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O conceito de modo de produção 1 

Cesar Mangolin de Barros 

Introdução 

O presente texto tem por objetivo auxiliar aos que se iniciam no estudo 
do pensamento  marxista  na compreensão  específica  do conceito  de modo  de 
produção. 

Para  tanto,  está  dividido  em  duas  partes  principais.  A  primeira  trata  do 
conceito de modo de produção propriamente dito e a segunda é o comentário 
de alguns trechos selecionados do prefácio a “Crítica da Economia Política”, de 
Karl Marx (1859). 

Na primeira parte se tratou dos principais elementos teóricos do conceito 
de  modo  de  produção  e  também  do  de  formação  social;  os  comentários  da 
segunda  parte  têm  por  função  acrescentar  alguns  aspectos  e  exemplos  que 
parecem importantes para essa introdução. 

Procurou­se  indicar  obras  de  referência  para  que  um  estudo  mais 
aprofundado possa ser iniciado. 

Visto que o  marxismo  é alvo  de  intensa campanha  ideológica  por  parte 


dos órgãos burgueses de comunicação e no  meio científico e também porque 
existem  correntes  variadas  dentro  do  próprio  marxismo,  ou  mesmo 
determinadas  apropriações  equivocadas  da  obra  teórica  de  Marx  por 
pensadores de correntes diversas, são necessárias algumas palavras antes de 
entrar no tema, objeto desse trabalho. 


Este texto foi escrito exclusivamente como material de apoio e introdutório aos participantes 
do Módulo Marxismo, do Curso Livre de Humanidades – UMESP.

A ciência da história, ou o materialismo histórico, novo campo científico 
aberto por Marx, tem alguns conceitos fundamentais. Dentre eles figuram os de 
modo  de  produção,  o  de  formação  social  e  de  transição  de  um  modo  de 
produção a outro. Todos se interligam e, ao mesmo tempo, internos a cada um 
deles, há uma série de outros conceitos fundamentais. 

O  conceito  de  modo  de  produção  é  um  dos  mais  importantes  do 
pensamento  marxista.  Conhecê­lo  significa  compreender  parte  essencial  da 
obra teórica de Marx e Engels. 

Quando tratamos do conceito de modo de produção temos que abordar, 
necessariamente,  o  papel  das  estruturas,  a  determinação  em  última  instância 
do  econômico  e  a  estrutura  dominante,  as  relações  de  produção  e  forças 
produtivas, além da transição de um  modo de produção a outro, embora esse 
último possa ser separado. 

Também é interessante ressaltar desde o início que o conceito de modo 
de produção, bem como o materialismo histórico, é resultado de uma trajetória 
intelectual  e  militante  de  Marx  e  Engels,  que  passaram  por  outras  influências 
teóricas  antes  de  desenvolver  sua  própria  e  original  teoria,  portanto,  estão 
presentes  e  se  desenvolvem  a  partir  de  um  determinado  momento  do 
pensamento de ambos, particularmente a partir de 1845. 

Esse  ano  marca  a  passagem  de  dois  jovens  pensadores  e  militantes 


alemães  para  a  construção  de  uma  obra  original.  Portanto,  nos  escritos 
anteriores a 1845 não estão presentes esses conceitos fundamentais, o que é 
o  mesmo  que  dizer  que  o  materialismo  histórico  ainda  aí  não  existia.  Isso  é 
fundamental  para  a  compreensão  da  obra  de  Marx  e  Engels:  algumas 
correntes  do  marxismo  buscam  encontrar  nas  obras  anteriores  ao 
desenvolvimento  do  materialismo  histórico  seus  fundamentos,  ou  mesmo 
fazem  uma  leitura  dessas  obras  anteriores  à  luz  da  obra  de  maturidade  dos 
nossos  pensadores,  chegando  a  conclusões  equivocadas  ou  incorporando 
determinados conceitos  estranhos  ao  próprio  materialismo  histórico, conceitos 
esses abandonados e até mesmo criticados nas obras posteriores.

Embora  teimosamente  negado  por  alguns,  o  próprio  Marx  refere­se  ao 


corte  epistemológico 2  que  marca  o  abandono  dos  referenciais  teóricos 
anteriores  no  momento  do  nascimento  e  desenvolvimento  do  materialismo 
histórico. Essas influências não vinham apenas do pensamento de Hegel, mas 
também de Fichte, Kant e Feuerbach. 

As  fases  pelas  quais  passaram  o  desenvolvimento  intelectual  e  a 


produção teórica de Marx e Engels 3  são marcadas por dois aspectos principais: 
um  mais óbvio e ligado a idade dos nossos pensadores; outro histórico e com 
forte ligação com a prática militante. 

Pegando o exemplo de Marx: em 1845, quando ocorre o que se chamou 
aqui de corte epistemológico, ele tinha apenas 27 anos! Um jovem que já havia 
passado  e  produzido  obras  de  profundidade  em  outras  correntes  do 
pensamento  filosófico  e  que,  ainda  que  tão  jovem,  chegava  a  um  nível  de 
maturidade  intelectual  que  lhe  permitiu  o  desenvolvimento  de  uma  nova  e 
fecunda  teoria.  É  absurdo  procurar  nesse  jovem  uma  única  e  mesma  teoria. 
Como todo e qualquer mortal que se aventura nesse campo, é razoável que ele 
tenha permanecido  durante  algum  tempo  sob  a  influência  de outras correntes 
até que sua própria reflexão teórica, à luz de sua prática política e do processo 
histórico,  lhe  permitiu  o  descortinar  de  um  novo  campo.  Isso  nos  remete  ao 
segundo  aspecto  mencionado:  foi  ligando  o  processo  real  à  reflexão  teórica 
que Marx galgou esse caminho. 

