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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE LETRAS E LINGÜÍSTICA

O PORTINGLÊS FALADO POR


IMIGRANTES BRASILEIROS NOS
ESTADOS UNIDOS

MONOGRAFIA DE BACHARELADO
ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ CARLOS COSTA
ORIENTANDA : MARIA LUCIA EVANGELISTA ESPINDOLA

UBERLÂNDIA
JUNHO 2001
2

PÁGINA DE APROVAÇÃO

Monografia defendida e aprovada em ____ de _________ de 2001, pela Banca

Examinadora constituída pelos professores:

Prof. Dr. Luiz Carlos Costa (UFU)

Profa. Dra. Márcia Helena Boëchat Alves Fernandes (UFU)

Prof. Dr. Osvaldo Freitas de Jesus (UFU)


3

Dedico este trabalho aos imigrantes brasileiros


que estão espalhados pelo mundo.
4

AGRADECIMENTOS

É com imensa alegria que eu quero agradecer às varias pessoas que me ajudaram na
realização deste trabalho:

Ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Carlos Costa, por sua


paciência e sabedoria.

Ao Prof. Ms. Sérgio Marra de Aguiar, por me ajudar a


encontrar os caminhos que levaram a esta pesquisa.

Aos Professores Doutores Márcia Helena Boëchat Alves


Fernandes e Osvaldo Freitas de Jesus, por aceitarem fazer
parte da banca examinadora.

Aos professores do curso de Letras, por cada ensinamento


recebido.

Aos meus colegas.

À Liciene e à Vera.

Aos meus amigos.

Ao Haruf, por suas sugestões e incentivo.

Aos meus pais José e Sebastiana.

Aos meus irmãos.

À minha irmã gêmea, Lúcia Maria.

Ao meu marido Foued e aos meus filhos Hugo e Caio.

E,

à Brenda Cullom ( my annoying angel)


5

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Agradeço imensamente a Francisco Gabriel Salmen Vale, por sua

valiosa colaboração na coleta de dados e a todos que dela

participaram.
6

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................8

CAPÍTULO I.......................................................................................................................13

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................13

CAPÍTULO II.....................................................................................................................19

3. A PESQUISA...................................................................................................................19

3.1. O objeto..........................................................................................................................19

3.2. Seleção dos informantes.................................................................................................19

3.3. O “corpus” da pesquisa..................................................................................................20

3.3.1. A amostragem analisada.............................................................................................21

CAPÍTULO III................................................................................................................... 24

4. ANÁLISE LINGÜÍSTICA DOS DADOS.....................................................................24

4.1.1. A existência da mescla................................................................................................24

4.1.2. Ocorrência de substantivos.........................................................................................25

4.1.3. Ocorrência de adjetivos...............................................................................................27

4.1.4. Ocorrência de verbos...................................................................................................27

4.1.5. Influência da fonética do português na pronúncia do portinglês................................28

4.1.6. Marcas de oralidade do português brasileiro..............................................................29

4.2. Análise Sociolingüística.................................................................................................29

4.2.1. Sentimento do imigrante com relação ao país de destino...........................................29


7

4.3. Análise quantitativa........................................................................................................33

5. CONCLUSÕES...............................................................................................................36

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................39

7. BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................42

8. ANEXOS..........................................................................................................................43

8.1. Transcrição dos diálogos................................................................................................43

8.2.Lista de vocábulos registrados pela pesquisa com sua freqüência numérica


...............................................................................................................................................51

8.3.Lista de vocábulos e seu número de ocorrências............................................................54

9. RELAÇÃO DOS VOCÁBULOS ENCONTRADOS NA PESQUISA POR CLASSE


DE PALAVRAS..................................................................................................................56

9.1. Substantivos...................................................................................................................56

9.2. Verbos............................................................................................................................56

9.3.Adjetivos.........................................................................................................................57
8

“A língua falada é o veículo lingüístico de comunicação usado em situações naturais de interação social, do

tipo comunicação face a face. É a língua que usamos em nossos lares ao interagir com os demais membros de

nossas famílias. É a língua usada nos botequins, clubes, parques, rodas de amigos; nos corredores e pátios das

escolas, longe da tutela dos professores. É a língua falada entre amigos, inimigos, amantes e apaixonados.”

(Fernando Tarallo)

O portinglês falado pelos imigrantes brasileiros nos

Estados Unidos

1. INTRODUÇÃO

Morando por quase dois anos nos Estados Unidos, pude observar que o português falado

por um grupo de brasileiros era mesclado de palavras e expressões de língua inglesa. Estas

palavras e expressões vinham pelo menos de três formas distintas:

1. Diretamente do inglês em frases como:

Cadê a knife (faca)?

A roupa está na bag (sacola).

2. Traduzidas diretamente para o português como um falso cognato, já que a palavra ou

expressão existe em português, mas com sentido diferente:

Vou aplicar para um trabalho (do verbo to apply que aqui tem o sentido de inscrever-

se).
9

João era suposto estar aqui desde as três horas ( da expressão be suppose to que aqui

tem o sentido de deveria).

3. Aportuguesadas como em:

Aquele trabalho era muito chato, então eu coitei ( do verbo to quit = abandonar).

Tenho que serapiar um monte de mesas esta noite ( da expressão verbal to set up =

arrumar).

Na época, achei tudo muito estranho, confuso, mas confesso, fascinante. Como diz

Fernando Tarallo no início de seu livro – A Pesquisa Sociolingüística (1999:5): “Tudo

aquilo que não pode ser prontamente processado, analisado e sistematizado pela mente

humana provoca desconforto”. E foi justamente este desconforto que me levou a buscar

respostas. Mais tarde, como aluna do curso de Letras em disciplinas como a

Sociolingüística, descobri que era possível encontrar caminhos para estas respostas. Muito

importante também, foi a colaboração do professor Sérgio Marra de Aguiar do qual fui

aluna no curso “Teoria e Prática da Tradução”, quando o assunto “Empréstimos

Lingüísticos” foi discutido. Percebemos que havia uma relação entre o tema e o português

mesclado com o inglês que eu ouvira. Ele me encorajou a caminhar nesta direção e a

procurar o professor Luís Carlos Costa para me orientar na monografia de bacharelado.

A partir de então, o que era motivo de espanto e talvez de preconceito diante de um

aparente “caos lingüístico”, transformou-se em objeto de estudo, desencadeando um

processo de investigação científica, porque ainda, segundo Tarallo é possível combater este

aparente caos ao se tentar processar, analisar e sistematizar o universo da língua falada.


10

Nosso objetivo ao estudar o português falado por determinado grupo de imigrantes

brasileiros nos Estados Unidos é o de demonstrar como esta fala é alterada ao entrar em

contato direto com a língua inglesa.

Não há como negar a interferência de línguas estrangeiras diversas no português, ainda na

sua própria origem pois: “O acervo lexical da língua portuguesa é formado a partir do latim

popular ou latim vulgar, como é mais conhecido. Sua base lexical são as palavras que

sofreram transformação no romance lusitânico. São estas palavras assim modificadas que

constituem o padrão fonético e morfológico do português” (Carvalho, Nelly – Empréstimos

lingüísticos – p. 13). E no presente mais ainda, principalmente da língua inglesa no

português falado no Brasil – drive-thru, shopping center, deletar, mouse (informática).

O fenômeno que ocorre nesta situação é o de empréstimo lingüístico. Segundo Nelly

Carvalho, “a ampliação do léxico pelo empréstimo, ou seja, a adoção e adaptação de um

termo de língua estrangeira, é o resultado não propriamente de uma inovação. Mas de uma

adoção que é a adequação da língua como saber lingüístico à sua própria superação e tem

como determinante fins culturais, estéticos e funcionais”( op. cit. pág. 24).

O que este trabalho tentará mostrar, porém, é que a língua portuguesa falada em contato

direto com o inglês em território americano sofre modificações muito mais profundas.

Além do que, o inglês lá é língua nativa, não estrangeira.

A questão é que aqui, somos falantes nativos recebendo influência de línguas externas,

podendo fazer empréstimo apenas de palavras ou expressões que chegam até nós. Lá, o

português é uma língua estrangeira, mas que continua a ser falada pela comunidade de

imigrantes brasileiros. O que ocorre é que os falantes brasileiros são expostos a todo

momento ao inglês, criando o fenômeno da mescla lingüística. Em outras palavras, há uma


11

oferta imensa, parte do acervo lexical da língua inglesa (língua-mãe), à disposição destes

falantes. Como quando se vai a um supermercado e se escolhe que mercadoria levar. O

critério de escolha desta mercadoria e a maneira que ela vai ser utilizada é o grande desafio

deste trabalho.

No capítulo 1, na Fundamentação Teórica, no tocante às circunstâncias lingüísticas, vamos

explicar como os sistemas aberto e fechado vão contribuir para este fato. Mostraremos

também que esta língua falada sofre mudanças, não só no nível morfológico, mas também

fonético.

Assim, independentemente de já terem aprendido ou não a falar o inglês (o que muitas

vezes não é possível, principalmente pela carga excessiva de trabalho), certos grupos de

imigrantes incorporam o inglês em sua fala cotidiana.

