Capítulo 3
Referências específicas
Scheideger: The Physics of Flow Through Porous Media, University of Toronto, (1960)
Katz: Handbook of Natural Gas Engineering, McGraw-Hill (1959)
Bear: Dynamics of Fluids in Porous Media, American Elsevier, (1972)
3.1 – Introdução
Um meio poroso é uma fase sólida contínua que contém muitos espaços vazios, ou
poros, em seu interior. São exemplos as esponjas, tecidos, papel, areia e cascalho, tijolos,
filtros e os leitos empacotados, ou de recheios, usados na indústria química nas operações
de absorção, troca iônica, destilação, extração líquido-líquido, etc.
Muitos materiais são porosos, mas os espaços vazios não se comunicam entre si,
impedindo que um fluido escoe através deles. Por exemplo, os recipientes de poliestireno,
os preservativos e as caixas de isopor contêm muitos poros, mas, devido a estrutura de
“cela fechada” dos plásticos, eles não possuem interconexão, formando então uma
excelente barreira ao escoamento de fluidos Uma pilha de areia, contudo, tem menos
poros que um recipiente de poliestireno expandido, mas seus poros são interconectados,
de modo que os fluidos podem atravessá-los facilmente. Os meios cujos poros não estão
ligados entre si são descritos como impermeáveis ao escoamento de fluidos e aqueles com
poros interconectados como permeáveis. (de Nevers, 1991) A definição analítica de
permeabilidade será dada posteriormente.
A parede da coluna pode ser construída com materiais tão diversos como metal,
cerâmica, vidro ou plástico, ou metal com revestimento resistente à corrosão. O
enchimento apóia-se numa grelha ou tela que deve ter um bom padrão de abertura para
não oferecer muita resistência ao fluxo. O líquido é introduzido no topo e deve ser
uniformemente distribuído por toda a seção reta. A distribuição geralmente é feita por uma
série de pulverizadores, sendo essencial a uniformidade do fluxo de fluido. Se a coluna for
alta torna-se necessário dividir o leito em várias seções, inserindo-se no espaço vazio
entre eles, pratos de redistribuição do líquido. Os redistribuidores são necessários em
intervalos de 21/2 a 3 diâmetros de coluna para anéis Raschig, e cerca de 5 a 10 diâmetros
de coluna para anéis Pall, não superando 20 pés de distância (Coulson-Richardson, 1965)
mesma eficiência que os enchimentos com forma definida em relação ao fluxo de líquido,
nem quanto à superfície específica disponível para a transferência. O enchimento deve ser
tão uniforme quanto possível, de modo a formar um leito com características e porosidade
uniformes.
Alguns dos enchimentos mais correntemente usados nas indústrias químicas são
mostrados na Figura 2. A maior parte dos recheios industriais está disponível numa grande
variedade de materiais como cerâmica, metais, vidro, plástico, carbono e borracha. O
escoamento preferencial, isto é, a distribuição não uniforme de líquidos através da seção
reta da coluna, com formação de canais, é muito menos pronunciado com os recheios de
forma definida e sua resistência ao fluxo é muito menor (Coulson-Richardson, p.28, 1965).
A
dimensão do
recheio usado
influencia as
dimensões
(altura e
diâmetro) da
coluna, a
perda de
carga e o
custo do
enchimento.
Em geral o
aumento do
tamanho do enchimento, diminui o custo por unidade de volume de enchimento e a perda de carga por unidade de
altura, diminuindo, porém, a eficiência da transferência de massa. Uma menor eficiência na transferência de
massa acarreta a necessidade de uma coluna mais alta, de modo que nem sempre se reduz o custo global da coluna
quando se aumenta a dimensão do enchimento. Normalmente numa coluna onde o recheio esteja colocado ao
acaso, a dimensão do leito não deve exceder a um oitavo do diâmetro da coluna. Como o custo por unidade de
volume de enchimento não diminui para dimensões acima de duas polegadas, enquanto sua eficiência continua a
diminuir, raramente há vantagem em usar recheios muito maiores que duas polegadas numa coluna com
enchimento disposto aleatoriamente. A Tabela 1 resume alguns dados referentes aos recheios acima ilustrados.
k dP
q= . (1)
µ dz
Onde q é a velocidade superficial (vazão por unidade de área), µ é a viscosidade do fluido,
(dp/dz) o gradiente de pressão (força motriz do escoamento) e k é a permeabilidade do
meio.
