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Proteção às Indicações Geográficas: A Experiência Brasileira

Resumo
O objetivo do trabalho é discutir a relação entre as indicações geográficas e a competitividade
regional, e apresentar uma primeira avaliação da política brasileira de proteção às indicações
geográficas. Países em desenvolvimento como o Brasil abrigam características que exigem
tratamento local para a proteção e o gerenciamento das indicações geográficas. A mera
reprodução do modelo europeu não atende às necessidades dos principais usuários do sistema
(produtores rurais, empresários, pesquisadores, etc.). No Brasil um um modelo de indicação
geográfica deve levar em conta, além dos fatores que tipificam o local, o perfil dos produtos e
o vínculo entre esses produtos e as condições regionais. Por outro lado, é preciso compreender
melhor a estratégia adotada por países da Europa de valorização de territórios como espaço de
produção diferenciada e como instrumento de valorização dos seus produtos no mercado
europeu e no mercado internacional. Outros países da América Latina (Argentina, Chile)
também vêm desenvolvendo modelos, aparentemente exitosos, de criação e proteção de
indicações geográficas. Compreender as atuações européia e latino-americana é fundamental
para aprimorar o modelo brasileiro, que está dando os primeiros passos nos últimos anos,
inclusive nos aspectos de cooperação entre países e impacto nos acordos de comércio.

1. Indicação Geográfica: Conceito e Relevância

A proteção das indicações geográficas é estratégica para o Brasil, país com grande variedade
de territórios com potencial para produzir produtos com identidade própria e para ocupar
espaços em mercados cada vez mais exigentes em termos de produtos de qualidade e de
personalidade. No Brasil, embora a indicação geográfica seja valorizada pelos consumidores
de maior renda em produtos importados, é desconhecida tanto pelos produtores e comerciantes
quanto pela maioria dos consumidores, carecendo, portanto, de disseminação de seus
conceitos básicos e dos benefícios agregados aos produtos e aos serviços.

A Europa, em sua história antiga e atual, tem utilizado as indicações geográficas como uma
importante ferramenta de valorização de seus produtos tradicionais. Mais recentemente é nas
economias de nações emergentes, como Índia e China, por exemplo, que está o
reconhecimento expressivo de novas indicações, apresentando ao mundo um conjunto de
produtos tradicionais, sob a égide da garantia da procedência, à qual se associa uma
“qualidade original”.

O conceito de indicações geográficas desenvolveu-se lentamente no transcurso da história, e


de modo natural, quando produtores, comerciantes e consumidores comprovaram que alguns
produtos, advindos de determinados lugares, apresentavam qualidades particulares, atribuíveis
a sua origem geográfica, e passaram a denominá-los com o nome geográfico de procedência.
Foi uma resposta ao que os economistas, séculos depois, chamariam de problema de
assimetria de informação. No caso, a indicação geográfica era uma garantia, para comerciantes
e consumidores, de que o produto tinha certa qualidade, o que facilitava a realização de
transações sem a presença física do produto (os comerciantes ingleses de vinho, por exemplo,

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adquiriam o produto em barril antes da safra; os consumidores tampouco podiam prová-lo
quando já eram engarrafados). Este fenômeno teve início com os vinhos, nos quais o efeito
dos fatores naturais era mais evidente. Quando se escolhem produtos de proveniência com
origem garantida, é normal que se disponha de um valor superior ao preço médio praticado
pelo mercado, tendo em vista a confiança adquirida com o controle das características
inerentes ao artigo, durante décadas de comercialização. Mesmo quando o preço não é
significativamente superior, a indicação geográfica pode ser relevante na disputa da fatia do
mercado com outros produtos similares, como estratégia de diferenciação voltada para a
fidelização de um grupo de consumidores.

A relação entre o consumo e a origem geográfica do produto não se dá apenas por questões
afetivas, mas especialmente pela confiança na estabilidade dos padrões de qualidade. Na
indústria agro-alimentar, os setores artesanais e as pequenas empresas formulam estratégias de
posicionamento baseadas, em parte, na defesa da qualidade e na tipicidade de seus produtos,
em relação aos produtos fabricados em larga escala.

Na evolução histórica da indicação geográfica, a preocupação em protegê-la surgiu quando se


observou que certos produtos, que demonstravam características peculiares que podiam ser
atribuídas a sua região de origem, estavam sendo designados pelo nome da região de que
provinham. Tal fato, e considerando a qualidade e tipicidade desses produtos, deu margem ao
surgimento de falsificações, ou seja, da utilização desses nomes em produtos que não tinham
tal procedência.

Com vistas a garantir a autenticidade e origem de seus produtos, os produtores passaram a


utilizar selos distintivos naqueles. Notam-se aí aspectos da concorrência desleal, e a
necessidade do estabelecimento de normas legislativas capazes de proteger eficazmente os
direitos dos produtores que se delineavam na época.

O desenvolvimento da cultura e regulamentação técnica e legal das indicações geográficas


procede, indiscutivelmente, da Europa. Muñhoz-Nájan (2001) assinala que é muito antigo o
costume de designar produtos com o nome do lugar de sua fabricação ou de sua colheita. Por
exemplo, o queijo Roquefort adquiriu sua notoriedade sob o nome de seu local de origem,
desde o século XIV. As Ordenanças Municipais de Ribadavia, em 1579, já se preocupavam
em proteger os vinhos produzidos na Galícia, especificamente na Comarca do Ribeiro (Eiján,
1920).

No contexto internacional surgiram disposições quanto à rastreabilidade e procedência do


produto, como aquelas advindas da Cúpula da Organização Mundial do Comércio (OMC) em
Cancun, em 2003, que garantiu ao cidadão o direito de obter informações da procedência do
seu consumo alimentar (Caldas, 2004).

