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A MANIFESTAÇÃO DO BULLYING NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO

BÁSICA - O ESPAÇO/TEMPO DO RECREIO

GISI, Maria Lourdes - PUCPR


maria.gisi@pucpr.br
FILIPAK, Sirley T. – PUCPR
Sirley.filipak@pucpr,br
KERKOSKI, Márcio J. - PUCPR
Marcio.kerkoski@pucpr.br

Eixo Temático: Violências na Escola


Agência Financiadora: Não contou com financiamento

Resumo
Neste estudo se aborda o bullying, um fenômeno que se refere a comportamentos agressivos
entre alunos(as) e que engloba uma grande diversidade de ações, entre as quais algumas que,
muitas vezes, passam despercebidas dos professores. Estes comportamentos dizem respeito a:
insultar, ignorar, bater, empurrar, tirar dinheiro ou o lanche, ameaçar, falar mal etc.
Comportamentos estes que se intensificam no recreio que é considerado e deveria ser um
momento de lazer, de encontros, de brincadeiras, mas que pode assumir outra característica e
se constituir em um momento de grande stress para as crianças. O estudo tem como objetivo
identificar a percepção que as crianças, das séries iniciais do ensino fundamental, têm sobre a
ocorrência deste fenômeno no espaço escolar. A pesquisa foi realizada em uma escola
pública, junto a 76 crianças que se encontram, em sua maioria, na faixa etária de 10 a 12 anos
e que estão cursando a 5ª ou a 6ª série do ensino fundamental. Os resultados demonstram que
o recreio é na percepção das crianças o espaço em que o bullying ocorre com maior
freqüência, sendo o local citado em 54.4% das respostas e as crianças gostariam de ter um
professor (63,2%) ou um funcionário (72,4%) cuidando, para evitar brigas. Entre os
alunos(as) 53,9% consideram que tem pouco espaço para brincar, 53,9 afirmam não existir
nenhum material de jogo, 42,1% dizem ter pouco material, e, ainda, 13,2% afirmam que os
colegas somente gostam de brincar de lutas e empurrões. Considera-se a partir dos dados
apresentados que, por constituir-se em momento propício para o bullying, o recreio deve
planejado pela escola em termos de espaço, materiais e acompanhamento. Para tanto é
fundamental que os professores tenham uma formação adequada para lidar com as situações
de bullying sempre que este fenômeno se manifesta na escola.

Palavras-Chave: Educação Básica; Recreio Escolar; Bullying; Formação de Professores


Introdução
O bullying se refere a comportamentos agressivos entre pares, conforme Pereira
(2002), e situa-se no contexto das diferentes manifestações de violência, como sendo aqueles
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que ocorrem no espaço escolar entre alunos(as), não tendo relação, portanto, com
comportamentos agressivos dirigidos a professores e/ou ao patrimônio. Mas indicar, tão-
somente, que este fenômeno se refere a comportamentos agressivos entre pares ainda não é
suficiente, é necessário compreender desde o início que tais comportamentos englobam uma
grande diversidade de ações e entre estas existem algumas que, muitas vezes, passam
totalmente despercebidas pelos adultos, sejam eles professores ou outros profissionais que
atuam no ambiente escolar. Estes comportamentos dizem respeito a: insultar, ignorar, bater,
empurrar, tirar dinheiro ou o lanche, ameaçar, falar mal etc. e que podem ocorrer em
diferentes espaços da escola, inclusive na própria sala de aula. (PEREIRA, 2002), ou ainda,
segundo Arandinga (2007, p.21), intimidação, agressão, ofensas, discriminação, imposição,
desafios e acusações.
Segundo ABRAMOVAY e RUA (2004, p.236),

entre os fatores que desencadeiam violências como ameaças e brigas, destaca-se o


“encarar”. Trata-se de uma maneira de olhar diferente, que pode significar, a quebra
de uma regra tida como básica no ritual a comunicação não-verbal. O olhar direto e
inconsciente é assumido como desrespeitoso desafiador e leva a confrontos [...].
Também o esbarrar no outro, mesmo sem querer, pode ser interpretado como atitude
pouco cuidadosa e de provocação, possibilitando desencadear brigas violentas.