apenas parte da área da seção transversal total está disponível para o fluxo do fluido. A
expressão mais usual para predição da permeabilidade de um meio é a equação de
Kozeny-von Càrman que é escrita, em sua forma mais geral, como:
ε3
k = (2)
β(1 −ε)2 SP 2
A πD 2 6
SP = = =
V πD / 6 DP
3
e a equação ( 2 ) torna-se
DP2 ε3
k =
36 β(1 −ε)2
2 5 3
ε3 1 + (1 −ε)
3
β= (4)
3 3 2
2(1 −ε) 1 − (1 −ε) + 1 −ε −(1 −ε)
13 5 3
2 2
dP 32 µ βµ
− = 2 vF = v ( 5) f
dz D RH 2
64
dP µ
− = q (6)
dz k
Q m
q= = (7)
A ρA
Q m
Vi = = ( 8)
εA ε ρA
onde Q é a vazão volumétrica do fluido, m a vazão mássica e ε a porosidade, ou fração de
vazios do meio, isto é, a fração da seção reta não ocupada pelos sólidos, já definida
anteriormente. A relação entre a velocidade superficial e a velocidade intersticial é,
portanto,
q = ε vi
Do ponto de vista teórico, a velocidade intersticial é a mais importante; ela
determina a energia cinética e as forças do fluido, bem como se o escoamento é turbulento
ou laminar. Do ponto de vista prático, a velocidade superficial geralmente é mais utilizada
pois relaciona a taxa de fluxo a parâmetros mensuráveis facilmente.
O raio hidráulico, RH, que aparece na equação (5), é definido como a área de
escoamento (ou a área da seção reta perpendicular ao escoamento) dividida pelo
perímetro molhado. Resulta para dutos circulares que o raio hidráulico é igual a D/4.
Para dutos uniformes o raio hidráulico é constante, mas, para um leito de recheios
ele varia de ponto a ponto. Convém então, multiplicar tanto a área transversal quanto o
perímetro molhado pelo comprimento do leito (ou seja, a trajetória):
ε
RHmp = (9)
(1 −ε)SP
Substituindo a expressão do raio hidráulico para o meio poroso e a velocidade do
fluido pela velocidade superficial (Vf = q / ε) na equação de Poiseuille para dutos retilíneos,
vem:
dP µβ q
− =
dz ε2 ε
(1 − ε) 2SP 2
dP µβ(1 − ε) 2SP 2
− = (10 )
dz ε3
por comparação da equação (10) com a equação para o movimento lento em meios
porosos, resulta:
µ µβ(1 − ε) 2SP 2
q=
k ε3
Explicitando-se k,
ε3
k =
β(1 −ε)2SP 2 (11)
Dp 2ε3
k=
180 (1 −ε)2 (11-a)
Um meio
indeformável é
aquele que tem
66
Equação da continuidade
1. Constituinte fluido:
∂
( ε ρ) + div ( ε ρv ) = 0 (12)
∂t
Pelas suposições acima a equação se reduz a div ( ε v ) = 0 , isto é (ε v) = constante.
2. Constituinte sólido:
∂
[ρs(1 − ε)] + div [ρs(1 − ε) vS] = 0 (13)
∂t
Equação do movimento
1. Constituinte fluido:
∂ v
ε ρ + ( grad v ) v = −gradP − div τ − m + ρg (14 )
∂t
k dΡ
q =−
µ dz
k dp
q =−
µ dz
PL −P 0 µ
L
= q
k
(18)
µ cρ k
m= 1 + q q (19)
k µ
Sendo:
µ - viscosidade do fluido
k - permeabilidade do meio
ρ - densidade do fluido
q - velocidade superficial
c -fator geométrico adimensional, que só depende da matriz sólida (esqueleto
poroso).
Substituindo-se a força resistiva dada por (19) na equação 11, com k e c obtidos das
correlações de Kozeny-Carman e de Ergun, respectivamente, chega-se a expressão geral
para a perda de carga no escoamento de uma única fase fluida através de um meio
poroso:
∆
Ρ (1 −ε)2 µ (1 −ε) ρ
L
=150
ε3 (φDp ) 2
q +1,75
ε3 (φDp )
q2 (20)
∆P µ cρ 2
L
= q+
k k
q (20-b)
Dp 2ε3
1. Correlação de Kozeny-Carman k=
36 β(1 −ε)2 (11-b)
D2
2. Correlação empírica k=
1000
( 21 )
6 6 1
DPM = = =
Sp Vp 6
∑xi φDp ∑φDp
x (22)
i i
3. Correlação de Ergun - Se verifica bem para meios de porosidade elevada, mas conduz a
resultados insatisfatórios quando aplicada aos meios naturais, de
baixa permeabilidade e porosidade reduzida (Massarani, 1979).
