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estudos

FEBRAFARMA

Luiz Affonso Neiva Romano

Intervenção e
Regulação no Brasil
A Indústria Farmacêutica
estudosFEBRAFARMA
A coleção "Estudos Febrafarma" é composta por uma
série de publicações que abordam temas da indústria
farmacêutica, de interesse do setor, da sociedade e do
governo. A série editada pela Federação Brasileira da
Indústria Farmacêutica – entidade que representa 267
fabricantes farmacêuticos – apresenta pesquisas,
estudos e teses, que tratam as questões mais atuais
do segmento com responsabilidade, desenvolvidas
por economistas, advogados e outros profissionais.
Esse é mais um passo para a Febrafarma estabelecer
um diálogo construtivo e permanente com a sociedade
e autoridades governamentais responsáveis pela área
de saúde, objetivando encontrar soluções para temas
de interesse da indústria farmacêutica.

www.febrafarma.org.br
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Luiz Affonso Neiva Romano
com a colaboração de Bernd Freundt e
Fernando Meirelles Mendes

Intervenção e
Regulação no Brasil
A Indústria Farmacêutica
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Romano, Luiz Affonso Neiva


Intervenção e regulação no Brasil: a indústria
farmacêutica / Luiz Affonso Romano; [com a colaboração
de Bernd Freundt e Fernando Meirelles Mendes]. --
São Paulo: Febrafarma - Federação Brasileira da Indústria
Farmacêutica, 2005. -- (Estudos Febrafarma)
Bibliografia.

1. Indústria e Estado - Brasil 2. Indústria farmacêutica -


Preços - Política governamental - Brasil 3. Intervenção
(Governo Federal) - Brasil 4. Medicamentos - Preços -
Política governamental - Brasil 5. Preços - Regulação - Brasil
I. Freundt, Bernd. II. Mendes, Fernando Meirelles. III. Título.
IV. Série.

05-3801 CDD-338.5260981

Índices para catálogo sistemático:


1. Brasil: Indústria farmacêutica: Preços:
Intervenção e regulação governamental:
Economia 338.5260981
2. Brasil: Medicamentos: Preços:
Intervenção e regulação governamental:
Economia 338.5260981
Fundação Biblioteca Nacional
Agradecimentos

A Fernando M. Mendes, companheiro de COFAP, SUNAB e de consultoria,


que me impôs a síntese na elaboração do trabalho; a Bernd Freundt, por ter
assumido a responsabilidade de desenvolver o "controle" na área internacional;
a Paulo Jacobsen e Flávio Vianna, que, por suas vastas experiências, ouvindo
pacientemente minhas "incertezas" muito contribuíram ajudando-me a dis-
sipá-las, e a Cláudia Muniz, pelo empenho do trabalho de secretariado.
Da possibilidade de registrar por escrito seis décadas de experiência, no
Brasil, do controle de preços, resultou o estudo realizado pelo autor deste tra-
balho, com recorrência também à área internacional, e apenas concretizou-se
pela visão da Febrafarma de manter viva a memória do tema. Agradeço a toda
equipe da Febrafarma pelo apoio recebido, ressaltando os nomes de Luiz
Antonio Diório e Dan Gedankien, que, compreendendo a complexidade de
elaboração, aguardaram pacientemente sua conclusão.
A Ciro Mortella, presidente da Febrafarma, nosso agradecimento especial
por tornar realidade este livro.

Luiz Affonso Romano


índice

Introdução 7
1940 a 1962 – CCME, CCP e COFAP 9
1962 a 1997 – SUNAB – Leis Delegadas 11
1965 – CONEP 13
1966 – CONEP 15
Outubro de 1966 a Dezembro de 1967 – CONEP 18
1967 e 1968 – CONEP 21
1968 a 1974 – CIP 23
1974 a 1979 – CIP 27
1979 a 1983 – CIP 31
1983 – CIP 33
1984 – CIP 35
1985 e 1986 – CIP 37
1986 – Do Plano Cruzado I 39
1987 – Do Plano Cruzado II – Flexibilização 41
1987 – CIP Pré-Plano Bresser 44
1987 – Do Plano Bresser 45
1987 – Da Flexibilização do Plano Bresser 47
1989 – Do Plano Maílson – Verão 50
1989 – Da Flexibilização – Maílson 51
1989 a 1990 – Dos Reajustes Automáticos 52
1990 – Do Plano Collor I – Brasil Novo 54
1991 – Do Plano Collor II 57
1991 – Da Nova Sistemática – Collor 59
1992 a 1994 – Da Liberação Prolongada 64
1994 – Do Pré-Plano Real (URV) 65
1994 – Do Plano Real 66
1997 a 1999 – Da Continuidade do Plano Real 67
2000 – Do Protocolo de Intenções 68
2000 a 2002 – Da Regulação dos Preços CAMED 69
2003 – Janeiro a Maio – Do Protocolo de Intenções 70
2003 até os Dias Atuais – Da CMED 71
2003 a 2005 – Dos Reajustes de Preços no Atual Governo 77
Da Análise do Controle de Preços em Outros Países 79
Considerações Finais 85
Conclusão 88
Anexo I – As Moedas no Brasil Durante o Período Abordado 90
Anexo II – Resumo das Fases de Controle de Preços na
Indústria Farmacêutica no Brasil 91
Anexo III – Gráfico IGP 1944 a 2004 101
Anexo IV – Estímulos 102
Anexo V – Infrações 104
Anexo VI – Fiscalização 107
Anexo VII – Sanções 108
Anexo VIII – Referências Bibliográficas 111
Introdução

TRATA-SE O PRESENTE TRABALHO de uma retrospectiva da evolução histórica


do controle de preços, com ênfase no setor farmacêutico, desde a sua implantação
formal no Brasil, na década de 40, até os dias atuais. Aborda também os diversos
tipos de intervenção adotados em outros países.
Historicamente os registros de controle de preços remontam à antiguidade,
quando foram utilizados com maior ou menor intensidades. No Código de
Hamurábi, de aproximadamente 3.800 anos atrás, o mecanismo já era aplicado.
Na Suméria, cerca de 400 anos antes, Urukagina já tratava da questão elimi-
nando da regulação os excessos. O Egito antigo, a Grécia e a Roma clássicas o
adotaram, ressaltando-se, por exemplo, as posturas do edito de Diocleciano,
que, simplesmente, condenava à morte quem violasse as regras controladoras.
Esse tipo de situação ocorreu em diversos países ocidentais, levando por
vezes a extremos, como aqui, no Brasil, onde empresários foram conduzidos à
prisão e sofreram execração pública.
Os séculos se passaram, mas os exemplos de controle de preços são recor-
rentes, como nos EUA, no pós-Segunda Guerra Mundial, quando o controle de
preços e salários foi exercido.
É bom lembrar que toda vez que os governantes determinaram o congela-
mento total de preços e salários fizeram-no em momentos de crises e visaram
deter o processo inflacionário.
Nos dias atuais a justificativa para o controle de preços no setor farmacêu-
tico não está amparada nos argumentos acima citados, mas no combate à pos-
sibilidade de uso do poder de mercado, objetivando a ampliação do acesso à
aquisição de medicamentos pelo consumidor. O que veremos a seguir.

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Luiz Affonso Neiva Romano

[ 8 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1940 a 1962 – CCME, CCP e COFAP

DO INÍCIO...

O controle de preços iniciou-se, no Brasil, de forma sistemática, por ocasião


da Segunda Guerra Mundial, durante o Estado Novo, no governo Getulio
Vargas, embora já existisse desde o Império como forma de controle indireto
das concessionárias de serviço público.
Na década de 30, a economia brasileira era fortemente vinculada às impor-
tações, principalmente quanto a trigo e petróleo. Em razão da importância dessas
commodities, foi criado, nos anos 40, o controle de abastecimento exercido pela
Comissão Coordenadora da Mobilização Econômica (CCME), a qual instituiu o
regime de quotas e cupons para a aquisição de leite, pão e outros gêneros essenciais.
Posteriormente, terminada a guerra, foi criada a Comissão Central de
Preços (CCP), que substituiu a CCME.
Já na vigência da Constituição Federal de 1946, restabelecida a democracia,
entrou em vigor, no governo Getulio Vargas, a Lei de nº 1.521, de 1951, que
definiu as contravenções e os crimes contra a economia popular. Algumas
dessas transgressões foram declaradas crimes. Essa lei dispunha ainda que tais
crimes seriam objeto de julgamento por júri popular, composto por um juiz e
20 jurados sorteados dentre eleitores de cada zona eleitoral.
Concomitantemente, foram criadas – pela Lei de nº 1.552, de 1951 – a
Comissão Federal de Abastecimento e Preços (COFAP), órgão que teve existência
com prazo determinado, e suas projeções estaduais (COAPs) e municipais
(COMAPs), encarregadas de controlar o abastecimento e os preços.1
A COFAP e suas projeções estaduais e municipais tiveram existência
até a implantação do Sistema Parlamentarista de Governo, quando, em
26/9/1962, foram editadas as Leis-Delegadas nos 4 e 5.

Dos Preços

Na era COFAP, os preços foram fixados por portarias do seu presidente em


valores determinados, ou por aplicação de uma fórmula denominada CLD
(custo, lucro e despesas).
1
Em 10/9/1962, foi criado o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica –, órgão vinculado ao
Conselho de Ministros, com a incumbência de apurar e definir os abusos do poder econômico, e que, pela Lei
8.884, de 11/6/1994, transformou-se em autarquia vinculada ao Ministério da Justiça.

estudosFEBRAFARMA [ 9 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

a) Tabelados

Os preços administrados pela COFAP eram tabelados para o setor produtivo,


para o comercial, tanto no atacado como no varejo, e para o de prestação de serviços.

Exemplos de produtos e serviços:

• pão;

• leite;

• carne; e

• lavanderia (tinturaria).

b) Sujeitos à Aplicação da CLD


A CLD era a fórmula para se estabelecer o preço máximo de venda de um
bem. Seus componentes compreendiam:

CUSTO – correspondia ao preço constante da nota fiscal de compra da


mercadoria, dele excluída a parcela referente ao imposto de consumo, que era
considerado despesa;

LUCRO – margem percentual dada ao comerciante como contraprestação


pela sua mediação e incidente sobre o custo da mercadoria; e

DESPESAS – parcelas adicionadas por último, e devidamente compro-


vadas: armazenagem; transporte ou carreto (se efetuados pelo próprio comer-
ciante não poderiam ser levados à conta de despesas); impostos de vendas e
consignação e de consumo.

Exemplos de produtos sujeitos à CLD:

• cimento comum;

• óleos comestíveis; e

• medicamentos.

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INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1962 a 1997 – SUNAB – Leis Delegadas

Da Criação da SUNAB

A Lei Delegada de nº 5, de 1962, editada durante o sistema parlamentar de


governo, criou a Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB),
extinta em junho de 1997, órgão encarregado da aplicação da Lei de nº 4/62,
que instituiu as normas e definiu as infrações concernentes ao controle do
abastecimento e dos preços.

Dos Produtos Farmacêuticos

Coube à SUNAB, por meio de seu Departamento de Educação e Assistência


Alimentar (DEAL), dar início ao controle sistemático dos preços dos medicamentos.
Os produtos constantes da Relação de Produtos Químicos Farmacêuticos
Essenciais eram controlados e os demais – "não essenciais" – tinham o preço
liberado, na fase industrial.

Dos Preços dos Produtos Farmacêuticos

Os preços eram sujeitos à homologação, e as indústrias, para praticarem o


preço solicitado, apresentavam estrutura de custos à SUNAB, acompanhada da
licença de fabricação fornecida pelo Serviço Nacional de Fiscalização de
Medicina e Farmácia (SNFMF).

Do Preço Máximo de Venda ao Consumidor

Na fase de controle dos preços pela SUNAB, ocorreu a transformação do


Preço FOB Fábrica em Preço Nacional com o objetivo de assegurar ao consu-
midor de menor poder de compra a aquisição do medicamento por preço
uniforme em todo o território nacional, mesmo nos locais mais distantes dos
centros de produção.
Os preços eram aprovados indicando o Preço Máximo de Venda ao
Consumidor.

estudosFEBRAFARMA [ 11 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos Medicamentos Essenciais

As farmácias ficavam obrigadas a manter à disposição dos consumidores os


medicamentos essenciais. Quando estes não estavam disponíveis, tornava-se
obrigatória a comprovação do pedido feito às indústrias, sob pena de autuação.

Da Impressão e dos Registros de Preços

Os preços eram visualizados por impressão na embalagem ou por uso de


etiqueta, obrigação que se estendia ao comércio nas embalagens encontradas
nos estoques.
As entidades de classe eram obrigadas a manter o registro dos preços dos
medicamentos e a encaminhá-los à SUNAB.
Quando oferecidas em embalagens coletivas ou múltiplas e destinadas à
venda fracionada, a obrigatoriedade do fabricante era marcar o preço na emba-
lagem principal, na unidade e na fração.

Das Formas de Intervenção e de Desapropriação

A intervenção é a atuação do Estado na economia, e a desapropriação é uma


das formas dessa intervenção, que consiste na apropriação de um bem ou serviço
pelo Estado mediante o depósito prévio do valor do bem. Ao expropriado não
cabe discutir o mérito, só o valor.
A intervenção se dava, também, na compra, no armazenamento, na distri-
buição e na venda de, entre outros produtos:

• medicamentos;

• cimento; e

• produtos e materiais indispensáveis à produção de bens de consumo popular.

Era permitida, ainda, a desapropriação de mercadorias e serviços, bem


como a regulação, em todo o território nacional, da circulação e da distribuição
dos bens e a fixação de preços.

[ 12 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1965 – CONEP

FACE AO PROCESSO explosivo da inflação, decidiu o governo combatê-la,


procedendo à primeira intervenção abrangente e sistemática nas áreas indus-
trial, comercial e de serviços.
A SUNAB foi quem deu origem à Comissão Nacional de Estímulo à
Estabilização de Preços (CONEP), criada pela Portaria Interministerial de
nº GB 71/65, baixada pelos ministros da Fazenda, da Indústria e Comércio, do
Planejamento e Coordenação Econômica e pelo Conselho da Superintendência
da Moeda e do Crédito (SUMOC), hoje Banco Central, durante o primeiro
governo militar, na época o presidente Castello Branco.

Do Compromisso de Adesão Voluntária

As empresas industriais, comerciais, de atacado e varejo, e de serviços se compro-


metiam a manter estáveis seus preços ou apenas aumentá-los com autorização prévia,
até 31/12/1965, com o fito de auferirem estímulos de ordens fiscal, cambial e creditícia.

Da Composição do Plenário

A CONEP era presidida pelo superintendente da SUNAB e integrada pelos presi-


dentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Confederação Nacional do
Comércio (CNC), e pelo diretor de rendas internas do Ministério da Fazenda, hoje
Receita Federal, e contou com funcionários e instalações requisitados da SUNAB.

Da Renúncia

A adesão era voluntária, podendo-se, a qualquer momento, renunciar a ela,


desde que houvesse aviso prévio de 30 dias e restituição, no prazo máximo de
90 dias, das vantagens auferidas e não repassadas aos consumidores.

Dos Preços de Adesão (Base)

De início foram os preços constantes das notas fiscais emitidas em 28/2/1965


ou em data imediatamente anterior, mantidas as condições de venda, depois
alterados pelos constantes das listas de preços, se as empresas pudessem prová-los.

estudosFEBRAFARMA [ 13 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos Reajustes de Preços

A CONEP estabeleceu o prazo de 20 dias úteis, alterado para 30 dias corridos,


desde que entregues na sede da CONEP, no Rio de Janeiro, para pronunciamento,
podendo ser aprovados, indeferidos ou suspensos, e certificados pela entidade de
classe. Se o prazo não fosse observado, os preços eram considerados homologados.

Dos Produtos Novos

O prazo fixado para pronunciamento da CONEP era de 15 dias úteis, desde


que os pedidos fossem protocolados depois de certificados pela respectiva enti-
dade de classe.2

Da Comunicação

A comunicação da aprovação, da interrupção do prazo ou do indeferi-


mento do preço era, à época, feita por telegrama ou ofício e tinha validade a
partir da data da expedição.

Dos Reajustes de Preços dos Produtos Farmacêuticos

A SUNAB/DEAL informava à CONEP os preços aprovados e os dos produ-


tos novos para que fosse assegurada a concessão dos benefícios creditícios e fis-
cais previstos.

Das Listas de Preços

O protocolo das listas de preços reajustados ou a confirmação da


manutenção dos preços eram obrigatórios.

2
Se entregues diretamente pelas empresas à CONEP, quer fossem ou não certificados, os prazos seriam
contados em dobro.

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INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1966 – CONEP

O COMPROMISSO de adesão voluntária foi estendido até 31/12/1966, pelo


Decreto 57.271, de 16/11/1965.

Da Composição do Plenário

Ao plenário da Comissão Nacional de Estímulo à Estabilização de Preços


(CONEP) foram integrados os representantes dos trabalhadores na Indústria e no
Comércio e os representantes dos Ministérios da Fazenda, Indústria e Comércio,
Planejamento e do Banco Central. O plenário ficou assim constituído: superinten-
dente da SUNAB (presidente), titular ou representante da CNI, CNC, CNTI,
CNTC, do MF, MIC, MPCE e do Banco Central.

Dos Reajustes de Preços

Permitido às empresas que tivessem aderido à PIGB de nº 71/65,


independentemente de autorização prévia, com reajuste limitado a 10%, sendo
6% no primeiro semestre e 4% no segundo, e também àquelas que tinham aderi-
do em 1966 e não haviam reajustado os preços acima de 15% no ano anterior.
O ato normativo co-responsabilizava as entidades de classe pela justifi-
cativa discriminada para comprovação a posteriori do aumento de custo que
não tivessem tido condições de absorver.

Do Preço de Adesão (Base)

Eram os preços da semana anterior à publicação do decreto, os quais deve-


riam corresponder aos vigentes em 28/2/1965, acrescidos dos aumentos anali-
sados pela CONEP.

Dos Reajustes de Preços Superiores

Para a concessão de reajustes de preços superiores ao limite de 10% era


necessária a anuência prévia. A CONEP tinha 30 dias corridos para se pronun-
ciar. O prazo era contado em dobro para as empresas que entregassem direta-
mente à CONEP e sem o certificado da entidade de classe.

estudosFEBRAFARMA [ 15 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos Produtos Novos

O pleito teria de ser certificado e protocolado pelas entidades de classe na


CONEP, a qual tinha 15 dias corridos para solucioná-lo. Se apresentado direta-
mente e sem o certificado, o prazo para análise era o dobro.

Dos Reajustes de Preços dos Produtos Farmacêuticos

A SUNAB/DEAL continuava a informar à CONEP os preços reajustados e


os dos produtos novos para assegurar a concessão dos benefícios creditícios e
fiscais previstos na legislação.
Foi autorizado reajuste de até 16%, incorporando os 6% previstos para o
1º semestre aos preços de adesão (Resolução SUPER 213 de 1965).

