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Didática e Ação Docente:

da teoria à prática,
da prática à teoria

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2011

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Didática e Ação Docente:
da teoria à prática,
da prática à teoria
Lato Sensu
Didática e sociedade: esperanças depositadas, acompanhadas, que
uma construção histórica estão refletindo até os dias atuais.
Constata-se que a delimitação da Didática
A análise da prática pedagógica evidencia constituiu a primeira tentativa que se conhe‑
a relação entre o caráter social e individual da ce de agrupar os conhecimentos pedagógicos,
educação escolar, num processo de integra‑ atribuindo-lhes uma situação superior à da mera
ção e adaptação da humanidade, no âmbito prática costumeira, do uso, da cultura ou do
do progresso e desenvolvimento da socieda‑ mito. A nova proposta de Didática originou-se
de. Assim, a prática docente deverá estar res‑ do pensamento pedagógico de Comênio (1592-
paldada na vivência escolar, voltada para o 1670), fase de transição da Idade Média à Idade
desenvolvimento e preparação dos estudan‑ Moderna, em que está situada à didática Magna.
tes, segundo as exigências da sociedade e as As articulações entre o como ensinar e a socie‑
condições reais predominantes na realidade. dade mais ampla será utilizado o pensamento
Neste sentido, as diferentes teorias e práti‑ de Comênio como expressão das transforma‑
cas do ato de ensinar articulam as finalidades ções econômicas, políticas, sociais e ideológicas
individuais de educação e do homem, a um ocorridas no interior da sociedade feudal.
modelo de sociedade, por meio de ativida‑ Partindo das condições e necessidades pre‑
de de quem vai ensinar, quem vai aprender, dominantes no momento em que, a relação
como vai aprender e dos meios utilizados capitalista de produção emergiu no interior da
para ensinar, que contribuem para a manu‑ sociedade feudal, e situando Comênio e seu pen‑
tenção‑superação da prática social. samento que questiona a sociedade e a educação
Parte-se do pressuposto que ao trabalhar em vias de superação a uma nova proposta para
com a dimensão da disciplina de Didática, re‑ o ensino. Para ilustrar: “O pensamento pedagó­
velam-se aos estudantes os avanços que vêm gico de Comênio será analisado e compreendido
apresentando na sua historicidade, principal‑ como expressão entre a realidade pedagógica e
mente na relação teoria e prática pedagógica, do mundo antigo e feudal e a sociedade capita‑
propiciando a percepção e a compreensão lista posterior” (DAMIS, 2008, p. 11).
que esta disciplina aborda, contemplando Assim, Comênio buscava acabar com a
uma visão de totalidade e no direcionamento fragmentação e o particularismo do modelo
do processo de ensino, objetivando desmisti‑ feudal. Para entender tal processo histórico, é
ficar seu caráter de técnico e instrumental. preciso explorar as ideias de Comênio.
3
Um olhar sobre a história As diferentes dimensões da didática:
de Comênio à didática magna
O campo de estudo tem uma característi‑
ca que vai ser reencontrada na vida histórica A etapa da gênese da Didática a faz servir,
da Didática: surge de uma crise e constitui um com ardor, a causa da Reforma Protestante1, e
marco revolucionário e doutrinário no campo
da Educação. Da nova disciplina espera-se 1 A Reforma Protestante foi apenas uma das inúme‑
reformas da Humanidade. Esta deveria pre‑ ras Reformas Religiosas ocorridas após a Idade Média
e que tinham como base, além do cunho religioso, a
parar professores e destes dependeria a for‑
insatisfação com as atitudes da Igreja Católica e seu dis‑
mação das novas gerações. Assim, as muitas tanciamento com relação aos princípios primordiais.

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tal fato marca seu caráter revolucionário, de escola vivenciar sua prática pedagógica, os
luta contra o tipo de ensino da Igreja Católi‑ conhecimentos, as habilidades, os hábitos e
ca Medieval. Doutrinariamente, seu vínculo é os valores adequados ao sistema capitalista.
com o preparo para a vida eterna e, em nome Para tanto, apontar tais propostas peda‑
dela, com a natureza como “nosso estado gógicas, destacam o aspecto operacional do
primitivo e fundamental ao qual devemos re‑ processo educativo nas diferentes correntes
gressar como princípio de Comênio. No pla‑ ideológicas da época. Nesta, análise especí‑
no de desenvolvimento, a Didática Magna de fica da educação, levando em conta as con‑
Comênio, foi situado como expressão inicial dições antagônicas produzidas pela realidade
das transformações que atingiram a sociedade econômica e política da relação capital x tra‑
no momento em que o modo produção capi‑ balho, constata-se a não neutralidade da Di‑
talista, emergente no interior da sociedade de dática e amplia-se a possibilidade de praticar
feudal, contribuía para alterar as condições e (teorizar) “formas de ensino” que expressem
necessidades materiais, políticas e ideológicas condições e necessidades emergentes de um
predominantes. Portanto, a contribuição da au‑ novo projeto histórico. Entre os anos 20 e
tora seria que: 50, a Didática segue os postulados da Escola
Nova, que busca superar os da Escola Tradi‑
Na didáctica Magna ele critica o méto‑ cional, reformando internamente a escola.
do de ensino utilizado pelas escolas da Nessa perspectiva, afirma a necessidade de
Igreja. Fundamentado na escolástica,
partir dos interesses espontâneos e naturais das
este ensino priorizava a forma lógica
de organização do pensamento do pro‑ crianças: os princípios de atividade, individuali‑
fessor para a exposição de argumentos zação e liberdade estão na base de toda propos‑
“pró” e “Contra” uma questão coloca‑ ta didática. Passa-se da visão da criança como
da por ele (DAMIS, 2008, p. 17).
um adulto em miniatura para centrar-se nela
A partir desta compreensão articulada do como ser perfeitamente capaz de ­adaptar-se a
pensamento crítico de Comênio, no contexto cada uma das fases de sua evolução.
mais amplo da sociedade, foram ainda anali‑ Assim, percebe-se um estudante passivo
sadas algumas expressões do “como ensinar” ante os conhecimentos a serem transmitidos
nas formas de sociedade anteriores ao capita‑ pelo mestre passa-se ao “aprender fazendo”
lismo e nos diferentes estágios posteriores de onde cada um se autoeduca ativamente em um
seu desenvolvimento. Nos momentos histó‑ processo natural, sustentado por meio dos in‑
ricos, as propostas pedagógicas de Herbart2, teresses concretos dos participantes. A atenção
Dewey3 e Skinner4, expressam as formas da às diferenças individuais e a utilização de jogos
educativos passem a ter papel de destaque.
2 Johann F. Herbart (1778-1841) trouxe grandes con‑
Entre os anos 60 e 80, se passa de um en‑
tribuições para pedagogia como ciência, emprestando
rigor e uma certa cientificidade ao seu método. Foi o foque humanista centrado no processo inter‑
precursor de uma psicologia experimental aplicada à pessoal, a uma dimensão técnica que enfoca
pedagogia. Foi o primeiro a elaborar uma pedagogia
o processo ensino-aprendizagem como uma
que pretendia ser uma ciência da educação. Em Her‑
bart, o processo educativo se baseia, em seus objetivos ação intencional, sistêmica, que procura or‑
e meios, na Ética e na Psicologia, respectivamente. For‑ ganizar as condições que melhor facilitem 4
mou-se doutor com tese exclusivamente pedagógica. o processo de aprendizagem. Centra-se em
3 O filósofo John Dewey (1859-1952), tornou-se um dos
objetivos instrucionais, na seleção de conteú‑
maiores pedagogos americanos, contribuindo intensa‑
mente para a divulgação dos princípios do que se chamou dos, nas estratégias de ensino, destacando-se
de Escola Nova. Entre outras, escreveu, Meu credo Peda- palavras como produtividade, eficiência, ra‑
gógico, A escola e a criança, Democracia e educação.
cionalização, operatividade e controle.
4 Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) Nenhum pen‑
sador ou cientista do século 20 levou tão longe a crença
A perspectiva industrial adentra na esco‑
na possibilidade de controlar e moldar o comportamento la e a didática é vista como uma estratégia
humano como o norte-americano Burrhus Frederic Skin‑ para alcançar os resultados previstos para o
ner. Sua obra é a expressão mais célebre do behavioris‑
processo de ensino-aprendizagem. A ênfase
mo, corrente que dominou o pensamento e a prática da
psicologia, em escolas e consultórios, até os anos 1950. é depositada na objetividade, ­racionalidade e
Maria Cristina Stival

