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ARTIGO ORIGINAL

Impacto da reabilitação na marcha


de indivíduos idosos com artroplastia
total de quadril: revisão sistemática
Effects of rehabilitation on gait parameters of elderly
subjects after total hip arthroplasty: systematic review

Kelly Fernanda Travizani Lemos1,


Lucas Rodrigues Nascimento2, Rita de Cássia Guedes1

Recebido em 8/7/2009 RESUMO


Aceito em 26/10/2009
Objetivo: Analisar a eficácia da reabilitação da marcha de idosos submetidos à artroplastia total de quadril (ATQ).
Método: Foi conduzida uma revisão sistemática da literatura nas bases de dados MedLine, SciELO, PEDro e
Cochrane. Os artigos identificados pela estratégia de busca inicial foram avaliados conforme os seguintes critérios
de inclusão: (1) desenho de estudo: ensaio clínico aleatorizado (ECA), (2) população de idosos com média de idade
acima de 60 anos, submetidos à ATQ, (3) comparação de efeitos de intervenção entre dois ou mais grupos, (4)
desfecho relacionado à análise da marcha. Resultados: Foram encontrados 6 ECAs cuja qualidade metodológica
variou entre 3 e 7 (4,33 ± 1,37) de acordo com a escala PEDro. O protocolo de reabilitação e as medidas utilizadas
apresentaram considerável variação entre estudos, porém foi possível observar que o grupo experimental, em
todos os estudos analisados, apresentou resultados significativamente superiores aos obtidos pelo grupo controle
em variáveis relacionadas à marcha, tais como: dor, distância caminhada e capacidade física. Conclusão: Apesar
do número limitado de estudos e de suas diferenças metodológicas, foi possível observar evidências que apoiam
a realização de exercícios terapêuticos variados no processo de reabilitação dessa população.
Palavras-chave: Envelhecimento, marcha, artroplastia total de quadril, reabilitação.

ABSTRACT
Objective: The purpose of this study was to examine the effects of the rehabilitation process on gait outcomes
of older subjects undergoing total hip arthroplasty (THA). Method: A systematic review of the literature was
conducted analyzing MedLine, SciELO, PEDro and Cochrane databases. The identified manuscripts were analyzed
according the following inclusion criteria: (1) study design: randomized clinical trial (RCT), (2): population composed
of elderly subjects with mean age above 60 years old, undergoing THA, (3) analysis of the effects of intervention
comparing two or more groups, (4) outcomes related to gait analysis. Results: There were found 6RCTs whose
methodological quality ranged between 3 and 7 (4,33 ± 1,37) according to the PEDro scale. The rehabilitation
process and key outcomes showed considerable variation between studies, but it was possible to observe that
the experimental group, in all reviewed studies, showed superior results to those obtained by the control group in
variables related to gait such as: pain, walking distance and physical capacity. Conclusion: Despite the limited
1
Departamento de number of studies and their methodological differences, there is evidence to support the use of varied therapeutic
Ciências Biológicas, exercises during the rehabilitation process of this population.
Ambientais e da Saúde, Keywords: Elderly, gait, total hip arthroplasty, rehabilitation.
Centro Universitário
de Belo Horizonte.
2
Departamento
de Fisioterapia,
Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Endereço para correspondência: Kelly Fernanda Travizani Lemos • Rua Antônio Justino, 408, B. Pompéia –
Belo Horizonte. 30280-430 – Belo Horizonte, MG • Tel.: (31) 34810733 • E-mail: kellytravizani@gmail.com
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INTRODUÇÃO tal de quadril (ATQ) apresenta-se como importante