Dos Repasses Salariais

Não eram repassados aos preços os concedidos espontaneamente pelas


empresas; apenas os homologados em dissídios coletivos.
Os salários reajustados e não repassados aos preços permitiam a redução de
20% no Imposto de Consumo, hoje chamado (IPI).

Dos Preços Administrados por Outros Órgãos

A aprovação de preços administrados por outros órgãos dependia do


"de acordo" da SUNAB.

Das Listas de Preços

O protocolamento das listas de preços reajustados ou a confirmação da


manutenção dos preços continuaram sendo obrigatórios.

Da Marcação dos Preços dos Produtos Farmacêuticos

As indústrias eram obrigadas a marcar em cada unidade o Preço Nacional


de Venda ao Consumidor, obrigatoriedade que se estendia aos atacadistas e
varejistas mesmo quanto às mercadorias encontradas em seus estoques.

[ 16 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Do Cancelamento de Contratos

Nessa fase a legislação determinava o cancelamento até de contratos, pedi-


dos ou ordens de compra em execução com a administração pública, direta e
indireta, e sociedades de economia mista, firmados com as empresas que não
houvessem aderido à PIGB de nº 71/65 e ao Decreto 57.271/65.

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LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Outubro de 1966 a Dezembro de 1967 – CONEP

PELO DECRETO-LEI de nº 38, de 1966, ainda no governo Castello Branco, as


empresas industriais e comerciais contribuintes do IPI e/ou do ICM poderiam
reajustar os preços automaticamente, de acordo com a variação
mensal das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTNs), apurada
pelo Conselho Nacional de Economia.

Dos Preços-base

Eram os preços aprovados pela CONEP. Para os produtos liberados até


então, valiam os preços praticados em 1/10/1966.

Das Condições de Venda

As condições de venda e os descontos concedidos em 1/10/1966 não pode-


riam ser modificados sem autorização prévia da CONEP.

Dos Reajustes de Preços

Se superiores à variação, somente poderiam ser reajustados com aprovação


prévia da CONEP, que deveria considerar na estrutura de custo apenas as altas
resultantes de atos do governo ou de evidente escassez dos produtos, com valori-
zação eventual, o que seria de imediato comunicado ao Conselho de Política
Aduaneira (CPA).

Do Demonstrativo

As empresas estavam obrigadas a manter um demonstrativo dos preços de


venda de seus produtos no mercado interno, no período compreendido entre
1/10/1966 e 31/12/1967.

Do Benefício

As empresas se beneficiavam de redução no Imposto de Renda a pagar


em 1968 se o reajuste de preços dos produtos fosse inferior a 30% da variação
das ORTNs.

[ 18 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Dos Produtos Farmacêuticos

Os produtos de uso humano, veterinário e oficinal que tivessem sofrido


aumentos em seus preços de venda em níveis inferiores a 25% no período
compreendido entre 1/10/1966 e 2/6/1967 continuariam a ser comercializados
com os preços vigentes em 2/6/1967, enquanto os que tivessem tido aumentos
em níveis superiores retroagiriam aos vigentes em 1/10/1966, acrescidos de 25%.
A CONEP e a SUNAB examinavam, previamente e em conjunto, os reajustes
que ultrapassassem a variação das ORTNs e o lançamento de produtos novos.

Das Listas de Preços

O envio das listas deixou de ser obrigatório, só ocorrendo quando solici-


tado pela CONEP.

Da Composição do Plenário

Até maio de 1967 permaneceu a composição que vigeu durante a PIGB de


nº 71/65 e o Decreto 57.271/65, exercendo a presidência Guilherme Júlio Borghoff
e, posteriormente, Enaldo Cravo Peixoto, superintendentes da SUNAB.
Em maio de 1967, no governo Costa e Silva, a CONEP passou para a jurisdição
do MIC, com a incumbência de continuar a controlar os preços da indústria, do
comércio e dos serviços. O plenário era constituído por:

• Ministro da Indústria e do Comércio (presidente);

• Ministro da Fazenda;

• Ministro do Planejamento e Coordenação Geral;

• Ministro da Agricultura;

• Presidente do Banco Central do Brasil;

• Presidente do Banco do Brasil S/A;

• Presidente da Confederação Nacional da Indústria;

• Presidente da Confederação Nacional do Comércio;

estudosFEBRAFARMA [ 19 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

• Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria;

• Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio;

• Diretor do Departamento do Imposto de Renda.

A SUNAB saiu da esfera da Presidência da República e passou a integrar o


Ministério da Agricultura, representando-o no plenário da CONEP.

[ 20 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1967 e 1968 – CONEP

EM 28 DE DEZEMBRO DE 1967, o presidente Costa e Silva, três dias antes do


término da sistemática de controle de preços regulada pelo Decreto-lei de
nº 38/66, assinou o de nº 61.993, que considerava necessário intensificar o
controle para evitar reajustes desordenados, os quais, sob a ótica do governo,
tumultuavam a política econômico-financeira então vigente, dispondo que
todo e qualquer reajuste e lançamento de produtos novos sujeitos à incidência
de IPI e/ou ICM, exclusive os que eram relacionados em ato específico,
ficariam submetidos à anuência prévia da CONEP.
Esse foi o início da fase mais rigorosa de controle, cabendo aos ministros da
Indústria e Comércio – Macedo Soares – e da Fazenda – Delfim Netto –, este
por meio do Grupo de Análise de Custos (GAC), criado ainda na vigência do
Decreto-lei de nº 38/66, dar execução ao controle.

Dos Preços-base

Eram os preços praticados de acordo com a variação das ORTNs, sobre os


quais incidiriam os reajustes posteriores.

Das Condições de Venda

As condições de venda e os descontos concedidos praticados em dezembro


de 1967 não poderiam sofrer alterações sem autorização da CONEP.

Da Exclusão de Controle

A norma previa que empresas ou setores poderiam ser excluídos de controle,


caso não fossem considerados essenciais à política de contenção da inflação.

Da Nova Sistemática

Foi criado um grupo de trabalho, presidido pelo ministro da Fazenda, para


apresentar nova sistemática reguladora de preços. O referido grupo foi o
embrião do CIP.

estudosFEBRAFARMA [ 21 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos Reajustes de Preços

A PIGB de nº 1, publicada no início do ano de 1968, determinava como


seriam instruídos os pedidos de reajustes de preços, bem como o que deveria
ser levado em consideração: a variação dos custos, as diretrizes da política
econômica e as peculiaridades setoriais e de mercado.
A CONEP autorizou o repasse automático aos preços dos valores decor-
rentes da estrita variação das alíquotas do IPI, da nova taxa do câmbio, do
imposto único, do ICM e dos reajustes de salários concedidos por força de dis-
sídios coletivos.
Produtores discutiam reajustes e lançamentos de produtos novos com a
CONEP, e os distribuidores, atacadistas e varejistas com a SUNAB.

Do Prazo de Análise

O prazo para a CONEP se pronunciar sobre os pedidos submetidos a sua


apreciação era de 45 dias corridos, os quais começavam a contar a partir da
entrega na sede do órgão, no Estado da Guanabara, e desde que o pleito fosse
submetido a exame preliminar pela entidade de classe respectiva.

Dos Produtos Farmacêuticos

Os reajustes de preços e os lançamentos dos produtos novos passaram para


a alçada da CONEP.
Os laboratórios ficavam obrigados a imprimir a legenda "Proibida a Venda pelo
Comércio" para os produtos fornecidos a hospitais, maternidades e instituições
de caridade.
As organizações mencionadas eram obrigadas a elaborar relação, nominal
e quantitativa, de todos os medicamentos usados por pacientes.

Dos Produtos Novos

Eram disciplinados pela Resolução CONEP de nº 281/67 e de nº 12/68.

[ 22 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1968 a 1974 – CIP

EM 29 DE AGOSTO DE 1968, ainda no governo Costa e Silva, pelo Decreto


nº 63.196, foi criado o Conselho Interministerial de Preços (CIP), órgão que
sucedeu à CONEP, com competência para fixar e fazer executar as medidas
necessárias destinadas à implementação da sistemática de controle de preços
dos produtos sujeitos à incidência do IPI ou do ICM.
O Decreto-lei de nº 808/69 consolidou o CIP como o órgão encarregado do
controle geral de preços, inclusive submetendo a sua avaliação preços e tarifas
analisados pela administração pública direta ou indireta, exceto os do petróleo
bruto e seus derivados e as tarifas de energia elétrica.
A partir de então, foi instituída uma poderosa estrutura de controle
de preços, com rigorosa análise prévia dos pleitos, por meio de sistema de
acompanhamento estatístico da evolução de preços e custos e da elaboração de
índices setoriais.

Da Composição do Plenário

O plenário, pela primeira vez, foi integrado somente pelos representantes


do governo: ministros da Fazenda, da Indústria e Comércio, da Agricultura e
do Planejamento e Coordenação Geral.
Os representantes dos empregadores e empregados – CNI, CNC, CNA,
CNTI, CNTC e CNTA – que integravam o plenário da CONEP foram desloca-
dos para o Conselho Consultivo do CIP.

Produtos Não Controlados

Eram os produtos isentos de IPI e/ou ICM, aqueles que, embora sujeitos
aos referidos impostos, estivessem citados nas posições relacionadas na tabela
de IPI e aqueles produzidos por empresas cujo faturamento não ultrapassasse
valores constantes de anexo, atualizado anualmente, e se suplantado conti-
nuariam isentas do controle desde que comprovassem a prática de reajustes
compatíveis com a política econômica do governo.

estudosFEBRAFARMA [ 23 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Limite de valor para isenção: produtos farmacêuticos

Ano CR$ ORTNs


1968 1.500.000 -
1969 1.500.000 -
1970 1.800.000 -
1971 2.200.000 -
1972 2.640.000 -
1975 - 150.000

A qualquer tempo, comprovada a prática de preços discordantes da


variação de custo, o CIP poderia enquadrar empresas, setores, produtos ou
serviços ao controle.

Das Resoluções da CONEP

As resoluções normativas baixadas pela CONEP continuaram, de início, em


vigor, acrescentadas às editadas pelo CIP, sendo que algumas delas, ao longo do
tempo, foram alteradas e outras revogadas.

Dos Preços-base

Eram os então aprovados pela CONEP.

Das Condições de Venda

As condições de venda e os descontos concedidos continuaram na forma


dos aprovados pela CONEP.

Dos Reajustes de Preços

Para os repasses de custos:

• os reflexos dos aumentos das matérias-primas e utilidades industriais


eram comprovados por documentos fiscais;

• as despesas administrativas e comerciais, e a margem de lucro eram inde-


xadas a índice oficial; e

[ 24 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

• a mão-de-obra era corrigida pelo percentual do dissídio coletivo, acresci-


do da parcela de produtividade apurada pelo Ministério do Trabalho.

O CIP considerava na análise de preços:

• a influência significativa dos produtos e serviços na formação de custos,


nos diferentes setores da atividade econômica;

• a existência de condições estruturais de mercado que refletissem situações


monopolísticas ou oligopolísticas;

• a ocorrência de anomalias de comportamento dos setores, empresas, que fos-


sem capazes de perturbar os mecanismos de formação de preços no mercado.

Foi exigida a comprovação dos reajustes homologados para aprovar os que


eram pleiteados a posteriori, com o intuito de evitar a prática das tabelas de
preços "cheias", que não refletiam a realidade.

Da Análise de Rentabilidade

O CIP analisava a rentabilidade das empresas com base na evolução dos


balanços analíticos dos três últimos anos, concedendo um percentual de
aumento a ser aplicado de forma ponderada pela participação nas vendas e
limitando o reajuste máximo.

Dos Reajustes de Preços por Atos de Governo e do Indeferimento

Ao secretário-executivo foram concedidos poderes para aprovar, ad referendum


do plenário, os reajustes de preços decorrentes de ato do governo e de escassez
de produtos apenas na estrita correspondência percentual dos atos determi-
nantes do pedido, como também indeferir, de plano, pleitos não instruídos con-
forme as normas então vigentes.
As empresas foram autorizadas a promover reajustes automáticos dos preços
dos seus produtos até o limite da correspondente repercussão nos custos, em
decorrência de alterações salariais, por decisão judicial e da taxa de câmbio,
ficando os reajustes subseqüentes, também em conseqüência de atos de governo,
sujeitos à comprovação a priori da efetiva aplicação dos aumentos anteriores.

estudosFEBRAFARMA [ 25 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos Produtos Farmacêuticos

Os reajustes de preços e os lançamentos dos produtos novos dependiam da


análise prévia do CIP.
A concessão de vantagens ao comércio varejista só poderia ocorrer por
meio do mesmo produto vendido, obedecendo a percentuais variáveis em
relação ao volume das vendas.
Posteriormente, foi revogada a retrocitada vantagem permitindo a con-
cessão de descontos financeiros. Ocorreu também a definição das cadeias pro-
dutiva e comercial, as quais não poderiam conceder descontos e vantagens na
comercialização de produtos farmacêuticos de uso humano acima das estipu-
ladas, sob pena de a indústria ter o preço-fábrica reduzido proporcionalmente
à vantagem concedida, e o distribuidor e atacadista, reduzido o percentual de
desconto que lhes competia.

Das Listas de Preços

O CIP autenticava as listas de preços das indústrias farmacêuticas.

[ 26 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1974 a 1979 – CIP

A PARTIR DE SETEMBRO DE 1974, no governo Ernesto Geisel, o ministro da


Fazenda, Mário Henrique Simonsen, visando manter cadente a inflação, evitar
filas de consumidores e remunerar os investimentos empresariais, instituiu,
para alguns setores, a prática automática de reajustes, conhecida como
Liberdade Vigiada, implementada após o pedido de reajuste ser protocolado no
CIP, na forma da PIGB de nº 1/68, da extinta CONEP.
Tal pedido deveria vir acompanhado das Demonstrações Financeiras, tam-
bém identificadas como "balanção".
Se o CIP não se manifestasse sobre o pleito no prazo de 45 dias, eram os
preços considerados homologados.
Os excessos constatados nos níveis de preços praticados poderiam determi-
nar a suspensão da Liberdade Vigiada.

Dos Reajustes de Preços: Reconsideração e Retroação

As empresas enquadradas no regime de Liberdade Vigiada somente pode-


riam reajustar seus preços após decisão do pleito anterior. Quanto aos pedidos
de reconsideração de reajustes, aplicava-se o regime de anuência prévia e, ainda,
nos casos em que eram determinadas as retroatividades de preços, ficava impe-
dida a prática de outros novos até a manifestação do CIP.

Dos Reajustes de Preços dos Produtos Controlados

As empresas apresentavam seu pleito de reajustes de preços na forma do


disposto na PIGB de nº 1/68 e aguardavam sua aprovação pelo plenário do CIP.

Dos Preços-base

Os preços-base já eram os praticados.

Das Condições de Venda

As condições de vendas e descontos concedidos não foram alterados.

estudosFEBRAFARMA [ 27 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Das Demonstrações Financeiras ("Balanção")

De apresentação obrigatória, constituíam sistema permanente de análise e


coleta de dados primários e, que se não fossem entregues em 150 dias após o
fechamento do balanço pelas empresas, interrompia, de imediato, o prazo de 45
dias para análise dos reajustes. (Resolução CIP de nº 52/74, alterada pela de
nº 130/76.)

Dos Produtos Importados para a Revenda

Em razão das altas margens de comercialização, praticadas na revenda de


produtos importados, o CIP podia indicar empresas ou produtos que teriam
seus preços sujeitos a análise prévia. (Resolução CIP de nº 63/1974.)

Da Liberdade de Preços

O governo deu continuidade à liberdade gradual dos preços, inclusive


mudando de orientação, ao estabelecer que os produtos ou serviços poderiam
continuar sujeitos ao controle, sempre que o exigisse a política econômica.
O controle, entretanto, não atingia empresas em que o faturamento, no
último exercício, não houvesse ultrapassado 15 mil vezes o maior salário
mínimo vigente no país, que na época, fevereiro de 1975, era de CR$ 415,20.
Esse valor foi alterado em agosto de 1975 para 150 mil ORTNs.

Da Consulta Quanto ao Enquadramento

A liberação era precedida de consulta ao CIP para sua aprovação, via


Protocolo de Intenções, o qual poderia ser assinado pelas entidades de classe em
nome de suas afiliadas.
A inclusão no regime de Liberdade Vigiada ou de Liberdade Total se fazia
por produto, por empresa ou por setor. O mesmo se aplicava quando do
retorno ao controle.
Muitos produtos, setores e empresas foram liberados entre 1974 e 1978.
Poucos permaneceram controlados: o setor farmacêutico, o de aciaria, o químico,
o petroquímico e o cimenteiro.

Dos Produtos e Serviços Controlados por Outros Órgãos

Os estudos de preços e tarifas controlados por outros órgãos da Administração


Federal, direta ou indireta, apenas seriam submetidos ao CIP quando solicitados.

[ 28 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Dos Acordos Setoriais

Algumas empresas, especialmente as que lideravam o setor, podendo


programar a data, o quantum dos reajustes, administrar seus estoques e deter
mais informações que as concorrentes-caudatárias, acomodaram-se à falta de
competitividade, abusando dos acordos setoriais e preferindo assim que a libe-
ração fosse postergada. Os acordos tiveram início em 1968.

Da Comunicação

No final da década de 1970, o CIP deixou de dar divulgação pública à


relação de empresas com reajustes aprovados, limitando-se apenas a comunicá-los
às interessadas.

Da Liberdade de Preços para os Produtos Farmacêuticos

A partir de outubro de 1975, diferentemente dos demais setores industriais,


o farmacêutico não foi contemplado com a liberdade automática para a fixação
de preços, iniciada em 1974, ficando as empresas obrigadas a encaminhar con-
sulta ao CIP para que informasse a elas em qual regime estavam enquadradas.

Se liberadas do controle deveriam observar os seguintes itens:

• o lançamento de produtos novos ficava sujeito ao fiel cumprimento das dis-


posições da Resolução CIP de nº 22-A/73, e, posteriormente, da de nº 30/76;

• os reajustes previstos eram extensivos aos produtos novos, observando-se


que, nesse caso, o período a ser considerado para a concessão do primeiro
reajuste teria início na data da homologação dos preços pelo Conselho;

• os reajustes de preços somente poderiam ser praticados nos meses de


fevereiro e agosto de cada ano. Tais reajustes deveriam ser aplicados linear-
mente, de uma só vez, limitados ao máximo da variação ocorrida, no período
correspondente, ao Índice Geral de Preços (Disponibilidade Interna, colu-
na 2 da Revista Conjuntura Econômica), tendo por base inicial a data de
publicação da referida resolução;

• apresentação ao CIP de listas de preços, devidamente numeradas e auten-


ticadas, com antecedência mínima de 15 dias.

estudosFEBRAFARMA [ 29 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Acresce, ainda, que a empresa que reajustasse seus preços deveria apresen-
tar, 60 dias após o encerramento de cada exercício social, demonstrativo do
faturamento em quantidade e valor por produto vendido e do faturamento
total, neste incluído o ICM e excluído o IPI.
A liberação de preços poderia ser pleiteada em conjunto por todas as
empresas do setor, em separado ou pelas entidades de classe.