0,143
c=
ε3 / 2
(23)
5. Correlação Massarani-Thirriot-Cohen
1 k 0 0 , 72
k0 0 ,13
(24)
−2
c = 3/ 2
10 −1
+6 x10
ε k
k
k0 é uma permeabilidade de referência cujo valor, nas condições trabalhadas, é 10 -6. Essa
correlação foi estabelecida para as faixas ( 10-12 < k < 10-3) e ( 0,1 < ε < 0,93 )
Meios consolidados:
mp + a + mas − mp + a + as
O volume de sólidos, ( VS ) será dado por: VS =
ρ
Vmp −Vs
e a porosidade, como definido antes, é ε=
Vmp
Meios não-consolidados
A porosidade de meios não-consolidados pode ser obtida por picnometria, como
acima descrito, ou por medida do volume ocupado pela massa, m, de uma amostra do
material a ser utilizado no meio poroso numa proveta, por exemplo. Suponhamos que uma
massa de 153,6 g de areia, de densidade 2,6 g/ cm3, forme um meio poroso de 96 cm3. A
porosidade deste meio será:
VM P − VS VM P − (m / ρ s) 9 6− (1 5 3,6 / 2,6)
ε= = = = 0,3 8
VM P VM P 96
Caso a partícula tenha perfurações, como diversos tipos de recheios industriais, a
determinação é feita pela Adição de uma certa massa do material a um dado volume de
água, medindo-se então o volume resultante. Se V0 é o volume de fluido e VT o volume
total (fluido mais amostra), o volume de sólidos será (VT - V0). Se VMP é o volume do meio
poroso, a porosidade será:
VMP − ( VT − V 0)
ε=
VMP
9 2− (1 7 2− 1 1 6)
ε= 92 = 0,3 9
71
P1 v12 P 2 v 22
+ + gz 1 = + + gz 2
ρ 2 ρ 2
P2
gH = mas P 2 =ρ.g.H (24)
ρ
ρ.g.H µQ µ V.t
= =
L k A k A
µ.V
Q = q.A = V / t é a vazão volumétrica. Então, k = (26)
ρ gHAt
0 = −gradP −m +ρg
sendo
µ cρ
m = + q q
k k
72
dP µ cρ
− = + q q (27)
dz k k
1 ∆P µ cρ
− = + q (28)
q L k k
dP µ cρ
− ρ = + q ρq
dz k k
dP µ c
− ρ = + w w
dz k k
PM PM dP µ c
para um gás perfeito, ρ= . Substituindo acima, − = + w w e
RT RT dz k k
integrando
M P 22 − P12 µ c
− = + w w
RT L k k
P 22 − P12 P 2 + P1 P 2 − P1
O termo pode ser desmembrado no produto . Fazendo
L 2 L
isso, a equação passa a ser escrita:
M P 2 + P1 P 2 − P1 µ c
− = + w w
RT 2 L k k
M P 2 + P1
mas, − = ρ = densidade do fluido na Pmedia . Então
RT 2
73
P 2 − P1 µ c
ρ = + w w ou ,
L k k
ρ P 2 − P1 µ c
= + w ( 28 )
w L k k
ρ ∆P µ c
Como anteriormente, um gráfico de versus + w nos dará uma reta de
w L k k
c µ
coeficiente angular e coeficiente linear .
k k
Exemplo:
Determinar c e k para um meio constituído por esferas de vidro consolidadas com
araldite (5%). O fluido de percolação é o ar a 25ºC e a distância entre as tomadas de
pressão é de 1 cm. O meio tem área da seção transversal igual a 18 cm 2 e porosidade de
38%. A relação vazão x queda de pressão é dada abaixo.
3. Thirriot, C.; Massarani, G.; Cohen, B.M.; Cohen, M., Análise da Força Resistiva no Escoamento de Fluidos
em Meios Porosos, V Congresso Interamericano de Engenharia Química, Rio de Janeiro, 1973.
4. Happel, J. Viscous Flow in Multiparticle Systems: Slow Motion of Fluid Relative to Beds of Spherical
Particles, A.I.Ch.E. Journal, 4, 197, 1958.
5. D’Àvila, J.S.; Sampaio, R.S. Sistemas Particulados, Publicação Didática UFSE, Aracaju, 1980
7. Massarani, G., Thirriot, C. Uma Técnica para Preparação de Meios Poroso Artificialmente Consolidados,
Revista Brasileira de Tecnologia, 3, 1976.
8. Scheideger, A . E., The Physics of Flow Through Porous Media, University of Toronto, Canada, 1973.
9.. Coulson, J.M., Richardson, J. F., Tecnologia Química vol.2, Fundação Calouste Gulbenkian, 2ª Edição, Lisboa,
1974.
EXERCÍCIOS
de diâmetro e porosidade de 0,40. A água entra e sai do leito sob pressão atmosférica.
Calcular a velocidade superficial atingida, admitindo escoamento turbulento (Bennett,
14.13)
4) Um conversor secundário de SO2 tem 7,5 ft de diâmetro e contém três camadas de catalisador de 1,5 ft
de espessura. As partículas têm a forma de cilindros eqüiláteros de 3/8 in de diâmetro. A porosidade do leito é
de 35%. O gás entra no conversor a 400ºC e 2 atm, com a seguinte composição:
SO3 SO2 O2 N2