Inicialmente  (1840­42) voltado  a  uma  compreensão do Estado  bastante 


diferente do período posterior e por um humanismo racionalista­liberal, ele vai 
advogar  que  era  necessária  a  crítica  aberta  ao  Estado  para  que  esse 


Ver o texto indicado: “Prefácio para a Crítica da Economia Política”, de 1859. 

Ver:  ALTHUSSER,  Louis.  Sobre  o  Jovem  Marx.  In: ALTHUSSER,  Louis.  Análise  crítica  da 
teoria marxista (Pour Marx). Rio de janeiro: Zahar, 1967. p.39­74 
ALTHUSSER,  Louis.  Marxismo  e    humanismo.  In:  ALTHUSSER,  Louis.  Análise  crítica  da 
teoria marxista (Pour Marx). Rio de janeiro: Zahar, 1967. p.194­220.

cumprisse  seu  papel  de  condutor  do  humano  à  sua  essência,  que  era  a 
liberdade e a razão 4 , daí sua insistência inicial na liberdade de imprensa. 

Logo  depois  (1842­45),  percebendo  que  o  Estado  prussiano  não 


caminhava no sentido de cumprir sua suposta  missão, percebe que o Estado, 
por  si,  não  pode  fazer  isso  e,  então,  Marx  recorre  à  necessidade  da 
organização  política  e da revolução como  forma  de  “restituir ao homem  a sua 
natureza  alienada  na  forma  fantástica  do  dinheiro,  do  poder  e  dos  deuses.” 5 
Nessa  fase,  ainda  calcada  na  suposta  essência  do  homem,  que  funda  a 
história e a política, 

“A  história é  a alienação e  a  produção  da  razão  na  desrazão, 


do  homem  verdadeiro  no  homem  alienado.  Nos  produtos 
alienados  do  seu  trabalho  (mercadorias,  Estado,  religião),  o 
homem, sem sabê­lo, realiza essência do homem. Essa perda 
do homem, que produz a história e o homem, supõe antes uma 
essência  preexistente  definida.  Ao  final  da  história,  esse 
homem, transformado em objetividade inumana, não terá mais 
do que tomar, como sujeito, a sua própria essência alienada na 
propriedade,  na  religião  e  no  Estado,  para  vir  a  ser  o  homem 
total,  o  homem  verdadeiro.  (...)  A  revolução  não  será  mias 
somente  política  (reforma  liberal  racional  do  Estado),  mas 
‘humana’ (‘comunista’)” 6 

Por fim, (1845 em diante) Marx rompe “com a teoria que funda a história 
e  a  política  em  uma  essência  do  homem” 7 ,  compreende  qual  o  papel  real  do 
Estado,  seu  caráter  de  classe,  que  as  relações  sociais  de  produção  e  a 
estrutura  econômica  ocupam  um  papel  fundamental  na  configuração  de  uma 
formação  social  e  vão  surgindo  assim  os  novos  conceitos  de  modo  de 
produção, de luta de classes, de revolução etc. 

Nessa  nova  fase,  na  qual  se  desenvolve  o  materialismo  histórico,  os 
homens não são tratados mais como indivíduos alienados ou uma classe alienada, 


Cf. ALTHUSSER, Louis. Marxismo e  humanismo. In: ALTHUSSER, Louis. Análise crítica da 
teoria marxista (Pour Marx). Rio de janeiro: Zahar, 1967. p197. 

Idem. Ibidem. p.199 

Idem. Ibidem. p.199 

Idem. Ibidem. p.200

que  bastaria  tomar  consciência  de  classe  para  que  emancipe  não  somente  a  si 
própria, mas por uma predestinação da história, a humanidade inteira. 

Na  introdução  a  primeira  edição  de  “O  Capital”,  de  1867,  o  próprio  Marx 
expressa  como  percebe  os  homens  ou  os  indivíduos  e,  portanto,  o  rompimento 
com a fase anterior: 

“aqui só se trata de pessoas à medida que são personificações 
de  categorias  econômicas,  portadoras  de  determinadas 
relações de classe e interesses. Menos do que qualquer outro, 
o  meu  ponto  de  vista,  que  enfoca  o  desenvolvimento  da 
formação  econômica  da  sociedade  como  um  processo 
histórico­natural,  pode  tomar  o  indivíduo  responsável  por 
relações  das  quais  ele  é,  socialmente,  uma  criatura,  por  mais 
que ele queira colocar­se subjetivamente acima delas.” 8 

Foi  a  própria necessidade de  pensar  a  prática e  as  relações sociais  da 


época  que  lançou  Marx  na  sua  magnífica  construção  teórica.  Compreender 
isso  é dar  um  gigantesco  passo  na compreensão  do  marxismo,  que  não é só 
uma teoria da sociedade, mas uma ciência da história, ligada à prática política 
e,  conseqüentemente,  à  luta  de  classes.  Ninguém  pode,  mesmo  os  que 
procuram, por razões diversas, desqualificar Marx, negar sua grandiosa obra e 
a  influência  profunda  que  exerce  pelo  mundo  afora  seu  pensamento  nos 
últimos 160 anos. 

