Alessandro Boer
UnB. Universidade de Brasília
Especialista em Esporte Escolar
Alessandro.boer@bol.com.br
RESUMO: Este trabalho objetiva analisar as interferências do esporte escolar
no desenvolvimento de socialização e na formação do caráter e personalidade
do estudante, a partir de estudos e trabalhos já desenvolvidos sobre o tema.
Destaca as fases da evolução infantil e considera a relevância do jogo na
afirmação da criança e como objeto social. Aborda o desenvolvimento da
socialização, a importância do esporte para formar atitudes investigando
modificações processadas no adolescente a partir do esporte e a contribuição
deste na socialização da criança/adolescente, determinando mudanças no
comportamento a partir do papel do professor no planejamento e execução da
educação física escolar.
Metodologia de pesquisa
A tabela 5 mostra no núcleo “D”, como de resto nos demais, houve uma
significativa evolução do nível de socialização das crianças. As atividades
desenvolvidas neste núcleo englobam futsal, voleibol, basquetebol e handebol
e são realizadas duas vezes por semana com cada grupo.
Na análise dos resultados obtidos na pesquisa em quatro núcleos do
Projeto Segundo Tempo na cidade de Bagé, RS, nota-se que mais de 80% das
crianças atingiram níveis ótimo e bom depois de algum tempo freqüentando
atividades esportivas nos núcleos, o que demonstra uma grande evolução se
comparado com os resultados anteriores.
Com base nesses dados, pode-se fazer uma comparação com o que diz
Lira Filho (apud MOREIRA e SIMÕES, 2002) sobre o aumento dos proveitos
humanos e sociais a partir do alcance de glórias do esporte num mundo
conturbado e complexo. Da mesma forma, Mosquera e Stobäus (1984)
afirmam que é através da atividade esportiva que o indivíduo desenvolve
melhores oportunidades de aprimoramento do comportamento humano, pois,
consolidando esta opinião, Callois (1990) diz que o esporte é importante nas
relações sociais.
Os dados apontam para uma melhora nas relações entre colegas
freqüentadores dos núcleos, bem como do relacionamento entre participantes
de vários núcleos entre si, além do aumento da sociabilização nas relações
com os professores e monitores dos núcleos.
Esses resultados também apontam na direção do que diz Huizinga
(1986), que o esporte desperta o sentido de liberdade, sendo positivo no
desenvolvimento da personalidade e no equilíbrio emocional, bem como
reafirmam a posição de Marinho (1981), que diz ser a atividade esportiva
excelente no fomento do trabalho em equipe e do sentido de responsabilidade,
desenvolvimento a convivência mais sólida entre grupos e no grupo, bem como
o aprendizado sadio da união e da participação comunitária.
De acordo com os professores, 75% dos alunos participantes dos
núcleos tiveram uma mudança de atitudes muito grande após algum tempo no
projeto; 15% tiveram mudanças grande, 5% apresentaram apenas uma
mudança média e para 5% a mudança foi pequena. Ainda segundo os
professores entrevistados, quanto à evolução do nível de sociabilidade dos
participantes dos núcleos investigados, consideram que 80 tiveram uma
evolução muito grande, 10% uma grande evolução e 10% entre média e
pequena evolução. Os dados mais uma vez confirmam a importância do
esporte como fator de socialização em crianças, sendo estes resultados
limitados à faixa etária pesquisada.
A posse e o uso de conhecimentos da cultura corporal do movimento
possibilitam o cultivo do sentimento de pertinência ao grupo, desde o sócio-
cultural mais abrangente, até os grupos de convívio cotidiano. Podem
constituir-se em valioso instrumento de relacionamento social, pois ao jogar e
praticar esportes, a criança pode revelar intenções, expressar sentimentos,
construir estratégias e criar códigos de comunicação. Através da educação
física e do esporte o indivíduo aprende a conviver em grupos, sendo a relação
social nesse caso, muito importante no que se refere à satisfação de participar
de atividades esportivas, aumentando vivências e aprendizado (BROTTO,
1999).
Há indícios seguros de que o papel do esporte na formação e no
desenvolvimento do homem, bem como sua influência sobre a sociedade
contemporânea ainda não foram percebidos claramente por parcelas
relevantes das camadas dirigentes de inúmeros países, entre eles o Brasil
(MACHADO, 1997; BROTTO, 1999). A pesquisa esportiva compreende
inúmeras incursões científicas no campo do esporte de competição, buscando
a causalidade anatômica, fisiológica, intelectual, tática e ambiental na quebra
de recordes (PAES, 2001) e no aperfeiçoamento técnico em geral,
permanecendo restrita a pequenos grupos, florescendo em poucos países
(MARQUES, 2001).
