GLOSARUM
Transcrito para WinWord por:
Alberto Fernando Monteiro do Nascimento
anascim@terra.com.br
CELSO DA SILVEIRA
GLOSA
GLOSARUM
3.ª EDIÇÃO
Livros do Autor:
A
Berilo Wanderley
Emílio Salem Filho
Aldemar de Sá Leitão
Hélio Neves de Oliveira
Augusto César de Sá Leitão
Expedito Dantas da Silveira
e aos outros que não
aceitam as grades da vida,
porque sabem auto-determinar
momentos de fuga,
dedico este livro.
"Se não fosse ousadia, vaidade e até apelo persuasivo para
vendê-lo, diria que este livro não tem pé nem cabeça e, por
isso, não pôde ter orelhas e, não tendo pé, espero que ande
de mão em mão dos que o comprarem. Mas, para suprir
essas deficiências físicas, procurou-se nele abrir uma
janela, onde Luís Carlos Guimarães aponta, com a cabeça,
algumas generosidade a meu respeito, e de onde se pode
avistar o meu universo deste tamainho".
Eu vi Celso aperreado
O seu livro autografando
GLOSA
O AUTOR
A GLOSA
Celso da Silveira
ANTIAPRESENTAÇÃO
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE
MOTE
A mulher de certa idade
Ninguém se vinga tão bem Não tem nunca idade certa
Como quem perdoa e esquece
GLOSA
GLOSA
Eu respeito a castidade
Colhe frutos de um-cem inda mesmo presumida
quem cristãmente perdoa que mantém pra toda vida
e praticando ação boa a mulher de certa idade.
ninguém se vinga tão bem. Mas, afirmo, sem maldade,
Quem guarda mágoa de alguém que, na vida, errada, incerta,
seu próprio martírio tece, muita coisa se conserta
se é cristão, não parece, que parece nova e boa:
nem acreditá-lo posso, mulher que vira "coroa"
não rezará um Pai-Nosso não tem nunca idade certa.
como quem perdoa e esquece.
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE GLOSA
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE
ALBERTINO MACEDO
Eu só boto pela frente, Açuense - ajudante de caminhão.
Eu só quero por detrás.
MOTE
GLOSA
O Sadoque faz a linha
Alguém que estava presente De Macau a Mossoró
quando o caso se passou,
ouviu quando alguém falou GLOSA
eu só boto pela frente.
Quem quiser que agüente, Diariamente caminha
pela frente é que se faz, com cuidados incessantes
pelo fundo dou atrás*, e com olhos vigilantes
resolvam estou vexado** o Sadoque faz a linha.
e nisto grita um tarado: E se dele se avizinha
eu só quero por detrás. perigos de fazer dó,
* Dar atrás, é o mesmo que voltar na direção está só
atrás, não cumprir a palavra
com perícia e agilidade;
** Vexado: apressado
trabalha com atividade
de Macau a Mossoró.
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Glosa Glosarum - Fesceninos
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MANOEL PITOMBA DE
MACEDO MOTE
Boêmio, açuense - 1924/1957.
Por alcunha Manoel de Bobagem. De um cachorro não passa
Quem joga e bebe aguardente
MOTE
GLOSA
Nem tudo que tomba cai.
GLOSA O seu moral descompassa
leva a vida em precipício
Nem todo homem tem brio, possuindo esses dois vícios
nem toda moça se casa, de um cachorro não passa.
nem todo fogo tem brasa Logo, de Deus, perde a graça,
nem toda lã dá pavio. Satanaz fica contente
Nem todo inverno faz frio, e o nome desse ente
nem todo filho tem pai, toma nota em seu caderno;
nem tudo que entra sai, vai direitinho ao inferno
nem toda fera é valente, quem joga e bebe aguardente.
nem todo lorde é decente,
nem tudo que tomba cai.
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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Glosa Glosarum - Fesceninos
DURVAL SOARES DE
MACEDO* MOTE
Vendedor ambulante, açuense.