1 – O conceito de modo de produção 

Marx diz que mais importante do que o que  produz a humanidade num 
certo  momento  é  como  a  humanidade  se  organiza  para  executar  essa 
produção.  Em  outras  palavras,  para  se  compreender  o  conceito  de  modo  de 
produção  é  preciso  considerar  esse  aspecto  central:  as  relações  específicas 


MARX, Karl. O Capital. 3ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p.19.

que  são  postas  em  movimento  pelos  humanos  numa  dada  sociedade,  com  a 
intenção de produzir e reproduzir sua vida material. 

Essas  relações  sociais  de  produção  correspondem  a  um  determinado 


estágio  de  desenvolvimento  das  forças  produtivas  e,  ao  mesmo  tempo, 
determinam seu próprio desenvolvimento. 

Essas  relações  sociais  de  produção  também  estão  ligadas  a  outras 


estruturas,  que  derivam  dela  e  mantêm  entre  si  interações  recíprocas  nos 
períodos de reprodução. A reprodução é possibilitada, por sua vez, exatamente 
por  essa  interação  das  estruturas,  ainda  que  a  econômica  exerça  sempre  a 
determinação em última instância. 

Isso  quer  dizer  que  as  relações  sociais  de  produção  sempre  ocorrem 
debaixo  de  uma  estrutura  jurídico­política  (forma  de  Estado,  sistema  jurídico, 
conjunto de leis, aparelho repressivo) que tem por papel legitimar e garantir a 
reprodução  do  modo  de  produção,  ou  seja,  dar  possibilidade  constante  das 
condições  necessárias  para  sua  continuidade,  inclusive  frustrando  a 
organização  política  das classes  antagônicas.  Também  a  estrutura  ideológica 
tem  o  papel  de  gerar  representações  das  próprias  práticas  e  da  inserção dos 
grupos  e  dos  indivíduos  nessas  práticas,  no  sentido de  tornar  essas  relações 
viáveis aos olhos das classes, permitindo assim a coesão social, a resignação 
e a possibilidade de a classe dominante exercer plenamente sua dominância. 

Pode­se  dizer,  portanto,  que  um  modo  de  produção  é  um  “todo 
complexo com dominante” 9 . O que isso quer dizer? 

Quer dizer que um modo de produção é determinado pela existência de 
estruturas,  pelo  menos  três:  a  econômica,  a  jurídico­política  e  a  ideológica, 
sendo que a estrutura econômica é sempre determinante em última instância. 

“(...) a estrutura com determinação do todo comanda a própria 
constituição ­ a natureza – das estruturas regionais, atribuindo­ 
lhes  o  lugar  respectivo  e  distribuindo­lhes  funções:  por 


Cf. POULANTZAS, Nicos. Poder político e classes sociais. Porto: Portucalense, 1971. p.08.

conseguinte, as relações que constituem cada nível nunca são 
simples,  mas  antes  sobredeterminadas  pelas  relações  dos 
outros níveis” 10 

Isso quer dizer que, ainda que sempre determinante em última instância, 
a  estrutura  econômica,  dependendo  do modo  de produção,  atribui  a  uma das 
outras  estruturas  o  papel dominante, ou  seja, as  duas outras  estruturas,  ou  a 
estrutura  econômica  mesma,  tem  um  papel  dominante  no  sentido  de  cumprir 
uma  tarefa  especial  para  a  reprodução  das  relações  sociais  de  produção 
específicas de um modo de produção especifico. 

“a determinação, em última instância, da estrutura do todo pelo 
econômico não significa que o econômico aí detenha sempre o 
papel  dominante.  Se  é  verdade  que  a  unidade,  representada 
pela  estrutura  com  dominante,  implica  que  todo  modo  de 
produção possui um nível ou uma instância dominante, de fato 
o  econômico  só  é  determinante  na  medida  em  que  atribui  a 
esta ou aquela instância o papel dominante” 11 

A definição de um  modo de produção depende, portanto, da análise da 
articulação especifica das estruturas, sempre considerando a determinação em 
última instância pela estrutura econômica. 

Portanto, pode­se dizer que a caracterização de um  modo de produção 
depende  do  reconhecimento  de  como  as  relações  sociais  de  produção  são 
reproduzidas,  ou  seja,  quais  as  determinações  da  permanência  contínua  da 
reprodução do modo de produção, o que nos leva, necessariamente, a ter que 
desvendar: quais são as características essenciais dessas relações sociais de 
produção;  como  estão  distribuídos  os  meios  de  produção  (propriedade  dos 
meios  de  produção);  como  se  dá  a  apropriação  do  que  é  produzido;  como 
estão dispostos os humanos nessas relações sociais de produção (as classes 
sociais);  a  forma  de  Estado  e  de  todo  o  aparelho  jurídico­político  derivado 
dessas relações e essenciais para a reprodução, bem como as representações 
ideológicas que permitem até certo ponto a coesão social. 