Um fato não-lingüístico que vamos abordar é o sentimento deste imigrante com relação ao

fato de ele estar vivendo nos EUA. De que tipo de imigrante estamos falando? Apesar de

não aprofundarmos as nossas reflexões neste aspecto, acreditamos que este dado seja de

grande influência na caracterização desta língua. Sabemos que a grande maioria dos

imigrantes brasileiros que vão aos EUA, vão em busca de trabalho e dinheiro, e sonham

em voltar ao Brasil para aqui desfrutarem o resultado deste esforço. Talvez também por

isto não tenham intenção de falar inglês. Na maioria das vezes, esta intenção de voltar é

frustrada e muitos vão adiando este sonho ou, então, finalmente decidem permanecer por lá.

Outros fatores não-lingüísticos, como faixa etária, tempo de permanência no país, etc serão

também apontados para que se tenha um perfil deste imigrante.

A sociolingüística foi de fundamental importância para fazermos este tipo de análise, uma

vez que a linguagem falada não é vista como um fato isolado na perspectiva desta
12

disciplina. Há uma inter-relação entre língua e sociedade que é devidamente realçada pelos

sociolingüistas.

A pesquisa de campo se concentrou na cidade de Framingham e arredores, no estado de

Massachusetts.
13

CAPÍTULO I

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para mostrar, com apoio na Sociolingüística, que a língua falada por determinados grupos

de imigrantes nos Estados Unidos pode ser sistematizada como uma gramática da

comunidade, vamos nos fundamentar em determinados conceitos.

Em primeiro lugar, utilizando-se do que diz Peter Trudgill(1983) sobre Sociolingüística, é

onde encontramos a explicação do porquê escolher esta área da ciência para nossos estudos:

“... language is very much a social phenomenon. A study of language totally

without reference to its social context, inevitably leads to omission of some of the

more complex and interesting aspects of languages and to the loss of opportunities

for further theoretical progress. One of the main factors that has led to the growth

of sociolinguistics research has been the recognition of the importance of the fact

that language is a very variable phenomenon, and that this variability may have as

much to do with society as with language. A language is not a simple, single code

used in the same manner by all people in all situations, and linguistics now arrived

at a stage where it is both possible and beneficial to begin to tackle this

complexity.”(1983:32) 1
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

1
“...a língua é basicamente um fenômeno social. O estudo da língua, totalmente sem referência ao seu contexto social,

inevitavelmente leva à omissão de alguns dos aspectos mais complexos e interessantes da língua e à perda de oportunidades

para progressos teóricos posteriores. Um dos principais fatores que têm levado ao crescimento da pesquisa sociolingüística é

o reconhecimento da importância do fato que língua é um fenômeno bastante variável, e que esta variabilidade pode ter

muito a ver tanto com sociedade quanto com língua. Uma língua não é um simples e único código usado da mesma maneira

por todas as pessoas em todas as situações, e a lingüística chega, então, ao estágio onde é possível e benéfico começar a

lidar com a sua complexidade.” Tradução feita pela autora da monografia.


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E conclui:

“Sociolinguistics, then, is that part of linguistics which is concerned with language

as a social and cultural phenomenon. It investigates the field of language and

society and has close connections with the social sciences, specially social

psychology, anthropology, human geography, and sociology.”(op. cit.) 2

Depois, nos esteamos nos ensinamentos de Fernando Tarallo(1999) no que diz respeito à

sistematização do aparente caos lingüístico da língua falada. Ainda de Tarallo e Alkmin

(1987)utilizaremos o conceito de mescla lingüística .

Vamos tentar mostrar que existe uma ordem, seguindo a linha de raciocínio de Tarallo e

Alkmin (1987:11):

“é possivel agrupar os indivíduos de uma comunidade em segmentos que

respondam aos mesmos parâmetros e de cuja análise brotaria uma gramática da

comunidade. Tal gramática deveria, em princípio, descrever o conjunto de

variáveis lingüísticas em uso numa comunidade, atribuindo a cada uma delas seu

valor social, isto é, definindo os limites de seu espaço. Mais importante ainda, tal

gramática demonstraria, de um lado, a convivência pacífica, a coexistência, a

coocorrência das variedades e, de outro, a concorrência e o entrecruzamento entre

elas, às vezes não tão pacífico; enfim, descreveria os fenômenos de mescla

intracomunitária.”

____________________________________________________________________________

2
“Sociolingüística é, assim, esta parte da lingüística que se refere à língua como fenômeno social e cultural. Ela investiga o campo da

linguagem e sociedade e tem conexões estreitas com as ciências sociais, especialmente a psicologia social, a antropologia, a geografia

humana e a sociologia.” Tradução da autora da monografia


15

É preciso que se distinga, neste momento, o conceito de mescla intracomunitária do de

mescla intercomunitária. Porque de acordo com os autores citados acima:

“ a mescla intracomunidade (isto é, variantes convivendo e/ou se entrecruzando

em uma mesma comunidade de fala, em que somente uma língua é falada: o

português, por exemplo) versus a mescla intercomunidades (ou seja, línguas

distintas coexistindo e se misturando em uma mesma comunidade: por exemplo, o

caso de o português conviver com o alemão, o polonês e o italiano na Região Sul

do Brasil).”

Em nossa análise podemos nos deparar com ambas as situações: a primeira é caracterizada

pelo fato de que os falantes do português brasileiro nos Estados Unidos convivem com as

variantes lingüísticas (duas ou mais maneiras de se dizer a mesma coisa) dentro de sua

própria comunidade, como em qualquer comunidade de uma mesma língua, além de

carregarem consigo as características do português falado por eles no Brasil. A segunda

situação é caracterizada pelo fato de os falantes do português brasileiro conviverem com

outras línguas. Neste caso, nos interessa o inglês.

Por este fato, acreditamos ser muito útil o conceito de mescla intracomunidades para apoiar

nossos estudos com relação a uma gramática, uma ordem. O portinglês é uma língua falada,

que pode ser processada, analisada e sistematizada. Portanto, o “caos” lingüístico é apenas

aparente. E o modelo de análise laboviano nos ajudará nesta tarefa. Pois segundo Tarallo

(1999:11)

“uma vez feita a análise segundo o modelo proposto, o aparente “caos”

desaparecerá e a língua falada avultará como um sistema devidamente estruturado.


16

Os resultados finais da análise propiciarão a formulação de regras gramaticais.

Estas, no entanto devido à própria essência e natureza da fala, não poderão ser

categóricas, optativas ou obrigatórias. Serão, conseqüentemente, regras variáveis,

pois o favorecimento de uma variante e não de outra decorre de circunstâncias

lingüísticas (condicionamento das variantes por fatores internos) e não-lingüísticas

(condicionamento das variantes por fatores externos, tais como: faixa etária, classe

social, etc.) apropriados à aplicação de uma regra específica. Trata-se, portanto, de

um sistema lingüístico de probabilidades. Variação livre (ou não-condicionamento

das variantes), como preconizavam os estruturalistas das décadas de 20 e 30, não

encontra respaldo neste modelo de análise lingüística.”

O critério de escolha na formação desta gramática não é aleatório. Ele é baseado, ainda que

inconscientemente, pelos falantes na noção de sistema aberto e sistema fechado:

“O léxico de uma língua é como uma galáxia, vive em expansão permanente por

incorporar as experiências pessoais e sociais da comunidade que a fala.

Toda língua é constituída, fundamentalmente por duas classes de palavras:

- as que representam o universo extralingüístico, nomeando as coisas as

qualidades e os processos, constituindo o léxico das mesmas; são lexemas ou

palavras de significação externa, classe aberta, sempre em expansão, da qual

fazem parte o verbo, o adjetivo, o substantivo e o advérbio nominal. Palavras

com um forte componente semântico, é esta a classe que se enriquece

continuamente, relacionando-se com as mudanças do mundo exterior;

- as que funcionam apenas dentro do sistema lingüístico. São palavras de

significação interna ou morfemas gramaticais, chamados de palavras vazias,


17

palavras-ferramenta, palavras instrumentais, responsáveis que são pela

organização e estrutura interna das línguas.

As línguas são conservadoras quanto a seus morfemas gramaticais, raramente

surgindo nelas um neologismo. Constituem, pois, uma classe fechada e a ela

pertencem o artigo, o numeral, a preposição, o pronome relativo e alguns

advérbios.

Uma língua, através do vocabulário que a liga ao mundo exterior, reflete a cultura

da sociedade à qual serve de meio de expressão.” (Nelly Carvalho, 1989:22 e 23)

Há casos em que o substantivo em inglês vai ser considerado como substantivo em

português, mesmo que não tenha nenhum morfema que o identifique como pertencente à

língua portuguesa. Isto porque através do sistema fechado poder-se-á identificar classes do

sistema aberto. Como em Macambira (1974:24):

“É por meio do artigo que se identifica o substantivo, por meio do pronome

identifica-se o verbo; O advérbio pronominal, no caso de tão, nos aponta o

advérbio nominal; a preposição nos ensina quais os termos equivalentes ao

substantivo e nos esclarece a natureza de certos complementos; a conjunção nos

anuncia o princípio de nova oração e nos adverte sobre as funções idênticas.”