intervenção cirúrgica com potencial para recuperação
O envelhecimento da população é uma realidade funcional de indivíduos com tais problemas ortopé-
mundial. Entre 1950 e 2050, a população total do dicos9. O alívio da dor e o fato de proporcionar a es-
planeta deverá crescer cerca de 3,7 vezes, ao passo ses indivíduos uma qualidade de vida superior à que
que a população idosa deverá aumentar 9,5 vezes e o tinham previamente à operação parecem ser os obje-
número de pessoas com idade acima de 60 anos po- tivos principais da ATQ, que é um procedimento rea-
derá representar 21% da população total1. Desde as lizado com grande apuro técnico e variadas opções de
últimas décadas do século passado, o Brasil se depara incisão e de material cirúrgico10,11. Entretanto, alguns
com uma redução brusca e acentuada da fecundidade, autores9,12-14 afirmam que esse tipo de cirurgia pode
fenômeno sem antecedentes na sua história, e que se gerar alterações posturais, discrepância de membros,
sobressai mesmo em comparação com outros países. instabilidade articular pós-operatória, sinal de Tren-
Esse declínio, combinado com a queda da mortalida- delenburg positivo e outras alterações que podem
de, está intimamente ligado ao processo de envelheci- prejudicar a marcha de indivíduos idosos submetidos
mento populacional e ao aumento da longevidade da a esse procedimento.
população2,3. Apesar do avanço em pesquisas na área Dada a importância que a manutenção da mobi-
gerontológica, envelhecer de modo saudável ainda é lidade representa para esse grupo de indivíduos, tais
um desafio, pois o processo natural de envelhecimen- alterações da marcha no pós-operatório e os efeitos
to se caracteriza pela redução da capacidade funcional de intervenção nessa população devem ser enume-
dos diversos órgãos e tecidos, o que predispõe um au- rados e detalhados a fim de que a reabilitação seja
mento no risco de doenças2. mais bem direcionada visando a maior autonomia,
De forma geral, as doenças de ordem muscular funcionalidade e qualidade de vida aos indiví­duos
e óssea nos idosos acarretam um comprometimen- idosos submetidos à ATQ. Portanto, o objetivo
to da função, diminuição do nível de independência deste estudo foi analisar, por meio de revisão siste-
do indivíduo, redução das habilidades para os movi- mática de literatura, os efeitos do processo de reabi-
mentos, prejuízos na marcha e quedas recorrentes4. litação na marcha de indivíduos idosos submetidos
Tais limitações, quando não prevenidas e tratadas, à ATQ.
acabam ocasionando o aparecimento das doenças
articulares degenerativas e as fraturas secundárias às
MÉTODOS
quedas. Conforme estudos de Fabrício et al.5 e Gill-
sepie et al.6, a queda ainda pode trazer como con-
Foram consultadas, retrospectivamente, até o ano
sequência para o idoso um aumento do sentimento
de 2000, as bases de dados eletrônicas MedLine,
de fragilidade, insegurança, perda de autonomia e
SciELO, PEDro, Cochrane, usando as seguintes pa-
independência para atividades básicas de vida diária
lavras-chave combinadas entre si: artroplastia total de
e atividades instrumentais de vida diária, diminuição
quadril (total hip replacement), marcha (gait), análise
de atividades sociais e consequentemente redução da
da marcha (gait analysis), quadril (hip), artroplastia
qualidade de vida.
(arthroplasty), exercício (exercice) e idosos (elder, el-
Segundo Gawryszewki et al.7, do total de lesões derly, old, older). A busca foi realizada no período de
ocasionadas pelas quedas em idosos no ano de 2000 outubro a dezembro de 2008 e se limitou aos ensaios
no Brasil, 68,3% resultaram em fraturas, entre elas, clínicos aleatorizados (ECA), escritos em inglês ou
as mais frequentes foram as do fêmur (38%). Além português.
de fraturas, outro fator incapacitante na vida do ido-
A busca foi realizada por dois examinadores, que
so é a osteoartrose (OA) – mais frequente doença
inicialmente selecionaram os artigos pela leitura do
articular cuja prevalência aumenta com a idade –,
título e dos resumos. Quando as informações não
afetando mais de 75% das pessoas acima de 60 anos
foram suficientes, os artigos foram lidos na íntegra
de idade. No Brasil, a prevalência da OA é estimada
de forma a serem utilizados como referencial e mar-
em 16%8.
co teórico para a discussão e ampliação dos conceitos
Os problemas ortopédicos, como as fraturas e as sobre o tema em questão. Foram analisadas, ainda,
artrites, são os principais causadores de deficiências as referências bibliográficas dos principais artigos en-
significativas na função articular, gerando marcante contrados com o propósito de incrementar os dados
limitação funcional. Nesse contexto, a artroplastia to- da presente pesquisa.
Reabilitação na marcha de idosos com artroplastia 133

