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O PROMOTOR DE JUSTIÇA NO EIXO DO SISTEMA DE GARANTIA DE

DIREITOS E O SEU PAPEL NA CONSTITUIÇÃO DA REDE DE PROTEÇÃO


À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE RISCO PARA A
VIOLÊNCIA.

Luiz Francisco Fontoura1


Cibele Cristina de Freitas Resende2
Marcela Marinho Rodrigues3

I - O desafios da atuação do Ministério Público no enfrentamento à violência contra


crianças e adolescentes.
II - O processo de construção de Redes de Proteção à Criança e ao Adolescente em
Situação de Risco para a Violência.

I – OS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO


ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES.

Instituição posicionada no eixo do Sistema de Garantia de


Direitos, detentora da função de aplicar e fiscalizar o cumprimento do Estatuto
da Criança e do Adolescente, o qual, sob o manto da “Doutrina da Proteção
Integral”, estabelece ser dever de todos zelar para que crianças e
adolescentes sejam colocados a salvo de toda forma de violência, negligência,
crueldade e opressão, o Ministério Público, por intermédio dos Promotores de
Justiça, em cada Comarca, muito além do trabalho processual de proteção aos
direitos da vítima e a responsabilização do agressor, tem por missão legal
(artigo 201, VIII, ECA), com prioridade absoluta, atuar na linha de frente, junto
à comunidade e ao poder público, como articulador das ações de prevenção e
de garantia de atendimento especializado e prioritário das crianças e
1 Procurador de Justiça. Coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias da
Criança e do Adolescente/ Ministério Público do Paraná.
2 Promotora de Justiça do Centro de Apoio Operacional às Promotorias da Criança e do
Adolescente/ Ministério Público do Paraná.
3 Promotora de Justiça do Centro de Apoio Operacional às Promotorias da Criança e do
Adolescente/ Ministério Público do Paraná

1
adolescentes em situação de violência constatada.

Ocorre que, para que a atuação do Ministério Público, sob


o ponto de vista da persecussão penal, seja ágil e eficaz na punição do
agressor — o que se faz, também, no viés protetivo da criança ou adolescente
atingido e também de outras potenciais vítimas — é inafastável o
desenvolvimento de um trabalho preparatório formador e continuado, extra-
autos, voltado a assegurar que a fase preliminar de apuração dos fatos, que vai
da notificação/denúncia até o encerramento da investigação, seja desenvolvida
sem vícios e erros que possam comprometer o êxito do processo a ser
desencadeado, levando o ofensor à impunidade e agravando o sofrimento
resultante da (re) exposição da vítima. É válido e oportuno lembrar: para a
absolvição, basta uma “boa” dúvida!

De outro vértice, tão grave quanto as conseqüências


descritas, são os efeitos deletérios de uma decisão condenatória injusta,
calcada em uma investigação precária ou errônea, o que também pode
acarretar, como grave retrocesso, o descrédito de todo o trabalho das
instituições envolvidas.

É relevante observar, por exemplo, em especial nos casos


de abuso sexual — caracterizado pelo uso da vítima para satisfação sexual de
uma pessoa adulta ou adolescente mais velho — cuja prática, na grande
maioria das situações, envolve pessoa do relacionamento próximo da vítima e
possibilita a reiteração do crime, que a prova é de extrema dificuldade, gerando
grande índice de impunidade, conforme apropriadamente explicado pela
psicóloga Karen Richter Pereira dos Santos Romero, integrante do quadro de
servidores do Ministério Público do Paraná, em seu trabalho “Crianças Vítimas
de Abuso Sexual: Aspectos Psicológicos da Dinâmica Familiar” 4:

“Para encerrar esse capítulo é importante


esclarecermos que devido à grande dificuldade de se comprovar os

4 Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Psicologia Hospitalar – Modulo II da Irmandade


da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. São Paulo:2004, obra arquivada neste CAOPCA.

2
casos de abuso sexual, a maioria dos agressores permanece da
impunidade. Morales e Schramm (2002) discorrem sobre o fato de
que uma baixa efetividade dos procedimentos de atenção à
criança contribuem para impunidade e para a dificuldade de
identificação dos casos de abuso sexual. Alguns exemplos
apontados pelos autores relacionam-se a quando a criança
decide contar para alguém depois de muito tempo ocorrido,
meses ou até anos; quando se realiza a denúncia a
autoridades e estas tão somente recebem a denúncia e
remetem a vítima aos cuidados de um médico legista; quando
o médico envia o resultado de seu exame à autoridade
solicitante. E esta inicia um processo judicial depois de algum
tempo ao ocorrido, implicando assim na perda de provas e
indícios fundamentais para a incriminação do agressor;
quando a instituição que recebe não é adequada para realizar
exames e interrogatórios com crianças, conduzindo a mesma
a uma situação de revitimização; quando as investigações são
deficientes em função de informações pouco relevantes, e
indícios pouco significativos ou mal interpretados e
finalmente quando não existe qualquer apoio à família
investigada.” (destaques nossos)

Efetivamente, muitas vezes, quando a vítima decide contar


o que se passou com ela, até porque cresceu e veio a entender melhor os
fatos, o resultado dos exames de corpo de delito não se mostram mais viáveis,
perdendo-se, no tempo, muitas provas e indícios fundamentais.

