CENBIO

Centro Nacional de Referência em Biomassa

NOTA TÉCNICA VI

NECESSIDADE DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA BIO.COM

VERSÃO 2.0 – 30 AGOSTO DE 2001

Introdução:

Através da Nota Técnica V, o CENBIO apresentou uma análise de sensibilidade de investimentos para
geração de energia a partir de biomassa. Naquela Nota foi analisada a importância de políticas de
financiamento para incentivo à introdução de tecnologias mais eficientes.

Dentro deste contexto, em correspondência encaminhada à Câmara de Gestão da Crise Energética, em

19 de Julho de 2001, também foi apresentada a proposta para criação do Programa Emergencial de
Energia de Biomassa no Brasil – BIO.COM, para viabilizar a implementação de 2.000 MW, até
dezembro de 2003, de geração de energia elétrica a partir da biomassa. Tal proposta, se implementada,
permitiria a redução dos efeitos da atual crise de oferta de energia no setor elétrico.

Entretanto, como vários projetos de geração de eletricidade com biomassa vem sendo propostos
recentemente, observa-se uma tendência de se considerar que a questão da biomassa como fonte de
energia já estaria solucionada automaticamente, pelo próprio mercado. Tal fato não vem ocorrendo, ao
menos do ponto de vista do país, levando-se em conta o potencial técnico existente.

Desta forma, esta Nota Técnica apresenta uma análise dos projetos que vêm sendo implementados no
país, comparando a capacidade prevista para ser instalada com o potencial técnico existente.

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Projetos em implantação para geração de energia no setor sucroalcooleiro:

Em Junho de 2001, o BNDES, criou o programa “Operação Programa para Empreendimentos à

Cogeração de Energia Elétrica a partir de Resíduos da Cana-de-Açúcar”, visando implementar a
geração de eletricidade excedente no setor sucroalcooleiro.

Até agosto p.p., foram aprovados quatro projetos (147 MW totais, com 105 MW excedentes), existindo
outros sete em análise (203 MW, com 161 MW excedentes). Além disso, há 28 usinas com excedentes
disponíveis para venda (132 MW excedentes) em 2001, muitas vendendo.

Entretanto, o total destes projetos corresponde a valores muito inferiores (233 MW excedentes) ao
potencial disponível no setor (3.852 MW) e aos potenciais das próprias usinas envolvidas nos projetos
(503 MW). Assim, verifica-se que, apesar da existência de projetos de geração de eletricidade
excedente no setor sucroalcooleiro, dificilmente será viabilizado o potencial total de mais de 3.000
MW, que poderia vir a ser instalado no Brasil a curto e médio prazo.

Analisando-se a atual posição dos pedidos de financiamento ao BNDES e comparando-os com o

potencial técnico viável correspondente, podemos verificar que:

• As usinas que apresentaram projetos ao BNDES correspondem a 4,8% da capacidade do setor

no Brasil.
• Os projetos de geração de eletricidade excedente estão sub-dimensionados quando comparados
com o potencial técnico de geração. Este total, no caso das usinas analisadas, poderá atingir,
caso todos os projetos se concluam, um máximo de 24,35% da capacidade do setor no Brasil e
53% do potencial técnico possível (aproximadamente 266 MW se comparado ao total de 503
MW) de ser gerado nas usinas em questão.

Isto está ocorrendo porque na maioria dos casos as opções tecnológicas escolhidas nestes projetos são

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as de menor eficiência (caldeiras de 42 bar de pressão), com menor custo de geração e, por
conseqüência, aquelas que necessitam de um valor menor de investimento. Esta opção está sendo feita
pelos investidores porque o preço de venda (da eletricidade) oferecido pelas concessionárias não
viabiliza opções com tecnologias mais eficientes.

Ao extrapolarmos os resultados obtidos nesta análise, com apenas 163 usinas (1.541 MW
aproximadamente), para o montante de aproximadamente 300 usinas no Brasil, os resultados apontam
para resultados não expressivos nem tampouco animadores. Neste caso o potencial que poderia vir a
ser implementado no Brasil seria bastante reduzido quando comparado ao potencial teórico.

A implementação de medidas de incentivo, como já proposto pelo CENBIO através da carta de 19 de

julho de 2001, para a viabilização da geração de eletricidade excedente no setor sucroalcooleiro é de
total relevância, pois tornará esta eletricidade viável se comparada com as outras fontes de energia
disponíveis no Brasil.

A proposta de Resolução BIO.COM prevê a garantia de compra do excedente gerado por um prazo
mínimo de 15 anos e a adoção de um valor mínimo para a eletricidade gerada a partir de todo tipo de
biomassa.

É necessário ressaltar que as outras fontes de geração de eletricidade, como PCH’s, eólicas e térmicas a
gás natural só se tornaram competitivas e viáveis após a garantia por parte do Governo Federal de uma
política que previsse a garantia de compra desta eletricidade por um determinado período e tivesse
ainda estabelecido um valor mínimo para compra desta mesma eletricidade.

São Paulo, 30 de agosto de 2001

CENBIO – Centro Nacional de Referência em Biomassa

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Dr. José Goldemberg – Presidente do Conselho Consultivo do CENBIO
Dra. Suani Teixeira Coelho – CENBIO/IEE-USP
Eng. Carlos Eduardo Machado Paletta – CENBIO/IEE-USP
Patricia Guardabassi – CENBIO

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