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Pediatria (São Paulo) 2006;28(1):54-8.

Relatos de casos Case Reports Relatos de Casos

Orquite em dois meninos com púrpura de Henoch-Schönlein*

Orchitis in two boys with Henoch-Schönlein purpura


La orquitis en dos niños con la púrpura de Henoch-Schönlein

Débora Morais Cardoso1, Rodrigo Locatelli Pedro Paulo1, Gabrielle Zamperlini Netto2, Fábio Siqueira Bueno2,
João Paulo Becker Lotufo3

Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)


Divisão de Pediatria do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HUUSP)

Resumo
Objetivo: descrever dois casos de orquite da púrpura de Henoch-Schönlein. Descrição dos casos: duas
crianças apresentaram orquite durante a evolução da púrpura de Henoch-Schönlein. Foram acompanhadas evolu-
tivamente com ultrassonografia com doppler colorido, para avaliar uma possível torção testicular, que não ocorreu.
Os pacientes foram tratados com prednisona, com regressão em uma semana. Um dos casos teve apresentação
inicial exclusiva de manifestações abdominais. Conclusões: a púrpura de Henoch-Schönlein pode originar orquite,
que deve ser reconhecida e avaliada através de ultrassonografia com doppler colorido para afastar a possibilidade
de torção testicular, possibilitando o uso de corticóide.

Descritores: Púrpura de Henoch-Schönlein. Dor abdominal. Orquite.

Abstract
Objective: to describe two cases of Henoch-Schönlein purpura with orchitis. Cases description: two children
presented orchitis during the development of Henoch-Schönlein purpura. They were accompanied according to the
evolution with doppler coloured ultrasonography to evaluate a testicular torsion occurrence, which did not happen.
The cases were treated with prednisone, with improvement in one week. One of the cases showed initially exclusi-
ve abdominal manifestations. Conclusions: the Henoch-Schönlein purpura can originate orchitis which should be
recognized, and evaluated with the doppler coloured ultrasonography to exclude the possibility of testicular torsion,
allowing the corticosteroid therapy.

Keywords: Henoch-Schönlein purpura. Abdominal pain. Orchitis.

*Parte do parecer do relator está na seção de Cartas ao Editor


1
Médico pediatra do Pronto-Socorro Infantil do HU-USP
2
Médico residente, Hospital das Clínicas, Departamento de Pediatria da FMUSP
3
Mestre em Pediatria pela FMUSP. Médico-chefe do Pronto-Socorro Infantil do HU-USP
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Pediatria (São Paulo) 2006;28(1):54-8. Orquite na púrpura de Henoch-Schönlein
Cardoso DM et al.

Resumen
Objectivo: describir dos casos de orquitis de la púrpura de Henoch-Schönlein. Descripción de los casos:
dos niños presentaron orquitis durante la evolución de la púrpura de Henoch-Schönlein, que fueron acompañados
evolutivamente con ultrasonografia con doppler colorida, para evaluar una posible torsión testicular, que no ocur-
rió. Los casos fueron tratados con prednisona, con regresión en una semana. Uno de los casos tuvo presentación
inicial exclusiva de manifestaciones abdominales. Conclusiones: la púrpura de Henoch-Schönlein puede originar
orquitis que debe ser reconocida y evaluada a través de ultrasonografia con doppler colorida, para excluir la posi-
bilidad de torsión testicular, permitiendo el uso de corticoide.

Palabras clave: Púrpura de Schönlein-Henoch. Dolor abdominal. Orquitis.

