Flávio Alterthum
A partir da descoberta e início dos estudos dos microrganismos, ficou claro que a divisão
dos seres vivos em dois reinos, animais e plantas, era insuficiente. O zoólogo E.H. Haeckel,
em 1866, sugeriu a criação de um terceiro reino, denominado Protista, englobando as
bactérias, algas, fungos e protozoários. Essa classificação mostrou-se satisfatória até que
estudos mais avançados sobre ultra-estrutura celular demonstraram duas categorias de
células: as procarióticas e as eucarióticas. Nas primeiras o núcleo é limitado pela membrana
nuclear e apresenta no seu interior vários cromossomas. Assim, em 1969, R.H. Wittaker
propôs a expansão da classificação proposta por Haeckel, baseado não só na organização
celular mas também na forma de obter energia e alimento: Reino Plantae, Reino Animalia,
Reino Fungi, Reino Protista (microalgas e protozoários) e Reino Monera (bactérias e
cianobactérias).
Por não apresentarem uma estrutura celular, os vírus não são considerados seres vivos e
portanto não se enquadram nas classificações acima. São formados basicamente por uma
porção de material genético, DNA ou RNA, nunca os dois simultaneamente, envolvidos por
proteína.. Alguns vírus, com estrutura mais complexa, têm sobreposto à protéica em
envoltório lipoprotéico. Os vírus quando fora das células, não possuem atividade
metabólica própria e portanto não sintetizam protoplasma nem crescem. São sintetizados
prlas células hospedeiras, nas quais penetram, pois assumem o comando do metabolismo. O
aumento do número de vírus não ocorre pelo processo de divisão como nos organismos
celulares, mas sim feito pela replicação viral.
Diferenças na organização e estrutura de células procarióticas e eucarióticas
Saccharomyces cerevisiae
Saccharomyces cerevisiae
1.2.1 – Bactérias
Quando observadas ao microscópio, a maior parte das bactérias apresenta-se em uma das
três formas: esféricas, cilíndricas ou espiraladas. As bactérias de forma esférica
denominam-se cocos e as cilíndricas, bacilos. Nas bactérias espiraladas, quando o corpo é
rígido e apresenta várias espirais, recebem o nome de espirilos e quando o corpo é rígido,
porém em forma de vírgula ou meia espiral, recebem a designação de vibriões.
Externamente à membrana, as bactérias possuem uma parede celular rígida, que garante a
forma da célula e a protege contra a diferença de pressão osmótica entre o meio interno e o
ambiente (a pressão dentro da célula pode ser vinte vezes maior do que fora). A parede é
constituída de um arcabouço básico, denominado mucopeptídeo ou peptideoglicano,
formado de cadeias de polissacarídeos (unidades alternantes de N-acetilglicosamina e de
ácido N-acetilmurâmico) unidas entre si por meio de cadeias peptídicas. A esse arcabouço
podem se unir proteínas, polissacarídeos e, no caso de bactérias gram-negativas, uma fração
bastante significativa de lipopolissacarídeos.
Algumas bactérias apresentam externamente à parede uma camada mucosa que, quando
definida, é chamada de cápsula. Esta tem natureza polipeptídica ou polissacarídica e, em
certos casos, é muito abundante, podendo então ter importância industrial, como sucede
com as dextranas.
Entre outras estruturas dispensáveis, algumas bactérias apresentam fímbrias ou pili, que
servem para aderência às superfícies, permitindo a formação de biofilmes. Há que se
destacar a existência de um tipo mais longo de fímbria – a fímbria sexual - que serve de
ponte entre duas células por ocasião da transferência de material genético de uma bactéria
macho (F+) para uma bactéria fêmea (F-).
Menção especial deve ser feita a uma estrutura particular apresentada apenas por certos
grupos de bactérias, o esporo. Representa uma fase na vida de certas bactérias que se
transformam em esporos, por motivos ainda imperfeitamente conhecidos. Consiste numa
célula diferente da forma vegetativa normal: tamanho menor, material nuclear e citoplasma
condensados, baixo teor de água, maior quantidade de cálcio e presença de ácido
dipicolínico. Além da membrana citoplasmática, o esporo é envolvido por várias camadas,
que lhe conferem um revestimento bastante espesso. O aspecto importante dos esporos
bacterianos é sua considerável resistência aos agentes externos, principalmente à
temperatura; alguns esporos resistem a temperaturas superiores a 100°C durante várias
horas. Ao contrário do que sucede com os esporos de outros organismos, não são formas de
reprodução, pois cada bactéria se transforma em um esporo e este, encontrando
eventualmente condições favoráveis, germina, produzindo apenas uma bactéria.
A reprodução nas bactérias é feita, na grande maioria dos casos, pelo processo da divisão
binária simples, na qual uma célula, atingindo um determinado tamanho, divide-se ao meio,
dando duas células-filhas iguais.
1.2.2 – Fungos
Os fungos são seres eucarióticos, heterotróficos, que não sintetizam clorofila, portanto não
fazem fotossíntese, não armazenam amido como material de reserva e sim glicogênio e não
têm celulose na parede celular, com exceção de alguns fungos aquáticos. São ubíquos,
podendo ser encontrados no ar, solo, água, vegetais e animais.
Os bolores são constituídos por células multinucleadas (cenócitos), que formam tubos
chamados hifas; ao conjunto de hifas dá-se o nome de micélio. As hifas podem ser
contínuas ou septadas.
Os fungos aquáticos apresentam flagelos para sua locomoção e poucos fungos possuem
cápsula.
Os esporos fúngicos têm uma importância toda especial, pois além de serem a forma mais
freqüente na reprodução, são os principais veículos de disseminação. Os esporos podem ter
origem assexuada ou sexuada. A maneira pela qual se formam e se dispõem, constitui
elemento importante na identificação, particularmente nos bolores. Os tipos fundamentais
podem ser visualizados na Fig1.10