Nestas situações, como em outras em que as marcas


físicas não são visíveis, é fundamental que seja realizado um laudo psicológico
tecnicamente preciso e formalmente regular, capaz de dar sustentação à
identificação, acusação e punição do responsável.

Faz-se necessário, neste escopo, habilitar as pessoas e

3
órgãos encarregados para que possam atuar, na apuração dos fatos, com
informações e orientações técnicas adequadas, sob os aspectos jurídico,
médico e psicossocial, de forma apta a gerar um resultado verdadeiro e
substancial.

Para tanto, sabemos nós, que nossos municípios não


estão, em sua maioria, ainda estruturados, o que necessita ser provocado,
planejado e implementado, tarefas estas que cabem ser articuladas, sobretudo
por nós, Promotores de Justiça, quer porque somos detentores da titularidade
da ação penal (artigo 129, I, CF), quer como tutores do efetivo respeito aos
direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes (artigo 201,
VIII, ECA).

Focando ainda a fase de investigação dos fatos, é


prevalente, sobre qualquer outro interesse, assegurar o bem-estar biológico,
psicológico e moral da criança ou adolescente vítimizados, impondo-se
garantir, durante todo o processo, um tratamento célere e adeqüado às suas
reais necessidades.

Neste mister, desde o notificante/denunciante, os serviços


públicos ou da comunidade que recebem e encaminham tais denúncias, os
órgãos policiais, as entidades de atendimento e os agentes envolvidos na
atuação processual, necessitam capacitar-se para um contato apropriado,
evitando-se, a todo custo, a violação dos direitos por quem caberia protegê-los.

Conforme nos esclarece, também, a psicóloga Karen Richter Pereira dos


Santos Romero, sobre a importância de profissionais qualificados,
especialmente psicólogos, na abordagem com crianças e adolescentes vítimas
de violência, é imperiosa a extinção do fenômeno da Revitimização, podendo
ser entendida esta como “a situação a partir da qual uma criança que já sofreu
violência, volta a ser “violentada” no processo de apuração dos fatos, e muitas
vezes, na perspectiva de se protegê-la”.

Assinala-se que, sobretudo neste momento, em que uma

4
avalanche de pressões psicológicas recaem sobre a criança ou adolescente e
sua família, será imprescindível resguardar seus fundamentais direitos, agindo
de forma efetivamente protetora, tal como, resguardar a sua identidade frente
aos colegas, familiares, vizinhos, etc.; identificar eventual pacto de silêncio
mantido pelos membros da família, buscando contorná-lo através da
localização de parentes ou amigos que possam colaborar e apoiar a vítima;
atuar no afastamento da vítima ou do agressor do lar, se for o caso; ter
consciência que esta teme sofrer agressões, ser desacreditada ou julgada
culpada pelos fatos, ou mesmo ser retirada ou excluída do grupo familiar,
dentre outras tantas mazelas psicológicas sofridas, auxiliando-a por meio de
acompanhamento médico e/ou terapêutico.

Também nesta seara, depara-se, novamente, com as


conhecidas dificuldades encontradas em grande parte dos municípios
paranaenses quanto à prestação desse atendimento, motivo pelo qual não é
lícito ao agente ministerial, apenas esperar por mudanças sociais e, desta
forma passiva, tornar-se cúmplice da violência gerada pelo seu “silêncio”
institucional, cabendo-lhe, por dever legal, promover todas as medidas judiciais
e extra-judiciais, à exaustão, que possam levar à concretização dos direitos e
garantias previstos na lei e que lhe incumbe zelar.

A respeito, é oportuno observar que o artigo 18 do ECA


dispõe que é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente,
pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexatório ou constrangedor, assim como a Constituição Federal, em seu artigo
227, estabelece como dever de todos, Família, Sociedade e Estado, prevenir a
ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.

Proclamando uma união de esforços nesta luta, o ECA


ainda prevê: “a política de atendimento dos direitos da criança e do
adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios” 5.

5 Art. 88, VI.

5
Em outras palavras, Ministério Público, Magistratura,
Conselhos Tutelares e de Direitos, gestores públicos, profissionais da área da
educação e saúde, família, comunidade e outros, devem mobilizar-se e
trabalhar alinhados na construção de caminhos que possam trazer a essas a
superação dos males e traumas precocemente vivenciados.

