Renel Prospere1
Daniela Conceição2
Resumo
No inicio do século XIX (1804), este país rompeu mais de dois séculos de opressão o
povo negro liderados por Toussaint L´Ouverture e outros rebeldes venceram o mais
poderoso exército do mundo, da época, e expulsaram os franceses que exploravam as
terras, as águas, os minérios e dominavam toda a população negra e nativa pobre. A
mesma França, que na Europa, lutava em defesa das idéias de “liberté, igualité,
fraternité”, e que inspiraram os revolucionários haitianos, mantinha enormes latifúndios,
escravidão, exploração e opressão em sua colônia caribenha. Tal contradição, pela
rebeldia e luta do povo haitiano, gerou uma revolução negra, popular, anti-escravagista e
anti-colonialista da humanidade, constituindo-se no primeiro país independente da
América Latina. Portanto, radicalmente diferente da maioria das independências que
seguiram, sejam aquelas lideradas por elites nativas ou arranjadas, como a do Brasil
(1822). No entanto, isto não foi aceito ou admitido pelas classes dominantes nativas bem
como as coloniais, seja pelos interesses concretos que perderiam em decorrência da
exploração da riqueza das terras, águas, minérios e da população; enfim, da vida e do
ambiente natural. Mas, também a destruição da revolução deveria servir de exemplo ao
inculcar medo e servir de aviso para os demais explorados e dominados em todo o
continente e demais colônias. O resgate destas lutas, da inclusão desta rebeldia e de
suas utopias, da produção de seu destino de forma autônoma e pelo próprio povo
haitiano, e portanto, a superação desta trágica história de 2 séculos deve fazer parte de
uma projeto político, ambiental e social para o povo do Haiti no século XXI. Portanto,
queremos ampliar aspectos desta história e destas lutas e de sua derrota, pois
acreditamos não poderemos construir um país mais justo, solidário, autônomo,
democrático e independente e com menos desigualdade para todos e todas “sem um
acerto de contas” com este passado. No entanto, se de um lado, podemos identificar as
raízes mais profundas da situação atual do Haiti nesta época, mais recentemente, a
miséria e a exploração ampliou-se, seja pela ditadura e à opressão dos últimos 50 anos,
agravada nas últimas décadas com as políticas selvagens de cunho neoliberal a partir de
Ronald Reagan, pós anos 1980. Tais políticas tiveram nas diretrizes do “Plano Americano
para o Haiti” baseados nos Documentos de Santa Fé, e sua ratificação nas políticas
macroeconômicas e geopolíticas de Ronald Reagan, a partir dos anos 1980, suas
diretrizes fundamentais para a América Latina e Caribe. O economista haitiano Fritz
Deshommes (2006), destaca e discute os quatro pilares deste documento relacionados a
1
Filosofo Haitiano, mestrando em Educação no PPGE/Universidade Federal de Pelotas e do mestrado do em
Educação Ambiental no PPGEA/Universidade Federal do Rio Grande. Ambos no Rio Grande do Sul, Brasil.
