Resumo
O objetivo do trabalho é discutir a relação entre as indicações geográficas e a competitividade
regional, e apresentar uma primeira avaliação da política brasileira de proteção às indicações
geográficas. Países em desenvolvimento como o Brasil abrigam características que exigem
tratamento local para a proteção e o gerenciamento das indicações geográficas. A mera
reprodução do modelo europeu não atende às necessidades dos principais usuários do sistema
(produtores rurais, empresários, pesquisadores, etc.). No Brasil um um modelo de indicação
geográfica deve levar em conta, além dos fatores que tipificam o local, o perfil dos produtos e
o vínculo entre esses produtos e as condições regionais. Por outro lado, é preciso compreender
melhor a estratégia adotada por países da Europa de valorização de territórios como espaço de
produção diferenciada e como instrumento de valorização dos seus produtos no mercado
europeu e no mercado internacional. Outros países da América Latina (Argentina, Chile)
também vêm desenvolvendo modelos, aparentemente exitosos, de criação e proteção de
indicações geográficas. Compreender as atuações européia e latino-americana é fundamental
para aprimorar o modelo brasileiro, que está dando os primeiros passos nos últimos anos,
inclusive nos aspectos de cooperação entre países e impacto nos acordos de comércio.
A proteção das indicações geográficas é estratégica para o Brasil, país com grande variedade
de territórios com potencial para produzir produtos com identidade própria e para ocupar
espaços em mercados cada vez mais exigentes em termos de produtos de qualidade e de
personalidade. No Brasil, embora a indicação geográfica seja valorizada pelos consumidores
de maior renda em produtos importados, é desconhecida tanto pelos produtores e comerciantes
quanto pela maioria dos consumidores, carecendo, portanto, de disseminação de seus
conceitos básicos e dos benefícios agregados aos produtos e aos serviços.
A Europa, em sua história antiga e atual, tem utilizado as indicações geográficas como uma
importante ferramenta de valorização de seus produtos tradicionais. Mais recentemente é nas
economias de nações emergentes, como Índia e China, por exemplo, que está o
reconhecimento expressivo de novas indicações, apresentando ao mundo um conjunto de
produtos tradicionais, sob a égide da garantia da procedência, à qual se associa uma
“qualidade original”.
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adquiriam o produto em barril antes da safra; os consumidores tampouco podiam prová-lo
quando já eram engarrafados). Este fenômeno teve início com os vinhos, nos quais o efeito
dos fatores naturais era mais evidente. Quando se escolhem produtos de proveniência com
origem garantida, é normal que se disponha de um valor superior ao preço médio praticado
pelo mercado, tendo em vista a confiança adquirida com o controle das características
inerentes ao artigo, durante décadas de comercialização. Mesmo quando o preço não é
significativamente superior, a indicação geográfica pode ser relevante na disputa da fatia do
mercado com outros produtos similares, como estratégia de diferenciação voltada para a
fidelização de um grupo de consumidores.
A relação entre o consumo e a origem geográfica do produto não se dá apenas por questões
afetivas, mas especialmente pela confiança na estabilidade dos padrões de qualidade. Na
indústria agro-alimentar, os setores artesanais e as pequenas empresas formulam estratégias de
posicionamento baseadas, em parte, na defesa da qualidade e na tipicidade de seus produtos,
em relação aos produtos fabricados em larga escala.
2. Marco Regulatório
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A propriedade intelectual tem como objetivo proteger os produtos da criatividade e
inventividade humana, e por isto associa as diversas modalidades de proteção a manifestações
desta criatividade: inovação tecnológica e patente; de visual novo e original ao desenho
industrial; distintividade às marcas e assim por diante. A indicação geográfica exige um
processo de criatividade institucional e a demanda de capacidades inovadoras é substituída por
métodos inovadores de organização e produção em seus territórios "to make a technical and
organizational innovation compatible with a traditional practise" (Sylvander, 1998),
compondo a modernidade necessária dos produtos com denominação de origem protegida sem
ameaçar a tradição nem "the technological memory of the product" (Casabiance e Sainte
Marie, 1997 apud Sylvander, 1998).