Em arremate — sem a pretensão de encerrar o tratamento


deste tema fundamental, mas, ao contrário, fomentá-lo — mostra-se
extremamente oportuna, pelo alerta e autocrítica que nos permite, a citação
das reflexões do colega Promotor de Justiça Dr. Alberto Vellozo Machado6,
sobre os riscos de que, mesmo aqueles que deveriam ser os “guardiões” do
bem-estar bio-psíquico-moral das crianças e adolescentes, possam vir a violar,
em suas ações ou omissões funcionais, esses mesmos direitos. É o que se
extrai do artigo “VIOLÊNCIA E MAUS -TRATOS X SEGURANÇA E SAÚDE”7:

“Na difícil vereda de proteção da infanto-adolescência


contra a violência aqueles que devem agir e detêm atribuições e poderes para
o enfrentamento sério e permanente da problemática devem se indagar como
têm utilizado a doutrina da proteção integral e os co-respectivos princípios da
absoluta prioridade, peculiar condição de pessoa em desenvolvimento e
superior interesse.
Tem havido fiscalização exaustiva das instituições?
Há acompanhamento das políticas dos Conselhos De
Direitos da Infância e Juventude federal, estaduais e municipais?
Produz-se recomendações para a implementação do que
já está aprovado e propõe-se novas questões?
Há compreensão suficiente da extensão do temário e
humildade bastante para solicitar apoio, ajuda e orientação de especialistas?
Os envolvidos no temário têm urdido união de esforços –
por exemplo mediante a formação de rede — para solver as dificuldades mais
presentes e que necessitam da contribuição de todos?
6 Promotor de Justiça do Paraná e Mestre em Direito pela UFPR.
7 Palestra proferida pelo autor no Curso de Capacitação em Construção e Implementação
de Redes de Proteção para o Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes.

6
Há, enfim, programas aptos à defesa da infância e da
juventude? E se for negativa a resposta: porque não existem?””

II - O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE REDES DE PROTEÇÃO À


CRIANÇA E AO ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE RISCO PARA A
VIOLÊNCIA.

1- O QUE É REDE?

A primeira questão que se apresenta quando se aborda a


organização de REDES é a sua conceituação. O que é uma REDE? Rede
sugere uma teia de vínculos, relações e ações entre indivíduos e organizações.
Elas se tecem ou se dissolvem continuamente em todos os campos da vida
societária; estão presentes na vida cotidiana (nas relações de parentesco, nas
relações de vizinhança, nas relações comunitárias), no mundo dos negócios,
na vida pública e entre elas. O que explica a existência de múltiplas redes são
as necessidades humano-sociais que colocam em movimento a busca de
interação e formação de vínculos afetivos, de apoio mútuo, para
empreendimentos sócio-econômicos, políticos ou culturais. Uma rede envolve
processos de circulação de informações e conhecimentos, articulação,
8
participação, cooperação.

O processo de construção de uma rede social de atenção à


criança e ao adolescente, pode ser, para efeitos didáticos, comparada à
montagem de um mosaico. As entidades governamentais e não-
governamentais, programas, políticas sociais básicas e de proteção especial,
recursos públicos e privados, conselhos, estão, em maior ou em menor
dimensão, presentes nos municípios brasileiros. Um dos grandes desafios dos
gestores das Políticas voltadas à criança e ao adolescente é organizar esse
conjunto para que ele se torne uma unidade articulada, coerente, diversificada
e autônoma.

8 Maria do Carmo Brant de Carvalho. A ação em Rede na Implementação de Políticas e


Programas Sociais Público. http://www.rits.org.br/redes_teste/rd_conceitos.cfm Extraído da
internet em 30/10/2006.

7
Durante o processo de construção da rede, pode-se
perceber que faltam algumas peças, que não existiam na cidade, por exemplo,
programas específicos para determinados grupos, inexistência de ações
voltadas para determinados direitos das crianças e adolescentes, déficit de
atendimentos. A percepção dessa ausência só é possível quando se dispõe
com clareza de todos os dados possíveis acerca dos diferentes agentes que
compõe o “fazer social” de atenção à criança e ao adolescente. Num conjunto
desorganizado de entidades e ações, torna-se difícil identificar a falta ou a
ineficiência de algum elemento, entretanto, ao organizá-los, é possível observar
com clareza a totalidade e a abrangência de tudo o que existe na cidade.

Da mesma forma que um mosaico, cada peça desempenha uma função


específica, possuindo um desenho e um recorte próprio, onde nenhuma é mais
importante do que a outra, mas todas são necessárias, complementares e
incompletas sem as demais. Ao integrar-se ao mosaico, cada um dos
elementos não perde suas características iniciais, mas ganha um novo sentido,
um “lugar próprio”, único, como parte singular de um desenho maior, no caso
da criança e adolescente: a proteção integral.

Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)


defina a proteção integral como a garantia, com absoluta prioridade para a
infância e juventude brasileira, à efetivação dos direitos humanos
fundamentais, a consecução desses direitos de maneira articulada e precisa,
estendida à universalidade das crianças e adolescentes brasileiros, ainda é
uma utopia que nos impulsiona na transformação do cotidiano em que estamos
inseridos.

Neste sentido, para transformarmos a sociedade e nos


transformar, a partir de nossa práxis social, é fundamental que nos
reconheçamos como seres e em instituições incompletas e inacabadas, em
processo permanente de construção. Nenhuma organização social, nenhum
órgão público e nem mesmo o governo, em suas três esferas, tem condições
de dar conta sozinho dessa tarefa. Se assim o fizesse ou pretendesse, estaria
retomando uma concepção de gestão ultrapassada e totalitária, típica das
instituições totais constituídas no século XIX.