e-mail: rentinp@hotmail.com
2
Agrônoma e Mestre em Ciências (Área de Concentração em Produção Vegetal). E-mail:
daniceicao@hotmail.com
atuação dos Estados Unidos no Haiti: em breve citaremos as 4 fases deste trabalho,
ampliamos as informações e a discussão destes documentos (Documento de Santa Fé e
das Diretrizes do Plano Americano para o Haiti), como pano de fundo pregresso da
conjuntura atual em que o povo haitiano vive com a intervenção brasileira através da
Organização das Nações Unidas. No entanto, a história de rebeldia do povo haitiano, e
das intervenções estrangeiras em decorrência disso é secular. Assim, mostrar que,
através da recente “ajuda humanitária” e da “Força de Paz” (los cascos azules de la
Minustah - Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), o país está
novamente sendo invadido, e que são outros os interesses, e não a criação/produção de
um país soberano, igualitária, solidário, democrático com participação popular, justiça,
enfim, um “outro mundo possível”, tornado possível pelo povo organizado e em luta como
apregoam os Fóruns Sociais Mundiais, desde 2001. O terror entre a população, a pretexto
de combate as gangues e grupos violentos, que matam e ferem gente inocente em zonas
empobrecidas como “Cite Soleil”, na maior favela da capital Porto Príncipe; das
indefinições sobre o futuro político, da falta de alternativas econômicas, educacionais e
ambientais ao país quando da retirada das “forças de paz” é um dilema fundamental a ser
problematizado. Mas, resgatando a história do tempo da independência (1804),
lembramos que, novamente, as elites mundiais e latino-americanas, colocam o povo
haitiano como “uma ameaça para a paz e a segurança internacional na região" (Conselho
de Segurança das Nações Unidas, Resolução 1743, ao prorrogar o mandato da Minustah,
em ano 2005). Diz o professor haitiano Didier Dominique que, é em nome de
“nacionalismos” que tropas formadas por brasileiros, uruguaios, argentinos,etc, provocam
terror em bairros populares, metralhando e matando, denuncia o professor. “Tem toque de
guerra, cobre-fogo, todo dia no Haiti. O Haiti completou mais que 200 anos de
Independência que, com seus múltiplos significados históricos representou a formação do
Estado, a independência colonial, o fim da escravidão e a formação da Primeira Republica
Negra no continente americano que se conformava não apenas pelo fato de os negros
representarem mais 85% da população, mas pela consciência política de que a raça
negra não poderia permitir que sua essência de liberdade e majestade fosse
antropofagizada por vícios e interesses da raça branca”. Portanto, mantém, como há
duzentos anos atrás, os haitianos como escravos modernos. Mas, de outro lado, diz o
professor, se a “miséria dos haitianos, a fome e a questão ambiental é quase está cada
vez caindo no esquecimento” é porque, “esse é o interesse das transnacionais” que
mantém suas “zonas francas” e “estão até construindo outras. Finalmente, afirma o
professor haitiano à articulação entre a “ajuda humanitária”, as “forças de paz” e os
interesses econômicos, ambientais e internacionais, através das tropas militares em
beneficio de países como os estadunidense e outros. E, até poderíamos levantar uma
hipótese de fundo, e de caráter estratégico na geopolítica caribenha e latino-americana:
impossibilitar que Haiti se torne a semelhança de Venezuela, Equador, Bolívia e Cuba
uma alternativa a ser seguida, como fizeram os povos destes paises ao se contraporem
aos projetos hegemônicos, de exploração e dominação das elites nativas e internacionais.
Portanto, a Haiti e as políticas e a intervenção que ai se desenvolvem estão nesta
intersecção e conflito de dois grandes projetos para as Américas nesta inicio do século
XXI. Em fim, apresentaremos os balizadores macro da história e do contexto atual, para
resenhar brevemente as políticas nacionais em desenvolvimento no Haiti, focando em
especial a estrutura educacional e suas políticas bem como as políticas ambientais e a
estrutura política constituída para sua implementação. Nestas destacaremos os limites e
as contradições visando destacar a necessidade de serem aprofundadas em estudos
futuros, e em confronto com a realidade e com a participação do próprio povo haitiano.
Palavras-chaves: Haiti, política, educação, meio ambiente e invasão.
