Não foi, entretanto, uma conquista pacífica. Lutas violentas foram travadas pelas forças
lusobrasileiras para expulsão de ingleses, franceses, holandeses e irlandeses que, em
incursões permanentes para exploração e comércio de especiarias, pro curavam também
o domínio da terra, com a edificação de fortificações às margens de alguns dos rios da
região.
É importante ressaltar que Pedro Teixeira também se destacou nas lutas para reduzir e
pacificar os índios Tupinambás que amea çaram a conquista portuguesa de Belém e de
outras localidades litorâneas entre esta e São Luís, como Cumã e Caités. Nestas lutas ra
tificou a sua condição de chefe militar astuto e audacioso, quando demonstrou de forma
plena que a mais eficiente forma de se combater a ação tipicamente guerrilheira
tupinambá era também empregar a técnica da guerrilha.
Pedro Teixeira foi nomeado CapitãoMor do Grão Pará, função equivalente, hoje, a de
Comandante Militar da Amazônia. Vítima de rápida e insidiosa moléstia veio a falecer
em Belém, em 1641. Seus restos mortais permanecem na Catedral Metropolitana de
Belém, erguida no século XVII, na mesma área em que foi construído o Forte do
Presépio, atualmente denominado Forte do Castelo.1
Em janeiro de 1903, após acirrados combates, as forças bolivianas são definitiva mente
derrotadas e batem em retirada. Plácido de Castro é aclamado governador do Estado
Independente do Acre. Em 17 de janeiro de 1903, numa vitória diplomática do Barão do
Rio Branco, é assinado o Tratado de Petrópolis. O Brasil compra a região, da Bolívia,
por dois milhões de libras esterlinas, compromentendose a construir a estrada de ferro
MadeiraMamoré e a indenizar o Bolivian Syndicate com 110 mil libras esterlinas. Em
25 de fevereiro de 1904, o Estado Independente do Acre é dissolvido, sendo
incorporado à Federação Brasileira como Território Federal do Acre.
Ficam assim registrados dois exemplos históricos de campanhas militares ama zônicas
de grande significado político estratégico, de enorme conotação patriótica, onde a
técnica da guerra de guerrilhas foi de fundamental importância.
Empregando efetivos das três forças singulares, e contando com a participação de várias
unidades nãosediadas na Amazônia, a Operação Carajás 70 vivenciou um quadro de
contraguerrilha em ambiente de selva, e se constituiu num excelente adestramento
conjunto. Todavia, mais do que atingir um objetivo de adestramento, aquela manobra
teve como principal finalidade uma ação de presença e de dissuasão, tendo em vista que,
àquela época, os indícios da presença de um foco de guerrilha rural na região conhecida
como "Bico do Papagaio" (fronteira entre os Estados do Maranhão, do Pará e de Goiás)
tornavamse cada vez mais intensos.
Por outro lado, a posição da área próxima a importantes eixos rodoviários era extrema
mente favorável porque a região recebia um considerável número de novos colonos e
isto permitia o ingresso de reforços sigilosamente. No campo militar, a escolha do local
foi muito inteligente, porque a região englobava território de dois Comandos Militares
de Área, o da Amazônia e o do Planalto. E tal fato ao início das operações provocou
problemas de coordenação e controle, constituindose em vantagem para a força de
guerrilha.
Subordinados aos Destacamentos estavam os Grupos de Fogo, num total de nove e que
se constituíam nas frações elementares básicas da força de guerrilha. Sua autonomia era
extremamente restrita e operavam sob rígido controle dos Comandantes de
Destacamento.
A ação de repressão da força legal pode ser dividida em três fases, quais sejam: a 1ª
fase, de abril a outubro de 1972; a 2ª fase, de abril a agosto de 1973; e a 3ª fase, de
setembro de 1973 a março de 1975.
A primeira fase foi caracterizada pelo emprego em massa de tropa. Em agosto de 1972,
o efetivo chegou a ser de 1 500 homens. Fundamentalmente, foram instaladas duas
bases de combate de valor batalhão, uma em Marabá e a outra em Xambioá. E no
interior da área de operações foram instaladas seis bases de combate de valor
companhia.
Falta de unidade de comando. Provocada, sobretudo, pelo fato de que a base de combate
de Marabá estava sob o controle do Comando Militar da Amazônia, enquanto a de
Xambioá estava sob o do Comando Militar do Planalto (CMP). Uma simples solicitação
de evacuação aeromédica provocava um complexo problema de coordenação.