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relação conteúdo-forma
neutralidade do processo, bem como o refe‑ guiado por sua própria razão e não
rencial central da educação passa a ser a fá‑ pela de outrem e se habitue não só a
brica e sobre ela se constroem tanto as ações ler e a entender nos livros as opiniões
na escola como as conceitualizações referen‑ alheias e a guardá-las de cor e a reci‑
tes à educação. Essa didática se descontextu‑ tá-las, mas a penetrar por si mesmo na
aliza dos problemas específicos da situação raiz das coisas e delas extrair autênti‑
específica da sala de aula e não proporciona co conhecimento e utilidade. A mes‑
elementos significativos para a análise da prá‑ ma solidez é necessária para a moral e
tica pedagógica real, produzindo uma sepa‑ a piedade.
ração entre teoria e prática. f) Que essa educação não seja cansa‑
A partir dos anos 70, se acentuam as críticas tiva, mas facílima: que aos exercícios
a estas perspectivas didáticas. Seu efeito positivo de classe não sejam dedicadas mais de
foi a denúncia da falsa neutralidade pretendida quatro horas, de tal modo que um só
pelo modelo tecnicista, revelando seus compo‑ preceptor possa ensinar até cem alu‑
nentes político-sociais e econômicos. nos simultaneamente com um trabalho
Na atualidade a perspectiva fundamental dez vezes menor do que o atualmente
da didática é assumir a multifuncionalidade do necessário para ensinar apenas a um
processo de ensino-aprendizagem e articular (Op. cit., 109-110).
suas três dimensões: técnica, humana e políti‑
ca no centro configurador de sua temática. No projeto apresentado. Observa-se a pre‑
Retormando as ideias de Comênio, no seu ocupação de uma educação organizada par‑
projeto pedagógico de ele propôs um modelo tindo da didática. O objeto de estudo o “como
de organização escolar segundo o qual: ensinar”, o conteúdos da didática desde de
a) Toda a juventude nela seja educada Comênio, em nível tanto de pesquisa como
(exceto aqueles aos quais Deus negou de ensino, foi sendo historicamente direciona‑
inteligência). do para as formas de organizar e desenvolver,
b) Seja educada em todas as coisas que, avaliar a relação pedagógica. Assim a didática
podem tornar o homem sábio, hones‑ dever ser analisada como forma teórica-prá‑
to e piedoso. tica expressa em determinada educação do
c) Essa formação, que é a preparação homem para vida em sociedade.
para a vida, seja concluída antes da
idade adulta. A relação conteúdo-forma
d) E seja tal que se desenvolva sem seve‑ do ato de ensinar
ridade e sem pancadas, sem nenhuma
coarctação, com a máxima delicade‑ É necessário destacar, que está analise da
za e suavidade, quase de modo es‑ relação conteúdo e forma de ensinar que fa‑
pontâneo (assim como um corpo vivo zem parte das ligações e relações entre prática
aumenta lentamente sua estatura, sem social, que produz e mantém a existência hu‑
que seja preciso esticar e distender mana e o interior da escola através do ensino.
seus membros, visto que, alimentado Neste sentido, a educação contribui para 5
com prudência, assistido e exercitado, a concretização de uma unidade viva entre
o corpo, quase sem aperceber-se, ad‑ teoria e prática, elemento este que a escola
quire robustez); da mesma forma, os burguesa, pela sua característica e função na
alimentos, os nutrientes, os exercícios sociedade capitalista, não podia proporcio‑
se convertam no espírito em sabedo‑ nar aos trabalhadores. No entanto, um dos
ria, virtude e piedade. compromissos da escola é respeitar a indivi‑
e) Todos sejam educados para uma cul‑ dualidade do(a) aluno(a), no sentido de que
tura não vistosa mas verdadeira, não ela é fruto de uma interação entre indivíduos
superficial mas sólida, de tal sorte que e a entre estes com a natureza. Se a escola se‑
o homem, como animal racional, seja guir esta lógica, a educação por ela ofertada
Maria Cristina Stival

