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Mais do que uma ameaça ao formato tradicional da imprensa ou à sua linguagem
enquanto meio de comunicação, a Internet coloca em causa a sua subsistência enquanto
modelo de negócio.
Para além da procura de uma linguagem própria que se adapte ao novo ambiente
digital, a imprensa debate-se com uma questão fundamental: quem pagará e como serão
pagos os conteúdos que produz?
Mais que uma metamorfose, a imprensa enfrenta uma reinvenção das suas bases, dos
seus modelos produtivos e de sustentabilidade. Mas este é um desafio partilhado
também pelos seus leitores, no mundo da Internet, da interactividade, do hipertexto e da
comunicação multilateral. Os média deixaram de evoluir sozinhos. A aceitação dos
consumidores de um novo modelo de negócio para a imprensa online será uma peça
essencial na migração definitiva da imprensa para a era digital.
Para David Bolter e Richard Grusin, não existe a ruptura entre os média já
estabelecidos e aqueles que os sucedem. Existe sim uma espécie de Remediação - os
média emergentes adoptam as formas e linguagens dos média já existentes como forma
de justificarem a sua existência.
A fotografia veio remediar a pintura, assim como a rádio remediou a imprensa e a
televisão remediou o cinema e a rádio.
O novo média apropria-se de linguagens já existentes e, com o tempo, torna-a sua.
De uma forma mais ou menos constante, este tem sido um modelo de evolução dos
média durante o século XX.
Já Fidler, defende aquilo a que chama Mediamorphosis, conceito segundo o qual os
novos média não emergem de forma espontânea e independente. Antes, evoluem através
de uma metamorfose dos média já existentes. São, no fundo, uma evolução,
principalmente no campo tecnológico.
Este processo de metamorfose descrito por Fidler, terá seis fases: a co-existência e
co-evolução, a metamorfose, a propagação, a sobrevivência, a necessidade e por fim a
adopção.
Numa primeira fase de co-existência e co-evolução, o novo média e os velhos média
caminham juntos, influenciando-se e adaptando-se até ao processo de metamorfose.
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Segue-se a propagação, fase onde os traços dos novos média se espalham e se
transformam em linguagem. Após esta fase, a sobrevivência de todos os média depende
da sua capacidade de se adaptar a um panorama mediático que tem novos actores.
Segue-se a necessidade e a adopção, fases finais deste processo e essenciais. Para
que um novo média vingue é necessário que se conjuguem uma série de vontades,
politicas, sociais e económicas. Fidler afirma que “The transformation of
communication media, usually brought about by complex interplay of perceived needs,
competitive and political pressures, and social and technological innovations.” (22:
1997). Se a sociedade não reconhecer validade ou mais-valia dificilmente o novo média
passa para a última fase, a da adopção plena.
Também a Internet passou por estas fases ao longo das últimas duas décadas, estando
a entrar neste momento na fase de adopção total por parte da sociedade que lhe
reconhece amplamente a mais-valia. Fidler, fala mesmo, na sua obra Mediamorphosis,
no ciclo de implementação de novas tecnologias invocando a regra dos 30 anos - uma
geração – até que a sociedade acolha totalmente essa nova tecnologia. Na sua obra
demonstra, através de exemplos, que na maior parte das vezes esta regra se aplica, e cita
Saffo para explicar a regra: “First decade: lots of excitement, lots of puzzlement, not a
lots penetration. Second decade: lots of flux, penetration of the product into society is
beginning. Third decade: „Oh, so what?‟ Just a standard technology and everybody has
it.” (9:1997)
Passada que está a primeira fase de deslumbramento tecnológico, começamos agora
a olhar para a Internet como sendo o futuro. O futuro da forma como nos relacionamos,
trabalhamos e comunicamos.
Mais que remediar os meios existentes, a Internet veio abrir um mundo de
oportunidades que nem todos estão preparados para abraçar.
Apesar de regra dos 30 anos, parece-nos que tudo está a acontecer demasiado
depressa. E os média tradicionais são um dos sectores que mais tem sofrido com as
alterações.
Ao tentar acompanhar e adaptar-se ao novo média, a imprensa, por exemplo, tem
sido exposta a mudanças radicais dos seus modos de estar no mercado, de produzir
conteúdos e principalmente de sobreviver.
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da informação recolhida, conservada e disponibilizada é muito maior, as fontes de emissão e os
meios de transmissão mais diversificados, e o processo de comunicação torna-se muito menos
dependente das restrições de tempo e de espaço.” (Silva, A.S, 55:2009)
Se a Internet apareceu como uma mais-valia para a imprensa, por lhe permitir maior
rapidez, maior facilidade de actualização de conteúdos, e portanto, uma forma mais
eficaz de cumprir a sua missão, também lhe trouxe ameaças que só agora estamos a
compreender.