Introdução outras alterações. Ao exame físico especial havia


discreta hiperemia de orofaringe. O abdome estava
A púrpura de Henoch-Schönlein (PHS) é a vas- flácido, plano, sem visceromegalias, doloroso à pal-
culite mais freqüente na infância1. Trata-se de uma pação, com ruídos hidroaéreos presentes; a manobra
vasculite leucocitoclástica com comprometimento de de descompressão brusca era negativa. Não havia
vasos de pequenos calibres - vênulas, arteríolas e ca- outras alterações.
pilares, multissistêmica, mediada por IgA, de etiologia Com a hipótese diagnóstica de infecção viral
desconhecida, geralmente precedida de infecção de aguda, foi recomendado apenas o uso de dipirona,
vias aéreas superiores2. e orientado o pai para retorno, se necessário. No
A PHS foi originalmente descrita no início do mesmo dia, à noite, o menino foi novamente trazido
século 19 por Willian e Heberden. Entretanto, a com- ao Hospital Universitário por haver tido outro episó-
binação da púrpura aguda com a artrite na criança dio de vômito e mantido a dor abdominal. Como o
foi descrita em 1837 por Schönlein, e as manifesta- exame físico geral e do abdome não apresentassem
ções abdominais e a nefrite, por Henoch, em 18743. piora, foi prescrito o dimenidrato e a dipirona, por
O quadro clínico da PHS foi ampliado e passou a via intramuscular, com melhora da sintomatologia. A
incluir diferentes sítios do organismo, sendo que a criança foi reencaminhada para casa, e novamente
orquite constitui um especial problema: pelo risco de orientada sobre os sinais de alerta para retorno, se
necessário.
torção testicular e pela possibilidade de tratamento
medicamentoso4-7. Os autores descrevem dois des- No quarto dia de doença, devido à persistência da
tes casos de orquite da PHS, no sentido de alertar febre, tosse e dor abdominal o paciente retornou. Estava
o pediatra geral para estes aspectos. sem vômitos. O exame físico do abdome mostrava-se
praticamente inalterado em relação ao primeiro exame
- era plano, flácido, sem visceromegalia, doloroso à
palpação periumbilical, com descompressão brusca
Relatos de casos negativa; os ruídos hidroaéreos estavam aumentados.
Persistia a hiperemia de faringe. Foi iniciada investiga-
Caso 1 ção laboratorial através da urina I e urocultura (normais)
e das radiografias simples de tórax e abdome (normais).
ESL, 4 anos e 5 meses de idade, sexo masculino, Com a hipótese diagnóstica de sinusite bacteriana foi
pardo, natural e procedente de São Paulo, foi trazido prescrita amoxacilina 50 mg/kg/dia, e orientado o retorno
pelo pai ao Pronto Socorro de Pediatria do Hospital ao serviço médico após dois dias, ou na piora clínica.
Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP) Após uma semana do início do quadro a criança
com queixa de febre de 38,0-38,5ºC e tosse há dois retornou ao Hospital devido à manutenção da febre e
dias; vômitos, dor abdominal epigástrica e periumbili- da dor abdominal, com melhora da tosse. Entretanto,
cal há um dia. Negava diarréia e/ou coriza. Ao exame no dia anterior os pais notaram o aparecimento de
físico geral a criança apresentava bom estado, sem lesões arroxeadas em membros inferiores, aumen-
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to de volume e dor no testículo esquerdo e edema bulatorial; houve completa regressão da sintomatologia
na face. A criança não apresentava hematúria e as após 15 dias de uso de prednisona na dosagem de 1
fezes permaneciam com consistência e aspecto nor- mg/kg/dia. Não houve recorrência do quadro durante
mais, sem sangue. Ao exame físico, o abdome estava o seguimento ambulatorial de 10 meses.
globoso, indolor, sem visceromegalias, destacava-se o
testículo esquerdo aumentado de volume, com 4 cm de Caso 2
diâmetro, endurecido, e doloroso à palpação. A região
escrotal esquerda estava hiperemiada (Figura 1). Na MPS, menino de 5 anos e 10 meses, masculino,
pele, haviam petéquias elevadas, especialmente em pardo, natural de São Paulo (SP) foi trazido ao Pronto
membros inferiores (Figura 2). Feita então a hipótese Socorro do HU-USP, com queixa de dor no testículo
diagnóstica de púrpura de Henoch-Schönlein com orqui- direito há um dia. Estava há 20 dias em tratamento de
te. Estavam dentro da normalidade o hemograma com manchas pelo corpo, com o diagnóstico de púrpura
plaquetas, uréia, creatinina, sódio, potássio e proteínas de Henoch-Schönlein, em outra clínica. Neste período
séricas, urina I, PCR, VHS e coagulograma. O exame teve, há 14 dias, dor e edema no joelho direito, que
ultra-sonográfico de abdome estava normal enquanto no regrediram espontaneamente.
escroto evidenciou espessamento de epidídimo e do cor- Ao exame físico a criança apresentava bom estado
dão espermático, e discreta hidrocele à esquerda, sem geral, com petéquias elevadas em membros inferiores,
sinais de torção testicular. Foi suspensa a amoxacilina com edema e dor no dorso do pé direito; o aparelho
e iniciada a prednisona, na dose de 2 mg/kg/dia. Houve locomotor mostrava articulações normais. No exame
regressão da dor e da febre em dois dias, o paciente genital, o hemiescroto direito estava hiperemiado,
foi dispensado para casa com acompanhamento am- com aumento de volume, devido ao testículo direito