1. INTRODUÇÃO
O ponto de partida deste trabalho pretende ser o compromisso assumido comigo
mesmo, jovem negro, pertencente a um grupo racial/étnico, que vem construindo sua
história através de um duro processo. No meu percurso esse processo foi marcado pela
necessidade de ter de provar a minha capacidade para meus amigos, meus colegas,
meus professores, meus pais e irmãos. Na realidade, eu queria ser eu mesmo, sem
precisar impor minha presença nos lugares aonde chegava. Mas, quem sou eu? um
jovem haitiano, que teve uma infância igual a de todos, cresci num bairro que chama
Calvaire, onde comecei a jogar. Tornei-me um jogador profissional, com mais estrutura, o
primeiro time que pertencia chama J.B.C, Jeune Buteur de Calvaire logo passei para o
F.I.C.A (Futebol, Inter Clube, Associação) um dos mais famoso do país. Assim, eu fui
escolhido para participar na Operação de 2006, isto é, preparação para o Mundial de
2006.
Haiti:
Croix-des-Bouquets
Oranger
3
Nome do departamento no Haití
4
Idem.
5
Idem.
adequadas em matérias de urbanismo e população. Os índices de mortalidade infantil e o
analfabetismo estão os números mais dolorosos e cruéis da realidade haitiana, morem
107 crianças haitianas a cada mil que nascem. A expectativa de vida dos homens é de 60
anos, e a das mulheres e cinco anos a mais, atingindo 65. É um país de negros, que
representam 85% da população. Somente 5% são brancos e 10% são mulatos (ROCHA,
1995).
A situação econômica traz para o setor social conseqüências graves que põem em
perigo a sobrevivência da nação. A baixa da produção em quase todos os ramos da
economia, e a deteriorização do sistema produtivo agrava cada vez mais o problema do
desemprego. Estima-se mais de 75% a taxa de desemprego da população
economicamente ativa. Em conformidade, a implantação das políticas econômicas
neoliberais impostas pelo fundo internacional agrava ainda mais o quadro de
vulnerabilidade social. O vazio político criado pela caída do regime Lavalas6, as cenas de
saques nas empresas, do tesouro público pelo funcionário do Estado, a violência política,
a proliferação de bandidos armadas na região metropolitana de Porto Príncipe, os nexos
com o narcotráfico do antigo poder Lavalas, foi afundando o país num verdadeiro caos,
onde a situação é incerta e ultrapassa totalmente aos responsáveis políticos atuais.
O índice de abandono ao nível de ensino fundamental é muito elevado, isto é, 34%
para o sexto ano de primário, de 100 crianças haitianas que entravam no primeiro ano de
primório somente 66 tinham a chance de chegar ao sexto ano. Durante o ano acadêmico
1998/1999, fizeram a prova oficial ou Nacional, passou somente 64% do sexto ano; 27%
de Bac I e 38% de Bac II ( primeiro e segundo grau do ensino médio ). Estes dados
mostram as falhas do sistema Educativa no Haiti: a debilidade do marco familiar, a
ausência de infra-estruturas de base nas escolas (banheiros, lugares de recreios,
eletricidade, espaço físico pelo esporte, biblioteca, água potável, etc.) para acolher as
crianças, e, é evidente que o número de estabelecimento escolares são insuficiente. A
pesar dos esforços realizados estes quinze anos na educação no Haiti, o Estado não
chega todavia a definir e colocar em marcha uma política adaptada na área educacional.
Os problemas fundamentais do sistema continuam sem resolução.
6
Nome do Partido Político do Ex-presidente J. Bertrant Aristide deposto.
envolvimento do homem com o meio em que ele se encontra inserido. A formação que
tive foi de forma integrada, pois permitiu uma verdadeira mudança de pensamento, capaz
de formar cidadãos atentos à pensar e refletir acerca dos problemas de nosso tempo;
além de gerar saberes, idéias e valores que permitiram com que eu sentisse e analisasse
os verdadeiros problemas do mundo em crise, que nos deparamos neste início de século.
Nesse período participei de semanas acadêmicas, seminários e eventos relacionados à
área de filosofia. Portanto, carrego comigo uma história fascinante. Portanto, quem pode
acreditar que um jogador de futebol, após uma cirurgia tem de abandonar o seu amor
profissional e se vê apaixonado pela filosofia?