Os artigos identificados pela estratégia de busca positivos para o grupo experimental ou “-” quando
inicial foram avaliados conforme os seguintes crité- apresentaram resultados negativos em relação ao gru-
rios de inclusão: (1) desenho de estudo: ensaio clíni- po controle24.
co aleatorizado, (2) população de idosos com média
O protocolo de reabilitação apresentou conside-
de idade acima de 60 anos, submetidos à ATQ, (3)
rável variação entre estudos (Tabela 1) dificultando
comparação de efeitos de intervenção entre dois ou
um processo adequado de análise e inviabilizando a
mais grupos, (4) desfecho relacionado à análise da
realização de uma análise estatística dos dados (meta-
marcha.
análise). Entretanto, foi possível observar que o grupo
Os estudos selecionados foram submetidos à ava- experimental usualmente realizou exercícios terapêu-
liação da qualidade metodológica de acordo com a ticos supervisionados por fisioterapeutas, incluindo
escala de PEDro15. Essa escala é dividida em 11 itens exercícios de fortalecimento, flexibilidade, condicio-
que avaliam a validade interna e estatística dos ECA. namento aeróbio e exercícios específicos à tarefa de
Cada item abordado, à exceção do item 1 que ao andar. Todos os artigos analisados apresentaram resul-
contrário dos outros itens da escala refere-se à vali- tados significativamente superiores para o grupo ex-
dade externa, contribui com um ponto à contagem perimental em relação ao grupo controle. Entretanto,
total da escala (0 a 10 pontos)15-17. Foram utilizadas houve considerável variação nos protocolos de análise
as pontua­ções descritas no endereço eletrônico dessa de dados com utilização de diferentes instrumentos e
base de dados15. medidas (Tabela 1), sendo os mais usuais o Western
Ontario and McMaster Universities – índice de os-
teoartrite (WOMAC)20-23, o teste de caminhada de
RESULTADOS seis minutos18,20-22 e medidas de amplitude de movi-
mento articular (ADM)21-23.
A busca inicial selecionou 88 artigos. Destes, foram
excluídos 77 estudos não realizados com população
de idosos ou com indivíduos não submetidos à ATQ. DISCUSSÃO
Dos 10 artigos restantes, um ainda se apresenta como
proceedings, impossibilitando a obtenção completa Unlu et al.25 descreveram que o maior motivo de quei-
deste, um não se tratava de ECA e outros 3, após a lei- xas de indivíduos submetidos à ATQ foram as limita-
tura na íntegra, apresentavam dados não pertinentes ções funcionais, por um tempo de leve a moderado,
a presente pesquisa, restando assim 5 ECA para essa no pós-operatório. Essas limitações estão relacionadas
revisão18-22. Após a leitura das referências bibliográfi- primeiramente à dor, à fraqueza dos músculos abdu-
cas desses artigos, foi acrescentado mais um ECA23 tores do quadril, às contraturas na articulação do qua-
nessa revisão. Todos os artigos selecionados para essa dril e às desordens da marcha, assim como à fraqueza
pesquisa compararam efeitos de intervenção e se rela- dos extensores e flexores do quadril, o que sugere que
cionam à cirurgia de ATQ. o processo de reabilitação pós-operatório é de suma
A qualidade metodológica dos artigos, avaliada importância para a evolução satisfatória no quadro
pela escala PEDro15, apresentou variação entre 3 e 7 motor e funcional dos indivíduos.
(4,33 ± 1,37) em relação à pontuação máxima de 10 Apesar do desenvolvimento observado na cirur-
pontos, estando esses dados disponíveis no endereço gia de substituição total do quadril nas últimas déca-
eletrônico da base de dados15. das, a escolha do melhor acesso cirúrgico e da melhor
Os estudos selecionados envolveram um total de terapia pós-operatória ainda não é consenso na lite-
227 indivíduos (117 constituíram o grupo experi- ratura9. A presente revisão identificou seis ECA re-
mental, submetidos à ATQ com análise da marcha lacionando os efeitos de intervenção na marcha de
pré e pós-intervenção, e 110 constituíram o grupo indivíduos idosos submetidos à ATQ. Embora os
controle). O total de indivíduos participantes dos estudos avaliados apresentem um moderado nível de
ECA variou entre 14 e 80 (37,83 ± 26,27). A popu- qualidade metodológica, deve-se enfatizar que os re-
lação estudada assim como o tempo e o tipo de inter- sultados obtidos sejam analisados com cautela, uma
venção e as medidas utilizadas apresentaram grande vez que os estudos dessa revisão apresentam diversos
variação entre estudos. As principais características protocolos de intervenção terapêutica com elemen-
metodológicas dos estudos estão descritas na tabela 1. tos combinados: fortalecimento, alongamento e ta-
Seus resultados foram descritos como “+” quando refas funcionais.
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Tabela 1. Características dos ensaios clínicos aleatorizados analisados