2. Marco Regulatório

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A propriedade intelectual tem como objetivo proteger os produtos da criatividade e
inventividade humana, e por isto associa as diversas modalidades de proteção a manifestações
desta criatividade: inovação tecnológica e patente; de visual novo e original ao desenho
industrial; distintividade às marcas e assim por diante. A indicação geográfica exige um
processo de criatividade institucional e a demanda de capacidades inovadoras é substituída por
métodos inovadores de organização e produção em seus territórios "to make a technical and
organizational innovation compatible with a traditional practise" (Sylvander, 1998),
compondo a modernidade necessária dos produtos com denominação de origem protegida sem
ameaçar a tradição nem "the technological memory of the product" (Casabiance e Sainte
Marie, 1997 apud Sylvander, 1998).

É da racionalidade endógena e diferenciada de atores coletivos ligados uns aos outros por suas
próprias convenções, cuja base é freqüentemente local, que emergem os sistemas produtivos
mais dinâmicos, os que se caracterizam pelas inovações (Storper, 1997). Ao delimitar as
regiões, condições técnica e know-how específico da população, acaba-se por excluir alguns
agentes do sistema, na medida em que o modelo de indicações geográficas induz no sentido de
consolidação de um monopólio. Ayral (2001) indica que esta certificação consiste num direito
de propriedade intelectual.

Nesse contexto, surgiram tratados e acordos internacionais, além de legislações nacionais, para
a proteção das indicações geográficas através dos direitos da propriedade intelectual.
Naturalmente, países europeus, com tradições de longa data e produção artesanal
geograficamente diferenciada, tendem a proteger mais suas indicações geográficas do que
países do Novo Mundo, como os EUA, em que as tradições culturais refletem apenas poucas
centenas de anos, e os sentidos de variação cultural local que suporta a especialização regional
são mais tênues (Dias, 2005).

A Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI)1 define a indicação geográfica


como " un signo utilizado para productos que tienen un origen geográfico concreto y poseen
cualidades o una reputación derivadas específicamente de su lugar de origen". Dessa
definição podemos concluir dois tipos de proteção, um relacionado à origem geográfica do
produto e outro que aborda um vínculo entre a qualidade do produto e sua procedência.
Assim, o termo indicação de origem designa uma região ou país como sendo a origem desse
produto, não havendo necessidade que as condições geográficas da região ou a qualidade do
produto tenham contribuído para que se obtenha o benefício do uso desse ativo de propriedade
industrial.

Em relação à Convenção de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial (CUP), de 1883, e


ao Acordo de Madrid para a Repressão de Falsas ou Enganosas Indicações de Origem de
Bens, de 1891, observa-se que nenhum deles fornece uma definição clara e objetiva de
indicação de origem, conforme definida na OMPI. Observa-se que as disposições
estabelecidas na CUP não consideraram a prevenção do uso de falsas indicações geográficas

1 A OMPI é uma agência especializada das Nações Unidas para a promoção internacional da proteção à propriedade
intelectual e que administra vários acordos internacionais relacionados à indicação geográfica.

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per se, mas apenas quando tal uso ocorresse com o uso de um nome de marca falsa. Verificou-
se então a necessidade de normas mais eficazes de proteção da indicação geográfica.

A CUP prevenia apenas a importação de bens com indicações que induzissem o público a erro
quanto à natureza do bem. O Acordo de Madrid sobre Indicações de Origem institui normas
mais consistentes, embora sem ainda abordar especificamente um conceito de denominação de
origem. Esse Acordo define mecanismos de prevenção de uso das falsas denominações de
origem proibindo suas falsas representações num produto, e proibindo ainda seus membros
signatários de tratarem a denominação de origem dos vinhos como termos genéricos (art. 1.1).

Visando à melhoria da proteção internacional de indicações geográficas para suprir as


deficiências da CUP e do Acordo de Madrid sobre Indicação de Origem, foi instituído o
Acordo de Lisboa para a Proteção de Denominações de Origem e seu Registro Internacional
(Acordo de Lisboa), posteriormente revisto em Estocolmo (1967) e por um amendment em
1979, do qual o Brasil não é signatário.

O Acordo de Lisboa disponibiliza definições mais restritas e nível de proteção mais elevado,
mas tem influência ainda mais limitada pelo número restrito de membros aderidos, que são
apenas vinte e seis. Até 2002 havia 835 denominações de origem registradas sob este Acordo,
estando em vigência 766 (WIPO, 2002). Prevê maior proteção para as indicações geográficas
através de sistema internacional de registro (Registro Internacional da WIPO) após a proteção
em seu país de origem. Após o registro, é automaticamente considerada protegida nos demais
países membros. O artigo 3º estabelece a proibição do uso enganoso da denominação de
origem protegida, usurpação ou imitação ainda que ressalvada a origem do produto,
acompanhada de termos como “tipo”, “estilo”, “imitação” ou similares. Deve-se ressaltar que
apenas doze membros do Acordo de Lisboa têm denominação de origem protegidas pelo
registro internacional e que a Europa concentra 95% dos registros, com a França concentrando
66,3% dos registros para produtos como vinhos, bebidas espirituosas e queijos. A República
Checa lidera água mineral, cervejas, malte e produtos ornamentais e Cuba detém a
exclusividade dos charutos.