Do Prazo de Análise

Para a concessão dos reajustes foi mantido o prazo de 45 dias corridos


deferidos ao CIP, e, não havendo pronunciamento daquele órgão, eram consi-
derados aprovados.

Dos Produtos Novos

Os produtos novos da indústria farmacêutica continuavam regidos pela


Resolução CIP de nº 30/76 e os demais pela Resolução 72/75, que os sujeitava a
prévia aprovação com prazo de análise: 45 dias.
Nos casos de fusão, absorção, mudança de controle acionário das indústrias
farmacêuticas, os preços autorizados eram reexaminados, e em nenhuma
hipótese as empresas poderiam elevar seus preços.

Das Listas de Preços

A entrega era disciplinada pela Resolução CIP de nº 53-E/76, que previa o


protocolamento da lista até 30 dias após a data que homologara os preços.
Posteriormente, esse prazo foi reduzido para 10 dias.

Do CONAB – Conselho Nacional de Abastecimento

O CONAB vigeu de 7/6/1974 a 11/4/1979, e era integrado pelos ministros de


Estado da Secretaria de Planejamento (SEPLAN) e dos ministérios da Fazenda,
dos Transportes e da Agricultura, a quem cabia a presidência, cuja competência
era elaborar, coordenar e executar a política nacional de abastecimento.

[ 30 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1979 a 1983 – CIP

A PARTIR DE ABRIL DE 1979, sendo presidente João Figueiredo, foi empreendi-


do novo esforço para combater a inflação. O ministro Karlos Rischbieter, da
Fazenda, e o ministro Delfim Netto, da SEPLAN, presidiram, sucessivamente, o CIP.
Dessa forma, mais de 30 resoluções, que incluíam empresas, produtos e
setores no regime de Liberdade Vigiada e de Liberdade Total, foram revogadas,
determinando o retorno de todos ao controle de preços.

Dos Preços-base

Eram os efetivamente praticados ou os constantes das tabelas, se o CIP os


considerasse aprovados.

Das Condições de Venda

As condições de venda e os descontos concedidos eram os praticados ou os


constantes das tabelas, se o CIP os considerasse aprovados.

Dos Reajustes de Preços

Quando solicitados na forma da PIGB de nº 1/68, instruções para reajustes


de preços, baixadas pela CONEP à época, ainda estavam em vigor, eram inicial-
mente concedidos apenas dois por ano, em datas que as empresas indicassem,
e, sem limitação, para o espaço de tempo entre os dois aumentos, passando,
posteriormente, a serem semestrais.
Com o recrudescimento da inflação em 1982, foi revogada a semestrali-
dade, para permitir intervalos menores de reajustes.

Dos Produtos Novos

Permanecia para os produtos farmacêuticos novos a regra da Resolução


CIP de nº 30/76.

Das Tabelas de Preços

Os varejistas, atacadistas e distribuidores só poderiam adquirir medica-


mentos dos fabricantes que exibissem a tabela de preços autenticada pelo CIP.

estudosFEBRAFARMA [ 31 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Da Liberdade Vigiada

Em dezembro de 1979, o CIP reiniciou de modo gradativo a liberação de


preços, que ocorria na época prevista para a concessão dos aumentos de preços
semestrais, podendo, em caráter excepcional, o presidente do CIP, ministro
Delfim Netto, autorizar a liberação fora das épocas mencionadas.
A partir de março de 1982, foram liberados os preços dos produtos farma-
cêuticos considerados populares, aqueles que eram vendidos ao público sem
necessidade de apresentação da receita médica, os quais teriam impressos nas
embalagens a legenda "Produto não Sujeito ao Controle de Preços do Governo".

Das Demonstrações Financeiras

A Resolução CIP de nº 151/81 acrescentou a obrigatoriedade da apresen-


tação das Demonstrações Financeiras, o "balanção", para as empresas não
controladas quando expressamente solicitado pelo CIP (alterando disposição
da Resolução CIP de nº 137/80).

Da Concessão de Vantagens e Descontos

Em fevereiro de 1981, foram fixadas novas margens de descontos para dis-


tribuidores em 40%, para atacadistas, varejistas e hospitais em 28%, e foi
redefinida a cadeia produtiva.

Das Secretaria Especial de Abastecimento e Preços (SEAP) e Secretaria


Especial de Assuntos Econômicos (SEAC)

Foram criadas no âmbito da SEPLAN. A primeira com a atribuição de


assessorar o ministro na formulação e supervisão da política nacional de
abastecimento e preços. A segunda com a finalidade de assessorá-lo na formu-
lação da política econômica e no acompanhamento de sua execução.

[ 32 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1983 – CIP

EM 1983 ENTRARAM em vigor as portarias de nº 13/83 e de nº 16/83, baixadas


pelo secretário-executivo do CIP enquadrando produtos, que relacionavam,
no regime de acompanhamento de preços, sistemática igual à que vigorou de
outubro de 1966 a dezembro de 1967. Presidia o CIP o ministro da SEPLAN
Delfim Netto.

Dos Preços-base

Eram os efetivamente praticados ou os constantes das tabelas, se o CIP os


considerasse aprovados.

Das Condições de Venda

As condições de venda e os descontos concedidos eram os praticados ou os


constantes das tabelas, se o CIP os considerasse aprovados.

Dos Reajustes de Preços

A Portaria de nº 16/83 alterou os dispositivos daquela de nº 13/83, que


vigeu de 24/2/1983 até 29/6/1983, estabelecendo sistema mais rigoroso de con-
trole, que consistia nos seguintes tópicos:

• o percentual de aplicação mensal, correspondente a 90% da variação das


ORTNs, passou para 80% para todos os produtos então relacionados;

• os reajustes, mesmo praticados dentro desse limite, deveriam corres-


ponder à efetiva variação dos custos, o que obrigava as empresas a man-
terem acompanhamento das variações dos insumos por meio de estru-
turas de custos;

• os reajustes poderiam ser acumulados e praticados, também, com base nos


índices acumulados das ORTNs como exemplo por bimestre ou trimestre;

• os reajustes superiores ao limite estabelecido, de 80% das ORTNs,

estudosFEBRAFARMA [ 33 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

somente poderiam ser praticados mediante prévia e expressa autorização;

• nas vendas a prazo, as empresas só poderiam cobrar acréscimo de 6% ao


mês sobre o preço à vista.

Dos Produtos Novos

• Os preços de lançamento de produtos novos de qualquer natureza deve-


riam ser previamente homologados.

• Os preços dos produtos novos da indústria farmacêutica continuavam


regidos pela Resolução CIP de nº 30/76.

Dos Produtos Farmacêuticos

Os preços dos produtos farmacêuticos de uso humano e veterinário só


poderiam ser reajustados mediante prévia e expressa autorização do CIP, con-
forme o disposto na Portaria CIP de nº 20/83.

Não retornaram ao controle, como de hábito, os seguintes produtos:

• soluções parenterais;

• dietéticos que não contivessem substâncias medicamentosas;

• anestésicos de uso exclusivo hospitalar;

• produtos odontálgicos;

• produtos liberados pela Portaria CIP de nº 2/81.

[ 34 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1984 – CIP

EM FEVEREIRO DE 1984, sendo ainda presidente João Figueiredo e ministro


da SEPLAN Delfim Netto, foram abandonados os reajustes automáticos e os
aumentos de preços passaram a ser submetidos à prévia autorização do CIP
(Resolução CIP de nº 162/84).
A indústria farmacêutica, linhas humana e veterinária, estava desde setem-
bro de 1983 submetida a essa regra.

Dos Preços-base

Eram os preços efetivamente praticados ou os constantes das tabelas, se o


CIP os considerasse aprovados.

Das Condições de Venda

As condições de venda e os descontos concedidos eram os praticados ou os


constantes das tabelas, se o CIP os considerasse aprovados.

Das Demonstrações Financeiras

Estabelecia a obrigatoriedade da apresentação do último balancete da


empresa, de acordo com as normas e formulários anexos à Resolução CIP de
nº 137/80.

Das Listas de Preços

O prazo para o envio das listas era de 10 dias, contados a partir da homolo-
gação dos reajustes.

Dos Produtos Novos

O lançamento dos produtos farmacêuticos continuou regido pela


Resolução CIP de nº 30/76 e os da indústria em geral pela Resolução CIP de
nº 72/75.

estudosFEBRAFARMA [ 35 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos Reajustes de Preços

Todos os reajustes eram submetidos à prévia autorização do CIP, ficando o


secretário-executivo daquele conselho autorizado a solicitar quaisquer documen-
tos ou informações adicionais que considerasse necessários ao exame dos pedidos.

Das Listas de Preços

O CIP autenticava as listas de preços das indústrias farmacêuticas.


Posteriormente, os Preços Máximos ao Consumidor passaram a ser publicados
no Diário Oficial da União, servindo o seu exemplar para o controle dos preços
pela fiscalização e pelo público em geral, nos estabelecimentos varejistas.

[ 36 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1985 e 1986 – CIP

EM 1985, JÁ NA NOVA REPÚBLICA, estavam José Sarney na Presidência, mas


assinando ainda como vice, Francisco Dornelles no Ministério da Fazenda, até
agosto, e, a partir desse mês, Dílson Funaro, que presidiram também o CIP. Este
Conselho, a SEAP e a SUNAB foram deslocados para o Ministério da Fazenda
(Decreto de nº 91.149/85).
Nessa oportunidade, ocorreu o reenquadramento no controle de preços
dos produtos e serviços listados pela Resolução CIP de nº 166/85.

Dos Preços-base

Os preços-base eram os efetivamente praticados ou os constantes das


tabelas, se o CIP os considerasse aprovados.

Das Condições de Venda

As condições de venda e os descontos concedidos eram os praticados ou os


constantes das tabelas, se o CIP os considerasse aprovados.

Dos Reajustes de Preços

Qualquer aumento de preços era previamente analisado e aprovado pelo


CIP, que tinha o prazo de 45 dias para fazê-lo.

Dos Preços Administrados por Outros Órgãos

A fixação ou reajustamento de qualquer preço ou tarifa pela Administração


Federal, direta ou indireta, tornaram a depender da aprovação do ministro da Fazenda.

Das Listas de Preços

O envio das listas de preços continuou obrigatório em 10 dias, contados a


partir da homologação dos novos preços.

estudosFEBRAFARMA [ 37 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos Produtos Novos

A Resolução CIP de nº 72/75 era a referência para o lançamento de produ-


tos novos para indústria em geral, e a de nº 30/76, para o de especialidades
farmacêuticas.

Das Compras Governamentais

Os órgãos e entidades da Administração Pública Federal, direta ou indireta,


deveriam observar, quando da aquisição de bens e serviços, os preços aprovados
pelo CIP e incluir cláusulas em todos os contratos referindo que os reajustes de
preços estariam limitados aos fixados por aquele Conselho.
Previa, ainda, que o descumprimento à regra submeteria o servidor respon-
sável pela compra à apuração de sua responsabilidade funcional.

[ 38 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1986 – Do Plano Cruzado I

O DECRETO-LEI DE Nº 2.283/86, posteriormente modificado pelo de


nº 2284/86, por ter sido aquele publicado com incorreções, sendo presidente da
República José Sarney e ministro da Fazenda Dílson Funaro, instituiu o Plano
Cruzado I, que determinou o congelamento geral de preços e salários, nos
níveis dos preços praticados em 27 de fevereiro, ou, se não houvesse fatura-
mento naquela data, os praticados em data imediatamente anterior.
O congelamento de preços correspondia a tabelamento oficial.

Do Padrão Monetário

Concomitantemente, foi criado novo padrão monetário nacional:


o Cruzado – Cz$.

Dos Preços Congelados

Resolução do CIP e portaria da SUNAB, do mesmo mês e ano, estabele-


ceram critérios para assegurar o efetivo congelamento dos preços de bens e
serviços, declarando que tais preços e condições de venda seriam os do dia 26.

Da Divulgação do Plano e das Medidas Punitivas

A divulgação do Plano, pelo ministro da Fazenda, ocorreu por meio de


cadeia de rádio e televisão.
A população era conclamada, a todo instante, a participar com o objetivo
de tornar efetivo o congelamento, o que propiciou o cometimento de alguns
excessos, até com certa perturbação da ordem pública, como a atuação dos "fis-
cais voluntários".
O citado Decreto-lei determinou ainda que houvesse ampla divulgação das
medidas punitivas aplicadas, sem adotar a devida cautela quanto à legalidade e
legitimidade da punição. Por isso, muitas empresas foram expostas à conde-
nação pública, repetindo o que já ocorrera por ocasião do CIP e, mais remota-
mente, na antiguidade.

estudosFEBRAFARMA [ 39 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos Executores

Foram nomeados executores das medidas os ministros da Justiça e da


Fazenda, no âmbito de suas áreas de atuação.

Da Vigilância

A vigilância da estabilidade dos preços coube à Secretaria Especial de


Abastecimento e Preços (SEAP), ao Conselho Interministerial de Preços (CIP),
à Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB), órgãos do
Ministério da Fazenda, ao Conselho de Defesa do Consumidor e ao
Departamento de Polícia Federal, órgãos do Ministério da Justiça. A estabili-
dade dos salários competia ao Ministério do Trabalho.
Coube à Polícia Federal dar apoio à SUNAB no exercício de suas atividades
de fiscalização.
A Secretaria da Receita Federal também foi convocada a colaborar com a
SUNAB, inclusive nas atividades de fiscalização. Os Auditores Fiscais do
Tesouro Nacional foram credenciados para, com base na Lei-Delegada de
nº 4/62, autuarem os estabelecimentos infratores.
Tanto a SEAP como o CIP, no âmbito de suas competências, baixaram nor-
mas para acompanhamento da execução do plano, como já tinha feito a SUNAB.

Da Escassez e da Maquiagem

Os três primeiros meses foram de relativo sucesso, face à adesão das empre-
sas ao plano e ao entusiasmo popular.
Já a partir do quarto mês o panorama foi se modificando. Registraram-se
os primeiros sinais de escassez de produtos diante da crescente demanda. Em
conseqüência, iniciou-se, em alguns setores, a cobrança de ágio e o lançamento
de produtos novos que, em sua maioria, não passavam de mera maquiagem de
outros já existentes no mercado, o que forçou o governo a reconhecer os
aumentos de custos e permitir o repasse aos preços, aprovando-os sem convo-
cação do plenário.

[ 40 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1987 – Do Plano Cruzado II – Flexibilização

EM 5 DE FEVEREIRO DE 1987, pela resolução CIP de nº 199, levada em con-


sideração a necessidade de redefinir a política de preços, em razão da nova
conjuntura econômica, ocorreu a primeira correção do plano inicial, medida
que já se impunha havia algum tempo, formalizando o descongelamento de
preços e criando categorias de controle. Eram elas:

Produtos Cipados

Os produtos cipados tinham seus preços e condições de venda sujeitos à


análise prévia do CIP e encontravam-se relacionados na Resolução CIP de nº
166/85, cuja aprovação se fazia por meio de decisão do plenário ou por ato do
secretário-executivo do CIP, ad referendum do plenário.
As solicitações de reajustes eram instruídas com base na PIGB de nº 1/68.

Produtos Tabelados

Os produtos básicos da área de alimentação, higiene e limpeza foram


tabelados pela SUNAB.

Produtos Cipados com Margens de Comercialização Limitadas

Coube à SUNAB administrar os preços não tabelados das áreas de alimen-


tação, higiene e limpeza e os dos produtos das áreas de eletrodomésticos e de mate-
rial de construção (somente os cipados), os quais observavam normas de comer-
cialização estabelecidas por aquela superintendência em portarias específicas.

Produtos e Serviços Acompanhados

Eram aqueles não listados na Resolução CIP de nº 166/85 e não tabelados


pela SUNAB, mas que tiveram seus preços submetidos ao sistema de acom-
panhamento, ficando as empresas obrigadas a informar ao CIP os preços prati-
cados e as alterações.

Produtos Controlados por Outros Órgãos

Os preços dos bens e serviços fixados por atos normativos de outros órgãos
do poder executivo permaneceram na situação em que se encontravam.

estudosFEBRAFARMA [ 41 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos aumentos "exagerados"

A critério do CIP, caso os aumentos de preços fossem considerados exage-


rados, empresas, produtos ou serviços poderiam ficar excluídos do sistema de
acompanhamento e, a qualquer momento, ser submetidos ao sistema de autori-
zação prévia.

Dos Produtos Farmacêuticos

Os produtos farmacêuticos de uso humano e veterinário estavam


enquadrados na categoria Cipados.
Para os produtos liberados do controle, foi obrigatória a impressão da legenda
"Produto não Sujeito ao Controle de Preços do Governo" e vedada a impressão
do preço na embalagem.

Da Nova Lista de Classificação dos Produtos (Abril de 1987)

• Produtos controlados eram os relacionados pelo artigo 12º da Resolução


CIP de nº 210/87 e, posteriormente, pela da de nº 215/87;

• Produtos sob a sistemática da Liberdade Vigiada eram aqueles relaciona-


dos pela de nº 210 e, posteriormente, pela Resolução CIP de nº 215/87; e

• Produtos sujeitos a acompanhamento de preços eram aqueles arrolados


pela Resolução CIP de nº 211, posteriormente alterada pela Resolução de
nº 216/87.

Dos Reajustes para Produtos Controlados

Os produtos controlados estavam sujeitos à autorização prévia. Podemos


citar, a exemplo, os farmacêuticos das linhas humana e veterinária.

Reajustes para Produtos sob Liberdade Vigiada

Foi estipulado o prazo de 45 dias entre um reajuste e outro, com valor


percentual mínimo de 20%, que, se não alcançado, impedia as empresas de
reajustarem os preços até a data em que fosse atingido.

[ 42 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Tal regra valia para os homeopáticos, fitoterápicos, oficinais, adoçantes,


entre outros, que tinham seus preços submetidos ao regime de acompanha-
mento ou eram liberados.

Da Auditoria Externa

Foi introduzido o uso da auditoria externa, contratada, a fim de proceder


ao exame preliminar dos mapas de custos e das listas de preços, para as empre-
sas obrigadas a operarem com auditoria externa.
E para as não obrigadas, mas que normalmente apresentassem demonstra-
tivos auditados, caso não encaminhassem seus mapas e listas auditados, a cada
dois pedidos de reajustes, ficavam os mesmos sujeitos à aprovação prévia do CIP.
E para as que não tinham hábito de usar auditoria externa, caso não audi-
tassem, ficavam os reajustes sujeitos à aprovação prévia a cada três apresentações.

Da Margem de Lucro

Era prevista a revisão da margem de lucro, levados em consideração a


evolução da conjuntura econômica ou os objetivos da política econômica,
global ou setorial.