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pode contribuir para a concretização de uma na formação da personalidade do indivíduo,
unidade viva entre teoria e prática, elemento porém de modo disperso, obtendo um caráter
este que a “escola burguesa”, pela sua carac‑ informal. Mas, é em virtude desses fatores e
terística e função na so‑ influências não-intencio‑
ciedade capitalista hoje, a educação abrange o conjunto nais que se dá o processo
não podia proporcionar de influências do meio natural e de socialização, perce‑
aos trabalhadores. social que afetam o desenvolvi‑ bendo que eles estão pre‑
A atuação da escola sentes em qualquer lugar
mento do homem
pressupõe a sua inserção onde aconteçam atos
no contexto das relações capitalistas de produ‑ educativos intencionais. Dependendo disso,
ção e o seu compromisso em formar o homem a escola deve definir e assumir claramente o
capaz de viver e transformar esta sociedade. seu papel como instituição responsável pela
O professor tem papel decisivo na condução execução do projeto social coletivo, levando
do processo pedagógico de ensino e de apren‑ em consideração a formação do docente e do
dizagem, constituído da intencionalidade de discente no campo qualitativo.
ensinar de modo que os alunos aprendam, a
partir da especificidade da educação escolar, O método dialético
dos desafios e das possibilidades da escola, no pensamento marxista
percebendo que, quando se pratica pedagogia,
age-se com a intenção de criar experiências Sabe-se que é através das condições re‑
que, de determinadas maneiras, irão estruturar ais e concretas de vida que o indivíduo cons‑
e desestrurar um grande número de entendi‑ trói o processo de desenvolvimento pessoal
mentos do mundo natural e social. e social, fortalecendo assim suas escolhas
De acordo com Libâneo (2004, p. 86), des‑ e resgatando suas origens. Ao valorizar esta
de Marx e Engels, a educação somente pode perspectiva, e refletindo sobre o contexto da
ser compreendida como produto do desenvol‑ escola na visão da importância de uma práti‑
vimento social e, portanto, determinada pelas ca pedagógica coletiva e significativa na prá‑
relações sociais vigentes em cada sociedade. tica social, há necessidade de se fazer uma
A educação, neste contexto, é dependente dos leitura crítica da realidade.
interesses e práticas de classe, de tal modo Dado este enfoque, faz-se importante ana‑
que a sua transformação é um processo ligado lisar o processo educativo como fenômeno,
à transformação das relações sociais. que, por seus múltiplos aspectos, não se faz
Num sentido mais amplo, a educação conhecer tão facilmente. Nele estão inclusos
abrange o conjunto de influências do meio tanto a dimensão humana cognitiva, como as
natural e social que afetam o desenvolvi‑ dimensões emocional, social, política e cultu‑
mento do homem na sua relação ativa com o ral. Em cada relação há um permanente mo‑
meio social. Isto significa que efeitos educa‑ vimento prático, social e histórico-dialético, e
tivos são constantemente visualizados tanto cada tentativa de explicar o fenômeno educati‑
intencionalmente como não-intencional. Os vo surge nova abordagem que analisa, contex‑
ambientes social e político-cultural implicam tualiza e discute suas implicações e relações. 6
mais processos educativos, no decorrer do É neste contexto que a totalidade concre‑
desenvolvimento da sociedade. ta se manifesta. Segundo Kosik (2002, p. 44),
É assim que os costumes, os valores, as significa: realidade como um todo estrutu‑
idéias, as leis, a religião, as práticas de criação rado, dialético, no qual ou do qual um fato
de filhos, o sistema de governo, os movimen‑ qualquer (classes de fatos, conjuntos de fatos)
tos sociais, a comunicação são elementos que pode vir a ser racionalmente compreendi‑
condicionam e operam a prática educativa. do. Afirma que a categoria da totalidade foi
Boa parte do poder exercido por essas influên‑ elaborada na filosofia alemã como um dos
cias, ocorre de modo não-intencional, não pla‑ conceitos centrais que distinguiam polemica‑
nejado, não-sistemático e atuam efetivamente mente a dialética da metafísica. Portanto,
Maria Cristina Stival

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a dialética trata da “coisa em si”. Mas O homem é então capaz de superar os
não se manifesta imediatamente ao condicionamentos da situação; ele não
homem. Por esse motivo o pensamen‑ é totalmente determinado; é um ser
to dialético distingue entre representa‑ autônomo, um ser livre. E a liberdade
ção e conceito da coisa, com isso não abre ao homem um novo campo amplo
pretendendo apenas distinguir duas para a valorização e os valores. Sendo
formas e dois graus de conhecimento a liberdade pessoal e intransferível, im‑
da realidade, mas especialmente e so‑ põe-se aqui o respeito à pessoa huma‑
bretudo duas qualidades da praxis hu‑ na; como eu sou um sujeito capaz de
mana (KOSIK, 2002, p. 13). tomar posições, de avaliar, fazer opções
e engajar-me por elas, assim também
A dialética da totalidade concreta, ainda aquele que vive ao meu lado, perto ou
longe, é igualmente um sujeito e jamais
de acordo com Kosik (2002, p. 44), não é um um objeto (SAVIANI, 1996, p. 37).
método que pretenda ingenuamente conhe‑
cer todos os aspectos da realidade, capturar Giroux e Simon (1999, p. 95), para melhor
e exaurir todos os aspectos, propriedades, entendimento da questão da cultura escolar,
caracteres, relações e processos da realidade; contribuem afirmando que a escola é um ter‑
mas é a teoria da realidade e do conhecimen‑ ritório de luta e que a pedagogia é uma forma
to como totalidade concreta. política cultural. Defendem que as escolas são
Considerando que há a necessidade de formas sociais que ampliam as capacidades
tomar como ponto de partida a realidade da humanas, a fim de habilitar as pessoas a inter‑
educação escolar brasileira, seus desafios e vir na formação de suas próprias subjetivida‑
impasses, e como ponto de chegada o papel des e a serem capazes de exercer poder com
que a escola pode desempenhar no processo vistas a transformar as condições ideológicas e
de democratização da sociedade e do estado, materiais de dominação em práticas que pro‑
a reflexão sobre os problemas educacionais, movam o fortalecimento do poder social e de‑
inevitavelmente, se direcionará às questões monstrem as possibilidades da democracia.
de valores. Entretanto se esses problemas Sendo assim, o caráter pedagógico que in‑
­trazem a necessidade de uma reformulação troduz o elemento diferencial nos processos
da ação pedagógica, torna-se necessário educativos, os quais se manifestam em situa‑
­saber quais são os seus objetivos, o que visa ções históricas e sociais concretas, ressalta a
com essa ação. mediação pedagógica determinando finalida‑
Segundo Saviani (1996, p. 35-36), deter‑ des sociopolíticas e formas de intervenção or‑
minar objetivos implica definir prioridades, ganizativa e metodológica do ato educativo.
decidir sobre o que é válido e o que não é. Portanto, a educação escolar está interligada
Diz ainda que a educação visa o homem e a uma concepção de sociedade.
deve estar voltada para promoção deste ho‑ Sua diferença básica não se encontra na re‑
mem, caso contrário não terá sentido. Consi‑ lação meio-fim, mas na diferença entre a ação
dera que o problema dos valores é visto como e o processo, bem como no embate entre ra‑
uma das questões mais complexas da filosofia cionalização e emancipação. É neste foco, po‑
atual e que, a experiência axiológica é tipica‑ rém, que todo trabalho pedagógico-educativo
mente humana. é intencional, conduzido por um processo de 7
Portanto, é a partir do conhecimento da entendimento em busca do conhecimento.
­realidade humana que se pode entender o pro‑ Educação é, pois, atualização de cada in‑
blema dos valores. O homem tem necessida‑ divíduo e o educador é o mediador que serve
des que precisam ser satisfeitas e este fato leva de guia para esse mundo de criações huma‑
à valorização e aos valores. Ele é um ser ativo, nas. A escola, por sua vez, sendo o local onde
reage perante situações, intervém pessoalmen‑ se dá a educação sistematizada, participa da
te para aceitar, rejeitar ou transformar. Sendo divisão social do trabalho, objetivando prover
assim, a cultura é por um lado a transformação os indivíduos de elementos culturais necessá‑
que o indivíduo opera sobre o meio e, por ou‑ rios para compreender com clareza as diver‑
tro, os resultados dessa transformação. sas e antagônicas visões de mundo, intervir
Maria Cristina Stival