10 
Idem. Ibidem. p. 08­09. 
11 
Idem. Ibidem. p.09

Na análise da história pode­se perceber a existência de diversos modos 
de produção. Essa teoria, apenas esboçada, do modo de produção é somente 
uma  teoria  geral,  que  não  existe  em  estado  puro  concretamente,  daí  a 
necessidade de acrescentar outro conceito: o de formação social. 

2 – Modo de produção e formação social. 

Foi  dito  acima  que a  teoria  até  aqui  esboçada  do modo de  produção é 
apenas uma teoria geral, válida para todos os modos de produção, assim como 
também existem teorias particulares, ou seja, a teoria geral serve de referência 
para a construção de teorias especificas de vários modos de produção que já 
existiram  (por  ex.:  comunidade  primitiva,  escravismo,  feudalismo,  capitalismo 
etc),  assim  como  possibilita  a  construção,  apenas  teórica,  de  modos  de 
produção  inexistentes  concretamente  (por  ex.,  o  modo  de  produção 
comunista). 

“O modo de produção constitui um  objeto abstrato­formal que, 
no  sentido  rigoroso  do  termo,  não  existe  na  realidade.  Os 
modos  de  produção  capitalista,  feudal,  escravagista, 
constituem  igualmente  objetos  abstrato­formais,  visto  também 
não  possuírem  essa  existência.  De  fato,  existe  apenas  uma 
formação  social  historicamente  determinada,  isto  é,  um  todo 
social  –  no  sentido  mais  vasto  –  num  dado  momento  de  sua 
existência histórica” 12 

12 
Idem. Ibidem. p.09

Isso  é possível  a partir  da  determinação  de elementos  comuns  a  todos 


os modos de produção. 

“Podemos, pois, finalmente traçar o quadro dos elementos de 
qualquer modo de produção, invariantes da análise das formas: 
1. Trabalhador; 
2. Meios de produção; 
­ 1. Objeto de trabalho; 
­ 2. Meio de trabalho; 
3. Não­trabalhador; 
A. ­ relação de propriedade; 
B ­ relação de apropriação real ou material “ 13 

Se  as  teorias  dos  modos  de  produção  se  constituem  em  objetos 
abstrato­formais,  as  formações  sociais  são  objetos  reais­concretos,  originais 
sempre porque são singulares. 14 

Isso quer dizer que numa formação social específica sempre há mais de 
um modo de produção num mesmo momento, que coexistem, embora também 
aí  exista  um  que  exerça  o  papel  dominante.  Por  isso  foi  dito  acima  que  os 
modos de produção não ocorrem na forma pura. 

Lênin, no início do século XX, percebia a existência de vários modos de 
produção na Rússia.  Poulantzas indica que a Alemanha na época de Bismarck 
possuía  o  modo  de  produção  capitalista,  feudal  e  patriarcal.  Pegando  o 
exemplo  do  Brasil  atual,  podemos  encontrar  outros  modos  de  produção  que 
não somente o capitalista: escravista, relações não­capitalistas no campo, que 
podem  caracterizar  um  modo  de  produção  específico;  comunidade  primitiva 
(em alguns poucos povos que insistimos em chamar de “índios”). 

Duas  observações  são  necessárias  aqui:  primeiro,  é  claro  que  o  modo 


de  produção  predominante  no  Brasil  é  o  modo  de  produção  capitalista.  Isso 
não  quer  dizer  que  seja  o  único,  mas  que  os  demais  acabam  por  ser 

13 
BALIBAR,  Etienne.  Os  conceitos  fundamentais  do  materialismo  histórico.  In:  ALTHUSSER, 
Louis; BALIBAR, Etienne; ESTABLET, Roger. Para ler o capital. Vol.02. Rio de janeiro: Zahar, 
1980. p.170. 
14 
POULANTZAS, op. cit.. p.09
10 

determinados  pela  forma  como  a  determinação  em  última  instância  pelo 


econômico  se  exerce  dentro  do  modo  de  produção  predominante,  no caso,  o 
capitalista.  Significa,  então,  que  os  demais  são  determinados  pelo  modo  de 
produção  predominante  e  tendem  a  desaparecer  (pelas  metamorfoses 
provocadas pelo modo de produção predominante) ou permanecer, no caso de 
cumprirem  um  papel  importante  na  reprodução  do  modo  de  produção 
predominante,  levando­se  em  consideração  suas  características  específicas 
dentro  da  formação  social  concreta  (ex.:  ver  as  diversas  vias  de 
desenvolvimento  do  capitalismo).  A  segunda  observação  é  que,  ainda  que 
tratando  de formações sociais concretas,  a  identificação dos vários  modos  de 
produção  continua  a  ser  uma  operação  teórica,  ou  seja,  nunca  é  demais 
lembrar que essa classificação auxilia a elaboração teórica e serve para fins de 
análise de uma formação social qualquer, mas que esses modos de produção 
representam,  na  realidade,  uma  única  e  mesma  coisa:  uma  formação  social 
concreta e sempre singular. 

3 – Comentários sobre os trechos extraídos 15  do texto indicado. 16 

O prefácio à obra “Crítica da Economia política”, de Karl Marx, foi escrito 
em 1859. 

Numa tentativa de síntese, Marx expõe ali seu caminho ao materialismo 
histórico e procura identificar seus principais aspectos. 