8
Atualmente, rede como ferramenta de gestão vem sendo
muito difundida tanto no âmbito da iniciativa privada, quanto na administração
pública. Francisco Whitaker9 esclarece que uma rede pode interligar tanto
unicamente pessoas, como unicamente entidades, como pessoas e entidades.
As pessoas e/ou entidades interligadas numa rede podem ser do mesmo tipo
ou inteiramente heterogêneas, dependendo dos objetivos que a rede se propõe
alcançar. As redes podem ser também de diferentes tamanhos – de uma
equipe que trabalhe em rede, a uma rede de bairro ou de sala de aula, até uma
rede internacional. Podem existir igualmente redes de redes e dentro de uma
rede podem se formar sub redes, com objetivos específicos.

2- QUAL A IMPORTÃNCIA DO TRABALHO EM REDE NO


ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES?

Para a organização de uma rede exige-se uma grande


mudança cultural. Na maior parte dos municípios brasileiros, em maior ou
menor grau, ainda encontramos um modelo em que muitas instituições são
obrigadas a viver voltadas para si mesmas, para seus atendimentos e suas
próprias necessidades. Com isso, podem, sem saber, desenvolver ações que
se sobrepõem, enquanto outras ações que também seriam fundamentais para
garantir a proteção integral das crianças e adolescentes correm o risco de
ficarem descobertas. Nessa circunstância, de falta de articulação, a mesma
criança ou adolescente pode passar por diversos atendimentos
governamentais e não governamentais – na escola, no posto de saúde, na
entidade assistencial, no centro esportivo, no contra turno social – sem que
uma entidade conheça as ações que as demais desenvolvem com a mesma
criança ou família, assim, sem articulação, não há também informações
consolidadas sobre a totalidade das necessidades de cada criança e
adolescente e suas famílias, nem do conjunto de atendimentos que eles podem
estar recebendo.

Para superar essa sobreposição de ações, e por vezes, até

9 Francisco Whitaker Rede: uma estrutura alternativa de organização.


http://www.rits.org.br/redes_teste/rd_conceitos.cfm Extraído da internet em 31/10/2006.

9
uma certa “omissão compartilhada” de diferentes atores sociais, pode-se
buscar atuar de maneira integrada e intersetorial por meio da organização em
REDE. Uma atuação em rede supõe valores e a declaração dos propósitos do
coletivo (missão): por que, para que e fundamentada em quê a rede existe? Há
alguns parâmetros que norteiam a interação e devem ser considerados por
quem queira trabalhar colaborativamente; uma espécie de código de conduta
para a atuação em rede aos quais devemos atentar:10

Pactos e Padrões de Rede: sem intencionalidade uma rede não consegue ser
um sistema vivo, mas apenas um amontoado de possibilidades. A
comunicação e a interatividade se desenvolvem a partir dos pactos e dos
padrões estabelecidos em comunidade. Uma rede é uma comunidade e, como
tal, pressupõe identidades e padrões a serem acordados pelo coletivo
responsável. É a própria rede que vai gerar os padrões a partir dos quais os
envolvidos deverão conviver. É a história da comunidade e seus contratos
sociais.

Valores e objetivos compartilhados: O que une os diferentes membros de


uma rede é o conjunto de valores e objetivos que eles estabelecem como
comuns, interconectando ações e projetos.

Participação: A participação dos integrantes de uma rede é que a faz


funcionar. Uma rede só existe quando em movimento e sem participação, deixa
de existir. Ninguém é obrigado a entrar ou permanecer numa rede. O alicerce
da rede é a vontade de seus integrantes.

Colaboração: a colaboração entre os integrantes deve ser uma premissa do


trabalho. A participação deve ser colaborativa!

Multiliderança e horizontalidade: Uma rede não possui hierarquia nem chefe.


A liderança provém de muitas fontes. As decisões também são compartilhadas.

Conectividade: Uma rede é uma costura dinâmica de muitos pontos. Só


quando estão ligados uns aos outros e interagindo é que indivíduos e

10 Retirado em 31/10/2006 http://www.rits.org.br/redes_teste/rd_conceitos.cfm.

10
organizações mantêm uma rede.

Realimentação e Informação: Numa rede, a informação circula livremente,


emitida de pontos diversos, sendo encaminhada de maneira não linear a uma
infinidade de outros pontos, que também são emissores de informação. O
importante nesses fluxos é a realimentação do sistema: retorno, feedback,
consideração e legitimidade das fontes são essenciais para a participação
colaborativa e até mesmo para avaliação de resultados e pesquisas.

Descentralização e Capilarização: Uma rede não tem centro. Ou melhor,


cada ponto da rede é um centro em potencial. Uma rede pode se desdobrar em
múltiplos níveis ou segmentos autônomos - "filhotes" da rede -, capazes de
operar independentemente do restante da rede, de forma temporária ou
permanente, conforme a demanda ou a circunstância. Sub-redes têm o mesmo
"valor de rede" que a estrutura maior à qual se vinculam.