A definição dada pelo Acordo sobre Aspectos de Direitos de Propriedade Intelectual


relacionados com o Comércio (Acordo Trips), em seu art. 22, é semelhante à estabelecida pela
OMPI: "indicações que identifiquem um produto como originário do território de um
membro, ou região ou localidade deste território, quando determinada qualidade, reputação ou
outra característica do produto seja essencialmente atribuída a sua origem geográfica"; as
diferenças são poucas: Trips se refere a um bem (que pode envolver produto ou serviço), o
Acordo de Lisboa refere-se somente ao produto, limitando assim o escopo da proteção. Outra
limitação do Acordo de Lisboa está na exigência que a qualidade e as características do
produto se devam exclusiva ou essencialmente aos fatores geográficos, enquanto o Trips
requer que qualidade, reputação ou outra característica seja atribuída à origem geográfica do
produto.

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O Acordo Trips é parte do Acordo de Marrakesh no âmbito da Organização Mundial do
Comércio (OMC), em vigor desde 1995 e acabou por ter uma importância fundamental ao
estabelecer um padrão mínimo internacional de proteção para as indicações geográficas.
Inexiste no Trips qualquer obrigatoriedade de se utilizar um nome geográfico direto, devendo
a indicação identificar um bem, que pode ser uma palavra, um ícone, um símbolo ou um
emblema, sendo permitidas indicações não geográficas, mas que são utilizadas para bens
originados numa região específica. É também permitido, por este Acordo, que uma indicação
geográfica realce características específicas de um produto devidas a fatores humanos ou a
habilidades específicas ou tradições, ou a prestação de serviços. Trips não especifica o meio
legal de proteção das indicações geográficas, deixando a decisão a cargo dos membros, que
deverão escolher a melhor forma de proteger as suas indicações geográficas, desde que
previnam o uso falso ou enganoso, conforme estabelecido em seu Artigo 22.2.

3. Difusão Internacional da Indicação Geográfica

O país de maior tradição no estabelecimento das denominações de origem e suas variações é a


França, que conta com um sistema de indicações geográficas de expressiva importância
econômica, cultural, sociológica e ambiental, sendo considerado parte do patrimônio nacional.
A experiência francesa remonta ao século XVIII, quando surgiu a primeira appellation
d’origine, Châteauneuf-du-Pape. Somente em 1935, foi aprovado o sistema jurídico para as
indicações geográficas e criado o Institut National de l'Origine et de la Qualité (INAO),
vinculado ao Ministério de Agricultura e da Pesca.

A partir dos anos de 1970, a Europa adotou um sistema de qualificação e etiquetação de seus
territórios, visando a relacionar o produto ao território produtor e aos produtores responsáveis
pelo processo de elaboração, identificados por características semelhantes utilizadas em seus
processos de produção. O exemplo mais clássico de um sistema de indicações geográficas é
aquele que diz respeito ao mundo dos vinhos. A União Européia é, tradicionalmente, a maior
produtora de vinhos de qualidade, e usa a indicação geográfica como arma importante para
defender seu produto do ataque de novos produtores que emergem em todos os continentes.

A partir principalmente dos anos 70, a então Comunidade Européia implementou esse sistema
com o objetivo de sistematizar, organizar, padronizar, comercializar e promover os vinhos
produzidos sob o sistema de indicações geográficas: aqueles do Porto e de Dão (Portugal), de
Bordeaux, Provença e da Champagne (França – appellation d’origine controleé, de La Rioja,
Ribera Del Douro, Ribeiro (Espanha – denominación de origen), do Sarre, da Mosela e
Franken (Alemanha – Gebiet), da Sicília, Puglia, Toscana (Itália – denominazione controllata)
entre outras.

Somente na Espanha existem 54 (cinqüenta e quatro) denominacões de origem de vinhos, que


representam 57,19% do total de uva destinada à vinificação. A grande quantidade dos vinhos
elaborados nesse país está protegida por esse sistema, o qual garante a qualidade do produto
elaborado e está associado a um território produtor.

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No México, a tequila é o melhor exemplo para ilustrar uma indicação geográfica de uma
bebida alcoólica obtida de uma espécie agrícola produzida numa limitada zona no México, a
agave azul (tequiliana variedad Weber). A proteção ocorre desde 1974 e se vincula à
indicação geográfica “Tequila”.

No caso do Peru, as indicações geográficas assumem um status de importância de Estado e


foram instituídas através do decreto legislativo 823 da Lei da Propriedade Industrial, que
dispõe, em seu Artigo 218, que "es el Estado Peruano el titular de las denominaciones de
origen peruanas y sobre ellas se concede autorizaciones de uso". Em 1990, através da
resolución directoral nº 072087, de 12 de dezembro, a República do Peru declarou que a
indicação geográfica Pisco é uma denominação exclusiva para os produtos obtidos da
destilação dos caldos resultantes unicamente da fermentação da uva madura, elaborada na
costa dos estados de Lima, Ica, Arequipa, Moquegua e nos vales de Locumba, Sama e Caplina
do Departamento (Estado) de Tacna.

Mediante uma lei de 4 de março de 1992, a Republica da Bolívia autoriza o uso da indicação
geográfica apenas ao Singani, um produto legítimo e exclusivo da produção agroindustrial
boliviana. Trata-se de uma aguardente produzida pela destilação de vinhos de uva moscatel
fresca, produzida, destilada e engarrafada nas zonas de produção de origem da região de
Potosi. Em novembro de 2000, a República da Venezuela, através da resolución nº 206, de 14
de novembro, reconhece Chuao como indicação geográfica do cacau proveniente da zona de
Chuao, um dos primeiros povoados fundados na Venezuela, na metade do século VXI, onde
foi instalada uma fazenda de cacau em 1568, pertencente à família Caribe.