Dos Produtos Novos

Foi mantida a Resolução CIP de nº 30/76 para os lançamentos dos produ-


tos farmacêuticos de usos humano e veterinário.
Para os demais produtos farmacêuticos, prevaleceu também a homolo-
gação prévia e a indicação de que os lançamentos deveriam obedecer à relação
custo/preço do similar da própria empresa.
Caso a rentabilidade do similar fosse insatisfatória ou não houvesse similar,
o trâmite, para a prática de preços superior, era solicitar e aguardar o resultado
do estudo da rentabilidade, realizado pelo CIP (Resolução CIP de nº 187/86,
que revogou a de nº 72/75).

estudosFEBRAFARMA [ 43 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

1987 – CIP Pré-Plano Bresser

EM VISTA DA aceleração do processo inflacionário, em maio de 1987, sendo


ministro da Fazenda Bresser Pereira, o governo adotou, para bens e serviços, a
sistemática de reajustes limitados a 80% da variação do INPC/IBGE, com inter-
valo mínimo de 30 dias entre um e outro reajuste.

Dos Reajustes de Preços em Níveis Superiores

Para os pleitos de reajustes que ultrapassassem tal limite, o CIP tinha de ser
consultado e autorizá-los expressamente.

Dos Preços-base

Os preços-base eram os efetivamente praticados, comprovados com nota fiscal.

Dos Produtos Farmacêuticos

Os produtos farmacêuticos continuaram com os preços controlados,


podendo ser alterados apenas mediante autorização expressa.

[ 44 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1987 – Do Plano Bresser

DECORRIDO EXATAMENTE um mês do início da sistemática anterior aludida,


por meio dos Decretos-lei de nos 2.335, de 1987, 2.337, de 1987 e 2.339, de 1987,
o governo congelou, por 90 dias, todos os preços de mercadorias, prestação de
serviços e tarifas, nos níveis dos preços e valores efetivamente praticados no dia
12/6/1987 ou em data anterior mais próxima a 12/5/1987.
Com relação aos preços submetidos ao controle (controlados, Liberdade
Vigiada, acompanhados), o congelamento incidiu sobre os preços já autoriza-
dos, mesmo se ainda não tivessem sido praticados.

Da Unidade de Referência de Preços

Na mesma oportunidade foi instituída a URP (Unidade de Referência de


Preços), mecanismo adotado para reajustar os preços no início e durante a fase
de flexibilização.

Da Vigilância

Os Ministérios da Justiça, da Fazenda e do Trabalho foram incumbidos de exercer


a vigilância sobre a execução das medidas decretadas, recorrendo a seus órgãos.

Das Vendas a Prazo

Para pagamentos em prazos iguais ou superiores a 30 dias, as empresas


ficaram obrigadas a conceder descontos de 9% ao mês, exceto as da indústria
farmacêutica (Portarias MF de nos 187 e 264 de 1987).

Dos Reajustes de Preços

Todas as solicitações de reajuste, reconsiderações sobre reajustes, revisões


de margem de lucro em análise foram na ocasião indeferidas.

Dos Produtos Novos

Os produtos dependiam das normas emanadas do CIP, e a prestação de


novos serviços da prévia autorização da SUNAB.

estudosFEBRAFARMA [ 45 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Para os produtos farmacêuticos continuou vigorando a Resolução CIP


de nº 30/76.

Dos Preços Diferentes do Mesmo Produto

Se o produto fosse exposto à venda, no mesmo estabelecimento comercial,


por preços diferentes prevaleceria o de menor valor.

[ 46 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1987 – Da Flexibilização do Plano Bresser

A FLEXIBILIZAÇÃO teve início com a Portaria MF de nº 297, de 27/8/1987,


portanto, 15 dias antes do término dos 90 dias aprazados, de início, para a
vigência do congelamento.

Da Classificação dos Produtos Industriais

I – estritamente controlados pelo CIP (Anexo A da Resolução CIP de


nº 227, alterada pela de nº 232 e pela de nº 237/87);

II – controlados pelo CIP (Anexo B);

III – sujeitos a teto de variação percentual máxima igual à variação


percentual da URP; e

IV – liberados.

Dos Reajustes de Preços da Indústria Farmacêutica

Os reajustes de preços dos produtos estritamente controlados e controlados


somente poderiam ser praticados após autorização prévia e expressa do CIP.
Os pleitos dos estritamente controlados (Anexo A) seriam instruídos
na forma da PIGB de nº 1/68 e os dos controlados (Anexo B) dependiam de
uma simples justificativa.

Da Exclusão, da Inclusão e do Indeferimento

A secretaria executiva do CIP poderia, independentemente do plenário,


excluir ou incluir empresas, setores ou produtos dos Anexos A e B e indeferir,
de plano, os pedidos de reajustes e de produtos novos não instruídos conforme
as normas em vigor.

Do Plenário

Voltou a analisar e decidir os pedidos de reajustes e de lançamentos de


produtos novos.

estudosFEBRAFARMA [ 47 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Da Classificação dos Produtos do Comércio

I – tabelados;

II – sujeitos a limitação de margem de comercialização;

III – sujeitos a teto de variação percentual máxima igual à variação percen-


tual da URP; e

IV – liberados.

Os bens e serviços não liberados, nem estritamente controlados, ou contro-


lados pelo CIP, foram automaticamente enquadrados no item III retro; os bens
e serviços cujos preços estivessem sujeitos a teto de variação percentual máxi-
ma igual à variação percentual das URPs na indústria, ficaram também sujeitos
a idêntica limitação no comércio.

Das Demonstrações Financeiras

Continuava em vigor, para entrega, o prazo de 150 dias contados a partir do


encerramento do exercício.

Dos Produtos Novos

Os produtos novos da indústria farmacêutica, de uso humano ou animal,


continuavam regidos pela Resolução CIP de nº 30/76. Os demais pela
Resolução CIP de nº 228/87.

Dos Produtos Farmacêuticos – Insuficiência de Rentabilidade

Em agosto de 1988, por meio da Resolução CIP de nº 277-A/88, o CIP,


presidido pelo ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, que assumira em
janeiro de 1988, estabeleceu alternativas, "em caráter especial", para as empresas
fabricantes de produtos farmacêuticos da linha humana, cujos preços apresen-
tassem insuficiência de rentabilidade em decorrência da sistemática de reajustes
setoriais adotada pelo CIP para o setor.

[ 48 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Das Listas de Preços

Após a autorização do reajuste concedido às empresas do Anexo A, bem


como do Anexo B, as listas de preços deveriam ser encaminhadas, no prazo
máximo de 10 dias, contados a partir da autorização, e confeccionadas nos
termos da Resolução CIP de nº 53-E/76.

estudosFEBRAFARMA [ 49 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

1989 – Do Plano Maílson – Verão

EM 31 DE JANEIRO DE 1989, pela Lei de nº 7.730, ocorreu, sem previsão


quanto a sua duração, mais um congelamento geral, nos níveis dos preços e
condições de venda autorizados ou dos efetivamente praticados em 14/1/1989,
para os que estavam livres do controle.
O congelamento de preços equiparava-se, para todos os efeitos, ao tabela-
mento oficial.

Do Padrão Monetário

Foi instituído o Cruzado Novo – NCz$.

Dos Contratos

Quanto aos contratos, só aqueles com prazo superior a 90 dias poderiam


conter cláusula de reajuste de preços.

Das Notas Técnicas

Para garantir a eficiência da execução do congelamento foi criada a


Comissão de Controle do Programa de Estabilização Econômica, a qual usava
por instrumento as notas técnicas, formulações baixadas objetivando unifor-
mizar a execução do Plano e servir de orientação à fiscalização.

Dos Produtos Novos

Para os produtos farmacêuticos vigeu a Resolução CIP de nº 30/76; para os


demais produtos a de nº 228/87, e para os serviços a prévia autorização da SUNAB.

[ 50 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1989 – Da Flexibilização – Maílson

A LEI DE Nº 7.769, DE 26 DE MAIO DE 1989, autorizava, em caráter especial,


o ministro da Fazenda a rever o congelamento e a liberar os preços de produ-
tos e serviços e os salários.
A Lei de nº 7.770, de 31/5/1989, prorrogava a vigência dos dispositivos legais
que tratavam da competência então atribuída ao CIP e a diversos órgãos como
Conselho Monetário Nacional, Conselho Nacional de Seguros Privados etc.

Dos Produtos Controlados – Anexos A e B

A partir das Portarias MF de nº 116, de 31/5/1989, de nº 137, de 15/6/1989,


e de nº 158, de 16/7/1989, foram os produtos enquadrados em duas categorias:

• no Anexo A, os produtos com preços estritamente controlados;

• no Anexo B, os produtos com preços controlados.

Dos Reajustes de Preços

Os preços dos produtos do Anexo A, estritamente controlados, eram condi-


cionados à prévia e expressa autorização do CIP. A linha farmacêutica humana
e veterinária e as matérias-primas, princípio ativo, integravam o Anexo A.
Os do Anexo B, homeopáticos, fitoterápicos, oficinais, soluções parenterais,
gota a gota, entre outros, teriam reajustes automáticos, que não poderiam ocor-
rer em intervalo inferior a 30 dias.

Dos Liberados

Eram todos os produtos e serviços que não constavam dos Anexos A e B.

Das Demonstrações Financeiras

Deveriam ser apresentadas de conformidade com a Resolução CIP de nº 137/80.

estudosFEBRAFARMA [ 51 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

1989 a 1990 – Dos Reajustes Automáticos

A PARTIR DE NOVEMBRO DE 1989, os reajustes dos preços dos produtos


constantes dos Anexos A e B, da Portaria MF de nº 204/89 poderiam ser prati-
cados, independentemente de autorização prévia do CIP, desde que não
excedessem a 90% do IPC/IBGE, que houvesse um intervalo mínimo de 30 dias
entre eles e que fosse feita a comunicação ao CIP no prazo máximo de 48 horas.

Dos Reajustes de Preços Excedentes ao Limite ou Aplicados em Prazo Inferior

Deveriam ser objeto de autorização do CIP, levada em consideração a


análise do pleito e os estudos resultantes das reuniões setoriais (Acordo de
Pontos Básicos para a Condução da Política de Preços).

Das Demonstrações Financeiras

Eram as previstas na Resolução CIP de nº 137/80, facultada a entrega do


"Quadro Percentual (%) de Participação no Mercado Interno" e de informações
sobre a taxa de remuneração para o produto.

Dos Produtos Novos

Os produtos farmacêuticos novos continuaram regidos pela Resolução CIP


de nº 30/76.
Para o lançamento dos demais produtos novos, a espécie era regulada pela
Resolução CIP de nº 228/87.

Das Tabelas de Preços dos Produtos Farmacêuticos

Os estabelecimentos comerciais como drogarias e farmácias foram obriga-


dos a manter à disposição do consumidor um exemplar do Diário Oficial da
União, que publicava a tabela de preços aprovada.
Na ausência do exemplar do Diário Oficial, poderia ser utilizado o Caderno
Geral de Preços, editado sob a responsabilidade do setor industrial farmacêutico.
Os novos Preços Máximos ao Consumidor teriam obrigatoriamente de ser
remarcados nas embalagens.

[ 52 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Das Vendas a Prazo

Os encargos financeiros foram limitados, em dezembro de 1989, a 60%, ao


mês, para os produtos que não tinham seus preços máximos de venda fixados.
O pro rata era calculado de forma composta à razão de 1,58% ao dia.

estudosFEBRAFARMA [ 53 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

1990 – Do Plano Collor I – Brasil Novo

EM 15 DE MARÇO DE 1990, diante de processo inflacionário galopante, através


da Medida Provisória de nº 154, os preços de todos os produtos e serviços foram
congelados por prazo indeterminado, nos níveis dos vigentes em 16/3/1990. A
referida medida provisória foi convertida na Lei de nº 8030, em 12/4/1990.

Dos Preços-base (não distinção entre preços controlados e liberados)

Os reajustes anteriormente concedidos e não praticados foram desprezados


para efeito do preço-base (16/3/1990), valendo somente a regra de preço efeti-
vamente praticado, tanto para os produtos até então controlados como para os
liberados, exceção quanto aos preços de medicamentos, caso em que prevalece-
ram os autorizados ainda que não praticados.

Da Legislação de Intervenção

É importante assinalar que, quando da entrada em vigor do congelamento,


foi revogada toda legislação de intervenção então vigente no domínio econômi-
co, exceto a Lei Delegada de nº 4/62.

Do Padrão Monetário

Concomitantemente, foi alterado o padrão monetário nacional que voltou


a ser o Cruzeiro – Cr$ (Lei de nº 8.024/90).

Do Executor

A competência para executar o plano foi concedida à ministra da


Economia, Fazenda e Planejamento Zélia Cardoso de Mello, que, a partir de
1/5/1990, poderia iniciar o descongelamento, autorizando reajustes mensais
para os preços das mercadorias e serviços em geral.

Do Mandado de Segurança e das Medidas Cautelares

A Lei de nº 8.076/90 dispôs que ficaria suspensa, durante período estipulado,


a concessão de liminares em questionamentos sobre a aplicação, entre outras, da

[ 54 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Lei de nº 8.030/90, do congelamento, o que representou tolhimento da livre


manifestação do Poder Judiciário. Tal mandamento caracterizou ato de elevadís-
sima dose discricionária: o poder executivo quebrou a harmonia que deve reger
a relação entre os poderes constituídos.

Da Criação do DAP

Em 10/5/1990, pelo Decreto de nº 99.244, foi criado o Departamento de


Abastecimento de Preços (DAP), vinculado à Secretaria Nacional de Economia
(SNE), substituindo o CIP.

Da Flexibilização e dos Produtos Farmacêuticos

Em maio de 1990, foram excluídos da sistemática do congelamento geral os


preços de bens e serviços, exceto, entre outros, os bens considerados básicos para
consumo da população, tabelados pela SUNAB (Portaria SUPER de nº 38/90), e
os produtos farmacêuticos de uso humano (Portaria MEFP de nº 239/90).

Das Informações para o DAP

Por força da Portaria MEFP de nº 322, de 5/6/1990, diversas empresas do


setor farmacêutico, relacionadas com indicação de alguns de seus produtos,
foram obrigadas a enviar mensalmente ao órgão, até o dia 10 do mês subse-
qüente, informações sobre:

• quantidades vendidas nos mercados interno e externo;

• participação percentual no mercado de cada produto;

• percentual dos recebimentos à vista;

• nome, CGC e tipo de fornecedores; e

• quantidades e valores das compras, entre outras.

estudosFEBRAFARMA [ 55 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

A exigência dizia respeito às empresas e aos produtos relacionados na


Portaria DAP de nº 1/90. O DAP também convocava os representantes das
empresas a retirar, no órgão, os formulários e as instruções para apresentação
por meio magnético.

Dos Grupos Executivos

Foram criados os Grupos Executivos de Política Setorial (GEPS), integrados


por representantes do governo e das entidades privadas e por pessoas físicas, para
discutirem e proporem questões relacionadas à política setorial do governo.

Da Liberação de Produtos Farmacêuticos

A partir de agosto teve início o processo de liberação de preços, de forma


que, em outubro, permaneceram controlados apenas os produtos de "uso
contínuo", medicamentos para doenças crônicas. O período de liberação foi
marcado por rápida recuperação de preços pela indústria.

Das Normas de Comercialização para os Produtos Farmacêuticos

Foram consolidadas as normas que já haviam vigorado anteriormente por


portaria da SUNAB em setembro de 1990, alterada em outubro.

Das Demonstrações Financeiras

Foi instituída, em dezembro de 1990, com base na Lei de nº 8.030/90, a


obrigatoriedade de apresentação das demonstrações financeiras, que não se
tornou de efetiva aplicabilidade, já que anteriormente ocorrera a revogação da
lei mencionada.

[ 56 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1991 – Do Plano Collor II

EM 1º DE MARÇO DE 1991, a Lei de nº 8.178, que referendou a Medida


Provisória de nº 295, de 31/1/1991, revogou a Lei de nº 8.030/90, decretando
novo congelamento geral de preços nos níveis dos preços efetivamente pratica-
dos em 30/1/1991.

Dos Produtos Farmacêuticos

A maioria dos produtos farmacêuticos teve seus preços congelados em


níveis inferiores aos vigentes, face à imposição de retroação dos preços pratica-
dos à época, em conseqüência da grande elevação de preços, resultante da recu-
peração dos mesmos.

Do Executor e da Flexibilização

A competência para autorizar reajustes, suspender ou rever – total ou parcial-


mente – o congelamento de preços e liberar produtos e serviços cabia, tal qual no
Plano Collor I, à ministra do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento.

Dos Reajustes de Preços – Divulgação

Os percentuais aprovados deveriam ter sido publicados no Diário Oficial da


União, acompanhados de justificativa técnica.

Das Demonstrações Financeiras

O DAP indicava as empresas que deveriam apresentar as demonstrações


financeiras.

Das Câmaras Setoriais

As Câmaras Setoriais eram constituídas pelos representantes da SNE, do


DAP, pelos representantes dos empregadores e dos trabalhadores dos diversos
setores produtivos e das entidades sindicais nacionais, e coordenadas pela SNE,
inicialmente com o propósito de analisar a estrutura de custos e preços dos

estudosFEBRAFARMA [ 57 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

diversos setores da economia e das cadeias produtivas, e de assessorar a ministra


quanto à flexibilização dos preços. As Câmaras passaram a autorizar,
posteriormente, os reajustes, que ora incidiam sobre os preços praticados em
30/1/1990, ora sobre os constantes das tabelas de preço.

Das Normas de Comercialização para os Produtos Farmacêuticos

As normas de comercialização foram alteradas em maio de 1991, pela


Portaria SUPER 17.

Do Comércio

Foi reinstituída a fórmula CLD.

[ 58 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1991 – Da Nova Sistemática – Collor

EM 6 DE JUNHO DE 1991, pela Portaria MEFP de nº 463, ainda no governo


Collor, o ministro da Economia, Fazenda e Planejamento, Marcílio Marques
Moreira, adotou nova sistemática de controle de preços.

Da Classificação para as Indústrias e para os Prestadores de Serviços

Os produtos e serviços foram classificados em:

• controlados;

• monitorados; e

• liberados.

Os produtos farmacêuticos foram classificados como controlados e monitorados.

Da Classificação para o Comércio Atacadista e Varejista

Os produtos e serviços foram classificados em:

• tabelados;

• sujeitos à limitação da margem de comercialização; e

• liberados.

Dos Reajustes de Preços

Os reajustes dos preços dos produtos controlados e dos tabelados, e a


revisão de margem de comercialização dependiam de autorização prévia e
expressa do ministro da Fazenda.
Os monitorados encontravam-se no regime de Liberdade Vigiada, podendo ser
reajustados de imediato, desde que guardado, entre um e outro reajuste, o prazo de
30 dias e protocoladas, no DAP, listas de preços e a justificativa do aumento.

estudosFEBRAFARMA [ 59 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Das Condições de Venda

As condições de venda permaneceram inalteradas para os produtos


controlados, monitorados e tabelados.