Estudo PEDro Amostra Intervenção Instrumento Resultados
Sexo n Tempo Grupo Grupo controle
experimental
Wang, 5 M (10) 28 2 sessões/semana n = 15 n = 13 TC6’ (+)
et al.18 F (18) 1 hora/sessão 68,3 ± 8,2 anos 65,7 ± 8,4 anos Teste de
8 semanas pré-ATQ Fortalecimento dos Fisioterapia caminhada
24 semanas após 3 MMII, bicicleta tradicional de 25 metros
semanas de ATQ estacionária +
hidroterapia

Hesse, 7 M (24) 80 10 dias consecutivos n = 40 n = 40 HHS (+)


et al.19 F (55) 45 minutos/sessão 65,5 ± 9,9 anos 64,7 ± 13,1 anos Simetria do
1º- 5º dia: 1º-10º dia: balanço
Esteira com suporte 45 minutos de Força dos
parcial de massa 25 movimentação abdutores
minutos + 20 minutos passiva dos MMII de quadril (MRC)
de movimentação + alongamento dos Atividade
passiva dos MMII 6º- mm. abdutores e muscular
10º dia: extensores do quadril do glúteo médio
Esteira com suporte com FNP + treino de (eletromiografia)
parcial de massa 35 marcha com degrau
minutos + 10 minutos
de movimentação
passiva dos MMII
Galea, 4 M (7) 23 5 sessões/semana n = 11 n = 12 TUG (+)
et al.20 F (16) 45 minutos/sessão 68,6 ± 9,7 anos 66,6 ± 7,9 anos TC6’
8 semanas Exercício Exercício domiciliar AQoL
supervisionado por sem supervisão com WOMAC
fisioterapeuta fisiorerapeuta
Maire, 4 M (2) 14 1 semana após ATQ n=7 n=7 WOMAC (+)
et al.21 F (12) 3 sessões/semana 75,1 ± 4,8 anos 75,1 ± 4,8 anos TC6’
30 minutos/sessão Fortalecimento, Fortalecimento,
6 semanas flexibilidade, flexibilidade,
hidroterapia, 2 horas hidroterapia, 2 horas
de caminhada por de caminhada por dia
dia + 30 minutos de
cicloergômetro para
MMSS
Maire, 3 M (2) 14 1 semana após ATQ n=7 n=7 WOMAC (+)
et al.22 F (12) 3 sessões/semana 75,1 ± 4,8 anos 75,1 ± 4,8 anos TC6’
30 minutos/sessão Fortalecimento, Fortalecimento,
6 semanas flexibilidade, flexibilidade,
hidroterapia, 2 horas hidroterapia, 2 horas
de caminhada por de caminhada por dia
dia + 30 minutos de
cicloergômetro para
MMSS
Gilbey, 3 M (42) 68 2 sessões/semana n = 37 n = 31 ADM (flexômetro (+)
et al.23 F (26) 1 hora/sessão 66,73 ± 10,19 anos 63,29 ± 12,01 anos de Leighton)
8 semanas pré-ATQ Fortalecimento e Fisioterapia WOMAC
24 semanas após 3 flexibilidade dos tradicional Força isométrica
semanas de ATQ MMII, MMSS e tronco dos abdutores
+ hidroterapia de quadril
(tensiômetro)
F: feminino; M: masculino; a: anos; mm: músculos; FNP: facilitação neuromuscular proprioceptiva; HHS: Harris Hip Score; MRC: Medical Research Council;
A-L: anterolateral; P-L: posterolateral; ADM: amplitude de movimento; TUG: Timed Up & Go; TC6’: teste de caminhada de seis minutos; AQoL: Assessment of Quality
of Life; MMSS: membros superiores; MMII: membros inferiores; WOMAC: Western Ontario and MacMaster Universities – Índice de osteoartrite.
Reabilitação na marcha de idosos com artroplastia 135