* Suas glosas obedecem à forma O couro do boi dá sola
ABBAACCACA; que é totalmente
estranha à décima setissilábica açuense.
E o pau que curte é angico.
MOTE GLOSA*
* Notar, aqui, uma nova formulação
de rimas: ABBAABBABA
Dou-lhe um conselho maduro
Não queira quem não lhe quer. Muito mais contente eu fico
batendo nesta viola,
GLOSA o jogo manobra a bola,
a garça manobra o bico,
Pode ser homem ou mulher, portanto me justifico,
não dê este cabimento, pois o homem é quem controla,
diga no mesmo momento: votar nessa curriola,
vá procurar Lucifer. me disse Theodorico**
Se ela um dia vier, o couro de boi dá sola
tire a carta de seguro, e o pau que curte é angico.
não sou fogo de monturo ** Theodorico Bezerra, deputado estadual,
nem remo contra a maré, ex-deputado Federal, "majó" fazendeiro.
dou-lhe um conselho maduro
não queira quem não lhe quer.
SOLON WANDERLEY
Comerciante - açuense - 13.01.1903
MOTE
MOTE
Sigo minha opinião
Tudo isso o couro dá. De qualquer futilidade
Faz-se um mote e haja glosa.
GLOSA
GLOSA
Dá mala, dá caçoá,
dá silha, dá rabichola, No tempo da antiguidade
chapéu de couro e virola, o Açu era falado,
dá cela pra se andar, mas hoje vive o coitado
arreios pra se pegar, de qualquer futilidade.
dá peia e dá cinturão, Vejam, pois, a mocidade
dá sapato e dá gibão, inteligente e jocosa,
ninguém pode duvidar; por distração ansiosa,
siga minha opinião de tudo faz arrelia
tudo isso o couro dá. e a toda hora do dia
faz-se um mote e haja glosa.
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GLOSA GLOSA
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MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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GLOSA GLOSA
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GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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MOTE MOTE
Não sei quem diabo inventou Não tem jeito que dê jeito,
Mulher, cachorro e menino. Eu mesmo não fodo mais.
GLOSA GLOSA
MOTE
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GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
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MOTE II
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GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
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GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
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MOTE
MOTE
Filosofando, o Neguinho*
Entende de Nada, Tudo Merda nágua não afunda
Mas nunca vai pr'onde quer.
GLOSA
GLOSA
Cachola rara, – é um ninho
de toda a ciência exata, Nem a ciência profunda
de qualquer doutrina trata vem desmentir o que eu digo:
filosofando, o Negrinho: seja de rico ou mendigo
A Vida, a Morte e o Vinho, merda nágua não afunda.
o Tempo, o Nada e o Tudo, Saindo de qualquer bunda,
a Regra, a Rima e o Contudo, mesmo de homem ou mulher,
a Reta e a Circunferência; e num riacho qualquer
– é de mais essa potência: você a depositando
entende de Nada, Tudo. vai ver que ela sai boiando,
* Zé Neguinho, antigo linotipista de Natal mas nunca vai pr'onde quer.
que, nos bares, "conhecia todo assunto".
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
WALTER CANUTO
Mossoroense - 24. 02. 24
MOTE
MOTE
Eu vi a bunda da Lua,
Na passarela do mar. Joca quebrou o cabresto
No cabaço de Rosinha
GLOSA
GLOSA
A mentira nem flutua,
tendo de frente a verdade, Casar foi o seu pretexto
falo com sinceridade, para foder um pinguelo
eu vi a bunda da Lua. sabendo que era donzelo
Passeava eu pela rua, Joca quebrou o cabresto.
frajola a cantarolar, Com medo de um incesto,
quando num lance de olhar, pois Rosa era sobrinha,
pasmado vi com surpresa, teve uma sorte mesquinha
a Deusa da Natureza, pobre coitado do Jóca
na passarela do mar. teve que usar uma broca
no cabaço de Rosinha.
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MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE
MOTE
"Dá-me o calor do teu seio!
