contaminação e
remediação da planta
industrial e da área
circundante da Solvay
em Santo André
Agosto 1999
Avaliação de contaminação e remediação da planta industrial e
da área circundante da Solvay em Santo André
Por Darryl Luscombe; PhD, MRACI
Greenpeace
Agosto de 1999
Greenpeace Brasil
Rua Alvarenga, 2331
055509-006 São Paulo – SP
www.greenpeace.org.br
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1.1 REQUISITOS PARA AVALIAÇÃO DO LOCAL
HISTÓRIA DO SITE
• Datas de operações e eventos significativos (ex., incêndios, troca de
proprietários ou produtos, etc.).
• Descrição de liberações prévias e ações tomadas pela instalação, para
remediá-las.
• Descrição das barreiras físicas para prevenir o transporte de poluentes (ex., navios,
muros de contenção, , cercas, diques).
• Condição estrutural atual dos "containers", vasilhames e construções
contendo substâncias.
• Informação operacional presente e passada sobre o tratamento, estocagem ou
descarte de resíduos perigosos no site.
• Uso atual (e usos passados, caso tivessem sito diferentes) de todos os
edifícios e áreas onde o público ou trabalhadores possam ficar expostos a
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contaminantes, ex., antigos edifícios de formulação de pesticida e área de
lavagem externa, convertidos em áreas de atendimento diário ou escritórios.
SUBSTÂNCIAS IDENTIFICADAS
• Lista dos nomes químicos e os números do "Chemical Abstract System" (CAS) se
forem conhecidos.
• Estimativa de quantidade de contaminantes liberados para cada meio (solo, ar,
superfície da água e águas subterrânea).
• Concentração máxima, espectro e extensão da contaminação em cada meio
(incluindo biota). Identificação de resíduos e quantidades.
• Documentação de qualquer fenômeno químico, mecânico, meteorológico, ou
outros fenômenos que possam rapidamente alterar o estado físico atual dos
produtos químicos presentes ou as condições gerais do site (ex., área de
terremotos, alagamentos, etc.)
É de grande preocupação o fato de que Solvay não forneceu qualquer justificativa para o
uso dos Valores de intervenção Holandeses nesta investigação, ou qualquer avaliação da
relação entre os Valores Alvo e de Intervenção. Mais ainda, não há justificativa científica
adequada para a aplicabilidade dos valores Holandeses para o site em São Paulo, nem
tampouco qualquer avaliação de solo/sedimento ou critério de remediação para águas
subterrânea, como usados em outros países (ex. EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália).
Na verdade, embora os Valores Holandeses tivessem sido escolhidos pela Solvay para
esta análise, eles não seguiram todos os requisitos determinados pelo Ministério
Holandês. 2
Por exemplo, na avaliação dos perigos associados com contaminação por metais
pesados, os Valores de Intervenção Holandês devem ser relacionados ao conteúdo de
matéria orgânica e argila no solo, e não meramente ao valor da citado na Tabela, como
um Valor de Intervenção.3 Há uma correção similar que deve ser aplicada aos
contaminantes orgânicos. A Solvay não fez esta correção em nenhum dos documentos
disponíveis.
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A relação entre % argila, % matéria orgânica, o Valor de Intervenção para Solo Padrão e
o Valor de Intervenção Específico do Site para Metais Pesados é obtida a partir da
seguinte fórmula de correção para o tipo de solo:
onde:
Ie = valor de intervenção para o solo em avaliação (mg/kg)
Ist = valor de intervenção para o solo padrão (mg/kg)
%argila = percentagem de argila medida no solo em avaliação
%mat.org. = percentagem de matéria orgânica medidano solo em avaliação
A, B e C = constantes que dependem da substância (ver tabela 1)
A fim de aplicar a correções do tipo de solo para os Valores de Intervenção na fórmula (1)
(Ie e Ist) são substituídos pelos valores alvo.
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A fim de determinar se os valores de intervenção são ultrapassados em
uma secção de 25m3, amostras podem ser retiradas dos quatro cantos,
a uma profundidade de 0,5m. Se for usado um procedimento para
coleta de amostras diferente do recomendado nos protocolos, a
pessoa encarregada deve ela mesma garantir e demonstrar de
modo adequado, que o critério de 25m3 está sendo atendido.”