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Imprensa e Internet: Os desafios da rede
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electronic editions of words and pictures from traditional platforms”(Grueskin, B.,
Seave. A., e Graves, L. 133:2011)
Não há diferenciação nos conteúdos e a informação que encontramos num jornal é
praticamente igual à que podemos encontrar nos seus concorrentes.
A consciência deste facto, por parte dos consumidores, é um dos obstáculos à criação
de valor para os conteúdos noticiosos na Internet.
Para além da uniformização dos conteúdos entre órgãos de informação, a Internet
trouxe ainda um novo fenómeno que é a alteração do papel do consumidor no processo
de comunicação. Os consumidores passaram também a fazer parte do processo de
produção de conteúdos e da cadeia de transmissão de informação.
Através dos seus blogues, das redes sociais ou simplesmente nas caixas de
comentários dos jornais online, o consumidor passou a ser o Prosumer, e o jornalismo
do cidadão um conceito que veio abalar um pouco as fundações da ordem estabelecida
no mundo da Imprensa.
A evolução tecnológica colocou câmaras fotográficas e maquinas de filmar dentro do
bolso de todos nós, incorporadas num simples telemóvel transformam-nos em
potenciais repórteres.
Os blogues permitiram-nos ser autênticos opinion makers a partir do nosso sofá. São
espaços de gestão fácil onde se pode escrever de tudo, artigos de opinião, ensaiar
reportagens ou falar de cozinha. O certo é que, vieram ocupar um lugar no espaço
mediático e disputar a atenção dos consumidores.
Surgem ainda as redes sociais, e todos os conteúdos passaram a ser virais, passados
de “boca em boca” através de murais. Através delas, as notícias viajam a grande
velocidade, e muitos são os consumidores que já não procuram a fonte original, os
média tradicionais, e acedem a informação que precisam através do Twitter ou do
Facebook.
Resumindo, a imprensa, na sua caminhada para um mundo virtual, está a ser atacada
por todos os lados. Por um lado a linguagem escrita, que era uma propriedade sua, foi
expropriada neste novo ambiente. Todos os outros média a usam, assim como a
imprensa se vê obrigada a apreender e a lidar com imagens em movimento e sons, que
lhe eram alheios. Encontrar uma linguagem própria, e com ela criar uma identidade na
Internet é o primeiro desafio.
Depois perceber como criar valor, conteúdos únicos que mereçam o apreço dos
consumidores. Reportagens, ou opinião ou notícias que não estejam na página seguinte
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ou que o blogue do momento não tenha ainda reproduzido. Adaptar-se, à nova
linguagem que tem de encontrar, e usá-la para criar dividendos.
A imprensa tem também de descobrir qual o modelo de negócio se adequa a si.
Depois de criar uma linguagem e de com ela criar conteúdos vendáveis, precisa de
perceber como os vai vender e como os seus consumidores os vão pagar.
Por fim, a imprensa enfrenta o desafio de interagir e lidar com os seus consumidores.
Saber estar nas redes sociais e tirar partido da capacidade de difusão que estas têm. Para
além disso, saber também aproveitar as capacidades dos seus consumidores que são
agora Prosumers e que têm algo para oferecer, e principalmente que querem participar
activamente.
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mais elaborados, que usem todas as potencialidades de que a Internet dispõe. Conteúdos
que possam ser vistos como uma mais-valia para os consumidores, um pouco à
semelhança do efeito que o Wall Street Journal tem nos seus assinantes.
Para lá de uma paywall estariam então esses conteúdos, a que só acedia quem
possuísse uma assinatura ou estivesse disposto a pagar pela peça específica que
desejasse ler.
Neste ponto essencial entraria o sistema de micropagamentos. Um sistema simples e
fácil que permitisse o pagamento de pequenas quantias, muitas vezes quase simbólicas,
pelo conteúdo em questão. Porque nem sempre a assinatura é a opção, a paywall que
separaria os conteúdos gratuitos dos conteúdos Primium deixaria de ser intransponível e
o acesso seria facilitado.
No modelo Freemium coexiste o trabalho já realizado hoje pelos jornais, os
conteúdos gratuitos, e um abraçar da totalidade das potencialidades da Internet, dando
oportunidades às redacções para começarem a produzir conteúdos exclusivos para a
Internet e, principalmente, oportunidade de explorarem a multimedialidade que a
Internet acarreta e que é ainda uma vantagem pouco aproveitada.
As redacções teriam de se ajustar e os média de se definir, e especializar, de forma a
tornarem os seus conteúdos diferentes dos seus concorrentes. Usar as referências e a
credibilidade que muitas destas instituições já detêm e aplicá-las a uma ou várias áreas
editoriais da sua preferência, talvez seja um caminho.