Informações deficientes sobre o terreno e o inimigo. Não havia cartas nem fotos aéreas
da região de operações em escala compatível. O desconhecimento do terreno era
enorme. As patrulhas se deslocavam somente pelas trilhas, enquanto os guerrilheiros,
profundos conhecedores do terreno, sempre através selva. Não se conhecia o dispositivo
e a composição da FOGUERA. As informações sobre o valor eram extremamente
difusas. Com relação às atividades recentes e atuais, e peculiaridades e deficiências,
praticamente nada.
Apesar de todas estas deficiências, há que se ressaltar dois aspectos positivos na 1ª fase.
O primeiro é que foi possível fazer da ordem de 15 baixas na força de guerrilha. E o
segundo é que houve uma conscientização geral em todos os escalões de comando sobre
a gravidade da situação no "Bico do Papagaio".
Em outubro de 1972, foi decidido em Brasília, pelo mais alto escalão da Força
Terrestre, interromper as operações.
E fruto das informações obtidas na "Operação Sucuri" ficou muito claro para o escalão
superior que o problema não poderia ter apenas uma solução militar. Haveria
necessidade de se integrar a ação de diversos órgãos governamentais civis de nível
federal e estadual, para que se efetuasse a eliminação completa do foco subversivo.
Mais uma vez se ratificava o ensinamento de que "guerrilha se combate com guerrilha".
Nesse contexto, cabe ressaltar o importante papel desempenhado pelos elementos da
então Companhia de Forças Especiais, os especialistas em guerra irregular, que
estiveram permanentemente envolvidos no combate à FOGUERA, desde o desencadea
mento das operações de informações, ainda na "Operação Carajás 70". Nesta fase, estes
elementos atuaram como multiplicadores de força, adestrando as unidades engajadas e
preparando as forças de autodefesa das comunidades locais, desencadeando opera ções
de informações e operações psicológicas junto à população local, e sendo empregados
em missões selecionadas de ação direta contra o inimigo interno.
Outro papel preponderante a ser ressaltado na consecução dos objetivos finais foi o
desempenhado pelos elementos da Força Aérea, particularmente pelos esquadrões de
helicópteros. Cumprindo missões de infiltração, exfiltração, ressuprimento e evacuação
aeromédica, estes elementos foram fator primordial para o êxito alcançado.
Assim, cerca de três anos após o início da ação repressiva, e tendose colhido uma
grande quantidade de importantes ensina mentos para todos os escalões, eliminavase
aquele que foi o mais perigoso foco de guerrilha rural no Território Nacional.
O Presente
12:00 horas de uma terçafeira, dia 26 de fevereiro de 1991. Cerca de 40 elementos que
se declararam guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias Comunistas (FARC)-
Comando Simón Bolívar-Facção Força e Paz, realizam uma incursão em território
nacional e atacam um Destaca mento do Exército Brasileiro estacionado em instalações
semipermanentes, às margens do rio Traíra, fronteira entre o Brasil e a Colômbia.
O ataque foi efetuado por três escalões, dos quais um, o de apoio de fogo, permaneceu
na margem colombiana, enquanto os outros dois, de assalto e de segurança, investiram o
acampamento. Inicialmente, com preciso fogo de atiradores de escol, foram eliminados
os sentinelas da hora, e a seguir, desen cadeado intenso fogo de armas automáticas
contra as instalações do Destacamento, cujos integrantes, surpreendidos, tentaram, sem
sucesso, reagir.
Especial atenção deve ser dada também à atuação dos elementos da Reserva Estratégica
do Exército Brasileiro, sempre presentes nas situações de crise na Região Amazônica,
das Forças Especiais e da Aviação do Exército.
Mais uma vez foi ratificado que a presença dos especialistas em guerra irregular e
combate nãoconvencional do 1º Batalhão de Forças Especiais (1º BFEsp), sediado no
Rio de Janeiro, através da ação de um Destacamento de Ação Imediata, integrado por
frações de Forças Especiais e Ações de Comandos, se faz imprescindível ao comando
da operação, em situações dessa natureza.
A "Operação Traíra" ratificou mais uma vez que, na Amazônia, sem o adequado e
oportuno apoio da Força Aérea, a Força Terrestre fica extremamente limitada nas suas
ações de combate, apoio ao combate e logísticas.