Das Câmaras Setoriais – Reajustes de Preços e Liberação

Em conseqüência da primeira reunião da Câmara Setorial da Indústria


Farmacêutica, em 24/5/91, tiveram início os reajustes de preços, com a apli-
cação linear de 8% para todos os produtos farmacêuticos (Portaria MEFP de
nº 418/91). Foi autorizado novo reajuste em junho de 1991 sobre os preços
autorizados em maio, exceção para os produtos de uso contínuo e para os espe-
ciais, que obtiveram reajustes diferenciados.
Na segunda reunião da Câmara, em junho, foi concedido reajuste em forma
de abono, segundo faixas de preços, e foram excluídos de controle os produtos
homeopáticos, fitoterápicos e oficinais, que tradicionalmente não tinham seus
preços sob controle, embora sujeitos, em algumas fases, a acompanhamento.
Nas reuniões subseqüentes, ocorridas em julho e setembro de 1991, rea-
justes, diferenciados por produto, foram acordados com o governo.

Do Reenquadramento

Os produtos e serviços eram reclassificados em regimes de preços mais


brandos se as empresas, individualmente ou por meio das entidades de classe,
firmassem cartas-compromisso, visando entre outros fins:

• criação de subcomitês setoriais, para tratar do desenvolvimento, no


âmbito dos setores/empresas, do Programa Brasileiro da Qualidade e
Produtividade (PBQP), do Programa de Competitividade Industrial e do
Programa de Capacitação Tecnológica;

• desenvolvimento e implantação de indicadores setoriais de qualidade,


produtividade, competitividade e capacitação tecnológica.

Da Liberação dos Produtos Farmacêuticos

Ficou decidido, também, na reunião da Câmara, em setembro, que a partir


de outubro dar-se-ia início ao processo gradual de liberação de preços dos

[ 60 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

medicamentos, que foram identificados em 100 classes terapêuticas, divididas


em três categorias:

• de venda livre;

• de receituário médico; e

• de doenças crônicas.

Na primeira etapa do processo – em outubro – foram liberadas classes com


o maior número de produtos e de empresas (conseqüentemente, menor con-
centração de mercado), totalizando 24 classes de venda livre.
A lista era composta das seguintes classes terapêuticas: analgésicos não-
narcóticos e antipiréticos; antiácidos, antifiséticos e carminativos; antianêmi-
cos; antidiarréicos (antibacterianos, inibidores da motilidade, absorventes
intestinais e microrganismos antidiarréicos); antiespasmódicos puros e asso-
ciados; antigripais, exceto antiinfecciosos; antiparasitários (anti-helmínticos,
esquistossomicidas, escabicidas e ectoparasiticidas); antitussígenos; anti-
reumáticos tópicos; coleréticos e colecinéticos; complexo B; descongestionantes
nasais (descongestionantes e antiinfecciosos nasais tópicos e sistêmicos);
emolientes e protetores dermatológicos, agentes curativos-feridas, antiprurigi-
nosos, (anestésicos e antipsoríase); expectorantes; hepatoprotetores, lipotrópi-
cos e associações; laxantes; polivitamínicos com minerais; polivitamínicos
puros; preparações dermatológicas (anti-sépticos, desinfetantes, curativos
medicamentosos e antiacneicos); preparações para garganta; preparados para o
tratamento de conjuntivites não especificadas; produtos à base de cálcio e
potássio; terapia varicosa (tópica e sistêmica); tônicos.
Na segunda etapa, no início de novembro, foi liberado mais outro grupo de
classes terapêuticas: aminoglicosídeos; antibióticos e anti-sépticos urinários;
antibióticos e antiviróticos tópicos; antibióticos e antivertiginosos; antigotosos
e enzimas antiinflamatórias; anti-hemorroidários tópicos; anti-histamínicos
sistêmicos; antimicóticos, antibióticos, anti-sépticos e preparados ginecológi-
cos; antimicóticos, dermatológicos (tópicos e sistêmicos); antiinfecciosos e cor-
ticóides oftalmológicos; antiinfecciosos para gripe; antiinflamatórios, anti-
reumáticos e relaxantes musculares; antiulcerosos; corticóides, uso tópico
(puros e associados); corticosteróides; estimulantes do apetite; hormônios
sexuais; macrolidos e similares e associações de trimetoprim e similares; outros

estudosFEBRAFARMA [ 61 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

produtos oftalmológicos (anestésicos locais e lubrificantes oculares); penicili-


nas de pequeno, médio e amplo espectro; produtos otológicos; produtos para o
aparelho digestivo e metabolismo, inclusive enzimas; terapia tireoideana;
tetraciclinas, fluoroquinolanas e cefalosporinas; tricomonicidas (tópicos e
sistêmicos); e xantínicos.
Ainda em novembro, foi liberado o terceiro grupo de classes terapêuticas:
antiespasmódicos e ataráxicos; antiarrítmicos, simpaticomiméticos cardíacos,
nitritos e nitratos, agentes inotrópicos positivos; antibióticos exceto cloranfeni-
col, carbenicilina e rifampicina/rifamicina; anestésicos; psicolépticos (hipnóti-
cos sedativos não-barbitúricos tranqüilizantes); psicoanalépticos; amebicidas;
estomatológicos; repositores eletrolíticos orais; preparados anoréxicos; vitami-
nas A, B1, B6, B12, C, D, E e associações; agentes diagnósticos, anti-sépticos
cirúrgicos, nutrientes em geral.
E, em dezembro, o quarto grupo de classes terapêuticas, permanecendo apenas
sob controle as classes de produtos para tratamento das doenças crônicas:
alergênicos; anabolizantes; analgésicos narcóticos; antagonistas (antídotos para
coagulantes); anticataratogênicos; antifibrinolíticos; antimaláricos; antiinfecciosos
em geral; coagulação do sangue – fibrinogênico; corticóides e antiinflamatóricos
respiratórios não esteróides; fibrinolíticos e hialuronidase; hemotípicos; imuno-
estimulantes; midriáticos e ciclopégicos; preparados urológicos; soluções hospita-
lares (protéicas, gelatinosas e aminoácidas); terapia dos cálculos biliares.

Da Divulgação

Na oportunidade, o comércio atacadista e varejista utilizava o Caderno


Geral de Preços – publicado até hoje, que indicava, e indica, os Preços Máximos
ao Consumidor – incluindo margem de comercialização para o comércio
varejista.3

1992 – Dos Reajustes e Liberações

Até maio de 1992, diversos foram os reajustes autorizados; para permitir o


repasse de custos e para majorar os preços dos medicamentos de uso contínuo
– que estavam com os preços defasados em relação aos seus custos – foi
3
A margem compõe a receita bruta das farmácias e drogarias, e é destinada a cobrir os custos e remunerar o
capital desses estabelecimentos. A medida permanece válida até hoje, e representa o último instrumento de
controle direto de preços do setor por parte do governo. Apesar de críticas sobre as implicações da medida,
como a de que funciona como indutor de cartelização, ou de que conduz à prática de margens superiores
àquelas que seriam praticadas na ausência da chancela legal, o governo mantém a norma.

[ 62 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

autorizada a recuperação das defasagens na ordem máxima de 6% reais, a cada


mês, em período não superior a 12 meses.

Das Liberações em 1992

Em fevereiro, foram liberadas as primeiras classes terapêuticas de tratamen-


to de doenças crônicas: anti-hipertensivos; diuréticos; hipolipemiantes/anti-
ateroma; mióticos e preparados antiglaucoma; vasoterapia cerebral e periférica.
Em abril, foi a vez das classes terapêuticas antagonistas do cálcio e inibido-
ras ACE.
Em maio, quando apenas 18 classes encontravam-se controladas, as classes
terapêuticas de tratamento de doenças crônicas, de uso contínuo, obtiveram a
liberação. Elas incluem: citostáticos; neurolépticos; agentes betabloqueadores;
anticoagulantes e inibidores da agregação plaquetária; antidiabéticos; anticon-
vulsivantes; broncodilatadores e antiasmáticos; antiparquinsonianos; todos os
outros hormônios; demais produtos para terapia coronariana; glicosídeos
cardíacos e associações; hipnóticos sedativos – barbitúricos puros e associados;
imunossupressores; produtos para síndrome da imunodeficiência adquirida
(AIDS) e para hemofilia.

Da Comercialização

Ressalte-se que as liberações de preços ocorreram para a indústria, ficando


mantidas todas as condições tradicionais de comercialização: o repasse diferen-
ciado de ICMS entre o estado de origem e o de destino, o preço CIF único no
destinatário, o frete por conta da indústria e Preço Máximo ao Consumidor
(PMC) em todo o território nacional, propiciando a aquisição do produto por
toda a população por preço uniforme em todo o território nacional para as
unidades de comércio varejista, com margem máxima no varejo fixada em 30%
sobre o PMC, ou em 42,85% sobre o preço-fábrica.

Da Liberação (1991 e 1992)

O processo gradual de liberação de preços, ocorrido no período de oito


meses, entre outubro de 1991 e maio de 1992, foi seguido de significativa
elevação dos preços praticados.

estudosFEBRAFARMA [ 63 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

1992 a 1994 – Da Liberação Prolongada

NO PERÍODO COMPREENDIDO entre maio de 1992 e abril de 1994, 24


meses, os preços dos medicamentos estiveram liberados de qualquer inter-
venção, direta ou indireta, do governo.

[ 64 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1994 – Do Pré-Plano Real (URV)

EM MARÇO DE 1994, sendo presidente Itamar Franco e ministro da Fazenda


Fernando Henrique Cardoso, foi criada a Unidade Real de Valor (URV), com
curso legal para ser utilizada exclusivamente como padrão de valor monetário,
integrando o Sistema Monetário Nacional e servindo para fixar o preço em
quantidade de URVs.
Em abril de 1994, no período pré-Plano Real, os preços foram convertidos
para URV pela média dos meses de setembro a dezembro de 1993, conforme pre-
via a Medida Provisória de nº 542, de 30/6/1994, que dispôs sobre o Plano Real.
Uma vez fixada a quantidade de URVs não poderia mais ocorrer elevação
quantitativa. Os preços se alterariam apenas em função da variação do valor
diário da URV.

estudosFEBRAFARMA [ 65 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

1994 – Do Plano Real

O PLANO REAL ENTROU em vigor em 30/6/1994 para conter a espiral infla-


cionária, no governo Itamar Franco.

Do Padrão Monetário

Foi alterado o padrão monetário nacional, que passou a ser o Real – R$.

Da Indústria Farmacêutica

Do início do Plano Real e até o final de 1996 – sendo ministros da Fazenda


Rubens Ricúpero (até setembro de 1994) e Ciro Gomes (até dezembro de
1994) –, foi adotada a prática de entendimento informal com a indústria
farmacêutica, por meio do qual os parâmetros de reajuste eram fixados a cada
seis meses, segundo faixas de variação de preços consideradas próximas ao
índice oficial de inflação.
Qualquer reajuste diferente do acordado era objeto de investigação no
âmbito da Lei de nº 8.884/94 (Lei de Defesa da Concorrência). Essa sistemática
informal de acompanhamento de preços encerrou-se em fins de 1996, ensejan-
do novo período de liberdade de preços para o setor.

[ 66 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1997 a 1999 – Da Continuidade do Plano Real

NESSE NOVO PERÍODO de dois anos que se seguiu à liberação, verificaram-se


reajustes bastante elevados, o que levou o governo – sendo ministro da Fazenda
Pedro Malan – a determinar nova sistemática de acompanhamento de preços.
Assim, no dia 27 de novembro de 1998, o Ministério da Fazenda publicou no
Diário Oficial a Portaria de nº 127, estabelecendo que os laboratórios farmacêu-
ticos passassem a comunicar e justificar os aumentos de preços dos medica-
mentos sujeitos a prescrição médica, ou seja, aqueles de tarja vermelha ou preta.

Do Repasse da Variação Cambial

Em fevereiro de 1999, apreensivo com o violento impacto que a desvalorização


do real face ao dólar teria sobre os preços dos medicamentos, o governo Fernando
Henrique Cardoso, no início do segundo mandato, firmou "acordo de cavalheiros"
com o setor, fixando o critério de repasse do câmbio da seguinte forma:

• para os produtos importados prontos ficou acertado que o repasse seria


realizado em duas parcelas, projetando-se uma taxa de câmbio de R$ 1,70
para abril como limitador do repasse, com movimentos a partir da taxa de
R$ 1,21 em fevereiro, R$ 1,43 em março e R$ 1,70 em abril.

• para os produtos produzidos a partir de matéria-prima importada, o


repasse seria realizado em três parcelas, projetando-se também uma taxa de
câmbio de R$ 1,70 como limitador do repasse, mas para o mês de maio, as
duas parcelas intermediárias consideraram uma taxa de câmbio de R$ 1,52
em abril e de R$ 1,36 em março.

Nos meses de junho, julho e agosto de 1999 vigorou novo acordo, que teve
por objetivo repassar o impacto do câmbio sobre os demais insumos (basica-
mente embalagens), resultando em aumento médio acumulado de 8%.

estudosFEBRAFARMA [ 67 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

2000 – Do Protocolo de Intenções

EM MEADOS DE 2000, o governo, por intermédio dos Ministérios da Fazenda,


da Justiça e da Saúde, propôs um acordo, aceito pelo setor farmacêutico. Foi o
Protocolo de Intenções, com o intuito de estabilizar os preços e de estabelecer
o compromisso da manutenção, até dezembro de 2000, dos preços vigentes em
1º de junho daquele ano.

[ 68 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

2000 a 2002 – Da Regulação dos Preços CAMED

O RESULTADO DA INTERVENÇÃO do Grupo de Trabalho, criado em agosto


de 2000, no cumprimento da tarefa essencial a que se destinava não foi o espe-
rado, precipitando a edição de medida provisória, que, após algumas reedições,
foi convertida na Lei de n° 10.213/01, que criou a Câmara de Medicamentos
(CAMED), com competência para atuar regulando as atividades dos produ-
tores e importadores de medicamentos.
A CAMED teve inicialmente o prazo de existência previsto para um ano, até
dezembro de 2001, o qual foi estendido para dezembro de 2002.
Esse sistema de regulação se deu por meio da adoção de fórmula paramétrica
de reajustes, que considerou a evolução média dos preços praticados no período
de agosto de 1999 a novembro de 2000, versus o índice médio de preços autori-
zado 4,4%, ponderado pelo faturamento das empresas.
A regulação do mercado previu, ainda, a possibilidade de reajustes extra-
ordinários, que seriam concedidos sob condições ditadas pela CAMED. Assim
dispunha, in verbis:

"Art. 12 – Fica criada a Câmara de Medicamentos com as seguintes


competências:

I – julgar os pedidos de reajustes extraordinários de preços".

Dos Reajustes Concedidos pela CAMED

No período compreendido entre janeiro de 2001 e dezembro de 2002,


foram concedidos os reajustes ordinários e extraordinários a seguir:

Resolução Resolução Resolução Resolução Acumulado


nº 1, de nº 11, de nº 1, de nº 2, de no período
8/1/2001 19/10/2001* 21/1/2002 8/11/2002*
Reajuste
médio 4,40% 4,00% 4,32% 8,63% 23,04%

Reajuste
máximo por
apresentação 5,94% 5,00% 5,83% 9,92% 29,40%
* Reajuste extraordinário.

estudosFEBRAFARMA [ 69 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

2003 – Janeiro a Maio –


Do Protocolo de Intenções

EM 27 DE DEZEMBRO DE 2002, foi assinado novo Protocolo de Intenções,


tendo como firmantes a CAMED, a Febrafarma e as empresas que a ele
aderissem, com a anuência da equipe de transição governamental: Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Aquelas empresas que assinaram o novo Protocolo de Intenções obrigaram-se
a continuar sob a regulação econômica disposta na Lei de nº 10.213/01, man-
tendo os preços de seus medicamentos sob regulação do governo, somente
praticando reajustes autorizados e submetendo à apreciação os preços de lança-
mento dos novos produtos.

[ 70 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

2003 até os Dias Atuais – Da CMED

EM 26 DE JUNHO DE 2003, no primeiro semestre do governo Lula, foi criada


a CMED – Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, em substi-
tuição à CAMED, por medida provisória convertida na Lei de nº 10.742, de
6/10/2003, objetivando a definição de normas de regulação econômica para o
setor farmacêutico, a fim de promover assistência farmacêutica à população, por
meio de mecanismos que estimulassem maior oferta e competitividade do setor.
Mas, na prática, as ações se concentraram no controle de reajustes, na fixação
dos preços de entrada de novos produtos e de novas apresentações no mercado.

Dos Critérios da Regulação

O sistema de regulação se deu por meio da adoção de um modelo de teto


de preços, calculado com base em um índice, fator de produtividade, parcela de
fator de ajuste de preços relativos intra-setor e parcela de fator de ajuste de
preços relativos entre setores, conforme explicado a seguir:

• o índice utilizado é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo –


IPCA, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE;

• o fator de produtividade é expresso em percentual e vem a ser o meca-


nismo que permite repassar aos consumidores, por meio dos preços dos
medicamentos, projeções de ganhos de produtividade das empresas produ-
toras de medicamentos. Esse fator é estabelecido a partir da estimativa de
ganhos prospectivos de produtividade da indústria farmacêutica;

• a parcela do fator de ajuste de preços relativos entre setores é expressa em


percentual e calculada com base na variação dos custos dos insumos, desde
que tais custos não sejam recuperados pelo cômputo do índice de preços; e

• a parcela do fator de ajuste de preços relativa intra-setor é expressa em


percentual e calculada com base no poder de mercado, que é determinado,
entre outros, pela assimetria de informação, pelas barreiras à entrada e pelo
poder de monopólio.

estudosFEBRAFARMA [ 71 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

A CMED tornou-se mais fortalecida em relação à legislação anterior, pas-


sando a regular os envolvidos, a seguir relacionados, podendo responsabilizá-los
em caso de não observarem a lei:

• laboratórios produtores e importadores de medicamentos;

• farmácias e drogarias;

• representantes;

• distribuidoras de medicamentos; e

• quaisquer pessoas jurídicas de direito público ou privado, inclusive asso-


ciações de entidades ou pessoas, constituídas de fato ou de direito, ainda
que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica, que, de alguma
maneira, atuem no setor farmacêutico.

Das Competências da CMED

• definir diretrizes e procedimentos relativos à regulação econômica do


mercado de medicamentos;

• estabelecer critérios para fixação e ajuste de preços de medicamentos;

• definir, com clareza, os critérios para a fixação dos preços dos produtos
novos e de novas apresentações de medicamentos;

• decidir pela exclusão ou reinclusão de grupos, classes, subclasses de


medicamentos e produtos farmacêuticos da incidência de critérios de esta-
belecimento ou ajuste de preços;

• estabelecer critérios para fixação de margens de comercialização de


medicamentos a serem observados pelos representantes, distribuidores, far-
mácias e drogarias, inclusive das margens de farmácias voltadas especifica-
mente ao atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer
outra equivalente de assistência médica;

[ 72 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

• opinar sobre regulamentações que envolvam tributação de medicamentos;

• assegurar o efetivo repasse aos preços dos medicamentos de qualquer


alteração da carga tributária;

• zelar pela proteção dos interesses do consumidor de medicamentos; e

• decidir sobre a aplicação de penalidades previstas.

