia- of genetically modified foods. May 1999. Site do
ção de segurança deverá focar a caracterização simul- Department of Health. Disponível em: (http://www.
tânea de riscos toxicológicos inerentes e benefícios doh.gov.uk/gmfood.htm). Acesso em: 13 July 2000.

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