Em novembro de 1991, outra operação de monta foi desencadeada pelo CMA para fazer
face às latentes ameaças provodadas pela ação das FARC, na fronteira com a Colômbia.
Esta operação denominada "Operação Perro Loco" foi realizada na região de
Iauaretê/AM e Querarí/AM, conhecida como "Cabeça do Cachorro". Empregou efetivos
do 5º BIS, sediado em São Gabriel da Cachoeira/AM, do 1º BFEsp, e uma Força de
Helicópteros com 14 aeronaves da Bda Av Ex. A exemplo da "Operação Traíra", a
"Operação Perro Loco" se constituiu numa magnífica demonstração de
operacionalidade dos elementos envol vidos, atingindo de forma plena o seu grande
objetivo que era dissuadir, de forma definitiva, a execução de incursões por parte da
narcoguerrilha colombiana naquela região.
Quanto aos objetivos militares, estes podem ser sintetizados pelas ações de destruir as
"forças adversas" que atuarem no Território Nacional, e defender a população e o
Patrimônio Nacional.
Em termos de estrutura operacional, para fazer face a situações dessa natureza, está
preconizada a ativação, por parte dos Comandos Militares da Amazônia e do Norte
(CMN), mediante autorização do Sr Ministro do Exército, Comandante da Força
Terrestre, de uma Área de Conflito (AC). O estabeleci mento de AC, em termos de
delimitação territorial, deve estar restrito à área fronteiriça onde seja iminente ou esteja
ocorrendo a ameaça. Em termos de estrutura de comando, a AC deverá enquadrar uma
Zona de Opera ções (ZOp) e uma Zona de Apoio (ZAp). Esta organização tem como
finalidade o estabele cimento tanto de uma estrutura de comando e controle quanto a
definição de responsa bilidade territoriais.
A ZOp deverá ficar restrita à região onde se realizam as ações operativas de destruição
das "forças adversas". Esta região deverá abranger o espaço físico terrestre e aéreo
necessário à condução das operações. Em princípio, o comandante da ZOp deverá ser o
comandante do escalão diretamente responsável pela destruição das "forças adversas". E
o seu posto de comando deve estar localizado no ponto onde melhor se possa coordenar
e controlar as ações operacionais.
A ZAp deverá englobar a região onde as ações a realizar serão de caráter predomi
nantemente logístico. Em princípio, o posto de comando da ZAp deve estar localizado
junto à principal base logística instalada. Basicamente, o suprimento chega à ZAp por
meios aéreos (principalmente) ou fluviais de maior porte. Razão pela qual,
normalmente, a ZAp estará numa área onde exista um aeródromo de adequadas
condições. Daí o suprimento será transportado para a ZOp, normalmente, através do
emprego de helicópteros.
O Futuro
Uma visão futura de situações que possam colocar em risco os interesses vitais do
Brasil na Amazônia nos permite antever que as ameaças atualmente existentes tenderão
a diminuir ou a aumentar, principalmente, como conseqüência do resultado que as
nações amigas vizinhas tiverem no seu esforço para vencer seus graves conflitos
internos.
Todavia, fica muito claro que qualquer perspectiva otimista, a curto prazo, é
absolutamente irreal. A atual intensidade da presença da narcoguerrilha na Colômbia,
no Peru e na Bolívia é de tal ordem que não nos é permitido visualizar um "final feliz",
nem a médio prazo, apesar dos extraordinários esforços que vêm sendo desenvolvidos
por estes respectivos governos.
Por outro lado, ao se focalizar possíveis ameaças à garantia dos poderes constitu cionais
e à manutenção da lei e da ordem, numa visualização a curto e a médio prazos, não se
pode deixar de acompanhar com extrema atenção o desenvolvimento das questões
fundiárias que, em inúmeras regiões da Amazônia, podem levar a exacerbações que
desencadeiem conflitos provocados por reivindicações não atendidas dos chamados
"Movimentos dos SemTerra". Estes conflitos, que poderão ter ou não conotação
ideológica, podem exigir o emprego de força federal, ainda que eventualmente, no
combate contra "forças adversas", num contexto de Defesa Interna. A própria região do
"Bico do Papagaio" continua sendo potencialmente explosiva para o desencadeamento
de conflitos dessa natureza. Para prevenir a sua eclosão, muito mais que a presença da
expressão militar, o que se faz necessário é uma eficiente ação governamental,
coordenada a nível federal, estadual e municipal. Todavia, para fazer face, no futuro, a
situações dessa natureza, os comandos militares de todos os níveis mantêm
permanentemente atualizados os seus planejamentos de Segurança Integrada.