Serão analisados também casos em que a fonética será a responsável pela inclusão dos sons

em português nas palavras retiradas diretamente do inglês. Como certos fonemas não

existem em português, o falante transforma esta realidade sonora que ele ouve em inglês,

em fonemas do português. Para fazer esta análise e as transcrições fonéticas nos utilizamos
18

de informações contidas no capítulo 3 – Fonética e Fonologia de Edward Lopes (1983:97-

149). O autor utiliza o Alfabeto Fonético Internacional na representação dos fonemas e dos

fones. Estes dados serão relevantes, principalmente para fazermos as comparações fonéticas

entre a línguas portuguesa e inglesa. É importante ressaltar que o falante em questão,

produz a mescla baseado apenas no que ele ouve. O fato de saber ou não o inglês em sua

forma falada e escrita não é o que vai, primeiramente, interferir na mescla, pois segundo

dados analisados, muitos falantes não conhecem a língua inglesa.


19

CAPÍTULO II

3. A PESQUISA

3.1. O objeto

A pesquisa foi feita, tendo como ponto de partida, o português falado pelos imigrantes

brasileiros em Framingham, MA, EEUU. Foi a partir da observação empírica, que

desencadeou-se esta investigação. Porém, para que estas observações não permanecessem

apenas como curiosidade, fomos buscar na Sociolingüística o referencial teórico para

transformar estas falas em fatos lingüísticos, isto é, o objeto. Mais uma vez nos valemos de

Tarallo (1999:18):

“O modelo teórico-metodológico da sociolingüística parte do objeto bruto, não

polido, não aromatizado artificialmente. Em poucas palavras, dentro do modelo de

análise proposto neste volume, o objeto – o fato lingüístico – é o ponto de partida

e, uma vez mais, um porto ao qual o modelo espera que retornemos, sempre que

encontrarmos dificuldade de análise. O fato sociolingüístico, o dado de análise, é

ao mesmo tempo a base para o estudo lingüístico: o acervo de informações para

fins de confirmação ou rejeição de hipóteses antigas sobre a língua e também para

o levantamento e o lançamento de novas hipóteses.”

3.2.Seleção dos informantes

A seleção dos informantes foi feita a partir de um universo de 30 falantes constituído por

imigrantes brasileiros residentes na área de Framingham, no estado de Massachusetts. As


20

faixas etárias dos falantes variam de 23 a 53 anos, homens e mulheres, com determinado

nível de fala em inglês e de profissões variadas. Utilizamos uma amostragem de dez

informantes para um estudo do português falado por imigrantes brasileiros naquela cidade.

Esta cidade foi escolhida por fazer parte da grande área de Boston e nela haver uma grande

concentração de imigrantes brasileiros. A característica do imigrante que escolhemos é a do

brasileiro/a que vai para os Estados Unidos para trabalhar. “Fazer a América”, é o que

muitos dizem. Trabalhar é trabalhar duro. O tipo de trabalho varia. De faxineiro residencial

ou comercial a garçons e ajudantes ou como empregados no comércio em geral ou em

fábricas. Às vezes, são donos do próprio negócio. Trabalham de dia, de noite, nos finais de

semana. São solteiros, casados, jovens, ou nem tanto. Muitos deixam família, filhos, uma

vida para trás. Não se assustam diante do tipo de trabalho ou da quantidade de horas que

vão trabalhar.

3.3. O corpus da pesquisa

O corpus utilizado na pesquisa “O Portinglês Falado por Imigrantes Brasileiros nos

Estados Unidos” foi obtido através de entrevistas, conversas espontâneas e depoimentos. A

amostra relativa às entrevistas foi organizada de acordo com o modelo de análise

sociolingüística quantitativa criada por W. Labov em 1963, uma vez que este modelo

sociolingüístico opera por números e realiza o tratamento estatístico dos dados coletados.

Foram levadas em consideração as seguintes variáveis:

1. Localidade: Cidade de Framingham, Estado de Massachusetts, EUA


21

2. Sexo

a) Masculino

b) Feminino

3. Faixa etária

4. Grau de instrução

5. Profissão

6. Nível de inglês

7. Tempo de permanência nos EUA

3.3.1. A amostragem analisada

A amostra é de trinta falantes em conversas espontâneas gravadas, entrevistas e

depoimentos. São situações cotidianas, no trabalho, em reuniões familiares, no carro. Das

falas transcritas, em material anexo, utilizamos como amostragem para esta análise, dez

falantes. Assim, poderemos traçar um perfil do imigrante do qual estamos falando. Além

disso, esta amostragem nos ajudará na análise sociolingüística.

A amostragem aqui analisada é constituída do seguinte modo:

a) Informante 01
-Sexo = masculino
-Faixa Etária = 41 anos
-Grau de Instrução = Superior incompleto
-Profissão = Assistente de gerente de produção
-Nível de inglês = Fluência oral
-Tempo de permanência nos EUA = 13 anos
22

b) Informante 02
-Sexo = Feminino
-Faixa Etária = 39 anos
-Grau de Instrução = Nível médio concluído
-Profissão = Gerente de serviços de limpeza
-Nível de inglês = Fluência oral
-Tempo de permanência nos EUA = 12 anos

c) Informante 03
-Sexo = Masculino
-Faixa Etária = 43 anos
-Grau de Instrução = Nível médio concluído (técnico agrícola)
-Profissão = Operador de máquina
-Nível de inglês = Pouca fluência
-Tempo de permanência nos EUA = 9 anos

d) Informante 04
-Sexo = Feminino
-Faixa Etária = 45
-Grau de Instrução = Superior completo
-Profissão = Proprietária de firma de limpeza
-Nível de inglês = Fluência na fala e na escrita
-Tempo de permanência nos EUA = 15 anos

e) Informante 05
-Sexo = Masculino
-Faixa Etária = 48 anos
-Grau de Instrução = Nível médio concluído
-Profissão = Operador de máquina
-Nível de inglês = Pouca fluência
-Tempo de permanência nos EUA = 8 anos

f) Informante 06
-Sexo = Masculino
-Faixa Etária = 32 anos
-Grau de Instrução = Nível médio concluído (técnico agrícola)
-Profissão = Operador de máquina
-Nível de inglês = Pouca fluência
-Tempo de permanência nos EUA = 7 anos

g) Informante 07
-Sexo = Masculino
-Faixa Etária = 43 anos
-Grau de Instrução = Médico veterinário
-Profissão = Operador de máquina
-Nível de inglês = Pouca fluência
-Tempo de permanência nos EUA = 7 anos
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h) Informante O8
-Sexo = Masculino
-Faixa Etária = 29 anos
-Grau de Instrução = Nível médio concluído ( técnico em contabilidade)
-Profissão = Montador
-Nível de inglês = Depende de outros para se comunicar nesta língua
-Tempo de permanência nos EUA = 5 anos

i) Informante 09
-Sexo = Masculino
-Faixa Etária = 27 anos
-Grau de Instrução = Nível médio concluído
-Profissão = Montador
-Nível de inglês = Depende de outros para se comunicar nesta língua
-Tempo de permanência nos EUA = 2 anos

j) Informante 10
-Sexo = Masculino
-Faixa Etária = 53 anos
-Grau de Instrução = Nível médio concluído
-Profissão = Procurando trabalho
-Nível de inglês = Depende de outros para se comunicar nesta língua
-Tempo de permanência nos EUA = 3 meses

k) Informante 10
-Sexo = Feminino
-Faixa Etária = 35 anos
-Grau de Instrução = Nível médio concluído
-Profissão = Faxineira e ajudante de garçom
-Nível de inglês = Fluente
-Tempo de permanência nos EUA = 8 anos
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CAPÍTULO III

4. ANÁLISE LINGÜÍSTICA DOS DADOS

A partir de um “corpus” de trinta falantes, imigrantes brasileiros nos Estados Unidos, com

faixa etária, profissão e escolaridade variadas, pudemos levantar algumas hipóteses.

Tentamos abranger tanto os aspectos lingüísticos quanto os não-lingüísticos. Não é somente

o que é falado que será analisado, mas também o contexto em que estes imigrantes estão

inseridos.

Para estruturar este capítulo, nos valemos do modelo do artigo de Aragão, M.S.S. “AS

PALAVRAS PROPAROXÍTONAS NO FALAR DE FORTALEZA” em ACTA

SEMIOTICA ET LINGVISTICA – V. 8 2000, pp 61-88.

Nosso objetivo ao estudar o fenômeno no falar de tais imigrantes é o de registrar, descrever

e analisar a mescla entre o português brasileiro e o inglês americano, relacionado-a aos

contextos lingüísticos e sociolingüísticos em que ocorrem. Esta mescla ocorre obedecendo

a critérios que a própria língua impõe. Há uma ordem que tentaremos descrever.

As primeiras análises indicam fatos como os mostrados a seguir:

4.1. A existência da mescla

O portinglês – nome que daremos à mescla lingüística do português falado por imigrantes

brasileiros no Estados Unidos, é um fato que pode ser confirmado pelo corpus em anexo.

Há nele, 154 ocorrências de palavras que vêm do inglês como nos seguintes exemplos:

“ Mas eu vou dar um check-it-out em algum lugar ainda pra ver.


25

“ Tô afim de coitar esse trabalho aqui.”

“...eles tão lay-offando gente pra caramba.”

“Tem que trocar as bag toda hora que está vequiando.

“Eu vou serapiar por hora.”

“...cê tá muito bisado.”

“...ele era suposto chegar aqui às dez horas.

“Pode U-turn ali na frente.”

“Vou chegar ali no downtown.”

“...cê tem umas quarter aí?.”

“...Tem que mapiar mesmo.”