No estudo de Wang et al.18, os autores observa- qual a força isométrica e a atividade funcional do
ram que ambos os grupos (experimental e controle) músculo glúteo médio ao andar foram significativa-
apresentaram melhora na distância caminhada entre a mente maiores no grupo experimental, possivelmente
12ª e a 24ª semana após a ATQ quando comparados determinando o menor número de implantes frou-
ao período de avaliação inicial. Esse dado, conforme xos observados nesse grupo em comparação ao grupo
explicam os autores, pode indicar que a deambulação controle. No estudo apresentado por Gilbey et al.23,
de indivíduos submetidos à ATQ tende a melhorar também foram observadas melhoras significativas
após o procedimento cirúrgico, o pode estar ligado na força dos músculos abdutores do quadril quando
ao fato de a indicação do procedimento ser direcio- comparada com o grupo controle. Foi observada, ain-
nada, principalmente, aos indivíduos com quadro da, uma melhor capacidade física para a deambulação
avançado de doenças osteoarticulares ou fraturas, que no grupo experimental mantida após seis meses de
são altamente limitantes da mobilidade. Entretanto, cirurgia, o que proporcionou maior independência
o grupo experimental superou significativamente o para esses indivíduos e melhor mobilidade, contri-
grupo controle na análise dos resultados das variá- buindo para o retorno a atividades de lazer e ao em-
veis da marcha, principalmente na terceira semana de prego. Nesse contexto, ressalta-se a importância de
pós-operatório. Os benefícios obtidos no grupo expe- uma avaliação cinesiológica e funcional do músculo
rimental são explicados não apenas como decorren- glúteo médio e sua relação com a marcha de idosos no
tes do treinamento pós-operatório. Os indivíduos do pós-operatório de ATQ como parâmetro de avaliação
grupo experimental foram submetidos a oito semanas e progressão do processo de reabilitação da marcha
de exercícios orientados no período que antecedeu à nesses indivíduos.
cirurgia, o que sugere que o processo de reabilitação
Os estudos conduzidos por Galea et al.20 e Maire
deve ser iniciado o mais precocemente possível. Tal
et al.21 apresentaram comum avaliação com o índice
hipótese é, também, sugerida no estudo de Gilbey et
do WOMAC e o teste de caminhada de 6 minutos.
al.23, que se utiliza de metodologia similar e obtém
Em ambos os estudos, foram observados resultados
resultados significativamente superiores do grupo
positivos nessas variáveis. No entanto, no estudo de
experimental em relação ao grupo controle, embora
Maire et al.21, o desempenho dos indivíduos do gru-
as variáveis dependentes avaliadas fossem diferentes
po experimental no teste de caminhada de 6 minutos
daquelas utilizadas no estudo anterior.
foi significativamente superior ao do grupo controle,
O estudo de Hesse et al.19 também demonstrou contrastando-se ao fato de que, no estudo de Galea
melhora significativa na marcha dos indivíduos do et al.20, ambos os grupos apresentaram melhora si-
grupo experimental, principalmente na força de ab- milar nessa variável. Esses resultados decorrem possi-
dutores de quadril e atividade do músculo glúteo velmente do fato de as atividades funcionais – como
médio. Segundo os autores, esse achados podem es- uso de caminhada supervisionada como estratégia de
tar relacionados ao fato de que o treinamento com intervenção – implementadas no estudo de Maire et