Dinamismo: Uma rede é uma estrutura plástica, dinâmica, cujo movimento


ultrapassa fronteiras físicas ou geográficas. As redes são multifacetadas. Cada
retrato da rede, tirado em momentos diferentes, revelará uma face nova.

Assim, a rede não é uma entidade, não é um tipo de


“objeto”, não é simplesmente uma “rede computadores”. Ela é uma forma
coletiva de planejar e organizar entidades governamentais e não
governamentais, comunidades, recursos e ações para garantir a proteção
integral. Para tanto, é preciso que aconteçam algumas transformações
fundamentais na forma tradicional de trabalhar com crianças e adolescentes.

A formação de uma rede que se destina a transformar esse


quadro é um processo lento, e deve dar conta das questões apresentadas
acima sem fazer imposições. As entidades e o governo precisam ficar
convictos da necessidade de mudança e aderir ao funcionamento em rede e ao
mesmo tempo, é necessário criar os mecanismos e procedimentos que
possibilitem esse funcionamento.

4) COMO PODE SER ESTRUTURADA UMA REDE DE PROTEÇÃO?

Para dar conta dessas questões, acima vistas, um projeto de constituição de

11
rede pode se estruturar em torno de três linhas de ação fundamentais
essenciais:

- o diagnóstico, que fornece a visão real das necessidades do município e


permite planejar globalmente (Por exemplo: serão identificadas as demandas
de atendimentos já presentes nos Conselhos, programas, e projetos em
andamento, bem como, observadas as boas práticas já existentes no
Município);

- a capacitação, que promove o encontro constante de todas as entidades, a


modernização gerencial e busca gerar consensos em torno do funcionamento
em rede (Por exemplo: a sensibilização dos atores sociais e a capacitação para
a identificação dos sinais de alerta; o conhecimento sobre os aspectos legais
da violência; a aproximação das entidades e pessoas envolvidas);

- o fortalecimento do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do


Adolescente, que diversifica as fontes de recursos e diminui a dependência
em relação ao orçamento da Prefeitura.

Com base nisso, é possível conceber e escrever um bom


projeto de rede. Para tanto, ele deve apresentar uma análise da situação atual
da área de crianças e adolescentes, justificar a necessidade de organizar-se
em rede para garantir a proteção integral, mostrar como será feita a
mobilização das entidades e definir como será desenvolvida; qual a sua
estrutura metodológica, organização por territórios, fluxos, comitês locais e
regionais, etc. e quanto vai custar cada uma dessas linhas de ação.

5- COMO MOBILIZAR OS ATORES?

O projeto de constituição de uma rede requer uma ação


estratégica de mobilização e o envolvimento de todos os atores. Como as
peças de um mosaico, precisam ser reunidas antes de serem encaixadas.

Até que se constitua um comitê gestor, na fase


intermediária do projeto, todas as ações de mobilização, implantação e
realização de atividades mais do que poderão, deverão, ser coordenadas pelo

12
grupo que elaborou o projeto, com participação essencial do CMDCA
(Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) e da Secretaria
Municipal responsável pela Política de Proteção Social Básica e Especial de
crianças e adolescentes no município.

Pode ser necessário contar com o apoio técnico de uma


consultoria especializada, que, preferencialmente, seja realizada por
Universidades e Instituições de Ensino Superior.

O primeiro passo é a criação de material de divulgação,


que pode ser um folheto ou folder, que explique o que é o projeto da REDE, o
que se pretende fazer e a importância da participação. É um “chamado à ação
conjunta” e deve ser enviado a todos que de alguma forma trabalham com
crianças e adolescentes: entidades governamentais e não governamentais,
Vara da Infância e Juventude, polícias, secretarias municipais, Conselhos
Tutelares, Conselho de Assistência Social, Associações Comunitárias, Igrejas,
não aplicando aqui nenhum critério de exclusão, inclusive entidades que
estejam funcionando sem registro junto ao CMDCA, também devem ser
incluídas, pois será uma grande oportunidade para que elas melhorem seu
funcionamento e se regularizem, pois a rede é aberta.

O segundo passo, após a divulgação inicial, é montar um


evento de lançamento do projeto de REDE e convidar todos os envolvidos.
Este evento, com caráter oficial, presença de autoridades e cobertura da
imprensa local, precisa ser “sedutor” e criar a expectativa e o impulso para o
início efetivo do projeto. Para garantir sucesso do evento, é interessante
reforçar os convites por meio de contatos pessoais. O CMDCA pode visitar o
maior número possível de instituições, explicando os objetivos e o caráter
inovador da rede, incluindo o Poder Judiciário e as polícias, que costumam ter
menos tempo e requerem uma atenção especial. Esses órgãos, com grande
intensidade de atribuições legais e prazos a serem cumpridos, só se mobilizam
se estiverem absolutamente seguros da necessidade e da importância da
iniciativa.

Durante a realização desse evento, é anunciada a


realização da primeira reunião de trabalho, que poderá ocorrer de dez a quinze

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dias depois. É o momento de canalizar as expectativas geradas para as
atividades práticas coletivas, de transformar a motivação em ação.