Estas considerações demonstram o nível de desconfiança, de intolerância existente


entre os(as) alunos(as) na escola, a ponto do “olhar” significar “encarar” e o “esbarrar”,
significar “empurrar, provocar”, etc. Cabe lembrar que, respeito à liberdade e apreço à
tolerância, encontra-se entre os princípios da educação brasileira expressos na LDB nº
9.394/96, em seu artigo 3º, inciso IV (BRASIL, 2009). Tolerância significa, segundo o
Dicionário Houaiss, “uma característica de certas pessoas de admitir e respeitar idéias
diferentes das suas”. (HOUAISS, 2008)
A intolerância já foi e continua sendo causa de inúmeras guerras: intolerância
religiosa, de classe, de raça, de ideologias. É momento, na escola, de aprender a ser tolerante
com os colegas, com determinados comportamentos, olhares, comentários, sem desconsiderar
brigas e discussões entendendo-os como acontecimentos normais, pois podem evoluir para
práticas violentas mais graves.
Neste estudo é discutido o fenômeno do bullying, mais especificamente, como um
comportamento que se intensifica no momento do recreio, que é considerado e deveria ser,
um momento de lazer, de encontros, de brincadeiras, mas que pode assumir outra
característica e se constituir em um momento de grande stress para as crianças.
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Tal situação ocorre porque o bullying se caracteriza, segundo Sharp; Smith, (1994 In:
Pereira, 1999b, p.20) como sendo “uma forma de comportamento agressivo, entre pares,
usualmente maldosa, deliberada e com freqüência persistente, podendo durar semanas, meses
ou anos, sendo difícil às vítimas defenderem-se a si próprias”. E, este fato, de dificuldade de
defesa, se intensifica quando não existe um adulto observando o que gera grande tensão. Esta
tensão trás conseqüências que se fazem sentir em vários aspectos da vida da criança, na escola
e fora dela e na vida adulta em que pode se relacionar com depressão. Tais conseqüências,
segundo Pereira (1999b), não se limitam a vítima, também, afetam o agressor que pode
envolver-se na idade adulta em condutas anti-sociais ou com a criminalidade, motivo pelo
qual o estudo sobre este fenômeno se torna de fundamental importância.
Em relação ao contexto Vicens (2004, p.31) afirma que

las personas deben sentir-se acogidas, queridas; deben sentir que pertenecen al
grupo, que tienen um papel dentro del mismo [...] Cada conducta individual está
relacionada com las necesidades del contexto. Cuando las necesidades del contexto
no encajan con las individuales, se pueden producir distorciones emocionales. Por
exemplo, [...] la rabia em violencia.

A forma como o bullying se manifesta em cada espaço escolar assume características


diferentes em razão do tipo de atividade e do controle que existe ou não sobre as crianças.
Neste estudo o interesse está voltado ao momento do recreio, quando o olhar do(a)
professor(a) não se faz presente.
No entanto, é preciso, também, levar em consideração que o recreio não é um espaço
sem nenhuma relação com os outros momentos em que as crianças estão na escola ou fora
dela. Pode ocorrer, uma situação na casa com os pais ou na vinda para a escola ou uma atitude
autoritária de um professor em sala de aula, que faz a criança sentir-se agredida e então ela
pode fazer uso da agressão em um colega, justamente no momento do recreio, longe do olhar
do(a) professor(a). Pode ocorrer, também, uma criança ser elogiada em sala de aula e a outra
sentir-se menosprezada e adotar um comportamento agressivo no momento do recreio, enfim,
são várias as situações que podem estar relacionadas a um ato agressivo, assim ao analisar as
manifestações do bullying no recreio é preciso sempre levar em conta tais possibilidades. E,
não somente situações pontuais que ocorrem em sala de aula, como as citadas, mas o projeto
pedagógico de uma escola pode ter relação com a manifestação do bullying, quando não
existe uma preocupação com a formação de valores tais como: o respeito a diversidade étnica,
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cultural, sexual, o respeito ao outro (colega, professor(a) dirigentes etc.). Tais questões
merecem estudos para uma melhor compreensão do fenômeno.
Neste estudo buscou-se focalizar, especificamente, a percepção das crianças sobre o
bullying, no momento do recreio, em uma escola pública de educação básica, tendo-se a
clareza da sua relação com várias outras situações vivenciadas pelas crianças e que, portanto,
não se trata de uma questão simples.