Dá-me o fulgor dos teus olhos!"* Não posso vencer a morte,
Mas irei de má vontade.
GLOSA
GLOSA
Perdido na noite em meio
sem um teto, sem abrigo, Mesmo que eu pareça forte
deixa-me ficar contigo, como touro premiado,
"dá-me o calor do teu seio!” serei um dia enterrado,
Dá-me, enfim, que ainda creio, não posso vencer a morte.
numa vida sem escolhos, Do Rio Grande do Norte
em rnares livres de abrolhos, levarei muita saudade
no eterno amor, no carinho, promessas de eternidade
ilumina o meu caminho me fazem crer noutra luz,
"dá-me o fulgor dos teus olhos!" eu sei que é pra ver Jesus,
* Versos de Ferreira Itajubá, um dos mais mas irei de má vontade.
importantes da poesia norteriograndense.
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MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
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GLOSA
I
Diante da sua graça
fiquei logo apaixonado,
hoje tristonho e magoado
na venda bebo cachaça. MOTE
Muito embora mal me faça
e razão ninguém me dê, Raimundo* foi à Europa
eu vou bebendo porque E voltou falando inglês.
meu destino foi traçado:
é viver embriagado GLOSA
me lembrando de você.
Nunca deu o ás de copa,
II não conhecia o prazer,
Não suportando a desgraça pra dar sem ninguém saber
de viver sem teu carinho, Raimundo foi à Europa.
eu toda noite sozinho Dinheiro ele não poupa
na venda bebo cachaça. quando chega a sua vez,
Minha tristeza não passa, porisso, com sensatez,
sabes muito bem porque, fez tudo que pretendia,
quem olha pra mim já vê conheceu o que queria
o que procuro ocultar e voltou falando inglês.
* Raimundo Barros, Tabelião Público.
começo logo a chorar
me lembrando de você.
III
Sendo triste, faço graça,
banco o palhaço na vida.
Pra curar minha ferida
na venda bebo cachaça.
Não sabe mais o que faça
quem desgraçado se vê,
eu quizera um dia que
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE GLOSA
GLOSA MOTE
Um infeliz como eu.
Se quiser ter a certeza
do que diz o Saturnino* I
estude com todo tino A morte mata o sultão,
na mulher, sua beleza. arcebispo e cardeal,
Veja só quanta grandeza presidente, marechal,
reúne a perfeição rara, ministro, conde e barão;
quando a vista se depara em tempos matou Roldão,
surpreendendo o escondido, como na história deu;
vê-se que o preferido o próprio Jesus morreu;
não está sempre na cara. mata tudo ó morte ingrata,
* Prof. José Saturnino de Paiva, só não sei porquê não mata
28.11.1901 - 02.03.80 um infeliz como eu.
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Glosa Glosarum - Fesceninos
II MOTE
Ela mata todo mundo,
Toda obra o couro dá
branco, preto, rico e pobre,
mata o potentado, o nobre, GLOSA
mata o triste e o vagabundo;
I
matou Dom Pedro Segundo,
Dá bola, manta, silhão,
matou quem o sucedeu;
dá carona e dá perneira,
capitalista e plebeu,
dá chapéu, dá bandoleira,
mata tudo, não tem jeito,
dá sapato e dá gibão.
mas não mata, por despeito,
Pra se fazer matulão
um infeliz como eu.
o couro é como não há,
serve até pra cassuá,
III
dá peia e dá rabichola,
Não reserva o cientista,
se prendendo a couro e sola
mata sem dó o profeta,
toda obra o couro dá.
tirana, mata o poeta,
mata o maior estadista; II
mata também o artista, Dá manta, silha, silhão,
o cego, o mudo, o sandeu, dá chapéu, dá bandoleira,
mata o crente e o ateu, dá sapato, dá perneira,
diplomata e titular, dá corona e dá gibão.
mas poupa, não quer matar Pra se fazer matulão
um infeliz como eu. o couro é como não há,
serve até pra caçuá;
IV dá peia e dá rabichola,
Ela mata no Senado, se prendendo a couro e sola
como matou Rui Barbosa, toda obra o couro dá.
entra no Congresso airosa
MOTE
aí mata um deputado;
matou Pinheiro Machado, Todo cacete é cambão.
dele não se condoeu,
GLOSA
ela jamais atendeu,
mata gente, mata bicho, Tudo que é alto é comprido,
mas não mata, por capricho tudo que é baixo é pequeno,
um infeliz como eu. todo caboclo é moreno,
todo negro é presumido.