6 – A FORMAÇÃO CONTINUADA

O processo de capacitação pode ser formado por um


conjunto de três a seis cursos, de um ou dois dias inteiros de duração,
realizados a cada trinta dias. É um dos pontos chaves do processo de
constituição de rede: é ele que promove o enredamento. A Formação
Continuada faz com que o conjunto de entidades, escolas, projetos se reúna
com regularidade para discutir sua prática a partir de novas visões,
metodologias e conceitos que são apresentados nos cursos, durante um
período de dois a três meses. Com isso, é criada uma prática de encontros e
discussões que promove um intenso intercâmbio, conhecimentos entre os
participantes, formação de parcerias e também a emergência de conflitos.

O conjunto de cursos da formação continuada deve ser


bastante dinâmico. Juntamente com os conteúdos teóricos, é importante incluir
trabalhos de grupo e dinâmicas participativas. Os temas a serem abordados
podem variar. Uma sugestão é:

• O ECA e a atuação em rede – fortalecimento da compreensão do


ECA e do fato de que a Rede é a melhor forma de organização
para dar conta da proteção integral.

• Violência e Contemporaneidade- Diversas faces da violência;

• Planejamento estratégico

• Diagnóstico e avaliação – A importância de conhecer a realidade


e delimitar questões a serem enfrentadas, o uso de indicadores e
índices no diagnóstico e na avaliação, o uso da avaliação como
instrumento de gestão (não punitivo).

• Desenvolvimento social e assistencialismo – A mudança do


paradigma da área social, com foco no desenvolvimento,
contraposto a práticas assistencialistas.

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Esta sugestão de conteúdos pode ser modificada e
adaptada à realidade e necessidades locais de cada município. O fundamental
é que todos eles contenham atividades práticas e resultem em produtos,
decisões ou consensos, tirados imediatamente ou ao final do processo.

A intensidade do processo de formação continuada pode


resultar em progressivo esvaziamento após algumas reuniões. É necessário
detectar e analisar imediatamente os primeiros sinais de esvaziamento, para
revertê-lo.

Os consensos – decisões ou definições construídas e


aceitas por todos – significam um produto “imaterial” coletivo. Eles se tornam
os pontos de referência para a consolidação da organização em rede. Quanto
maior o número de consensos, maior o número de compromissos. Os
principais nascem diretamente do processo de capacitação.

O primeiro consenso é geralmente a “missão da Rede”. Ele


é desenvolvido no curso de planejamento estratégico. Tem um grande poder
simbólico e agregador: para definir essa missão, o grupo de pessoas ali
reunidas começa a enxergar-se como um conjunto coeso, como um grupo,
como uma REDE.

Há consensos em relação a procedimentos coletivos.


Exemplos: Como serão tomadas as decisões da rede? Haverá critérios para
que as entidades permaneçam conectadas à futura rede on-line? Quais serão
eles? Como serão feitos os encaminhamentos entre as entidades, incluindo
governamentais e não-governamentais? Quais pessoas representarão quais
entidades e escolas? Qual a periodicidade das reuniões para discussão de
casos coletivos? Todo esse conjunto começa a crescer e se torna mais prático
à medida que o processo de capacitação avança. São exercícios de trabalho
em rede, que vão se consolidar progressivamente e gerar novos consensos e
atividades coletivas após o término da capacitação. É aqui também que se
prepara a criação de um instrumento central para a continuidade do projeto: o
Comitê Gestor local, que se constituirá como parte do Comitê Gestor

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Municipal.

O comitê gestor é formado por representantes de todos os


segmentos envolvidos (governamentais, não governamentais, conselhos,
Ministério Público, Vara da Infância e Juventude, polícias), escolhidos pelo
conjunto dos participantes. Sua função é de coordenação das atividades e
animação do processo de rede. Este comitê não surge como uma instância de
decisão, mas de execução das decisões coletivas.

7 - O DIAGNÓSTICO

A realização de um diagnóstico da situação das crianças e


adolescentes é indispensável para a constituição de uma rede. O diagnóstico
vai fornecer os dados reais, os problemas a serem enfrentados para que se
possa alcançar a proteção integral. Um diagnóstico precisa responder a três
questões: quais são os problemas, onde estão os problemas e como se faz
para medi-los.

A identificação dos problemas deve ter como base o


Estatuto da Criança e do Adolescente, identificando as situações ou fatos que
firam as garantias de proteção integral constitui um problema a ser enfrentado.
Isso não vale apenas para crianças e adolescentes que se encaixam nos
critérios da assistência social em função de baixa renda ou de outras
necessidades: o ECA se aplica a toda a população infanto-juvenil. O
diagnóstico, portanto, precisa cobrir todo o município e todas as crianças e
adolescentes ali residentes.