É promissor constatar a expansão das indicações geográficas em vários países do mundo.


Deve-se notar que a maioria dos produtos protegidos na União Européia ganhou identidade
geográfica ao longo de décadas, séculos até, sustentadas em características de fato marcantes e
qualidade particular. A tradição, inicialmente local, e a “fama” e “prestígio” adquirido por
esses produtos, ao mesmo tempo que estimulou falsificações, facilitou a utilização competitiva
da indicação geográfica dos produtos europeus nos mercados mundiais. Os novos produtos
têm reconhecimento local, mas este reconhecimento precisará ser transmitido ao consumidor
global por meio de estratégias adequadas e consistentes de consolidação da “marca”. Isto
envolve o conjunto de atores interessados na indicação geográfica. Não se pode minimizar o
fato de que ações coletivas, como as exigidas para implantar e consolidar as indicações
geográficas, são campos férteis para oportunismo e para ação dos caronas.

4. Indicação Geográfica no Brasil

A Lei Brasileira da Propriedade Industrial (Lei 9279/96) (LPI) define um gênero de indicação
geográfica que consiste de duas espécies: indicação de procedência e denominação de origem.
Define-se indicação de procedência como todo nome geográfico de país, cidade, região ou
localidade de seu território que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção
ou fabricação de determinado produto ou prestação de determinado serviço. Quando esses
mesmos nomes designam produtos ou serviços cujas qualidades ou características se devam

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exclusivamente ou essencialmente ao meio geográfico, incluindo fatores naturais e humanos,
são classificados como denominações de origem.

Curiosamente a LPI é mais restritiva que o Trips quando exige que a indicação geográfica seja
o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de um território, o que não se obriga
no Trips. Essa disposição da LPI tem gerado conflitos em relação ao registro no Brasil de
indicações geográficas estrangeiras, que, na maioria das vezes, têm o registro em seus países
de origem com o nome do produto, como é o caso de Prosciutto de Parma, reconhecido na
Itália com essa denominação, e que não está em consonância com a LPI. Outro aspecto
peculiar da LPI está na proteção para prestação de serviços (arts. 177 e 178). Esta inclusão de
serviços na legislação não é isenta de controvérsias, já que a associação ao território parece
depender de fatores humanos. Talvez apenas com uma definição bastante precisa das
características do serviço em causa associadas à origem geográfica seria possível conceder a
proteção pleiteada.

No âmbito internacional temos como exemplo os spas e métodos tradicionais de cura


(Rangnekar, 2003). No Brasil ainda não há registro de indicação geográfica para serviços, o
que não parece ser complexo, tendo em vista a espécie indicação de procedência. Neste caso é
necessário que o requerente comprove que a região ou similar se tornou conhecida por prestar
um determinado serviço.

Mesmo se a intenção for requerer o benefício da proteção da espécie denominação de origem,


podemos imaginar o vínculo com os fatores naturais e humanos em serviços de hotelaria em
uma região no Amazonas na qual seja construído um hotel cuja arquitetura seja
essencialmente associada ao meio ambiente, que preserve suas características naturais e
proporcione aos hóspedes uma visão privilegiada deste ambiente a partir de todas as
habitações; tudo isso associado a um notório saber fazer da rede hoteleira. No caso de um spa
seria possível uma denominação de origem, por exemplo, supondo que os serviços prestados
neste spa oferecem tratamentos com lama ou pedras de procedência da região, que seriam os
fatores geográficos associados.

Com base no Artigo 1.1 do Trips, do qual o Brasil é signatário, o país optou por adotar a
obrigatoriedade do registro para a proteção das indicações geográficas. Assim, o Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI), amparado pelo parágrafo único do Artigo 182 da
Lei 9279/96, estabeleceu as condições de registro das indicações geográficas na Resolução Nº
075 de 28/11/00. O Artigo 8º da Resolução referenciada estabelece: “No caso de pedido de
registro de nome geográfico já reconhecido como indicação geográfica no seu país de origem
ou por entidades/organismos internacionais competentes, fica dispensada a apresentação dos
documentos de que tratam os arts. 6º e 7º apenas relativamente aos dados que constem do
documento oficial que reconheceu a indicação geográfica, o qual deverá ser apresentado em
cópia oficial, acompanhado de tradução juramentada”, ficando clara a necessidade, para o caso
de indicações geográficas estrangeiras já reconhecidas em seu país de origem e que desejem
essa proteção no Brasil, de registro no INPI.

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A proteção às indicações geográficas está, portanto, sob a égide dos direitos da propriedade
industrial ao lado da proteção a institutos como patentes, marcas e desenhos industriais.
Assim, as indicações geográficas podem ser registradas no INPI, mas ressalte-se que, por ter
natureza declaratória (artigo 1º, parágrafo único da Resolução INPI º 75/00), a proteção às
indicações geográficas pode prescindir de registro. Tal fato, porém impede o reconhecimento
da indicação geográfica no âmbito do Trips, conforme estabelecido em seu artigo 24.9, e
conseqüentemente, nos países membros deste Acordo da OMC. A inexistência de registro
também pode dificultar a comprovação da indicação geográfica, uma vez que ela, ao contrário
das marcas, é identificada e desenvolvida e não criada, sendo que seu reconhecimento
dependerá substancialmente da percepção do público consumidor (Correa, 2002). Além disso,
a inexistência de instrumentos reguladores estabelecendo os aspectos de produção, controle e
comercialização que devem ser observados pelos produtores assim como de entidade que faça
a gestão, manutenção e preservação das atividades ligadas à indicação geográfica podem
comprometer sua comprovação, que neste caso, provavelmente só poderá ser efetuada por
meios judiciais.