Estes exemplos foram retirados de transcrições de fala em quantidade suficiente para a

análise sociolingüística. Fernando Tarallo (1999: 21) nos adverte sobre a qualidade e a

quantidade do material coletado: “De gravador em punho, o pesquisador-sociolingüista,

deve coletar: 1. situações naturais de comunicação lingüística e 2. grande quantidade de

material de boa qualidade sonora.” O que procuramos seguir o mais fielmente possível.

4.1.2.Ocorrência de substantivos

Foram encontrados na pesquisa 27 substantivos diferentes, com um número de 66

ocorrências (Ver Tabela II ). Destes, apenas dois ( parqueamento e aplicação) vêm escrito

em português. O primeiro, que vem do verbo to park = estacionar, recebe o sufixo –mento

que o transforma em substantivo. O segundo vem do verbo to apply = neste caso, significa
26

se inscrever para trabalho ou estudos, recebe o sufixo –ção e também se transforma em

substantivo. A palavra aplicação existe tal como se apresenta, em português, porém com

outro significado. Isto configura um caso de falso cognato.

Quase todos os outros substantivos ( comuns ou próprios) são falados como são ouvidos em

inglês. O que nos prova a existência de tal classe de palavras do sistema aberto é que a elas

se antecedem, os artigos, os pronomes e os numerais, que são parte do sistema fechado.

meu schedule

o vacuum

a bag

a disher

(n)o downtown

umas quarter

o break

(n)o cash

o box

a quarta aplicação

(n)a Main Street

(n)o Stop and Shop

Ainda sobre substantivos, podemos falar em flexão de grau – como no uso de diminutivo

para bag, baguinha [bε‟gĩňa]; e também em gênero – como no caso de disher, a disher.

Neste último exemplo, o substantivo é pronunciado com a marca do morfema do feminino

–a.
27

4.1.3.Ocorrência de adjetivos

Foram encontrados 5 adjetivos diferentes, num total de 23 ocorrências. Curiosamente, o

único com a terminação em português, bisado, foi o de maior ocorrência:12 (Ver Tabela III

). Bisado vem de busy = ocupado, cheio; que tem o mesmo significado no portinglês.

Os adjetivos restantes são identificados como tal, pela sua posição na frase – depois do

verbo de ligação:

estar busy

estar off

estar piece- work

estar part-time

4.1.4.Ocorrência de verbos

Foram encontrados 14 verbos diferentes, numa ocorrência de 65 (Ver Tabela IV ). Todos

recebem a terminação –ar ( ou a variante –iar) o que indica primeira conjugação, no

português. Outra indicação de que estes verbos passam a fazer parte do léxico do português,

é o fato de que eles são conjugados de acordo com as regras da língua portuguesa.

vecar – vecou - vequei

printar

serapiar

coitar

parquear - parqueou

aplicar

lay offar – lay offando


28

4.1.5.Influência da fonética do português na pronúncia do portinglês

A mescla lingüística ocorre no nível fonético também, com a aproximação de sons da

língua inglesa, que não existem no português. O falante carrega consigo as marcas

fonéticas do português de origem – é onde ele se apóia. Vejamos os exemplos:

coitar [koj‟ta ] do verbo to quit [kwit ]

busboy [basi‟bôj] [„b⋀sbôj ]

busgirl [basi‟gεw] [„b⋀sgûrl ]

estacar [ista‟ka ] do verbo to stack [stæk ]

quarter [„kôra] [„kwôrt r]

mapiar [mapi‟a ] do verbo to mop [m⋀p]

cashar [ke‟ša] cashei [ke‟šej] do substantivo cash [kæš]

piecework [pisu‟oRki] [„pis‟work]

bag [„bεgi] [bεg]

Stop and Shop [istôpej‟šôpi] [stôp‟ând‟šôp]

Main Street [mẽjs‟triti] [mẽjs‟trit]


29

4.1.6.Marcas de oralidade do português brasileiro

A marca de plural só é indicada pela presença do morfema –s no artigo que antecede o

substantivo. Esta é uma variável do português padrão em que a presença deste morfema

está também no substantivo. Já no português falado, o substantivo pode apresentar o

morfema zero.

as bag

as quarter

os box

os vacuum

4.2. Análise Sociolingüística

Os contextos lingüísticos e extralingüísticos que envolvem a fala que estudamos neste

trabalho serão de grande importância. O tipo de imigrante, a sua situação no estágio atual,

se fala o inglês ou não. Qual é o sentimento deste imigrante com relação aos Estados

Unidos?

4.2.1. Sentimento do imigrante com relação ao país de destino

O sentimento com relação aos Estados Unidos, é quase sempre, no primeiro momento, o de

desapego, marcado pela temporariedade que o imigrante almeja (fazer a América) – o ir,

ganhar dinheiro e voltar. Pelo menos, era, nestas quase três décadas de imigração maciça de

brasileiros para os Estados Unidos. Agora, mesmo que esta situação esteja mudando,

acreditamos que a situação de imigrante temporário, tenha influenciado bastante no tipo de


30

mescla que estudamos. Hoje, percebemos que muitos brasileiros estão permanecendo nos

Estados Unidos, em caráter permanente. Se o perfil do imigrante mudou, não podemos

negar, que para haver a mescla lingüística, é preciso levarmos em conta o fator tempo:

“Outra noção igualmente essencial, no entanto, deverá compor o âmbito de nossa

gramática da comunidade: o tempo. Dentro da concepção que estamos adotando,

não há língua sem espaço e, muito menos, sem tempo. Uma variedade lingüística

considerada de maior prestígio em um tempo x poderá ser totalmente

estigmatizada em um tempo x + 1. O inverso também não deixa de ser verdadeiro,

isto é, variedades estigmatizadas podem assumir prestígio social na comunidade. A

gramática, portanto, deverá não somente descrever a estrutura da língua enquanto

variável, como também prever e analisar seus momentos de mudança.”(Tarallo e

Alkmin, 1987:11)

A língua falada provoca mudanças na língua escrita com o seu uso:

“As mudanças políticas e culturais não causaram nem causam transformações

imediatas no sistema lexical da língua. Todas as mudanças no léxico resultam da

fala, ou seja do uso da língua – através da fala se produzem as mudanças no

sistema lexical, mudando as normas e conseqüentemente criando novas normas”.

(Nelly Carvalho, 19xx:13)

Com relação ao estigma ou prestígio desta mescla, notamos que depois que o processo

torna-se consciente, o falante sente um estranhamento nesta mescla, até mesmo evitando-a.

Podemos perceber a existência de tabus, com relação à lingua falada, nesta variante

lingüística. Isto está claro na seguinte fala:

“‟-E, na realidade a gente sabe que tá... que tá falando errado, mas talvez... facilita

mais... as pessoas chegam, não sabem o nome em inglês, já começam a falar... ou


31

sabem o nome em inglês, mas num... num fala inglês. Então, talvez prá poder falar

a palavra em inglês e ao mesmo tempo falar em português, ela acaba

aportuguesando a palavra, né?

- Ahã. Print, printar.” (Ver em Anexos, p. 33)

Peter Trudgill (1983: 29 ), chama a nossa atenção para este fato:

“... in addition to environment and social structure, the values of a society can also

have an effect on its language. The most interesting way in which this happens is

through the phenomenon known as taboo. Taboo can be characterized as being

concerned with behaviour which is believed to be supernaturally forbidden, or

regarded as immoral or improper, it deals with behaviour which is prohibited or

inhibited in an apparently irracional manner. In language, taboo is associated with

things which are not said, and in particular with words and expressions which are

not used. In practice, of course, this simply means that there are inhibitions about

the normal use of items of this kind – if they were not said at all they could hardly

remain in the language.”3

______________________________________________________________________________________________________________

3
“...além do meio e da estrutura social, os valores de uma sociedade podem também afetar a sua linguagem. O modo mais interessante no

qual isto acontece é através de um fenômeno conhecido como tabu. O tabu pode ser caracterizado em relação ao comportamento do que

se acredita ser supernaturalmente proibido, ou é tido como imoral ou impróprio. Trata-se de um comportamento que é inibido

aparentemente, de certo modo, como algo irracional. Na linguagem, o tabu é associado a coisas as quais não são ditas, e em pa rticular

com palavras e expressões as quais não são usadas. Na prática, é claro, isto simplesmente significa que há inibições sobre o uso normal

de itens deste tipo – se eles não fossem falados, em absoluto, eles dificilmente permaneceriam na língua.” Tradução da autora da

monografia.
32

Outro dado relevante é que a mudança de “status” do imigrante, interferindo na sua fala.

Evita-se a mescla, pois há embutida nela uma concepção de que o que é mesclado é impuro

e deve ser evitado.

“Ao tentar dissolver a tautologia „Mescla é...‟, deixam-nos os dicionários ainda

mais perplexos, pois a destruição desta proposição tautológica, na realidade,

desencadeia a construção de tantas outras mais: „Mescla é mistura, contato,

amálgama, etc.‟ A lista de aparentes soluções é vasta, bem como é intensamente

inquietante e provocadora a sensação de impureza que qualquer uma delas

sugere.” (Tarallo e Alkmin, 1987:7)

“... a língua pode ser um fator extremamente importante na identificação de

grupos, em sua configuração, como também uma possível maneira de demarcar

diferenças sociais no seio de uma comunidade.” (Tarallo, 1999:14)

Este aspecto, apesar de importante, não será exaustivamente abordado por nós neste

trabalho. Acreditamos que precisaríamos de um corpus maior e que incluísse outros dados

além do que pesquisamos.