É da racionalidade endógena e diferenciada de atores coletivos ligados uns aos outros por suas
próprias convenções, cuja base é freqüentemente local, que emergem os sistemas produtivos
mais dinâmicos, os que se caracterizam pelas inovações (Storper, 1997). Ao delimitar as
regiões, condições técnica e know-how específico da população, acaba-se por excluir alguns
agentes do sistema, na medida em que o modelo de indicações geográficas induz no sentido de
consolidação de um monopólio. Ayral (2001) indica que esta certificação consiste num direito
de propriedade intelectual.
Nesse contexto, surgiram tratados e acordos internacionais, além de legislações nacionais, para
a proteção das indicações geográficas através dos direitos da propriedade intelectual.
Naturalmente, países europeus, com tradições de longa data e produção artesanal
geograficamente diferenciada, tendem a proteger mais suas indicações geográficas do que
países do Novo Mundo, como os EUA, em que as tradições culturais refletem apenas poucas
centenas de anos, e os sentidos de variação cultural local que suporta a especialização regional
são mais tênues (Dias, 2005).
1 A OMPI é uma agência especializada das Nações Unidas para a promoção internacional da proteção à propriedade
intelectual e que administra vários acordos internacionais relacionados à indicação geográfica.
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per se, mas apenas quando tal uso ocorresse com o uso de um nome de marca falsa. Verificou-
se então a necessidade de normas mais eficazes de proteção da indicação geográfica.
A CUP prevenia apenas a importação de bens com indicações que induzissem o público a erro
quanto à natureza do bem. O Acordo de Madrid sobre Indicações de Origem institui normas
mais consistentes, embora sem ainda abordar especificamente um conceito de denominação de
origem. Esse Acordo define mecanismos de prevenção de uso das falsas denominações de
origem proibindo suas falsas representações num produto, e proibindo ainda seus membros
signatários de tratarem a denominação de origem dos vinhos como termos genéricos (art. 1.1).
O Acordo de Lisboa disponibiliza definições mais restritas e nível de proteção mais elevado,
mas tem influência ainda mais limitada pelo número restrito de membros aderidos, que são
apenas vinte e seis. Até 2002 havia 835 denominações de origem registradas sob este Acordo,
estando em vigência 766 (WIPO, 2002). Prevê maior proteção para as indicações geográficas
através de sistema internacional de registro (Registro Internacional da WIPO) após a proteção
em seu país de origem. Após o registro, é automaticamente considerada protegida nos demais
países membros. O artigo 3º estabelece a proibição do uso enganoso da denominação de
origem protegida, usurpação ou imitação ainda que ressalvada a origem do produto,
acompanhada de termos como “tipo”, “estilo”, “imitação” ou similares. Deve-se ressaltar que
apenas doze membros do Acordo de Lisboa têm denominação de origem protegidas pelo
registro internacional e que a Europa concentra 95% dos registros, com a França concentrando
66,3% dos registros para produtos como vinhos, bebidas espirituosas e queijos. A República
Checa lidera água mineral, cervejas, malte e produtos ornamentais e Cuba detém a
exclusividade dos charutos.
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O Acordo Trips é parte do Acordo de Marrakesh no âmbito da Organização Mundial do
Comércio (OMC), em vigor desde 1995 e acabou por ter uma importância fundamental ao
estabelecer um padrão mínimo internacional de proteção para as indicações geográficas.
Inexiste no Trips qualquer obrigatoriedade de se utilizar um nome geográfico direto, devendo
a indicação identificar um bem, que pode ser uma palavra, um ícone, um símbolo ou um
emblema, sendo permitidas indicações não geográficas, mas que são utilizadas para bens
originados numa região específica. É também permitido, por este Acordo, que uma indicação
geográfica realce características específicas de um produto devidas a fatores humanos ou a
habilidades específicas ou tradições, ou a prestação de serviços. Trips não especifica o meio
legal de proteção das indicações geográficas, deixando a decisão a cargo dos membros, que
deverão escolher a melhor forma de proteger as suas indicações geográficas, desde que
previnam o uso falso ou enganoso, conforme estabelecido em seu Artigo 22.2.