No processo de elaboração do Projeto de pesquisa, respeitando os limites
temporais e acadêmicos, procuro dar visibilidade a um conhecimento produzido pelos
teóricos adotados ao tema proposto. Portanto, as considerações apresentadas não
devem ser tomadas como prontas e acabadas. Com isso, entendemos que este trabalho
suscitará novos questionamentos e reflexões que podem contribuir de forma relevante
para entender de forma especial a importância da educação numa sociedade, assim,
como compreender que o processo educacional da população haitiana está imerso na luta
por uma educação democrática e de qualidade social. Gostaria de ressaltar que essa
investigação relaciona-se com minha trajetória acadêmica, que busca compreender e
explicar os diferentes fatores implicantes nesse processo.
O Haiti nasceu com a vontade dos escravos de cambiar a realidade colonial para
viver em liberdade, igualdade e fraternidade. A sociedade de hoje, não tem praticamente
as mesma características da sociedade de santo-dominguense, isto é antiga nome da ilha
espanhola. Um pequeno grupo privilegiados que têm todo e são capazes de integrar-se
nas sociedades mais desenvolvidas como cidadãos do século XXI em comparação a uma
minoria que não tem praticamente nada, a falta de políticas educacionais, na Constituição
de 1987 haitiana consta no ARTIGO 22 : O Estado reconhece o direito de cada cidadão à
moradia digna, educação, alimentação e segurança social. ARTIGO 32: O Estado
garante o direito à educação. Veja para o desenvolvimento físico, intelectual, moral,
profissional, social e de formação cívica da população.
ARTIGO 32-1: A educação é da responsabilidade do Estado e as suas divisões
territoriais. Eles devem fazer escolaridade à disposição de todos, gratuitamente, e
garantir que os organismos públicos e privados, os professores são devidamente
treinados.
ARTIGO 32-2: A primeira responsabilidade do Estado e as suas divisões territoriais é a
educação das massas, que é a única forma do país podem ser desenvolvidas. O Estado
deve incentivar e facilitar a iniciativa privada neste domínio.
ARTIGO 32-3: Ensino primário é obrigatório sob sanções a serem prescritos por lei. Na
aula instalações e matérias pedagógicos devem ser fornecidos pelo Estado aos
estudantes do ensino fundamental de forma gratuita. E falta de Políticas ambientais.
Como salienta Christophe Wagny7 no seu artigo “Haiti/Reconstrução: ainda muito longe
da normalidade. Ele menciona que: A insegurança não está na violência das ruas de
Porto Príncipe, muito exagerado pela mídia. Ela é até menor que do violência de
metrópoles como Cidade de México e o Rio de Janeiro. A insegurança reside, isto sim,
numa precariedade: alimentar, sanitária, educacional, profissional e eu acrescentaria
ambiental. Agora o problema a ser levantado. É possível, através das políticas
educacionais, ambientais que devem ser fornecidos pelo Governo haitiano cientes das
diferenças do panorama que se encontra o país hoje, pode trazer novos benefícios à
população no futuro?
O objetivo geral deste trabalho no futuro é propor uma releitura que buscam refletir a
situação educacional e ambiental do Haiti, buscando desvelar a falta de participação de
forma efetiva do governo haitiano e identificar as potencialidades e fragilidades
ambientais do país. Somente assim, poderemos iniciar a simples prática do “pensar
globalmente e agir localmente”.
7
Enviado especial ao Haiti, é autor de Haiti n’existe pás, deux cents ans de solitude (Paris, Autrement, 2008).
tal modo que possam participar ativamente na melhoria e na proteção do meio
ambiente.