O Bullying nos Recreios Escolares

A escola se constitui em um espaço que não é imune as questões que permeiam a


sociedade, nela se refletem os problemas com os quais nos deparamos na atualidade e entre
estes se encontra a violência em suas diferentes manifestações. Estudos como os de Gomes et
all (2006, p. 4) deixam evidente a ocorrência de violência no espaço escolar, os autores
realizaram uma pesquisa com alunos em duas escolas de ensino fundamental e uma de ensino
médio no Distrito Federal e constataram que a escola deixou de ser uma ilha e “reflete uma
sociedade em que a violência é cotidiana e diuturna”.
Como lidar com esta situação passou a fazer parte, então, das preocupações de todos
os envolvidos com a educação: professores e gestores das escolas de educação básica e da
universidade, esta última responsável pela formação inicial dos professores.
O bullying na escola é um fenômeno que vem causando um grande impacto no
cotidiano escolar e muitos professores têm dificuldade em se posicionar frente a esta questão,
isto porque de fato não estão conseguindo lidar com essa realidade. Existe uma idéia de que a
escola tem um papel muito importante em relação à violência nas suas diferentes
manifestações, pois se considera que é função do professor e do gestor educacional, junto com
a família, a formação de valores e o estabelecimento de limites, indicando de modo claro e
seguro o que é permitido e o que não é permitido fazer no espaço escolar.
No entanto, o que se verifica, muitas vezes, segundo Gisi (2008) é uma dificuldade em
compreender e saber como lidar com o bullying no cotidiano escolar o que pode levar a uma
atuação equivocada e gerar sentimentos de impotência, pois o professor pode atribuir esta
dificuldade exclusivamente a uma limitação pessoal. Por outro lado verifica-se a ausência de
uma efetiva abordagem da questão da agressividade/violência no processo de formação e é
fundamental que tais fenômenos sejam discutidos, analisados e aprofundados na universidade.
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O conhecimento das reais manifestações de agressividade pode auxiliar na construção de


propostas de intervenção na escola e de programas de formação inicial e continuada de
professores. Tais questões levaram ao interesse em compreender como o bullying se manifesta
no recreio escolar, espaço considerado como o mais propício para a ocorrência deste
fenômeno.
Guimarães (2005, p.4) em seus estudos sobre a dinâmica da violência escolar relata
aspectos relacionados ao recreio, indicando a fala de uma diretora que diz: “a agressividade
deles se manifesta, não na sala de aula, onde a professora consegue controlá-los, mas no
recreio, onde eles brigam muito entre eles”. Ao se referir as causas cita: “[...] desde o lanche
diferente que um aluno trazia [pão com mortadela ou um pedaço de bolo] até um simples
toque que era dado sem querer no corpo do colega”. Guimarães comenta, também, o relato de
um professor sobre o “[...] ‘futebol sem bola’ que consiste em jogar futebol chutando como
se fosse a bola, quem estivesse por perto”.
Com base em Smith; Sharp (1994), Pereira (2009, p.91) afirma que:

O bullying é um conceito que pode ser definido como a agressividade entre pares de
forma continuada, intencional, em que existe diferença de poder devido a fatores
externos, dos quais um deles é uma constante, o predador ataca sempre de surpresa,
elemento este que lhe dá maior poder, pois escolhe o lugar e o momento de o seu par
estar indefeso. A criança vítima é apanhada de surpresa, o que determina menor poder.
O tempo de reação é suficiente para garantir mais poder ao atacante.

As características apontadas pela autora indicam que o bullying é um fenômeno grave


que necessita de intervenção segura por parte da escola, em especial, em escolas que tem um
número elevado de alunos que ao se encontrarem no momento do recreio podem agir sem
serem identificados, pois, nestes casos, existe muita dificuldade para uma observação de
comportamentos agressivos
Segundo a Guimarães (2005, p.4):