Apesar do seu carácter generalista nos conteúdos gratuitos, os jornais teriam depois
de fazer o melhor com os recursos humanos à sua disposição, escolher uma área de
conforto, tomar uma posição no mercado e cativar de forma continuada o seu leitor.
Esta é uma tarefa que não parece fácil, ainda mais quando é uma tarefa que parece
não ter grande acolhimento por parte dos consumidores.
Nos últimos tempos muitos têm sido os estudos que apontam para uma não-
aceitação, por parte do público, de conteúdos pagos na Internet. O consumidor não
compreende porque é necessária a mudança de estratégia ou porque devem pagar por
algo que está acessível gratuitamente.
Mas enquanto tudo for gratuito ninguém vai querer pagar. Este é uma caminho que
os média, e não só a imprensa, terão de fazer em conjunto com os seus consumidores.
Nenhum de nós imagina a nossa vida sem os média. Construímos as nossas
percepções do mundo através daquilo que vemos, que lemos e ouvimos através deles.
Não estamos por isso dispostos a passar sem eles. O grande público só não conseguiu
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ainda compreender a mudança de paradigma, ou o caos como diria Fidler, que vivemos
neste momento.
Estivemos até agora dispostos a pagar pelo jornal que compramos no quiosque. Mas
somos relutantes a pagar pelo mesmo jornal se o virmos online. Porque não lhe
atribuímos materialidade, porque no fim do dia não teremos com que forrar as gavetas e
as imagens num ecrã são efémeras.
Mas o certo é que a evolução tecnológica nos leva para esse ponto onde tudo será
cada vez mais virtual. O aparecimento de novos dispositivos móveis, como os
Smartphones ou o Ipad, leva-nos a crer que as notícias estão cada vez mais ao alcance
de um toque num ecrã, e ninguém quererá esperar pelo dia seguinte para ler no jornal
impresso no papel.
No entanto, e apesar ser difícil de compreender, a produção de conteúdos para a
Internet não deixou de acarretar custos. Eliminando o custo de impressão e os canais de
distribuição normais implicados no caso do jornal impresso, sobra ainda uma estrutura
de recursos humanos, altamente especializados nas diversas disciplinas do jornalismo,
do design e da informática que é necessário manter. Além disso, criar conteúdos
exclusivos implica investimento. Tudo factores que não estão a ser compensados pela
perda de investimento em publicidade sentida pelos média ao longo dos últimos anos.
Apesar de ainda ser um factor importante, a publicidade na Internet, funciona de
forma muito diferente e não é possível transpor o modelo de relação que existe, entre
anunciantes e jornais, do papel para o digital.
Além de a percepção de espaço publicitário na Internet ser diferente, a Internet
trouxe um mundo de possibilidades para os anunciantes que não passam pelos média. E
a publicidade que transitou para as páginas online não consegue atingir o valor que tinha
no papel.
Sem a publicidade forte que houve no papel, o consumidor terá de se assumir cada
vez mais como um consumidor-pagador do que consome, como em quase todos os
sectores do consumo.
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Conclusão
Quando sairmos do caos uma mudança terá ocorrido. Os média, assim como a
sociedade, estão em constante evolução e terão de se adaptar à realidade digital.
O grande desafio é escolher qual o modelo que melhor se adequa a cada realidade.
Alguns modelos estão já a ser desenhados, com maior ou menor participação do
consumidor.
O Crowdfunding, o mecenato, a paywall total, o modelo freemium, os
micropagamentos ou os modelos totalmente financiados pela publicidade coexistirão, a
nosso ver. O modelo que funcionará para o Público pode não ser o indicado para o
Expresso. A Internet é um mundo de possibilidades ainda por descobrir, neste momento
apenas podemos supor quais serão os caminhos a seguir.
A Imprensa passará uma metamorfose complexa, talvez seja o média que mais se
terá de adaptar para se integrar, por completo, na realidade digital.
Mas acreditamos que seguirá o curso normal da história e que sairá reforçado deste
processo. Haverá sempre lugar para notícias, reportagens, opinião e conhecimento, o
que mudará, com toda a certeza, é o modo como acedemos a esses conteúdos e como
vamos garantir que eles continuem a ser feitos.
Bibliografia
Grueskin, B., Seave. A., e Graves, L., The Story So Far What We Know About the Business
of Digital Journalism, Columbia Journalism School, Tow Center for Digital Journalism, New
York, 2011
Fidler, R., Mediamorphosis Understanding New Media, Pine Forge Press, Thousand Oaks,
California pp. 1-51:1997
Castells, M., A Galáxia Internet, Relexões sobre Internet, Negócios e Sociedade, Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2007
Cardoso, G.;Cádima, F.; Cardoso, L., Media, Redes e Comunicação, Futuros, Presentes,
Quimera, Lisboa pp. 15-71:2009
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