O senso comum, segundo Medina (1989, apud TEIXEIRA e TEIXEIRA,
2006), considera freqüentemente o fato de que o espírito de equipe se adquire
por uma longa prática dos esportes coletivos, que forma um excelente meio de
introdução à vida em sociedade. Esporte praticado na escola através de
modalidades esportivas, prepara e orienta o aluno a ter uma formação e um
convívio social (BRACHT, 1997). Quando se fala em desenvolvimento pessoal,
faz-se referência à possibilidade que a prática de ocupações de lazer torna
viável. Não é difícil imaginar o reflexo de tal crescimento de compreensão e,
sobretudo, de melhoria da faculdade de percepção no que diz respeito ao
melhor equipamento humano para responder e fazer face aos problemas
teóricos e práticos que o meio ambiente impõe. O indivíduo terá, então, os
meios para melhor compreender sua posição no grupo, na comunidade, na
sociedade em geral, revestir-se de responsabilidades e discernir seu papel de
participante para a realização dos objetivos maiores da sociedade (Requixa,
1980, apud MACHADO, 1997).
Convivendo em novos grupos, o ser humano vai alargando as fronteiras
de seu mundo, intensificando suas comunicações nos contatos que mantém
com novos grupos humanos (GALLATI e PAES, 2006). Tais experiências, tais
vivências, segundo Gáspari e Schwartz (2001), formam o verdadeiro conteúdo
sócio-educativo das atividades esportivas, lembrando que a educação é hoje
vista como o grande veículo para o desenvolvimento, e o esporte é encarado
como o excelente e suave instrumento para servir de impulso para o indivíduo
desenvolver-se, aperfeiçoar-se, a ampliar seus interesses e sua esfera de
responsabilidades, inclusive sua responsabilidade social como cidadão.
Como principal facilitador do ensino do esporte, destaca-se a
importância do jogo no processo de formação do aluno, como é defendido por
Freire (1998) e Paes (2001). O jogo é o procedimento pedagógico mais
utilizado na escola porque necessita de poucos materiais, o que já se sabe é
escasso nas escolas. Através do jogo, a sociedade se desenvolve, o aluno é
motivado a aprender, as habilidades são aperfeiçoadas, desenvolvem a
criatividade, a cognição e aprendem a resolver problemas e a tomar decisões.
Além de estimular a inclusão e o desenvolvimento das inteligências múltiplas,
entre outros (TEIXEIRA e TEIXEIRA, 2006). Sendo o esporte uma das
manifestações mais populares do mundo, não se pode deixar de destacar sua
relevância para a cultura corporal de movimento na escola e sua conseqüente
influência na aprendizagem sociocultural e motora dos alunos (KAWASHIMA e
BRANCO, 2006).
Quando uma criança pratica esporte, ela acaba tendo uma melhora em
sua saúde, pois seu corpo que está em desenvolvimento, acaba tendo uma
quantidade controlada de exercícios, auxiliando assim seu organismo no
crescimento e a possuir uma maior resistência (PAES, 2001). A educação está
relacionada à disciplina e hierarquia (PAES, 2002), pois a criança recebe do
professor orientação quanto às regras do jogo e a respeitar seu antagonista,
acatando as decisões do árbitro e aprendendo a se socializar (KARKANSAS e
ROSE, 2002).
O espírito desportivo abre, amplia e intensifica vínculos entre pessoas e
grupos; confraterniza, estreitando as relações comunitárias e a compreensão
humana. O futebol, o voleibol, o basqutebol, o handebol, entre tantos outros,
apresenta, segundo Azeredo (apud WAGNER, 1998), fatores de valorização,
sem os quais muitos jovens jamais teriam praticado esportes, pois eles vencem
todos os preconceitos da sociedade. Busch (1999) refere-se ao fato social em
estado maciço que os esportes consubstanciam, atuando, segundo Tubino
(2001), no comportamento do povo brasileiro e influenciando culturalmente a
formação das sucessivas gerações; chegando a criar, até mesmo, um novo
status de vida profissional. Hoje, o espetáculo futebolístico constitui uma
atração que aplaca muitos desvios perniciosos no itinerário aberto ao
movimento social nutrido pelo povo (WAGNER, 1998).
Conclusão
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