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para transformar a sociedade num patamar Mediante ao processo educação. A relação
mais justo nas relações humanas. teoria e prática, precisam de subsídios teóricos
A escola fundamental reveste-se, assim, necessários para entendimento do ato relacional.
de uma dupla responsabilidade social: por
um lado, é a mediação indispensável para a O ato relacional
cidadania, ao prover, de modo sistemático e teoria-prática-teoria
organizado, a educação que atualiza histori‑
camente as novas gerações; por outro lado, A teoria e pratica são, portanto, partes
por não poder dar conta de todo o saber his‑ integrantes de um atividade humana na so‑
toricamente produzido relevante para a for‑ ciedade. Desse modo, a teoria-conhecimen‑
mação dos cidadãos. É neste sentido, portan‑ to é um momento da prática-ação, assim
to, que se evidencia o compromisso da escola como a prática é um momento da teoria e
em cumprir aquilo que se propõe a fazer e do próprio pensar.
aquilo que de fato faz. Assim sendo, fica claro que as caracterís‑
ticas organizacionais da escola são de suma
importância por serem fatores determinantes
A relação teoria-prática para os avanços pedagógicos, para o aprovei‑
tamento escolar dos alunos no processo en‑
na didática escolar
sino-aprendizagem e na efetivação da gestão
democrática no interior da escola.
O ato relacional teoria-prática é assim, Ao analisar o momento histórico educacional
um ato que supera continuamente as trans‑ brasileiro, no que se refere às trabalho docente,
formações na realidade objetiva e no próprio bem como os dilemas na sua trajetória , faz-se
homem em razão de ser um sujeito em cons‑ importante explicitar a relação entre educação e
tate construção de novos conhecimentos, de trabalho no modo de produção capitalista.
novos significados mediante as condições Segundo Kuenzer (2001, p. 33), profun‑
materiais de sobrevivência. das modificações têm acontecido no mundo
Na história da humanidade, a apropria‑ do trabalho, trazendo com isso novos desa‑
ção da herança cultural sempre desempe‑ fios para a educação. A autora coloca que o
nhou papel central e decisivo, sem a qual capitalismo vive um novo padrão de acumu‑
a construção do homem, em sua especi‑ lação decorrente da globalização da econo‑
ficidade, seria inviabilizada. No processo mia e da reestruturação produtiva, que, por
­histórico, o homem constrói, além de suas sua vez, determina novas formas de relação
necessidades, o sentido de interagir com a entre o Estado e a sociedade.
natureza e com seus semelhantes, produzin‑ Exigindo cada vez mais qualidade com
do conhecimentos, valores, técnicas, com‑ menor custo, a base técnica de produção for‑
portamentos, atitudes, cultura, entre tantos dista, que dominou o ciclo de crescimento
outros, os quais sintetiza-se em nome do das economias capitalistas no pós-guerra até
­saber historicamente produzido. o final dos anos 60, vai devagar sendo substi‑
A educação, processo de formação do tuída por um processo de trabalho resultante 8
homem na sociedade capitalista, produz-se de um paradigma tecnológico apoiado na mi‑
no processo de convivência social, ensinan‑ croeletrônica, o qual possui como caracterís‑
do e aprendendo, não só na escola, mas, so‑ tica primordial a flexibilidade.
bretudo, na vida. Portanto, a educação é um Ao se constituir na intensificação do pro‑
processo contínuo e a escola uma via funda‑ cesso histórico de internacionalização da
mental para a realização de uma educação economia, este movimento reveste-se de no‑
humana que considere a disciplina no agir, vas características baseado nas transforma‑
onde o indivíduo aprende na medida em que ções tecnológicas, no desvendar novos mate‑
faz escolhas. E essas escolhas o modificam e riais e novas formas de organização e gestão
modificam outras coisas (GRAMSCI, 1995). do trabalho.
Maria Cristina Stival

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trabalho pedagógico
Neste contexto, O senso comum produz normas de
conduta adequadas à concepção de
mundo do grupo dirigente e leva à pas‑
O princípio educativo que determinou
sividade. Mas o senso comum é tam‑
o projeto pedagógico da educação es‑
bém o ponto de partida para a elevação
colar para atender a essas demandas da
moral intelectual (CURY, 1995, p. 77).
organização do trabalho de base taylo‑
rista/fordista, ainda dominante em nos‑
sas escolas, deu origem às tendências Portanto, a função do profissional da edu‑
pedagógicas conservadoras em todas as cação, como mediador intelectual do saber
suas modalidades, as quais, embora pri‑
vilegiassem ora a racionalidade formal,
elaborado no comprometimento com a pro‑
ora a racionalidade técnica, sempre se dução do conhecimento elaborado e com a
fundaram na divisão entre pensamento construção de uma sociedade brasileira inte‑
e ação (KUENZER, 2001, p. 35). lectualizada.
Esta pedagogia do trabalho taylorista/for‑ ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­A prática da realidade conduz analisar al‑
dista, foi, historicamente, dando origem a uma guns elementos que fundamentam a caminha‑
pedagogia escolar centrada ora nos conteúdos, da de cada profissional da educação, no senti‑
ora nas atividades, mas nunca comprometida do de compreender as contradições existentes
com o estabelecimento da relação entre alu‑ em nossa sociedade. Para ilustrar a lógica dia‑
no e conhecimento, o qual pudesse na ver‑ lética do livro Ciência e Existência esclarece:
dade integrar conteúdo e método, de modo
a propiciar o domínio das práticas sociais e A lógica dialética alcança o objeto da
produtivas. Desse modo é que a organização pesquisa científica no plano de maior
profundidade, no plano das contradi‑
e seleção dos conteúdos foi regida por uma
ções que lhes determinam a essência,
concepção positivista da ciência. Assim, o tra‑ no movimento dos fenômenos que
balho pedagógico é fruto de uma concepção têm lugar na natureza e que se tor‑
conservadora, sem questionar a prática. nam a causa da diversidade dos seres,
contradições essas que aparecem en‑
tranhadas nos conceitos que referem
Dimensão teoria-prática: trabalho subjetivamente os dados da realidade
pedagógico (PINTO, 1979, p. 44).

A reflexão sistemática sobre as relações so‑ A sociedade contemporânea está exigindo