15 
Os trechos do texto selecionados estão nos slides da aula. 
16 
O texto indicado referido aqui é o “Prefácio para a Crítica da Economia Política”, de Karl 
Marx. Uma cópia do texto pode ser obtida em: 
http://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/marx­prefacio­critica­da­economia­ 
politica1.pdf e também em: http://cursohumanidades.files.wordpress.com/2010/02/curso­ 
marxismo­aula­o­conceito­de­modo­de­producao­texto­indicado­marx­prefacio­critica­da­ 
economia­politica.pdf 

Os trechos comentados aqui estão nos slides da aula e podem ser obtidos em: 
http://cursohumanidades.files.wordpress.com/2010/02/curso­marxismo­aula­o­conceito­de­ 
modo­de­producao­prof­cesar­mangolin.ppt
11 

Leituras  mais  apressadas  geraram  desvios  economicistas  ao  tratar  a 


metáfora  do  edifício  (base  ou  estrutura  –  econômica  ­  e  superestrutura  – 
jurídico­política  e  ideológica)  como  a  simples  e  mecânica  determinação  da 
superestrutura  pela  base.  Tais  leituras  permitiram  a  ênfase  ou  a  centralidade 
do processo revolucionário e da transição de um modo de produção a outro no 
desenvolvimento das forças produtivas. 

A  transição  passaria  a  ser,  portanto,  um  processo  em  que  o 


desenvolvimento das forças produtivas, que chega num determinado momento 
a  uma  contradição com  as  relações  de  produção  (que  passam  a  obstaculizar 
esse  desenvolvimento),  força  a  superação  dessas  relações  de  produção  e 
transforma a base econômica que, na seqüência, transforma ou gera uma nova 
superestrutura. 

Essa concepção teve e continua a ter interferências graves na tática das 
organizações  revolucionárias.  Diversos  autores  já  combateram  o  desvio 
economicista  (esse  e  o  que  deriva  das  concepções  idealistas,  geralmente 
sustentadas pelas obras de juventude de Marx). 

Não  há  espaço  aqui  para  uma  discussão  maior  sobre  as  teorias  da 
transição  de  um  modo  de  produção  a  outro,  bem  como  para  o  correto 
tratamento  das  forças  produtivas  e  das  relações  sociais  de  produção.. 
Remetemos, portanto, o leitor ao texto citado de Balibar 17  para, a partir dele, e 
de suas indicações, aprofundar o tema. 

Dito isto, são reproduzidos abaixo os trechos extraídos do texto indicado 
como leitura complementar com seus respectivos e sintéticos comentários. 

17 
BALIBAR,  Etienne.  Os  conceitos  fundamentais  do  materialismo  histórico.  In:  ALTHUSSER, 
Louis; BALIBAR, Etienne; ESTABLET, Roger. Para ler o capital. Vol.02. Rio de janeiro: Zahar, 
1980. p.170. 
Uma cópia desse texto pode ser obtida em: 
http://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/balibar­sobre­os­conceitos­fundamentais­do­ 
materialismo­historico.pdf
12 

3.1. Comentários. 

ü  “ na  produção  social  da  sua  vida,  os  homens  contraem 


determinadas  relações  necessárias  e  independentes  da  sua 
vontade,  relações  de  produção  que  correspondem  a  uma 
determinada  fase  de  desenvolvimento  das  suas  forças  produtivas 
materiais” . 

A  necessidade  da  produção  e  reprodução  da  vida  material,  ou  seja,  a 


conquista  dos  gêneros  necessários  para  a  manutenção  da  própria  vida 
(alimento,  agasalho,  proteção  contra  as  intempéries  etc.)  faz  com  que  os 
humanos  estabeleçam  relações  entre  si.  Elas  são  independentes  de  sua 
vontade  porque  eles  nascem  em  um  determinado  momento  e  numa 
determinada formação social, na qual essas relações já estão constituídas, não 
sendo, portanto, objeto de sua escolha. 

As relações estabelecidas de antemão, portanto, tornam­se as relações de 
todos,  que  são  distribuídos  em  determinados  lugares  sociais  específicos  (as 
classes  sociais).  São  as  relações  sociais  predominantes  que  determinam  as 
classes sociais e, por conseguinte, a inserção dos indivíduos nessas relações 
de  acordo  com  seu  pertencimento  de  classe,  ou  seja,  ocupando  um  lugar  e 
desempenhando um papel específico no processo produtivo. 

Essas relações de produção têm ligação com o desenvolvimento das forças 
produtivas  (conhecimento  técnico,  meios  de  produção  de  uma  forma  geral, 
além  do  próprio  humano).  Ao  mesmo  tempo  em  que  as  forças  produtivas 
delimitam as possibilidades das relações de produção, elas têm certo ritmo de 
desenvolvimento  relacionado  às  necessidades  e  características  próprias 
dessas  relações  de  produção,  ou  seja,  pode  ocorrer,  como,  por  exemplo,  no 
modo  de  produção  capitalista,  que  as  forças  produtivas  se  desenvolvam 
rapidamente  (o  que  corresponde  a  necessidades  específicas  da  própria 
reprodução desse modo de produção e também gera contradições)
13 

ü  “ O  conjunto  dessas  relações  de  produção  forma  a  estrutura 


econômica  da  sociedade,  a  base  real  sobre  a  qual  se  levanta  a 
superestrutura  jurídica  e  política  e  à  qual  correspondem 
determinadas formas de consciência social.”  