Da Composição do Conselho

O Conselho de Ministros é formado pelos seguintes membros:

I ministro da Saúde, que o preside;

II ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República;

III ministro da Justiça;

IV ministro da Fazenda; e

V ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Do Comitê Técnico-Executivo – Núcleo Executivo Colegiado da CMED:

I secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério


da Saúde, que o coordena;

II secretário-executivo da Casa Civil da Presidência da República;

III secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça;

IV secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda; e

V secretário do Desenvolvimento da Produção.

estudosFEBRAFARMA [ 73 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Da Secretaria-executiva

A secretaria-executiva, exercida pela Agência Nacional de Vigilância


Sanitária (ANVISA), tem, entre outras, as seguintes competências:

• prestar assistência direta ao Conselho de Ministros;

• acompanhar a implementação das deliberações e diretrizes fixadas pelo


Conselho de Ministros e pelo Comitê Técnico; e

• recepcionar, analisar e encaminhar ao Comitê Técnico e ao Conselho de


Ministros os pedidos de reajustes, lançamentos de produtos novos e de
novas apresentações.

Dos Produtos Novos, das Novas Apresentações e dos Genéricos

A Resolução de nº 2/04 – CMED – aprovou critérios para definição de


preços de produtos novos e novas apresentações dos quais trata o artigo 7º, da
Lei de nº 10.742, de 6 de outubro de 2003, classificando os medicamentos em
seis categorias, quais sejam:

Produto Novo: aquele objeto de patente no país e que traga ganho para o
tratamento em relação aos medicamentos já utilizados para a mesma indicação
terapêutica; o preço-fabricante proposto pela empresa não poderá ser superior
ao menor praticado para o mesmo produto na Austrália, Canadá, Espanha,
EUA, França, Grécia, Itália, Nova Zelândia e Portugal.
Caso não agregue ganho para o tratamento em relação aos medicamentos
já utilizados para a mesma indicação terapêutica, será considerado categoria II.

• Categoria I: o preço não pode ser superior ao menor preço entre os nove
países indicados na Resolução 2.

• Categoria II: o preço definido com base no custo de tratamento com o


medicamento escolhido como comparador.

Novas Apresentações de Medicamentos (Categoria III) – aqueles comer-


cializados pela própria empresa, em uma mesma forma farmacêutica.

[ 74 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

O preço-fabricante permitido não poderá ser superior à média aritmética dos


preços das apresentações do medicamento – com igual concentração e mesma
forma farmacêutica – já comercializadas pela própria empresa (extensão de linha).
Os produtos classificados nas Categorias III poderão ser comercializados
tão logo ocorra a protocolização do Documento Informativo e desde que o
preço esteja em conformidade com os artigos 7º e 12º, respectivamente.

Categorias IV e V. Consideram-se também como Nova Apresentação de


Medicamento aquele que seja novo na lista dos comercializados pela empresa
ou o medicamento já comercializado pela empresa, em nova forma farmacêu-
tica. O preço-fabricante permitido não poderá ultrapassar o preço médio das
apresentações dos medicamentos com mesmo princípio ativo e mesmas
concentrações, disponíveis no mercado, na mesma forma farmacêutica, pon-
derado pelo faturamento de cada apresentação.

Categoria VI – Genérico. Aquele que é registrado conforme dispõe a Lei


de nº 9.787/99. Para efeito do cálculo do seu preço, considera-se um valor
35% abaixo do preço do medicamento de referência.
Os produtos classificados na Categoria VI poderão ser comercializados
desde que seja protocolado o Documento Informativo e o preço esteja em
conformidade com os artigos 7º e 12º, respectivamente.

A tabela apresenta as seis categorias:

Produtos Novos Categorias I e II


Produtos que contenham I: Patente + Ganho terapêutico
molécula nova no país II: Não trazem ganho para a terapia

Novas Apresentações Categorias III, IV, V e VI


Todos os produtos que não se III: extensão de linha
encaixam como produtos novos IV: novo para a empresa
V: nova forma farmacêutica/nova associação
VI: medicamento genérico

estudosFEBRAFARMA [ 75 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Dos Produtos Liberados na Indústria

Os produtos liberados são os das seis classes sem tarja, de venda livre, que
tenham HHI menor que 1800: expectorantes, analgésicos não-narcóticos,
antigripais, excluindo antiinfecciosos, anti-sépticos e desinfetantes, estomato-
lógicos, outros polivitamínicos com minerais.
Os fitoterápicos e os homeopáticos também estão liberados.

[ 76 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

2003 a 2005 – Dos Reajustes de Preços no Atual Governo

EM 31 DE MARÇO DE 2005, os preços dos medicamentos foram reajustados,


conforme previsto na Lei de nº 10.742, de 6/10/2003. Ao contrário do que ocor-
reu nos anos anteriores, quando apenas uma porcentagem máxima foi aprova-
da, o governo fixou três faixas de aumento. Cada uma delas foi determinada
pelo cálculo do fator Z.

A fórmula do reajuste é: IPCA – X + Y + Z

O IPCA é aquele acumulado entre março de 2004 e fevereiro de 2005;

• X é o fator de produtividade;

• Y é o fator de ajuste de preços relativos entre setores;

• Z é o fator de ajuste de preços relativos intra-setor.

O fator de produtividade (fator X) foi fixado em 1,5% para o ano de 2005,


de acordo com o anexo Resolução CMED de nº 1, de 25 de fevereiro de 2004.
O fator Y calculado foi zero. Criado para corrigir choques de câmbio, o que
não ocorreu no período de março de 2004 a fevereiro de 2005.
O fator Z calculado variou entre 1,5%, 0,75% e 0%. Quanto maior a par-
ticipação do genérico dentro da classe terapêutica, maior o reajuste.

• O valor de 1,5% foi atribuído àquele grupo de produtos em que se obser-


va uma maior concorrência, com a participação de medicamentos genéri-
cos no faturamento da classe terapêutica acima de 20%.

• O valor de 0,75% foi aplicado para a classe terapêutica de produtos com


participação de genéricos no faturamento entre 15% e 20%.

• Para os demais produtos o fator Z foi de 0%.

estudosFEBRAFARMA [ 77 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Assim sendo, aplicando a fórmula, temos as três faixas de reajuste:

Se IPCA = 7,39% X = 1,5%


Y = 0%
Z1 = 1,5%
Z2 = 0,75%
Z3 = 0%

1) O maior reajuste foi no montante do IPCA pleno: 7,39% – 1,5% + 0% +


1,5% = 7,39%
2) O reajuste intermediário foi: 7,39% – 1,5% + 0% + 0,75% = 6,64%
3) O valor mais baixo: 7,39% – 1,5% + 0% + 0% = 5,89%

No período compreendido entre março de 2003 e março de 2005, foram


concedidos pela CMED os seguintes reajustes:

Protocolo de Resolução Resolução Resolução Acumulado


Intenções de de nº 4, de de nº 4, de de nº 1, de no período
27/12/2002* 29/7/2003 19/3/2004 25/2/2005
Reajuste
médio 8,63% 2,00% 5,70% 6,64% 24,90%

Reajuste
máximo por
apresentação 9,92% 2,00% 6,20% 7,39% 27,87%
* Vigência em 31/3/2003.

[ 78 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Da Análise do Controle de Preços em Outros Países

MEDICAMENTOS SÃO produtos sociais e politicamente sensíveis, motivo


pelo qual quase todos os países exercem algum tipo de controle sobre seus
preços. Quando um país avalia a efetividade da utilização de controles de preço,
considera também os potenciais impactos negativos:

• menor qualidade de produtos;

• restrição de acesso a novos medicamentos (limitação de oferta).

Essa restrição de acesso se faz sentir mesmo em países desenvolvidos. Estudo


recente apontou que o tempo médio para lançamento de um medicamento no mer-
cado norte-americano – onde o controle se faz tão somente por meio das compras
efetuadas pelo governo e pelos planos de saúde – é de apenas quatro meses, enquan-
to na França – país com maior controle – os lançamentos se dão após 15 meses.

• desestímulo à P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

Estudo do Departamento de Comércio dos EUA estima que a redução


anual de investimentos em P&D – em termos globais – esteja na faixa de US$ 5
a US$ 8 bilhões. Com isso calcula-se que três a quatro novos princípios ativos
deixem de ser desenvolvidos e lançados anualmente no mercado mundial.

Mecanismos de Controle de Preços

Os governos utilizam diversos mecanismos para controle de preços dos


medicamentos. Dividem-se estes em três tipos: controle de preços, mecanismos
de reembolso e controle de volume. No primeiro grupo estão incluídos os
seguintes mecanismos:
Referência interna As autoridades usam medicamento comparável,
já lançado no mercado doméstico, como
referência para fixação de preços.

Referência internacional O preço do produto é baseado em comparações de


preço com países onde o produto já foi lançado.
Esse método não pode ser empregado quando o
país for o primeiro a lançar o produto.

estudosFEBRAFARMA [ 79 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Adicional ao custo O preço é baseado nos custos de produção para


(cost plus) produtos individuais

Controle de lucros O controle é feito não sobre o preço de produ-


tos individuais, mas sobre a rentabilidade geral
da empresa.

Moratória/congelamento O preço do medicamento fica congelado


durante período determinado pelo governo.

Controle de margens Nesse caso o governo determina o mark-up que


pode ser praticado por distribuidores e varejistas.

Dos Mecanismos de Reembolso

Os mecanismos de reembolso são aplicados em países nos quais o estado ou


planos de saúde assumem grande parcela da distribuição de medicamentos.
O reembolso pode ser um valor fixo ou percentagem do preço do medicamento.
Entre os mecanismos se incluem:

Lista negativa Todos os medicamentos indicados nessa lista


não recebem reembolso.

Lista positiva Apenas os medicamentos indicados nessa lista


se qualificam para reembolso.

Preço de referência O reembolso é um montante fixado (não uma


percentagem) independentemente do preço do
medicamento.

Pagamento conjunto Parte do preço do medicamento é pago pelo


pelos pacientes paciente.

[ 80 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Dos Mecanismos por Volume

Mecanismos de controle de volume buscam reduzir os gastos com medica-


mentos não pelo preço, mas pela quantidade de medicamentos distribuídos. Os
mecanismos incluem:

Orçamento fixo Valor total definido para reembolso por todos


os medicamentos prescritos por um médico
dentro de um ano. Exceder o orçamento leva a
sanções financeiras.

Controle de lucro Nesse caso é controlado o lucro total que uma


empresa farmacêutica obtém com a venda de
medicamentos de marca para o governo.

Dos Genéricos

Uma outra forma de controle de preços se dá pela substituição de medica-


mentos de marca por genéricos. No caso dos EUA, mais de 50% das prescrições
são de genéricos, representando cerca de 9% do valor total de dólares dos pro-
dutos farmacêuticos vendidos no país. Em alguns países esse valor é muito
superior, chegando a 30% na Rússia e a 70% na Índia.

estudosFEBRAFARMA [ 81 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Mecanismos de Controle de Preços por Países

Alemanha
Inglaterra
Não se aplica

Holanda

Espanha

Canadá
França

Rússia

China
Brasil
Japão

Índia
EUA
Aplica-se

Referência interna
Controle Direto de Preço

Referência
internacional

Adicional ao custo

Corte de preço
Moratória/
congelamento
Controle de
margens

Lista negativa
Reembolso

Lista positiva
Controle Indireto de Preço

Preço de referência
Co-pagamento
pacientes
Volume

Orçamento fixo

Controle de lucro
Substituição
por genéricos

% genéricos 9 18 27 23 5 5 6 11 30 70 nd 8
(em valor)

[ 82 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Incentivos à Produção via Preço

Em alguns casos os governos consideram também o "grau de utilidade" do


produto, podendo conceder prêmio de preço. No caso do Japão o governo con-
cede prêmios de 40% a 100% do preço para produtos inovadores, o que serve
de incentivo ao lançamento desses produtos naquele mercado. Para outros pro-
dutos considerados de alta utilidade o prêmio pode variar de 5% a 30%.
Na Índia produtos e processos inovadores desenvolvidos por empresas
locais podem gozar de até 15 anos de isenção de controle de preço.
Medicamentos de baixo custo, medido em termos de custo-dia por medica-
mento, também recebem isenção.
Na Alemanha considera-se o fator inovação para isentar produtos farmacêu-
ticos com qualidades terapêuticas especiais de submissão a preços de referência.
A lucratividade das empresas farmacêuticas britânicas é controlada pelo governo,
que a determina em função do grau de inovação e volume de exportação.
No caso da China prevalece política de substituição de importações, pelas
quais produtores locais, que utilizem tecnologias modernas ou produzam alterna-
tiva mais barata ao produto importado, são autorizados a praticar margens mais
elevadas. Esse tipo de incentivo é oferecido também para produtores estrangeiros
se suas atividades levarem à transferência de tecnologia a empresas locais.
O prêmio pode também ser concedido para produtos voltados para
pequenos segmentos. Novamente, no caso do Japão, para produtos voltados
para uma patologia carente de classe terapêutica que a combata concedem-se
prêmios de 10% a 15%, enquanto produtos voltados para mercados pequenos
e farmacologicamente novos recebem prêmios entre 1,5% e 4,5%.
A situação inversa, de desincentivo à inovação, ocorre no México nas vendas
ao setor público. O critério utilizado pelo governo mexicano no processo de
decisão de compra de medicamentos é o de buscar o menor preço possível, o
que pode restringir o acesso de pacientes a medicamentos inovadores. Sete dos
20 medicamentos mais comprados pelo governo mexicano têm mais de 40 anos
de idade. Nas vendas para o setor privado o governo também negocia com os
produtores, mas os preços são significativamente mais elevados. Nesse caso os
ministérios da Saúde e da Economia negociam preços máximos com a
Associação da Indústria Farmacêutica do México. As margens praticadas por
distribuidores e varejistas são negociadas com cada produtor individualmente.

estudosFEBRAFARMA [ 83 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Compras Governamentais

Em alguns países o governo desempenha o principal papel na distribuição


de medicamentos e, por isso, tende a atuar de forma mais ativa no controle de
preços por motivos orçamentários. Na Austrália, por exemplo, 95% das pres-
crições de medicamentos são subsidiadas pelo governo. Esse subsídio cobre
cerca de 80% do custo das receitas prescritas no país. O preço pago inclui o
preço negociado com o produtor, 10% de margem do distribuidor, 10% de
margem do varejista e uma taxa paga aos farmacêuticos.
No sistema australiano existem duas categorias de subsídios – o dado para
pacientes em geral e o dado para trabalhadores pobres, desempregados, defi-
cientes e pessoas da terceira idade. A parcela não subsidiada da prescrição para
esse último grupo era no início de 2004 de cerca de 15% do preço pago pelos
clientes "gerais". Com isso, cerca de 80% dos subsídios governamentais eram
(e provavelmente ainda são) direcionados ao segundo grupo.
No caso do Canadá, o Comitê de Análise de Preços de Medicamentos
Patenteados (PMPRB) define o preço máximo que os laboratórios podem cobrar,
o qual é estabelecido a partir da média de preços praticada em sete outros países
(Alemanha, Suíça, Suécia, Itália, Estados Unidos, França e Inglaterra). Essa
média não pode ser superada. A prática de preços maiores que os aprovados
pode resultar em multas significativas.
Uma vez estabelecido o preço para um novo medicamento pelo governo,
este passa a funcionar como patamar máximo para os preços a serem nego-
ciados pelas províncias e territórios, que negociam outros descontos.
Para os medicamentos com pouco ou nenhum efeito terapêutico inovador,
segundo critério do PMPRB, os preços estão amarrados aos de medicamentos
já existentes no mercado com efeitos similares.
No caso da Colúmbia Britânica, o governo da província define preço de
reembolso para todos os produtos agrupados em uma classificação terapêutica
determinada. Isso permite aos laboratórios cobrar qualquer preço abaixo do
estabelecido pelo PMPRB, mas requer que o paciente individual arque com a
diferença entre o preço da província e o do PMPRB.

[ 84 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Considerações Finais
CONSTATAMOS, a partir da evolução histórica, que os governos, ao optarem por
decretar planos gerais de controle de preços, fizeram-no em momento de crise
com o intuito declarado de neutralizar os efeitos nocivos da escalada da inflação.
Na maior parte das vezes, foram planejados para vigorar por período
curto de tempo, e acabavam sendo postergados, pois o que era tão fácil de
começar se tornava difícil de terminar, tanto do ponto de vista econômico
como político, uma vez que, depois de implantados, crescia o entusiasmo do
povo e a crença de que os resultados advindos melhorariam seu bem-estar.
Não tardavam a surgir os efeitos negativos, trazendo verdadeiras aberrações,
com reflexos na ordem econômica e na ordem pública.
Durante os governos militares, ocorreu o absurdo de se prejulgar o
comportamento da empresa, que, sem o direito de defesa, princípio elemen-
tar de justiça, tinha cortados não apenas seus créditos como também o direi-
to de recorrer à carteira de redescontos. E, como se não bastasse, seu nome era
amplamente divulgado pela mídia, tornando-a alvo da execração popular.
No Plano Cruzado I, por exemplo, durante os primeiros dias, face ao
constante apelo à população, a situação se repetiu, com os famosos "fiscais
voluntários" não raro assumindo comportamentos inconseqüentes ou até ile-
gais, de resultados danosos para a comunidade e para a economia em geral.
No Plano Collor I, Brasil Novo, ocorreu o absurdo de o Executivo, por
meio da Lei de nº 8.076/90, usurpar funções exclusivas do Judiciário,
impedindo a concessão de medida liminar em mandado de segurança e ação
cautelar que questionasse a aplicação da Lei de nº 8.030/90.
Portanto, certo é que o controle e o congelamento geral de preços não têm se
mostrado medida eficaz quanto a seus resultados. Não raro, o controle e o conge-
lamento constituem perigoso instrumento de perturbação do mercado, e, quan-
to mais duradouros, tanto mais se acentuam seus efeitos negativos. Basta citar a
escassez de produtos, face à retração da oferta e ao aumento da demanda – conse-
qüência dos preços aviltados –, seguida do surgimento do ágio e do mercado
negro e, principalmente, do lançamento de produtos novos que, na sua quase
totalidade, não passavam de maquiagem de produtos já existentes no mercado.
É bem verdade que, sob o regime de intensa concorrência, os preços tendem
a níveis mais baixos, à medida que esse regime enseje ganhos de eficiência
econômica. Não menos verdadeiro é que tal resultado só pode ser alcançado se
for implantado regime concorrencial de fato a priori, e não a posteriori, como

estudosFEBRAFARMA [ 85 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

erroneamente foi utilizado em passado recente, tentando-se controlar preços.