4.3.Análise Quantitativa

A amostragem por nós estudada compõe-se de 101 vocábulos com uma ocorrência de 154

casos. Dentre estes vocábulos, foram encontrados 27 na classe dos substantivos, num total

de 66 ocorrências; 14 na classe do verbos num total de 65 ocorrências; e, 5 da classe dos

adjetivos, num total de 23 ocorrências. Os vocábulos de maior freqüência estão nas tabelas

seguintes:
33

TABELA I

As palavras com o maior número de ocorrências


(sem indicar a que classe pertencem)

Palavras Ocorrências %
( num total de 154)
bisado 12 7,79
vecar 12 7,79
printar 11 7,14
breakear 09 5,84
box 07 4,54
cashar 06 3,96
bag 06 3,96
lay offar 05 3,24
schedule 05 3,24
busy 05 3,24
mapiar 04 2,59
cash 04 2,59
quarter 04 2,59
disher 04 2,59

TABELA II

Substantivos com maior freqüência

Substantivos Total Número de ocorrências: 66 Total Geral dos Itens Léxicos:154


(%) (%)
box 7 10,60 4,54
schedule 5 7,57 3,25
disher 4 6,06 2,60
quarter 4 6,06 2,60
cash 4 6,06 2,60
break 4 6,06 2,60
downtown 3 4,54 1,95
aplicação 3 4,54 1,95
34

TABELA III

Adjetivos mais freqüentes

Adjetivos Total Número de ocorrências: 23 Total Geral dos Itens Léxicos: 154
(%) (%)
bisado 12 52,17 22,22
busy 5 21,74 03,24
off 3 13,04 01,95
part-time 2 08,70 01,30
piece-work 1 04,35 00,65

TABELA IV

Verbos mais freqüentes

Verbos Total Número de Ocorrências: 65 Total Geral dos Itens Léxicos: 154
(%) (%)
vecar 12 18,46 7,79
printar 11 16,92 7,14
breakear 9 13,84 5,84
cashar 6 09,23 3,98
lay offar 5 07,69 3,24
serapiar 4 06,15 2,59
mapiar 4 06,15 2,59
coitar 3 04,61 1,95
parquear 3 04,61 1,95
35

TABELA V

Total de vocábulos e palavras: 154

Vocábulos Palavras
Total % Total %

Substantivos 27 17,53 66 42,85


Adjetivos 05 03,24 23 14,93
Verbos 14 09,09 65 42,20
Totais gerais 46 29,87 154 100,00

Para que se entenda este quadro, vamos utilizar o conceito de Dubois et al (1998:450) sobre
palavra e vocábulo, que diz:
“Encontra-se igualmente a noção de palavra numa oposição palavra vs. vocábulo.
Para a estatística léxica, a palavra é a unidade de texto inscrita em dois brancos
gráficos. Cada nova ocorrência é uma nova palavra. Nesta óptica, o Cid conta
16.690 palavras, conforme a norma de Ch. MULLER; é indispensável ao
estatístico léxico criar uma unidade de contagem, e o reconhecimento da palavra
pode colocar um problema. Por exemplo: em francês é preciso contar depuis que,
“desde que”, como duas palavras, e dès lorsque, “desde que‟, como três? é preciso
contar de la gare, “da estação”, como três palavras, e du quai, “da plataforma”,
como duas? Se se optasse por três palavras em du quai ( = de le quai), seriam
necessárias três palavras também para du Havre, que comuta, entretanto, com de
Paris? Compreende-se a necessidade de decisões normativas rigorosas.
Com relação à palavra, unidade de texto, o vocábulo será a unidade de léxico.
Quer dizer que todos os empregos da “mesma palavra”, serão, então, reagrupados.
Dir-se-á, então, que o Cid conta com 1.518 vocábulos.”
Resumindo, o vocábulo seria a primeira ocorrência (aparecimento na fala) e palavra, as
ocorrências a partir da 2a.
36

5. CONCLUSÕES

As análises que realizamos com a amostragem do corpus tiveram objetivos não só

morfológicos e fonéticos, mas também sociais. Chegamos às seguintes conclusões:

5.1. Variantes Lingüísticas

a) A existência da mescla

b) A presença dos sistemas aberto e fechado nesta mescla

c) Ocorrência de substantivos

d) Ocorrência de adjetivos

e) Ocorrência de verbos

f) Influência da fonética do português na pronúncia do portinglês

g) Marcas de oralidade do português brasileiro no portinglês

5.2.Variantes diatópicas ( geográficas)

Apesar de não conhecermos trabalhos anteriores, não acreditamos que as características do

portinglês ocorram apenas na região pesquisada, uma vez que observamos, ainda que de

maneira empírica a existência deste falar nos estados de Connecticut e Flórida, onde

estivemos em contato com comunidades de imigrantes brasileiros.


37

5.3.Variantes diastráticas (sociais)

Com relação aos aspectos sociolingüisticos do portinglês, percebemos que a influência da

faixa etária e do sexo dos falantes é mínima, embora os informantes do sexo masculino

sejam em número maior que o feminino. Essa tendência necessita confirmação em corpus

maior ou diferente.

Com relação ao grau de escolaridade dos informantes, a relativa uniformidade de

escolarização dos informantes – fundamental, médio e universitário – mostra que este fator

é de pouca influência no falar destes imigrantes. Aqui parece que o que é preponderante é o

fator extralingüístico da emigração em massa de brasileiros de determinadas regiões do

Brasil para os Estados Unidos. Isto merece uma investigação à parte.

Concluindo, acreditamos que os dois fatores mais importantes que influenciam a mescla

lingüística, detectados nesta pesquisa sejam o desconhecimento da língua inglesa, num

primeiro momento, que os obriga mesmo assim ao contato com a língua por uma questão

prática: a de trabalhar. O segundo fator seria o de que, logicamente, a comunidade de

imigrantes brasileiros continua a se comunicar em português, mas este português é

permeado pelo inglês de uma maneira muito dinâmica. A razão primordial que leva estes

falantes a imigrar é a de trabalhar muito para ganhar dinheiro num certo tempo e voltar ao

Brasil. Com isto, o contato mais intenso com a cultura americana vai se adiando. O

sentimento de temporariedade ( “fazer a América”), o ir e voltar, enfim, a urgência com

que o imigrante tem em lidar com uma situação adversa, acaba sendo expresso na língua

falada. Esta situação tem mudado, porém, nos últimos anos, com a maior organização de
38

alguns setores da comunidade de imigrantes brasileiros, principalmente daqueles ligados

ao comércio e de outros que decidem se tornar cidadãos americanos e, assim, fazer parte da

comunidade local. No ano de 2000 foi criada a câmara de comércio entre brasileiros e

americanos em Framingham. Na realidade, a presença da comunidade brasileira tem

movimentado a economia desta área. Fato que não passa despercebido aos americanos, que

sentem, desse modo, a necessidade de manter a política de boa-vizinhança. Isto pode ser

corroborado pela presença de várias autoridades americanas em solenidade de abertura e

pelo tom dos seus discursos na instalação da referida câmara de comércio (filmagem em

VHS). Esta mudança de perfil no “status” destes imigrantes interfere diretamente no falar

do português. Inicialmente, o fenômeno de mescla lingüística ocorre de maneira

inconsciente ou involuntária. Num segundo estágio, em que o imigrante já domina a língua

inglesa e que para ele está mais clara a decisão de permanecer no país, ou seja, numa

situação econômica e social mais estável, a mescla, se não desaparece, aparece de forma

mais controlada. No momento, são apenas especulações que fazemos devido a observações

e informações obtidas informalmente através de professores da área de ciências humanas

da Universidade do Vale do Rio Doce, em Governador Valadares.


39

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazer este trabalho foi uma grande emoção, pois ao trabalhar com o tema imigração todas

as lembranças do passado vieram à tona. Sou, eu mesma, uma imigrante, tantos foram os

lugares que já morei. Mas quando me perguntam de onde venho, digo que venho de

Governador Valadares. Foi lá que passei a minha infância e adolescência e onde mantenho

os laços de amizade e familiares mais fortes. Carrego comigo o paradoxo de ser filha de

um mestre de linha – meu pai ajudou a construir grande parte da estada de ferro Vitória a

Minas e de uma dama-de-ferro que nunca se sentiu presa a lugar algum. Várias foram as

tentativas de nos mudarmos, mas, como no mito de Sisifo, estávamos sempre de volta ao

local de origem.

De Valadares, carrego o sentimento do “ir embora”, pois desde tenra idade, ouço estórias a

respeito dos que foram. Foram para onde? Alguns iam para São Paulo, tentar a sorte na

cidade grande e industrializada a procura de uma vida melhor. Mas, a grande febre se

tornou ir para os Estados Unidos. Segundo dizem foi, no início, por causa do comércio de

pedras preciosas, riqueza da região. Fato é, que aqueles que iam, chegavam contando

maravilhas a respeito da terra do Tio Sam. Pessoas que tinham uma vida até certo ponto

confortável se encantavam com a aventura de ir trabalhar nos Estados Unidos, ganhar

muitos dólares e investir em algum negócio em Valadares. Com o passar dos anos, esta

prática se popularizou e todos queriam ir para a América, causando até mesmo uma queda

demográfica significativa.