A proteção nacional às indicações geográficas está em conformidade com as disposições dos


tratados internacionais, ratificados pelo Brasil na matéria, particularmente o Trips. Conforme
estabelecido na LPI, indicações geográficas são gênero, do qual são espécies as indicações de
procedência e as denominações de origem: (1) Art. 176 - Constitui indicação geográfica a
indicação de procedência ou a denominação de origem. (2) Art. 177- Considera-se indicação
de procedência o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que
se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado
produto ou de prestação de determinado serviço.

No caso de indicação de procedência não há necessidade de que as condições geográficas da


região tenham contribuído para o conhecimento da região, havendo que se comprovar, através
de documentação fundamentada, esse conhecimento. Nota-se aqui uma adequação legislativa
no sentido de promover a construção de um portafólio nacional de indicações geográficas: no
antigo Código da Propriedade Industrial (Lei 5 772/71 – CPI), só se definia a indicação de
procedência, e conforme a seguir: Das Indicações de Procedência. Art. 70. Para os efeitos
deste Código, considera se lugar de procedência o nome de localidade, cidade, região ou país,
que seja notoriamente conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de
determinada mercadoria ou produto, ressalvado o disposto no artigo 71.

Nota-se que, no CPI, exigia-se que a região fosse “notoriamente conhecida”, disposição
mudada na legislação atual para apenas “conhecida”, o que se revela muito mais apropriado
considerando a extensão continental do país e os diferentes níveis de desenvolvimento dos
diversos estados brasileiros que constituem a União Federal. Dessa forma a demonstração do
fato da “região ser conhecida” é mais viável, e estimula o registro das indicações geográficas.

A definição da denominação de origem está no Artigo 178, que estabelece: Art. 178 -
Considera-se denominação de origem o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade
de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam
exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.

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Na denominação de origem os fatores naturais e humanos da região necessariamente influem
na qualidade ou nas características do produto ou serviço. Entendem-se fatores naturais
como sendo os componentes climáticos, geológicos, pedológicos, as variedades vegetais
utilizadas, entre outros; que seja uma característica exclusiva da região que permita delimitar
uma área de produção. Os fatores humanos são aqueles imprescindíveis à confecção do
produto que tem o benefício da indicação geografia: é o notório saber fazer relacionados aos
métodos de produção ou tratamento da terra, de vinificação, entre outros.

A proteção inclui a representação gráfica, figurativa ou geográfica da região demarcada na


indicação geográfica, conforme o artigo 179 da LPI: Art. 179 - A proteção estender-se-á à
representação gráfica ou figurativa da indicação geográfica, bem como à representação
geográfica de país, cidade, região ou localidade de seu território cujo nome seja indicação
geográfica. Esse artigo impede que, por exemplo, uma empresa vinícola coloque no mercado
determinado tipo de vinho estampando no rótulo o mapa da França, ou que fabricantes de
uísque nacionais coloquem imagem de tocadores de gaita de fole nos rótulos.(Dannemann,
2001).

5. Indicações Geográficas Brasileiras: Exemplos de Ganhos Competitivos


Regionais

5.1. Vale dos Vinhedos

Até o momento existem três indicações geográficas locais reconhecidas no Brasil, além do
caso da cachaça, que foi regulamentado por Decreto. A primeira indicação geográfica
brasileira reconhecida pelo INPI é o “Vale dos Vinhedos” na espécie indicação de procedência
para vinhos tintos, brandos e espumantes, registro nº IG 200002, concedida em 22 de
novembro de 2002.

O legado histórico e cultural deixado pelos imigrantes italianos está enraizado nas pessoas,
seus costumes e, até mesmo, na paisagem do Vale dos Vinhedos. A construção de capelas, a
devoção aos santos, o dialeto vêneto e, principalmente, o cultivo da videira e a produção do
vinho são marcas da imigração. Sendo o vinho um elemento tradicional de sua cultura, os
italianos trouxeram as mudas de videiras quando para cá vieram. Até, aproximadamente, a
década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua
produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam
destinava-se ao consumo familiar. Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho
entrou em queda e, conseqüentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram
então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim
possibilidade de aumento nos lucros.

A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a


conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos.

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Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos
produtores do Vale. Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação
Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de
Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Com o tempo, as funções da associação
ampliaram-se e, conseqüentemente, expandiram os objetivos, que passaram a incluir: (i) ao
desenvolvimento e incentivo à pesquisa vitivinícola, assim como a qualificação do produto
vinícola e seus derivados; (ii) o desenvolvimento de ações que promovam a organização e
preservação do espaço físico do Vale dos Vinhedos, promovendo estudos e agindo junto às
autoridades competentes para a elaboração de Leis adequadas ao atendimento deste objetivo;
(iii) o estímulo e a promoção do potencial turístico da região, bem como o aprimoramento
sócio cultural dos associados, seus familiares e da comunidade; e (iv) a preservação e proteção
à indicação geográfica dos vinhos da região Vale dos Vinhedos. Atualmente, a Aprovale
conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados.

O Vale dos Vinhedos, localizado entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte
Belo do Sul, é a primeira região do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos,
exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas.
Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos
Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma
Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência,
passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade


Industrial (INPI) em 2000 foi alcançado em 2002. Neste período, foi necessário firmar
convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como
pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (IPVV). O
trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfrico e estudo da potencialidade do
setor vitivinícola da região. Enquanto a Universidade de Caxias do Sul (UCS) e a Embrapa
Uva e Vinho trabalhavam na delimitação geográfica, traçando o perfil do Vale dos Vinhedos
com estudos sobre questões topográficas, topoclimáticas e mapa de solos, as vinícolas
investiam em mecanismos para melhorar a qualidade da uva e, conseqüentemente, dos vinhos,
além de ampliar a estrutura para o incremento do enoturismo.