Figura 1 – Região escrotal esquerda hiperemiada em orquite Figura 2 – PHS com petéquias elevadas em membros
por PHS inferiores
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estar com as dimensões aumentadas, verticalizado persistentes determina um risco de 15% de desenvolver
e doloroso; o reflexo cremastérico estava presente, insuficiência renal1.
bilateralmente. O epidídimo estava posteriorizado, e O comprometimento gastrointestinal da PHS, como
o cordão espermático espessado, até o ânulo inguinal observado nos dois casos, ocorre em 50 a 65% dos
superficial. pacientes, geralmente com dor abdominal periumbilical
Estavam dentro do padrão da normalidade o em cólicas, que, por vezes, pode ser intensa e mimetizar
hemograma com plaquetas, coagulograma, urina I o abdome agudo cirúrgico4. Freqüentemente ocorrem
e proteína C reativa. A ultrassonografia com doppler náusea e vômitos (52%) e diarréia (30%)1. O sangra-
de escroto mostrou testículos tópicos com morfologia mento gastrointestinal, oculto ou aparente, acontece
e contornos preservados, porém, à direita havia pe- em metade dos pacientes com PHS7. São ocasionais
quena quantidade de líquido na hemibolsa escrotal, a a melena, hematêmese, e o íleo paralítico, isolados ou
dimensão do testículo era bem maior em relação ao em combinação desses sintomas. Outras manifestações
esquerdo e a textura era finamente heterogênea, com gastrointestinais, raras, são a pancreatite e a colite
o epidídimo correspondente aumentado e espessa- pseudomembranosa7. Manifestações clínicas raras da
do. Havia, também, ao doppler colorido, aumento da PHS são: a cefaléia, convulsões, acidente vascular
vascularização do testículo e epidídimo direito. Como cerebral isquêmico, mononeurite, polirradiculoneurite
conclusão, o diagnóstico ultrassonográfico foi de or- e a hemorragia pulmonar4.
quiepididimite à direita. A apresentação clínica inicial da PHS pode
Foi prescrita prednisona na dosagem de 1 mg/ variar bastante, tanto no sítio acometido como na
kg/dia, dividida em quatro doses. Após um dia houve intensidade, constituindo, por vezes, um problema
melhora da dor, com resolução do quadro em duas para o diagnóstico, como observado no caso 1. Estes
semanas. O caso foi encaminhado para seguimento pacientes apresentam inicialmente dor abdominal e
ambulatorial em grupo reumatológico. outras manifestações gastrointestinais, sem a pre-
sença da púrpura, e correspondem a 14 a 36% dos
casos3. Devido à intensidade da dor, não raramente
Discussão o paciente é internado, submetido a exames auxi-
liares laboratoriais e de imagem. Pode ser difícil o
As crianças em foco tiveram o diagnóstico de púr- diagnóstico diferencial com outras causas de abdo-
pura de Henoch-Schönlein (PHS) baseado nos critérios me agudo cirúrgico, como a apendicite e a intussus-
de 1990 do Colégio Americano de Reumatologia: 1) cepção. Complica adicionalmente o diagnóstico, o
púrpura palpável; 2) idade de início menor de 20 anos; fato de a própria PHS poder determinar a ocorrência
3) angina abdominal - dor abdominal que se intensifica de intussuscepção, geralmente íleo-ileal, em alguns
às refeições ou sangramento no trato gastrintestinal; 4) casos; por este motivo devem ser acompanhados
alteração da biópsia cutânea, com achado histológico de perto os casos com manifestações abdominais
de granulócitos na parede de arteríolas e vênulas. A crescentes7. No estabelecimento do diagnóstico são
presença de dois ou mais destes parâmetros em crian- utilizados o exame ultrassonográfico de abdome e o
ças com púrpura tem sensibilidade de 87%1. Como na exame tomográfico, e, por vezes, até a laparotomia
maior parte dos casos, os dois pacientes tinham idade exploradora1.
próxima dos 6 anos e eram do sexo masculino3. O acometimento de órgãos genitais, como obser-