A partir dos anos de 1970, a Europa adotou um sistema de qualificação e etiquetação de seus
territórios, visando a relacionar o produto ao território produtor e aos produtores responsáveis
pelo processo de elaboração, identificados por características semelhantes utilizadas em seus
processos de produção. O exemplo mais clássico de um sistema de indicações geográficas é
aquele que diz respeito ao mundo dos vinhos. A União Européia é, tradicionalmente, a maior
produtora de vinhos de qualidade, e usa a indicação geográfica como arma importante para
defender seu produto do ataque de novos produtores que emergem em todos os continentes.
A partir principalmente dos anos 70, a então Comunidade Européia implementou esse sistema
com o objetivo de sistematizar, organizar, padronizar, comercializar e promover os vinhos
produzidos sob o sistema de indicações geográficas: aqueles do Porto e de Dão (Portugal), de
Bordeaux, Provença e da Champagne (França – appellation d’origine controleé, de La Rioja,
Ribera Del Douro, Ribeiro (Espanha – denominación de origen), do Sarre, da Mosela e
Franken (Alemanha – Gebiet), da Sicília, Puglia, Toscana (Itália – denominazione controllata)
entre outras.
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No México, a tequila é o melhor exemplo para ilustrar uma indicação geográfica de uma
bebida alcoólica obtida de uma espécie agrícola produzida numa limitada zona no México, a
agave azul (tequiliana variedad Weber). A proteção ocorre desde 1974 e se vincula à
indicação geográfica “Tequila”.
Mediante uma lei de 4 de março de 1992, a Republica da Bolívia autoriza o uso da indicação
geográfica apenas ao Singani, um produto legítimo e exclusivo da produção agroindustrial
boliviana. Trata-se de uma aguardente produzida pela destilação de vinhos de uva moscatel
fresca, produzida, destilada e engarrafada nas zonas de produção de origem da região de
Potosi. Em novembro de 2000, a República da Venezuela, através da resolución nº 206, de 14
de novembro, reconhece Chuao como indicação geográfica do cacau proveniente da zona de
Chuao, um dos primeiros povoados fundados na Venezuela, na metade do século VXI, onde
foi instalada uma fazenda de cacau em 1568, pertencente à família Caribe.
A Lei Brasileira da Propriedade Industrial (Lei 9279/96) (LPI) define um gênero de indicação
geográfica que consiste de duas espécies: indicação de procedência e denominação de origem.
Define-se indicação de procedência como todo nome geográfico de país, cidade, região ou
localidade de seu território que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção
ou fabricação de determinado produto ou prestação de determinado serviço. Quando esses
mesmos nomes designam produtos ou serviços cujas qualidades ou características se devam
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exclusivamente ou essencialmente ao meio geográfico, incluindo fatores naturais e humanos,
são classificados como denominações de origem.
Curiosamente a LPI é mais restritiva que o Trips quando exige que a indicação geográfica seja
o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de um território, o que não se obriga
no Trips. Essa disposição da LPI tem gerado conflitos em relação ao registro no Brasil de
indicações geográficas estrangeiras, que, na maioria das vezes, têm o registro em seus países
de origem com o nome do produto, como é o caso de Prosciutto de Parma, reconhecido na
Itália com essa denominação, e que não está em consonância com a LPI. Outro aspecto
peculiar da LPI está na proteção para prestação de serviços (arts. 177 e 178). Esta inclusão de
serviços na legislação não é isenta de controvérsias, já que a associação ao território parece
depender de fatores humanos. Talvez apenas com uma definição bastante precisa das
características do serviço em causa associadas à origem geográfica seria possível conceder a
proteção pleiteada.