A gestão, manutenção e preservação da indicação geográfica regulamentada passou a ser


responsabilidade do Conselho Regulador, criado em 2001. A partir daí, foi necessário criar um
auto-regulamento, que representa a garantia de origem e qualidade dos vinhos do Vale dos
Vinhedos ao consumidor. Surge, então, o Selo de Controle Vale dos Vinhedos, outorgado
pelo Conselho Regulador, exclusivamente, para os vinhos e espumantes elaborados a partir de
uvas provenientes do Vale dos Vinhedos e engarrafados na sua origem, além de serem
aprovados em rigorosos testes realizados por um grupo de especialistas composto por técnicos
da Embrapa Uva e Vinho e da Aprovale. Os selos têm número para controle e são aplicados
como lacre ligando a cápsula à garrafa, distinguindo-a das demais.

A conquista da IPVV tornou-se garantia de origem com qualidade do Vale dos Vinhedos. Este
título traz enormes vantagens para o viticultor e vinicultor, especialmente para os

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consumidores e visitantes do Vale, que encontram na região uma infra-estrutura de
atendimento, respeito à natureza e às características dos valores sociais que determinam a
essência do produto VINHO, fruto da cultura familiar e razão da autenticidade do povo
descendente de imigrantes italianos. O visitante encontra, ainda, uma forte atividade
relacionada ao enogastroturismo. Com a IPVV o mercado ganha um produto de maior valor
agregado, gerando confiança ao consumidor que sabe que vai encontrar vinhos e espumantes
de qualidade com características regionais.

Entre os impactos sócio-econômicos resultantes dos esforços advindos da implementação


dessa indicação geográfica na região destacam-se: (i) a valorização das propriedades rurais da
área geográfica correspondente ao percentual de 200% a 500% em cinco anos; (ii)
desenvolvimento da agroindústria vitivinícola; (iii) desenvolvimento regional e ambiental
traduzido em maior oferta de empregos no campo, na industria, no turismo, na construção civil
e nos serviços, principalmente de gastronomia e turismo; (iv) desenvolvimento de outros
empreendimentos agroindustriais como queijarias e produção de sucos e alimentos e; (v)
desenvolvimento de um plano diretor da região demarcada com a participação de comunidades
locais visando ordenar o desenvolvimento da zona rural, preservando a vocação local.

5.2. Café do Cerrado

A segunda indicação geográfica brasileira reconhecida pelo INPI, “Região do Cerrado


Mineiro” para indicação de procedência para o produto café, registro nº IG 990001, concedida
em 14/06/05. Também apresenta repercussão positiva na acirrada concorrência internacional,
conferindo a esse produto destaque nas estratégias comerciais e mercadológicas pela
diferenciação e tipicidade do tradicional café brasileiro.

O café foi introduzido no Brasil na primeira metade do século XVIII, originário de plantações
na América Central e na Guiana Francesa, e é hoje considerada bebida universal. A
cafeicultura brasileira desenvolveu-se no século XIX, ganhando primazia entre as culturas de
exportação no país, acabando por superar o açúcar, ao ponto de inspirar políticas
governamentais nas primeiras décadas do século XX (Luna Filho, s/d). Atualmente o Brasil
responde por cerca de 27% da produção mundial, tendo produzido cerca de 27,49 milhões de
sacas de café, na safra 2000/2001. Minas Gerais é o mais importante estado produtor de café
do Brasil, com mais de 50% da produção total.

A região do cerrado mineiro compreende 55 municípios, com 147 mil hectares de cafezais.
Com temperatura média favorável, de 18 a 22 gruas celsius, estações bem definidas, com
verão quente e chuvosos e inverno ameno e seco, baixa umidade relativa do ar e abundância
de sol no período das colheitas, a região reúne condições privilegiadas para que os grãos
absorvam e retenham o aroma e sabor distintivos de um café com padrão diferenciado de
qualidade. Assim, segundo Ormond et al (1999), uma das principais vantagens da região do
cerrado para a produção do café são as condições geo-climáticas.

11 1
A acirrada concorrência internacional e o fato do café exportado em grãos ter características
de commodity, exigem o desenvolvimento de estratégias comerciais e mercadológicas para
diferenciar o produto brasileiro, valorizando a notoriedade histórica do Brasil, enquanto
tradicional produtor.

Com a desregulamentação do mercado cafeeiro nos anos 90, o setor cafeeiro enfrentou sérias
dificuldades no Brasil, assistindo à queda dos preços e a problemas de financiamento. Foi
pensada então estratégia de diferenciação pela origem e pela qualidade, transformando as
vantagens comparativas do Café do Cerrado em efetivas vantagens competitivas, o que
resultou na criação do Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (CACCER) no
final de 1992, com o objetivo de gerir o marketing do café do cerrado, funcionar como canal
político de representação e prestar aos associados orientações em todos os aspectos do seu
agronegócio.

Em junho de 1993, com a assinatura de um protocolo de intenções envolvendo o Instituto


Mineiro de Agropecuária (IMA), a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(Epamig), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais
(Emater-MG), a Universidade Federal de Uberlândia e a CACCER, dava-se início a um
conjunto de ações conjuntas que conduziram à publicação da Portaria 165/95 do governo
mineiro, que delimita oficialmente as regiões produtora de café do estado (Sul de Minas,
Cerrado, Jequitinhonha e Montanhas de Minas). Em 1996 é publicado pelo Estado o Decreto
38.559, instituindo o regulamento Certicafé (Certificado de Origem para os cafés das quatro
regiões delimitadas), atribuindo ao IMA as funções de emitir e controlar o uso do certificado.