A  estrutura  econômica  é  determinada,  portanto,  pelas  relações  sociais  de 


produção  e  por  um  determinado  estágio  do  desenvolvimento  das  forças 
produtivas, além de um determinado ritmo de desenvolvimento dessas últimas. 

O que Marx chama aqui de superestrutura são as estruturas jurídico­política 
e ideológica que mencionamos mais acima. É preferível, para não correr o risco 
do  desvio  economicista,  como  tratamos  no  início  desse  ponto,  abandonar  a 
metáfora da base ou estrutura e superestrutura e referir­se a elas apenas como 
estruturas, ainda que sempre lembrando a determinação em última instância da 
estrutura econômica. 

Feito isso, o trecho apenas quer dizer que determinadas relações sociais de 
produção  (que  determinam  a  divisão  do  trabalho,  propriedade  dos  meios  de 
produção  e  apropriação  real  do  que  é  produzido,  formas  de  exploração  do 
trabalho,  divisão  de  classes  etc.)  possuem  também  formas  de  Estado 
específicas, um conjunto de leis e um aparelho jurídico­político, dotado também 
de  forças  coercitivas  (forças  armadas,  sistema  penal  etc.),  voltados  para 
garantir  as  condições  da  produção  e,  portanto,  também  as  condições  de 
reprodução  do  modo  de  produção.  Os  modos  de  produção  possuem  formas 
diversificadas  do  direito,  organização  diversa  do  Estado,  que  atendem  aos 
requisitos  básicos  da  reprodução  e  de  sua  legitimação.  Há  a  interferência  da 
estrutura jurídico­política também na estrutura econômica, o que explica porque 
se insiste aqui que ela não é somente uma derivação mecânica desta última. 

Da  mesma  forma,  ocorre  a  geração  de  determinadas  representações  da 


própria  inserção  dos  indivíduos  nas  relações  sociais  de  produção. 
Representações  que  se  configuram  como  deturpações  da  própria  realidade, 
num  efeito  que  acaba  por  velar  as  formas  de  exploração  do  trabalho  e  de 
exercício  do  poder  de  uma  classe  sobre  outras.  Essas  representações  têm,
14 

portanto,  a  capacidade de  omitir  as verdadeiras  relações sociais de  produção 


e,  produtos  que  são  dessas  mesmas  relações,  interferem  nas  demais 
estruturas,  fornecendo  elementos  para  sua  legitimação  e  aceitação  por  parte 
de  todos  os  envolvidos  nessas  relações.  Tais  representações  são  expressas 
através  das  leis,  mas  também  podem­se  encontrá­las  na  produção  científica, 
nas  expressões  artísticas  diversas,  enfim,  elas  acabam  por  se  configurar  na 
própria cultura de um tempo e de uma formação social. A ideologia é, portanto, 
produto das próprias relações sociais de produção e auxilia a classe dominante 
em  sua  dominação  na  medida  em  que  fornece  representações que  legitimam 
essa mesma ordem. A ideologia não é, portanto, um mero discurso embusteiro, 
enganador,  formulado  pelas  elites  a  fim  de  enganar  o  povo  e  manter  a 
exploração. Ela é inconsciente para todas as classes e aí reside seu poder. 

Como  exemplo,  no  modo  de  produção  capitalista,  através  do  pensamento 
liberal, do pensamento positivista e outras bases teóricas que fundamentam e 
legitimam  teoricamente  a  ordem  burguesa,  o  tema  das  classes  sociais  ao 
menos  aparece.  Na  raiz  disso  está  a  percepção  de  que  são  as  relações 
mercantis 18  que  regulam  todas  as  relações,  tornando  a  todos  os  indivíduos 
livres,  formalmente  iguais,  proprietários  privados  de  mercadorias  que,  nessas 
condições,  se  encontram  no  “mercado”  ora  para  vender  sua  mercadoria  (no 
caso  dos  trabalhadores, sua  força  de  trabalho em troca  de salário),  ora como 
compradores (dos gêneros necessários para sua subsistência e reprodução). 

18 
Para ler um estudo breve sobre o papel das relações mercantis na base das ideologias 
próprias do modo de produção capitalista ver: BARROS, Cesar Mangolin de. Ideologia e 
mercado nos quatro primeiros capítulos de “ O Capital” . Há uma versão digital em: 
http://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/mangolin­ideologia­e­mercado­nos­quatro­ 
primeiros­captulos­de­o­capital­2009.pdf 

Sobre a ideologia ver também: ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 
Versão digital: 
http://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/luis_althusser_ideologia_e_os_aparatos_do_ 
estado1.pdf 

Ver também o capítulo sobre a ideologia na obra citada de Nicos Poulantzas e os quatro 
primeiros capítulos de “O Capital”, de Marx.
15 

ü  “ Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as forças 
produtivas  materiais  da  sociedade  se  chocam com  as relações  de 
produção  existentes”   “ E  se  abre,  assim,  uma  época  de  revolução 
social” . 

