1º‐Para que serve o gráfico na auto‐polarização do transistor JFET?
Serve para calcular o ponto estável (quiescente Q) de operação do transistor JFET. Este “ponto de
operação” é determinado pelo basicamente por três constantes:
a) A tensão VGS(OFF) (ou, conforme alguns autores, VP ): Tensão de corte porta‐fonte, é uma
constante do transistor; representa a tensão porta‐fonte necessária para interromper a
corrente de dreno (levar o transistor ao corte). É uma característica inerente a cada modelo
de transistor, devendo, para fins de exercícios ou projetos, ser previamente conhecida. Não
confundir com VGS, que é variável, e indica a tensão atuando sobre a porta‐fonte.
b) Corrente IDSS: É a corrente de dreno para a fonte com a porta curto‐circuitada; é a corrente
máxima que um JFET pode produzir. Esta é uma das mais importantes grandezas de um
JFET, pois dá a limitação de corrente do componente. Por exemplo, o MPF102 tem um IDSS
típico de 6mA; isto quer dizer que, não importa qual o projeto, a corrente de dreno estará
entre 0 e 6mA para um MPF102. Também é um dado fornecido individualmente para cada
JFET.
c) RS: Resistor da fonte. Determina a queda de tensão porta‐fonte no sistema de auto‐
polarização, varia de circuito para circuito (óbvio), e serve para evitar o uso da fonte
adicional ligada na porta‐fonte.
2º‐Embora muito mais simples que os transistores bipolares, os cálculos de auto‐polarização para o
JFET exigem que se saiba a mencionada corrente de dreno ID aonde o transistor irá se estabilizar. O
problema é que não existe uma fórmula para calcular este “ponto de operação”; mas com base nas
três constantes acima, podemos encontrar ID por aplicação gráfica.
Conforme já visto, a ID é determinada por:
1º: => Corrente de dreno em função de IDSS e Vgs
2º: => Corrente de dreno em função de Vgs e Rs
Como podemos ver, a primeira fórmula é uma função quadrática, logo a linha do gráfico será uma
parábola do tipo:
Figura 1‐ ID em função de Vgs
Mas esta parábola nos informa apenas os valores que a corrente ID pode assumir em função das
duas primeiras constantes: VP e IDSS . Mas como já visto o ponto de operação do JFET também é
influenciado pelo resistor Rs, e é aí que entra a 2º fórmula:
Sendo uma função do primeiro grau, o gráfico produzido será uma linha reta:
Figura 2‐ Id em função de Rs
Agora temos dois gráficos : O primeiro definindo a corrente de dreno (ID) em função da tensão de
porta‐fonte, e o segundo em função do resistor de fonte (RS). Assim, sobrepondo‐se estes dois
gráficos, o ponto de cruzamento das duas linhas informa a corrente de dreno (ID) de operação do
JFET.
Figura 3‐ Corrente ID na auto‐polarização
3º‐ Para desenharmos a curva através da função não é necessário calcular
todos os pontos possíveis, mas basta calcular apenas o ponto de cruzamento com o eixo Vgs, o
ponto de cruzamento com o eixo ID e um ponto intermediário, que nos dará uma noção da
inclinação da curva na hora de fazer o desenho. É claro que, se calcularmos um maior numero de
pontos, teremos uma curva mais precisa à medida que acrescentar‐se pontos onde a linha deverá
passar. Seguiremos aqui apenas com o cálculo dos três pontos fundamentais:
a) Para encontrar o cruzamento da linha do gráfico com o eixo Vgs: ,
repare que o encontraremos de ID=0, e Vgs=VP. Logo este é um cálculo desnecessário, pois
a linha do gráfico sempre cruzará o eixo Vgs na menor tensão porta‐fonte (Vp).
b) Semelhantemente, para encontrar o cruzamento do gráfico com o eixo ID, poderíamos
fazer: , porém também é um cálculo desnecessário, pois para uma
tensão de porta‐fonte igual a zero Vp=0 a corrente de dreno sempre será máxima, ou seja,
igual à IDSS.
c) Resta‐nos ainda encontrar um terceiro ponto intermediário, que nos dê uma noção
aproximada da inclinação da linha do gráfico. Se vamos calcular apenas mais um ponto, por
razões matemáticas é preferível que encontremos o ponto ID em função de , pois neste
caso ID será igual a . Demonstração:
Ö
Ö
Ö
Ö
Ö
Agora já que temos uma das linhas do gráfico, precisamos encontrar a outra através de
Esta linha do gráfico sempre partirá da origem (0,0), portanto teremos de encontrar mais um
ponto, por exemplo: . Agora é só traçar a reta, e no cruzamento das linhas
encontramos corrente ID do ponto de operação do JFET na auto‐polarização.
A partir daí é só aplicação das fórmulas:
Ig=0; IS=ID; VS=RS*IS=RS*ID; VGS=‐VS; VDS=VDD‐ID*(RD+RS); VD=VDS+VS
Bônus:
Para a galera que teve paciência de ler até aqui, vai um bisu que, para fins de prova, servirá como
prova real, e saber se “o valor que encontrei está correto”:
Conforme já visto, não existe uma fórmula para calcular ID quiescente... então, vamos fazer a
nossa:
Substituindo a segunda fórmula na primeira, e fazendo tudo em função de ID, que é a única
incógnita encontramos:
Percebam que é uma equação do segundo grau. Substituindo‐se as constantes Rs, Vp e IDSS, que
serão valores numéricos fornecidos, basta calcular através de Báscara o valor da incógnita ID, que
será o ID quiescente do JFET. E caso seja permitido o uso da HP, aí vira mel com açúcar: é só jogar
na função “solve equation” que a HP fornece o resultado.
David D. D. Quinelato
Engenharia Elétrica‐ 6º Semestre