Internamente, tentei resolver o meu conflito da seguinte maneira: a mesma estrada de ferro

que carregava minério e pessoas em seus vagões era pista de decolagem para os aviões que

iam até os Estados Unidos. Assim, eu não precisaria, seguindo os conselhos de Freud,
40

“matar” meu pai e minha mãe, ou seja, negar a minha origem. Mas ainda havia algo que

me atormentava: saí de Governador Valadares, mas Valadares nunca saiu de mim. Saí de lá

para estudar em Belo Horizonte, cidade que também acabei deixando, assim como Ouro

Preto, Porto Seguro, Ribeirão Preto e Vitória – cidade onde nasci. Não pensava em ir para

os Estados Unidos, até mesmo rejeitava esta idéia, mas ironicamente, me mudei para lá

para acompanhar meu marido em seus estudos de pós-doutorado. Apesar de morar no

estado de Connecticut, tive mais contato com brasileiros residentes no estado de

Massachussets, mais precisamente em Framingham. Qual não foi a minha surpresa ao ver

muitas pessoas que eu não vira a muitos anos, morando lá. Parecia que estava no Brasil:

nos supermercados, ouvia as pessoas falando português, nos restaurantes podia-se comer

um prato feito com arroz, feijão e bife acebolado, e, até, com guaraná. Nas ruas, é comum

ver brasileiros a toda hora, como também é comum ver lojas com produtos brasileiros,

salões de beleza e igrejas só para brasileiros. É um Brasil fora de casa.

O fato, porém, que me deixou mais fascinada era como o português fora de casa era falado.

Queria entender o que era aquilo, não sabia então, que seria uma mescla lingüística e que

nela haveria uma ordem. Muito menos que poderia ser sistematizada como uma gramática

da comunidade.

De volta ao Brasil, me ingressei no curso de Letras da Universidade Federal de Uberlândia

e foi onde encontrei caminhos para compreender – com apoio na Sociolingüística, o que

seria um fenômeno lingüístico.

Considero importante o estudo deste fenômeno, porque ele é parte do que acontece com o

nosso povo, não importa onde ele esteja. Quanto mais estudamos sobre o que se passa

conosco, mais teremos condições de entender o que somos. E é com profundo respeito a

este povo que se torna imigrante, que escrevo cada linha deste trabalho. A Sociolingüística
41

me ensinou a ver os fenômenos da língua desprovida de preconceitos. Espero ter cumprido

esta missão.
42

7. BIBLIOGRAFIA

ARAGÃO, M. S. S. As palavras proparoxítonas no falar de Fortaleza. In: Acta semiotica et

lingvistica. São Paulo, Plêiade, 2000, pp 61 – 88.

CARVALHO, Nelly. Empréstimos lingüísticos. São Paulo, Ática, 1989.

DUBOIS, J. et al. Dicionário de lingüística. São Paulo, Cultrix, 1998.

LABOV, W. Sociolinguistics patterns. Philadelphia, University of Pennsylvania Press,


1972a.

LOPES, E. Fundamentos da lingüística contemporânea. São Paulo, Cultrix, 1979.

MACAMBIRA, J. R. A estrutura morfo-sintática do português: aplicação do

estruturalismo lingüístico. São Paulo, Pioneira, 1974.

TARALLO, F. A pesquisa sociolingüística. São Paulo, Ática, 1999.

TARALLO, F. E ALKMIN, T. Falares crioulos. Línguas em contato. São Paulo, Ática,

1987.

TRUDGILL, P. Sociolinguistics. An Introduction to language and society. Middlesex,

Penguin books, 1983.


43

8. ANEXOS

8.1.Transcrição dos diálogos

Na fábrica:
- Roubaram o seu carro, como é que tá?
- F., a coisa ficou mais preta agora... o carro foi roubado!
- Mas você não foi atrás do carro, rapaz.
- Não...
- Você pegou um dia off [„ôfi] aí ó.
- A tristeza... não... é que ficar bisado igual cê fica... parquear o carro num lugar...
quando você volta... pá, ele foi.
- Mas cê foi deixar a chave dentro do carro também. Cê queria o quê B.?
- Deixei no carro... não é isso não... o pior não é isso não.
- Você tava bisado, e o cara bisado faz bobagem.
- Agora tem que ficar checando algum parqueamento e tal, prá vê se alguém colocou o
seu carro em algum lugar diferente... mas nem isso eu tô tendo muito tempo prá fazer
não. Mas eu vou dar um check it out em [šεķi‟rawtjẽj] algum lugar ainda prá vê.

...........................................................................................................................

- Ô F., vai sair prá onde F. tá indo onde?


- Eu vou ali cashar [ke‟ša] meu cheque cara.
- E o seu schedule [is‟kεdiw]de limpeza como é que tá?
- Ah, eu tô bisado.
- Tá bisado?
- Depois cê olha esse trem prá mim.
- Cê tá sem tempo então, né?
- Ahã.
- Então, falou.

..............................................................................................................................

- Ô F., o que que você tá achando do trabalho aqui, você que entrou tem pouco tempo. Tá
gostando?
- Ultimamente eu não tô gostando não viu...eu venho aqui só prá breakear [breiki‟a]
mesmo. Tô afim de coitar esse trabalho aqui. Num tô satisfeito não.
- Ah bicho, o negócio aqui é meio pesado, mas cê tem que ver é o seguinte: a
oportunidade é essa aí. Ali na Easy Day [izi‟dej], por exemplo eles tão lay offando
[lejô‟fãdu] gente prá caramba.
- Pois é, eu vou ter que procurar outra coisa, senão eu vou coitar isso aqui, mesmo sem
encontrar viu

..............................................................................................................................

- E aí F., como é que tá seu trabalho à noite lá? Que que ocê tá tendo que fazer? Cê tá
trabalhando muito?
44

- Rapaz, esses dias que tá nevando aí tá difícil viu? Tô tendo que vecar prá caramba
aquelas... muito carpete viu?
- Pior que...
- E a limpeza B. do chão? nó... tem que mapiar mesmo.
- Então, resumindo isso aí cê tá bisado demais hein?
- Bisado demais, viu?
- Mapeia todo dia, né?
- Todo dia... e fica muito difícil... muita neve, muita areia. Quando ele enche muito de
pedra por causa da neve, aquelas pedrinhas que eles pegam no chão por causa da neve
- É... areia, sal. aumenta muita areia nos tapete nos vaccum [„vεkiũ]
- É... o vaccum em que limpar toda hora. Enche a bag [bεg]demais.
- É um saco, cara.
- E falar em areia. A despesa que dá porque gasta bag demais. Tem que trocar as bag
toda hora que está vequiando.

..............................................................................................................................

- Ô bicho daqui a pouco sê vai ter que fazer dicantena ( D-container) [dikã‟tẽna].
- Ih rapaz, então eu vou ter que serapiar, uai.
- É, cê tem que serapiar e...
- Eu vou serapiar por hora.
- Pode ser por hora, mas me faz um favor: cê... cê estaca lá as dicantena que você fizer,
viu?
- Tem que estacar também? Ah, meu filho, mas como é que eu vou bater o cartão. Era
melhor que você estacasse lá prá mim, uai?
- Ah, ok.
- Cê que vai tá por hora mesmo. Eu vou tá piece work [pisu‟oRki].

..............................................................................................................................

- Eu tenho que ligar lá pra casa, cê tem umas quarter [„kôra] aí?
- Quarter não, mas tenho cartão. Não sei se dá pra falar muito.
- Ah, dá, eu só quero dar um recado pra G.

..............................................................................................................................

- Ô F., a B. diz que tem mais uma ordem ali procê ó. Depois do almoço.
- Ah, tô cansado de printar viu? Brasuca, vou te contar viu? Tá fudido neste país.

.............................................................................................................................

Na festa:
- Tá ficando tarde e o F. não chegou ainda. Tá todo mundo indo embora.
- Mas ele era suposto chegar aqui às dez horas!
- É que lá no restaurante tá bisado hoje. E ele tem que serapiar as mesas sozinho. O
outro busboy [basi‟bôj] tirou o dia off.
..............................................................................................................................
45

- Eu não vou colocar a F. na escola agora não. Vou fazer igual eu fiz com a B. Por
enquanto ela vai pra baby-sitter [bejbi‟sira]. Ela só vai pra escola no kindengarten.
- As minhas meninas também ficavam só com a baby-sitter, mas agora eu diminuí o meu
schedule de limpeza. Aí elas vão part time [par‟tajmi] pra escola e eu chego junto com
elas.
- Eu por enquanto não posso fazer isso. Tô com o meu schedule busy[„bizi]. Falar nisso
se você souber de alguém que quiser vequiar por hora...
- Tem um colega do F. que tava procurando.
- Então fala com ele pra me ligar.

..............................................................................................................................

- F., cê pode ir no mall [môw] comigo amanhã?


- Amanhã?
- É, de tarde.
- O problema é que quando você inventa ir no mall [môw] tem que ter paciência pra te
esperar.
- Eu não vou demorar, não. Só quero trocar aquela baguinha [bε‟gĩňa] que eu comprei
por uma maior.
- Não te entendo, cê tinha adorado ela. Por que que você quer trocar?
- O B. falou que mulher alta ficar usando bag pequena é ridículo.
- Ah, e o que que ele entende disso? Gosto é gosto.
- Pensando bem ele tá certo.
- Uhum...