ciais entre os homens constitui uma perspectiva dos profissionais da educação práticas edu‑
histórica da sociedade produzindo elementos cativas com inovações pedagógicas e científi‑
que permeiam a compreensão do homem na cas, e que na atuação na escola pública pelo
sua totalidade. Portanto essa realidade histórica cumprimento do seu verdadeiro papel social
pretende analisar a existência humana, a qual com relação ao processo ensino-aprendiza‑
estabelece relações sociais necessárias, através gem.Tais inovações devem ser extraídas no
dos diversos elementos determinantes que têm decorrer do trabalho docente, que implica
significado no interior da prática social5. que cada profissional avalie sua prática pe‑
A educação como função social é de dagógica a partir da reflexão em cima de seu
suma importância nas relações sociais, que trabalho, com base em teoria. 9
tem características de ambiguidade e caráter Certamente tais contradições na realidade
contraditório. E para tanto, a ação educativa escolar o conhecimento científico vem apre‑
deve ser respaldada com conhecimento ela‑ sentado de forma cristalizado, compartilhado,
borado que desvele elementos desta contra‑ fora de toda e qualquer referência ao mundo
dição, para caminhos a serem superados do real e desvinculado de modos de ação.
senso comum que impera no discurso peda‑ Construir um caminho de análise e refle‑
gógico. Para ilustrar melhor Cury, no seu texto xão das referidas contradições, reforçando a
Educação e Contradição, explica: função formadora da escola voltada para a
aprendizagem escolar, concebida como um
5 Termo usado por Dermeval Saviani no livro Escola e
Democracia. dos instrumentos de formação cultural e de
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da realidade, mas especialmente e so‑
construção do sujeito ético, político e social, bretudo duas qualidades da praxis hu‑
é certamente um grande desafio para a socie‑ mana (KOSIK, 2002, p. 13).
dade e profissionais da educação. Nessa ação, estão envolvidos os alunos,
Para Libâneo, “o mundo contemporâneo que não podem ser “paternalizados” nem viti‑
não apenas se apresenta como sociedade pe‑ mados; os professores, os pedagogos especia‑
dagógica como pede ações pedagógicas mais listas, os diretores precisam estar conscientes
definidas, implicando uma atuação que os de seu papel social e político; a família que
profissionais da pedagogia não estão capaci‑ através do diálogo com o filho e a escola, pode
tados a dar” (LIBÂNEO, 2004, p. 193). chegar a avanços significativos; o Estado, que
Portanto, os profissionais da educação não deve especificar sua responsabilidade quanto
podem permanecer na ingenuidade dos fatos à organização do Sistema Educacional, à arti‑
e no romantismo nas situações educacionais. culação dos meios para subsidiar a escola, a
Assim não podem eximir-se da natureza práti‑ educação de uma forma geral, e às condições
ca da ação educativa, dos compromissos po‑ de democratização do ensino.
líticos, morais e sociais mediante os estudan‑ Ao discutir as relações entre educação e
tes. É pela educação que se pode interpretar e trabalho no Brasil, Frigotto se reporta à con‑
analisar as contradições nas próprias práticas cepção burguesa de trabalho e sua constru‑
sociais dessa sociedade. ção histórica afirmando que:
No âmbito do ensino público brasileiro,
A concepção burguesa de trabalho
as práticas sociais da sociedade vêm produ‑
­vai-se construindo, historicamente,
zindo mudanças educacionais na vida práti‑ ­mediante um processo que o reduz a
ca dos estudantes. Os desafios apresentados uma coisa, a um objeto, a uma merca‑
frente aos problemas educacionais necessi‑ doria que aparece como trabalho abs‑
trato em geral, força de trabalho. Essa
tam de momentos de reflexão, a fim que pos‑ interiorização vai estruturando uma
sibilitem mudanças que atingem diretamente percepção ou representação de traba‑
as escolas e o trabalho docente. lho que se iguala à ocupação, emprego,
função, tarefa, dentro de um mercado
(de trabalho) (FRIGOTTO, 2004, p. 14).
A unidade crítica da teoria
e da prática na didática escolar Nota-se nesta perspectiva, que os profis‑
sionais da escola devem decidir mais sobre o
A categoria criticidade inerente a esse pro‑ seu trabalho, aprendendo também mais sobre
cesso de ligação será acionada na sua totalidade, sua profissão, porque a escola é vista como
para retirar as ideias impostas sobre o dualismo um ambiente educativo e um espaço de for‑
existente entre a teoria e a prática no trabalho mação, aquele construído pelos seus compo‑
escolar. Para compreender, a totalidade, segun‑ nentes. Todos desempenham suas atividades,
do Kosik (2002, p. 44), significa: realidade como embora de formas diferentes, mas todas com
um todo estruturado, dialético, no qual ou do igual importância. É, portanto na escola que
qual um fato qualquer (classes de fatos, conjun‑ o pedagogo faz sua práxis, juntamente com
tos de fatos) pode vir a ser racionalmente com‑ seus companheiros de trabalho, através do
preendido. Afirma que a categoria da totalidade processo pedagógico que viabiliza. 10
foi elaborada na filosofia alemã como um dos Segundo Kosik, essa práxis é ativa, é ati‑
conceitos centrais que distinguiam polemica‑ vidade que se produz historicamente, que se
mente a dialética da metafísica. Portanto, renova continuamente e que se constitui uni‑
dade do homem e do mundo, da matéria e do
a dialética trata da “coisa em si”. Mas espírito, do sujeito e do objeto, do produto e
não se manifesta imediatamente ao da produtividade.
homem. Por esse motivo o pensamen‑
to dialético distingue entre representa‑
ção e conceito da coisa, com isso não A práxis na sua essência e universa‑
pretendendo apenas distinguir duas lidade é a revelação do segredo do
formas e dois graus de conhecimento ­homem como ser ontocriativo, como

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ser que cria a realidade (humano-so‑
cimentos. As práticas educativas é que ver‑
cial) e que, portanto, compreende a re‑
alidade (humana e não-humana, a re‑
dadeiramente podem determinar as ações da
alidade na sua totalidade). A práxis do
escola e seu comprometimento social com a
homem não é atividade prática contra‑
transformação.
posta à teoria; é determinação da exis‑
tência humana como elaboração da Assim, tais finalidades da educação na
realidade (KOSIK, 2002, p. 222).sociedade e a sua inserção na mesma, diz
Assim, revela que a práxis humana vai que a Didática é o principal ramo de estudo
além do contraponto entre teoria e prática, da pedagogia para poder estudar melhor os
mas exerce um momento laborativo dialé‑ modos e condições de realizarmos o ensino
tico, momento existencial da subjetividade e instrução. Ainda coloca a importância da
humana. Sem o momen‑ sociologia da educação,
to existencial o trabalho A aprendizagem está presente psicologia da educação
deixaria de ser parte da em qualquer atividade humana nestes processos de rela‑
práxis. O autor contribui ção aluno-professor.
em que possamos aprender algo Para observar que a
afirmando que o homem
liberta a si mesmo no trabalho servil só en‑ instrução está subordinada à educação, estas
quanto este trabalho se desenvolve como tra‑ relações criam uma relação intrincada destes
balho de mais escravos e não de um único três conceitos que são responsáveis pelo edu‑
escravo, tornando assim, potencial a solida‑ car. Destaca que podemos instruir sem educar
riedade dos escravos. ou vice-versa, pois a real educação depende
Para melhor compreender, a contraposi‑ de transformarmos estas informações em co‑
ção real do trabalho dos escravos é o não- nhecimento, tendo nos objetivos educativos
trabalho dos senhores, e o trabalho dos es‑ uma forma de alcançarmos esta educação.
cravos é realmente inserido na relação social O termo didática pode exprimir a ideia de
senhor-servo; só nesta relação prática existe a uma didática geral (tomada como disciplina).
possibilidade de confrontar e de conhecer as Mas pode ser utilizado mais flexível, mesmo
diferenças de condições de vida. quando se trata das didáticas especificas.
Com novo ressignificado de uma atitude teó‑
rica e prática de abordagem das questões do
A didática: teoria da prática ensinar e/ou aprender.
Tradicionalmente didática, e o ensino são
da instrução e do ensino
tomadas como termo,o que torna necessário
esclarecer em primeiro lugar.
A educação que é apresentada com um
conceito amplo, que podemos sintetizar Objeto de estudo:
como uma modalidade de influências e inter- o processo ensino-aprendizagem
relações que convergem para a formação da
personalidade social e o caráter, sendo assim O objetivo do estudo da didática é o pro‑
uma instituição social. Assim para a questão cesso de ensino. Podemos definir, conforme
da a instrução está relacionada à formação o autor, o processo de ensino como uma 11
e ao desenvolvimento das capacidades cog‑ sequên­cia de atividades do professor e dos
noscitivas, mediante o domínio de certos co‑ alunos tendo em vista a assimilação de co‑
nhecimentos. O ensino por sua vez é concei‑ nhecimentos e habilidades. Destaca a impor‑
tuado aqui como as ações, meios, condições tância da natureza do trabalho docente como
para que aconteça a instrução. a mediação da relação cognoscitiva entre o
Neste aspecto, a educação escolar é um aluno e as matérias de ensino. Libâneo ainda
sistema de instrução e ensino de objetivos in‑ coloca que ensinar e aprender são duas fa‑
tencionais, sistematizados e com alto grau de cetas do mesmo processo, que se realiza em
organização, dando a importância da mesma torno das matérias de ensino sob a direção do
para uma democratização maior dos conhe‑ professor. A aprendizagem está presente em
Maria Cristina Stival