Era muito comum um dos garotos sair batendo nos outros, e os que apanhavam
corriam atrás dele. Não era propriamente uma briga, pois pareciam estar se
divertindo. Os gritos eram ensurdecedores e, às vezes, eu tinha a impressão que
aquele aglomerado de alunos não iria sobreviver ao recreio. Mas, dado o sinal, todos
iam para a fila, suados, alguns até machucados, e pedindo à professora para irem ao
banheiro, pois nem tiveram tempo para isto.
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Em tais situações é impossível identificar o que é brincadeira e o que é um


comportamento agressivo, e, evidencia que o espaço da escola pública é revelador do que o
Estado oferece para aquelas crianças que são oriundas de condições socioeconômicas
desprivilegiadas. É um espaço que não tem opções de lazer, é um espaço onde convivem
alunos(as) pobres e muitas vezes professores(as) mal remunerados(as) e estressados(as) pelas
inúmeras atividades e responsabilidades que vem assumindo nas últimas décadas. Pergunta-se
o que existe de interessante neste espaço para os alunos fazer na hora do recreio, em espaços
com instalações precárias, pequeno e praticamente sem materiais para brincar?
O relato de Guimarães (2005, p. 62) sobre o recreio de uma escola de periferia de
Campinas ilustra bem esta situação:

Os alunos ficavam confinados em um espaço pequeno, rodeado de grades. O barulho


era ensurdecedor. Gritos, tapas, choros, risos, merenda que frequentemente caía no
chão em consequência dos empurrões. Aos poucos fui me acostumando a esse espaço,
mas não me atrevia a atravessar o pátio, pois a corrida desenfreada dos alunos
representava um sério risco para quem se colocasse à frente deles. Eu procurava ficar
sempre nas laterais. Porém, mesmo assim, levava alguns socos e “pisões”. Ninguém
controlava o recreio. As serventes distribuíam a merenda e os professores tomavam
lanche em suas salas.

É verdade que esta não é a realidade de todas as escolas públicas, pois, também, entre
elas existem muitas diferenças em termos de espaço, de existência de materiais, de alguém
que acompanha o recreio, mas existem aquelas que são idênticas ao relatado por Guimarães,
demonstrando que, neste caso, as condições existentes na escola em nada colaboram para
diminuir o bullying na hora do recreio.
É preciso lembrar que os direitos da criança estão assegurados na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, estabelecendo que a maternidade e a infância têm direito a
cuidados e assistência especiais, além de que toda pessoa tem direito à segurança pessoal e
que ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante.
Estes direitos foram ratificados no dia 20 de novembro de 1959, por aprovação
unânime, quando a Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou a Declaração dos
Direitos da Criança estabelecendo que, a criança gozará de proteção especial e ser-lhe-ão
proporcionadas oportunidades e facilidades, por lei e por outros meios, a fim de lhe facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e normal e em
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condições de liberdade e dignidade. Garante ainda que a criança tenha ampla oportunidade
para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação. Atribui à sociedade
e as autoridades públicas a garantia deste direito (ONU, 1959). No Estatuto da Criança e do
Adolescente, o artigo 5º, estabelece que nenhuma criança ou adolescente será objeto de
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais. Mais adiante, os artigos 15 a 18, estabelecem que a criança e o adolescente têm
direito à liberdade, que compreende o brincar, praticar esportes e divertir-se. O direito ao
respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente. A garantia do cumprimento destes direitos é dever de todos, principalmente da
escola em velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (BRASIL, 1990).
Os direitos da criança não significam, no caso da educação, apenas a possibilidade de
ser matriculado em uma escola, é preciso que a criança tenha além do acesso ao
conhecimento, que o espaço da sala de aula seja apropriado, que existam materiais e
equipamentos adequados e que os professores estejam preparados para atuar no nível e na
modalidade de ensino em que atuam. E, no caso deste estudo, que busca estudar o bullying o
momento do recreio, é importante lembrar que não basta apenas ter um pátio é preciso que
neste espaço existam recursos que motivem as crianças a aproveitar o momento para, por
exemplo, brincar, fazer amigos. Como indica Pereira (2009, p.86): “As crianças têm direito a
ver melhorados os recursos nas escolas: bibliotecas acessíveis e com literatura adequada [...] e
recreios melhor equipados, proporcionando tempos de recreação e educação informal”.