Sucede, e provado está, pelo mundo afora, que controlando preços se inibe
a concorrência. E, ao contrário, preservando a concorrência é que se obtêm
menores preços.
Outra conseqüência negativa, especialmente crítica, é o desestímulo que
tais medidas provocam no empresariado em geral, com queda dos investimen-
tos em pesquisa e queda da melhoria e do desenvolvimento tecnológico, os
quais, pelo seu elevado custo, merecem, obviamente, retorno compatível, em
tempo e valor adequados.
A busca por inovações é um dos principais elementos da concorrência no
setor farmacêutico, e, ao mesmo tempo em que supõe poder de mercado, tam-
bém tem o potencial de gerar efeitos positivos do ponto de vista social. A regu-
lação do setor tenta contrabalançar esse poder de mercado, objeto de preocu-
pação das políticas públicas voltadas para o setor. A questão relevante é identi-
ficar os instrumentos de política mais adequados e eficazes para equilibrar esse
poder, sem perder os aspectos positivos a ele associados.
Além disso, o congelamento e o "controla-libera-controla", solavancos,
surtos e soluços dos condutores da política econômica de ocasião, não garan-
tem ambiente em que se possa planejar o amanhã.
E também é preciso questionar se uma política de controle de preços não é
contraproducente para o funcionamento dos mercados. Dadas as peculiaridades
do mercado de produtos farmacêuticos, é possível se argumentar a favor de
algum tipo de intervenção reguladora no tocante a preços. Isso porque se obser-
va certo poder de arbitragem, por parte das empresas, no estabelecimento dos
preços, o qual pode influenciar de maneira negativa os objetivos contemplados
pela política de saúde pública – a universalização do acesso a medicamentos.
Por outro lado, não há dúvida de que os preços dos medicamentos devem
ser preocupação e objetivo central de políticas de cunho social, por meio de um
conjunto de medidas que possam garantir o acesso de todas as classes sociais ao
seu consumo – em especial as menos favorecidas. Isso, aliás, já ocorre com os
medicamentos: tanto no Brasil como em países desenvolvidos, que, embora
adotem, de forma geral, políticas liberais e de desregulamentação, intervêm de
diversas maneiras na produção e na comercialização desses produtos.
Com efeito, EUA, Austrália, Inglaterra, França, Itália, Canadá, Rússia, Japão,
China e Holanda, dentre outros, exercem algum tipo de controle e regulamen-
tação de preços com variação de forma e intensidade de um país para outro
(vide capítulo "Da Análise do Controle de Preços em Outros Países"), objeti-
vando o acesso a medicamentos pela população.

[ 86 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

O debate ocorre entre duas escolas de pensamento: aquelas que acreditam


que a melhor forma de regular o mercado é a livre iniciativa entre compradores
e produtores, obtendo maior equilíbrio e eficiência econômica, e aquelas que,
no extremo oposto, de forma articulada e apresentando justificativas econô-
micas, argumentam que os interesses da coletividade devem ter prioridade e se
sobrepor aos dos particulares. Assim sendo, fica claro que não há consenso
quanto ao melhor caminho a seguir.
Como não existe verdade absoluta em ambas as partes, o que se propõe é
uma solução intermediária que congregue os pontos positivos de cada uma.
De tudo o que foi dito, resta compreendido que o controle rigoroso dos
preços, mormente em forma de "congelamentos gerais de preços" de produtos e
serviços, após eventual êxito inicial, mostra-se, com o tempo, ineficaz e até danoso.
Mas também se deve considerar que existem riscos em deixar as forças do
mercado livres, quando se sabe que elas não são equilibradas e distribuídas em
sua força e influência, e que esperar por uma reforma institucional que resolva
essa falha estrutural é adiar para futuro incerto a solução de problemas presentes.

estudosFEBRAFARMA [ 87 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Conclusão

O GOVERNO DEVE ter papel de regulação em mercados de bens ou serviços


que sejam essenciais para a população e apresentem imperfeições relevantes.
A regulação, no entanto, deve ter o cuidado de não contrariar de forma
míope a direção e os objetivos das livres forças do mercado, porque no mundo
globalizado essas forças e esses interesses percorrem caminhos próprios e
autodirecionados com autonomia que os torna de fato imunes à governança
intrusiva e dominadora.
Ao contrário, deve-se aproveitar a iniciativa e a propulsão desses recursos e
do conhecimento científico que alimentam as forças de mercado para uma
parceria que atenda aos interesses comuns, com vistas a chegar a um equilíbrio
capaz de garantir sobrevivência digna e estimulante da indústria, e ao mesmo
tempo assegurar os interesses da população consumidora.
Trata-se assim, antes de realizar uma estratégia de "consumo", substituí-la por
outra, digamos de consumação, que, como nos casamentos, apenas se concretiza se
houver realmente uma união efetiva, dos setores e interesses envolvidos.
As estratégias tradicionais disponíveis para lidar com preços de mercado
podem ser divididas em ações pelo lado da demanda e ações pelo lado da oferta.
As ações pelo lado da demanda estão ligadas à capacidade de barganha do
comprador. Em geral, tais ações referem-se ao fortalecimento do poder de
compra do estado e dos sistemas privados (planos de saúde).
Já pelo lado da oferta, as ações para a redução dos preços de mercado buscam
mecanismos capazes de compensar, reduzir ou suprimir as falhas de mercado,
introduzindo e fortalecendo o sistema de defesa da concorrência.
Tendo em vista a necessidade de provocar a geração ou o fortalecimento da
concorrência em mercados específicos do setor farmacêutico, há de se dispor de
medidas adicionais. Dentre estas, haverá, por exemplo, o incremento da política
de medicamentos genéricos, produtos que comprovadamente geram ou fomen-
tam a concorrência nas subclasses terapêuticas em que atuam, provocando, em
conseqüência, a diminuição do preço médio dos tratamentos dos consumidores.
A implantação de um sistema de preços de referência é medida que tende a atuar
sobre a oferta de medicamentos e deveria complementar-se necessariamente com
medidas paralelas que incidam sobre a demanda (política de assistência de co-
pagamento), que, por conseqüência, aliviaria a pressão sobre o já precário SUS.

[ 88 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

O sistema de preços de referência deve ser compreendido como uma estratégia


consistente com o uso eficiente dos recursos públicos, a qual não afeta a eqüi-
dade. A aplicação de preços de referência a medicamentos equivalentes, cuja
patente tenha expirado, é um mecanismo que aumenta a eficiência do gasto
sanitário, além de racionalizar o financiamento público dos medicamentos,
diminuindo seu custo.
Em resumo, o que se propõe é a adoção de medidas que fortaleçam o papel
dos grandes financiadores públicos e privados aumentando seus recursos e a
eficácia na sua aplicação. Aliadas a isso, devem ser adotadas estratégias de
compensação ou redução das falhas de mercado: incentivar o incremento da
política de genéricos; implantar sistema de co-pagamento; financiar pesquisas,
inclusive facilitando a utilização das estruturas de pesquisa já existentes nas
fundações, universidades federais e estaduais, dentre outras iniciativas. Essas
medidas exercem um impacto lento, mas progressivo, promovendo mudanças
estruturais a médio e longo prazos, resultando numa importante redução dos
gastos para toda a sociedade.

estudosFEBRAFARMA [ 89 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Anexo I

As Moedas no Brasil Durante o Período Abordado

1940-1942 – real
1942-1967 – cruzeiro
1967-1970 – cruzeiro novo
1970-1986 – cruzeiro
1986-1989 – cruzado
1989-1990 – cruzado novo
1990-1993 – cruzeiro
1993-1994 – cruzeiro real
1994-hoje – real

[ 90 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Anexo II

Resumo das Fases de Controle de Preços na Indústria Farmacêutica no Brasil


Fevereiro de 1965
Período 1940-1962 1962-1965 a outubro de 1966

Órgãos CCME, CCP, COFAP SUNAB CONEP e SUNAB


executores

Áreas Presidentes da Superintendente da Superintendente da


responsáveis CCME, CCP e SUNAB SUNAB
COFAP

Tipos de Tabelamento e Tabelamento e Os aumentos de


controle fórmula CLD mais fórmula CLD mais preços submetidos
direcionados ao direcionados ao à prévia autorização
atacado e varejo atacado e varejo da CONEP, que
analisava, em conjunto,
com a SUNAB

Controle sobre Exercido apenas Exercido apenas Medicamentos


medicamentos sobre o comércio sobre o comércio essenciais e margem
varejista varejista e comercialização,
(atacado e varejo)

Nível de Baixo Baixo Alto


controle

Contexto Devido à guerra Aceleração Arrocho monetário


histórico elevaram-se preços de inflacionária, devido ao e controle de preços
produtos importados, descontrole monetário. reduziram e
determinando o esta- O recrudescimento da represaram o nível
belecimento de quotas política cambial resul- inflacionário.
(risco de desabasteci- tou em restrições às Economia fechada
mento). Flexibilização importações. João às importações.
das importações ao Goulart (presidencialis- Governo Castello
final da guerra para mo) e governo Castello Branco
compensar saldo Branco, primeiro
comercial acumulado.
governo militar
Estado Novo (Getulio
Vargas), Dutra, Getulio
Vargas, JK,
Jânio Quadros e
João Goulart
(parlamentarismo)

estudosFEBRAFARMA [ 91 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Outubro de 1966 a Janeiro de 1968 a


Período dezembro de 1967 agosto de 1968

Órgãos CONEP e SUNAB CONEP, SUNAB, GAC


executores

Áreas SUNAB e Ministério da Indústria Ministérios da Indústria e do


responsáveis e do Comércio Comércio e da Fazenda

Tipos de Reajustes automáticos baseados Análise prévia dos reajustes,


controle na variação das ORTNs. Reajustes levada em consideração a
superiores dependiam de variação de custo
aprovação da CONEP

Controle sobre Em junho de 1967, os preços de Aumentos de preços submetidos à


medicamentos medicamentos com variação prévia autorização do CONEP
superior a 25% retroagiram a esse
patamar e daí em diante ficaram
limitados às ORTNs

Nível de Médio Alto


controle

Contexto Economia fechada, inflação relati- Inflação gradualmente reduzida.


histórico vamente estabilizada e indexação Relativo ajuste monetário aliado a
de preços. rigoroso controle de preços.
Governo Castello Branco e, a par- Governo Costa e Silva
tir de março de 1967, Costa e Silva

[ 92 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Agosto de 1968 Setembro de 1974


Período a setembro de 1974 a março de 1979 Abril de 1979 a 1983

Órgãos Conselho Interministerial de Preços (CIP)


executores

Áreas Ministério da Fazenda e SEPLAN


responsáveis

Tipos de Análise prévia, levadas Início de Liberdade Retorno ao controle


controle em consideração as Vigiada, exceto pro- de preços.
variações de custos. dutos farmacêuticos, Análise prévia
Início dos Acordos entre outros
Setoriais
Controle sobre Aumentos de preços Foi um dos poucos Aumentos de preços
medicamentos submetidos à prévia setores sobre os quais submetidos à prévia
autorização do CIP e se manteve controle autorização do CIP e
imposição de limites de preços aquisição de medica-
aos descontos dados mentos pelos canais de
ao varejo distribuição subordi-
nada à apresentação de
tabela de preços autenti-
cada pelo CIP. Produtos
populares liberados do
controle de preços a
partir de março de
1982. Novas margens de
comercialização

Nível de Muito alto Alto Alto


controle

Contexto Inflação estabilizada em Forte aceleração Choque do petróleo,


histórico patamar alto, decorrente inflacionária, decor- crise cambial, maxi-
do controle de preços e rente do desequilíbrio desvalorização.
de ajuste monetário. O das contas públicas. Recrudescimento da
final desse período foi Governo Ernesto inflação. Estagflação.
de aceleração infla- Geisel Governo João
cionária, decorrente da Figueiredo
decisão do governo de
manter altas taxas de
crescimento, apesar dos
choques externos
(petróleo e juros).
Governo Costa e Silva,
Junta Militar e Emílio
G. Médici e início do
governo Ernesto Geisel

estudosFEBRAFARMA [ 93 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Janeiro a dezembro Janeiro de 1985 a


Período 1983 de 1984 março de 1986

Órgãos CIP e SUNAB SEAP, CIP e SUNAB


executores

Áreas SEPLAN Ministério da Fazenda


responsáveis

Tipos de Os controlados Aumentos de preços Aumentos de preços


controle podiam ser reajusta- submetidos à prévia submetidos à prévia
dos em até 90% e autorização do CIP autorização do CIP
depois em até 80% da
variação das ORTNs

Controle sobre Análise prévia e alte- Análise prévia e alte- Análise prévia
medicamentos ração da margem de ração da margem de
comercialização comercialização

Nível de Alto Alto Alto


controle

Contexto Acordos com o FMI A inflação alta e Acomodação de


histórico repactuados. Ajuste constante. preços e desequilíbrio
interno. Agravamento Governo João das contas públicas.
do quadro infla- Figueiredo Governos João
cionário. Figueiredo e José
Governo João Sarney
Figueiredo

[ 94 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Plano Cruzado – Cruzado – Pré-Plano Bresser –


Período 1986-1987 flexibilização 1987 maio de 1987

Órgãos Ministério da Fazenda CIP, SUNAB, SEAP Ministério da Fazenda


executores

Áreas Ministério da Fazenda


responsáveis

Tipos de Congelamento geral de Flexibilização e classifi- 80% da variação do


controle preços cação: cipados, tabela- INPC
dos, Liberdade Vigiada.
Introdução da obriga-
toriedade da auditoria
externa. Alterado o
tipo de controle
para: controlados,
liberdade vigiada e
acompanhamento de
preços

Controle sobre Congelados Cipados – sujeitos Sujeitos à análise


medicamentos à análise prévia e prévia
controlados

Nível de Muito alto Alto Alto


controle

Contexto Inflação reprimida, Reajustes de preços Tentativa de controle


histórico desequilíbrios externos para recuperar custos dos preços clássica.
e moratória. Governo não repassados. Governo José Sarney
José Sarney Tensões inflacionárias.
Governo José Sarney

estudosFEBRAFARMA [ 95 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Plano Bresser e flexibi- Plano Maílson Pós-Verão –


lização – junho de 1987 (Verão) – janeiro de maio de 1989 a
Período a dezembro de 1988 1989 a maio de 1989 novembro de 1989

Órgãos CIP CIP, SUNAB CIP


executores

Áreas Ministério da Fazenda


responsáveis

Tipos de Congelamento de Congelamento geral de Classificados como


controle preços e, a partir de preços estritamente controla-
setembro, por classifi- dos (Anexo A) e con-
cação: estritamente con- trolados (Anexo B).
trolados, controlados, Durante a análise, em
variação da URP e libe- face da hiperinflação,
rados. Reintroduzidas os custos aumentavam,
as homologações pelo obrigando a uma
plenário releitura do pleito que
considerava novos
valores independente-
mente de comprovação

Controle sobre Congelados e, a Congelados Sujeitos à prévia


medicamentos partir de setembro, aprovação (Anexo A).
autorização prévia Homeopáticos e
fitoterápicos tinham
reajustes automáticos
(Anexo B)

Nível de Muito alto e alto Muito alto Alto


controle

Contexto Tentativa de reordena- Reforma monetária. Processo hiperinfla-


histórico mento de preços pelas Reajustes de preços cionário. Crise cambial.
vias clássicas de questionados, processo Governo José Sarney
controle, contestada hiperinflacionário e
pela indústria. dificuldades para
Governo José Sarney repactuar a dívida.
Governo José Sarney

[ 96 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Plano Collor I – Plano Collor II –


Novembro de 1989 a março de 1990 a janeiro de 1991 a
Período março de 1990 dezembro de 1990 junho de 1991

Órgãos CIP SNE, DAP, SUNAB


executores

Áreas Ministério da Fazenda Ministérios da Economia, da Fazenda e


responsáveis do Planejamento

Tipos de Aumentos automáticos Congelamento geral de Congelamento de


controle limitados a 90% do preços e flexibilização a preços
INPC partir de maio.

Controle sobre Análise prévia e o Congelados e a partir Congelados em níveis


medicamentos comércio obrigado a de agosto tem início a inferiores aos vigentes.
manter à disposição um liberação dos preços. Normas de comercia-
exemplar do Diário As normas sobre lização alteradas. Início
Oficial, ou do Caderno margem de comer- da flexibilização pelas
Geral de Preços cialização foram Câmaras Setoriais
consolidadas

Nível de Alto Muito alto, alto e Muito alto e baixo


controle inexistente

Contexto Agravamento do Reforma monetária. Inflação alta. Crise


histórico quadro inflacionário. Brutal recessão. institucional.
Inflação chega a 84% Bloqueio de ativos Governo Fernando
ao mês. financeiros e queda Collor
Governo José Sarney brusca da inflação,
que não se sustenta.
Governo Fernando
Collor

estudosFEBRAFARMA [ 97 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Junho de 1991 a Janeiro de 1992 a Maio de 1992 a abril


Período dezembro de 1991 maio 1992 de 1994

Órgãos SNE, DAP DAP


executores

Áreas Ministérios da Economia, da Fazenda e Ministérios da


responsáveis do Planejamento Economia, da Fazenda
e do Planejamento
e posteriormente
Ministério da Fazenda

Tipos de Classificados como Liberdade para indús- Liberados


controle controlados, moni- tria farmacêutica e
torados e liberados controle de margem
para o varejo

Controle sobre Classificados como Os remédios incluídos Liberados para


medicamentos controlados ou moni- nas classes de doenças indústria e controle de
torados. Deu-se o iní- crônicas, as únicas que margem para o varejo
cio do reajustes de estavam controladas, Os preços foram
preços para os produ- obtiveram a liberdade convertidos, a partir
tos farmacêuticos e a nesse período. de abril de 1994, para
liberação de classes Foi mantido o controle URV
terapêuticas pelas de margem do varejo
Câmaras Setoriais

Nível de Alto Médio Inexistente


controle

Contexto Preços negociados nas Inflação alta. Inflação acelerada. Taxa


histórico Câmaras Setoriais. Governos Fernando anualizada chega ao
Início da renegociação Collor e Itamar Franco patamar de 5.000%. No
da dívida. Governo final do período foi
Fernando Collor instituída a URV, como
preparação para o
Plano Real.
Governo Itamar Franco

[ 98 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Julho de 1994 a Janeiro de 1997 a


dezembro de 1996 – dezembro de 1999 – Janeiro a dezembro
Período Plano Real Plano Real de 2000

Órgãos SPE e SEAE SEAE SEAE


executores

Áreas Ministério da Fazenda Ministério da Fazenda Ministérios da Fazenda,


responsáveis da Justiça e da Saúde

Tipos de Liberdade Vigiada Liberdade e Acordo Liberdade e Acordo


controle

Controle sobre Entendimento informal A partir de novembro Liberdade até junho


medicamentos e reajustes semestrais de 1998, para os de de 2000 e protocolo
tarja vermelha e preta, com preços estabiliza-
obrigatoriedade de dos de junho a
comunicar e justificar. dezembro de 2000
E em fevereiro de
1999 foi firmado
acordo para repasse da
variação do câmbio

Nível de Médio Baixo e médio Inexistente e médio


controle

Contexto Lançamento do Plano Crise asiática provoca Política monetária


histórico Real leva o país a perío- fuga de capitais voláteis estável e câmbio flexí-
do de inflação controla- e desvalorização cam- vel. Controle da
da, utilizando o câmbio bial. Adoção do câm- inflação, via política
e as políticas fiscais e bio flexível, recrudesci- monetária.
monetárias como ânco- mento da inflação. Governo Fernando
ras. Fim da indexação. Governo Fernando Henrique Cardoso
Governo Itamar Franco Henrique Cardoso
até dezembro de 1994 e,
a partir de janeiro de
1995, Fernando
Henrique Cardoso

estudosFEBRAFARMA [ 99 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Período Janeiro de 2001 a dezembro de 2002 Janeiro de 2003 a março de 2005

Órgãos Conselho de Ministros/Comitê Conselho de Ministros/Comitê


executores Técnico/Anvisa Técnico/Anvisa

Áreas SEAE/Protocolo de Intenções e CMED


responsáveis CAMED

Tipos de Farmacêuticos controlados, com Controlados, com liberdade apenas


controle liberdade apenas para os medica- para os medicamentos fitoterápicos
mentos fitoterápicos e homeopáticos e homeopáticos e algumas classes
sem tarja, fator produtividade, fator
intra-setor e fator de ajuste de
preços entre setores

Controle sobre Fórmula paramétrica de reajustes Modelos teto de preços, com rea-
medicamentos anuais, com possibilidade de justes anuais IPCA e fatores de pro-
reajustes extraordinários dutividade intra-setor e entre setores

Nível de Alto Alto


controle

Contexto Metas para superávit primário, com Continuidade da política


histórico forte ajuste monetário e consistente econômica do período anterior.
queda inflacionária. Juros elevados. Baixo nível de inflação.
Governo Fernando Henrique Governo Luiz Inácio Lula da Silva
Cardoso

Preponderando o IGP entre os índices oficiais de inflação, foram celebrados contratos de reajustes anuais para
preços e tarifas públicos (energia elétrica, transporte, telecomunicações...) das empresas privatizadas.