Novamente  aqui  o  esforço  de  síntese  de  Marx  oferece  o  risco  do 
economicismo.  Esse  é  um  tema  bastante  polêmico  e  resta  apenas  indicar 
algumas  possibilidades  de  saída  da  armadilha  do  puro  e  simples 
desenvolvimento das forças produtivas. 

Como  dito  mais  acima,  as  forças  produtivas  (contando  aí  o  próprio 
humano)  se  desenvolvem  num  ritmo  mais  ou  menos  associado  às 
necessidades  da  reprodução  do  próprio  modo  de  produção.  Ocorre  que  a 
reprodução  de  um  modo  de  produção,  assim  como  o  desenvolvimento  das 
forças  produtivas  não  são  também  lineares,  obedecendo  a  uma  definição 
positivista de desenvolvimento (associado a progresso e evolução), no sentido 
sempre do pior para o melhor. 

Tanto  a  reprodução  como  o  desenvolvimento  das  forças  produtivas 


geram  contradições  internas  ao  modo  de  produção.  Podemos  citar  como 
atuais,  ainda  utilizando  o  modo  de  produção  capitalista  como  exemplo,  o  uso 
predatório dos recursos naturais, a colocação de um número sempre crescente 
da  população  fora  de  condições  mínimas  de  subsistência,  a  acentuação  da 
exploração dos trabalhadores, a divisão entre países do centro e da periferia do 
sistema, crises econômicas etc. 

Essas  contradições  colocam  na  ordem  do  dia  a  necessidade  da 


passagem  a  outro  modo de  produção, via processo  revolucionário,  que passa 
necessariamente,  como  primeira  fase,  pela  tomada  do  poder  político  pelos 
trabalhadores.  Isso  pressupõe  a  organização  dos  trabalhadores  e  sua  luta 
econômica, mas também sua expressão na luta política. 

Segundo  Lênin, uma  crise  revolucionária  é  marcada pela  conjunção  de 


fatores objetivos  e  subjetivos.  Marcam  esse  momento  uma  cisão  no  bloco  no
16 

poder entre as classes e frações de classe dominantes; uma crise que piora as 
condições  de  vida  dos  trabalhadores;  a  ação  política  autônoma  dos 
trabalhadores. Tais elementos constituem um momento de crise revolucionária, 
que  é  quando  nenhuma  das  classes  pode  prosseguir  nas  mesmas  condições 
sem mudanças mais ou menos radicais. Isso não indica ainda que a revolução 
seja fatalmente vitoriosa, mas apenas que, havendo a ação política autônoma 
dos  trabalhadores  e  caso  estes  consigam  alcançar  organização  e  força 
suficiente,  a  tomada  do  poder  político  é  possível  e  um processo  de  transição 
pode se abrir. 

Tampouco a tomada do poder político representa a vitória da revolução. Esse 
período,  no  qual  se  procura  transformar  as  relações  sociais  de  produção,  é 
iniciado  sobre  a  base  material  do  modo  de  produção  capitalista  que  é 
lentamente  transformado,  mantendo  ainda  não  somente  a  burguesia,  que 
acaba de sofrer uma derrota política séria, mas também as ideologias próprias 
do  modo  de  produção  capitalista  em  atividade,  até  que  a  transformação  das 
relações  sociais  de  produção  produza  novas  representações  e, 
conseqüentemente,  uma  nova forma  de  compreensão  do  próprio  humano,  de 
sua vida e sua inserção das relações sociais de produção transformadas. Isso 
significa que a transição exige um período longo de transformação permanente, 
sempre  com  o  risco  da  restauração  da  velha  ordem  ou  de  novas  formas  do 
capitalismo,  como  o  capitalismo  de  Estado.  Como  dizia  Mao  Tse  Tung,  a 
transição é marcada pelo acirramento da luta de classes. 

ü  “ Ao  mudar  a  base  econômica,  revoluciona­se,  mais  ou  menos 


rapidamente, toda a imensa superestrutura erigida sobre ela” . 

Há  aqui  uma  inversão,  responsável  por  interpretações  que  distorcem  o 


pensamento marxista. 

Primeiro  é  necessário  insistir  que  o  marxismo  é  anti­evolucionista.  Isso 


quer  dizer,  no  que  se  refere  aos  modos  de  produção,  duas  coisas:  primeiro,
17 

que  apenas  critérios  internos  da  organização  que  se  julga  resultado  de  um 
aprimoramento da  sociedade humana podem  servir como  critério comparativo 
entre esta e outra do passado, na qual se vai buscar o que está ausente nesta 
e presente na primeira. Por isso o positivismo tem que insistir tanto na questão 
da  técnica  e  da  ciência  para  justificar  sua  compreensão  de  que  a  sociedade 
industrial é o nível mais elevado do desenvolvimento das sociedades humanas. 
Segundo, os modos de produção não seguem uma escala sucessória em todos 
os cantos do mundo e igual para todos os povos.  Os modos de produção são 
possibilidades  históricas  apenas  e  nada  pode  ser  utilizado  para  se  sustentar 
que  ao  modo  de  produção  capitalista  sucederá,  necessariamente,  a  transição 
socialista  e  o  modo  de  produção  comunista.  Estes  últimos  aparecem  como 
possibilidades  históricas,  que  dependem  de  fatores  objetivos  e  subjetivos  (a 
ação política dos trabalhadores) para se concretizarem. Não se pode esquecer 
que,  nesse  momento,  também  é  uma  possibilidade  histórica  a  autodestruição 
humana  (por  conta  da  crise  ambiental  provocada  pela  reprodução  do 
capitalismo  e  também  pelas  poderosas  armas  desenvolvidas  pelas  potências 
capitalistas para salvaguardar e garantir seus interesses de qualquer ameaça, 
ou seja, os interesses do capital). 