Metodologia

A pesquisa de campo foi realizada em uma escola pública de educação básica junto a
76 estudantes da 5ª e 6ª séries do ensino fundamental, mediante aplicação de questionários. A
escola foi selecionada tomando como base a ocorrência de comportamentos agressivos e a
disponibilidade da direção da escola para a realização da pesquisa.
Antes de iniciar a pesquisa o questionário elaborado para o estudo, foi aplicado a
alunos com o mesmo perfil daquele desejado para a pesquisa. O objetivo foi: “[...] evitar
possíveis vieses contidos nas questões; corrigir possíveis falhas existentes quando da
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formulação das questões, possibilitar familiarização com o instrumento”. (Richardson e cols


1999, p. 67).
A pesquisa foi realizada pela equipe de pesquisadores nas próprias salas de aula dos
alunos e o tempo de duração de aplicação dos questionários foi em média de 30 minutos,
tendo sido garantido o anonimato e o sigilo de qualquer informação de alunos. A aplicação de
questionários à crianças e adolescentes se justifica pela necessidade de compreender como o
bullying se manifesta e qual a percepção que as crianças têm sobre este fenômeno para então
propor ações que sejam eficazes. A pesquisa foi realizada em consonância com a Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.

Percepção sobre a Ocorrência do Bullying nos Recreios

Como pode ser observado na tabela 01, os(as) estudantes que participaram do estudo
tem, na sua maioria, entre 10 e 12 anos, sendo 50% do sexo masculino e 50% do sexo
feminino e também como pode ser observado na tabela 02, estão cursando a 5ª (17,1%) ou a
6ª série (82,9%) do ensino fundamental. Frequentaram creche ou pré-escola 82,9%. Já
reprovaram ao menos uma vez 23,7% e 18,4% freqüentam aulas de reforço.

Tabela 1: Frequencia e percentual de frequencia da idade dos alunos(as) participantes do estudo.


Idade f f%
10 25 32,9%
11 33 43,4%
12 13 17,1%
13 3 3,9%
14 1 1,3%
9 1 1,3%
Total 76 100,0%
Fonte: Os organizadores

Tabela 2: Frequencia e percentual de frequencia da caracterização da série de estudo dos(as) participantes


Série f f percentual
4º 2 2,6%
5º 63 82,9%
6º 11 14,5%
Total 76 100,0%
Fonte: Os organizadores
Em relação a profissão do pai e da mãe observa-se que na grande maioria foi indicado
o setor de serviços, embora na profissão da mãe aparece com maior frequência o trabalho de
diarista e de dona de casa. Em relação à escolaridade a maioria dos pais tem ensino
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fundamental ou ensino médio completo ou incompleto. O número de pessoas que moram na


casa está entre de 2 a 4 pessoas (74,9%).
Em relação ao bullying 50 % indicam a sua ocorrência nos últimos 3 meses e citam,
principalmente comportamentos tais como:

pegaram minhas coisas sem permissão (26,3%), colocaram-me apelidos (23,7%),


fizeram com que eu me sentisse mal (17,1%) e falaram mal de mim escondido
(15,8%).

A tabela 03 apresenta os locais que ocorrem as manifestações de bullying, segundo a


percepção das crianças. Os resultados demonstram que o recreio é o espaço em que o bullying
ocorre com maior freqüência, sendo 32,9% entre todos os locais citados. Este resultado já foi
encontrado por outros pesquisadores, como o estudo de Pereira, Almeida, Valente e
Mendonça (1996 In: Pereira (1999a) com 6.200 alunos em 18 escolas de Braga e Guimarães
em Portugal em que foi indicado o recreio como o local onde as ocorrências de bullying foram
mais freqüentes (78%). Também citado por 90,9% das vítimas, segundo estudos de Genta el
al (1996, In: Pereira, 1999b).
Chama atenção o fato de as crianças afirmarem que gostariam ter um professor
(63,2%) ou um funcionário (72,4%) cuidando do recreio para evitar brigas, indicando que
existe insegurança com a existência de comportamentos agressivos.
Tabela 3: Locais em que ocorrem as situações de Bullying segundo o ponto de vista das
vítimas.
Local f f percentual
Em nenhum lugar 30 39,5%
Em outro lugar 11 14,5%
Nas salas de aula 17 22,4%
No banheiro 2 2,6%
No recreio 25 32,9%
No refeitório e/ou cantina 2 2,6%
No vestiário 0 0,0%
Nos corredores e/ou nas 8 10,5%
escadas
Total 76
Fonte: Os organizadores
Os que não gostariam de alguém cuidando justificam dizendo que tiraria a liberdade.
Em relação ao espaço para o recreio, 53,9% consideram que tem pouco espaço para brincar,
53,9 afirmam não existir nenhum material de jogo e 42,1 afirmam ter pouco, e, ainda, 13,2%
afirmam que os colegas somente gostam de brincar de lutas e empurrões.
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Considerações Finais