[ 100 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Anexo III

Gráfico IGP 1944 a 2004

10000
1990: 1994:
1987: Plano Plano
Plano Collor Real
Bresser
1000 1983:
1963: crise Maxides- 1999:
1979: 2º 1989:
monetária
choque do valorização Plano Desval.
e cambial cambial
pretróleo Verão
100

1986:
Plano
10 Cruzado
1973: 1º
choque do
pretróleo
1
1944 1948 1952 1956 1960 1964 1968 1973 1976 1979 1984 1988 1992 1996 2000 2004

Fonte: Fundação Getulio Vargas

estudosFEBRAFARMA [ 101 ]
LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Anexo IV
Estímulos
1965 – PIGB de nº 71/65

Com o objetivo de recompensar as empresas que viessem a colaborar com


o governo no sentido de manter sob controle a inflação, foram concedidos os
estímulos a seguir relacionados:

• redução do depósito de garantia, isenção do depósito prévio e do encargo


financeiro, de que tratava a Instrução nº 285 da SUMOC, na compra de
cambiais para as importações de matérias-primas, peças e partes comple-
mentares, para uso próprio das empresas;
• redução do depósito prévio e do encargo financeiro nas operações de
crédito que a empresa realizasse no exterior;
• ampliação do limite semanal de aquisição de câmbio para importações;
• preferência, para fins de redesconto, dos títulos emitidos pelas empresas,
de modo a permitir que os refinanciamentos fossem realizados nos prazos
dos títulos, os quais seriam encaminhados à Carteira de Redescontos do
Banco do Brasil S/A em borderôs especiais;
• ampliação dos limites de crédito da empresa no Banco do Brasil S/A;
• autorização para efetuar o recolhimento do imposto de consumo na base de
períodos semanais, no caso de produtos sujeitos a alíquotas até 15% ad valorem.

1966 – Ampliação dos Estímulos (PIGB de nº 71/65)

Objetivando aumentar o número de empresas que estivessem dispostas a


aderir à política governamental de combate ao processo inflacionário, foram
ampliadas as modalidades de estímulo, incluindo as seguintes:

• exclusividade nas vendas diretas ou indiretas na qualidade de subforne-


cedor às entidades governamentais, autárquicas, sociedades de economia
mista e sociedades com a maioria das ações em poder de entidades gover-
namentais, entidades que exigiam, nas concorrências públicas e adminis-
trativas, ou na coleta de preços, a comprovação da inscrição na CONEP;

[ 102 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

• exclusividade na obtenção de aumentos de limites operacionais para crédito


de curto prazo e na concessão de novos financiamentos ou avais nos bancos e
nas entidades financeiras oficiais, respeitadas as normas de operação dos
mencionados bancos e entidades;
• preferência para fins de redesconto dos títulos de sua emissão, de forma a
permitir que os refinanciamentos fossem realizados nos prazos dos títulos,
que eram encaminhados ao Banco Central da República do Brasil em bor-
derôs especiais;
• exclusividade na participação dos benefícios de redução ou isenção do
imposto de consumo, quando concedidos na forma da Lei de nº 4.663/65;
• faculdade de, durante o exercício de 1966, acrescer ao limite o aumento de
preço que viesse a ser permitido para gozo dos favores de redução do
imposto de renda previstos na Lei de nº 5.664/65 a diferença não utilizada
em 1965;
• habilitação para negociar ajustes de fretes com companhias ferroviárias
pertencentes à União ou com sociedades de economia mista com a maioria
de ações em poder de entidades governamentais;
• redução ou isenção de gravames de caráter cambial para:
- importação, quando não houver similar nacional, de matérias-primas,
máquinas e equipamentos de produção;
- importação de peças e partes complementares para integrar produto
de fabricação nacional, quando se tratar de programas de industrialização
devidamente aprovados pelos órgãos competentes;
- serviço de amortização e juros nas operações de crédito realizadas no
exterior, assim como remessas de dividendos e royalties;
- ampliação do limite semanal de aquisição de cambiais para a importação.

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LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Anexo V
Infrações

As previstas na Lei de nº 1.522/52, e na Lei Delegada de nº 4/62, com a nova


redução dada pela Lei de nº 7.784/89, citadas a seguir:

a) vender ou expor à venda mercadorias ou contratar ou oferecer serviços


por preços superiores aos oficialmente tabelados, aos fixados pelo órgão ou
pelas entidades competentes, aos estabilizados em regime legal de controle
ou ao limite de variações previstas em plano de estabilização econômica,
assim como aplicar fórmulas de reajustamento de preços diversas daquelas
que fossem pelos mesmos estabelecidas;
b) sonegar gêneros ou mercadorias, recusar vendê-los ou retê-los para fins
de especulação;
c) não manter afixada, em lugar visível e de fácil leitura, tabela de preços dos
gêneros e das mercadorias, dos serviços ou das diversões públicas populares;
d) favorecer ou preferir comprador ou freguês, em detrimento de outros,
ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distri-
buidores ou revendedores;
e) negar ou deixar de fornecer a fatura ou nota, quando obrigatório;
f) produzir, expor ou vender mercadoria cuja embalagem, tipo, especifi-
cação, peso ou composição transgridam determinações legais ou não
correspondam à respectiva classificação oficial ou real;
g) efetuar vendas ou ofertas de vendas, compras ou ofertas de compras que
incluam uma prestação oculta, caracterizada pela imposição de transporte,
seguro e despesas ou recusa de entrega na fábrica, sempre que esta caracte-
rize alteração imotivada nas condições costumeiramente praticadas, visan-
do burlar o tabelamento de preços;
h) emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não correspondam à mer-
cadoria vendida em quantidade ou qualidade, ou, ainda, aos serviços efeti-
vamente contratados;
i) subordinar a venda de um produto à compra simultânea de outro produto
ou à compra de uma quantidade imposta;
j) dificultar ou impedir a observância das resoluções que forem baixadas
em decorrência desta Lei;

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INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

k) sonegar documentos ou comprovantes exigidos para apuração de custo


de produção e de venda, ou impedir ou dificultar exames contábeis que
forem julgados necessários, ou deixar de fornecer esclarecimentos que
forem exigidos;
l) fraudar as regras concernentes ao controle oficial de preços, mediante
qualquer artifício ou meio, inclusive pela alteração, sem modificação essen-
cial ou de qualidade, de elementos como a embalagem, denominação,
marca "griffe", especificações técnicas, volume ou peso dos produtos,
mercadorias e gêneros;
m) exigir, cobrar ou receber qualquer vantagem ou importância adicional
a valores relativos a preços tabelados, congelados, fixados, administrados ou
controlados pelo Poder Público;
n) descumprir ato de intervenção, norma ou condição de comercialização
ou industrialização estabelecida;
o) organizar, promover ou participar de boicote no comércio de gêneros
alimentícios ou – quando obrigado por contrato em regime de concessão,
no comércio de produtos industrializados – deixar de retirá-los de fábrica,
dificultando sua distribuição ao consumidor;
p) impedir a produção, comercialização ou distribuição de bens ou a
prestação de serviços no País;
q) promover ajuste ou acordo entre empresas ou entre pessoas vinculadas
a tais empresas ou interessados no objeto de suas atividades, que possibilite
fraude na livre concorrência, atuação lesiva à economia nacional ou ao
interesse geral dos consumidores;
r) aplicar fórmulas de reajustamento de preços proibidas por lei, regula-
mento, instrução ministerial, órgão ou entidade competente;
s) fazer repercutir, nos preços de insumos, produtos ou serviços, aumentos
havidos em outros setores, quando tais aumentos não os alcancem, ou fazê-los
incidir acima de percentual que compõe seus custos;
t) negar-se a vender insumo ou matéria-prima à produção de bens essenciais;
u) monopolizar ou conspirar com outras pessoas para monopolizar qualquer
atividade de comércio em prejuízo da competitividade, mesmo através da
aquisição, direta ou indireta, de controle acionário de empresa concorrente.

§ 1º – Requerer a não liberação ou recusar, sem justa causa, quota de merca-


doria ou de produtos essenciais, liberada por órgão ou entidade oficial, de

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LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

forma a frustrar o seu consumo implicará, além da multa a que se


refere este artigo, diminuição da quota na proporção de recusa.
§ 2º – Na aplicação da multa a que se refere este artigo, levar-se-á em conta
o porte da empresa e as circunstâncias em que a infração foi aplicada.

Os setores mais rigidamente fiscalizados, nesse período, foram o do comér-


cio e o de prestação de serviços.

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INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Anexo VI
Fiscalização

• COFAP, COAPs e COMAPs – de 1952 a setembro de 1962.


• SUNAB – de setembro de 1962 a 1997, atuando, portanto, em todos os
planos de congelamento (Cruzado I e II, Bresser, Maílson e Collor I e II).
• CONEP – via SUNAB e fiscais de Imposto de Renda e de Rendas Internas,
de 1965 a 1967.
• CIP – via SUNAB, de 1968 a 1990, exercida, quando provocada pelo CIP,
com mais ou menos intensidade pela SUNAB, que se limitava a relatar
àquele órgão as ocorrências verificadas. No final da década de 80 procedia
à fiscalização e autuava quando constatada a infração.
• Receita Federal – no final da década de 60, quando firmou convênio com
a SUNAB para ações conjuntas e manutenção de sistema de mútua troca de
dados e informações, e durante os Planos Cruzado e Bresser.
• Ministério do Trabalho – durante os Planos Cruzados e Bresser, no
tocante a salários.
• Ministério da Justiça – durante os Planos Cruzados e Plano Bresser e
também pelo CADE no tocante à livre concorrência e a outros abusos do
poder econômico.
• DAP – via SUNAB, no período de maio de 1990 até o início do funciona-
mento das Câmaras Setoriais, em maio de 1991.
• Ministério da Fazenda – durante o Plano Bresser.

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LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

Anexo VII
Sanções

• Lei de nº 1.522, de 1952, com a multa variando de 1/3 até 100 vezes o
salário mínimo vigente no Distrito Federal (de competência da COFAP,
COAPs e COMAPs).
• Lei Delegada de nº 4, de 1962, com a multa de início variando de 1/3 até
100 vezes o valor do salário mínimo vigente no Distrito Federal; posterior-
mente a base foi alterada em função do BTN.
• Interdição do estabelecimento, pelo prazo de 5 a 90 dias, em caso de rein-
cidência de infração da mesma natureza ocorrida no interregno de três meses.
• Desapropriação de bens e serviços desde que houvesse interesse social.
• Requisição de bem e serviço quando do interesse social.

1965 e 1966 – CONEP

Perda das vantagens auferidas, se não repassadas aos consumidores, e


exclusão, pelo prazo de 180 dias, de concessão de crédito pelos bancos oficiais.

Da Restrição ao Crédito e da Desapropriação

O Conselho Monetário Nacional foi autorizado, pelo Decreto-lei de nº 2/66,


a baixar normas para as instituições financeiras, visando restringir o crédito das
empresas que aumentassem os preços de venda a taxas superiores ao limite já
mencionado. O referido decreto-lei ainda autorizava a requisição de bens ou
serviços essenciais ao abastecimento da população, indenizando os proprietários
em dinheiro, processando-os e julgando-os pela Justiça Militar no caso de
oposição ou embaraço.

1967 – CONEP

As empresas que entre 1/10/1966 e 31/12/1967 aumentassem os seus preços


acima de 10% do nível geral de preços estavam sujeitas à multa de 2% calcula-
dos sobre a receita bruta no período correspondente ao da elevação dos preços.

1968 – CONEP

As previstas na Lei Delegada de nº 4/62 e mais o corte de crédito nas insti-


tuições oficiais e o do redesconto de duplicatas.

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A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

1968 a 1982 – CIP

Nos casos de reajustes de preços não autorizados, ou na apuração de irregula-


ridade em documentos ou prestação de informação enganosa, o CIP determinava:

• o imediato restabelecimento dos níveis de preços anteriores;


• a adoção, pelos órgãos e entidades da Administração Pública, das
providências administrativas, fiscais e judiciais legalmente cabíveis, inclu-
sive as previstas na Lei Delegada de nº 4/62 e na Lei de nº 4.137, de
10/9/1962, podendo também propor ação integrada a outros órgãos da
Administração Pública Federal, Estadual e Municipal.

As medidas mais drásticas adotadas foram o corte de crédito nas insti-


tuições oficiais e do redesconto de duplicatas, com ampla divulgação pela
imprensa, o que constituía a mais violenta das punições, porque não permitia
às empresas o direito de defesa, princípio básico e elementar de justiça, ou seja,
caracterizando violação de direito fundamental e prática de ato discricionário.
Era a época dos Atos Institucionais.

1983 – CIP

As previstas na Lei Delegada de nº 4/62 e as sanções legais aplicáveis aos


dirigentes, constituindo-se, dessa forma, uma inovação.

1986 – Plano Cruzado

As previstas na Lei Delegada de nº 4/62, que dotavam a SUNAB de poderes


e força totais para a fiscalização do congelamento geral de preços, ao prever até
a requisição de força policial e a abertura de inquérito policial.

1986/87 – Plano Cruzado II

As previstas na Lei Delegada de nº 4/62 e as medidas restritivas aplicáveis


nas transações com a Administração Federal, direta e indireta.

1987 – Plano Bresser

As previstas na Lei Delegada de nº 4/62.


A Lei Delegada de nº 4/62 foi alterada, dispensando a presença de testemunhas

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LUIZ AFFONSO NEIVA ROMANO

nas autuações, desde que constasse do auto de infração a assinatura do autua-


do ou a declaração de sua recusa em fazê-lo.

1989 – Plano Maílson (Verão)

As previstas na Lei Delegada de nº 4/62.

1990 – PLANO COLLOR I

As previstas na Lei Delegada de nº 4/62 e o retorno ao congelamento.

1991 – PLANO COLLOR II

As previstas na Lei Delegada de nº 4/62 e nas Leis de nºs 8.137/90 e 8.158/91.

1994 – PLANO REAL

Qualquer reajuste diferente do acordado era objeto de investigação no


âmbito da Lei de nº 8.884/94 (Lei de Defesa da Concorrência).

2000/02 – CAMED

A recusa, omissão, enganosidade ou retardamento injustificado de infor-


mações ou documentos requeridos constituía infração punível com multa
diária de R$ 10.000,00, podendo ser aumentada até 20 vezes, se necessário, para
garantir a eficácia do solicitado.
Denúncia de prática irregular de preços, se procedente, implicava multa
nunca inferior a 300 e não superior a 3.000.000 de UFIRs (Lei de nº 8.078/90).

2003 – CMED

Recusa, omissão, falsidade ou retardamento injustificado de informações ou


documentos solicitados sujeitavam a empresa a multa diária de R$ 10.000,00,
podendo ser aumentada até 20 vezes para garantir eficácia da solicitação.
Denúncia de prática irregular de preços, se procedente, gerava multa nunca
inferior a 300 e não superior a 3.000.000 de UFIRs (Lei de nº 8.078/ 90).

[ 110 ] estudosFEBRAFARMA
INTERVENÇÃO E REGULAÇÃO NO BRASIL
A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Anexo VIII

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Administration. Pharmaceutical Price Controls In OECD Countries:
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[ 112 ] estudosFEBRAFARMA
estudos FEBRAFARMA

Luiz Affonso Neiva Romano


Recebeu em 2003 o certificado de
Intervenção e
Consultor de Organização do International
Council of Management Consulting
Regulação no Brasil
Institutes. É consultor do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação
A Indústria Farmacêutica
Getulio Vargas e diretor do Instituto
Brasileiro dos Consultores de Organização.
Autor do Código de Ética do Instituto
Brasileiro de Executivos de Finanças, Este livro apresenta uma retrospectiva da evolução
entidade em que é coordenador da histórica do controle de preços, com ênfase no
comissão de ética, e que tem entre outros setor farmacêutico, desde a Antiguidade até os
objetivos pesquisar, desenvolver e difundir dias atuais.
conhecimentos técnicos em gestão de O resultado mostra que, ao longo dos anos,
finanças. Ao longo da carreira desenvolveu toda vez que os governantes determinaram o
atividades no governo na Comissão congelamento total de preços e salários o fizeram
Federal de Abastecimento e Preços, na em momentos de crises, com o objetivo de deter
Comissão Nacional de Estímulo à o processo inflacionário. Mas o que conseguiram
Estabilização de Preços e na foi represá-lo para explodir logo adiante.
Superintendência Nacional do Segundo o autor, não há dúvida de que os preços
Abastecimento. Atuou durante as décadas dos medicamentos devem ser preocupação e
de 60 a 90 como consultor em empresas objetivo central de políticas de cunho social, por
nacionais e estrangeiras sujeitas à meio de um conjunto de medidas, como o
regulação do governo nas diversas fases co-pagamento, que possam garantir o acesso de
de controle de preços. Organizou a todas as classes sociais ao seu consumo, em
Coletânea das Normas de Controle de especial as menos favorecidas. Isso, aliás, já
Preços da COP Editora nas décadas de ocorre tanto no Brasil como em países
70, 80 e 90. desenvolvidos, que, embora adotem, de forma
geral, políticas liberais e de desregulamentação,
intervêm de diversas maneiras na produção e
comercialização desses produtos.
Enfim, o livro traz a opinião de um estudioso
do controle de preços preocupado com a
prevenção a enfermidades e com a universa-
lização do acesso a medicamentos.

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