Todo orgulho é abatido,
todo inverno tem verão,
todo velho é ancião,
toda obra tem bitola,
todo poeta é pachola,
todo cacete é cambão.
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Glosa Glosarum - Fesceninos
I MOTE
Tinha raspa de juá,
raiz de urtiga, cardeiro, Deus apesar de ofendido
cipó de sapo, pereiro, Não se vinga de ninguém
ovo, milona e jucá,
jurubeba, manacá, GLOSA
tinha suco de taboca,
crueira de mandioca, Ele é compadecido,
fedegoso e vassourinha; amparo dos desgraçados,
tudo isso se continha perdoa os nossos pecados,
numa receita de Joca. Deus, apesar de ofendido.
Meu pensar mal entendido
II não me pode causar bem,
Tinha maIva e agrião, eu estou nisto, porém
joão mole, bredo, facheiro, confio no Deus bondoso;
pau de leite, marmeleiro, por ser Ele um pai piedoso
erva babosa e pinhão, não se vinga de ninguém.
canapum verde e limão,
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
MOTE
MOTE
Bebo, fumo, jogo e danço,
O povo gosta de ler Sou perdido por mulher
As glosas de Sesyom
GLOSA
GLOSA
Vida longa não alcanço
Com franqueza pode crer, na orgia e no prazer,
se for o mote bem dado, mas, enquanto eu não morrer,
ele depois de glosado bebo, fumo, jogo e danço.
o povo gosta de ler. Brinco, farreio e não canso,
Quem quer que procure ver me censure quem quiser,
tem de comigo achar bom, enquanto eu vida tiver*
quando a coisa vem por dom, cumprindo esta sina venho
a sorte não descompassa; e além dos vícios que tenho,
são lidas com muita graça sou perdido por mulher
* Há um variante deste verso: "não falho um
as glosas de Sesyom dia sequer".
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GLOSA GLOSA
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GLOSA GLOSA
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A muda de Costeleta*
Foi Tarquínio quem pediu No tempo do Carnaval
O povo perde a cachola
GLOSA
GLOSA
Talvez devido ao Capeta
daqui eu devo dizer, Uma quadra sem rival
pediram, sem se saber, ao escândalo se oferece,
a muda de Costeleta. a humanidade obedece
Ele fazendo careta no tempo do Carnaval.
do comando desistiu; Creio que não há igual:
eu não, mas alguém ouviu tudo metido a pachola
se dizer no Regimento como quem deixa a gaiola
que a muda desse sargento e alcança a liberdade,
foi Tarquínio quem pediu dentro da civilidade
* Costeleta, apelido do sargento delegado
o povo perde a cachola.
da cidade.
Muda está, aqui, com sentido
de "transferência".
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GLOSA GLOSA
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GLOSA GLOSA
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MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
MOTE
MOTE
Em Minas apareceu
Vivo triste, acabrunhado, Um galo de quatro pernas
porque não vejo Edinor
GLOSA
GLOSA
Contou-me Otávio* que leu
Ele parece isolado, a notícia num jornal:
vê sem par a descabida, um caso fenomenal
com as torturas da vida em Minas apareceu.
vivo triste, acabrunhado. O fato que lá se deu
Por ninguém sou confortado, se comenta nas tabernas,
minha vida é um pavor, até mesmo nas cavernas
só Jesus, o Redentor, ouviu-se um grito dizer:
me tira desta enrascada, só faltava aparecer
não acho mais graça em nada um galo de quatro pernas.