..............................................................................................................................

- Tô pensando em aplicar prá trabalhar lá no hospital que o K. trabalha.


- Prá fazer o quê?
- Eles tão pegando gente pra mapiar e vecar.
- Vecar, tudo bem, mas mapiar? Cê vai ficar estourado.
- Tô precisando, cara. pelo menos até sair aquele outro. Quero juntar grana logo e vazar.

...............................................................................................................................
- Cê tá lavando a louça na mão? Por que cê não usa a disher [„diša]?
- Ah, quando tem pouca coisa assim eu não ligo a disher não. Gastar energia à toa.
- Pois eu, menina, pode ser uma knife [„najfi], que eu não lavo na mão. Espero juntar
mais louça e a disher lava tudo de uma vez. Quando eu chego em casa num quero saber
de nada.

.............................................................................................................................

- J., você tá trabalhando part-time ainda?


46

- Arrumei num restaurante de busgirl [basi‟gεw], mas só pra final de semana.

.............................................................................................................................

- Tem um cara que tá passando um schedule só pra limpeza de escritório lá no downtown


[daű‟taű] [dãw‟tãw]. Eu tô pensando em pegar.
- Mas cê tá muito bisado, como é que você vai fazer? Vai dividir com alguém?
- Não, vou coitar o restaurante. Não agüento mais nem olhar pra aquela disher. Essa
semana mesmo já falo com o cara. Se der certo...
- E o schedule é de quantos escritórios?
- Sei lá, cara mesmo se não for muita coisa já dá pra começar. Só de ser no downtown, já
vai ser bom prá mim.
- Por que?
- Porque de lá até a fábrica eu só gasto quinze minutos. Aí eu vou direto.

..............................................................................................................................

- Num vai embora não que eu já tô de volta.


- Onde você vai?
- Vou cashar os cheques que eu recebi prá pagar o pessoal.
- Eu preciso de quarter pra lavar minhas roupas. Tem uma bag lá, cheia. Cê pede pra
trocar pra mim?
- Precisa não. Eu tenho um monte de quarter. Eu troco procê.
- Melhor ainda! Enquanto você vai lá eu já coloco as roupas.
...............................................................................................................................

- E aquele... aquelas coisas que a gente...eu não sei se chama. E aquelas coisas se
prateleiras mesmo. Aqui se chama racks [ŗεks].
- Qual?
- Vamos dizer aquelas...aquelas prateleiras que você usa para empilhar as coisas.
- Colocar as coisas em galpão industrial, né?
- Aquelas prateleiras de aço...
- Aqui se chama rack, né?
- No Brasil eu não sei como que se chama não. Em português eu não sei como se chama
aquilo não.

..............................................................................................................................
No carro:
- Então assim surgiu isso né... a....a palavra estacar surgiu lá da fábrica, né. Pelo menos
eu nunca vi outra pessoa aqui brasileira falar a palavra estacar.
- Num foi aqui neste poste não, né? Foi ali atrás.
- Aquele poste ali ou neste aqui. Num sei.
- Tão falando de quem?
- O dia que a gente saiu da tua casa lá.
- A mulher bateu o carro. A frente do carro, ali.
- Aí, o menininho saiu dali. Tiraram o meninho de lá, meio tonto... e a mulher também.
Um menininho assim de uns dez anos. Nove, dez anos.
47

- Bateu feio, viu?


- É mesmo?
- Ela pode ter passado mal ou alguma coisa assim.
- Ahn.
- O poste...
- Pode u-turn ali [ju‟čwR] [nali] na frente ó.
- Cê tá acostumado ir no Ipanema?
- Vou.
- Então eu vou te mostrar o ... que tá lá. Agora aqui cê já passou, né F.?
- Já. Aqui vou... chegar ali no downtown de Holliston. O Ipanema é bom. Cê já foi no
Ipanema B.?
- Oi?... não.
- E ele pode ir lá?
- Pode uai, no restaurante pode num pode é no bar.
- Tá sempre bisado lá, bicho?
- Tá sempre bisado.
- Né busy que fala, não?
- Ahn?
- Né busy que fala, não?
- É, tá sempre busy.
- Busy...
- É...
- Na linguagem brasileira é bisado.
- Quer dizer que corre muito movimento né, F.? Quer dizer muito movimento, né?
- É.
- Já que você tá por fora da política do Brasil eu vou te adiantar algumas coisas aí. Tão
quase quase prestes a caçar o mandato do... aquele cara lá da Bahia. O Antônio Carlos...
- ACM.
- O ACM, o famoso ACM..
- Tô vendo. Tô acompanhando o jornal daqui.
- Tá vendo?
- Tô vendo.
- Aquilo tudo vai acabar em pizza!
- Que que cê tá perguntando, C.?
- Nada não, num tô perguntando nada não.
- Não, é que ele tá perguntando o que que é lay offar [lejô‟far].
- É.
- Então... lay offar é o seguinte é... é...por exemplo, o cara vai... tem uma companhia que
está com muitas pessoas trabalhando né? No.. no quadro de empregado lá. Aí, de
repente num tá bom pra firma. Tá devagar, tal. Aí que que tem que fazer? tem que
dispensar muita gente. Mas aí num dispensa. O lay off [lej‟ôfi]não é que o cara tá pra
ser mandado embora, não. Eles te dispensam temporariamente. E no Brasil eu não sei
como é que se dá o nome. Talvez seja férias coletivas, né?
- É.
- Mas, ah... ah....
- Então, o lay off é... o cara vai ficar off por um certo tempo. Quando os negócios ficarem
bons... melhorar de novo, o cara é chamado de volta, certo?
48

- Aah...
- Então a gente fala lay offar.
- “A companhia vai lay offar muita gente”.
- Mas aí é...
- É uma linguagem brasileira.
- É... uma linguagem brasileira.
- É né... igual tem outras linguagens aqui que a gente usa né?
- Queixar...
- Esse queixar aqui na realidade não é queixar, é cashar [ke‟ša].
- É. Cê pega um dinheiro. Cê recebe seu cheque né, da companhia, né? Cê vai lá
descontar o cheque no banco.
- Ahn...
- E aqui, como dinheiro a gente fala cash [kεš].
- Aí cê vai num banco e cê fala assim. Cê vai pedir o cash deste cheque. Você falando em
português você fala com o cara assim ó: vou cashar meu cheque. Vem de cash, a
palavra cash. Dinheiro vivo.
- Na verdade, mistura o português com inglês.
- É. No caso descontar o cheque.
- “Você cashou o seu cheque?”
- “Meu cheque eu cashei [ke‟šej] ontem.” Eu descontei ontem.
- Mas tem coisa que você fala sem perceber. Você vai... vai fazendo parte do seu
vocabulário sem você perceber. Por exemplo, a gente usa... eu trabalho com limpeza
comercial e limpeza de casa. A gente usa muito o aspirador de pó que aqui se chama
vacuum. Aí vem a palavra vecar.
- Aspirar.
- Que é aspirar, no caso né?
- Então a gente... A minha esposa, muita gente que limpa casa aqui. Que trabalha com
este tipo de serviço, fala vecar. “ – Já vecou lá fulana, já vecou? – Já vequei.” É vecar,
vequiar.
- Hum...
- Eles falam também...muita coisa que aqui...(risos). É até absurdo né? A palavra
breakear, por exemplo, né?
- Ahã. Parar.
- Break, seria uma parada. Então, aqui o cara trabalha oito horas em uma companhia. Aí,
ele tem direito a uma parada para café de quinze minutos na manhã, e uma à tarde de
quinze minutos também. Então, isso se chama break. E o brasileiro pega e fala
breakear... “É hora de breakear”. Tem base um negócio desse, o tal de breakear?
- Entendeu, C.?
- Entendi. Stop [is‟tôpi] também não é parada?
- Como é que é?
- Stop também é parar.
(B. ri)
- É, uai.
- É, mas isso... no caso stop seria... eu vou para de trabalhar. Cê não vai mais voltar pra
trabalhar. Vai para por aquele dia.
- O break é como se fosse um tempo, né?
- É, o break, cê vai dar um tempo.
49

- Lá na companhia tem um serviço que talvez ... não sei se dá pra você. É printar box.
- Que que quer dizer printar box. Nunca ouvi falar isso.
- Uai, a companhia que eu trabalho ela mexe com... é...a gente vende caixas pra mudança.
Caixas de papelão pra mudança.
- Que se chama box.
- É, que se chama box, no caso. É... então, o seguinte: as companhias pequenas
normalmente... aliás, normalmente companhia grande, a gente já compra os box, já
com o nome da companhia, tal tal tal, imprimido naquele box.
- Ah, sei.
- As companhias pequenas, a gente faz a imprensa lá mesmo. Lá naquela máquina que a
gente passa os box. Põe umas borrachas com o nome das companhias assim nos rolos,
né?
- Ah...
- ... e uma pessoa fica lá atrás colocando o box na... na máquina e vai passando e
imprimindo...
- Ahn.
- ... o nome da companhia naquele box. E aí a gente chama de printar.
- Aahh... como se fosse...
- Porque em inglês é print.
- Print?
- Print. É. É. E a gente... o nosso português aqui do... o nosso aqui é printar.
- Como se fosse imprimir alguma coisa.
- É... imprimir alguma coisa...é.
- É, na realidade a gente sabe que tá... que tá falando errado, mas talvez...facilita mais...
as pessoas que chegam não sabem o nome em inglês, já começa a falar....ou sabe o
nome em inglês, mas num... num fala inglês. Então, talvez prá poder falar a palavra em
inglês e ao mesmo tempo falar no português, ela acaba aportuguesando a palavra, né?
- Ahã. Print, printar.