Com base no Artigo 1.1 do Trips, do qual o Brasil é signatário, o país optou por adotar a
obrigatoriedade do registro para a proteção das indicações geográficas. Assim, o Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI), amparado pelo parágrafo único do Artigo 182 da
Lei 9279/96, estabeleceu as condições de registro das indicações geográficas na Resolução Nº
075 de 28/11/00. O Artigo 8º da Resolução referenciada estabelece: “No caso de pedido de
registro de nome geográfico já reconhecido como indicação geográfica no seu país de origem
ou por entidades/organismos internacionais competentes, fica dispensada a apresentação dos
documentos de que tratam os arts. 6º e 7º apenas relativamente aos dados que constem do
documento oficial que reconheceu a indicação geográfica, o qual deverá ser apresentado em
cópia oficial, acompanhado de tradução juramentada”, ficando clara a necessidade, para o caso
de indicações geográficas estrangeiras já reconhecidas em seu país de origem e que desejem
essa proteção no Brasil, de registro no INPI.
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A proteção às indicações geográficas está, portanto, sob a égide dos direitos da propriedade
industrial ao lado da proteção a institutos como patentes, marcas e desenhos industriais.
Assim, as indicações geográficas podem ser registradas no INPI, mas ressalte-se que, por ter
natureza declaratória (artigo 1º, parágrafo único da Resolução INPI º 75/00), a proteção às
indicações geográficas pode prescindir de registro. Tal fato, porém impede o reconhecimento
da indicação geográfica no âmbito do Trips, conforme estabelecido em seu artigo 24.9, e
conseqüentemente, nos países membros deste Acordo da OMC. A inexistência de registro
também pode dificultar a comprovação da indicação geográfica, uma vez que ela, ao contrário
das marcas, é identificada e desenvolvida e não criada, sendo que seu reconhecimento
dependerá substancialmente da percepção do público consumidor (Correa, 2002). Além disso,
a inexistência de instrumentos reguladores estabelecendo os aspectos de produção, controle e
comercialização que devem ser observados pelos produtores assim como de entidade que faça
a gestão, manutenção e preservação das atividades ligadas à indicação geográfica podem
comprometer sua comprovação, que neste caso, provavelmente só poderá ser efetuada por
meios judiciais.
Nota-se que, no CPI, exigia-se que a região fosse “notoriamente conhecida”, disposição
mudada na legislação atual para apenas “conhecida”, o que se revela muito mais apropriado
considerando a extensão continental do país e os diferentes níveis de desenvolvimento dos
diversos estados brasileiros que constituem a União Federal. Dessa forma a demonstração do
fato da “região ser conhecida” é mais viável, e estimula o registro das indicações geográficas.
A definição da denominação de origem está no Artigo 178, que estabelece: Art. 178 -
Considera-se denominação de origem o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade
de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam
exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.
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Na denominação de origem os fatores naturais e humanos da região necessariamente influem
na qualidade ou nas características do produto ou serviço. Entendem-se fatores naturais
como sendo os componentes climáticos, geológicos, pedológicos, as variedades vegetais
utilizadas, entre outros; que seja uma característica exclusiva da região que permita delimitar
uma área de produção. Os fatores humanos são aqueles imprescindíveis à confecção do
produto que tem o benefício da indicação geografia: é o notório saber fazer relacionados aos
métodos de produção ou tratamento da terra, de vinificação, entre outros.
Até o momento existem três indicações geográficas locais reconhecidas no Brasil, além do
caso da cachaça, que foi regulamentado por Decreto. A primeira indicação geográfica
brasileira reconhecida pelo INPI é o “Vale dos Vinhedos” na espécie indicação de procedência
para vinhos tintos, brandos e espumantes, registro nº IG 200002, concedida em 22 de
novembro de 2002.
O legado histórico e cultural deixado pelos imigrantes italianos está enraizado nas pessoas,
seus costumes e, até mesmo, na paisagem do Vale dos Vinhedos. A construção de capelas, a
devoção aos santos, o dialeto vêneto e, principalmente, o cultivo da videira e a produção do
vinho são marcas da imigração. Sendo o vinho um elemento tradicional de sua cultura, os
italianos trouxeram as mudas de videiras quando para cá vieram. Até, aproximadamente, a
década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua
produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam
destinava-se ao consumo familiar. Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho
entrou em queda e, conseqüentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram
então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim
possibilidade de aumento nos lucros.