A Solvay apenas apresentou dados para a camada superficial dos sedimentos, e não
forneceu qualquer dado sobre a contaminação abaixo de 15-25 cm. do topo. Então, é
impossível avaliar a extensão total da contaminação e qual o volume de remediação
necessário. Isto deve ser abordado como tópico de urgência.
Além disto, Solvay não adotou o critério Holandês para investigação adicional no local.
De acordo com a Circular do Ministério Holandês:
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Tal abordagem pode não ser efetiva na identificação de efeitos tóxicos em uma ampla
variedade de espécies aquáticas. Adicionalmente, os efeitos eco-toxicológicos utilizados
na derivação dos Valores de Intervenção Holandeses são, 7
ER-L = Espectro de Efeitos Baixo; ER-M = Espectro de Efeitos Médio; TEL = Nível de
Efeitos Limítrofe; PEL = Nível de Efeitos Provável; AET-L = Limiar De Efeitos Aparentes
Baixo; e AET-H = Limiar de Efeitos Aparentes Alto.∗
Na pior das hipóteses, as avaliações do sedimento devem ser feitas para dioxinas
(incluindo furanos), PCBs, PAHs, e outros químicos identificados como sendo liberados
em quantidades significativas em operações históricas de Solvay.
∗
Uma avaliação completa dos métodos utilizados para derivar estes valores de critério podem ser encontrados nas referências 9 e 11
e referências aí contidas.
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Além do mais, a Solvay não forneceu nenhum dado para demonstrar que o mercúrio,
dioxinas, PCBs, PAHs, e outros componentes químicos preocupantes, não estão se
acumulando na biota aquática em níveis que possam causar efeitos adversos tóxicos,
e/ou representar um sério risco de saúde para consumidores de peixes do rio.
Por exemplo, não foi fornecida história detalhada do despejo de resíduos na área. Deve-
se assumir que a Solvay está ciente da extensão total dos materiais despejados em
Diques, e os constituintes químicos do resíduo.
A avaliação de todo o processo histórico do site e resíduos, como discutido acima, deve
ser usada como base para seleção de elementos químicos de escolha para uma
avaliação apropriada da extensão completa da contaminação na área.
A metodologia de amostragem usada parece ter sido uma tentativa preliminar de criar um
quadro geral da contaminação nos Diques. O quadro apresentando por estes dados é
preocupante e demonstra contaminação excessiva. Entretanto é claramente insuficiente
para permitir uma avaliação detalhada quanto à remediação a ser executada. Como
discutido acima, a densidade da amostragem é também muito abaixo da requerida pelo
critério Holandês para Remediação do Solo, utilizado pela Solvay para avaliação do site.
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contaminação. Isto necessita que alguma amostragem se dê em áreas não
suspeitas de contaminação. O padrão real e número de amostras locais
dependerão dos métodos estatísticos escolhidos para analisar dos dados
químicos resultantes e os parâmetros químicos sendo medidos, da mesma
maneira como os fatores acima. Por exemplo, o uso de geoestatística como
uma ferramenta de interpretação poderia gerar um plano amostral diferente
de métodos interpretativos convencionais. A profundidade da amostragem
dependerá da natureza e localização da fonte (i.e. subterrânea vs. superficial),
estratigrafia do solo (i.e. areia vs. argila), e o tipo de contaminante (i.e. móvel
vs. não-móvel); porém, a amostragem deve se estender além da zona de
contaminação.
Não está claro no programa de amostragem usado pela Solvay que seja utilizado
qualquer método estatístico para avaliar a suficiência do programa de amostragem
adotado. A metodologia com base estatisticamente válida deve ser aplicada ao programa
de amostragem, a fim de permitir tomada de decisões quanto à válida remediação.
Devido à natureza dos despejos de resíduos, ao longo do tempo nos Diques, é óbvio que
pontos mais perigosos de contaminação serão mais provavelmente encontrados no
material lodoso. Como resultado, um número significativo de locais de amostragem será
necessáriopara identificar as áreas de preocupação.
Também gera preocupação o fato de que a própria documentação da Solvay indique uma
contaminação de mercúrio em cursodas águas subterrâneas, no Rio Grande. Isto é
claramente inaceitável e deve ser abordado como uma questão de urgência.
Para garantir que não seja gerada poluição futura após remediação da área, a Solvay
deve se comprometer para eliminar qualquer possibilidade de poluição futura, através do
compromisso com uma política de descarga tóxica zero para o meio ambiente.