Mas, ao se efetuar qualquer análise prospectiva envolvendo aos questões de segurança
da Amazônia Brasileira, há que se considerar significativamente a atual conjuntura
internacional e as demandas produzidas pelo que se tem denominado de "Nova Ordem
Mundial". Neste novo sistema internacional, onde os Estados Unidos da América se
apresentam como a única superpotência econômica e militar, novos focos de tensão e
atrito passaram a eclodir, todos com relação direta a aspectos étnicos, religiosos e de
identidade nacional.
Seu grande objetivo será demonstrar ao invasor que o preço a pagar para manter o
domínio sobre determinada região não compensa os benefícios decorrentes. Há que se
ressaltar que o Exército Brasileiro é o único da América Latina a possuir o mesmo
conceito doutrinário de emprego das Forças Especiais que o Exército dos EUA. Este
conceito preconiza, basicamente, que os Destacamentos de Forças Especiais
estabelecerão Áreas Opera cionais de Guerra Irregular (AOGI). A diferença entre as
concepções norteamericana e brasileira está no fato de que as Special Forces têm
previsão de emprego fora de seu território operando com populações estrangeiras no
contexto de um Movimento Revolucionário Patrocinado. Por outro lado, os nossos
operadores de Forças Especiais estabelecerão AOGI no contexto de um Movimento de
Resistência, trabalhando com comunidades brasileiras, quando da ameaça ou da
ocorrência de uma invasão do nosso território.
As ações da Lassidão se desenvolvem em dois planos, simultaneamente: o plano
material das forças militares e o plano moral da ação psicológica.
No plano material das forças militares, há que se enfatizar que, apesar de o combate a
ser conduzido estar fundamentado no in tenso emprego das ações típicas de guerrilha,
não se pretende transformar a força regular numa força de guerrilha. Para que forças
regu lares sejam eficazes empregando as técnicas da guerra de guerrilhas não se faz
necessário que elas se convertam em forças de guerrilha. Isto seria um retrocesso
inconcebível e preju dicial para o desenvolvimento da campanha.
Há que se ter sempre em mente que o objetivo político a ser atingido, e a campanha não
deve ser concluída antes disso, é restabelecer a Soberania e a Integridade do Patrimônio
Nacional. E há que se desenvolver uma conscientização nacional de que tal objetivo só
será atingido com a retirada de todos os efetivos estrangeiros do território brasileiro.
Por outro lado, não podemos ignorar que os vazios demográficos, o desconhecimento da
área, a existência de fronteiras não vivificadas, o posicionamento marginal em relação
aos sistemas de circulação, enfim, a deficiência de integração de inúmeras regiões da
Amazônia aos centros de poder nacionais podem criar condições potenciais de risco de
fragmentação, com conseqüente perda do patrimônio nacional.
Não se pode esquecer também que a adoção da Lassidão pressupõe sacrifícios, que
serão impostos a toda a Nação, que ficará exposta ao poder do adversário que,
certamente, tentará quebrar a vontade nacional, principal insumo para a implementação
dessa estratégia. E este é verdadeiramente o ponto focal a ser desenvolvido: estabelecer
e consolidar a vontade nacional, desde já, em torno da defesa dos interesses vitais do
Brasil na Amazônia.
Conclusão
Ao longo dos anos, tornouse muito claro que o vetor principal do desenvolvimento da
Amazônia tem sido a ação pioneira e desbravadora das Forças Armadas, as quais, sem
medir esforços e sacrifícios, sempre se fizeram presentes. E é, sobretudo, nos seus mais
remotos rincões que o Exército influencia de modo decisivo a formação e a
consolidação da nacionalidade das populações. E esta grandiosa missão de fortalecer a
brasilidade nos corações e mentes de cada cidadão, além de ter que manter incólumes
milhares de quilômetros de fronteiras, não é realizada sem sacrifícios, exigindo
profissionais integralmente compromissados com a real dimensão do que significa ser
soldado na Amazônia.
Mas a defesa dos interesses vitais do Brasil naquela área não é obra exclusiva dos
soldados da Amazônia. É uma responsabili dade de todos os brasileiros, militares e
civis, inclusive de outras regiões. E quando for o caso, todos, irmanados, se necessário
empregando a guerra de guerrilhas, irão defendêla, como o fizeram no passado, e o
estão fazendo no presente.
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