No primeiro caso o diagnóstico de PHS não pode vado nestes pacientes, é pouco freqüente na PHS,
ser realizado durante uma semana, devido à ausência mas a incidência é imprecisa, com relatos de 2 a 38%,
da manifestação clínica mais freqüente e sugestiva do nos casos da púrpura5-7. Desde a década de 1960 há
diagnóstico - a púrpura elevada à palpação, de localiza- descrição de sinais inflamatórios em pênis, parede
ção simétrica em MMII e nádegas. A artralgia, com ou escrotal, testículo, epidídimo, e cordão espermático8.
sem artrite, é a segunda manifestação mais freqüente da As manifestações genitais mais comuns são edema,
doença ocorrendo em 60 a 75% dos pacientes. Acomete dor e equimose, com acometimento principal de parede
as grandes articulações, em geral joelhos e tornozelos, escrotal, epidídimo, testículo, apêndices testiculares
e constitui o primeiro sinal da doença em 25% dos e cordão espermático7. O quadro genital geralmente
pacientes4. O comprometimento renal ocorre em 10 a sucede ou aparece simultaneamente, ao acometimento
50% dos casos1,3, e as alterações mais freqüentes são: de outros sítios, como observado nestes casos, pos-
hematúria microscópica (25% dos casos) e proteinúria sibilitando um fácil reconhecimento clínico. Porém,
transitória (35%), com duração habitualmente inferior em alguns pacientes o território genital é o único aco-
a um mês. A combinação de hematúria e proteinúria metido, ao menos durante a fase inicial da PHS. Esta
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apresentação da PHS origina cerca de 3% dos casos orquite por PHS são tratados com corticosteróide por
de inflamação escrotal aguda de causa a esclarecer, e via oral, quando possível, por sete a dez dias6,7. O
constitui importante problema clínico para o diagnós- tempo de regressão do quadro genital varia de dois
tico diferencial, pela similaridade com a orquite viral, a 30 dias, com média de sete dias6.
traumática e a torção testicular5-7. Complica ainda mais A variabilidade das manifestações clínicas da PHS
esta situação clínica a possibilidade, relatada em três decorre de diferente grau de inflamação vascular, he-
casos de PHS, de ocorrer uma torção testicular6. morragia, isquemia e, por vezes, ulceração secundária
A utilização de ultrassonografia de alta resolu- (como nos órgãos cavitários), em diferentes sítios do
ção com doppler colorido esclareceram as dúvidas organismo7. Porém, a fisiopatogenia íntima da PHS,
diagnósticas nos dois casos relatados, evitando a não tem, ainda, esclarecimento definitivo.
abordagem cirúrgica desnecessária. As principais
características ultrassonográficas são: aumento do
testículo e do epidídimo, hidrocele, espessamento Conclusões
de parede escrotal, e fluxo sanguíneo testicular nor-
mal ou aumentado5. Habitualmente, o diagnóstico é A PHS pode originar orquite, que deve ser reconhe-
reavaliado em exames subseqüentes, e raramente cida e avaliada através de ultrassonografia com doppler
há dúvida que necessite de exploração cirúrgica, colorido, para poder afastar a possibilidade de torção
para diferenciação de torção testicular. Os casos de testicular, possibilitando o uso de corticóide.

Referências
1. Silva CAA, Campos LMMA, Liphaus BL, Kiss MHB. 5. Bem-Sira L, Laor T. Severe scrotal pain in boys with
Púrpura de Henoch-Schönlein na criança e adolescente. Henoch-Schönlein purpura: incidence and sonography.
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purpura). (on-line). Available: http://www.emedicine. Coll Surg Edinb 2001;46:98-9.
com/derm/topic177.htm.

Endereço para correspondência:


Dra. Débora Morais Cardoso
Av. Lineu Prestes, 2526
Hospital Universitário da USP
Cidade Universitária – São Paulo (SP) Recebido para publicação: 18/10/2005
CEP 055008-900 Aceito para publicação: 18/02/2006
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