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Uma série de tecnologias não-incineradoras tem sido desenvolvida nos últimos 15 anos
para suplantar as desvantagens da incineração. Uma cópia de Relatório recente do
Greenpeace, avaliando estes tipos de tecnologia segue em anexo.
1.6 FINGERPRINTING
Em 1998 foi descoberta na Europa contaminação da polpa cítrica brasileira por dioxina,
usada como ração para gado leiteiro.
Embora a Solvay admitisse ser uma possível fonte de furanos para a polpa cítrica, negou
a responsabilidade pelo componente 2,3,7,8-TCDD da contaminação. Entretanto, estudos
recentes da CEGEQ demonstraram claramente que o simples aquecimento da cal da
Solvay pode gerar quantidades significativas de 2,3,7,8-TCDD e que o perfil de
congêneres gerado é compatível com o da polpa cítrica contaminada.
O Greenpeace crê que, com base nesta última evidência, a Solvay deve acatar a total
responsabilidade pela da comercialização de cal contaminada por dioxina.
1.7 CONCLUSÃO
Infelizmente, os estudos até então conduzidos pela Solvay são inadequados para avaliar
de forma acurada a extensão completa da contaminação. No entanto, a informação
disponível indica que há necessidade de ação imediata de contenção, bem como
avaliação adicional quanto às opções para remediação.
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Tabela 4. Lista dos componentes químicos encontrados em sedimentos em uma fábrica
de PVC na Turquia
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1.8 REFERÊNCIAS
1
ENVIRONMENTAL DATA NEEDED FOR PUBLIC HEALTH ASSESSMENT - A Guidance Manual. U.S.
Department of Health and Human Services, Agency for Toxic Substances and Disease Registry, Atlanta,
Georgia, June 1994.
2
Circular on intervention values for soil remediation, from The Minister of Housing, Spatial Planning and the
Environment, J.G.M. Alders, Directorate-General for Environmental Protection, Department of Soil Protection
(IPC 625), The Hague, Netherlands
3
ibid.
4
ibid.
5
ibid.
6
RIVM Report number 670101001 & 670101002 "Desire for levels. Background study for the policy
document "Setting Environmental Quality Standards for Water and Soil" Meent D van de ; Aldenberg T ;
Canton JH ; Gestel CAM van ; Slooff W 147 pages, 1990
7
Circular on intervention values for soil remediation, from The Minister of Housing, Spatial Planning and the
Environment, J.G.M. Alders, Directorate-General for Environmental Protection, Department of Soil Protection
(IPC 625), The Hague, Netherlands
8
The Incidence And Severity Of Sediment Contamination In Surface Waters Of The United States: Volume
1: National Sediment Quality Survey September 1997, Office of Science and Technology United States
Environmental Protection Agency, Washington, DC 20460, and references therein.
9
Adapted from, Ingersoll, C.G., P.S. Haverland, E.L. Brunson, T.J. Canfield, F.J. Dwyer, C.E. Henke, N.E.
Kemble and D.R. Mount, Calculation and evaluation of sediment effect concentrations for the amphipod
hyalella azteca and the midge chironomus riparius. National Biological Service Final Report for the U.S.
Environmental Protection Agency Great Lakes National Program Office (GLNPO) Assessment and
Remediation of Contaminated Sediment (ARCS) Project, EPA 905-R96-008,September 1996.
10
Qualidade das aguas e sedimentos do Rio Grande na area de influencia da Solvay Indupa Do Brasil S.A.,
Texto, Figuras e Anexos, Bottura Consultoria, Agosto 1999.
11
Adapted from, Ingersoll, C.G., P.S. Haverland, E.L. Brunson, T.J. Canfield, F.J. Dwyer, C.E. Henke, N.E.
Kemble and D.R. Mount, Calculation and evaluation of sediment effect concentrations for the amphipod
hyalella azteca and the midge chironomus riparius. National Biological Service Final Report for the U.S.
Environmental Protection Agency Great Lakes National Program Office (GLNPO) Assessment and
Remediation of Contaminated Sediment (ARCS) Project, EPA 905-R96-008,September 1996.
12
Rappe C, Kjeller L, Kulp S-E, de Wit C, Hasselsten I and Palm O, Levels, Profiles and Patterns of PCDDs
and PCDFs in samples related to the Production and Use of Chlorine. Chemosphere, 23 (1991) 1629-1636.
13
Guidance on Sampling and Analytical Methods for Use at Contaminated Sites in Ontario, Ontario Ministry
of Environment and Energy Standards Development Branch, December, 1996
12