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processo didático
Os componentes
qualquer atividade humana em que possa‑
do processo didático
mos aprender algo.
A aprendizagem pode ocorrer de duas Para compreender o processo didático , o
formas: casual, quando for espontânea ou projeto político pedagógico6 da escola, o qual
organizada quando for aprender um conhe‑ o professor faz parte de sua construção com
cimento específico. Com isto define-se a o objetivo de transformar a realidade, pode
aprendizagem escolar como um processo de encontrar sustentação em alguns pressupos‑
assimilação de determinados conhecimentos tos entre os quais se destaca: a escola como
e modos de ação física e mental. Isto significa espaço privilegiado de socialização do co‑
que podemos aprender conhecimentos siste‑ nhecimento historicamente produzido, mas
matizados, hábitos, atitudes e valores. Neste que é apropriado e elaborado pela classe do‑
sentido, temos o processo de assimilação ati‑ minante no capitalismo; a transmissão desse
va que oferece uma percepção, compreen‑ conhecimento, com o objetivo de possibilitar
são, reflexão e aplicação que se desenvolve à classe trabalhadora uma visão científica da
com os meios intelectuais, motivacionais e realidade, que desmistifique falsas ideologias
atitudes do próprio aluno, sob a direção e e contribua para o exercício consciente da ci‑
orientação do professor. Podemos ainda di‑ dadania e a construção de uma consciência
zer que existem dois níveis de aprendizagem de classe comprometida com a transforma‑
humana: o reflexo e o cognitivo. Isto deter‑ ção da sociedade, garantindo assim o acesso
mina uma interligação nos momentos da as‑ e permanência na escola pública e a demo‑
similação ativa, implicando nas atividades cratização das relações no interior da escola.
mentais e práticas. Ao abordar a questão acima, pode-se di‑
A aprendizagem escolar como uma ati‑ zer que a organização do trabalho pedagógi‑
vidade planejada, intencional e dirigida, co escolar pode e deve mediar o trabalho do‑
não sendo em hipótese alguma casual ou cente com a prática social global, preparando
espontânea. Com isto, pode pensar que o com clareza crítica, o núcleo da educação,
conhecimento se baseia em dados da reali‑ ou melhor, a democratização das relações in‑
dade. De início, é importante definir o en‑ ternas da escola.
sino como o meio fundamental do processo A escola, portanto, faz parte deste contex‑
intelectual dos alunos, ou seja, o ensino é to e, apesar de suas limitações, ela se cons‑
a combinação entre a condução do proces‑ titui, para os filhos dos trabalhadores, como
so de ensino pelo professor e a assimilação aponta Kuenzer (1989, p. 190), como a alter‑
ativa do aluno. O ensino tem três funções nativa da qual eles dispõem para superar os
inseparáveis: aspectos de parcialização e fragmentação do
1. Organizar os conteúdos para trans‑ saber que elaboram com a prática social. Ao
missão, oferecendo ao aluno relação mesmo tempo são reduzidas as possibilida‑
subjetiva com os mesmos. des concretas de escolarização para os traba‑
2. Ajuda os alunos nas suas possibilida‑ lhadores já inseridos no processo produtivo,
de de aprender. e quando essas existem, se caracterizam pela
3. Dirigir e controlar atividade do pro‑ má qualidade. 12
fessor para os objetivos da aprendiza‑ Nesta acepção, a proposição de conteúdos
gem. significativos é requisito ao questionamento
das relações sociais vividas pelos homens,
Mostra-se também a unidade necessá‑ dado o caráter histórico desses ­conteúdos,
ria entre ensino e a aprendizagem, afinal o que ao serem trabalhados na relação entre
processo de ensino deve estabelecer ape‑ sujeitos históricos, professores e alunos, são
nas exigências e expectativas que os alu‑
nos possam cumprir para poder realmente 6 Segundo Veiga (2003) o projeto vem do termo do latim
projectu lançar para diante. É um processo permanente
envolvê-los neste processo e mobilizar as
de reflexão e discussão dos problemas da escola, articula‑
suas energias. do com o compromisso sociopolíticode uma sociedade.
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intermediados pelo ato do pensamento, pela Já mais adiante, Jean Jacques Rousseau
capacidade de criar e de intervir na história (1712-1778) propôs uma nova concepção de
com o seu pensar. ensino, baseado nas necessidades e interesses
Assim, o exercício dessas relações se imediatos da criança. Porém, este autor não
constitui no fundamento básico desse pro‑ colocou suas ideias em prática, cabendo mais
cesso, ou seja, no ambiente da sala de aula adiante a outro pesquisador fazê-lo, Henrique
(ambiente de relações humanas), onde aque‑ Pestalozzi (1746-1827), que trabalhava com a
le que ensina (professor) deverá instigar o educação de crianças pobres.
raciocínio daquele que aprende (aluno), pro‑ Esses três teóricos influenciaram muito
pondo questões que possam levá-lo a refletir Johann Friedrich Herbart (1776-1841), que
sobre os conteúdos propostos, questionando, tornou a verdadeira inspiração para pedago‑
investigando, explicando os temas que lhe gia conservadora, determinando que o fim
são apresentados, desenvolvendo a sua ca‑ da educação é a moralidade atingida através
pacidade de compreensão dos fatos humanos da instrução de ensino. Estes autores e outros
produzidos na prática social. tantos formam as bases para o que chama‑
Ao analisar as colocações acima, confir‑ mos modernamente de Pedagogia Tradicional
ma-se a importância da escola e dos segmen‑ e Pedagogia Renovada.