* Otávio Amorim, jornalista. Editou vários
porque não vejo Edinor. jornais no Açu. Era ele mesmo o
tipógrafo, chapista e impressor.
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MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
MOTE
MOTE
Eu felicito Palmério
Nesta auspiciosa data A bodega do Jordão
Vende em grosso e a retalho
GLOSA
GLOSA
Pelo seu grande critério
de há muito já comprovado, Vende farinha e feijão,
embora mesmo acanhado rapadura, açúcar e sal,
eu felicito Palmério. mantém grande capital
A esse jornalista sério a bodega do Jordão.
de linguagem democrata O dono dela é furão,
juntaram-se a plebe e a nata vende tudo, até chocalho,
e foram felicitá-lo, tem grande estoque de alho,
até eu fui abraçá-lo de lenha encheu um canteiro,
nesta auspiciosa data. este artigo, o bodegueiro
vende em grosso e a retalho.
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Glosa Glosarum - Fesceninos
MOTE MOTE
São dezenove quesitos
Severiano* falou
Depondo contra Macedo*
Mas o povo não ouviu
GLOSA
GLOSA
I
Houve palmas, houve gritos,
Quando a corrida** findou
todo mundo se alegrou
na rua se ouviu um brado,
quando João Celso bradou:
da varanda de um sobrado
são dezenove quesitos.
Severiano falou.
Uns rapazes expeditos
Todo o povo estacionou
foram contar mesmo a dedo,
quando a janela se abriu,
e um deles, saindo azedo,
gente que de lá saiu
disse para os outros:
me disse, o doutor é osso,
figa! tem gente como formiga
fez um discurso colosso
depondo contra Macedo.
mas o povo não ouviu.
* Dr. Severiano Pinto, médico, então II
formado no Rio de Janeiro,
Saiu soldado aos gritos,
quando queria exibir sua oratória.
** Corrida, mesmo que vaquejada. todos os sinos tocaram
e os meninos propalaram:
MOTE são dezenove quesitos.
Oh! que diabos malditos,
O roubo em Sacramento* parece não há segredo,
Aumenta de dia a dia mas que a todos mete medo,
pois viram na Intendência
GLOSA muita gente na audiência
depondo contra Macedo.
Ninguém respeita o sargento, III
levam na troça o fiscal, Cacá** propalou aos gritos,
vai em progresso, afinal, conforme a lei do País,
o roubo em Sacramento. João Celso disse ao Juiz:
É de momento a momento, são dezenove quesitos.
já fazem por picardia, Assim disseram os peritos
porém não há garantia, e não pediram segredo,
contou-me Nestor Vieira, de cima de um arvoredo
que o roubo, naquela feira, um molecote gritou:
aumenta de dia a dia. eu aqui também estou
* Vila, hoje Ipanguassu, município
desmembrado de Santana do Matos. depondo contra Macedo.
* Macedo, fazendeiro em Açu.
** Cacá, Manoel Marcolino de Vasconcelos,
Oficial de Justiça, muito estimado
na Comarca.
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MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
MOTE*
MOTE
Zé Leão** quase se caga
Quarta-feira na novena. A casca de guabiraba
elevou-se a trinta graus.
GLOSA
GLOSA
Quase faz do cu bisnaga
apertado em plena rua, Pra curar a tosse braba,
ontem ao clarão da lua segundo informa um freguês,
Zé Leão quase se caga. basta usar uma só vez
Porém encontrando vaga a casca de guabiraba.
pôde fazer quarentena, É um suco de mangaba
com franqueza tive pena adquirido dos paus,
por vê-lo tão apertado, cura os bons e cura os maus
foi feliz não ter cagado essa casca tão falada,
quarta-feira na novena. quando foi examinada
* Apud "Eu Conheci Sesyom", de elevou-se a trinta graus.
Francisco Amorim.
** José Leão era "imaginário" amador,
que deixou nome como santeiro.