Portanto, o socialismo e o comunismo são possibilidades abertas e não 
um  destino  histórico  determinado  pelo  desenvolvimento  lógico  do  modo  de 
produção  capitalista  e  seu  esgotamento  (seja  por  causa  do  desenvolvimento 
das  forças  produtivas,  seja  por  causa  da  interpretação  um  tanto  quanto 
messiânica do proletariado que, ao tomar consciência de classe, emancipa não 
somente a si mesmo como classe, mas a toda sociedade humana. Isso parece 
fazer acreditar que o proletariado tem uma função redentora, um papel histórico 
a ser cumprido, assim como o filho de Deus o tinha ao tornar­se homem: salvar 
a  humanidade  do  pecado  e  da distância com  seu  Deus,  nesse caso; salvar  a 
humanidade  da  alienação,  no  outro.  Em  ambos,  a  promessa  da  sociedade 
perfeita e da felicidade infinita: o Reino dos Céus ou o comunismo!) 

Tendo ficado isso mais ou menos elucidado, ainda que de forma rápida, 
se retoma o trecho citado para insistir que há ali uma inversão. As experiências
18 

revolucionárias, tanto as burguesas (ver os casos da Inglaterra, EUA e França, 
também  o  desenvolvimento  do  capitalismo  no  Brasil,  por  exemplo)  quanto  as 
proletárias  ao  longo  do  século  XX,  demonstram  que  ocorre,  antes,  uma 
defasagem  entre  as estruturas do  modo  de produção até então vigente.  Essa 
defasagem se dá entre a estrutura jurídico­política e a econômica e é marcada 
pela  tomada  do  poder  político  e  pela  transformação  da  estrutura  jurídico­ 
política  antes  da  transformação  na  estrutura  econômica.  Não  há  indício  do 
surgimento das relações de produção próprias da sociedade comunista dentro 
dos  marcos  do  modo  de  produção  capitalista.  O  que  pode  haver  é  a 
contradição,  ou  seja,  a  possibilidade  objetiva  de  se  chegar  àquela,  mas  a 
continuidade das contradições desse último. 

É, de qualquer forma, somente após a tomada do poder político que se 
inicia  a  transformação  da estrutura  econômica.  Somente  os que confundem  a 
expansão comercial e as contradições que gera dentro da ordem feudal com o 
modo  de  produção  capitalista  já  estruturado  (produto,  portanto,  da  revolução 
industrial)  é  que  podem  tentar procurar  o  surgimento  do  capitalismo  já  dentro 
da  ordem  feudal.  Alguns  autores  tentam  demonstrar  que  a  existência  de 
cooperativas de produção poderia ser a evidência de que surgem relações que 
já  apontam  para  a  nova  sociedade  dentro  da  ordem  capitalista.  Tanto  a 
revolução  inglesa,  do  século  XVII,  quanto  a  revolução  francesa,  do  fim  do 
século  XVII,  ainda  a  guerra  de  secessão  da  segunda  metade  do  século  XIX, 
nos  EUA  e  o  movimento  que  põe  fim  à  escravidão  e  marca  o  advento  da 
República  no  Brasil,  no  fim  do  século  XIX,  são  eventos  que  marcam  a 
constituição  de  um  novo  tipo  de  Estado  (o  Estado  burguês),  que  cria  as 
condições para que o capitalismo propriamente dito se desenvolva. Em alguns 
casos, como no inglês mesmo, primeiro país capitalista, esse novo Estado abre 
caminho  para  que  a  possibilidade  histórica  que  era  o  capitalismo  se 
desenvolvesse  e  se  concretizasse,  sendo  seguido  por  outros  tantos  países 
depois, abarcando quase que todo o planeta na atualidade.
19 

Considerações finais 

Pôde ser visto que o conceito de modo de produção assume importância 
central para a compreensão do materialismo histórico. 

Os vários  modos  de produção existentes  e os  possíveis  historicamente 


possuem,  como  dito,  teorias  especificas,  que  procuram  demonstrar  como  se 
dão  as  relações  sociais  de  produção  dentro  deles,  como  exerce  a 
determinação em última instância o econômico e qual estrutura assume o papel 
dominante. 

Vale estudá­los para entender a cada um, embora o modo de produção 
capitalista  e  suas  especificidades  seja  mais  importante,  pelo  menos  pelo  fato 
de vivermos em uma formação social capitalista e em um mundo capitalista. 

Também  a  possibilidade  histórica  da  transição  ao  modo  de  produção 


comunista  é  algo  central  e  extremamente  atual  nos  debates  dentro  do 
marxismo e também fora dele. 

Esse texto, portanto, que teve apenas a intenção de servir de introdução 
e  suporte  para  a  aula  do  curso,  pode  servir  também  para  o  início  do 
aprofundamento  do tema.  A  bibliografia  indicada  e  utilizada  aqui  pode ser  um 
bom começo para esses estudos.

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