Desse modo, um diagnóstico feito com indicadores é usado


ao mesmo tempo para planejar ações e para avaliar os resultados obtidos. Por
exemplo, se o percentual de crianças fora da escola é 20%, podemos definir
como meta que esse número caia para 10% em um ano e chegue a zero em
dois anos, com isso quantificamos claramente nossos objetivos e os resultados
esperados. Um bom diagnóstico é territorializado e não mede a situação da
criança e do adolescente no município como um todo, mas em cada pequena
região da cidade, no mínimo, o diagnóstico feito com informações consolidadas
bairro a bairro, para poder saber claramente onde está cada problema e montar

16
ações diretamente voltadas para solucioná-los, assim poderemos iniciar EM
REDE ações de Prevenção.

Para isso, todos os dados e informações das secretarias e


organismos locais serão coletados e classificados tendo como base o local de
moradia das crianças e adolescentes. Os dados do IBGE, organizados por
setor censitário, também permitem a classificação por bairros. Assim, cada
bairro será considerado uma unidade específica, sobre a qual serão analisados
os dados e montados os indicadores do diagnóstico. É como se o bairro fosse
uma “mini-cidade” submetida a um diagnóstico, com isso, levanta-se a situação
do grupo de crianças e adolescentes no bairro, com suas especificidades e
características próprias.

Para o início da elaboração do diagnóstico é necessário


uma proposta técnica. Sua missão é escolher e propor um conjunto de
indicadores aplicáveis ao município para medir os diferentes aspectos da
proteção integral. Esses indicadores serão provenientes de duas fontes
básicas: o IBGE e os dados locais das diversas secretarias municipais,
judiciário, Ministério Público, Conselhos Tutelares e polícias.

Em todos os casos será fundamental respeitar a premissa


do diagnóstico: sua territorialização. As informações de todas as fontes devem
ser coletadas e organizadas com base no local de moradia das crianças e
adolescentes. A elaboração da proposta técnica deve ficar a cargo de
especialistas em diagnóstico social, que sejam capazes de definir com rigor
estatístico o uso dos dados coletados e o cálculo de índices e indicadores,
além de aplicar conhecimentos já estabelecidos na área.

O diagnóstico não é apenas uma análise técnica. Ele


deverá se converter em uma ferramenta de planejamento e avaliação por parte
de todos os participantes da rede e não pode ser imposto de cima para baixo: é
necessário, mais uma vez, o envolvimento e a participação desde a coleta dos
dados. Para essa coleta, é indicado mobilizar os próprios participantes da rede
dentro das secretarias municipais, conselhos, polícias, Vara da Infância e
Juventude. Esse envolvimento, por um lado, facilita e torna mais ágil a coleta
dos dados, por outro lado, aumenta o grau de conhecimento e envolvimento

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em relação ao diagnóstico.

Essa proposta transformada será aplicada em uma micro-


região (que pode ser definida como uma das regiões de micro-dados dos
IBGE) para a elaboração piloto de um diagnóstico territorializado. A aplicação
em uma micro-região significa o grande teste da metodologia. Após sua
realização, o diagnóstico piloto volta para o grupo de especialistas, a fim de
fazer nova análise técnica, agora dispondo de resultados, e é apresentado ao
conjunto da rede, antes de ser expandido para toda a cidade.

A realização do diagnóstico piloto, inicia a fase de coleta de


dados para a realização do diagnóstico em todas as regiões da cidade. Esse
processo de coleta de dados pode se estender durante um ou dois meses.
Todas as informações devem então ser consolidadas e estabelecidas sobre o
mapa da cidade. Este mapa constitui a base da territorialização do
planejamento. É com ele que pode-se deixar de perguntar “o que oferecemos”
para perguntar “o que é preciso fazer para garantir a proteção integral em cada
bairro”.

A análise do diagnóstico, deve permitir:

• Comparar os problemas identificados com os serviços oferecidos


pela rede em cada bairro;

• Levantar deficiências e lacunas da rede frente à realidade


apresentada;

• Estabelecer as questões que devem ser prioritariamente


enfrentadas.

Estes três pontos já fazem parte de um planejamento


coletivo. Com base neles já é possível propor ações concretas, critérios de
prioridade para a distribuição de recursos do FMDCA e projetos de ação que
necessitem de apoio / financiamento externo. Com isso, é necessário
estabelecer metas, com base nos indicadores que constituem o diagnóstico.

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8- A AVALIAÇÃO

A avaliação deve ser planejada desde a proposta inicial e


diz respeito tanto ao próprio processo de implantação como aos resultados que
se espera gerar na realidade sobre a qual a REDE atua. As mais eficazes são
as participativas discutindo constantemente o que está sendo obtido, os
caminhos trilhados, as correções necessárias. Esta avaliação pode levar à
reorganização do processo, se forem identificadas questões que ficaram
esquecidas ou problemas que possam dificultar o desenvolvimento posterior do
projeto.

9- TRABALHANDO AS INFORMAÇÕES DA REDE

A implantação do banco de dados com a FICHA DE


NOTIFICACÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE,
por meio do Cadastro Unificado das crianças e adolescentes vítimas de
violência do município é o elemento que completa o conjunto de procedimentos
e ferramentas fundamentais para o funcionamento em rede.