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Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos
produtores do Vale. Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação
Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de
Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Com o tempo, as funções da associação
ampliaram-se e, conseqüentemente, expandiram os objetivos, que passaram a incluir: (i) ao
desenvolvimento e incentivo à pesquisa vitivinícola, assim como a qualificação do produto
vinícola e seus derivados; (ii) o desenvolvimento de ações que promovam a organização e
preservação do espaço físico do Vale dos Vinhedos, promovendo estudos e agindo junto às
autoridades competentes para a elaboração de Leis adequadas ao atendimento deste objetivo;
(iii) o estímulo e a promoção do potencial turístico da região, bem como o aprimoramento
sócio cultural dos associados, seus familiares e da comunidade; e (iv) a preservação e proteção
à indicação geográfica dos vinhos da região Vale dos Vinhedos. Atualmente, a Aprovale
conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados.
O Vale dos Vinhedos, localizado entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte
Belo do Sul, é a primeira região do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos,
exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas.
Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos
Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma
Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência,
passando primeiro por uma Indicação de Procedência.
A conquista da IPVV tornou-se garantia de origem com qualidade do Vale dos Vinhedos. Este
título traz enormes vantagens para o viticultor e vinicultor, especialmente para os
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consumidores e visitantes do Vale, que encontram na região uma infra-estrutura de
atendimento, respeito à natureza e às características dos valores sociais que determinam a
essência do produto VINHO, fruto da cultura familiar e razão da autenticidade do povo
descendente de imigrantes italianos. O visitante encontra, ainda, uma forte atividade
relacionada ao enogastroturismo. Com a IPVV o mercado ganha um produto de maior valor
agregado, gerando confiança ao consumidor que sabe que vai encontrar vinhos e espumantes
de qualidade com características regionais.
O café foi introduzido no Brasil na primeira metade do século XVIII, originário de plantações
na América Central e na Guiana Francesa, e é hoje considerada bebida universal. A
cafeicultura brasileira desenvolveu-se no século XIX, ganhando primazia entre as culturas de
exportação no país, acabando por superar o açúcar, ao ponto de inspirar políticas
governamentais nas primeiras décadas do século XX (Luna Filho, s/d). Atualmente o Brasil
responde por cerca de 27% da produção mundial, tendo produzido cerca de 27,49 milhões de
sacas de café, na safra 2000/2001. Minas Gerais é o mais importante estado produtor de café
do Brasil, com mais de 50% da produção total.
A região do cerrado mineiro compreende 55 municípios, com 147 mil hectares de cafezais.
Com temperatura média favorável, de 18 a 22 gruas celsius, estações bem definidas, com
verão quente e chuvosos e inverno ameno e seco, baixa umidade relativa do ar e abundância
de sol no período das colheitas, a região reúne condições privilegiadas para que os grãos
absorvam e retenham o aroma e sabor distintivos de um café com padrão diferenciado de
qualidade. Assim, segundo Ormond et al (1999), uma das principais vantagens da região do
cerrado para a produção do café são as condições geo-climáticas.
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A acirrada concorrência internacional e o fato do café exportado em grãos ter características
de commodity, exigem o desenvolvimento de estratégias comerciais e mercadológicas para
diferenciar o produto brasileiro, valorizando a notoriedade histórica do Brasil, enquanto
tradicional produtor.
Com a desregulamentação do mercado cafeeiro nos anos 90, o setor cafeeiro enfrentou sérias
dificuldades no Brasil, assistindo à queda dos preços e a problemas de financiamento. Foi
pensada então estratégia de diferenciação pela origem e pela qualidade, transformando as
vantagens comparativas do Café do Cerrado em efetivas vantagens competitivas, o que
resultou na criação do Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (CACCER) no
final de 1992, com o objetivo de gerir o marketing do café do cerrado, funcionar como canal
político de representação e prestar aos associados orientações em todos os aspectos do seu
agronegócio.