suporte parcial de massa em esteira, realizado pe- al.21 propiciarem um contexto ambiental mais favorá-
los indivíduos do grupo experimental, oferece uma vel ao desenvolvimento de força e capacidade aeróbia
abordagem específica e repetitiva da tarefa de andar, desses indivíduos, melhorando assim o desempenho
permitindo a prática de sucessivos ciclos da marcha. para a deambulação com consequente melhora na
O grupo experimental apresentou, ainda, melhor rea­lização do teste de caminhada.
pontuação na escala de dor, o que pode ter resultado
Com relação à pontuação do WOMAC, nos es-
em um maior conforto e confiança nas habilidades
tudos de Galea et al.20 e Maire et al.21, observou-se
dos indivíduos para a marcha. Um fator importante
melhora significativa nos domínios funcionalidade,
relatado pelos autores foi o menor déficit da extensão
dor e rigidez no pós-operatório. No domínio funcio-
de quadril observado no grupo experimental que, as-
nalidade, ambos os estudos apresentaram melhora
sociado à maior redução da dor, pode ter contribuído
significativa nos grupos controle e experimental, en-
para o resultado benéfico da terapia locomotora nesse
tretanto, no estudo de Maire et al.21, foram observa-
grupo.
dos ganhos consideravelmente maiores no grupo de
Outros estudos26,27 apontam para a importância treinamento. Esses resultados foram acompanhados
do bom funcionamento do músculo glúteo médio e mantiveram-se superiores aos resultados do grupo
durante a deambulação (simetria da marcha e pre- controle em reavaliação após um ano22. No estudo
venção do afrouxamento do implante). Esses dados de Galea et al.20 foram observados, ainda, após o
foram comprovados no estudo de Hesse et al.19, no programa de exercícios, melhora significativa nos
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parâmetros da marcha com aumento na velocidade, efeitos de intervenção a longo prazo ou manutenção
melhora na cadência, aumento do comprimento de desses resultados, sendo necessária maior investigação
passo e redução no tempo do apoio médio. Sendo do aspecto tempo no pós-operatório de ATQ.
assim, os resultados apresentados reafirmam a im- Sabendo-se da importância da prática baseada
portância de um processo de reabilitação supervi- em evidências na tomada de decisão clínica, sugere-
sionado, embora as especificidades do treinamento se a realização de novos estudos controlados e alea-
ainda sejam pouco esclarecidas no desenvolvimento torizados, explorando melhor os fatores específicos
dos estudos. do treinamento, tais como o tipo de contração mus-
Dos estudos analisados, dois18,23 implementaram cular, a frequência e a intensidade dos exercícios no
um tratamento antes da realização da cirurgia e ava- processo de reabilitação pós-cirúrgico de ATQ, e
liaram os resultados imediatos após a terceira semana recomenda-se maior padronização dos instrumentos
de ATQ, dando seguimento de três e seis meses de e das medidas capazes de avaliar o impacto de um
acompanhamento. Já Galea et al.20, Maire et al.21 e programa de intervenção na marcha nos níveis de
Maire et al.22 avaliaram os resultados após dois me- estrutura e função corporais, bem como seus efei-
ses do início da intervenção, no entanto, apenas os tos nos níveis de atividade de participação de idosos
estudos de Hesse et al.19 e Maire et al.22 descrevem submetidos à ATQ.
modificação a longo prazo das variáveis e indicam
manutenção dos efeitos de intervenção nos níveis de
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