Max Weber tem um curto trabalho sobre A Política como profissão/vocação. Nesse
sentido, o oficio pode ser interpretado e vivido existencial e biograficamente pelo sujeito
como uma “profissão” burocrática, em certos casos muitos lucrativa, ou como uma
“vocação” motivados por idéias, valores, conteúdos normativos que mobilizam a
subjetividade do político a uma responsabilidade em favor do outro, do povo. No começo
do século XXI, os políticos (representantes eleitos para o exercício do poder
institucionalizado, a postas) constituíram grupos elitistas que foram se corrompendo,
depois do enorme desgaste das revoluções do século XX, do fracasso de muitos
movimentos políticos inspirados por grandes idéias, da crise econômica, e do aumento
de dificuldades na juventude para encontrar lugares de ocupação assalariada fixa (pelo
desemprego crescente estrutural). (DUSSEL, p.37, 2007).
Nesta nova concepção o homem passa a se preocupar com suas ações e como
conseqüência passa a praticar ações coerentes com a natureza. Com esta nova linha de
pensamento, podemos definir Ética Ambiental como uma conduta de comportamento do
ser humano com a natureza, cuja base está na conscientização ambiental e no
compromisso preservacionista, onde o objetivo é a conservação da vida global. Podemos
enfatizar que a Ética Ambiental cria uma nova ordem mundial alicerçada em valores
extrasociais humanos, embasado cientificamente na relação do homem com a natureza,
desenvolvendo uma humanidade consciente de que é parte viva da Terra, e como tal tem
o dever de desenvolver uma nova conduta comportamental, em todos os segmentos da
sociedade, como peças fundamentais neste novo paradigma do século 21.
Observa-se, ainda hoje, que o princípio no qual se apóia a relação do homem com
o ambiente é o de que a natureza e o ambiente têm valor apenas quando existe algum
interesse utilitário envolvido. Assim, em vez dos sujeitos se envolverem com a idéia da
natureza e do ambiente como um valor intrínseco, envolvem-se unicamente com a idéia
de dominação da natureza, de apropriação dos seus recursos para se atingir
determinados fins (Bornheim, 1983).
É importante registrar esse caráter planetário da devastação socioambiental desde
o inicio do processo de formação do mundo moderno-colonial. Muito embora os efeitos
mais imediatos dessa devastação tenham ficado restritos inicialmente às regiões
coloniais, esses efeitos locais e regionais forma o resultado de ações globais das
metrópoles européias que, assim, estão implicadas, desde o inicio, nessas práticas
devastadoras. Há, deste modo, uma dívida ecológico histórico que continua sendo
atualizada na medida em que, ainda hoje, essa mesma estrutura moderno-colonial está
presente na geopolítica do sistema-mundo que, assim, nos conforma. Tudo indica que
para superar o desafio ambiental que daí decorre haveremos de agir e pensar local e
globalmente e não agir localmente e pensar globalmente, como nos vêm recomendando
(PORTO-GONÇALVES, p.397, 2006).
Para Leff (2005) essas mudanças devem gerar uma racionalidade ambiental.
Desse modo, a racionalidade ambiental se funda numa nova ética que se manifesta em
comportamentos humanos em harmonia com a natureza; em princípios de uma vida
democrática e em valores culturais que dão sentido à existência humana. Estes se
traduzem num conjunto de práticas sociais que transformam as estruturas do poder
associadas à ordem econômica estabelecida, mobilizando um potencial ambiental para a
construção de uma racionalidade social alternativa.
O reconhecimento de que é necessária uma profunda mudança de percepção e de
pensamento para garantir a nossa sobrevivência, ainda não atingiu a maioria dos líderes
das nossas corporações, nem os administradores e os professores das nossas grandes
universidades. Como nos diz o físico Fritjof Capra e outros estudiosos da filosofia da
Ciência, alienadamente "Não reconhecemos que os valores não são periféricos à ciência
e nem à tecnologia, mas constituem a sua própria força motriz". Culturalmente,
acreditamos que os valores podem ser separados dos fatos, e assim pensamos que os
fatos científicos são independentes daquilo que fazemos e, portanto, são isentos de
valores.