5.3. Pampa Gaúcho da Campanha Meridional

A terceira indicação geográfica nacional “Pampa Gaúcho da Campanha Meridional” refere-se


à indicação de procedência para o produto carne bovina e seus derivados, registro IG 200501,
concedida em 12 de dezembro de 2006, que é inédita na América Latina, mas já foi adotada
em países europeus, como Espanha, Portugal e França.

A região do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional está situada no sul do Brasil, no Estado
da Rio Grande do Sul, na divisa com o Uruguai. Região de clima temperado, com
temperaturas médias de 18°C, formada por basicamente por coxilhas (relevo plano, levemente
ondulado) onde se situam os campos de produção pecuária e por várzeas que se caracterizam
por áreas baixas e úmidas. A região sul do Brasil tem, na pecuária, uma tradição que teve
início com a colonização do Brasil, onde os campos naturais ofereceram o suporte para o
desenvolvimento desta atividade, em especial no Rio Grande do Sul. São poucas regiões no
mundo que apresentam uma diversidade de espécies campestres como as encontradas no
“Pampa Gaúcho da Campanha Meridional”.

As pastagens naturais ainda representam a base da exploração pecuária no subtrópico


brasileiro, somando 66% do total das áreas destinadas à pecuária. Esta participação é mais
importante no Rio Grande do Sul (RS) (91%), especialmente na região do Pampa Gaúcho da

12 1
Campanha Meridional. Os campos no RS ocupam uma área de aproximadamente 40% da área
total do estado, tendo a sua maior área concentrada junto à fronteira da Argentina e Uruguai.
A área delimitada para esta indicação geográfica intitulada “Pampa Gaúcho da Campanha
Meridional” encontra-se dentro da área de maior proporção de campos naturais preservados do
Brasil, um dos ecossistemas mais importantes do mundo, conforme Nabinger (1998).

O projeto da indicação geográfica começou a ser desenvolvido no início de 2005 e é de


responsabilidade da associação de criadores da região, a Associação de Produtores de Carne
do Pampa Gaúcho (Apropampa), Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul
(Farsul) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RS).
Recentemente, a Apropampa, Farsul e Sebrae/RS assinaram um protocolo de intenções com o
frigorífico Mercosul, que é um tradicional exportador da região.

Somente os rebanhos das raças Hereford ou Angus e suas cruzas podem buscar o selo de
certificação. Para isso, precisam ser criados em condições de pasto e solo específicas, além de
seguirem regras técnicas de produção, como a rastreabilidade. Atualmente, 40 pecuaristas
participam do projeto, mas a tendência é que o número aumente, uma vez que existem cerca
de 600 mil produtores na região que abrangem uma área de 500 (quinhentos) mil hectares. A
Carne dos Pampas irá abrigar rebanhos alimentados apenas com pastagens típicas da região -
mais fina e que se adapta bem às raças britânicas. O objetivo, explicam os organizadores do
projeto, é diferenciar a carne gaúcha daquela produzida no Centro-Oeste do País - quase toda
da raça Nelore.

5.4. Cachaça

A cachaça, indicação geográfica instituída pelo Decreto Presidencial nº 4.851/03, demonstra


lucros com as vendas internas e externas do produto assim como vantagens em sua
comercialização. Com o reconhecimento oficial o nome cachaça agora só pode ser usado nas
bebidas exportadas pelo Brasil; outros países não poderão mais comprar a bebida e a granel,
engarrafá-la e exportar cachaça do Brasil, como ocorria na Alemanha, por exemplo; enquanto
a bebida a granel vale em média 20 centavos de dólar o litro, uma garrafa de cachaça orgânica
custa cerca de 9 (nove) euros em mercados especializados na Europa.

Conforme os exemplos acima comprovam, os produtos nacionais identificados por indicações


geográficas passam a ser mais valorizados tanto no mercado interno como pelo externo,
ocasionando aumento de seu preço e de valor atrativo. Tendo em vista seu vasto território,
aliado a uma enorme diversidade cultural, não é difícil concluir que o Brasil não explora
adequadamente suas indicações geográficas. Isto se deve às poucas iniciativas até o momento
adotadas, tanto por parte do empresariado quanto dos órgãos de classe do governo, com o
intuito de se elaborar projetos que atendam aos requisitos de controle de produção e qualidade.
Uma atenta análise da pauta exportadora brasileira possibilita enumerar diversas alternativas
de indicações geográficas que a iniciativa conjunta das empresas privadas e dos órgãos
governamentais competentes pode promover. Tais possibilidades encontram-se de imediato
no agronegócio, por ser este um setor bastante estruturado e dotado de grande
competitividade, mas também nos produtos artesanais, por exemplo, e nos serviços, sendo tais

13 1
setores imprescindíveis na diferenciação das indicações geográficas brasileiras especialmente
na Europa, onde em geral só é admitida a indicação geográfica para produtos agrícolas,
alimentares e bebidas.

6. Conclusões

A agregação de valor econômico a produtos e serviços por meio da proteção da indicação


geográfica, especialmente quando associada a outras proteções, pode ser determinante para
estratégias de ampliação do mercado interno e de penetração em mercados estrangeiros.

Se há pouco tempo era pobre a experiência brasileira na gestão da indicação geográfica, hoje
se atesta movimentação relevante de setores governamentais e empresariais para análise do
tratamento do tema em outros países e regiões e para melhoramento da capacidade de proteção
no Brasil.

