1
Texto de conferência proferida no Congresso CBNA de 17-18 de maio de 2005, em Goiânia, Goiás.
2
Professor associado do Departamento de Tecnologia de Alimentos da FEA-Unicamp.
2
No Reino Unido a classificação era muito simples, tinha quatro dígitos, sendo uma letra
para maturidade, outra para categoria de sexo, e um número para acabamento e outro
para conformação. A título de exemplo, YS24, correspondia a carcaças de novilhos (S) de
até dois dentes permanentes (Y = young), o equivalente a 18-28 meses em taurinos, com
acabamento 2 (baixo nível de acabamento) e conformação 4 (superior), ambos em
escalas de 1 a 5. Já na França a proposta era identificar várias características, desde a
raça ou cruzamento do gado até a cor da carne e da gordura, o que resultava num código
de muitos dígitos. Obviamente não havia na época os recursos de informática e as
leitoras ópticas de código de barras que existem hoje, então o método era inviável.
Curioso é que os veterinários brasileiros que aprenderam na França simplificaram o
método de tal modo que ele ficou praticamente idêntico ao britânico, e o utilizaram como
“classificação pura e simples” em testes nos frigoríficos nos anos 70.
Na União Européia prevaleceu uma classificação das carcaças de bovinos jovens, pelo
acabamento (escores visuais de 1 a 5), e conformação, avaliada como escore de
musculosidade (da mais para a menos musculosa, segundo as letras S-E-U-R-O-P) na
qual é colocada tanta ênfase que acaba hierarquizando as carcaças, como nos sistemas
tradicionais de tipificação.
A composição das carcaças pode ser comparada por separação física dos tecidos
(dissecação), ou seu equivalente do ponto de vista comercial, a desossa e elaboração dos
cortes cárneos por um procedimento estandardizado, e por análise da composição
química (umidade, proteínas, lipídios e minerais), mas nenhuma dessas possibilidades é
prática o suficiente para ser utilizada na rotina de uma indústria de abates e desossa. Por
isso, muito tempo e verbas de pesquisa têm sido gastos na tentativa de desenvolver
técnicas que possam estimar acuradamente as proporções dos tecidos - muscular e
adiposo - das carcaças. Como conseqüência, inúmeras são as técnicas já disponíveis,
porém, como o objetivo deste trabalho não é fazer uma revisão de métodos, serão citados
aqui apenas os já consagrados pelo uso como indicadores da quantidade ou proporção
dos tecidos.
cortes comerciais brasileiros, sem ponta de agulha, e da carne aproveitável total, incluindo
retalhos magros. A equação seguinte é um exemplo tirado de um de nossos trabalhos.
Como não parece muito prático nem econômico fazer testes com a carne de um ou mais
cortes de cada carcaça, medindo-se os atributos organolépticos mencionados, a solução
é utilizar indicadores que tenham uma certa correlação com as medidas que poderiam ser
feitas na carne em laboratório. Assim, nos métodos de tipificação em que se chega a
fazer a avaliação da carcaça resfriada, como se dá nos EUA e Canadá, são utilizados
indicadores para estimar quão macia, saborosa e suculenta será a carne após a cocção.
Em tais métodos, também se avalia subjetivamente a aparência, especialmente a cor da
carne, após um tempo mínimo de exposição ao oxigênio do ar em ambiente refrigerado.
Exemplos:
AJ = Novillo Joven, de conformação A (comparável a retilínea);
N6 = Novillo 6 D (dentes permanentes), de conformação N (comparável
a subconvexa);
VQC = VQ – Vaquillona de 0 a 4 D, de conformação C (comparável a
subretilínea);
VC6 = V – Vaca de 6 D, de conformação C.
Sexo-maturidade Subclasses
Vaquillona (0-2-4 D), peso min. de carcaça 150 kg, abrevia-se VQ.
Esses dois sistemas estão bem alinhados ao da União Européia, pois utilizam os
indicadores conformação e acabamento com escalas semelhantes e hierarquizam pela
conformação como a UE, sendo muito provável que existam diferenças no modo de se
avaliar subjetivamente a característica, com a UE julgando musculosidade (relação
músculo/osso) e os países da América do Sul julgando conformação como relação carne
(músculo + gordura)/osso.
Na parte não obrigatória, ou seja, voluntária, do sistema há o Young lean beef (carne
magra de bovino jovem, uma espécie de programa “novilho precoce”) que corresponde a
novilhos de até 2 D (dentes permanentes), em três classes de acabamento, e “novilhas de
até 2 D”, em duas classes de acabamento. O critério de musculosidade em três classes
vale para essas carcaças de novilhos e novilhas.
O que este sistema tem de bom é a compra e venda por especificações e a facilidade de
compreensão pelos diferentes segmentos da cadeia produtiva.
Sexo - verificado pelo exame dos caracteres sexuais, com as categorias: Macho inteiro
(M), Macho castrado (C), Novilha (F), e Vaca de descarte (FV).
Maturidade - verificada pelo exame dos dentes incisivos, com as categorias:
- Dente de leite (d) - animais com apenas a 1ª dentição, sem queda das
pinças;
- Dois dentes (2d) - animais com até dois dentes definitivos, sem queda dos
primeiros médios da primeira dentição;
- Quatro dentes (4d) - animais com até quatro dentes definitivos, sem queda
dos segundos médios da primeira dentição;
- Seis dentes (6d) - animais com até seis dentes definitivos, sem queda dos
cantos da primeira dentição; ou
- Oito dentes (8d) - animais com mais de seis dentes definitivos.
Numa análise mais futurista, pode-se notar que houve timidez na elaboração do “novo”
método - que não é novo, porque é o mesmo esquema não oficializado da década de 70,
12