Já contamos com uma forma de organização e decisão


coletiva, mediada pelo comitê gestor; mecanismos de comunicação com a
sociedade; o diagnóstico territorializado da realidade da proteção integral e o
Cadastro Unificado das crianças e adolescentes vítimas de violência do
município.

As atividades que serão desenvolvidas agora levarão à


consolidação do funcionamento em rede. Em primeiro lugar, será preciso um
esforço conjunto, por parte do Comitê Gestor Municipal e do CMDCA, para
que todas as entidades preencham os dados do cadastro e os mantenham
atualizados. Isso significa incluir o uso da FICHA DE NOTIFICACÃO DA
VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE nas rotinas das
entidades governamentais e não-governamentais, pois essa atualização de
dados é feita pelas próprias entidades. No início do funcionamento do Cadastro
Unificado das crianças e adolescentes vítimas de violência do município, é
preciso um acompanhamento sistemático para verificar se as entidades estão
registrando adequadamente as informações e encaminhamentos. As entidades

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que eventualmente não preencherem o cadastro e não participam de nenhum
Comitê Gestor Local precisarão ser contatadas, para que seja identificado o
problema, oferecido apoio, buscadas soluções.

9 – O PROMOTOR DE JUSTIÇA

O Promotor de Justiça poderá atuar como mobilizador ou


articulador para a criação e implantação da Rede de Proteção em seu
município, buscando reunir, com tal propósito, todos os atores relacionados
com a infanto-adolescência, tais como, entidades governamentais e não
governamentais, Vara da Infância e Juventude, Conselhos de Direito, polícias,
secretarias municipais, Conselhos Tutelares, Conselho de Assistência Social,
Associações Comunitárias, Igrejas, profissionais e entidades da área médica
(medicina, enfermagem, psicológica, fisioterapia, fonoaudiologia, etc) e da
educação, Conselhos Profissionais, Associações de Pais, Alunos e Mestres,
Clubes de Serviço, enfim, todos os atores sociais que possam estabelecer, em
cada esfera de atuação comunitária, as parcerias necessárias e compromissos
para a construção da Rede de Proteção.

É essencial que o Promotor de Justiça da Comarca


acompanhe todo esse processo de formação, participando ativamente, a fim de
apoiar a criação e o planejamento coletivo da REDE, baseando-o em
elementos contidos no Plano municipal para a área de crianças e
adolescentes. Isso significa retomar os resultados da análise do diagnóstico e
consolidá-los na forma de plano de ação, por meio de reuniões e oficinas de
trabalho.

O Plano definirá prioridades, ações, indicadores e metas


verificáveis. Além disso, deverá conter o planejamento operacional da rede:
reuniões coletivas, reuniões do comitê gestor, necessidades de capacitação,
necessidades de equipamentos e apoios operacionais, como parte integrante
do processo de planejamento, realizando-se a avaliação permanente da REDE.
Esta avaliação irá recolher e consolidar todas as experiências do ano que
passou e ajudar na definição dos planos para o ano seguinte.

Desse modo, o Plano de ação assim constituído deverá ser

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aprovado oficialmente no CMDCA e norteará as decisões e as destinações de
recursos do FMDCA. Por isso, há aqui uma duplicidade que precisará ser
trabalhada e superada: o Comitê Gestor Municipal e o CMDCA.

O planejamento coletivo está intimamente ligado à atuação


do Comitê Gestor Municipal, mas sua oficialização é uma questão privativa
do CMDCA. O amadurecimento da REDE se dá quando as funções atribuídas
ao Comitê Gestor Municipal são integralmente assumidas pelo conselho,
mantendo-se os Comitês Locais, em permanente diálogo.

Importante destacar que, sob o ponto de vista do Estatuto


da Criança e do Adolescente, o Conselho (COMDCA) é o verdadeiro
coordenador da rede – o comitê gestor é uma estratégia de suporte técnico
operacional, pois muitos encaminhamentos de situações concretas envolvendo
a envolvendo a FICHA DE NOTIFICACÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A
CRIANÇA E O ADOLESCENTE exigirá dos atores da REDE e do Comitê
Gestor Municipal diálogo e negociação permanente, até que todos os
programas e projetos sejam implantados e correspondam, com efetividade, às
necessidades de atendimento das crianças, adolescentes e famílias.

Muito mais do que um “órgão auxiliar” da prefeitura, como


ainda é visto em muitos municípios, o CMDCA deve se tornar o verdadeiro
órgão da definição participativa e acompanhamento das políticas na área de
crianças e adolescentes. Ao atingir esse ponto, estamos trabalhando em rede e
construindo REDE.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A ação em Rede na Implementação de Políticas e Programas Sociais Público -


Maria do Carmo Brant de Carvalho. Retirado em 31/10/2006
http://www.rits.org.br/redes_teste/rd_conceitos.cfm.

Carvalho, M. C.Brant. A reemergência das Solidariedades microterritoriais na


formatação da política social contemporânea. In São Paulo em Pespectiva,
Revista da Fundação Seade vol. 11 /4 - 1997

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Centro de Desenvolvimento Sustentável / Universidade de Brasília Artigo
publicado na Revista Permear, fev. / mar 2005

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