tos que dela fazem parte, terem clara a espe‑
cificidade da mesma que é ensinar de modo
a que se aprenda. Portanto, neste processo, Tendências pedagógicas
é fundamental a articulação entre o ser que na prática escolar
aprende e a cultura que carrega em si, de sua
classe social com o que lhe quer ensinar – o Nos últimos anos, no Brasil, vêm sendo
saber escolar – de modo que nesse confronto realizados muitos estudos sobre a história da
se dê um novo saber. didática no nosso país e suas lutas, classifi‑
cando as tendências pedagógicas em duas
grandes correntes: as de cunho liberal e as de
As tendências cunho progressivista. Estas duas correntes têm
grandes diferenças entre si. A tradicional vê a
pedagógicas no Brasil
didática como uma disciplina normativa, com
regras e procedimentos padrões, centrando a
Desde a Antiguidade Clássica, ou no pe‑ atividade de ensinar no professor e usando a
ríodo medieval, já temos registro de formas palavra (transmissão oral) como principal re‑
de ação pedagógicas em escolas e mosteiros. curso pedagógico.
Entretanto, a didática aparece em obra em Já a didática de cunho progressivista é
meados do século XVII, com João Amos Co‑ entendida como direção da aprendizagem,
mênio, ao escrever a primeira obra sobre a o aluno é o sujeito deste processo e o pro‑
didática “A didática Magna”, estabelecendo fessor deve oferecer condições propícias para
na obra alguns princípios com: estimular o interesse dos alunos por esta ra‑
1. A finalidade da educação é conduzir a zão os adeptos desta tendência dizem que 13
felicidade eterna com Deus. o professor não ensina; antes, ajuda o aluno
2. O homem deve ser educado de acor‑ a aprender.
do com o seu desenvolvimento natu‑ Também temos aqui colocado pelo au‑
ral, isto é de acordo com suas caracte‑ tor as tendências principais desta evolução e
rísticas de idade e capacidade. suas principais publicações na época. Vimos
3. A assimilação dos conhecimentos não também que as tendências progressivas só to‑
se dá de forma imediata. maram força nos anos 80, com as denomi‑
4. O ensino deve seguir o curso da natu‑ nadas “teorias críticas da educação”. O autor
reza infantil; por isto as coisas devem lista também as várias divisões destas duas
ser ensinadas uma de cada vez. tendências e explica suas diferenças vitais.
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Pedagogia liberal
• Na arte: mimética, cópias, modelos
externos, fazer técnica e científico,
Pedagogia tradicional conteúdo reprodutivista, mantém a
divisão social existente, canto orfeôni‑
• Tendência Liberal. co, trabalhos manuais.
• Período: século XIX e XX.
• Escola objetiva, prepara o intelectual.
Pedagogia nova ou renovada
• Johann Friedrich Herbart (1776-
1841): metodologia de aulas exposi‑ • Liberal-progressivista e não diretiva
tivas: comparações, exercícios, lições • Escolanovismo – Final do século XIX –
de casa. Brasil (1930).
• Conhecimento: dedutivo. São apre‑ • Escola: adequar necessidades indivi‑
sentados apenas os resultados, para duais ao meio, propiciar experiências.
que sejam armazenados. • John Dewey (1859-1952): aprendiza‑
• Relação professor-aluno: autoridade e do através da pesquisa individual.
disciplina. • Homem e mundo: o produto é a inte‑
• João Amós Commenius (1627): prin‑ ração entre eles.
cípios para ensinar artes por modelos • Relação professor-aluno: clima psico‑
completos, perfeitos e exercícios. lógico-democrático. Professor é auxi‑
• Homem: receptor passivo. Inserido liar das experiências.
em um mundo que irá conhecer pelo • Franz Cizek (1925): libertar o impulso.
repasse de informações. • Teorias: Psicologia Cognitiva, Psica‑
• Avaliação: centrada no produto do nálise, Teoria Gestalt.
trabalho. • Método: aprender experimentando,
• Saviani (1980): professor é a garantia de aprender a aprender.
que o conhecimento seja conseguido • Piaget: Teoria do Desenvolvimento.
independente do interesse do aluno. • Ensino-aprendizagem: procura desen‑
• Educação = Produto: alcançado pelo volver a inteligência, priorizando o
conhecimento dos modelos preesta‑ sujeito, considerando-o inserido numa
belecidos. situação social.
• Conteúdos: passados como verdades • Victor Lowenfewld (1939) – EUA: Te‑
absolutas – separadas das experiên‑ orias Freudianas.
cias. • Conteúdo: Estabelecidos pela
• Émile Chatier: defende o ambiente experiên­cia.
austero, sem distrações. • Herbert Read (1943) – Inglaterra: arte
• Mundo: é externo. O homem se apos‑ como experiência.
sa dele gradativamente pelo conheci‑ • Avaliação: atenção ao método na
mento. combate ao diretivismo, à qualidade
• Metodologia: aulas expositivas, ativi‑ e não a quantidade, ao processo e não
dades de repetição, aplicação, memo‑ ao produto. Parâmetro na teoria piage‑ 14
rização; exercitar a vista, mão, inteli‑ tiana, múltiplos critérios.
gência. Gosto e senso moral; privilégio • Na arte: ensino como processo de
verbal, escrito e oral; atividades inte‑ pesquisa individual. Ruptura com có‑
lectuais e raciocínio abstrato. pia de modelos externos. Valorização
• Snyders (1974): busca levar o aluno ao de estados psicológicos. Aluno produ‑
contato com as grandes realizações da tor de trabalhos artísticos. Expressão,
humanidade. Ênfase aos modelos, em revelação de emoções, de insight,
todos os campos do saber. de desejos.
• Sociedade – Cultural: o homem as‑ • Dewey: função educativa da experiên‑
cende socialmente pela cultura. cia cujo centro é o aluno.
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Pedagogia tecnicista Pedagogia libertadora