As indicações já concedidas no Brasil – Vale dos Vinhedos, Café do Cerrado, Pampa Gaúcho
da Campanha Meridional e Cachaça – parecem indicar uma trajetória particular para o Brasil,
com referência na experiência européia, porém permeada por especificidades cunhadas por
elementos culturais e de outras naturezas encontrados somente no País.

Outra perspectiva interessante é a brecha para colaboração regional com países da América
Latina que se encontram em estágios heterogêneos de capacitação, mas com potencial para se
integrar rumo a uma rede latinoamericana de proteção de indicações geográficas, posto que
são muitas as similaridades entre os países. Definir políticas e metas de proteção seriam
pontos interessantes de uma agenda comum.

A agregação de interesses, respeitadas as diferenças, facilitaria a inserção mundial dos


produtos e serviços do continente, além de possibilitar a defesa de certos interesses em
negociações multilaterais. A cooperação com regiões de uso intensivo da proteção da
indicação geográfica – Europa, em especial – é de caráter estratégico para o Brasil e para a
América Latina.

Tendo em vista a importância da disseminação do conceito de indicação geográfica entre os


produtores e a sociedade em geral para que se faça uso prático deste bem imaterial e que se
possa assim melhorar a produção, agregando valor e credibilidade a um produto ou serviço, o
INPI participa de maneira efetiva nas ações de disseminação e sensibilização do registro da
indicação geográfica, no sentido de despertar o interesse da sociedade para atuar como usuária
deste ativo da propriedade industrial. A pequena demanda de pedidos de registro de indicação
geográfica deve-se principalmente ao fato do pouco conhecimento, por parte da sociedade, da
indicação geográfica. Entretanto as ações que estão sendo promovidas pelo INPI e seus
parceiros, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), indicam movimento de

14 1
organização dos produtores, oriundas de várias regiões do país, no sentido de depositar seus
pedidos de registro de indicação geográfica.

Embora as indicações de procedência sejam ainda poucas no Brasil, esforços de melhoria de


qualidade, sinalizados ao consumidor e agentes de mercado por meio de selos de qualidade
têm vindo ganhar importância para os produtores brasileiros. Nesse sentido, mostra-se
fundamental a realização de uma análise aprofundada de produtos brasileiros, com fortes
potencialidades enquanto indicação geográfica, considerando não apenas produtos agro-
alimentares, como também, por exemplo, artesanato específico de uma determinada região ou
o serviços. O desenvolvimento e amadurecimento do modelo de indicações geográficas no
Brasil é, de fato, inevitável, mas dependerá em larga medida de um maior investimento em
recursos humanos, técnicos e financeiros por parte das instituições competentes.

Além dessas iniciativas de intervenção junto às instituições e organizações que atuam junto
aos possíveis beneficiários da indicação geográfica, tem sido desenvolvida uma outra vertente.
Desde março de 2007, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial do Brasil vem
ministrando um Mestrado Profissional em Inovação e Propriedade Intelectual, contemplando
uma disciplina e linha de pesquisa envolvendo a temática ora em discussão. Igualmente a
Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Fundação Oswaldo Cruz, por meio do novo
programa de pós-graduação Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento – área de
concentração Inovação, Propriedade Intelectual e Desenvolvimento-, criaram uma disciplina
sobre indicações geográficas, contribuindo para o incremento da pesquisa na área e na
formação de recursos humanos.

7. Bibliografia

7.1. Leis e Tratados

BRASIL. Lei nº 5.772, de 21 de dezembro de 1971. Institui o Código de Propriedade


Industrial e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil],
Brasília, 31 dezembro 1971.
BRASIL. Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos a
propriedade industrial. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 15 maio
1996.
BRASIL. Resolução INPI n° 075. Estabelece as condições para o registro das indicações
geográficas. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 28 novembro 2000.
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1883, as amended up to September 1979, WIPO Pub. No. 201.
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Registration of Marks; Regulations, WIPO Pub. No. 204, 2004.
International Bureau of WIPO, Lisbon Agreement for the Protection of Appellations of Origin
and their International Registration 1958, WIPO Pub. No. 264, January 1994.

15 1
International Bureau of WIPO, Agreement Between the World Intellectual Property
Organization and the World Trade Organization (1995); Agreement on Trade-Related
Aspects of Intellectual Property Rights (TRIPS Agreement) (1994), WIPO Pub. No. 223,
1997.
World Trade Organization. 2001. Doha Ministerial Declaration, 14 November 2001,
WT/MIN(01)/DEC/W/1. WTO, Geneva.

7.2. Literatura

Ayral, J. A indústria agroalimentar francesa, mimeo 2001.


Caldas, AS. Novos usos do teritório:as indicações goegráficas protegidas como unidades de
desenvolvimento regional. In Bahia Análise & Dados Salvador, v.14, n.3, p. 593-602, dez
2004. Brasil, 2004.
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Dannemann, Siemsen, Bigler & Ipanema Moreira. Comentários à Lei da Propriedade
Industrial e Correlatos. Renovar, 2001.
Derani, C. Patrimônio Genético e Conhecimento Tradicional Associado: Considerações
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Di Blasi, G, Garcia, MS e Mendes, PP. A Propriedade Industrial, Rio de Janeiro, Forense,
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Palestras em Produção e Manejo de Bovinos de corte. Canoas: ULBRA, 1998.
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Capacity Building Project on Intellectual Property Rights and Sustainable Development
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Storper, M. The regional world: territorial development in a global economy. NY: Guilford
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Sylvander, B. Le marché des produits biologiques et la demande. INRA-UREQUA, Le Mans,
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