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MOTE
MOTE
Joaquim deu com o defeito
Sem precisar de Thomaz. Macário sem seu Luiz
Deu a luz sem embaraço.
GLOSA
GLOSA
Trabalhou, mas com proveito,
depois de uma luta brava, Sem nenhuma diretriz
quando ninguém esperava, o movimento passou,
Joaquim deu com o defeito. não sei como se arrumou
Todo artista está sujeito, Macário sem seu Luiz.
mesmo que seja capaz, Ele apesar de aprendiz
neste motor satanaz mexia bem no cangaço,
um defeito apresentou, não deu-se nenhum fracasso
mas Joaquim desencrencou embora com muito medo,
sem precisar de Thomaz. Macário só com Alfredo,
deu a luz sem embaraço.
MOTE
MOTE
Macário aqui na usina
Garante a luz da cidade O motor tem estado bom
Não houve mais novidade.
GLOSA
GLOSA
Foi embora na surdina
nosso Luiz Camisão*, Quanto à luz, me diz Gelon
ficou como charlatão ficar naquilo somente,
Macário aqui na usina. há dois dias, felizmente,
Joaquim Paiva desatina o motor tem estado bom.
vendo qualquer novidade Perguntando a Sesyom,
pede até por caridade este me diz, é verdade,
pra Macário ter cuidado mesmo eu ví clara a cidade
este apesar de atrasado e que continue, oxalá,
garante a luz da cidade. de quarta-feira pra cá,
* Operador-mecãnico do motor de luz, que náo houve mais novidade.
chegou ao Açu em 1925, adquirido por
Francisco Martins Fernandes.
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GLOSA GLOSA
MOTE MOTE
GLOSA GLOSA
Meti-me na carraspana,
Começa ao bater do sino, Alexandre* acompanhou
termina ao cantar dos galos, e comigo analisou
tem força de dez cavalos o pé de rabo de Ana.
o vapor de Bernardino. Alguém dirá que é chicana,
Trabalha num desatino porém eu possa provar,
que não tem comparativo, a puta é de arrebatar,
eu como sou positivo da urtiga, eu tiro aquela,
digo sem nenhum temor, pois o pé de rabo dela
eu ví, de fato, o motor por gosto se pode olhar.
trabalha sem combustivo. * Alexandre, fígaro açuense, dado
a conquistas amorosas.
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MOTE
MOTE
Senhor doutor das finanças
Socorra um velho esquecido. Daqui a pouco não tenho
Merda no cu pra cagar
GLOSA
GLOSA
Hoje vivo de esperança
e apelo à sua vontade, A minha palavra empenho
me faça uma caridade sem qualquer contradição,
senhor doutor das finanças. dinheiro pra comprar pão
Trago nas minhas lembranças daqui a pouco não tenho.
o que me foi prometido, Observando eu venho
mas como sou precavido aonde se vai parar,
e não quero aborrecer, se outro aumento chegar
enquanto está no poder de gasolina ou de gás
socorra um velho esquecido. aí não terei jamais
merda no cu pra cagar.
MOTE
MOTE
Foi visto um vulto roubando
Os cocos lá da Redinha Se bosta fosse alimento
A Sunab tabelava
GLOSA
GLOSA
Toda a praia comentando
um fato que aconteceu, Pra tudo há tabelamento:
dizia um conhecido meu: carne, farinha, feijão;
"foi visto um vulto roubando, tinha fiscalização
em um coqueiro trepando, se bosta fosse alimento.
escuro, de manhãzinha", Sem qualquer constrangimento
até uma pobre velhinha toda esta cidade olhava
sabe quem tudo afanou, em cada esquina encontrava
Geraldo Preto* comprou em grande letra um listão,
os cocos lá da Redinha. merda, bosta, cagalhão
* Geraldo Preto, vendedor de peixe, marido a Sunab tabelava.
de Dalila, a mais famosa quituteira da
Redinha.
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BIBLIOGRAFIA
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