- Ô, X, num tá conseguindo parquear aqui não?


- Hem?
- A vaga tá meio apertadinha.
- Meio mal...é...
- Aí garoto! Parqueou direitinho.

- Cê acabou de falar um negócio aí que foi interessante, que acontece muito aqui na
América. Cê vai fazer um retorno ali... cê perguntou, né? Em vez de perguntar de eu
podia retornar, você perguntou se eu podia u-turn.
- É. Se podia fazer o u-turn.
- E, então, tá misturando o inglês com o português. O que acontece muito aqui.
- É.

..............................................................................................................................
50

No carro II:
- Bom, T. nós acabamos de fazer aí a ultima aplicação né? De trabalho, aqui na Filene’s.
- É.
- O negócio é ir pra casa.
- É mesmo.
- Que daqui a pouco eu tô bisado.
- Tem que ir no batizado da S., né?
- Então nós conseguimos fazer o que, umas três aplicações.
- Foram duas no Donkin Donut’s [dõkĩ‟dõnučis]. Essa aqui na Filene’s [faj‟linis].
- E agora vamos ali no Stop and Shop e [istôpẽ‟šôpi] vamos...
- Vamos completar a quarta aplicação.
- Talvez a gente consiga lá porque eu tenho um conhecido antigo que trabalha lá.
- Ahã.

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- Como é que é M.?


- É a primeira vez que eu tô vendo esse negócio aqui bisado.
- Onde, a Main Street [mẽjs‟triti]?
- É.
- Tem hora que aqui tá busy demais, saindo da rota nove, pegando a Main Street.
- Bom, agora nós já estamos chegando em casa, né?
- É, quase.
- Quase.
...............................................................................................................................
51

8.2. Lista de palavras registradas pela pesquisa


( os números à direita indicam a que agrupamento de vocábulos elas pertencem)

1. off [„ôfi] 1
2. bisado 2
3. parquear 3
4. bisado 2
5. bisado 2
6. checando 4
7.parqueamento 3a
8.dar um check it out em [šεķi‟rawtjẽj] 5
9. cashar [ke‟ša] 6
10. seu schedule [is‟kεdjw] 7
11. bisado 2
12. breakear [breiki‟a] 8
13. coitar 9
14. na Easy Day [izi‟dej 10
15. lay offando [lejô‟fãdu] 11
16. coitar 9
17. vecar 12
18. mapiar 13
19. cê tá bisado demais 2
20. Bisado demais 2
21. nos vaccum [„vεkiũ] 14
22. Mapeia 13
23. o vaccum 14
24. a bag [bεg] 15
25. bag 15
26. as bag 15
27. vequiando 12
28. dicantena ( D-container) [dikã‟tẽna]16
29. serapiar 17
30. serapiar 17
31. serapiar 17
32. cê estaca 18
33. as dicantena 16
34. estacar 18
35. estacasse 18
36. piece- work [pisu‟oRki] 19
37. umas quarter [„kôra] 20
38. Quarter 20
39. printar 21
40. era suposto 22
41. serapiar 17
42. busboy [basi‟bôj] 23
52

43. dia off 1


44. baby-sitter [bejbi‟sira] 24
45. no kindengarten 25
46. a baby-sitter 24
47. meu schedule 7
48. part time [par‟tajmi] 26
49. meu schedule busy[„bizi] 7
50. vequiar 12
51. no mall [môw] 27
52. no mall [môw] 27
53. aquela baguinha [bε‟gĩňa] 15
54. bag pequena 15
55. aplicar 28
56. mapiar 13
57.vecar 12
58. Vecar 12
59. mapiar 13
60. a disher [„diša] 29
61. a disher 29
62. uma knife [„najfi] 30
63. a disher 29
64. part-time 26
65. busgirl [basi‟gεw] 23
66. um schedule 7
67. no downtown [daű‟taű] [dãw‟tãw] 32
68. muito bisado 2
69. coitar 9
70. aquela disher 29
71. o schedule 7
72. no downtown 32
73. cashar 6
74. precisando de quarter 20
75. uma bag 12
76. um monte de quarter 20
77. racks [ŗεks] 33
78. rack 33
79. estacar 18
80. estacar 18
81. Pode u-turn ali [ju‟čwR] [nali] 34
82. no downtown 32
83.Tá sempre bisado 2
84. Tá sempre bisado 2
85. Né busy que fala, não? 35
86. Né busy que fala, não? 35
87. É, tá sempre busy. 35
88. Busy... 35
89. Na linguagem brasileira é bisado 2
53

90. lay offar [lejô‟far] 11


91. lay offar 11
92. O lay off [lej‟ôfi] 36
93. o lay off 36
94. ficar off 1
95. lay offar 11
96. lay offar 11
97. cashar [ke‟ša] 6
98. cash [kεš] 37
99. o cash 37
100. cashar 6
101. cash 37
102. cash 37
103. cashou 6
104. cashei [ke‟šej] 6
105. vacuum 14
106. vecar 12
107. vecar 12
108. vecou 12
109. vequei 12
110. vecar 12
111. vequiar 12
112. breakear 8
113. Break 38
114. break 38
115. breakear 8
116. breakear 8
117. breakear 8
118. Stop [is‟tôpi] 39
119. Stop [is‟tôpi] 39
120. stop 39
121. O break 38
122. o break 38
123. printar box 21, 40
124. printar box 21, 40
125. Caixas de papelão...Que se chama box. 40
126. É, que se chama box, no caso 40
127. os box 40
128. naquele box 40
129. os box 40
130. o box 40
131. naquele box 40
132. printar 21
133. print 21
134. Print? 21
135. Print 21
136. printar 21
54

137. Print,...21
138. ..., printar 21
139. parquear 3
140. Parqueou 3
141.você perguntou se eu podia u-turn 34
142. fazer o u-turn 41
143. a última aplicação 42
144. na Filene’s 10
145. tô bisado 2
146. umas três aplicações 42
147. no Donkin Donut’s [dõkĩ‟dõnučis] 10
148. na Filene’s [faj‟linis] 10
149. no Stop and Shop e [istôpe‟šôpi] 10
150. a quarta aplicação 42
151. esse negócio aqui bisado 2
152. a Main Street [mẽjs‟triti] 10
153. tá busy demais 35
154. a Main Street 10

8.3. Lista de vocábulos e seu número de ocorrências

off [„ôfi] 3
bisado 12
parquear 3
checando 1
check it out em [šεķi‟rawtjẽj] 1
cashar [ke‟ša] 6
seu schedule [is‟kεdjw] 5
breakear [breiki‟a] 9
coitar 3
na Easy Day [izi‟dej 1
na Filene’s [faj‟linis] 1
no Donkin Donut’s [dõkĩ‟dõnučis] 1
no Stop and Shop e [istôpe‟šôpi] 1
a Main Street [mẽjs‟triti] 2
lay offando [lejô‟fãdu] 5
vecar 11
mapiar 4
vacuum 3
a bag [„bεgi] 6
dicantena 2
serapiar 4
cê estaca 5
cê tá piece of work [pisu‟oRki] 1
umas quarter [„kôra] 4
printar 11
era suposto 1
55

busboy [basi‟bôj] 1
busgirl [basi‟gεw] 1
baby-sitter [bejbi‟sira] 2
no kindengarten 1
part time [par‟tajmi] 2
no mall [môw] 2
aplicar 1
a disher [„diša] 4
uma knife [„najfi] 30 1
no downtown [daű‟taű] [dãw‟tãw] 3
racks [ŗεks] 2
Pode u-turn ali [ju‟čwR] [nali] 2
Né busy que fala, não? 5
O lay off [lej‟ôfi] 2
cash [kεš] 4
Break 4
Stop [is‟tôpi] 3
printar box 2
os box 7
fazer o u-turn 1
a última aplicação 3
56

9. RELAÇÃO DOS VOCÁBULOS ENCONTRADOS NA PESQUISA, SEPARADOS


POR CLASSE DE PALAVRAS

9.1. Substantivos

1.parqueamento 1
2.check-it-out 1
3.schedule 5
4.vacuum 3
5.Easy Day 1
6.bag 6
7.decantena 2
8.busboy 1
9.baby-sitter 1
10.kindengarten 1
11.mall 2
12.disher 4
13.knife 1
14.busgirl 1
15.downtown 3
16.quarter 4
17.rack 2
18.lay-off 2
19.cash 4
20.break 4
21.box 7
22.U-turn 1
23.Filene‟s 1
24.aplicação 3
25.Donkin Donut‟s 1
26.Stop and Shop 1
27.Main Street 2

9.2. Verbos

1.parquear 3
2.cashar 6
3.breakear 9
4.coitar 3
5.lay offar 5
6.vecar 11
7.vequiar
57

8.mapiar 4
9.serapiar 4
10.estacar 5
11.printar 11
12.ser suposto 1
13.aplicar 1
14.U-turn 1

9.3. Adjetivos

1.bisado 12
2.busy 5
3.off 3
4.piece -work 1
5.part-time 2

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