A região do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional está situada no sul do Brasil, no Estado
da Rio Grande do Sul, na divisa com o Uruguai. Região de clima temperado, com
temperaturas médias de 18°C, formada por basicamente por coxilhas (relevo plano, levemente
ondulado) onde se situam os campos de produção pecuária e por várzeas que se caracterizam
por áreas baixas e úmidas. A região sul do Brasil tem, na pecuária, uma tradição que teve
início com a colonização do Brasil, onde os campos naturais ofereceram o suporte para o
desenvolvimento desta atividade, em especial no Rio Grande do Sul. São poucas regiões no
mundo que apresentam uma diversidade de espécies campestres como as encontradas no
“Pampa Gaúcho da Campanha Meridional”.
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Campanha Meridional. Os campos no RS ocupam uma área de aproximadamente 40% da área
total do estado, tendo a sua maior área concentrada junto à fronteira da Argentina e Uruguai.
A área delimitada para esta indicação geográfica intitulada “Pampa Gaúcho da Campanha
Meridional” encontra-se dentro da área de maior proporção de campos naturais preservados do
Brasil, um dos ecossistemas mais importantes do mundo, conforme Nabinger (1998).
Somente os rebanhos das raças Hereford ou Angus e suas cruzas podem buscar o selo de
certificação. Para isso, precisam ser criados em condições de pasto e solo específicas, além de
seguirem regras técnicas de produção, como a rastreabilidade. Atualmente, 40 pecuaristas
participam do projeto, mas a tendência é que o número aumente, uma vez que existem cerca
de 600 mil produtores na região que abrangem uma área de 500 (quinhentos) mil hectares. A
Carne dos Pampas irá abrigar rebanhos alimentados apenas com pastagens típicas da região -
mais fina e que se adapta bem às raças britânicas. O objetivo, explicam os organizadores do
projeto, é diferenciar a carne gaúcha daquela produzida no Centro-Oeste do País - quase toda
da raça Nelore.
5.4. Cachaça
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setores imprescindíveis na diferenciação das indicações geográficas brasileiras especialmente
na Europa, onde em geral só é admitida a indicação geográfica para produtos agrícolas,
alimentares e bebidas.
6. Conclusões
Se há pouco tempo era pobre a experiência brasileira na gestão da indicação geográfica, hoje
se atesta movimentação relevante de setores governamentais e empresariais para análise do
tratamento do tema em outros países e regiões e para melhoramento da capacidade de proteção
no Brasil.
As indicações já concedidas no Brasil – Vale dos Vinhedos, Café do Cerrado, Pampa Gaúcho
da Campanha Meridional e Cachaça – parecem indicar uma trajetória particular para o Brasil,
com referência na experiência européia, porém permeada por especificidades cunhadas por
elementos culturais e de outras naturezas encontrados somente no País.
Outra perspectiva interessante é a brecha para colaboração regional com países da América
Latina que se encontram em estágios heterogêneos de capacitação, mas com potencial para se
integrar rumo a uma rede latinoamericana de proteção de indicações geográficas, posto que
são muitas as similaridades entre os países. Definir políticas e metas de proteção seriam
pontos interessantes de uma agenda comum.
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organização dos produtores, oriundas de várias regiões do país, no sentido de depositar seus
pedidos de registro de indicação geográfica.
Além dessas iniciativas de intervenção junto às instituições e organizações que atuam junto
aos possíveis beneficiários da indicação geográfica, tem sido desenvolvida uma outra vertente.
Desde março de 2007, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial do Brasil vem
ministrando um Mestrado Profissional em Inovação e Propriedade Intelectual, contemplando
uma disciplina e linha de pesquisa envolvendo a temática ora em discussão. Igualmente a
Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Fundação Oswaldo Cruz, por meio do novo
programa de pós-graduação Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento – área de
concentração Inovação, Propriedade Intelectual e Desenvolvimento-, criaram uma disciplina
sobre indicações geográficas, contribuindo para o incremento da pesquisa na área e na
formação de recursos humanos.
7. Bibliografia
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International Bureau of WIPO, Agreement Between the World Intellectual Property
Organization and the World Trade Organization (1995); Agreement on Trade-Related
Aspects of Intellectual Property Rights (TRIPS Agreement) (1994), WIPO Pub. No. 223,
1997.
World Trade Organization. 2001. Doha Ministerial Declaration, 14 November 2001,
WT/MIN(01)/DEC/W/1. WTO, Geneva.
7.2. Literatura
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