• Tendência Liberal. • Tendência progressista.


• Segunda metade século XX Brasil • Anos 60.
1960-1970. • Escola: ênfase ao não-formal. É críti‑
• Escola: produzir indivíduos compe‑ ca, questiona as relações do homem
tentes para o mercado de trabalho. no seu meio.
• Lei de Diretrizes e Bases da Educação • Sociedade-Cultura: o homem cria a
Nacional – 5.692/71. Introdução da cultura na medida em que, integran‑
disciplina Educação Artística. do-se nas condições de seu contexto
• Homem: consequência das influên‑ de v ida, reflete sobre ela e dá respos‑
cias ou forças do meio ambiente. tas aos desafios que encontra.
• Conteúdos: baseia-se nos princípios • Ensino-aprendizagem: pedagogia do
científicos, manuais e módulos de au‑ oprimido. Fazer da opressão e suas
toinstrução. causas o objetivo de sua reflexão,
• Skinner: o homem é produto do meio resultando daí o engajamento do ho‑
– análise funcional. Popham, Briggs, mem na luta por sua libertação.
Papay, Gerlach, Glaser – modelos de • Michel Lobrot
instrução e sistemas. • Homem e mundo: abordagem intera‑
• Mundo: já construído. O meio pode cionista.
ser manipulado e pode também sele‑ • Conteúdos: temas geradores extraídos
cionar. da vida dos alunos, saber do próprio
• Relação professor-aluno: professor é o aluno.
técnico e responsável pela eficiência • Celestin Freinet
do ensino. • Conhecimento: o homem cria a cul‑
• Teorias: behavioristas, Positivismo, Com‑ tura na medida em que, integran­do‑se
portamentalismo, Instrumentalismo. nas condições de seu contexto de
• Metodologia: técnica para atingir ob‑ vida, reflete sobre ela e dá respostas
jetivos instrucionais, aprender‑fazen‑ aos desafios que encontra.
do, cópia, geometria, desenho geo‑ • Relação professor-aluno: relação hori‑
métrico, educação através da arte, zontal, posicionamento como sujeitos
livre-expressão. do ato de conhecer.
• Cultura: espaço experimental. • Avaliação: autoavaliação ou avaliação
• Avaliação: prática diluída, eclética mútua.
e pouco fundamentada, levando ao • Metodologia: desenho, trabalhos ma‑
exagero apego aos livros didáticos. nuais, artes aplicadas, músicas e canto
• Conhecimento: experiência planeja‑ coral passam à categoria apenas ativi‑
da, o conhecimento é o resultado da dades artísticas.
experiência. • Nas artes: alunos e professor dialogam
• Na arte: educação artística polariza‑ em condições de igualdade, desafiados
da em atividades artísticas direciona‑ por situações-problemas que devem 15
das para aspectos técnicos construti‑ compreender e solucionar, libertação de
vos pela “indústria cultural”. Prática opressões, identidade cultural de aluno,
diluída, mistura das pedagogias tra‑ estética do cotidiano; educação artística
dicional e renovada. Preocupação abrange aspectos contextualistas.
com qualidade do ensino de arte.
Dicotomias: ora saber construir, ora
Pedagogia libertária
saber exprimir. Passam à categoria de
apenas atividades artísticas: Desenho, • Tendência Progressista.
trabalhos manuais, artes aplicadas, • Escola: transforma o aluno no sentido
música, canto-coral. libertário e autogestionário, como for‑
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tarefas do(a) professor(a)
ma de resistência ao Estado. organismo, os externos podem levar
• Metodologia: livre-expressão. Contex‑ ao desajustamento.
to cultural. Educação estética. • Nas artes: conhecer arte. Apreciação,
• Conteúdos: são colocados para o alu‑ contextualização e fazer artístico.
no, mas não são exigidos. São resul‑
tantes das necessidades do grupo. A didática e as tarefas
• Relação professor-aluno: professor é do(a) professor(a)
conselheiro, monitor à disposição do
aluno. A formação do professor abrange, pois,
• Nas artes: Educação Artística abrange duas dimensões: a formação teórico-cientí‑
aspectos contextualistas. fica, incluindo a formação acadêmica espe‑
• Libertação de opressões, identidade cífica nas disciplinas em que o docente vai
cultural. especializar-se e a formação pedagógica, que
• Expressão, revelação de emoções, de envolve os conhecimentos da Filosofia, Socio‑
insight e de desejos. logia, História da Educação e da própria Peda‑
• Libertação de impulsos criadores em gogia que contribuem para o esclarecimento
experiências de grupo. do fenômeno educativo no contexto históri‑
co‑social; a formação técnico-prática visando
a preparação profissional específica para a
Pedagogia histórico-crítica
docência, incluindo a Didática as metodolo‑
• Tendência progressista. gias específicas das matérias, a Psicologia da
• Fins dos anos 70. Educação, a pesquisa educacional e outras.
• Escola: parte integrante do todo social. A organização dos conteúdos da formação
Prepara o aluno para participação ati‑ do professor em aspectos teóricos e práticos
va na sociedade. de modo algum significa considera-los isola‑
• C. Rogers: ensino centrado no aluno. damente. São aspectos que devem ser articu‑
• Homem: considerado uma pessoa si‑ lados. As disciplinas teórico-científicas são
tuada no mundo. necessariamente referidas a prática escolar,
• Conteúdos: são culturais, universais, de modo que os estudos específicos realiza‑
sempre reavaliados frente à realidade dos no âmbito da formação acadêmica sejam
social. relacionados com os de formação pedagógica
• A. Neill: desenvolvimento da criança que tratam das finalidades da educação e dos
sem interferência. condicionantes históricos, sociais e políticos
• Mundo: o homem reconstrói em si o da escola. Do mesmo modo , os conteúdos
mundo exterior. das disciplinas específicas precisam ligar-se
• Ensino-aprendizagem: técnicas de diri‑ às suas exigências metodológicas.
gir a pessoa a sua própria experiência, As disciplinas de formação teórico-prática
para que ela possa estruturar-se e agir. não se reduzem ao mero domínio de técnicas
• A. Combs (1965): professor é persona‑ e regras, mas implicam também os aspectos
lidade única. teóricos, ao mesmo tempo que fornecem à 16
• Conhecimentos: construído pela ex‑ teoria os problemas e desafios da prática. A
periência pessoal e subjetiva. formação profissional do professor implica,
• Relação professor-aluno: professor é pois, uma contínua interpenetração entre
autoridade competente que direciona teoria e prática, a teoria vinculada aos pro‑
o processo ensino-aprendizagem. Me‑ blemas reais postos pela experiência prática
diador entre conteúdos e alunos. orientada teoricamente.
• Metodologia: contexto cultura, edu‑ Nesse entendimento, a Didática se ca‑
cação estética proposta triangular. racteriza como mediação entre as bases
• Avaliação: a experiência só pode ser teórico‑científicas da educação escolar e a
julgada a partir de critérios internos do prática docente. Ela opera como que uma
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______. As mudanças no mundo do trabalho
ponte entre o “o que” e o “como” do pro‑ e a educação: novos desafios para a gestão.
cesso pedagógico escolar. Para isso recorre In: FERREIRA, N. S. C. Gestão democrática
às contribuições das ciências auxiliares da da educação: atuais tendências, novos desa‑
Educação e das próprias metodologias espe‑ fios. São Paulo: Cortez, 2001.
cíficas. É, pois, uma matéria de estudo que
integra e articula conhecimentos teóricos e LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos para
práticos obtidos nas disciplinas de formação quê? 7. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
acadêmica, formação pedagógica e formação
técnico-prática, provendo o que é comum, PIMENTA, S. G. O pedagogo na escola públi-
básico e indispensável para o ensino de todas ca. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1995.
as demais disciplinas de conteúdo.
POLITZER, G. Princípios elementares de filo-
A formação profissional para o magistério sofia. 9. ed. Lisboa: Prelo, 1979.
requer, assim, uma sólida formação teórico‑prá‑
tica. Muitas pessoas acreditam que o desempe‑ SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da
nho satisfatório do professor na sala de aula educação, curvatura da vara, onze teses so‑
depende de vocação natural ou somente da bre educação e política. 30. ed. Campinas:
experiência prática, descartando-se a teoria. É Autores Associados, 1995. v. 5. (Polêmicas do
verdade que muitos que muitos professores ma‑ nosso tempo.)
nifestam especial tendência e gosto pela pro‑
fissão, assim como se sabe que mais tempo de ______. Educação do senso comum à
experiência ajuda no desempenho profissional. consciên­cia filosófica. Campinas: Autores
Entretanto, o domínio das bases teórico-cientí‑ Associados, 1996.
ficas e técnicas, e sua articulação com as exi‑
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho
gências concretas do ensino, permitem maior
científico. 21. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
segurança profissional, de modo que o docente
ganhe base para pensar sua prática e aprimore VEIGA, I. P. (Org.). Projeto político peda-
sempre mais a qualidade do seu trabalho. gógico na escola. Uma construção possível.
16. ed. Campinas: Papirus, 2003.

Referências
Sites de textos
APPLE, M. W. Educação e poder. 2. reimp.
Porto Alegre: Artmed, 2002. <http://redalyc.uaemex.mx/
BRASIL. Ministério da Educação e do Des‑ pdf/684/68450104.pdf>. O trabalho docente
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