Cabe à Filosofia, no entanto, mostrar que seria ilusório crer que apenas medidas
de política econômica ou mesmo transformações dos padrões energéticos, seriam
suficientes para superar a crise ecológica, uma vez que a carreira triunfal do pensamento
técnico-científico e das transformações por ele provocadas assentam sobre valores
ligados à atual relação homem - natureza. A única possibilidade de mudança de postura
em prol da natureza será então fruto da autonomia da razão, a única capaz de incorporar
princípios éticos em cada um, até alcançarmos uma consciência ética coletiva, à medida
que o vínculo com a autonomia de todos e a reconciliação com a natureza tornar-se uma
motivação política atuante. Desta forma, a Ética Ambiental poderá tornar-se natural e
espontânea, sem a necessidade da aplicação de normas legais, porque se transformará
na convicção e manifestação conjunta de todos os habitantes do planeta Terra .
No entanto a formação de uma ética ambiental pode levar à realização de que os
esforços no sentido de respeitar e sustentar a natureza são na verdade empreitadas
criativas em prol de nós mesmos. As razões a favor da conservação ambiental não são
em prol do progresso material ou por altruísmo ou devido ao conhecimento científico, mas
são frutos de uma convicção pessoal de que a natureza é muito mais um lugar de
propiciar e fortalecer a realização interior do homem do que um lugar de culturas agrícolas
e de colheitas. É preciso pensar, refletir e discutir sobre atitudes e decisões que são
tomadas a todo o momento sem a população ao menos saber, são empresas
multinacionais que chegam ao nosso Estado ao nosso Brasil e só ouvimos falar em
progresso, progresso esse que leva o homem a alienação por trabalhar em condições
muitas vezes desumanas para ganhar o equivalente a uma sobrevivência .
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão ambiental é uma problemática social que transcende a incumbência das
universidades. As transformações de conhecimento pelo saber ambiental vão além de
conteúdos ecológicos, o saber ambiental questiona todos os níveis do saber
educacional,desta forma orientar e educar é a forma mais coerente de se fazer algo
benéfico e coerente.
A formação ambiental é acima de tudo um compromisso, uma missão afim de
poder fazer algo por muitos e de certa forma por todos. Temos que amar o que fizemos, e
cuidar do que é nosso, isso é a maior prova de sabedoria e dignidade perante um mundo
que está em chamas.
Enquanto os problemas ambientais em determinadas regiões não se
apresentarem como agravantes, é necessário da mesma forma continuar um processo de
reflexão acerca dos problemas do homem com a natureza, deste modo a impressão que
temos é que estamos vivendo uma grande batalha com a natureza, mas de fato as duas
estão unificadas e ligadas uma a outra, o homem depende da natureza, mas a natureza
depende do homem?
Portanto, ressalto que, é falsa a afirmação de que nada é possível na educação
enquanto não houver uma transformação da sociedade, porque a educação é dependente
da sociedade. A educação não é certamente a alavanca da transformação social. Porém,
se ela não pode sozinha a transformação, essa transformação não se efetivará, não se
consolidará, sem ela. Se ela não é a alavanca, isso significa, ainda, que a sua luta deve
estender-se além dos muros da Escola, da Universidade.
REFERÊNCIAS
BORNHEIN, Gerd Alberto G. Dialética - teoria e prática. Porto Alegre: Globo, 1983.
FERREIRA, Y.M. Metrópole Sustentável? Não é uma questão Urbana. São Paulo em
Perspectiva 14 (4), 2000.
GODOY, A. O modelo da natureza e a natureza do modelo. São Paulo em perspectiva,
14 (4) 2000.
JACOBI, P.R. Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento
crítico, complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, p. 233-250, 2005
______________. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de
Pesquisa, n. 118, 2003.
____________ Políticas sociais e ampliação da cidadania. Rio de Janeiro: FGV
Editora, 2000.
______________Cidade e meio ambiente. São Paulo: Annablume, 1999.