Observa-se a partir dos dados apresentados que o momento do recreio, por constituir-
se em um espaço propício para o bullying, deverá ser planejado pela escola em termos de
espaço, materiais e acompanhamento. Para tanto é fundamental que os professores tenham
uma formação adequada para lidar com as situações de bullying em todos os momentos em
que se manifesta na escola.
Neste ponto é preciso perguntar-se sobre como vem sendo propiciada a formação dos
professores, em especial, a formação inicial. Quando se observa a orientação para esta
formação nos documentos relativos a reforma educacional, que se iniciou após aprovação da
Lei nº 9394/96, observa-se indicações claras sobre a necessidade de formar professores
competentes, indicando-se as competências necessárias a serem atingidas. Isto consta em
diretrizes curriculares que são indicativas para a formulação dos projetos pedagógicos dos
cursos de licenciatura. No entanto, no atual contexto da escola pública, com a ampliação do
acesso, muitas outras necessidades precisam ser atendidas como é o caso da formação para
lidar com a diversidade cultural, com necessidades educativas especiais e com os
comportamentos agressivos, neste caso, entre pares e, em especial, nos recreios.
Estes comportamentos agressivos são também o reflexo da insatisfação com o
cotidiano escolar, da falta de um projeto de vida, da falta de significado, da falta de alegria em
viver e conviver. Seres humanos felizes não agridem fisicamente e nem moralmente. Resgatar
o sentido da vida e os valores humanos perenes é o início de um plano de ação para evitar o
bullying. É importante ter presente que as ações relacionadas ao bullying implicam em ações
globais na escola, como bem indica Olweus (1993 In: Pereira, 1999, p.364 b) um programa de
intervenção requer o envolvimento de todo corpo docente e de medidas a serem
implementadas na escola, na sala de aula e com alunos individualmente tais como:
diagnóstico da situação, melhoramento e supervisão dos recreios, aprendizagem cooperativa e
atividades positivas, conversa com os agressores, com as vítimas e com os pais.
A revisão e atualização constante dos projetos pedagógicos, por meio de amplas
discussões envolvendo todos os segmentos da comunidade escolar resultam na melhoria das
relações na escola. Há necessidade de ouvir os alunos e incluir as sugestões no que diz
respeito às regras de convivência escolar, dos direitos e deveres de todos. A participação
implica em responsabilização dos envolvidos. Atividades orientadas durante o recreio como
esportes, campeonatos, apresentações de grupos musicais, de teatro, clubes de leituras,
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contadores de histórias, com a participação da comunidade, do voluntariado, de estagiários


das Instituições de Ensino Superior podem minimizar e até eliminar a violência observada. A
escola também pode incentivar a criação de grêmios estudantis, de conselhos de
representantes de turmas, que podem ser parceiros valiosos nas ações necessárias para evitar
comportamentos agressivos.
Para finalizar cabe citar Werthein (2004, p.188), que em seus textos sobre As Idéias da
UNESCO no Brasil, afirma que os valores sagrados para a construção de uma cultura de paz
são a tolerância, a democracia e os direitos humanos, ou seja, a observância desses direitos e o
respeito pelo próximo.
Salienta ainda que,

a cultura da paz é uma iniciativa de longo prazo que deve levar em conta os
contextos histórico, político, econômico, social e cultural de cada ser humano. É
necessário aprendê-la, desenvolvê-la e colocá-la em prática no dia-a-dia familiar,
regional ou nacional. É um processo sem fim.É esse o desafio que lançamos:
construir, em nossa sociedade, uma cultura de paz. Trabalhar na educação, na
construção solidária de uma nova sociedade mais igual e justa, onde o respeito aos
direitos humanos e à diversidade se traduzam, concretamente, na vida de cada
cidadão, onde haja espaço para a pluralidade e a vida possa ser vivida sem violência.

REFERÊNCIAS

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9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em www.mec.gov.br Acesso em 15/08/2009.

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